sexta-feira, junho 28, 2013

Eike Sempre Ele Batista - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 28/06

Eduardo Paes resolveu endurecer em relação a Eike Batista. Vai montar uma comissão, inclusive com gente do Iphan, para definir o que pode ser feito na Marina da Glória, no Rio.
Depois, fará, com o Instituto dos Arquitetos do Brasil, um concurso internacional para definir um projeto para o lugar.

Segue...
Se Eike quiser seguir com a concessão terá que executar o projeto definido pelo governo. Se não quiser, Paes fará nova licitação.

Calma, gente
Tem deputado do PT chamando ministros do partido de “Dilmetes”.
Ou seja: a exemplo de Dilma, eles também não escutariam ninguém.

Só que...
Um ministro petista choraminga que Dilma abortou uma sugestão de Ideli Salvatti para que a presidente se reunisse com os ministros do partido. 

Pelo menos isso
Em meio à turbulência das manifestações de rua, é dura a vida do ministro José Eduardo Cardozo.
Ontem, ele teve um refresco. Os índices de crimes violentos em Maceió, onde o Ministério da Justiça tem uma parceria com a polícia local, caíram 18% em 12 meses.

Arco-íris paulista
A Mangueira, como se sabe, vai falar em 2014 sobre as festas do Brasil.
As alas serão dedicadas às manifestações regionais, como a de Parintins, no Amazonas.

Já...
São Paulo entrará com a Parada Gay, que é a maior do mundo.
Mas, na minha opinião... deixa pra lá.

Sobrou para Blatter
Os protestos de rua no Brasil são contra a ditadura — não de Dilma Rousseff, mas de Joseph Blatter e sua Fifa.
Este diagnóstico aparece em coluna no respeitado jornal londrino “The Guardian”, o mesmo que deu o furo sobre a megaespionagem eletrônica internacional dos EUA.
Quem assina é a colunista de esporte Marina Hyde.

A bola da fortuna
Um empresário de São Paulo pediu a um amigo carioca para comprar um camarote de seis lugares para a final da Copa das Confederações, domingo, no Maracanã.
Um cambista quis cobrar 60 mil dólares.

Atchim!
Com exceção de Parreira, toda a comissão técnica da seleção, inclusive Felipão, amanheceu gripada e com febre.
Os jogadores estão bem.

No mais
Que venha a Espanha, de preferência, cansada de guerra.

Muso da Copa
Pesquisa da Textual Novas Mídias com 1.400 internautas revela que o goleiro espanhol Iker Casillas (foto) foi apontado como o mais bonito da Copa por 30% dos votos.
Em segundo lugar, aparece o nosso goleiro reserva Diego Cavalieri. No quesito beleza, Neymar teve apenas 3,57% da preferência. Faz sentido.

Down no soçaite
Uma mulher de meia-idade e de classe média alta foi jantar dia destes num badalado restaurante na Serra do Rio. Apresentou-se como esposa de um ex-jogador famoso. Comeu, bebeu, bebeu mais e... armou um barraco. Depois, saiu sem pagar.
A turma descobriu que se trata da filha de um bem-sucedido dono de churrascaria.

Diário de Justiça
O Liceu Franco-Brasileiro terá que indenizar um aluno em R$ 8 mil. É que o garoto foi agredido duas vezes por um colega de classe.
A desembargadora Elisabete Filizzola, da 2ª Câmara Cível do Rio, relatora da decisão, disse que o serviço prestado pelo colégio “foi defeituoso” por não dar segurança ao aluno.

Pega o rato!
Foi uma gritaria generalizada em uma das academias mais caras do Rio.
Ontem, por volta das 10h, na Bodytech do Città America, na Barra, um rato daqueles bem gordos desfilava pelo hall.

Corre-corre...
No meio da correria do mulherio, os funcionários até que tentaram matar o bicho, mas em vão.
O ratão se escafedeu.

Governo Dilma não fala a mesma língua das ruas - ROBERTO FREIRE

BRASIL ECONÔMICO - 28/07

Apesar do clamor popular que ganhou as ruas do país nas últimas semanas, Dilma Rousseff vem mostrando que não entendeu a mensagem transmitida por milhões de brasileiros descontentes com os rumos da nação. O discurso da petista na última segunda-feira (24), na reunião com governadores e prefeitos no Palácio do Planalto, seria adequado se proferido por uma presidente recém-eleita, jamais por uma líder que exerce o cargo máximo da República há dois anos e meio e cujo partido está no poder há uma década.

