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ESTA LÁ , com todas as letras: EUA e Colômbia se comprometem neste novo acordo suplementar de defesa a respeitar a soberania e a não intervir em terceiros países. Mas não há dúvida de que o venezuelano Hugo Chávez, ou um de seus aliados na esquerda latino-americana, buscará pelo em ovo no minucioso texto. |
quinta-feira, novembro 05, 2009
RICARDO BONALUME NETO
EUGÊNIO BUCCI
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Há pouco mais de 15 anos, neste mesmo jornal, comentei a decrepitude da ditadura cubana - decrepitude, sim, já naquela época. Foi no Caderno2, onde assinei, por dois anos, uma coluna semanal sobre TV, chamada Sintonia Fina. No dia 16 de julho de 1994, minha coluna se dedicou a um bom documentário sobre Cuba, levado ao ar no programa Documento Especial, do SBT. Reproduzo, a seguir, trechos do parágrafo final do velho artigo, cujo título foi A utopia virou refém da tirania em Cuba. |
BRASÍLIA - DF
Prioridade quase zero
Correio Braziliense - 05/11/2009 | ||||||||||||
Recado O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), manteve o relatório que apresentou publicamente, mas já negocia com os governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e do Espírito Santo, Paulo Hartung, uma saída para o impasse. Quem vai bater o martelo da nova proposta do governo, porém, é o presidente Lula, que pediu calma aos dois governadores peemedebistas. O presidente da Câmara, Michel Temer (SP), virou bombeiro no incêndio. Regresso Deputados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo tentarão levar para segunda-feira a votação do parecer sobre a partilha no marco regulatório do pré-sal. Avaliam que, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em viagem à Inglaterra, será mais difícil negociar uma proposta satisfatória. Ações
Soldos O presidente Lula deve sancionar o novo Plano de Cargos e Salários da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal na próxima terça-feira. O deputado Ciro Nogueira (PP/PI) pega carona para estender o plano aos demais estados, elevando o piso de todos os policiais militares e bombeiros do país para R$ 4 mil Florestas
Concílio Os nove governadores do Nordeste se reúnem hoje em Fortaleza para debater uma pauta comum da região para a votação do pré-sal, que deve ser iniciada na Câmara na próxima terça-feira. Além de petróleo, discutirão também financiamentos do Banco Mundial para a região. |
ROBERTO MACEDO
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Em contraste com seu nome, o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal segue em baixa velocidade. Em lugar de assumir a culpa, o que mancharia o currículo de sua candidata presidencial, a ministra Dilma Rousseff, o governo escolheu um bode expiatório, o Tribunal de Contas da União (TCU), acusado de paralisar obras do PAC. O TCU deve ter suas razões. Presumo também que trabalhe por amostragem, e deve ter fiscalizado apenas uma pequena parcela das obras que o governo empacotou no PAC. E desde 2003 o atual governo convive com o TCU. Por que só reclama agora? |
JULIANO BASILE
Delegados criticam foro privilegiado e excesso de recursos na Justiça
Valor Econômico - 05/11/2009 |
Reunidos em Fortaleza para discutir as causas da impunidade, 375 delegados da Polícia Federal estão fazendo uma lista com pedidos de mudanças que atingem diretamente os tribunais superiores de Brasília. Eles vão pedir a revogação da súmula do Supremo Tribunal Federal (STF) que restringiu o uso das algemas; o fim do foro privilegiado, que leva autoridades, como ministros de Estado, deputados e senadores, a julgamento apenas no STF; e a reforma do Código de Processo Penal, com a meta de reduzir o número de recursos que torna os processos contra autoridades uma saga sem fim nos tribunais superiores de Brasília. A lista deverá ser concluída amanhã no encerramento do Congresso da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF). A avaliação geral dos delegados que participam do encontro é a de que eles trabalham todos os dias para combater o crime, fazem operações, efetuam prisões e, mesmo assim, existe uma forte sensação de impunidade no Brasil. Um dos principais motivos é o fato de os processos envolvendo pessoas com foro privilegiado não chegarem a julgamento final. "Menos de 5% dos processos criminais no STF e no Superior Tribunal de Justiça são julgados. Com isso, não tivemos qualquer condenação de autoridades desde 1988", disse o presidente da ADPF, delegado Sandro Torres Avelar. Para ele, o Brasil vive, hoje, sob o estigma da impunidade relativa. "A impunidade é relativa a ter ou não como contratar bons advogados. Ela é relativa