domingo, abril 12, 2009

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Os irrelevantes

O GLOBO - 12/04/09

Se novamente não me atraiçoa a cada vez mais rateante memória, creio que foi o senador Cristovam Buarque quem disse que o Congresso está correndo o risco de se tornar irrelevante. Que é que está nos dizendo, Excelência, mais alguma outra novidade para contar?

Aos olhos dos governados, o Congresso já não tem a menor importância, a não ser pelo vasto, mas pequeno em relação à população em geral, contingente que se beneficia, direta ou indiretamente, das esculhambações, roubalheiras, falcatruas, impropriedades e até — sei lá — de uma surubinha ou outra nos feriados, com um dos surubantes portando a chave de um excelente cômodo, de outra forma sem nenhuma serventia.Na internet apareceram umas coisas, não sei se verdadeiras. Não vejo exagero meu nisso, pelo contrário, até me imponho uma certa contenção.

O poder, na observação feita por Henry Kissinger, é afrodisíaco e, em casa onde o poder não conhece freio nem legal nem moral nem de qualquer outra espécie que não a conveniência, em casa labiríntica e ameaçadora, que combina, entre outros, aspectos da "Bleak House" de Dickens, do "Castelo" de Kafka, da casa de campo de um aristocrata libertino na França pré-revolucionária e de um filme de Buñuel, é lícito pensar que tudo pode acontecer.


Alguns episódios erótico-sentimentais que vieram à tona, certamente uma pequena fração do que ocorre naquele ambiente em que o poder envolve em concupiscência e onipotência seus detentores e, ainda para outros, se transforma em instrumento para a consecução dos objetivos mais espúrios, fornecem asas à imaginação e, desta forma, creio que a maior parte de nós acreditaria em tudo, ou quase tudo, de ruim ou afrontoso que mais contassem sobre o Congresso, ou sobre senadores e deputados. Mas que os governantes não se alarmem. O Congresso não perdeu absolutamente relevância. Ele continua indispensável por várias razões.

Entre elas, aliás, não se encontra a de que, se o presidente Lula tivesse pretensões ditatoriais, a existência de um Congresso seria um obstáculo. De novo estaríamos esquecendo que o presidente é bastante esperto e agora já deve ter visto que é com esse Congresso mesmo que ele faz o que quer. As medidas provisórias são um dos melhores instrumentos já inventados para governar sem contestação e a canetadas, não importa quanto bolodório jurídico as adorne. A famosa governabilidade é uma via excelente para proporcionar oportunidades excelentes de enriquecimento ilícito e outros trambiques, bem como expansão da órbita de influência do contemplado.

Sem o Congresso, estaríamos gastando muito menos e deixando de desbastar o patrimônio de xingamentos, pragas e invectivas insultuosas em que tanto abunda nossa língua, mas ficaria chato para Lula ser presidente de uma República sem representantes do povo (como, espantosamente, ainda são considerados os membros do Congresso, que não costumam representar nada além das próprias algibeiras). Além de não ter o que mostrar para as visitas, ainda seria obrigado a responder a perguntas chatas no exterior. Não, não, sem o Congresso todo o esquema de corrupção, furto, fraude e ladroagem, de todos os níveis, em que se fundamenta nossa vida pública teria que ser revisto e a perda do sem-número de canais e oportunidades que ele proporciona seria inevitável, quiçá irreparável.

Não, senador, o Congresso não é irrelevante, é muita modéstia de quem fala. Não sei por que percentual da Maracutaia Interna Bruta ele é atualmente responsável, direto ou indireto, mas seguramente não se trata de parte desprezível. Talvez seja até uma cifra não passível de cálculo, o Brasil está sempre batendo recordes, é difícil acompanhar. De qualquer forma, senador, Vossa Excelência (por que a gente tem de chamar governante de excelente? por que ele é excelente e não a gente? são indagações da democracia, desculpem, por favor) estava vendo as coisas de uma perspectiva diversa da dos governados.

Estivesse Vossa Excelência do lado de cá, teria percebido que deputado e senador não têm, já de muito, a menor relevância para o povo. Só os apadrinhados, parentes e amigos é que iam sentir, se vocês todos estuporassem fedendo a enxofre, para nunca mais ninguém os ver, que não o Grão-Tinhoso. Querem ver, façam uma pesquisa séria aí. Mas nem isso adianta, melhor penando, porque ninguém mais acredita em nada sério vindo de vocês ou através de vocês. Isso, porém, é com os governados.Para os governantes, o Congresso tem toda a utilidade que esbocei acima e mais alguma. Isto porque quem se tornou irrelevante mesmo foram os cidadãos, aos quais cabe somente pagar impostos para os governantes furtarem ou desperdiçarem e votar para legitimar quem os escorcha e furta.