Como se não tivesse qualquer responsabilidade pelos equívocos cometidos por sua própria administração, Dilma se comporta como mera espectadora da realidade brasileira. Ao anunciar “pactos” nacionais em áreas cruciais como saúde, educação e transporte, com medidas que já poderiam ter sido colocadas em prática, a presidente cria um factoide para esfumaçar a inescapável constatação de que os principais alvos das manifestações são o PT e o governo federal. Segundo uma pesquisa do Datafolha, a indignação com a corrupção foi apontada como o grande motivo para a participação nos protestos realizados em São Paulo, sendo mencionada por 50% dos manifestantes. Em resposta, a presidente prometeu mais transparência e defendeu uma nova legislação que classifique os crimes de corrupção como hediondos. Mas a realidade insiste em desmentir a propaganda petista.

Recentemente, o governo colocou sob sigilo todas as informações e os gastos relativos às viagens internacionais de Dilma, que só poderão ser consultados quando ela não estiver mais exercendo a função. Outro escândalo que escancara a desfaçatez da presidente é o estouro no orçamento da Copa do Mundo de 2014, competição que deve se transformar na mais cara da história, alcançando R$ 33 bilhões só em despesas de governos. Apesar da promessa do ex-presidente Lula de que o Brasil não desembolsaria dinheiro público para a Copa, a União já comprometeu R$ 1,1 bilhão nos estádios que receberão jogos do torneio, entre incentivos fiscais e subsídios em empréstimos.

O chamado “padrão Fifa”, que criou arenas assépticas às quais o torcedor pobre não tem acesso, se contrapõe à degradação dos hospitais ou à precariedade da educação, entre outras mazelas do país. Além da leniência do governo com a corrupção, que resultou em episódios históricos como o caso do dinheiro na cueca e o escândalo do mensalão, a sociedade brasileira se vê diante de outro tipo de ameaça às instituições. Dilma flertou perigosamente como golpismo ao propor um plebiscito sobre a convocação de uma Constituinte exclusiva que tratasse da tão desejada reforma política.

Detentora de uma gigantesca base aliada no Congresso, a presidente teve 30 meses para encampar alterações no sistema político- eleitoral e não o fez. Agora, tentou atropelar a Constituição e o Parlamento, ignorando uma prerrogativa que é dos deputados e senadores, e só recuou graças à repercussão negativa de sua proposta. Encurralada pela pressão popular, que não aceita mais o discurso vazio da propaganda e clama pelo fim da impunidade, pelo respeito às instituições e por serviços públicos de qualidade, Dilma não conseguiu decifrar o grito que emerge das ruas. E a cada nova tentativa de entender esse fenômeno, fica ainda mais distante dos reais anseios do povo.

Tudo indefinido - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 28/06

Enfim, teremos o jogo tão esperado, entre Espanha e Brasil. Itália e Espanha fizeram um jogo equilibrado, lento, por causa do calor (30 graus de temperatura). As equipes estavam exaustas.

A Espanha mostrou, mais uma vez, que não tem bons atacantes. Fernando Torres e Pedro não jogariam na seleção brasileira. Com a prorrogação, a Espanha estará mais cansada na final de domingo.

Na coluna anterior, escrevi que o Brasil está com pinta de campeão. É apenas um palpite. Pode dizer também que é sorte de campeão. Obviamente, não disse isso porque a equipe está uma maravilha.

Acho que está com pinta de campeão pelo calor, por jogar em casa e saber aproveitar essa vantagem, pela vibração e seriedade da equipe e porque tudo tem dado certo.

Pelos mesmos motivos, o Brasil é forte candidato ao título mundial, mesmo sem ter uma grande equipe. Na Copa, será muito mais difícil, pelo número maior de rivais fortes.

Discordo que o Brasil vá evoluir muito até a Copa. Quase todos os titulares eram também de Mano Menezes. Não haverá nada novo.

O Brasil já está definido, na qualidade e na maneira de atuar. A única novidade, que poderia mudar a equipe para melhor, seria Ronaldinho ou Kaká (ou os dois, se estiverem em forma).

Noto que muitos comentaristas valorizam demais o tempo, como se muitos treinos e jogos fossem motivo para formar sempre um ótimo conjunto. Isso pode acontecer, mas é mais comum em clubes, que treinam todos os dias e jogam toda semana.

Além disso, é frequente uma equipe atingir o máximo que pode jogar, em pouco tempo, e cair, rapidamente. As grandes seleções surgiram de repente, sem avisar.

Discordo que o Brasil tenha vários jovens que se tornarão craques. Neymar é exceção. Ele já é um fora de série, embora precise brilhar por mais tempo, contra fortes rivais.