ao acusado ter ou não foro privilegiado." O delegado Wilson Damázio, diretor do Sistema Penitenciário Federal, responsável por todos os presídios do país, contou que, hoje, existem 470 mil pessoas presas. Mas, não há nenhum preso entre aqueles que possuem foro privilegiado. Para os delegados, o problema não é a ausência de condenações por tribunais superiores a autoridades. É a farta aceitação de recursos judiciais para que advogados possam protelar a decisão. "A sensação de impunidade é absurda", disse Ricardo Saadi, delegado responsável pela Operação Satiagraha. "Avaliadores do Gafi [Grupo de Ação Financeira Internacional, uma organização que reúne diversos países no combate ao crime] me perguntam por que há tão poucas condenações por lavagem de dinheiro no Brasil. Expliquei a eles que aqui há muitos recursos." Saadi contou que atua na Delegacia de Combate aos Crimes Financeiros de São Paulo, desde 2002. Em nenhum dos casos em que participou houve condenação. Em apenas dois houve prisão. Um deles porque o preso era o famoso traficante colombiano Juan Carlos Abadia. Para o delegado Aldair da Rocha, Superintendente da PF no Ceará, o STF deveria revogar a súmula das algemas - que obriga os juízes a justificar o uso delas em pessoas acusadas - e aprovar outras súmulas vinculantes de modo a reduzir a quantidade de recursos. "Há processos que ficam cinco, dez anos sem sentença. Apura-se o escândalo, leva-se à Justiça e nada acaba acontecendo." Outro problema é que o sistema criminal, do qual a PF faz parte, é frequentemente apontado como violador de direitos e garantias fundamentais. É a visão de que o Estado não pode agir em excesso, como, por exemplo, na exposição de pessoas algemadas - fato que levou o STF a aprovar a súmula. "Mas, não há nada mais violador desses direitos do que a prática de um crime", disse o juiz federal Sérgio Moro. "Para proteger as pessoas precisamos de um processo penal eficiente", completou. O juiz federal Nino Oliveira Toldo acredita ser urgente a alteração do atual Código de Processo Penal para reduzir o número de recursos. "O código vai completar 70 anos e está na idade de se aposentar compulsoriamente", afirmou. "Se não tivermos um sistema processual que cumpra com duração razoável e seja efetivo, não teremos como superar essa sensação de impunidade", disse o juiz. |
ANA CAROLINA CABRAL-MURPHY
Brasil-China: livre comércio, lixo tóxico e lógica econômica
Valor Econômico - 05/11/2009 |
Brasil deve ir com cuidado; o que os chineses mais querem é ter acesso a matérias-primas e bens primários a preço baixo Há quase duas décadas, as políticas de incentivo econômico para os empresários americanos transferirem a produção de bens de consumo, com alto teor poluidor, para países como China e México, vêm aumentando. Isso tornou a indústria norte-americana menos competitiva e desequilibrou a balança comercial dos Estados Unidos, contribuindo para a valorização do dólar e fazendo com que cerca de 70% da economia norte-americana ficasse dependente do setor de prestação serviços. O Brasil corre o risco de trilhar esse mesmo desequilíbrio. Quando Larry Summers, o atual diretor do Conselho Econômico Nacional dos Estados Unidos, trabalhou como economista-chefe do Banco Mundial, ele ficou notório por sua inteligência, sagacidade, mas também por ter assinado um memorando - em conjunto com o economista Lant Pritchett - que continha mensagens que foram interpretadas como um alerta de que o livre comércio não iria beneficiar o meio ambiente nos países em desenvolvimento. Esse argumento foi desbancado pelo Prof. Jagdish Bhagwati em seu livro em defesa da globalização. Na imprensa, o memorando continha a caligrafia de Summers explicando sarcasticamente que "a lógica econômica por trás de despejar um monte de lixo tóxico no país de menor salário é impecável". Ao entrar para a administração de Bill Clinton, Summers trabalhou com políticas de incentivo econômico para os empresários americanos transferirem a produção de bens de consumo com alto teor poluidor, principalmente para a China. Com o passar dos anos, isso tornou a indústria norte-americana menos competitiva. Na China, os incentivos fiscais foram recebidos sem um planejamento estratégico para a obtenção de um crescimento sustentável dos parques industriais. O resultado foi a rápida contaminação dos principais rios, solo, lençol freático e do ar nas grandes cidades e regiões industriais. A China hoje detém um dos piores índices de emissão de CO2 do mundo para as grandes cidades. De acordo com a Agência Europeia do Meio Ambiente (European Environment Agency - EEA) e o Conselho Mundial de Energia (World Energy Council), as projeções