FOLHA DE SP - 01/05/12
Atualmente, é consensual a visão de que a internacionalização é o grande desafio da universidade brasileira. A conjunção entre a língua portuguesa, pouco falada, e o isolamento geográfico em relação aos grandes centros universitários da Europa e dos EUA contribuíram para a produção intelectual brasileira ser desconhecida no resto do mundo.
Quem frequenta congressos internacionais sabe que tal desconhecimento não tem necessariamente a ver com a qualidade de nossa produção, mas, principalmente, com a dificuldade de sua circulação.
Com a transformação do país em ator importante da nova geopolítica mundial, é natural que muitos países comecem a se perguntar sobre o que as universidades daqui produzem, quais seus debates e correntes fundamentais, assim como se associar a tais debates.
É nesse contexto que as discussões sobre internacionalização das universidades se coloca. No entanto é triste ver que elas ocorrem de maneira irrefletida, parecendo guiar-se meramente por posições em rankings internacionais.
É impressionante como as universidades brasileiras não estão preparadas administrativamente para isso. Na USP, é comum um aluno esperar inacreditável um ano e meio para ver um pedido de cotutela de doutorado assinado. Uma proposta de acordo de cooperação internacional pode demorar mais tempo. Tudo porque não temos pessoal suficiente e simplicidade burocrática.
Por outro lado, a verdadeira internacionalização se refere ao tripé: pesquisa, formação e docência. Até agora, enxergamos só o segundo ponto, com bolsas de estudo para que nossos alunos passem temporadas no exterior.
Diga-se de passagem, o último programa brasileiro de bolsas (Ciência sem Fronteiras) teve o disparate de ignorar as áreas de ciências humanas na definição de suas prioridades, o que só se justifica por uma ideia tosca de desenvolvimento social que nem sequer a ditadura militar teve coragem de implementar.
Mesmo no quesito "formação" seria fundamental que nossas universidades permitissem, de uma vez por todas, que estrangeiros prestassem concursos para professor universitário, mesmo que não tenham domínio do português. Basta que eles se comprometam a aprender português. Nossos alunos teriam uma formação mais sólida e diversificada.
Por sua vez, nossa pesquisa deveria ser objeto sistemático de difusão internacional. Os professores deveriam ter linhas de financiamento para a tradução de artigos e livros a serem publicados em outros países.
O governo deveria investir na formação de redes internacionais de pesquisadores por intermédio de acordos acadêmicos. Com um conjunto claro de ações, nossos resultados na internacionalização seriam muito mais visíveis.
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