Os outros são bons, mas não são nem parece que se tornarão excepcionais. Os grandes atletas, mesmo os que demoraram a ser reconhecidos, já mostravam, desde o início, grandes talentos.

Um dos fascínios do futebol é não saber o que vai ocorrer na frente, em um instante ou daqui um ano. Um lance pode mudar toda a história.

Assim é também na vida. "Um instante-já é um pirilampo que acende e apaga, acende e apaga. O presente é o instante em que a roda do automóvel em alta velocidade toca minimamente no chão. E a parte da roda que ainda não tocou, tocará num imediato que absorve o instante presente e torna-o passado" (Clarice Lispector).

IndigNação ou crônica da revolta anunciada - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO

O ESTADO DE S. PAULO - 28/06
O clichê: Custou, mas o povo descobriu, o rei está nu.
A verdade: O rei é o PT e foi também PSDB, PMDB e todos.

Com tanto shopping abrindo, tantas lojas e as belas roupas do rei não existem.

O povo foi às ruas e como quando há multidão há aproveitamento. Como não existe segurança, aumentaram os baderneiros de plantão.

Quem garante que não eram, foram ou são pagos? Nós, e somos milhões, não estamos a favor da violência, do vandalismo, da bagunça, da desordem.

O que está acontecendo? Ainda perguntam? Só os tapados não sabem. Lula nunca soube de nada. E agora? O pavio foi aceso. O rastilho percorreu o Brasil. Na ponta, dinamite.

Movimento sem partidos, sim. Partidos estão falidos. Desde que Lula apertou a mão do Maluf, os partidos decretaram a falência, entraram em colapso, acabaram. A ideologia desceu pelo esgoto. Aquele aperto demão foi igual à queda do Muro de Berlim.

Ninguém suporta mais cinismo, hipocrisia, blindagem de políticos,ministros, governadores, empresários, corrupção, dinheiro no bolso,em paraísos fiscais, em caixa dois, dinheiro de lavagem. Lavagem,antigamente, era comida que se dava aos porcos.

Deixemos as análises e interpretações para os que estudaram. Sociólogos, filósofos, cientistas políticos, antropólogos, historiadores. Serão mais de mil ensaios. Enquanto isso, fiquemos de plantão, junto à porta, prontos para sair à rua.

Alguns cartazes estavam mal escritos? Estavam. O pessoal termina o fundamental completamente analfabeto.

Não tem educação, não tem ministério, não tem dinheiro, não tem vontade,não tem professores formados,ainda que tenha Enem.

Gostei de cartazes, como: Desculpe o transtorno, estamos reformando o Brasil.

País rico não é país onde pobre tem carro. É país onde rico anda de transporte público.

E este belo, poético, sintético: indigNação.

Havia também um espertinho: Vendo Palio 98. (Andaram dizendo que foi do Eike Batista.) Com meu caderninho (sou um repórter), fui ouvindo as pessoas. Cada um tem uma reivindicação, e não pessoal, e sim ligada à política, à estrutura de governo, à vida do brasileiro no que depende das instituições. Listei: Que o Lula deixe de ser o ex-presidente em exercício.

Assuma,Dilma, assuma, queremos a guerrilheira de volta. Lute agora pelo que você lutou.

Que diminua o número de ministérios, assessores, sub assessores, assessores dos assessores e assim ao infinito.

Que diminua o número de senadores, deputados, vereadores.

Que diminua os salários dos parlamentares.

Que não haja mais votações secretas nas Câmaras altas.

Que caia fora o Feliciano.

Caiam fora o Genoino, o João Paulo Cunha, o Renan, o Marco Aurélio TocToc Garcia (Sumiu, como Doril), aposentem o Sarney. Fora também o Gilberto Carvalho.

Que os ministros Toffoli e o Lewandowski parem de falar em diminuição das penas do mensalão e transformação da prisão em multas.

Que se reinstaure a CPI da Bancoop, a Cooperativa que ludibriou milhares de pessoas que pagaram e receberam esqueletos de prédios. Teve gente que perdeu tudo,poupança, economias de uma vida, fundo de garantia, ficou no miserê.

Olho em cima dos convênios médicos.

Escolas, salas de aulas, carteiras, computadores,merendas, material escolar, praças de esporte para as crianças.

Professores, salários para que professores possam viver e não apenas sobreviver. Para que possam ter casa, sustentar família, pagar escola, se divertir.

Hospitais, equipamentos, médicos, salários para os médicos.

Acabem com as máfias dos transportes, as confrarias. Queremos ônibus, metrô, seja o que for. Decentes e em quantidade.

Empregos, empregos, e não esmolas.

Terminem a transposição do Rio São Francisco.