de emissões de CO2 para a China tendem a dobrar. Várias áreas do país estão sufocadas pelo excesso de monóxido de carbono e pela péssima administração do lixo industrial. A maioria dos trabalhadores chineses é de migrantes internos, considerados ilegais ao se transferirem de uma província chinesa para outra. Como imigrante ilegal, passa a ser pago com salário abaixo do piso aceitável pelo Partido Comunista. O trabalhador é considerado um foragido e perde todos os seus direitos de educação e assistência médica do governo. Assistência que, dentro do "modelo do governo comunista", é motivo de orgulho. Esse é o resultado do "boom" de exportação de produtos baratos, manufaturados a custo baixo, utilizando migrantes internos oprimidos pelo regime. Uma das estatísticas pouco divulgadas sobre a China é que esses "migrantes", apesar de receberem um salário abaixo do piso mínimo nacional, em seu trabalho ilegal, são computados pelo governo central como recebendo o piso mínimo nas suas cidades de origem. Assim, as províncias continuam a receber verbas federais pela população ausente que se deslocou. Cidades como Xangai e Shenzen passam a cobrar impostos mais altos para contrabalançar a explosão urbana não computada pelo governo central (Beijing). As estatísticas de renda fornecidas pela China para os dados do Banco Mundial (World Development Indicators), tendem a colocar a receita média de um trabalhador chinês acima dos dados reais que dificilmente são verificados. O país raramente permite a entrada de jornalistas e pesquisadores estrangeiros para conduzir pesquisas sociais ou auditorias independentes, sem o filtro do governo. Os resultados questionáveis de PIB e a paridade de consumo PPP (Purchasing Power Parity) criam pressão adicional para a China exportar seus produtos a um preço abaixo do mercado e acumular reservas em moedas estáveis em prol dos seus índices macroeconômicos. Em um mercado racional, sem arbitragem ou interferências de Beijing, a moeda chinesa (o Renmimbi) deveria apreciar. Para evitar novas revoltas contra as políticas de migração interna, inflação acima de 10% ao ano, a falta de transparência dos governos locais e a baixa assistência social, os economistas precisam abrir novos mercados para manter essa parte da população ocupada e adotar novos pacotes econômicos para aumentar as exportações. O plano que foca no aumento da demanda interna é discurso "para inglês ver". Quem conhece a cultura chinesa sabe que vai demorar entre 10 a 20 anos para essa população criar uma cultura de consumo. Com exceção dos estudos do professor Charles Calomiris, os números de demanda na China são extremamente questionáveis por motivos demográficos e culturais não tão óbvios assim. O Brasil corre o grave risco de entrar no mesmo ciclo vicioso em que os EUA estiveram nas últimas décadas ao aceitar a moeda chinesa como meio de pagamento para a exportação de bens primários - dado que a demanda industrial para bens de consumo chineses está em declínio na Europa e EUA. Ao diversificar suas reservas com a obtenção de yuans, o Brasil terá que reinvestir essa moeda no próprio mercado chinês, comprando bens de consumo secundários, investindo e/ou transferindo unidades da indústria brasileira para cidades chinesas. Isso é um erro porque vai reduzir a capacidade competitiva da indústria brasileira e pode ferir a indústria nacional de bens secundários, fazendo com que o Brasil fique fadado a exportar bens primários e matérias-primas. Se analisado com cautela dentre as políticas monetárias chinesas, o Banco da China não tem nenhum tipo de incentivo substancial para garantir a apreciação do renmimbi. Ao contrário, um dos únicos interesses comerciais da China com o Brasil é ter acesso a matérias-primas e bens primários a preço baixo. Assumindo-se uma desvalorização da moeda, o Brasil irá correr um alto risco de ficar atrelado a flutuações de uma moeda instável. Ana Carolina Cabral-Murphy é pesquisadora da Columbia University de Nova York (EUA). |
FERNANDO DANTAS
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Diante do problema da valorização do real, o Ministério da Fazenda e o Banco Central (BC) mostram mais uma vez que seguem cartilhas distintas - que, porém, podem ser episodicamente complementares. E provavelmente inócuas. |
CELSO MING
Poupança fraca
O Estado de S. Paulo - 05/11/2009 |
