sexta-feira, julho 24, 2009

MÍRIAM LEITÃO

Anormal profundo


O Globo - 24/07/2009

Parece pequeno. Afinal, o que é um emprego no meio de tanto desvio? O que é mais um ato secreto no meio de tantos baixados por tanto tempo? O que é mais uma ajuda de Agaciel Maia, que ajudou tanto os senadores que o nomearam e o mantiveram na Casa? O que é uma filha pedindo um favor a seu pai, que transfere o pedido para o avô da jovem, que quer apenas um emprego para o namorado?

Tudo parece normal e pequeno, e é um exemplo exato do velho vício brasileiro que tem piorado nos últimos tempos. Maria Beatriz Sarney acha normal dizer: “Pai, meu irmão saiu do Senado, dá para o Henrique (namorado dela) entrar no lugar dele?” A pergunta revela que uma jovem chamada Beatriz, da elite brasileira, acha que o país tem que dar um emprego público a seu namorado, sem concurso, através do tráfico de influências.

A tragédia brasileira poderia terminar aí, se o pai, Fernando Sarney, dissesse: — Não, minha filha, o que é isso? Cargo público se consegue por concurso, por mérito.

Mas Fernando não surpreende.

Nem a filha, nem o país. “Podemos trabalhar isso sim”, diz ele. E mais adiante: “Vou falar com Agaciel.” Agaciel é o mesmo dos escândalos passados. É o mesmo que foi posto no cargo por José Sarney. Este também não surpreende: “Já falei com Agaciel, pede o Bernardo para falar com ele.” Bernardo é o rapaz que está saindo do cargo. Irmão de Beatriz, neta de José Sarney, que nomeou Agaciel.

Filha e pai têm conversas no dia seguinte. Seria bom, se a jovem dissesse: — Pai, pensei esta noite, que absurdo eu pedi ontem! É uso da máquina pública como se ela pertencesse à nossa família.

Se ela tivesse dito isso, havia esperança de que uma nova geração da mesma família tivesse valores novos.

Infelizmente, ela insiste, acha normal que se o irmão saiu da vaga, que ela seja dada ao seu namorado. Vai ao avô com o pedido. Ele poderia ter dito, para melhorar sua biografia: — O que é isso, minha neta? Isso não se faz! Mas ele reclama que ela demorou a tratar do assunto.

Falasse antes para “eu agilizar”.

Os telefonemas e transações continuam. Fernando Sarney liga para o ajudante de ordens do pai para explicar a questão e diz uma frase emblemática: “O irmão está saindo, é uma vaga que podia ser nossa.” O país ficou sabendo assim que existem vagas “deles”, capitanias, que vão do irmão da Beatriz para o namorado da Beatriz.

Em outro diálogo, o outro filho de Fernando Sarney, João Fernando, mostra como eles ocupam essa capitania.

Ele trabalha em outra vaga familiar, no gabinete do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), amigo de José Sarney. João Fernando se diverte. Conta ao pai um fato inusitado. O senador, seu chefe, o chamou.

“Eu pensei que era coisa séria.” E era para vê-lo porque ele nunca vai lá. Todos acham normal. Pai, filho, senador Cafeteira, que um jovem se abolete num cargo público e não compareça ao local de trabalho.

“Chamei para te ver”, disse o senador Cafeteira.

Voltando ao caso de Henrique, o que precisava ocupar o cargo do irmão da namorada, neta de José Sarney.

O ajudante de ordens diz que o senador Sarney falará com Agaciel Maia, o diretor do Senado. Fernando, então, fala com o pai.

José Sarney reclama de novo dos prazos: “Mas ele (Bernardo, irmão da Beatriz) entrou logo com um pedido de demissão...” O que o avô não gostou é dessa pressa de sair antes que o cargo ficasse garantido com a família. E promete falar com Agaciel. Fernando, seu filho, responde: “É só isso aí, é isso que eu queria. Que tu desse uma palavrinha com ele (Agaciel).

Se tu der, resolve.” E resolveu. O cargo foi dado ao namorado da Beatriz, em ato secreto.

Nesses diálogos obtidos pelo “Estado de S. Paulo” está desnuda uma faceta da política brasileira. Um velho vício do Brasil, agravado: a família em questão é rica, muito rica. O avô, patriarca do clã, está inclusive esfriando a cabeça numa ilha particular. Poderia pendurar quem quisesse nos muitos negócios da família: Henrique, Bernardo, Beatriz, João Fernando. Aliás, os prósperos negócios familiares estão nas mãos do pai de Beatriz, sogro de Henrique. Por que não ocorre a ninguém isso? Ainda haveria uma esperança, se após o diálogo divulgado, o presidente do Senado repetisse a frase que disse diante de Tancredo morto: “Serei maior que eu mesmo.” E encerrasse toda aquela conversa de mais uma vez tratar os bens públicos como parte de suas muitas propriedades.

Fosse maior do que tem sido, por décadas.

Mas não há esperança. Os diálogos eram aqueles mesmos.

Lá da sua ilha, o patriarca desculpa a todos: “Foram conversas de pai e filho.” São sempre assim então as conversas de pai e filho? O senador sem voto Wellington Salgado (PMDBMG), conhecido por abonar qualquer mau comportamento, diz que é tudo normal.

É político ocupando “espaço disponível”. Espaço para ele não é no sentido figurado, é físico mesmo: é emprego para a parentela. O advogado da família diz que o crime é divulgar a conversa.

“É diálogo de natureza política”, entende o ministro da Justiça, Tarso Genro.

Tudo parece normal. E é um instantâneo do anormal profundo com o qual o país tem convivido.

O RATO


PANORAMA POLÍTICO

Acordo de Itaipu

Ilimar Franco
O Globo - 24/07/2009

Os presidentes Lula e Fernando Lugo (Paraguai) devem encerrar amanhã o contencioso de Itaipu.

O Brasil vai atender ao vizinho sem mexer no tratado.

O Paraguai receberá mais dinheiro, e os consumidores não pagarão a conta. A fórmula: o Tesouro brasileiro vai reduzir os juros do pagamento do financiamento da construção da usina (hoje de 7% ao ano, mais a inflação americana). O Paraguai receberá cerca de US$ 200 milhões a mais para investir, e a Eletrobrás terá um reforço de caixa.