E o Congresso está compreendendo isso muito bem, porque vem agindo em consonância com novos paradigmas, segundo me contam. Por exemplo, vai implantar novo esquema de relacionamento com a imprensa.Perguntas da imprensa terão que ser encaminhadas às mesas, com um prazo de cinco dias para resposta. Deve ser para dar tempo de esconder algum ato delituoso, dos incontáveis que lá concebivelmente são praticados por segundo, levando-se em conta coisas miúdas, tais como papel, material de escritório, material de informática e uma transadinha ligeira com a namorada, dentro do armário de 30 metros cúbicos construído em jacarandá lavrado para abrigar a obra completa do ex-senador Sibá Machado, essas bobagens.

Só falta, pelo visto, que, no interesse de manter as instituições republicanas na plenitude de seu funcionamento, se proíba a entrada de povo por lá, a não ser em dias de festas, com convites selecionados pela Mesa. Quanto à imprensa, dia nenhum. Mente muito, pode dar o mau exemplo ao Congresso.

O CARA DE PAU

INFORME JB

Senado fará pressão ao governo por juros

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 12/04/09

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado vai aproveitar a mudança no comando do Banco do Brasil, causada principalmente pelo desejo do governo em baixar o spread da instituição, para pressionar o Planalto a baixar a taxa Selic. A CAE vai colocar seus 27 membros – inclusive senadores governistas que cobram a redução – para pressionar o presidente Lula. O canal para isso será a subcomissão especial da crise sob a tutela da CAE. "Há um entendimento na comissão de que já deveriam ter sido tratados a redução dos juros e dos spreads, que inclusive impediram a própria baixa da Selic. A comissão se encaminha para fazer uma crítica do que o governo poderia ter feito", revela à coluna o presidente da CAE, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN).

Lula é do Rio A festa

O presidente Lula deve trocar São Paulo pelo Rio dia 1º de maio, para a tradicional festa do trabalhador que o Ministério do Trabalho vai promover na Quinta da Boa Vista.

Espera-se 1 milhão de visitantes. Haverá prestação de serviços e shows com Beth Carvalho, Dudu Nobre, D. Ivone Lara, Monarco, Diogo Nogueira, Dominguinhos do Estácio e Bateria Nota 10 (de todas as escolas de samba).

Agora vai

A comissão especial presidida pelo senador Marco Maciel conclui terça-feira a proposta para um novo regimento da Casa.

Novos tempos

"O objetivo é adequar o funcionamento da Casa às exigências dos tempos modernos, que requerem respostas cada vez mais rápidas às demandas da sociedade", lembra Maciel à coluna.

Crise no mar

O Projeto Coral Vivo, criado em 1994, perdeu o seu patrocínio principal, o do Programa Petrobras Ambiental. É tocado por pesquisadores do Museu Nacional/UFRJ, que estudam corais e recifes na costa brasileira.

Ar e terra

A Fundação Cacique Cobra Coral, aquela de médiuns que ajudam a mudar o tempo em vários lugares, anunciou que foi contratada por político italiano para reduzir terremotos lá.

Marinho perdido

Continua ruim a governabilidade do prefeito de São Bernardo (SP), Luiz Marinho, na Câmara. O PSB não quer aliança. Nem acordo mais. O partido almejava a direção do Porto de Santos, nas mãos de petistas que não cederam.

A fazendeira

A senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação Nacional de Agricultura, adotou a tática do MST que combate. Passou em fazendas paraenses distribuindo cartilhas que dão dicas de comportamento nas visitas surpresas do Incra e do Ibama.

Colinha

Em audiência no Senado com diretores do BB, Kátia espalhou colinha com perguntas para os colegas apertarem os executivos. Protesto contra o risco de o banco baixar o crédito ao setor agrário.

Às armas

O ministro Nelson Jobim (Defesa) abre terça a Latin America Aerospace & Defence no Rio.

MERVAL PEREIRA

Como combater a crise

O GLOBO - 12/04/09

A constatação de que a crise econômica internacional já está batendo no bolso do brasileiro médio, feita por uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas do Rio coordenada pelo economista Marcelo Neri, levanta questões sobre a melhor maneira de combatêla. Os gráficos passaram a mostrar, a partir de janeiro deste ano, um panorama econômico completamente ao contrário do que acontecia nos últimos cinco anos, com o bolo da economia crescendo menos, piorando a distribuição de renda, uma inversão de tendência que não se sabe se é permanente.