Demorou para que os analistas entendessem que, além da saúva, um dos principais males do Brasil é o baixo nível de poupança, que em geral não ultrapassa 16% ou 17% do PIB, enquanto a maioria dos países asiáticos poupa em torno de 35% e a China, campeã em poupança, vai para incríveis 44% do PIB. Esse fato é mais impressionante quando se considera que o trabalhador chinês ganha uma ninharia. Há alguns anos, quando assumia mais o discurso sindicalista do que o da escalada bolivariana na América Latina, o atual assessor especial de Política Externa da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, sempre que podia observava que o salário chinês era tão baixo que o regime de trabalho da China deveria ser considerado semiescravidão. E, no entanto, ainda que ganhando como semiescravo, o trabalhador médio chinês poupa mais de 40% do que ganha. O alto padrão de poupança exibido pelos países asiáticos é a principal razão pela qual é descabida a insistente recomendação de alguns economistas de que a economia brasileira deva adotar o modelo asiático de desenvolvimento, especialmente na condução da política cambial. Quem poupa muito consome pouco e não pode contar com aposentadoria financiada pelo setor público, como acontece na China. E quem consome pouco ou dispensa capital estrangeiro ou determina onde ele pode ser investido, como também faz a China. O brasileiro adora consumir e faz questão de um regime previdenciário gastador. O funcionário público, por exemplo, passa cerca de 25 anos contribuindo com 10% do seu salário para receber aposentadoria equivalente ao salário integral pelos 30 a 40 anos restantes de sua vida e ainda acha que o Estado (ou a sociedade) está pagando uma insignificância pelos valiosos serviços prestados durante seu tempo de ativa. O baixo nível de poupança do Brasil é o principal entrave ao desenvolvimento econômico. Quem poupa pouco investe pouco, e quem investe pouco tem de se contentar com um crescimento econômico proporcional ao tamanho do investimento. É por isso que a China pode garantir um avanço do PIB da ordem de 10% ao ano e o Brasil, num período bom, não consegue emplacar mais do que 5%. E não é só isso. Para obter crescimento econômico sustentável é preciso garantir poupança externa, que se faz ou por meio do endividamento externo ou por meio do aumento dos investimentos estrangeiros. E, num momento como o atual, em que não há o que chegue para financiar os projetos do pré-sal e do PAC, as obras da Copa do Mundo de 2014 e as da Olimpíada de 2016, e num momento em que a ficha do Brasil ainda não foi indelevelmente deteriorada pela gastança pública, é óbvio que a substancial entrada de capitais estrangeiros concorre para a valorização do real e, consequentemente, para reduzir ainda mais a fraca competitividade do produto brasileiro. O baixo nível de poupança do País é uma das mais importantes razões pelas quais os juros são o que são no Brasil. E os juros altos exigem que a administração das contas públicas seja mais rigorosa do que nos países ricos, de maneira a não provocar maior deterioração no perfil do endividamento público. Se o Brasil colhe o que colhe é porque planta o que planta. As coisas têm consequência. Confira Mais texto - O Fed (banco central americano) manteve os juros próximos de zero por cento e indicou que a folga monetária continuará por um período prolongado. O texto veio mais longo e lá estão mais claras as condições da estratégia de saída. |
VINÍCIUS TORRES FREIRE
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"2010 VAI ser muito pior que 2006", dizia ontem Luiz Carlos Mendonça de Barros ao final de uma palestra no Instituto FHC (iFHC). "Vai ser muito melhor", diz rindo, da plateia, o próprio FHC. Mendonça de Barros, ex-ministro do governo tucano, economista, acabara de terminar uma apresentação muito positiva a respeito da economia brasileira nos próximos dez anos, período no qual o Brasil poderia crescer entre "4% e 6%" ao ano. Mas Mendonça de Barros, claro, referia-se às perspectivas eleitorais da oposição em 2010, "piores" devido à "sensação de conforto" com a economia e, em especial, ao do crescimento forte e contínuo das vendas do comércio, mesmo nos piores momentos da crise. |
GEORGE SOROS
Uma nova arquitetura mundial
VALOR ECONÔMICO - 05/11/09
A escolha do mundo agora é entre capitalismo internacional e capitalismo estatal
O mundo enfrenta hoje outra escolha desoladora entre duas formas diferentes de organização
Vinte anos depois da queda do Muro de Berlim e do colapso do comunismo, o mundo está enfrentando outra escolha desoladora entre duas formas fundamentalmente diferentes de organização: capitalismo internacional e capitalismo estatal. A primeira, representada pelos Estados Unidos, faliu, e a última, representada pela China, está em ascensão. Seguir a trilha da menor resistência levará à desintegração gradual do sistema financeiro internacional. Um novo sistema multilateral baseado em princípios mais sólidos precisa ser inventado.