Olho nas empreiteiras. E a CPI da Delta? E o que anda fazendo a Rose Noronha, a famosa Rose Madame Pompadour do PT? Ou seria a Du Barry? Chega da indústria da multa! Ou acabem os pedágios ou acabe o IPVA Tribunal de Contas nas contas da Copa.

Por mim, a Copa pode ser no Tahiti, tão simpáticos.

Que Sérgio Cabral e seus amigos de guardanapos na cabeça e suas mulheres com sapato de solado vermelho sejam enviados a Paris (como dinheiro deles, claro) e ali permaneçam. Polícia Federal crie a CPI Louboutin.

Que o Pelé vá morar em Mônaco junto como Galvão Bueno. Ele ficou preocupado com a confusão. O Pelé se acha entidade. Divindade à parte.

Ele só se cita na terceira pessoa.

Levem junto o fenômeno, Ronaldo.

Que a Eletropaulo e a CPFL contratem o Lula para plantar postes, já que é especialista. O poste de São Paulo vergou, entortou, não é de ferro, concreto, é borracha mole.

E que a Fifa pare de se intrometer em assuntos internos. Ela pensa ser um país dentro do Brasil.

E agora? A imprensa é a culpada de tudo? Fui ouvindo: que o Lula deixe de ser o ex-presidente em exercício; fora Genoino; fora Renan...

Júlio César! O Franguêro Acordou! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 28/06

"Por causa dos protestos, Superman cancela vinda ao Brasil." Bundão! Chama o Chapolin Colorado!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

E o Congresso trabalhando freneticamente? O Congresso tá parecendo viúva tirando atraso de dez anos! E com medo do fantasma do marido! Rarará!

E o Renan Escandalheiros, que pautou corrupção como crime hediondo. Virou casaca!

Esse Renan já virou casaca umas 20 vezes! Tem casaco com 20 avessos! O casaco do Renan tem 20 avessos! Rarará!

Tão votando tão rápido que nem sabem mais os nomes dos projetos! E atenção! Sofremos mais uma baixa internacional: "Por causa dos protestos, Superman cancela vinda ao Brasil". Bundão! Chama o Chapolin Colorado! Rarará!

E o Superman vinha pro Brasil pra divulgar o filme "O Homem de Aço"! O Homem de Aço tem medo de bala de borracha! Rarará!

Eu achava que o Superman tivesse problemas com kriptonita, não com vinagre!

E Brasil X Uruguai? Adorei o Júlio César defendendo o pênalti! O frangueiro virou herói! O FRANGUÊRO ACORDOU! #obrasilmudou!

E a velhinha no meio das manifestações, sem ônibus, querendo ir pra casa: "Moço, por favor, essa passeata passa na 23?". Passa! Agora é assim: vai com o fluxo!

E a manchete do Sensacionalista: "Marco Feliciano condena beijo que o Neymar mandou para o uruguaio".

E o Piauí Herald mostra a Dilma aderindo às manifestações com o cartaz: "IPI Zero Para o Laquê!". Rarará!

E esta aqui: "Shopping em Curitiba prevê derrubada de área verde". Cuidado! Olha a Turquia! Tudo começou com o projeto de derrubar área verde pra construir shopping!

E mais uma frente de luta: agora temos que derrubar o foro privilegiado dos políticos: Fora o Foro! Manifestação "FORA O FORO". Mais um trava-línguas! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

Os Predestinados! Mais dois para a minha série Os Predestinados! É que aqui em São Paulo tem um empresário de ônibus chamado: José RUAS PAZ! Empresário de "ôinbus" como falava o Levy Fidelix!

E no Méier, no Rio, temos o endocrinologista: Carmine Osso! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Hoje só amanhã!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Nada será como antes - NELSON MOTTA

O GLOBO - 28/06

Se a histórica semana passada tivesse acontecido antes, os deputados não teriam dado a Comissão de Direitos Humanos a Marco Feliciano, e os condenados do mensalão já estariam na cadeia



Antes, os políticos justificavam o baixo nível do Congresso dizendo que, para o bem e para o mal, ele era um reflexo do Brasil, representava o que os brasileiros tinham de melhor e de pior. Ou seja, não se podia almejar um Congresso de primeira com um povinho de quinta. E durante muito tempo nos fizeram acreditar que os representantes não eram piores do que os representados. Na semana passada, o povo nas ruas provou o contrário.

As palavras de (des)ordem atingiram frontalmente os partidos, com sua cultura patrimonialista, seus privilégios afrontosos e seu distanciamento da indignação popular, como uma corporação que se apossou do Estado e se une quando seus interesses são ameaçados — como agora. Mas eles querem mais dinheiro (nosso) para os seus partidos.