Uma desaceleração do PIB de dez pontos percentuais entre os terceiro e quarto trimestres de 2008 (de 6,3% para um crescimento negativo de 3,6%), que Marcelo Neri enfatiza como sendo “equivalente ao crescimento da China antes da crise”.

A classe C, que vinha crescendo nos últimos cinco anos, chegando a 53,8% da população em dezembro de 2008, caiu para 52% em janeiro, no primeiro e único sinal até agora de que a crise chegou ao bolso do cidadão médio.

O desafio, para Marcelo Neri, é não deixar que esse ponto crítico se torne crônico.

Ele acha que o Brasil tem fundamentos macroeconômicos sólidos e instrumentos para não deixar que os avanços se percam, mas sua preocupação é “se estamos usando esses instrumentos adequadamente, na sintonia fina”.

Neri teme o risco “de não chegarmos tão rápido quanto precisaríamos, devido à política monetária do Banco Central”.

Escaldado com a inflação, o Banco Central não estaria preparado para enfrentar a atual crise: “Não temos cultura de grandes depressões econômicas”.

Marcelo Neri ressalta que a crise atual tem o viés de afetar mais os mais prósperos, porque é uma crise financeira que atinge os setores mais modernos da economia, que lidam com a economia internacional.

Segundo seu estudo, a probabilidade de cair das classes A, B, C aumentou de setembro a dezembro em 2%, mas, em janeiro e fevereiro, essa probabilidade aumentou para 12%.

“A crise, de janeiro a fevereiro, mudou o patamar no bolso do brasileiro, que vinha sendo poupado”, avalia.

A classe dominante em termos populacionais é a C, que tem 52%, mas a classe AB é a dominante em termos econômicos, com 55% da renda.

Por isso, diz Marcelo Neri, a popularidade do presidente Lula foi poupada no começo, pois a mais atingida foi a classe AB, que não representa muita gente. Em janeiro, a classe C passou a ser atingida.

Marcelo Neri diz que Ben Bernanke, presidente do Fed, o Banco Central americano, “sabia desde o começo que esta era uma situação atípica e que ele deveria fazer alguma coisa além do que os manuais indicam”.

Por isso, no Brasil, a parada súbita de janeiro na renda do brasileiro e do PIB, uma contrapartida da outra, foi combatida de maneira errada, diz ele.

“Precisávamos injetar demanda na economia e houve uma lentidão nisso. E, na política fiscal, estamos errando porque a crise virou uma desculpa para ‘conquistas de direitos’, aumentos do salário mínimo, da Bolsa Família, que são gastos permanentes que podem afetar o equilíbrio de nossas contas públicas”, adverte Neri.

Para ele, poderíamos implementar de emergência, provisoriamente, “um abono transitório, que é o que Taiwan está fazendo, o que os Estados Unidos estão fazendo.

Agora soou o alarme de que os gastos aumentaram.

Um déficit conjuntural em época de crise, tudo bem, mas virar um déficit estrutural coloca em perigo o crescimento futuro”.

Marcelo Neri diz também que o governo está dando ênfase ao PAC e ao plano de habitação, “que têm seu lado positivo por serem planos de investimentos, mas demoram a acontecer, portanto os empregos não serão criados tão cedo”.

Ele lembra que a melhoria da renda do brasileiro pode ser atribuída da seguinte maneira: 10% salário mínimo, 40% Bolsa Família e 50% do trabalho, que tem um papel importante. “Estamos perdendo o crescimento do emprego formal, que é o grande símbolo do crescimento da classe C”, diz ele.

O Bolsa Família deveria ser usado como um instrumento de seguro. Ele lembra que o presidente Lula falou que o Pelé ainda entraria em campo, se referindo à queda dos juros. “Acho que o mercado interno é o Pelé, e a pesquisa mostra que se esse é mesmo o ponto forte, ele se contundiu em janeiro. O Bolsa Família seria o Tostão para ajudar o Pelé, o mercado interno”.

Os estudos mostram, segundo Neri, que o mercado interno, embora abalado, ainda está aquecido, especialmente no Nordeste, e o Bolsa Família poderia ser usado como instrumento de seguro, e não para qualquer situação, “de uma maneira mais inteligente”.

Ele cita a Fundação Bill Gates e várias outras instituições que estão querendo saber sobre microsseguro. “Esta é a agenda do futuro, depois da crise, como o microcrédito foi nos últimos 20 anos. Como é que você segura a população mais vulnerável em época de crise?”.