Apesar da dificuldade de obter cooperação internacional em torno da reforma reguladora em etapas, ela pode ser conseguida num grande pacto que reorganize todo o sistema financeiro. Uma nova conferência de Bretton Woods, como aquela que estabeleceu a arquitetura financeira internacional pós-Segunda Guerra Mundial, é necessária para estabelecer novas regras internacionais, incluindo o tratamento de instituições financeiras que sejam grandes demais para falir e o papel dos controles de capital. Ela também teria de reformular o Fundo Monetário Internacional (FMI), para refletir melhor a hierarquia social predominante entre os Estados e rever seus métodos de atuação.
Além disso, um novo Bretton Woods teria de reformar o sistema monetário. A ordem do pós-guerra, que tornou os EUA um país mais igual que os demais, gerou desequilíbrios perigosos. O dólar já não desfruta a confiança e a certeza de antigamente, porém nenhuma outra moeda pode assumir o seu lugar.
Os EUA não deveriam se esquivar do uso mais disseminado dos Direitos Especiais de Saque (SDRs, na sigla em inglês) do FMI. Considerando que os SDR são denominados em várias moedas nacionais, nenhuma moeda isolada poderia desfrutar uma vantagem injusta.
A gama de moedas incluídas nos SDR precisaria ser ampliada, e algumas das moedas recém-agregadas, incluindo o renmimbi, podem não ser plenamente conversíveis. Isso, por sua vez, permitiria à comunidade internacional pressionar a China para que abandone sua âncora cambial ante o dólar e seria a melhor forma de reduzir desequilíbrios internacionais. Além disso, o dólar continuaria sendo a moeda de reserva preferida, contanto que seja administrada de forma prudente.
Uma grande vantagem dos SDR é que eles permitem a criação internacional de moeda corrente, que é especialmente útil em tempos como o atual. O dinheiro poderia ser direcionado aonde fosse mais necessário, ao contrário do que está acontecendo atualmente. Um mecanismo que permita a países ricos que não necessitam de reservas adicionais transferir suas verbas aos que necessitarem estaria prontamente disponível, usando as reservas de ouro do FMI.
Reorganizar a ordem mundial exigirá se estender para além do sistema financeiro e envolver as Nações Unidas, especialmente a filiação ao Conselho de Segurança. Esse processo precisa ser iniciado pelos EUA, mas China e outros países em desenvolvimento deveriam participar como iguais. Eles são membros hesitantes das instituições de Bretton Woods, que são dominadas por países que já não são dominantes. As potências ascendentes devem estar presentes na criação desse novo sistema para assegurar que sejam adeptos atuantes.
O sistema não poderá sobreviver na sua forma presente, e os EUA têm mais a perder em não se posicionarem na vanguarda da sua reforma. Os EUA ainda estão numa posição de liderar o mundo, mas, sem uma liderança previdente, sua posição relativa provavelmente continuará erodindo. O país não consegue mais impor a sua vontade sobre os demais, como tentou fazer a administração de George W. Bush, mas ele poderá liderar um esforço conjunto para envolver o mundo desenvolvido e o mundo em desenvolvimento, restabelecendo, a liderança americana de forma aceitável.
A alternativa é assustadora, pois uma potência em declínio que vem perdendo seu predomínio econômico e político, mas que ainda preserva a supremacia militar constitui uma mistura perigosa. Costumávamos ser tranquilizados pela generalização de que países democráticos buscam a paz. Após a era Bush, essa regra não se aplica mais, se é que já se aplicou.