Contra a corrupção eleitoral, eles propõem o financiamento público das campanhas, com a bolada sendo distribuída proporcionalmente às bancadas dos partidos no Congresso. Ou seja, PT e PMDB, enquanto para a oposição sobraria uma verba do tamanho da sua pequenez. É a forma mais fácil, e cínica, de um partido se eternizar no poder às custas do dinheiro publico. Por que o Zé Dirceu e o Rui Falcão não mandam a militância para a rua defender esta proposta?

O horário eleitoral e os fundos partidários — que já nos custam muito caro — bastam para equalizar as oportunidades e garantir eleições democráticas. Empresas não votam, só têm interesses, investem e depois cobram a conta. São os eleitores que devem ajudar as campanhas de seus candidatos com doações individuais limitadas. Na Itália, o Movimento Cinco Estrelas fez 25% dos votos sem verbas públicas, só com pequenas doações individuais. E ideias.

Se a histórica semana passada tivesse acontecido antes, Renan não teria sido eleito presidente do Senado, os juizes não ousariam se dar dez anos retroativos de vale-refeição, os partidos não apresentariam projetos para afrouxar o Ficha Limpa e a Lei de Responsabilidade Fiscal, não dariam a Comissão de Direitos Humanos a Marco Feliciano, e os condenados do mensalão já estariam na cadeia. Foi por essas e outras que ela aconteceu.

Se Snowden fosse equatoriano... - MOISÉS NAÍM

FOLHA DE SP - 28/06

Snowden e Assange têm sorte: não são jornalistas equatorianos e denunciam Obama e não Rafael Correa


Em meio a suas vicissitudes, Julian Assange e Edward Snowden podem alegrar-se com a boa sorte em ao menos um aspecto: não são jornalistas equatorianos. Ambos têm sorte pelo fato de o presidente do país prejudicado por seus vazamentos ser Barack Obama e não Rafael Correa.

O presidente Correa, autoungido protetor dos delatores globais, não vê com bons olhos repórteres equatorianos que denunciam a corrupção e os abusos de seu governo.

Em 2012, segundo o grupo equatoriano Fundamedios, houve 173 "atos de agressão" a jornalistas, incluindo uma morte e 13 ataques.

Em 16 de fevereiro de 2012, a relatora especial para a liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Catalina Botero, e o relator especial das Nações Unidas para a liberdade de opinião e expressão, Frank La Rue, expressaram preocupação com uma decisão da Corte Nacional de Justiça do Equador.

No julgamento de três executivos e um jornalista do jornal "El Universo" pela publicação de uma coluna que ofendeu Correa, eles foram sentenciados a três anos de prisão e ao pagamento de US$ 40 milhões.

A Associação Interamericana de Imprensa descreve nova lei equatoriana de mídia proposta pelo presidente como "o mais grave retrocesso para a liberdade de imprensa e de expressão na história recente da América Latina". O Comitê para Proteger Jornalistas diz: "Esta legislação promulga um objetivo chave da Presidência: amordaçar os críticos."

No entanto, numa explosão de hipocrisia e de dois pesos, duas medidas, o chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, em discurso na Organização dos Estados Americanos em agosto de 2012, disse: "O asilo concedido ao sr. Assange é a luta pela liberdade de expressão, pelos direitos humanos, a luta para que o asilo seja respeitado em qualquer lugar do mundo". Isso mesmo.

Sobre um encontro com Assange, ele disse: "Pude lhe dizer cara a cara, pela primeira vez, que o Equador continua firmemente comprometido com a proteção de seus direitos humanos. Durante o encontro, falamos sobre as ameaças crescentes à liberdade das pessoas para se comunicar e saber a verdade, que vêm de certos Estados que põem toda a humanidade sob suspeita."

Seria agradável se o ministro se preocupasse com igual determinação com os direitos humanos e as ameaças à liberdade de expressão de seus compatriotas equatorianos.

Ao mesmo tempo em que o governo equatoriano agressivamente amordaça seus críticos internos, apresenta-se no palco mundial como campeão do direito de criticar os governos. Jornalistas que sofreram com o comportamento agressivo de Correa sabem que a propaganda dele e de Patiño por Assange e Snowden não passa disso --propaganda política vazia e hipócrita.