O DEM contra Sarney

Depois de ajudar a eleger o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o DEM vai protocolar uma representação por quebra de decoro contra ele, no dia 4, após reunião de sua bancada.

O PSDB deve ir a reboque.

O alvo são as gravações em que Sarney aparece articulando a nomeação do namorado da neta para um cargo na Casa, o que foi feito por ato secreto. No Conselho de Ética já há representação do PSOL e denúncias do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), mas, politicamente, a ação dos dois principais partidos de oposição tem outro peso.

“Os fatos recentes são muito graves”, disse o líder do DEM, José Agripino (RN).

O cara que herdar o governo Lula será um sortudo ou uma sortuda” — Paulo Bernardo, ministro do Planejamento, sobre a situação econômica e fiscal do Brasil

PLANO B. Enquanto o PT não bate o martelo sobre a candidatura de Ciro Gomes ao governo paulista, o PSB quer que ele continue rodando o país como pré-candidato à Presidência da República.

No dia 8, Ciro fará palestra em Cariacica (ES) sobre a conjuntura econômica. Os socialistas temem ser abandonados pelo PT e não terem um plano B. E, como o presidente Lula gostaria de tirá-lo da disputa presidencial, essa seria uma forma de pressão.

Novo comando

O ministro Nelson Jobim (Defesa) nomeia, semana que vem, o chefe de gabinete da pasta, Murilo Marques, para a presidência da Infraero. Ele substituirá Cleonilson Nicácio, que voltará para a Aeronáutica, após dois anos de licença.

Os envolvidos

São três os deputados suspeitos de integrar o esquema de venda irregular de passagens aéreas. Caberá agora ao corregedor da Câmara, ACM Neto (DEMBA), decidir sobre a abertura de processo por quebra de decoro parlamentar.

Geddel: ‘Meu palanque é da Dilma’

Diante do desgaste na relação com o governador Jaques Wagner e pensando no futuro pós-carlista da política baiana, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), decidiu concorrer ao governo.

Ele tem o apoio entusiasmado do prefeito João Henrique (Salvador), que não engole o fato de o PT não o ter apoiado. Geddel nega flerte com os tucanos, e garante: “Vou oferecer um segundo palanque para a Dilma”.

Política e jogo do bicho

O deputado Vic Pires (DEM-PA) não perde a chance de alfinetar o senador Mário Couto (PSDB-PA) em seu Twitter. “Ontem, sonhei que estava fazendo uma pescaria com o Jatene. Impossível! Vou ligar pro Mário e saber qual o bicho que devo jogar. Será cobra?”. E depois: “Boa noite pra todos.

Durmam bem e sonhem só com coisas boas.

Amanhã, liguem pro Mário Couto e arrisquem um palpite no bicho. Boa sorte!”.

Couto é aquele que esbraveja em nome da ética.

O GOVERNADOR Jaques Wagner (BA) descobriu, durante visita do presidente de Cuba, Raúl Castro, que um brasileiro, o gaúcho Adamastor Bonilha, lutou na Sierra Maestra ao lado de Fidel.

O CLIMA entre os assessores mais próximos do presidente Lula é de muita apreensão com a situação do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

SUBMERSO. Idealizador das Zonas de Processamento de Exportação, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), desmarcou sua participação no 1oFórum Brasileiro de ZPEs, dia 3, no Rio. Teme os protestos.

ILIMAR FRANCO com Fernanda Krakovics, sucursais e correspondentes

CLÓVIS ROSSI

Um poste chamado Mercosul


Folha de S. Paulo - 24/07/2009


Quem fica parado é poste, ensina José Simão, meu filósofo favorito. O Mercosul está parado há tanto tempo que virou poste e, como tal, uma inutilidade. Tornaram-se obsoletas as suas duas lógicas principais. O Mercosul proporcionou, de fato, nos seus primeiros muitos anos, um impulso nas trocas de mercadorias entre os países membros, mas o ímpeto esgotou-se.
A segunda lógica era a contida em uma canção política da mexicana Amparo Ochoa, que dizia "juntos/ codo a codo/somos mucho más que dos". A expectativa era que Brasil e Argentina, os dois grandes do bloco, ombro a ombro, se tornassem mais fortes ante o "concerto das nações", como diria outro dos meus favoritos, Carlos Heitor Cony, no seu esforço por resgatar expressões em desuso.
O fato é que o Brasil conquistou por direito próprio, independentemente do Mercosul, papel relevante no G14 e nos dois G20 (comercial e financeiro), gerentes das discussões planetárias (das discussões, mas não das soluções, o que é outra história para outra hora).
O Brasil já deixou a Argentina falando sozinha nas negociações da Rodada Doha, ao aceitar proposta do mundo rico que os argentinos recusavam. Não acho que tenha sido uma atitude bonita. Sou dos ingênuos que ainda acreditam em solidariedade dos mais fortes para com os mais fracos.
O problema é que a solidariedade está se transformando em abraço de afogados. O Brasil não consegue dar certos passos que são de seu interesse sem ser puxado para baixo por seus parceiros quando os interesses de cada parte divergem.
O único caminho para tirar o Mercosul da catatonia seria a tal de coordenação de políticas macroeconômicas, já ensaiada uma e cem vezes, sem resultados. Fora isso, nem é preciso enterrar o Mercosul. Pode ficar por aí como obelisco a uma boa intenção frustrada.

GOSTOSA


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CELSO MING

Melhorou


O Estado de S. Paulo - 24/07/2009
Esta crise não deixa de ser um tanto esquisita. É a maior paradeira global desde os anos 30 e, no entanto, a economia brasileira vai passando por ela com algumas avarias, sim, mas inteira.

Ontem, por exemplo, saíram os números da Pesquisa Mensal do Emprego levantada pelo IBGE e o que se viu não deixou de surpreender: crescimento do nível de ocupação de 0,8% em relação a maio. Nas contas do IBGE, em junho havia 40,8 milhões de pessoas em idade de trabalhar (população em idade ativa) nas seis regiões metropolitanas cobertas pela pesquisa (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio, São Paulo e Porto Alegre). E, entre essas, 21,1 milhões estavam trabalhando num emprego ou numa ocupação remunerada. Donas de casa ou voluntários, embora ativos, não entram nessa conta porque seu trabalho não é remunerado. Outro dado, correspondente ao anterior, é o que aponta para o nível de desocupação. Caiu 0,7 ponto porcentual em junho (em relação a maio) e se mantém estável desde junho do ano passado - justamente o período de crise.

