sábado, fevereiro 21, 2009

ANCELMO GOIS


No mais

O GLOBO EM 21/02/09

A atitude do governo Lula diante da crise nas empresas brasileiras, que, após a marolinha, demitem em massa, lembra muito uma máxima de Neném Prancha, filósofo do futebol.

Para o Planalto, quando o país crescia, o mérito era do governo. Agora que o desemprego chega, a culpa é das empresas.

Aliás...

Isto remete a um técnico citado por Neném Prancha, que dizia a seus jogadores:

- Eu ganhei, nós empatamos, vocês perderam.

MÍRIAM LEITÃO

Trivial variado

Panorama econômico

O Globo - 21/02/09


As demissões que pararam ontem São José dos Campos não vão entrar nos dados do desemprego do IBGE, que não pesquisa as cidades médias para onde foram muitas indústrias nos últimos anos. O desemprego vai crescer. Na contramão do pessimismo, o economista Gustavo Franco acha que as empresas exageraram no corte da produção. Ele acha que os juros deveriam cair para um dígito. “Não temos a maior inflação do mundo, não precisamos ter a maior taxa de juros do mundo”, me disse ele, no programa Espaço Aberto, da Globonews.

Franco tem uma visão bem mais benigna da situação brasileira. Avalia que a crise chegou ao Brasil de forma tão abrupta que a primeira reação das empresas foi cortar muito a produção. “A produção teve uma volatilidade própria de ações em bolsas de valores, com quedas de 50% num mês. É como aqueles furacões anunciados para chegar: todo mundo fala dele, as pessoas morrem do coração antes de o furacão chegar. No primeiro momento, todo mundo reagiu de forma exagerada. Agora vem a fase de acomodação. Afinal, houve a crise, a maxidesvalorização, tudo que nos lembra outros momentos. Mas agora é vida que segue. O primeiro semestre continuará ruim, mas o segundo será bom.”

O problema é atravessar ainda este ambiente de dificuldades e de más notícias. O corte na Embraer era previsível, depois das notícias de cancelamentos de encomendas, mas é doloroso de qualquer forma.

Esta semana trouxe muitas notícias ruins em desemprego. A primeira queda de empregos formais num mês de janeiro desde o terrível janeiro de 1999, da crise cambial; o desemprego medido pelo IBGE deu um salto de 6,8% para 8,2% de dezembro para janeiro, e o salto foi maior em São Paulo, onde chegou a 9,4%. Em épocas assim fica mais evidente como o desemprego é mal medido no Brasil: o IBGE só pesquisa seis regiões metropolitanas. O que acontece de bom ou ruim em outras capitais ou cidades médias não está na PME.

O economista José Márcio Camargo, ouvido por Alvaro Gribel, aqui do blog, disse que em dezembro as empresas demitiram pelo choque da chegada da crise, e em janeiro demitiram por acharem que a produção ficará num nível menor.

A economia sentiu o baque em todas as áreas. Conversei com o consultor Paulo Fernando Fleury, do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos). Ele acaba de comparar alguns indicadores que mostram um retrato curioso. A venda de caminhões caiu abruptamente, mas em outros indicadores, como tráfego de caminhões pesados ou consumo de diesel, a queda foi menor. “É assim nas crises. Há um impacto forte, mas depois ela se espalha e alguns setores super-reagem às notícias da crise. No caso dos caminhões, havia fila de espera e de repente a venda de caminhões novos caiu 50% em dois meses. Foram vendidos 12,5 mil em outubro e apenas 6,1 mil em dezembro”, disse Fleury.

O movimento de veículos pesados caiu nos últimos três meses, mas quedas mais fracas, de 0,8%, 2% e 3,7%, em relação ao mês anterior. Já a queda do diesel foi de 13% em novembro. “Tudo mostra uma atividade em queda, mas em alguns setores isso é sentido mais fortemente. Caindo a venda de caminhões, inúmeros fornecedores vão reagir também e a crise vai em cadeia”, contou Fleury.