E todos sabemos que, por enquanto, os vazamentos alvejaram um governo apenas: o dos Estados Unidos. Aguardamos com grande interesse e expectativa a versão do WikiLeaks ou de Snowden sobre as comunicações secretas dos governos russo, iraniano, chinês ou cubano. Ou mesmo do governo equatoriano.
Tradução de CLARA ALLAIN

CHAMA O POVO - MÔNICA BERGAMO


DE SP - 28/06

O ministro Celso de Mello, mais antigo e um dos mais prestigiados integrantes do STF (Supremo Tribunal Federal), apoia com entusiasmo a ideia de se fazer um plebiscito no país. "Consultas populares deveriam se tornar mais frequentes na prática institucional brasileira, pois o exercício da cidadania representa um dos fundamentos expressivos do Estado Democrático de Direito", disse anteontem à coluna, numa rara manifestação pública.

É LEI
Celso de Mello prossegue: "Não se pode prescindir da participação do povo no processo de governo da República, pois essa possibilidade é um importante fator de legitimação política das decisões tomadas no âmbito do aparelho do Estado. A participação ativa do cidadão traduz medida estimulada pela própria Constituição brasileira, que consagrou a ideia de que o povo tem o direito de exercer diretamente o poder nas hipóteses previstas em nossa lei fundamental".

COISA NOSSA
O magistrado diz ainda que comparações com outros países, como a Venezuela, que fez vários plebiscitos nos últimos anos, não passam por sua cabeça, "pois é a própria Carta brasileira que prevê isso. A democracia participativa foi expressamente acolhida no texto constitucional. Temos que dar efetividade a essa tese". Ele lembra que esse tipo de consulta é frequente em países como Itália e EUA.

COISA NOSSA 2
Celso de Mello aplaude também a proposta de um recall para políticos, lançada pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa. "Este não é um modelo inédito no Brasil. O recall já funcionou no país, previsto expressamente nas constituições estaduais de São Paulo, Rio Grande do Sul e Goiás, de 1891, e na de Santa Catarina, de 1892." Pela regra, o eleitorado pode votar para interromper o mandato de um parlamentar.

JÁ ERA
A OAB-RJ pedirá ao Senado a atualização da lista de membros da Comissão da Reforma Política. Demóstenes Torres, cassado, e Itamar Franco, já morto, seguem no site.

CORAÇÃO, DIZ PRA MIM
Roberto Kalil Filho, médico de Dilma, de Lula e de muitos outros políticos e empresários, vai escrever um livro sobre como cuidar bem do coração. Na obra, que será lançada em 2014 pela editora Paralela, o cardiologista falará de casos clínicos e histórias pessoais. A autoria será dividida com a jornalista Adriana Dias. A agente de Kalil é a produtora cultural Lulu Librandi.

LEGIÃO DIVIDIDA
Lee Martinez, ex-empresário de Dado Villa-Lobos, afirma ter repassado o convite de Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo, para que o guitarrista se apresentasse no show "Renato Russo Sinfônico", amanhã, em Brasília. "Ele [Dado], acredito, não deu sequência ao assunto. Apenas isso", diz.

LEGIÃO DIVIDIDA 2
Villa-Lobos nega contato e alfineta a participação do vocalista, morto em 1996, em um holograma: "Nunca vi um, tirando o da princesa Léa do primeiro episódio do [filme] Star Wars'".

Marcelo Bonfá, que foi baterista da Legião, também ficará fora do evento, embora tenha sido convidado para cantar "Será", na semana passada, segundo ele. "Meio em cima da hora."

SELEÇÃO MUNIZ
O artista plástico Vik Muniz escolheu dois dos jovens que vão carregar as bandeiras das seleções na final da Copa das Confederações, no Maracanã, no Rio. Um dos eleitos é Clara Ellis, filha do catador Tião Santos, personagem do documentário "Lixo Extraordinário".

SEM TOGA
O coquetel de posse de Luís Roberto Barroso no STF, anteontem, em Brasília, reuniu o presidente da corte, Joaquim Barbosa, e atuais ministros, como Dias Toffoli, Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski, acompanhado da mulher, Yara. Estavam presentes ainda o ex-deputado Sigmaringa Seixas e Luciana Lóssio, ministra do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

MINNIE FALCÃO
Clarice Falcão posou para a revista "Elle", em ensaio inspirado nas fotos do britânico Tim Walker. Atriz, cantora e roteirista de TV e de teatro, ela está em turnê pelo Brasil com o show do CD "Monomania". Clarice também participa dos vídeos de humor da produtora Porta dos Fundos.

CURTO-CIRCUITO
A cantora Cibelle faz show de lançamento de seu novo álbum, hoje, no D.Edge. 18 anos.

A Secretaria de Estado de Esporte, Lazer e Juventude promove hoje conferência sobre jovens no Mercosul, em Santos.

Thammy Miranda ganha sala com seu nome no karaokê Coconut, em Santa Cecília, hoje, às 20h.