Na verdade, a democracia está envolta em graves problemas na América. A crise financeira causou adversidade a uma população que não gosta de enfrentar realidade dura. O presidente Barack Obama acionou o "multiplicador de confiança" e alega ter contido a recessão. Se houver uma "recaída" da recessão, porém, os americanos ficarão suscetíveis a todos os tipos de alarmismo e demagogia populista. Se Obama fracassar, a próxima administração ficará seriamente tentada a criar alguma distração dos problemas do país - a um grande risco para o mundo.
Obama tem a visão certa. Ele crê em cooperação internacional, no lugar da filosofia da lei do mais forte da era Bush-Cheney. O aparecimento do G-20 como principal instância de cooperação internacional e do processo de avaliação por especialistas, acertado em Pittsburgh, são passos na direção certa.
O que está faltando, porém, é um reconhecimento generalizado de que o sistema está falido e precisa ser reinventado. Afinal, o sistema financeiro não desmoronou de todo, e o governo Obama tomou uma decisão consciente de reviver os bancos com subsídios dissimulados, em vez de recapitalizá-los compulsoriamente. Essas instituições que sobreviveram deterão uma posição de mercado mais sólida do que nunca, e resistirão a uma reestruturação sistemática.
A liderança da China precisa ser ainda mais previdente que Obama. A China está substituindo o consumidor americano como motor da economia mundial. Como é um motor pequeno, a economia mundial crescerá em ritmo mais lento, mas a influência crescerá rapidamente.
Por enquanto, o público chinês está disposto a subordinar sua liberdade individual à estabilidade política e ao progresso econômico. Mas isso pode não continuar indefinidamente - e o resto do mundo jamais subordinará a sua liberdade à prosperidade do Estado chinês.
À medida que a China se tornar uma líder mundial, ela precisará se transformar numa sociedade aberta que o resto do mundo esteja disposto a aceitar como uma líder mundial. Da forma como estão as relações de poderio militar, a China não tem nenhuma alternativa ao desenvolvimento harmonioso e pacífico. Na verdade, o futuro do mundo depende disso.
DIRETO DA FONTE
Grupos neonazistas que atuam no Brasil podem estar mais bem articulados do que imagina nossa vã sociologia. Marcelo Itagiba, da comissão da Câmara que investiga o tema, descobriu conexões interestaduais entre organizações.
Quando terminar seu relatório, o deputado pedirá que a Polícia Federal faça investigação nacional.
Ecos tardios 2
A partir de documentos do Itamaraty, Itagiba também estuda a nebulosa passagem pelo Brasil de Franz Stangl, responsável pelo campo de concentração de Treblinka, na Polônia.
Há suspeitas de que o carrasco, que viveu 16 anos por aqui, tenha mantido contato e doutrinado grupos nazistas brasileiros.
Sabático
Aloizio Mercadante, em tour pela Europa, ficou de almoçar com Boni no restaurante do hotel George V, em Paris. Nada, nada de pré-sal no cardápio...
Festa adiada
Fritz Henderson, da GM, não vem mais ao Brasil no dia 9. O cancelamento da venda da Opel o obrigou a viajar para a Europa e adiar encontro com Lula e também com Yeda Crusius.
O que levou José Carlos Pinheiro Neto, da GM brasileira, a constatar: "Dá mais trabalho cancelar uma festa do que montá-la."
Volta por cima
A nova diretoria da Philips recebeu sinal verde da matriz para voltar a investir.
Quer ser a maior em equipamentos médicos de última geração, produzindo por aqui aparelhos de ressonância magnética e de tomografia computadorizada.
Maria Vik Beatriz
Gravura de Maria Bonomi acaba de ganhar companhia de peso. Será colocada ao lado de obras de Vik Muniz e Beatriz Milhazes na casa de um consultor da Tate Modern, de Londres.
Foi comprada durante exposição da artista na Gallery 32.
Mau olhado
Geyse Arruda, a moça do vestidinho curto da Uniban, está mesmo no inferno astral. Foi assaltado, na manhã de terça, o mercadinho Ganha Pouco de Diadema onde a estudante trabalha.
Fidel Pereira, dono do lugar, jura que os dois episódios não têm ligação.
Nenhum ouvido
Comecinho de noite da terça, Michel Temer ameaça encerrar a sessão por falta de quórum. "Encéééeerra!!!", gritou Rita Camata
Petistas acharam que era campanha por Serra e retrucaram: "Diiiiiiiilma!!"