Esses números causaram alguma surpresa porque os analistas que lidam todos os dias com indicadores econômicos não esperavam por dados tão otimistas.

Mas existem boas explicações para isso. Em primeiro lugar, há as políticas anticíclicas tomadas pelo governo, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na venda de veículos e de aparelhos domésticos. Elas devem ser criticadas por não promoverem riqueza permanente. Esses recursos não foram utilizados, por exemplo, na realização de projetos de infraestrutura, como estradas, hidrelétricas, pontes e terminais portuários; vão ficar na antecipação do consumo. Em todo o caso, contribuíram para o aumento do emprego.

O mesmo pode-se dizer do crédito, que continua em expansão. O que arriou foi o crédito externo, em consequência da interrupção das operações ativas dos bancos internacionais. Mas, aqui no Brasil, não há nada de especialmente errado com os bancos e em seis meses o crédito cresceu de 41,3% para 43% do PIB.

O terceiro fator de aumento de emprego é o bom desempenho da construção civil. Os números do IBGE não estão indicando aumento no setor, mas apenas manutenção da atividade, o que, em tempos de crise, já é motivo para comemoração.

Os novos números sobre o nível de ocupação (e desemprego) não podem ser tomados isoladamente. Devem ser comparados com o bom desempenho do comércio exterior (saldo, no ano, de US$ 16 bilhões até a terceira semana de julho); com a inflação em queda, que converge para meta; com a redução dos juros básicos ao patamar mais baixo em dez anos; e com a excelente situação das reservas externas, agora de US$ 210 bilhões, que contribui para a manutenção de um bom nível da confiança. É verdade que o crescimento da atividade econômica continua baixo, provavelmente alguma coisa acima de zero por cento, e que as despesas correntes do governo estão crescendo demais. Em todo o caso, vai-se firmando a percepção de que o Brasil vem tendo um excelente desempenho ao longo desta crise e que vai sair bem melhor do que entrou quando tudo tiver acabado.



Confira

Tem de estar lá - Se a Ata do Copom, a ser divulgada na próxima quinta-feira, não mencionar o risco eleitoral com que a política monetária terá de lidar, deve-se compreender que, no entendimento do Copom, o risco eleitoral não é relevante.

No entanto, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vem afirmando que o chamado risco eleitoral já tem sido fator relevante na formação dos juros de longo prazo.

Por risco eleitoral entenda-se a insegurança nos juros (ou no câmbio) futuros provocada pela falta de conhecimento do que será a política do próximo governo para esses setores.

INFORME JB

A quebra de sigilo e os atos secretos

Vasconcelo Quadros

JORNAL DO BRASIL - 24/07/09

A história do namorado da neta do presidente do Senado, José Sarney, veio à tona depois que o sigilo das investigações foi quebrado a pedido dos advogados de defesa de Fernando Sarney, em agosto do ano passado, para evitar que o empresário fosse preso. Mais de dois anos levou uma operação que estava em segredo de justiça, guardada num DVD com alguns gigas de memória, assim como todas as demais peças do inquérito. Foram encaminhadas pela Polícia Federal ao STJ, e a elas tiveram acesso advogados do empresário. O diálogo em que Sarney aparece fazendo gestões pela nomeação de Henrique Dias Bernardes, a pedido da neta Maria Beatriz, foi desprezado, à época, pela polícia, e só ganhou importância agora por demonstrar que Sarney não está tão distante dos atos secretos. A oposição no Senado vai concentrar nesse detalhe toda a acusação sobre a quebra de decoro.

Vazamento O relatório

O ministro Tarso Genro (foto) está cansado de repetir que não controla a Polícia Federal e que, portanto, não há relação entre a investigação e exploração política na divulgação do conteúdo do grampo que mina a resistência de Sarney. "A PF não vaza mais e não vazará", garantiu o ministro. Tarso acha que pode até haver outros interesses, mas atribui a divulgação a uma eventual técnica de defesa dos advogados da família Sarney no interesses dos clientes.

A PF nega que tenha partido dela e só trata como vazamento o episódio do ano passado, que levou os advogados de Fernando Sarney a requisitar as peças do inquérito. Diz que sobre a investigação só se manifestará no relatório final, que está sendo preparado pelo delegado Márcio Anselmo

Sem descanso

O telefone do ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, não para de tocar. São caciques do PMDB governista preocupados com o rumo que está tomando a crise do Senado num momento em que todos imaginavam poder curtir o recesso junto às bases eleitorais.

Crise à vista

Os peemedebistas estão preocupados com a reação do presidente do Senado. "Se ele achar que o governo tem responsabilidade sobre o que está acontecendo, aí sim teremos uma crise política", diz um dirigente. Isso explica a insistência do presidente Lula em defender o presidente do Senado. Genro apressou-se ontem em lembrar que só o Ministério Público e a Justiça controlam a PF.

Contabilizando

O trauma do mensalão produziu, no PT, um saudável hábito que deveria ser seguido pelos outros partidos: a partir de agora recursos captados serão registrados na contabilidade da agremiação. Nas relações com o empresário e publicitário Marcos Valério, boa parte dos recursos foi tratada como "recursos não contabilizados", um eufemismo para caixa 2.

Comemoração

Os advogados do Daniel Dantas comemoraram a decisão do Tribunal Regional Federal de São Paulo suspendendo o sequestro dos empreendimentos da Agropecuária Santa Bárbara como a primeira vitória depois do inferno gerado pela Operação Satiagraha.

Cartões

A Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas, entidade com representação em 1.481 municípios, abriu uma nova frente na guerra contra a indústria dos cartões. Agora ela quer acabar com o crédito rotativo, que cobra do usuário de cartão juros entre 13% a 14% sobre o montante sempre que o devedor faz o pagamento mínimo. "O Banco Central deveria intervir. É agiotagem mesmo!", diz o presidente da entidade, Roque Pellizaro.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


FERNANDO GABEIRA

“Princípio esperança”


FOLHA DE SÃO PAULO - 24/07/09

Morreu Leszek Kolakowski. Foi um grande personagem do século 20. Enquanto muitos de nós nos seduzíamos pelo marxismo, nos anos 1960, ele partia para o exílio na Inglaterra.

