O GLOBO - 01/05/12
A crise custou ao mundo 50 milhões de empregos, o Brasil aumentou o nível de emprego, de formalização, e retirou pessoas da pobreza durante esse período difícil. É o que fez a OIT dizer que a “resiliência do Brasil tem sido impressionante”. O país sabe bem o que falta fazer: quase 40% dos trabalhadores estão fora do mercado formal; há ainda trabalho infantil e trabalho degradante.
Quando um país não está em crise é que se pode melhorar mais, por isso, este é o momento para avaliar as condições de trabalho, em geral, ver o que tem mantido percentual tão alto de informalidade, e entender a persistência, por exemplo, no rico agronegócio brasileiro, de empresas na lista suja do trabalho escravo. No primeiro de maio em que o nosso retrato do mercado de trabalho aparece bem nas análises da OIT — quando comparado aos outros — é que temos que nos esforçar para avançar mais.
Em época de crise é mais difícil, como bem sabe a Europa, onde as taxas de desemprego aumentaram em dois terços dos países, e, em alguns, de forma alarmante. Depois de quatro anos de crise, começa a crescer o desemprego estrutural. Países como a Espanha, onde de cada dois jovens um está desempregado, estão em séria encrenca.
Os países e as famílias investiram na formação de jovens, que agora, na hora de serem colhidos pelo mercado de trabalho, são barrados. Isso leva a desalento, conflitos, migração para outros países e reduz o dinamismo da economia. O cálculo é que só com os 375 mil espanhóis que já perderam o emprego este ano o país deixará de arrecadar 1 bilhão.
A OIT disse que os países que estão em crise, especialmente os da Europa, estão prisioneiros da armadilha da austeridade: os governos cortam gastos e constroem, com novos cortes, uma trajetória de queda dos déficits e das dívidas. Ao fazerem isso, reduzem o ritmo de crescimento da economia ou produzem recessões. Isso diminui mais ainda a arrecadação e eleva o déficit, em vez de reduzir.
A armadilha é esta, todos sabem. O problema é como sair dela. Elevar o gasto público simplesmente fará a economia cair em outra armadilha. O governo aumenta o gasto e isso eleva o risco de o país ter dívida e déficit crescentes. Isso afasta os financiadores ou obriga o governo a pagar mais nas rolagens dos seus títulos. Quanto maior o déficit, maior a percepção de risco, maiores os juros cobrados, e maior o déficit.
Então alguns dos países da Europa estão entre a armadilha da austeridade e a armadilha da elevação do risco. O final é sempre o aprofundamento da crise. Não é trivial sair desse verdadeiro dilema do prisioneiro: expressão usada para definir situações quando só há opções difíceis.
A conjuntura exige mais dos governos na busca de soluções. Não bastará escolher entre o corte indiscriminado de gastos, que deprime a economia, ou a elevação insensata de gastos, que eleva a percepção de risco.
É dentro desse contexto que os governos europeus começam a costurar, para a reunião de cúpula de junho, o pacto pelo crescimento. A ideia é criar um fundo, gerido pelo Banco Europeu de Desenvolvimento, que invista para destravar os investimentos privados. A ideia por trás do plano é que há trilhões de potencial de investimento privado que não são feitos por causa do ambiente de falta de confiança produzido pela crise. O fundo se destinaria a estimular esses investimentos.
A conjuntura é complexa, e a crise, de longa duração. Diante disso, o Brasil precisa fortalecer os fatores que o levaram a ter “resiliência”. A arrecadação está subindo, é possível reduzir o déficit ainda mais para fortalecer a confiança na solidez da economia brasileira. O mercado de trabalho está demandando mais e mais trabalhadores e por isso é preciso encontrar formas de reduzir o desemprego de jovens, que tem oscilado entre 13% e 14% nos últimos anos para a faixa dos 18 a 24 anos.
Só para ficar claro o conceito: quando se fala de desemprego nesta faixa etária não está se contando os que estão dedicados ao estudo e deixaram para mais tarde o ato de procurar emprego. Entra na estatística como desempregado apenas quem procura e não consegue vaga.
Esta é a hora de se fazer um esforço pelo trabalho decente, que combata todas as formas de trabalho degradante ou análogo à escravidão, o trabalho infantil, a informalidade e as desigualdades no emprego como as que sofrem mulheres e negros. Nas crises, todas essas perversidades pioram. Nos bons momentos é que é preciso combatê-las porque assim cria-se o círculo virtuoso: a melhoria de renda, o trabalhador mais protegido, a redução das desigualdades, o aproveitamento de todos os talentos levarão a uma economia ainda mais robusta.
Por enquanto, as iniciativas para reduzir o custo que pesa sobre a empresa que cria empregos são restritas a alguns setores industriais. Não há estímulo a que a empresa empregue mais jovens que não têm experiência. Não há qualificação suficiente. Há muito o que pode ser feito.
Seria um erro ler os relatórios nos quais estamos muito melhores que outros países e achar que não há nada mais a fazer. O mercado de trabalho do Brasil melhorou, mesmo durante a crise, mas o que torna a comparação mais favorável a nós é que eles pioraram muito.Brasília – No pronunciamento transmitido em rede de rádio e televisão para comemorar ao Dia do Trabalho, a presidente Dilma Rousseff cobrou dos bancos privados mais esforços para reduzir as taxas de juros cobradas em empréstimos, cartões de crédito e no cheque especial. E aconselhou o brasileiro a procurar os bancos que ofereçam as taxas mais baixas. “É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do mundo. Os bancos não podem continuar cobrando os mesmos juros para empresas e para o consumidor, enquanto a taxa básica Selic cai, a economia se mantém estável”, disse Dilma no discurso veiculado ontem à noite.