Temer achou melhor recomeçar os trabalhos.
No som e no mapa
O ouvido afiado dos índios, mais a iniciativa dos passageiros de rapidamente soltar o localizador de emergência - ELT - foram cruciais para salvar as nove vidas do C-98 Caravan que caiu quinta passada, em um rio no Amazonas.
Captado por um satélite, o sinal do ELT foi repassado ao Salvaero. Juntando todas as informações, a FAB precisou o local da queda.
Saindo do forno
A morte de Claude Lévi-Strauss não pegou a Cosac Naify de calça curta. A editora, dona de 7 títulos do antropólogo, tem programado o lançamento de O Homem Nu para agosto de 2010.
Plano bê
Enquanto se especula se Madonna e filhos chegam nos próximos dias ao Rio, na paralela é dada como certa a vinda de Beyoncé para o réveillon. A moça já teria até reserva no Copa.
A Rodada rodou
Tudo indica que o governo Lula não acredita mais em Doha e muito menos no Mercosul: empresários paulistas têm sido chamados para opinar sobre acordos bilaterais com o Chile, o México e a África do Sul.
Na frente
Miguel não tirou seu pai Abílio Diniz da rotina diária. Nasceu ontem de madrugada. Veio cheio de saúde, para alegria de Geyse.
Membros do Facebook podem baixar, gratuitamente, uma edição em espanhol do clássico de Claude Lévi-Strauss, Tristes Trópicos.
Fernando Alterio, da Time For Fun, comemora 10 anos do Credicard Hall. Terça, com show de Donna Summer.
Bráulio Mantovani faz imersão total no roteiro de Tropa de Elite 2. Acaba mais uma fase do filme de Zé Padilha, a ser rodado no começo de 2010.
Matheus Nachtergaele parte hoje para NY. Seu filme, A Festa da Menina Morta, será exibido no MoMA.
Começa amanhã o Festival Porto Amazônia, evento gastronômico e cultural sobre os povos da região. No Porto Rubayat, em São Paulo.
A próxima edição do Fashion Rio, em janeiro, ganhou o original tema de... Rio Olímpico e Maravilhoso.
Juiz do Canadá aplicou pena severa em garoto de 12 anos acusado de vandalismo: confiscou seu Nintendo Wii.
RUBENS HARRY BORN
A ministra optou pelo atraso
O GLOBO - 05/11/09
É de grande apreensão a noticia de que a ministra Dilma Rousseff exigiu revisão da proposta apresentada pelo Ministério do Meio Ambiente para que o país seja menos ambicioso no esforço de limitar as emissões de gases de efeito estufa, a fim de permitir maiores taxas de crescimento econômico do Brasil. Também é preocupante o fato de que os governantes considerem que somente a redução de 80% do desmatamento e o fomento aos agrobiocombustíveis são respostas suficientes aos desafios de fazer o país transitar para uma sociedade de baixo carbono.
Posturas como a defendida pela ministra Dilma Rousseff revelam concepções ultrapassadas de desenvolvimento, em que o "crescimento econômico" por si seria a forma de prover dignidade e qualidade de vida, e que tal crescimento necessariamente implica em desconsiderar questões de segurança e integridade ambiental.
A premissa implícita nesta posição é de que seguiremos usando modelos de desenvolvimento e tecnologias que estão intimamente vinculados às causas antrópicas do aquecimento global: forte dependência da exploração e uso de combustíveis fósseis; geração de energia elétrica a partir de grandes usinas hidroelétricas, termoelétricas e nucleares; sistema de transporte rodoviário para cargas e pessoas; uso inadequado e ocupação descontrolada do território para atividades altamente impactantes, nas cidades ou no meio rural.
É certo que precisamos de investimentos em infraestrutura, tais como escolas, postos de saúde, geração de energia com base em fontes renováveis, transporte público limpo e eficiente, e que todas atividades humanas geram emissões de gases de efeito estufa. Mas é no mínimo falta de visão achar que o Brasil não pode trilhar para uma trajetória de sustentabilidade que concilie o bem-estar de sua população com maior zelo ambiental e responsabilidade internacional.