Crime? Escreveu uma severa crítica ao marxismo. Não separava uma teoria generosa de seus desastres históricos. Dizia que eles decorriam da própria teoria. Sua trajetória para o exílio se deu num período ofuscante. Mas anos depois, quando o Solidariedade assumiu o poder na Polônia, foi reconhecido como um grande inspirador daquela passagem histórica. Será enterrado com honras, no seu país.

Kolakowski considerava que era preciso sempre questionar. Até a si próprio. Que filósofo não se sentiu nunca um charlatão? Alguns textos mais recentes indicam que tendia a aceitar a inescapabilidade da religião como cultura.

Nisso, também é atual. Há um grande debate sobre Deus e religiões, na esteira de livros como os de Cristopher Hitchkens e Richard Dawkins, propondo uma superação dessas crenças. Mas existem deslumbramentos diante da inteligência humana e da natureza. Existe esperança num quadro em que o cinismo parece ser o mais racional. São componentes religiosos que ganham forma mais leve na frase de Cristhopher Lash: não acredito no catolicismo, sou apenas praticante.

Apesar de sua reclamada postura científica, o socialismo teve inúmeros pontos de contato com a religião. Não só por despertar sonhadores do absoluto buscando um futuro luminoso. Mas também pelas tentativas de filósofos marxistas de abordar a esperança.

Aliás, esperança é o que sobrou de melhor. A morte de Kolakowski, nesse início de recesso, me lembra um dever de casa com o século passado. Terminar minha leitura do Princípio Esperança, de Ernst Bloch, um calhamaço que, olhado de perfil, às vezes desanima.

COISAS DA POLÍTICA

A comédia sangrenta

Mauro Santayana

JORNAL DO BRASIL - 24/07/09

Se, na análise da Escola de Frankfurt, e de seus pensadores maiores, como Adorno e Horkheimer, o nazismo expressou a perfeita perversão do Iluminismo, a Itália política, a partir da Marcha sobre Roma, pode ser vista como a deterioração do Renascimento. A unificação da Península, em 1860, foi considerada O Ressurgimento, mas o processo não avançou da forma esperada.

A Itália, dividida em seus principados, estados vaticanos, repúblicas, ducados, foi sempre grande, na memória do Império e na arquitetura política. Se houve tiranos na Península, e se a Igreja se corrompeu, sob o governo de alguns papas devassos, as artes e o humanismo encontraram na Itália do Renascimento momentos inigualáveis, com seus pintores, escultores, poetas, filósofos. Ninguém, em qualquer outro lugar, naquele tempo, pôde pensar o Estado como o pensaram Maquiavel, Dante, Guicciardini, Campanella e outros.

A derrota de Mussolini, o fim da guerra e a instauração do regime republicano, em 1948, trouxeram outra esperança de reafirmação histórica do povo italiano. Mas, como houvesse a possibilidade de que os comunistas – ali identificados, desde Gramsci, com o humanismo nacional – ganhassem as eleições com Togliatti, os Estados Unidos despejaram sobre a Itália todos os seus recursos. Todos os recursos ostensivos, e os clandestinos, ao patrocinar a aliança dos democratas cristãos de De Gasperi – sob as bênçãos e a força do Vaticano – com a máfia siciliana, e assegurar o controle do país por Washington.

As circunstâncias que conduziriam esse processo começaram a reunir-se em fevereiro de 1942, quando o luxuoso transatlântico Normandie pegou fogo no porto de Nova York. Os Estados Unidos haviam entrado na guerra contra o Eixo em dezembro, depois do ataque a Pearl Harbour. O governo apreendera o navio, que pertencia à França, então ocupada pelos alemães. Sob suspeita de que houvera sabotagem, a Marinha dos Estados Unidos buscou a colaboração do mais famoso gangster ítalo-americano, Lucky Luciano, condenado a 30 anos de prisão. Com as facilidades que lhe foram concedidas, o bandido mobilizou seus agentes nos sindicatos de estivadores, que exerceram vigilância rigorosa na orla. Não houve qualquer sabotagem nos portos americanos durante a guerra. O mesmo Luciano, também cooptado pelos americanos, mobilizou os remanescentes da máfia, que ajudaram o desembarque aliado na Sicília, no ano seguinte. Mussolini havia desbaratado a máfia na Itália, e seus capi se transferiram para os Estados Unidos. Sob a proteção norte-americana, a organização ressurgiu para ajudar a impedir que a Itália entrasse para a órbita soviética.

Foi assim que, em 1946, libertado pelo governo de Truman, Luciano voltou à Itália e mobilizou-a contra os comunistas. Na articulação entre o Vaticano, a máfia, os democratas cristãos e os norte-americanos, um jovem político, Giulio Andredotti, secretário de De Gasperi – foi a peça mais importante. Os democratas cristãos tiveram 48% dos votos, dominaram a Assembleia Constituinte e o primeiro governo constitucional da Itália com De Gasperi, até sua derrota parlamentar em 1953.

Essa aliança, formada durante a guerra e consolidada no fim do conflito, continua governando a Itália até nossos dias, pouco importa que partido se encontre no poder. Por isso são efêmeros, ali, os governos de esquerda, quando não se corrompem, como os socialistas de Craxi. A direita, antes dissimulada na democracia cristã, é agora liderada por Sílvio Berlusconi.

No fim dos anos 80 e início dos 90, surgiu, entre os promotores e juízes italianos, o movimento Mãos Limpas, para combater a corrupção no governo. Dois juízes se destacaram nessa atividade, Giovanni Falcone e Paolo Bersollini, assassinados em Palermo, pela máfia, com o intervalo de poucos dias. O responsável direto pelos atentados foi Toto Riina, o grande chefe da família de Corleone. Condenado à prisão perpétua, revelou a seu advogado, no fim da semana passada, que a morte dos juízes foi um "crime de Estado", do qual participaram agentes secretos do governo. Bersollini e Falcone haviam descoberto ligação orgânica entre a máfia de Palermo e grandes homens de negócios da direita em Milão – entre eles Sílvio Berlusconi, o poderoso barão da mídia. Toto disse mais: que o dinheiro para financiar essas operações viera dos cofres do Vaticano.