Se o Brasil pensasse mais em seguro e menos em uma maneira mecânica de garantir os direitos sociais permanentes, diz Neri, poderia ser muito mais generoso no momento da crise porque saberia que aquele gasto não ficaria pesando no orçamento depois.

“O Bolsa Família atinge 25% da população e tem uma capilaridade e agilidade, depende apenas de uma decisão administrativa. Mas a mentalidade não é essa. Se você aumenta os direitos, aumenta os deveres de quem paga imposto e trava o lado real da economia”, finaliza Marcelo Neri.

DANUSA LEÃO

A falta de informação

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/04/09

E claro que Obama não soube do mensalão, das vezes que Lula se esconde e finge que não é com ele, das viagens



OK, NINGUÉM É perfeito. Mas por um momento Obama nos pareceu a pessoa mais perfeita do mundo; aquele presidente que adoraríamos ter. Mas pouco tempo passou para ele dar uma pisada de bola. Foi quando disse, de maneira elogiosa, que Lula era o "cara". Tudo bem, ele não pode saber de tudo o que acontece no Brasil, mas para isso tem 500 assessores que deveriam contar as barbaridades que o nosso presidente diz -e permite que façam.
Pode, no auge da crise, Lula dizer que tudo não passava de uma marolinha? Pode dizer que a culpa de tudo era dos brancos de olhos azuis? Além da bobajada, existe na frase uma conotação racista, e se fosse o contrário -um presidente dizendo que a culpa da crise era dos morenos de olhos escuros-, seria acusado de racismo, o que no Brasil é crime. Na mão e na contramão.
E claro que Obama não soube do mensalão, das vezes que Lula se esconde e finge que não é com ele, das viagens que faz o tempo todo -acho que fica mais tempo viajando do que em Brasília-, da cara-de-pau com que cruza o país no seu lindo avião com sua protegida Dilma já fazendo campanha, quando é proibido por lei que a campanha comece dois anos antes da eleição.
Será que Obama sabe que a mulher do presidente é ítalo-brasileira, pois conseguiu um passaporte italiano para ela e para o filho, coisa jamais vista numa primeira-dama de um país? Não que seja ilegal, mas para que a mulher de um presidente quer outro passaporte, para ela e para o filho, se ela, com seu passaporte diplomático, tem todas as regalias quando chega a outro país? É claro que Lula estava de acordo; então é esse "o cara"?
Até uma estrela do PT plantaram nos jardins tombados do Alvorada, como se o palácio fosse deles. Obama não deve saber também que Lula nomeou mais de 200 mil funcionários, onerando em milhões o orçamento do país. Não deve saber também dos cartões corporativos, com os quais os funcionários gastavam sem prestar contas ao governo -e como gastavam. Nem deve saber das estrepolias de Lulinha, outro escândalo do governo.
Nem dos quase 200 diretores do Senado, pois ele não sabe de nada; nem ele nem Sarney, presidente daquela casa de marimbondos. Nem ao menos quantos são seus funcionários. Os jornais não dão conta de falar de tudo porque não há espaço, já que cada dia tem um novo. "Esse é o cara". Que mancada, Obama.
Por que Lula não chama os presidentes da Câmara e do Senado e não dá uma dura neles, para que ponham ordem na casa? Porque o que se passa ali dentro nem nosso senhor Jesus Cristo é capaz de saber. E a gráfica do Senado, com não sei quantos funcionários? E a TV do governo, que nunca ouvi falar que alguém tenha visto? Você já viu?
Eu juro que me deu pena quando ouvi Lula dizer que achava chique emprestar dinheiro ao FMI, como se fosse um lavrador que um dia emprestasse dinheiro a seu patrão que sempre o humilhou. Fiquei com pena e compreendi. O que não me impede de lembrar que Lula largou de mão seus companheiros mais próximos, como Genoino e Mercadante, como se nunca os tivesse conhecido.
Isso não é bonito, é falta de lealdade -para não dizer de caráter-, por isso acho que Obama errou feio quando disse que ele "é o cara". "O cara"; mas que pisada de bola, seu Obama.

