sexta-feira, julho 24, 2009

ELIANE CANTANHÊDE

O bispo e o sindicalista

FOLHA DE SÃO PAULO - 24/07/09

BRASÍLIA - Numa semana de mais turbulência na política interna e de grandes movimentos na externa, Lula começa hoje, em Assunção, um novo "round" com o presidente do Paraguai, Fernando Lugo. No último, em maio, em Brasília, um falava "A", o outro ouvia "B", e ninguém se entendia.
Lula leva um saco de bondades, com a proposta de triplicar o valor pago pela energia de Itaipu que o Paraguai não consome e é obrigado pelo tratado a ceder ao Brasil. Além disso, a flexibilização para que parte dessa cota deixe de ser vendida via Eletrobras e seja oferecida diretamente ao mercado.
Olha a pegadinha: quando o Paraguai pediu a abertura para o mercado, a indústria estava bombando, a demanda era alta e os preços da iniciativa privada, bem maiores. Esse movimento da economia se inverteu e, de acordo com a Eletrobras, os preços também: os de mercado estão abaixo dos regulados.
A tendência, pois, é a cota para abertura ao mercado ficar bem reduzida, concentrando as bondades no forte aumento do preço regulado. E quem paga? Aí é uma outra história. O lado político-diplomático da negociação defendia uma proposta bem camarada, mas o lado técnico-pragmático alertou todo o tempo para o ônus. Agora, todos juram que será do Tesouro, mas há controvérsias. É bom você, consumidor, ir segurando o bolso. A tarifa tende a aumentar.
Lula desempatou a queda-de-braço a favor do grupo político-diplomático, ao optar pela proposta mais favorável aos paraguaios. O argumento é o já usado para Bolívia, Equador, pobres em geral: a ajuda do Brasil tem de ser na mesma proporção de sua ambição de liderança regional.
Só falta agora Lula se entender com Lugo. Se um tem o traquejo negociador de líder sindicalista, o outro precisa desesperadamente da boa vontade brasileira para recuperar fôlego político, além de credibilidade pessoal. É desse equilíbrio que sairá o acordo.

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