Berlusconi é mais do que o conquistador de prostitutas. É um dos comediantes nessa farsa que tem infelicitado o grande povo italiano.

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O PRESIDENTE SEM AUTOCENSURA

EDITORIAL

O Estado de S. Paulo - 24/07/2009
Seis anos e meio deveriam, talvez, ser mais do que suficientes para o País já não ficar perplexo com as impropriedades que ornamentam os discursos de cada dia do seu primeiro mandatário. Desde que chegou ao Palácio do Planalto, não houve, com efeito, ocasião ou circunstância que o presidente Lula considerasse imprópria para dizer o que lhe viesse à cabeça. Em linguagem corrente, o homem simplesmente não se toca. Mas o efeito cumulativo de seus disparates, no ambiente e no momento que for - desde uma entrevista de passagem, em meio ao atropelo dos jornalistas, até uma solenidade formal de governo -, antes aviva do que anestesia o pasmo provocado pela absoluta falta de autocensura que sustenta tais enormidades.

O presidente, definitivamente, não possui o que o público chama de desconfiômetro. Quando lhe faltam argumentos racionais para defender suas teses, desanda a afirmar coisas de que em geral as pessoas, que dirá um chefe de Estado, poupam os que as ouvem, quanto mais não seja para resguardar a própria dignidade. De toda maneira, o que parece contar para Lula e o que o empurra para longe de qualquer vestígio de decoro é o intento de dar o seu recado, quantas vezes julgar necessário - e o resto que se lixe. O exemplo da hora, naturalmente, são as suas demonstrações públicas de alinhamento incondicional com o presidente do Senado, José Sarney, imerso em evidências irrefutáveis de malfeitos que o despojaram das condições mínimas para continuar no cargo e conservar o mandato.

Lula parece acreditar que as suas ações em socorro do seu principal aliado no Congresso, de quem se converteu no mais vistoso guarda-costas, não apenas haverão de garantir a sua invulnerabilidade, como ainda o farão se lançar com entusiasmo na duvidosa empreitada de unir o PMDB ao redor da candidatura Dilma Rousseff em 2010. Além de agir, enquadrando, por exemplo, a bancada petista no Senado, ansiosa por se dissociar do oligarca - se não em nome da ética, pelos cálculos eleitorais da maioria dos seus membros -, Lula acha que precisa mostrar a Sarney, por palavras, que se identifica plenamente com o núcleo da sua autodefesa, que ele externou no discurso de 16 de junho: a sua biografia o torna inimputável. (O que a opinião pública pensa disso não vem ao caso.)

Dois dias depois, no que o presidente-torcedor poderia chamar de jogada ensaiada, Lula declarou, para assombro dos repórteres que o acompanhavam ao Casaquistão, que Sarney não pode ser tratado como "pessoa comum". E foi isso, numa versão verdadeiramente escandalosa, que ele reiterou anteontem na solenidade de posse do novo procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Envergonhando o emblema da República que adornava a tribuna de onde discursava, Lula advertiu o Ministério Público (MP) a não atuar "pensando apenas na biografia de quem está fazendo a investigação" - por si só, uma insinuação próxima do insulto -, mas "pensando, da mesma forma, na biografia de quem está sendo investigado". Ou seja, o MP não pode esquecer que todos são iguais perante a lei, mas alguns são mais iguais que os outros. Aqui já se trata de teatro do absurdo.

Antes, Lula aconselhara o MP a "investigar fatos, tirar as suas conclusões e tomar as providências coerentes com elas", como se não fosse exatamente isso o que fez o então procurador-geral Antonio Fernando Souza, no caso do mensalão, indiciando 40 suspeitos, de variadas biografias, como membros de uma "sofisticada organização criminosa" interessada em "garantir a permanência do partido (o PT) no poder". A vida pregressa de um réu somente pesa - como circunstância atenuante ou agravante - na hora do julgamento. Não se ofenderá a inteligência do presidente da República sugerindo que possa ter confundido as condutas apropriadas aos agentes públicos em cada etapa do devido processo legal.

Lula não é um néscio: o seu problema, ou melhor, o problema do País, sob a sua liderança, é a sem-cerimônia com que dá ao povo que o admira um exemplo perverso de como tratar as instituições. Elas têm sido a primeira vítima de sua obstinação em conseguir o que pretende - controlar o processo político e fazer a sua sucessora. Ele deve imaginar que a sua excepcional biografia a tudo o autoriza. Tanto pior.

Correção - No editorial Linhas ocupadas, publicado ontem, onde se lê "Passados oito dias, Agaciel Maia assina o ato - secreto - de nomeação do namorado da filha do senador", leia-se "da neta do senador".

PAINEL DA FOLHA

Até o fim

FOLHA DE SÃO PAULO - 24/07/09

As declarações de Lula ontem não foram o único balde de água fria em setores do governo e do PT que já pregam a necessidade de um descolamento entre o presidente e José Sarney (PMDB-AP). A despeito do agravamento da crise no Senado, Lula agendou para o dia 6 visita às obras da hidrelétrica de Estreito (MA). Dividirá holofotes com toda a família Sarney e seu principal aliado, o ministro Edison Lobão (Minas e Energia). Depois, também vai a São Luís.
A insistência de Lula em segurar Sarney vai se contrapor à decisão da oposição de aumentar a carga contra ele. Antes hesitantes, PSDB e DEM já bateram o martelo e vão propor uma representação institucional contra o peemedebista no Conselho de Ética.

É lá - Estreito ganhou recentemente uma repetidora da TV Mirante, de propriedade dos Sarney, que aparece nos grampos da Polícia Federal.

Roteiro - A última vez que Lula esteve no Maranhão foi em 5 de maio, 18 dias depois de Roseana Sarney (PMDB) assumir o governo do Estado. Já na administração Jackson Lago (PDT), ele esteve somente em fevereiro de 2006.