GOSTOSA


CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR

ÉLIO GASPARI

Sarney, Temer e o programa Du Barry 2.0

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/04/09


Os presidentes do Senado e da Câmara, como a namorada de Luís 15, pensam que um dia a onda passa


JOSÉ SARNEY , presidente do Senado, e Michel Temer, presidente da Câmara, deveriam marcar um encontro para discutir um mistério da história. Por que a Madame Du Barry, última namorada de Luís 15, resolveu deixar Londres, onde se escondera em paz, e regressou a Paris, em plena Revolução? A decisão foi influenciada por um motivo patrimonial, pois a choldra confiscara seu castelo e ela pensou que poderia recuperá-lo. Tremendo erro de cálculo. Chegou em fevereiro de 1793, foi presa em setembro e guilhotinada em dezembro.
Temer e Sarney deveriam se perguntar se não estão rodando um programa Du Barry 2.0 quando defendem ou encobrem privilégios, nepotismos e maracutaias que ofendem a patuleia. Não serão degolados, mas irão para a galeria das vítimas da cegueira de classe.
Descobre-se que, numa viagem ao México, a filha do senador Tião Viana circulou com um celular da Viúva. Denunciado o mimo, o companheiro pagou a conta, mas negou-se a divulgar a cifra (R$ 14 mil). Quando o valor vazou, os doutores abriram sindicância para descobrir como o sigilo foi quebrado. Desse jeito, a malfeitoria esteve na divulgação da quantia, e não na tentativa malsucedida de repassá-la à Viúva.
Descobre-se que a Câmara pretende gastar R$ 76 milhões convertendo apartamentos funcionais e Temer diz que os fatos foram "mal interpretados pela imprensa". Minutos depois viu-se desmentido pelo encarregado do projeto, o deputado Nelson Marquezeli: "Eu vou fazer a divisão dos apartamentos".
Nesse mesmo dia, no Planalto, Lula estava reunido com o Poder Legislativo emergente, as centrais sindicais. Discutiam a possibilidade do governo patrocinar uma redução dos encargos trabalhistas para preservar empregos. Os legisladores da CUT e da Força Sindical não gostaram da ideia, e podem ter razão.
Os assuntos que deveriam passar pelo Congresso, como a proposta de revisão dos encargos, vão primeiro para as centrais. Já outros episódios, que deveriam ser tratados em delegacias de polícia, ocupam a rotina parlamentar. Nesse cenário de pouco valor, Sarney e Temer estão sempre um lance atrás. Parlamentares experientes, conhecem as Casas que presidem e talvez achem que a faxina pode ficar para depois. Só se movem quando a Viúva grita "pega ladrão".
A Du Barry não percebeu que o seu mundo estava acabando e acreditou que as coisas se acomodariam. Sarney e Temer vão pelo mesmo caminho. Por sorte, não botarão o pescoço na guilhotina, só as próprias biografias.
Um lembrete: os hierarcas do Congresso têm uma fé infinita na lealdade de uma parte da burocracia e, sobretudo, em seletos grupos de assessores. Quem denunciou a Du Barry foi seu fiel serviçal Zamore, um anão negro que ela vestia com roupas berrantes e muitas joias.

Harvard deu uma lição de crise

A Universidade Harvard acaba de tomar duas providências. Desligou dois dos quatro elevadores do edifício onde funciona sua administração e alterou a rotina do serviço de limpeza do prédio. Agora, cada um terá que esvaziar sua lata de lixo na caçamba colocada no fim do corredor e a faxina diária passou a semanal.
Esse é um caso exemplar de economia de tostões para mostrar que até tostões devem ser economizados. Antes da crise, Harvard tinha um patrimônio de US$ 37 bilhões. De lá para cá perdeu uns US$ 10 bilhões. Como a renda desse ervanário sustenta 35% do orçamento, antes de desligar os elevadores, a universidade congelou salários, obras de expansão e baixou o recrutamento de professores de 50 para 15.
A conduta da escola mais rica do mundo pode ser útil para as universidades públicas brasileiras que planejam sua safra rotineira de greves.

Poderes do Planalto
Pela enésima vez Nosso Guia reuniu sua equipe para pedir que as coisas aconteçam. Sua queixa é a mesma: o governo decide, os burocratas aplaudem, o tempo passa e tudo continua na mesma. Trata-se de uma briga eterna. Os poderes do Planalto, supostamente infinitos, às vezes são humilhados. Em 1966 o presidente Castello Branco e o presidente da Câmara, Adauto Lúcio Cardoso, entraram num curso de colisão quando o deputado se recusou a aceitar a cassação do mandato de seis parlamentares.
O marechal achou que só havia um caminho: fechar a Câmara. Planejou-se a operação militar, a tropa cercou o Congresso e uma equipe foi mandada ao centro de distribuição de energia elétrica para que, à hora combinada, o prédio ficasse às escuras.
Tudo funcionava de acordo com o plano. As comunicações telefônicas já haviam sido cortadas e, quando chegou o momento do apagão, o chefe de Serviço Nacional de Informações, Golbery do Couto e Silva, e seu secretário, Heitor Ferreira, foram a uma janela do Planalto para ver o espetáculo.
Tchan. Apagaram-se as luzes do Palácio do Planalto.