Os atores Jason Biggs ("American Pie") e Taylor Schilling ("Argo"), da nova série da Netflix, "Orange Is the New Black", vêm ao Brasil no mês que vem.

Matemática é assim - SONIA RACY

O ESTADÃO - 28/06

Alckmin anuncia hoje um a série de medidas para cortar gastos do governo. A mais política delas será a extinção de uma de suas 26 secretarias. Na segunda-feira, em longa reunião no Palácio dos Bandeirantes, o tucano levantou, com integrantes do governo, de onde sairia o corte de custos.
A intenção,como corte,é bancar a redução da tarifa do metrô e a suspensão da alta do pedágio - evitando, assim, mexer em investimentos.

De volta ao cofre
A AGU acaba de fechar acordo com o Banco Morada. A instituição falida vai devolver R$ 21 milhões destinados ao Minha Casa Minha Vida.
A quantia estava bloqueada por decisão judicial

Feitiço e feiticeiro
Luiz Roberto Demarco queixou-se ao STF de suposta quebra de sigilo no inquérito da Operação Satiagraha. Esta semana, o ministro Dias Toffoli, "melhor refletindo, e para que insinuações dessa espécie não mais se repitam", acabou com o sigilo dos autos.

Contraproposta
O Condephaat recebeu proposta, segunda-feira, de representantes daXYZ e do Jockey para resolver o impasse da arena que está sendo construída no clube. Mantêm o projeto do j eito que está - forma que foi recusada pelo órgão de patrimônio - mas prometem doar 10% da receita para restauração do Jockey. Segunda-feira haverá novo encontro na sede do órgão para discutir o pleito.

Sumiu
A sempre low profile Joana Havelange se tomou uma "no profile". Filha de Ricardo Teixeira e integrante do COL, não apareceu até agora em eventos públicos da Copa das Confederações.
Vai na final, domingo?

Dó-ré-mi
Trabalho à vista no Municipal: há 60 vagas para elenco de apoio da ópera Aida. Mas a direção do teatro já recebeu mais de... 600 inscrições. As récitas começam em agosto

Bumba-meu-boi
O Festival de Parintins, neste fim de semana, está sendo considerado pela Infraero como mais um teste pré-Copa para o aeroporto de Manaus.
São esperados cerca de 500 voos e 18 mil passageiros nos três dias de folia.

Convicções em xeque - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 28/06

A despeito do discurso de apoio ao governo, petistas e peemedebistas defenderam anteontem, na casa do presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), onde se encontraram para assistir ao jogo do Brasil, que se faça referendo em vez de plebiscito para a reforma política. O vice-presidente, Michel Temer, telefonou para Aloizio Mercadante (Educação) e avisou do impasse. O ministro disse que o governo não recuaria, e o Planalto entrou em campo para enquadrar os petistas.

Noite e dia Segundo deputados presentes, o líder do PT, José Guimarães (CE), defendeu o referendo, mas ontem se posicionou publicamente pelo plebiscito. "Guimarães abandona o PT para defender o governo'', diz um correligionário. Ele nega que tenha mudado de opinião.

Bloquinho O PT vai tentar traçar uma agenda única para pautar a reforma política com o apoio de outras legendas de esquerda. Dirigentes petistas se encontrarão com líderes do PC do B, do PDT e do PSB hoje de manhã, em São Paulo, na sede do partido comunista.

Desligado Dilma fez um apelo aos presidentes de partidos aliados para convencê-los a embarcar na tese do plebiscito. Segundo um dirigente, ela afirmou que, diante do sentimento de ceticismo com a política, uma reforma feita pelo Congresso correria risco de ser referendada nas urnas.

Na pele Carlos Lupi (PDT) e Alfredo Nascimento (PR), ambos defenestrados por Dilma na "faxina'' de 2011, concordaram, durante a reunião de ontem, que o plebiscito era melhor que referendo e também usaram o mesmo argumento sobre a falta de credibilidade do Congresso.

Céu é o limite A presidente quer que o plebiscito seja enxuto, mas os partidos disseram a ela que querem discutir no Congresso temas como a cláusula de barreira, o fim das coligações e até o fim do voto obrigatório.

Boa vizinhança Líderes da Câmara querem incluir no plebiscito proposta do PDT de consulta sobre a implantação do sistema unicameral no Legislativo, que poderia levar à extinção do Senado.

Calma lá O presidente nacional do PTB, Benito Gama, chegou a defender o fim da reeleição durante a reunião com Dilma, que pode tentar novo mandato em 2014. Encarado com perplexidade pelos demais, o petebista logo ressaltou que a regra só valeria a partir de 2018.