Senha - O PSDB bateu o martelo sobre a crise no Senado: argumentará ao conselho que Sarney quebrou o decoro ao dizer que não influenciou nas nomeações por atos secretos, o que, avaliam tucanos, foi desmentido com a divulgação das escutas da PF.

Grau - Chama a atenção de quem vasculha os áudios da Operação Boi Barrica o jeito peculiar com que Fernando Sarney trata seus interlocutores pelo diminutivo: Astrogildo Quental é ‘Astrinho’, Aluísio Guimarães Mendes Filho é ‘Aluisinho’, e por aí vai.

Carimbado - Diretor financeiro da Eletrobrás, Quental não aparece enrolado em diálogos suspeitos com Fernando Sarney somente nas interceptações telefônicas da Boi Barrica. Também é personagem recorrente da Operação Castelo de Areia, outra que respingou no Congresso.

Refúgio - Sem alarde, o grupo do ex-todo-poderoso Agaciel Maia está sendo realocado em posições discretas na estrutura do Senado. Sua mulher, Sânzia Maia, acaba de ser designada para a Gráfica. O próprio Agaciel e outro ex-diretor investigado por irregularidades, João Carlos Zoghbi, estão lotados no ILB (Instituto Legislativo Brasileiro), famoso cabide de cargos, enquanto não sai decisão sobre processos a que respondem.

Périplo - Após o pedido de liquidação do Opportunity Special Fundo de Investimentos em Ações, depois suspenso, Daniel Dantas procurou advogados criminalistas de peso em São Paulo e no Rio, para reforçar sua defesa, sem sucesso. Motivo: ninguém se sente seguro com ele, que interfere na linha da defesa.

Holofote - Um dos pontos da reforma eleitoral que não mereceu destaque foi o que aumenta de 15 para 20 minutos diários, em dias intercalados, o tempo da propaganda eleitoral para candidatos ao Senado. Em tempos de crise na Casa, a medida tem sido apontada como profilática.

Como está fica - Marco Maciel (DEM-PE), designado para relatar a reforma eleitoral no Senado, tem dito a interlocutores que deve propor pouca ou nenhuma mudança, para evitar nova e longa tramitação na Câmara.

Sucessor - A delegação brasileira que esteve em Washington foi informada que Thomas Shannon deverá receber até 31 de julho o aval do Senado americano para assumir a embaixada no Brasil. O atual embaixador, Clifford Sobel, avalia comprar um apartamento e morar em São Paulo.

Drible - A liderança do PT na Câmara fixou cartaz com os dizeres: ‘Aqui é um ambiente livre de tabaco’. Mas alguém completou à mão: ‘Quando o José Genoino não está...’

Tiroteio

Quando o Fidel vinha visitar o meu avô era tudo original. Agora veio o genérico do Fidel para ver o genérico da Bahia.
Do deputado ACM NETO (DEM-BA), sobre a ‘limpeza’ feita no centro histórico de Salvador pelo governador Jaques Wagner (PT) e o prefeito João Henrique (PMDB) para receber o presidente cubano, Raúl Castro.

Contraponto

Tudo menos isso

Em tempos de turbulência no Senado, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), foi convidado por uma rádio, na semana passada, para participar de um debate representando a oposição.
O tucano topou a entrevista, mas, quando já se preparava para bombardear o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), a produção avisou que, do outro lado da linha, estava Almeida Lima (PMDB-SE), famoso pelos discursos longos e veementes em defesa tanto de Sarney quanto, no passado, de Renan Calheiros (PMDB-AL).
O tucano não hesitou:
_Cancela, cancela! Com ele eu não vou nem para o céu!

GOSTOSAS


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DORA KRAMER

Fora de esquadro

O ESTADO DE SÃO PAULO - 24/07/09

Formalmente, o raciocínio do presidente Luiz Inácio da Silva não está errado. Pede que investigadores tenham cuidado com a biografia de investigados decerto no intuito de ponderar que o vedetismo de certos profissionais da área faz mal ao Estado de Direito e às garantias individuais dos cidadãos.
O argumento, contudo, soa fora do esquadro na voz de Lula. Um presidente que em seus quase sete anos de mandato jamais usou do microfone para fazer a defesa dos bons costumes, do respeito aos preceitos constitucionais relativos à probidade, dos princípios e valores gerais de civilidade ética.
Nunca condenou a transgressão, sempre passou a mão na cabeça dos transgressores. Ao contrário. Se o dono da boa biografia é seu adversário, o julgamento é imediato. Agiu assim na oposição e também age na Presidência. Agora, se o indivíduo tem folha corrida, mas é um aliado, exige sentença transitada em julgado.
O senador Aloizio Mercadante recentemente deixou muito claro que, na visão dele, nem sempre o que o presidente diz expressa o que ele realmente pensa. Falava sobre a referência aos “bons pizzaiolos” do Senado e a intenção era amenizar a declaração de Lula.
Como ao presidente nem a ninguém da assessoria ocorreu vestir o colete salva-vidas oferecido pelo senador petista e dar um passo atrás, posto ficou que Mercadante foi mais realista que o rei.
Lula realmente falou sem trair seu pensamento. Por extensão, é possível concluir que o presidente da República não contrarie seus mais profundos sentimentos quando abraça toda sorte de malfeitorias, ora invocando a biografia do malfeitor, ora dando abrigo ao mau combatente por interesse específico ou mera questão de gosto.
Para que alçar José Sarney ao altar das divindades e obrigar um PT já de joelhos a rezar aos pés do senador? Poderia ter sido mais, digamos, político. Mas preferiu mostrar-se amigo.Assim fez com toda gama de transeuntes daquela nebulosa via localizada à margem da lei.
Vai além do estrita e politicamente necessário ignorando mais um atributo indispensável à vida pública: a impessoalidade. Na cerimônia de posse do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu cuidados especiais em relação aos investigados e também assegurou que jamais faria um “pedido pessoal” ao procurador nem colocaria “um alfinete” para atrapalhar qualquer investigação.
Aqui cometeu um ato falho. Deixou transparecer o seguinte pensamento: se quisesse, poderia fazer pedidos pessoais ou interferir em investigações. Se não o faz é por decisão magnânima, não por sentido natural de submissão à legalidade.
Chega a ofender de maneira velada o procurador ao “aconselhar” Roberto Gurgel a enquadrar seus eventuais radicais, sob pena de amanhã ou depois “alguém” no Congresso propor restrições às atividades do Ministério Público.
Proposta esta já em tramitação no Parlamento com o apoio dissimulado do governo.Mais adequado na abordagem do tema o presidente da República seria se cuidasse de dar o exemplo, evitando os excessos na sua área de influência. A começar por reduzir suas defesas apaixonadas de exorbitâncias transgressoras
Um caminho que de quando em vez sua assessoria espalha, por meio de notas na imprensa, que estaria disposto a tomar. No caso mesmo do presidente do Senado. Logo após a desastrada declaração segundo a qual José Sarney dispõe de uma biografia que o faz merecedor de tratamento especial no tocante a desvios de conduta, surgiram versões dando conta da decisão do presidente de abdicar do comando da tropa de choque.
Seria, de fato, o mais prudente. Pragmaticamente falando, até. Evitaria entrar numa briga perdida com o eleitorado. Lula, porém, parece gostar desse papel e, se não se lixa, pelo menos pensa ser ilimitado seu poder de dominar a opinião pública. O presidente não apenas continuou na defesa explícita, como dobrou a aposta.
Como diz o presidente, nem tudo é crime de morte. Mas, tem gente que é, como se dizia antigamente, de morte.Mesmo com notícias de que as pesquisas já apontam desgaste e a prova cabal registrada na voz do próprio acusado, Lula finge não compreender do que se trata. Quer uma investigação “correta” (nos moldes da que não se fez até hoje no caso Waldomiro Diniz?) e é adepto da permanência de Sarney na presidência do Senado.
Não sendo ignorância a respeito dos fatos, só pode ser um caso incurável de má-fé para com o Parlamento.