Cuba e Obama 
Barack Obama e Raul Castro estão afinando a sintonia para uma nova fase nas relações dos Estados Unidos com Cuba. Trocam recados com a discrição dos adúlteros. O sinal americano já está na mesa e será o afrouxamento das restrições para viagens e remessas de dinheiro à ilha. O sinal cubano, como sempre, será a libertação de um lote de presos políticos. Com um pouco de sorte, consegue-se um afrouxamento da perseguição aos dissidentes.

Grande Buffett 
O biliardário americano Warren Buffett deu mais uma aula ao mercado. Em setembro do ano passado, no auge da crise bancária, ele botou US$ 10 bilhões na Goldman Sachs. A ação da empresa caíra de US$ 179 para US$ 121. Ele se acautelou, contratando rendimento seguro de 10% sobre essa cotação. É possível que Buffett saia de 2009 com ganho superior a 10%. Na quinta, a ação da Goldman Sachs fechou a US$ 125.
Um ensinamento do mago: mais importante do que investir em novas tecnologias é não deixar dinheiro em coisas que vão morrer. No início do século passado, houve frenesi por fábricas de carros e quem investiu nelas dançou, pois 99,9% das empresas quebraram. Ganhou quem tirou o dinheiro investido em carruagens e cavalos.

Encrenca
Amanhã Nosso Guia anunciará seu plano de ajuda aos municípios que perderam recursos com a queda da arrecadação e o emagrecimento das transferências que recebem de Brasília. A ideia parece boa, mas embute uma complicação punitiva para cidades que ficam acima da linha d'água.
Imagine uma cidade que recebia R$ 100 mil e teve seus recursos minguados para R$ 80 mil. Nesse caso, o governo federal poderia mandar R$ 20 mil adicionais. Tudo bem, mas o município ao lado recebia R$ 130 mil, caiu para R$ 101 mil e não receberia nada, ou menos. Admitindo-se que os dois são vizinhos, um deles será compensado e o outro ficará com um buraco de caixa.
Uma boa tabelinha pode minorar esse problema, mas o centro da questão continua do mesmo tamanho: quando o governo resolve distribuir dinheiro em clima pré-eleitoral, acaba se metendo em confusão.

ELIANE CANTANHÊDE

É a crise, estúpido!

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/04/09

BRASÍLIA - Lula tenta fazer do limão uma limonada. O "limão", azedo que só, é a crise que corrói a confiança e os empregos. E a "limonada" é a lista de medidas que ele estava doidinho para tomar, mas que seriam fatalmente recriminadas em tempos normais. Se continuam politicamente incorretas, passaram a ser economicamente justificáveis. Apesar do risco de desequilíbrio entre arrecadação e gastos.
Um bom exemplo, ainda carente de anúncio oficial, é afrouxar na prática a meta para 2010 do superávit primário (a parte da arrecadação tributária usada para abater a dívida pública). Assim: muda-se a metodologia para excluir a Petrobras do cálculo e poder torrar, a título de despesa e investimento, o equivalente em 2010 aos R$ 14,9 bi da meta da empresa em 2009. Em bom português, Lula quer poder gastar mais justamente no ano da eleição, e disse a oito ministros que vai andar ainda mais pelo país com a Dilma para mostrar o PAC, ou com o PAC para mostrar a Dilma.
O pretexto é que a crise exige investimentos em infraestrutura e geração de empregos. A realidade é que a candidatura Dilma também. Inclui-se na mesma lógica a desoneração da folha de pagamento, em estudo para que as empresas tenham menos impostos e mais empregos. Antiga reivindicação do empresariado, ganha fôlego agora. De onde vem o dinheiro para cobrir o buraco na receita é outra história.
Ainda por essa lógica foi a troca do presidente do Banco do Brasil por alguém ainda mais petista e mais camarada (em duplo sentido) para a redução de juros e o aumento de créditos convenientes. Lembra a frase atribuída a Quércia em 1990? "Eu quebro o Banespa, mas elejo o Fleury." Quebrou. E elegeu. Enfim, Lula foi pragmático durante seis anos, mas não está resistindo à pressão da crise nem principalmente à tentação de 2010. Está politizando mais e mais o governo. E tem discurso, ou um bom disfarce: é a crise, estúpido!