Ontem, a Saab, da General Motors, entrou em concordata na Europa. A boa notícia é que a Scania não é ligada à Saab e foi comprada pela Volkswagen, que tem 68% do capital votante, 37,7% do capital total. No Brasil, a Scania representa 20% do nosso mercado.

Os mercados ficaram nervosos o dia inteiro ontem: notícias dos bancos, das mineradoras e das automobilísticas mostraram que apesar da esperança, como disse Gustavo Franco, de que o segundo semestre seja melhor, duro está sendo passar esta fase de volatilidade.

Enquanto não se encaminhar a solução dos bancos americanos, tudo continuará volátil. Nós sabemos o quanto uma crise bancária é perturbadora. Franco lembrou um dado. “O primeiro momento da crise bancária foi a intervenção no Banespa, no fim de dezembro de 1994. A crise durou anos. Aquele era o primeiro jogo de uma longa temporada, que acabou com 90 bancos fechados, vendidos, federalizados ou com intervenção. Isso num universo de 300 bancos.”

Ele recordou o que o Gustavo Loyola me disse também esta semana. Nos EUA eles não têm uma lei que havia no Brasil: que transforma os acionistas em responsáveis. Aqui, os controladores tiveram seus bens indisponíveis. Lá não há essa lei, o que torna mais difícil para Barack Obama a construção de uma engenharia que resolva o problema.

Enquanto os bancos americanos continuarem em crise, essa incerteza vai persistir. Mas o Brasil, na opinião de Gustavo Franco, tem bons fundamentos para atravessar este momento. Na administração da crise o Banco Central operou bem, segundo ele, mas a venda de dólares no mercado interno poderia ter sido maior, para evitar uma desvalorização tão alta que assustou as empresas num primeiro momento. Ele acha que há espaço para queda da taxa de juros. “Não há razão para que o Brasil não tenha juros de um dígito.”

CLÓVIS ROSSI

O retrovisor embaçado

Folha de São Paulo 21/02/09

SÃO PAULO - Do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, em artigo para esta Folha, publicado no domingo: "A crise vai ficando para trás, sendo vista apenas pelo retrovisor do mercado".
Da vida real, apenas quatro dias depois: o Brasil perdeu 101.748 vagas com carteira assinada em janeiro, no pior resultado para esse mês em dez anos. Da vida real, cinco dias depois: em apenas um mês, foram contabilizados mais 323 mil desempregados nas seis principais regiões metropolitanas do país, contabiliza o IBGE.
Do gerente da pesquisa IBGE, Cimar Azeredo: "Nem na época da recessão de 2003 houve um aumento no número de desocupados dessa magnitude. Foi um janeiro diferente, mais cruel, sem dúvida". Como é que alguém pode confiar na palavra de uma autoridade se os fatos a desmentem tão cruelmente dias depois?
Se Lupi fosse economista, ainda vá lá. Economistas habituaram-se a chutar números impunemente, tanto que já reapareceram os "palpiteiros" depois de um curtíssimo período em que ficaram como cachorro que caiu do caminhão de mudança em razão da crise.
Palpiteiros, otimistas como Lupi, ou profetas do apocalipse não têm base para o que estão dizendo, porque ninguém sabe direito o que está acontecendo nas entranhas do sistema financeiro nem, por extensão, os desdobramentos que a crise terá. Mas é forçoso admitir que a tribo dos catastrofistas tem tido muito mais motivos para anabolizar suas certezas, porque há muito mais más notícias.
Vide o caso Embraer: 90% de suas encomendas vêm do exterior. Crise no mundo, crise nas encomendas, mas demissões, acima de tudo, no Brasil, país em que está a maior parte da produção.
Será que o ministro Lupi teria coragem de ir à Embraer para contar aos demitidos que a crise está sendo vista apenas pelo retrovisor?

CARNAVAL


SÁBADO NOS JORNAIS

Globo: Janeiro cruel na economia

 

Estadão: Desemprego aumenta e chega a 8,9% em janeiro

 

JB: A maior festa popular do planeta

 

Correio: Desemprego tem aumento recorde

 

Valor: Citi coloca à venda fatia de R$ 2,5 bi na Redecard

 

Gazeta Mercantil: Embraer demite 4.273, mas mantém investimento externo