VÍCIO INSANÁVEL
Em se tratando de José Sarney e suas tão antigas quanto firmes ligações no Poder Judiciário, o ativismo de tribunais superiores está mais para passivo. Se ali chegar o vendaval que (quase) tudo revela, terá sido completado o circuito dos três Poderes percorrido por Sarney em seus proclamados mais de 50 anos de vida pública. Em larga medida, dedicados à obtenção de vantagens privadas.

ANCELMO GÓIS

Pedindo voto

O GLOBO - 24/07/09

Para quem acha que José Serra não será candidato a presidente em 2010.
Ontem, umas recepcionistas da Feira Internacional de Produtos Orgânicos, aberta por Lula em São Paulo, pediram para tirar fotos ao lado dele. O governador brincou:
– Vocês podem aplaudir o Lula. Mas, na hora de votar, não se esqueçam de mim.
ISHIBRÁS
Em que pese o aumento das encomendas da Petrobras, os três tradicionais estaleiros do Rio passam, ou passaram, por certa mutação. A Petrobras, com apoio de Sérgio Cabral, estuda o arrendamento do antigo Ishibrás, que nasceu japonês.
Mas o estaleiro do Caju pode acabar com Eike Batista, embora o empresário tenha plano de construir um em Florianópolis.
MAUÁ
O TCU ameaça tornar inidôneo o Mauá, mais antigo estaleiro do País, em Niterói. É por causa da operação Águas Profundas, da PF, em 2007, que indiciou a empresa por suposta fraude em licitação da Petrobras.
A direção do Mauá tenta provar sua inocência.
VEROLME
No caso do antigo Verolme, em Angra, o grupo Keppel Fels, que toca o negócio, andou tentando ir para outro Estado.
Mas o problema foi contornado por Sérgio Cabral junto à sede da empresa, em Cingapura.
PARIS É UMA FESTA
Quem visitava ontem o Museu do Louvre, em Paris, era o senador Fernando Collor.
VELHOS BAIANOS
Moraes Moreira convidou Pepeu Gomes para dividir o palco com ele num show que fará amanhã no Circo Voador, na Lapa.
Há 12 anos, os ex-Novos Baianos não tocavam juntos no Rio. Em maio, Moraes recusou participar de shows da velha banda.
ISSO É QUE É
A Coca-Cola analisou suas vendas país por país no segundo trimestre para medir a crise em cada mercado.
Dos países Bric, só a Rússia destoou: queda de 9%. No Brasil, houve avanço de 5%. China e Índia impressionaram: cresceram 14% e 33%, respectivamente.
ALTA TENSÃO
Os indiciamentos do filho e da nora de José Sarney, em São Luís, geraram tensão... na PF.
Quinta, logo depois de indiciar Teresa Sarney, o delegado Márcio Anselmo passou mal e teve de ir ao médico.
RÁPIDA NO GATILHO
A Planeta é rápida no gatilho. Um mês após a morte do superastro, lança aqui “Michael Jackson — 50 anos do ícone pop”.
O livro foi encomendado a Jonathan Crociatti, um dos maiores fãs do cantor no Brasil, logo no dia seguinte ao anúncio da morte de Michael Jackson.
MALLU NÃO ESTUDOU
Sabe aquela cantora Mallu Magalhães, 16 anos, namorada do músico Marcelo Camelo, 30?
Avisou à produção do Leblon Jazz Festival, onde canta sábado, que terá de atrasar sua chegada ao Rio porque... ficou de recuperação no colégio, em São Paulo.
ORDEM NA LAPA
A Secretaria da Ordem Pública do Rio divulga hoje a lista de ambulantes licenciados para trabalhar na Lapa.
Serão 82 na Feira Noturna.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