CLÓVIS ROSSI

Olhar estrangeiro

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/04/09

SÃO PAULO - Fiquei impressionando, no bate-papo online com leitores, na quinta-feira, com a ânsia que uma boa parte deles revelou em saber como os estrangeiros nos viam. Parecia um estudo de caso sobre o tal complexo de vira-lata que Nelson Rodrigues dizia que o brasileiro tem.
Não estou usando vira-lata pejorativamente. Eu também, até sem o admitir, sentia necessidade de algum reconhecimento internacional. Só depois de obtê-lo é que percebi que não é importante. Importante não é o que os outros acham da gente, mas o que nós achamos de nós mesmos. Ou, posto de outra forma: você está satisfeito com o país que tem? Se está, ótimo, desencane. Cedo ou tarde, essa imagem de país chegará aos gringos e o reconhecimento deles será apenas a confirmação do que você sentia antes que eles.
Se não está, o problema é corrigir o que está errado, digam o que disserem os estrangeiros. A não ser que o complexo de vira-lata seja uma coisa realmente patológica, não adianta o estrangeiro elogiar o que não lhe agrada, pois você continuará insatisfeito. E, se o estrangeiro criticar, você não vai abanar o rabo, mas dizer: só agora você descobriu o que eu já sei faz tempo?.
Outra coisa que deveria atenuar ou eliminar a ansiedade é o fato de que não há uma imagem unidimensional do Brasil no exterior. É multifacetada, como o próprio país, como quase todos os países. O Brasil é visto, simultaneamente, como violento, mas acolhedor -e é, efetivamente, ambas as coisas. A visão que se tem de um país passa pela alma de quem o olha.
O americano, visceralmente anticomunista, olha Hugo Chávez com desconfiança. A Europa, menos visceral, é menos preconceituosa. Resumo da ópera: seremos melhores quando formos melhores, não quando os gringos disserem que somos melhores.

DORA KRAMER

CPI em seu labirinto


O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/04/09

Aberta em dezembro de 2007, se não houver novo pedido de prorrogação, a CPI dos Grampos fecha as portas dentro de mais ou menos 20 dias. Criada para investigar o festival de escutas clandestinas que assola a República, tende a acabar sem explicar o principal: a que tipo de interesse atende a grampolândia.

Há fortes suspeitas entre os integrantes da CPI de que o manancial de informações recolhidas pela rede subterrânea de espionagem destinava-se originalmente à confecção de dossiês para uso em disputas políticas, uma espécie de estoque de material para eventualidades eleitorais. A suspeita se baseia em depoimentos informais e sigilosos de autoridades do aparato de segurança. O problema é que o que se presume extraoficialmente não se escora em provas que sustentem conclusões oficiais.

No curso das investigações – primárias, a julgar pela avaliação da CPI de que teve acesso a menos de 5% do material coletado produzido pela polícia e em poder da Justiça –, apareceram interesses cruzados no mundo dos negócios públicos e privados.

Nada, porém, que se consiga apresentar na forma de um relatório com começo, meio, fim e responsabilidades bem delineadas, como ocorreu com a CPI dos Correios, que deu toda a base da denúncia do mensalão feita pelo procurador-geral da República e transformada em processo no Supremo Tribunal Federal.

Quem acompanha os trabalhos desde o início, não tem dúvida: o aparelho clandestino é amplo, perigoso e descontrolado. “Percebe-se nitidamente a existência de um monstro que armazena em suas entranhas material suficiente para provocar um fuzuê na República”, diz o deputado Raul Jungmann, que vê na Agência Brasileira de Inteligência o centro de onde se irradia a rede.

“A Abin é uma entidade independente sobre a qual a sociedade não tem o menor poder de fiscalização”, afirma. Culpa, acrescenta, em boa medida do Congresso, que tem uma comissão de fiscalização e controle desde a criação da agência, em 1999, mas que nunca se reuniu. Ou melhor, nesses dez anos fez duas reuniões. Ambas no ano passado, quando foi descoberta escuta ilegal no telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Não influíram nem contribuíram no processo que, depois disso, voltou a ignorar.

A corroborar a opinião do deputado há a própria decisão do governo, também por ocasião do episódio envolvendo o presidente do Supremo, de afastar liminarmente a direção da agência por sugestão do ministro da Defesa, Nelson Jobim, e pressão de Gilmar Mendes.

A contrariar aquela mesma decisão, há a nomeação do diretor demitido (Paulo Lacerda) como adido policial na embaixada brasileira em Lisboa, e a ausência de responsáveis oficialmente apontados no inquérito da Polícia Federal até agora não concluído.

