FOLHA DE SP - 01/05/12
RIO DE JANEIRO - Vi com atraso o filme de Woody Allen, "Meia-noite em Paris", do qual muito esperava, uma vez que "Manhattan" me parece sua obra-prima, em preto e branco mesmo e com música de Gershwin. Aliás, é um dos fortes do ator-diretor, bom de ouvido, todos os seus filmes são salvos pelas trilhas musicais -vai ter bom ouvido assim no inferno.
Outro ponto a favor: a beleza da fotografia, a cidade é fotogênica, mas Woody tornou-a maravilhosa, quase irreal, sem apelar para os cartões-postais que todos conhecemos. Isto posto, vamos para aquilo que agora chamam de "conteúdo". Neste particular, foi uma sucessão de clichês, alguns exclusivos do próprio diretor, como o escritor esperançoso e a estagiária sempre fazendo a tese de mestrado.
Quanto ao escritor, é repetida a costumeira opinião do editor, "seu livro não nos interessa, mas tem alguns trechos bons, quem sabe, reescrevendo podemos pensar em editá-lo". O passado que se mistura ao presente é um lugar-comum do cinema comercial: Chaplin ("His prehistoric past", 1914), Eddie Cantor ("Escândalos romanos", 1933) e Oscarito ("Nem Sansão nem Dalila", 1955) -só para citar alguns.
Os efeitos são óbvios. O casal Fitzgerald, Hemingway, Gertrude Stein, Lautrec, Picasso, um estupefato Buñuel (ao qual o deslumbrado escritor sugere a sinopse de "O Anjo Exterminador"); citações periféricas de Modigliani, Degas, Gauguin, um inesperado T.S. Elliot, Matisse, Salvador Dalí -este, por sinal, e ao contrário dos demais, interpretado por um ator (Adrien Brody) que é cara e loucura do próprio, o único que convence no papel.
Há também a música de Cole Porter, tocada por ele mesmo, e a de Offenbach, obrigatória em qualquer peça ou filme sobre a Paris daquela época.
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