Faltam menos de 50 dias para a 15ª Conferência das Partes (CoP-15) da Convenção Quadro da ONU sobre Mudança de Clima, na qual se espera sejam tomadas decisões políticas que reorientem as atividades econômicas e sociais a fim de buscar reverter o aquecimento global. O Brasil pode e deve ter um papel de liderança para a adoção de políticas globais e nacionais condizentes com o enfrentamento da crise climática. E esse enfrentamento pode gerar inúmeras oportunidades de empregos "verdes", em atividades social, econômica e ambientalmente sustentáveis, e portanto servir de resposta para a "outra" crise - a financeira - cujos elementos vinculam-se também à noção de crescimento ilimitado e a qualquer custo. Mudar hábitos de consumo ou sistemas e tecnologias de produção pode significar tanto melhor saúde, qualidade de vida, diminuição de custos, e simultaneamente, promoção da qualidade ambiental, mitigação do aquecimento global e geração de empregos.
RUBENS HARRY BORN é coordenador-adjunto da organização não governamental Vitae Civilis.
TODA MÍDIA
O "Financial Times" publica hoje e adiantou ontem em texto e PDF um caderno especial de dez páginas sobre investir no Brasil. Destaca longas entrevistas, inclusive vídeo, com Lula e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, cotado para ser o presidente do Banco Central. Ocupando metade da capa, um anúncio do Bradesco. Nas páginas internas, várias estatais, mais Andrade Gutierrez e Votorantim.
No enunciado da primeira página, "Louvor olímpico põe selo no progresso". Na home page do caderno, "Superpotência pronta para alimentar o mundo". Ao longo dos 36 textos, temas como o Bolsa Família que "faz diferença de verdade"; a aspiração de ser destino turístico global, mas também a violência no Rio; e o "forte crescimento depois de breve queda".
FARAÔNICO
O correspondente do "Le Monde", Jean-Pierre Langellier, viajou até a "Bacia do São Francisco", de onde enviou a longa reportagem "Os trabalhos faraônicos para irrigar o Nordeste", sobre a transposição de Lula. Para o outro lado, ouviu d. Luiz Cappio e Ivan Valente, do PSOL.
FRANÇA VS. ESPANHA
"Wall Street Journal" e "FT" acompanham cada movimento da francesa Vivendi e da espanhola Telefônica, em sua competição pelo controle da tele GVT, do Paraná. Ontem, destacaram que a segunda elevou a oferta de compra.
É para que a Vivendi "não tenha chance" de entrar no país, opinou ontem mesmo o "FT", em sua coluna Lex.
POTÊNCIA LATINA
O espanhol "El País" publicou o artigo "Brasil, grande potência latina". Abre dizendo que "parece que o Brasil se cansou de ser o país do futuro e se prepara para interpretar o papel de grande potência". Convoca para um evento político-institucional sobre o país, em fundação de Madri.
E AFRICANA
O sul-africano "Independent" deu a reportagem "Disputa pela África: Brasil ganha terreno da China", do "correspondente de investimentos na África" da Reuters.
Em suma, a "China lidera, mas quem acha que Pequim já costurou o continente só precisa olhar o passaporte de Lula" -que antes de estrear na Europa, em 2007, já teria viajado seis vezes à África.
O LADO ESCURO
Sob o título "Ajudaremos Colômbia e Venezuela a vigiarem sua fronteira", o assessor de Lula, Marco Aurélio Garcia, "um dos artífices da decolagem definitiva do Brasil em política externa", deu entrevista em Madri ao "El País". Primeira pergunta e resposta, já em tradução do portal UOL:
"O Brasil está preparado para assumir o lado escuro -crítica, imagem negativa- de ser um líder mundial?"
"Tentamos não assumir a ideia do Brasil como potência, por uma questão do que devem ser as relações na região."
RENASCIMENTO PURO
Nas primeiras páginas de ontem nos EUA, em papel, as vitórias republicanas em New Jersey e Virginia foram destacadas como "punição dos eleitores a Obama e os democratas", no dizer da "Economist".
Mas os sites de "New York Times", "Washington Post" e outros já passaram ontem para o significado dos resultados para os próprios republicanos em "renaissance". Na preparação para as eleições de meio de mandato em 2010, terão que avaliar a ação de Sarah Palin, por exemplo, que fez campanha em Nova York contra uma republicana moderada, que terminou abandonando a disputa e o partido -e apoiando um democrata, que venceu.