E se a PF não achou, ou não quis apontar, culpados, a CPI tampouco terá condições de fazê-lo em seu relatório final. Está, hoje, em um labirinto: “Como não temos acesso a informações sobre o processo de Daniel Dantas e as informações sobre a atuação da parceria entre PF e Abin são públicas, fica parecendo que a CPI protege o banqueiro e é contra o delegado que o investigou na Operação Satiagraha. Ocorre que as infrações cometidas no curso daquela investigação são sinais dessa degeneração do trabalho de inteligência”, argumenta Jungmann.

Isso posto, até aonde pode ir a CPI? Se não houver fatos novos, não muito longe. O último depoimento de Protógenes Queiroz nada acrescentou. A nova convocação do delegado Paulo Lacerda, se atendida, provavelmente será também inútil e, portanto, a ida de Daniel Dantas de nada adiantará.

Ainda assim, o relatório desta vez deve avançar um pouco em relação ao anteriormente pretendido pelo relator Nelson Pelegrino, que não indiciaria ninguém. Agora, a expectativa é a de que Protógenes e Lacerda sejam indiciados por terem mentido à CPI e Daniel Dantas pelo uso da empresa Kroll para serviços de espionagem. Se o relatório oficial não contiver essas conclusões, um grupo de parlamentares fará um voto em separado para pedir o indiciamento dos três ao Ministério Público.

Pior a emenda

A Câmara ainda discute qual a melhor maneira de repudiar, mas o Senado, esperto, já encontrou o que acredita ser a forma ideal de lidar com as denúncias de suas transgressões internas. Informações agora devem ser solicitadas por meio de ofício com prazo de cinco dias para retorno. As solicitações devem ser acompanhadas de cópia autenticada da carteira de identidade, comprovante de residência, motivação detalhada do pedido, mais um termo de responsabilidade assinado e autenticado.

Quer dizer, corrigir o errado nem pensar. Nos meios e modos a farra continua. Com a diferença de que os congressistas agora, além de infiéis depositários da função pública, serão vistos pela sociedade como obtusos caudatários da burocracia.

LUIZ FERNANDO VERISSIMO

A evidência


O GLOBO - 12/04/09

É fácil ter opiniões firmes sobre, por exemplo, o câncer (contra) e o leite materno (a favor). Já outros assuntos nos negam o conforto de pertencer a uma unanimidade, ou mesmo a uma maioria. São assuntos em que os argumentos contra e a favor se equilibram e sobre os quais a gente pode ter opiniões, mas elas estão longe de ser firmes. Até opiniões que você julgaria indiscutíveis – exemplo: nada justifica a tortura – são controvertidas, e basta ler as seções de cartas dos jornais para ver como a pena de morte, oficial ou extra oficial, tem entusiastas entre nós. Em assuntos como aborto, cotas raciais nas universidades etc. coisas como a religião, a formação, a ideologia e até o saldo bancário de cada um determinam as opiniões divergentes. E não vamos nem falar nos extremos opostos de opinião provocados por qualquer avaliação do governo Lula.

Mas há um assunto sobre o qual você talvez ingenuamente imaginasse que nenhuma discordância seria possível. A brutal evidência – geográfica, cartográfica, literalmente na cara, portanto independente de interpretação e opinião – da iniquidade fundiária no Brasil, um continente de terra com poucos donos, era tamanha que durante muito tempo uma genérica “reforma agrária” constou do programa de todos os partidos, mesmo os dos poucos donos da terra. Era uma espécie de reconhecimento da injustiça inegavel que desobrigava-os de fazer qualquer coisa a respeito, retórica em vez de reforma. O aparecimento do Movimento dos Sem-Terra acrescentou um novo elemento a essa paisagem de descaso histórico: os próprios despossuídos em pessoas, organizados, reivindicando, enfatizando e até teatralizando a iniquidade, para contestar a hipocrisia. A evidência insofismável transformada em drama humano.

Pode-se discutir os métodos do MST, e até que ponto as invasões e a violência não dão razão à reação e não desvirtuam o ideal, além de agravar a truculência do outro lado. Mas sem perder de vista o que eles enfrentam: não só a injustiça que perdura, apesar de programas governamentais bem intencionados e de alguns avanços, como um Congresso recheado de grandes proprietários rurais, o poder político e financeiro dos agro-business e uma grande imprensa que destaca a violência mas sempre ignorou a existência de acampamentos do MST que funcionam e produzem – inclusive exemplos de cidadania e solidariedade. É a minha opinião.

O IDIOTA


DOMINGO NOS JORNAIS

Globo: Paes diz que remoção de favelas não pode ser tabu

 

Folha: Gastos com pessoal também cresce em Estados e capitais

 

Estadão: Lei vai permitir punição a índios que cometem crimes

 

JB: O Estado entregou o mundo ao mercado

 

Correio: À custa do cidadão