ELIANE CANTANHÊDE

O bispo e o sindicalista

FOLHA DE SÃO PAULO - 24/07/09

BRASÍLIA - Numa semana de mais turbulência na política interna e de grandes movimentos na externa, Lula começa hoje, em Assunção, um novo "round" com o presidente do Paraguai, Fernando Lugo. No último, em maio, em Brasília, um falava "A", o outro ouvia "B", e ninguém se entendia.
Lula leva um saco de bondades, com a proposta de triplicar o valor pago pela energia de Itaipu que o Paraguai não consome e é obrigado pelo tratado a ceder ao Brasil. Além disso, a flexibilização para que parte dessa cota deixe de ser vendida via Eletrobras e seja oferecida diretamente ao mercado.
Olha a pegadinha: quando o Paraguai pediu a abertura para o mercado, a indústria estava bombando, a demanda era alta e os preços da iniciativa privada, bem maiores. Esse movimento da economia se inverteu e, de acordo com a Eletrobras, os preços também: os de mercado estão abaixo dos regulados.
A tendência, pois, é a cota para abertura ao mercado ficar bem reduzida, concentrando as bondades no forte aumento do preço regulado. E quem paga? Aí é uma outra história. O lado político-diplomático da negociação defendia uma proposta bem camarada, mas o lado técnico-pragmático alertou todo o tempo para o ônus. Agora, todos juram que será do Tesouro, mas há controvérsias. É bom você, consumidor, ir segurando o bolso. A tarifa tende a aumentar.
Lula desempatou a queda-de-braço a favor do grupo político-diplomático, ao optar pela proposta mais favorável aos paraguaios. O argumento é o já usado para Bolívia, Equador, pobres em geral: a ajuda do Brasil tem de ser na mesma proporção de sua ambição de liderança regional.
Só falta agora Lula se entender com Lugo. Se um tem o traquejo negociador de líder sindicalista, o outro precisa desesperadamente da boa vontade brasileira para recuperar fôlego político, além de credibilidade pessoal. É desse equilíbrio que sairá o acordo.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Não se pode vender tudo como crime de pena de morte”
PRESIDENTE LULA, NA RÁDIO GLOBO AM, AMENIZANDO O TEOR DE GRAVAÇÕES ENVOLVENDO SARNEY

‘TROPA DE CHOQUE’ TEM PLANO PARA SALVAR SARNEY
Pelo telefone, o presidente do Senado, José Sarney tem sido consultado sobre o plano elaborado por sua tropa de choque para tentar salvar o cargo. A ideia é amarrar o destino dele a outros senadores envolvidos com a lama na Casa. Estão sendo preparadas representações ao Conselho de Ética contra os senadores Arthur Virgílio (PSDB), Tião Viana (PT), Cristóvão Buarque (PDT) e Efraim Moraes (DEM).
QUERO SER PRESIDENTE
De senador sarneyzista sobre a chance de Garibaldi Alves (PMDB-RN) suceder Sarney: “Ele acha que raio cai duas vezes no mesmo lugar”.
PEREMPTÓRIA EQUAÇÃO
O ministro Tarso Genro (Justiça) culpou os advogados pelos vazamentos contra Sarney. O Planalto banca Sarney, nove fora Tarso é “culpado”.
PROCURA-SE A LOURA
A prefeita petista de Fortaleza, Luizianne Lins, saiu da cidade semana passada. Oficialmente, estaria em Brasília.
APOSENTADORIA PRECOCE
O presidente do Tribunal de Contas da União, ministro Ubiratan Aguiar, voltou a ser sondado para concorrer ao Senado pelo PCdoB.
RESERVA DE ENCRENCA ANUNCIADA
A Fundação Nacional do Índio e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária estão notificando e cadastrando fazendeiros em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para a criação da nova reserva indígena Guarani-Kaiowá, do tamanho do Ceará, na fronteira do Paraguai e Bolívia, com ajuda dos dois países vizinhos. Ruralistas temem, além da redução da produção agrícola, a infiltração do narcotráfico.
REPRISE
A Funai – que considera “questão de honra” criar a reserva – e os governos paraguaio e boliviano determinarão quem poderá entrar nela.
PIADA CIBERNÉTICA
Por algumas horas ontem, a busca no Google pelo governo do Acre (www.ac.gov.br) informava: “Ops! Este link parece estar corrompido!”.
O MEU PAÍS
O Estado do Maranhão, da família Sarney, deu ontem quase meia capa do “prestígio resgatado” da governadora Roseana, em foto com prefeitos.
SUCESSOR À VISTA
O ex-procurador-geral federal João Aragonês está sendo preparado para assumir a Advocacia-Geral da União, com a provável nomeação de José Antônio Toffoli para o Supremo.
PROER EDUCACIONAL
A tradicional Universidade Cândido Mendes, no Rio, vive dias de profunda crise. Salários atrasados e dívidas com o INSS podem levá-la à falência. O reitor Cândido Mendes quer ser salvo por Brasília.
NADA DE PUNIÇÃO
Cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o senador Expedito Junior (PR-RO) se prepara para ser novamente candidato ao Senado em Rondônia. Alega que “não está inelegível”.
TARTARUGA MANCA
Postado via aérea em 13 de junho no Estado de Washington, com o número LC772269873US, um envelope com fotos de uma leitora ainda não aterrissou no Brasil. No site dos Correios também não é localizado.
CHEGA MAIS
A democracia que diz defender afugenta o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya: todo dia avisa que está voltando, mas não sai da fronteira. O povo que o elegeu deveria buscá-lo nos braços, não?
PICADINHO SECRETO
As fragmentadoras de papel estarão a toda velocidade na Presidência da República, que vai comprar 18 por R$ 27 mil, “devido ao aumento do volume de documentos sigilosos que precisam ser picotados”.
ALGODÃO ENTRE CRISTAIS
O deputado Antônio Palocci (PT-SP) já atua como moderador junto ao empresariado, dos rompantes de TPM da ministra candidata à sucessão de Lula, Dilma Rousseff.
LONGE DA FOGUEIRA
À medida que a fogueira cresce junto ao cercado do presidente do Senado, José Sarney, Lula vai se afastando do aliado de última hora. Até por não ter como explicar o vazamento de informações.
ESQUIZOFRENIA
Notícia de fazer doido: a taxa de desemprego caiu de novo, diz o IBGE. O seguro-desemprego bateu recorde, diz o Ministério do Trabalho.
PENSANDO BEM...
Lula, que assumidamente não gosta de ler, confunde biografia com folha corrida.

PODER SEM PUDOR
BILHETES MILAGROSOS
O presidente Jânio Quadros governava à base de bilhetes, que sempre produziam resultados. Certa vez, em visita a São Luís (MA), ele se irritou com o não funcionamento de um hospital do Ipase. Disparou um bilhete:
– Caso o Hospital São Luís não esteja funcionando em 48 horas, tenho notícias a dar ao presidente do Instituto.
Antes do prazo fatal, é claro, o hospital já funcionava plenamente.