Frequência Eduardo Campos aconselhou Dilma a melhorar a comunicação do governo. "A política ainda é analógica, e a sociedade é digital'', disse o governador de Pernambuco e virtual rival de Dilma no ano que vem.

Em todas Após conversas com partidos, parlamentares, governadores, centrais sindicais e o Movimento Passe Livre, Dilma vai receber hoje militantes da causa LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais).

Mãos de... Geraldo Alckmin ficou tão empolgado com as reuniões para cortes de despesas no governo paulista, querendo aumentar a economia a ser anunciada, que assessores chegaram a temer por seus empregos.

... tesoura "Estava vendo a hora em que ele ia mandar cortar o bigode do Meirelles'', diz um auxiliar, numa referência ao assessor especial João Carlos Meirelles, conhecido pelo bigodão.

Na gaveta Está parado na Câmara de São Paulo, desde outubro, um projeto que altera a Lei Cidade Limpa e autoriza a publicidade em ônibus e táxis, com o objetivo de arrecadar recursos para financiar o passe livre para estudantes no município.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Pressionado pelas ruas, Haddad cancelou a licitação dos ônibus, mas cria uma CPI chapa-branca, que não vai investigar nada."
DO VEREADOR GILBERTO NATALINI (PV), sobre a CPI que vai apurar contratos de transporte em São Paulo, com 7 aliados do prefeito Fernando Haddad (PT).

contraponto


Nós não vamos pagar nada
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, repetiu ontem, na reunião de Dilma e ministros com presidentes dos partidos, uma história que costuma repetir sempre sobre a dificuldade de implementar financiamento público no Brasil, ainda mais por plebiscito.

Ele citou uma descompostura que seu correligionário João Fernando Coutinho, deputado estadual em Pernambuco, levou de uma eleitora ao defender a proposta:

--Quer dizer que, além de tudo que nós já pagamos, vocês, políticos, agora não querem mais pagar nem mesmo a campanha de vocês?

A rebelião - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 28/06

Esnobados sistematicamente pelo Planalto, os líderes aliados na Câmara estão vendendo caro o apoio ao plebiscito. Durante mais de quatro horas, ontem, a presidente Dilma teve que ouvi-los. Sob a batuta do execrado líder do PMDB, Eduardo Cunha, fizeram beicinho os líderes Arthur Lira (PP), André Moura (PSC), Jovair Arantes (PTB), José Guimarães (PT) e outros petistas influentes na bancada.

Frase
“Nós não devemos subestimar a capacidade dos eleitores e do povo e nem da nossa tecnologia eleitoral”
Eduardo Braga Líder do governo no Senado (PMDB-AM), sobre a complexidade do plebiscito relativo à reforma política

Emergência na madrugada
A armação contra o plebiscito teve início na noite de anteontem, na residência do presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB). Lá os líderes Eduardo Cunha, Arthur Lira e Ronaldo Caiado (DEM), vociferavam: "O plebiscito é contra o Congresso". A indignação foi levado até ao vice, Michel Temer, que telefonou para o ministro Aloizio Mercadante, sensível ao drama. O petista, aturdido, acionou, na madrugada, o presidente do Senado, Renan Calheiros, o líder Eunício Oliveira (PMDB) e José Sarney. Estes foram bater às portas do Jaburu para evitar o recuo, do também magoado, Temer e mantê-lo alinhado.

Gargalhadas no Planalto
Após defesa do financiamento público por Rui Falcão, Benito Gama contou, em voz alta, história sobre palestra cochichada por Eduardo Campos. Nela, um jovem disse: "Vem cá, vocês agora não estão querendo nem pagar suas campanhas?".

A voz das ruas
O senador Sérgio Petecão contou que no Acre a Assembleia mudou o horário oficial. Ouvido, em referendo, o povo disse não. O retorno ao horário não foi regulamentado ainda. Vigora o derrotado. "O gigante acordou e está possesso", finalizou.

O referendo
A maioria dos presidentes de partido detonou o referendo. A presidente Dilma lembrou que as ruas queriam respostas "o mais breve possível". O governador Eduardo Campos reforçou: "O plebiscito é a saída mais rápida". Gilberto Kassab, presidente do PSD, completou: "O que o Congresso decidir vai ser derrotado. O eleitor vai dizer não! Não! Não! Vai ser uma desmoralização".

Barraco trabalhista
O presidente do PDT, Carlos Lupi, está irritado com o que chama de "hipocrisia" do senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Afirma: "O partido o representava quando lhe deu legenda para concorrer à Presidência, agora não serve mais?".

A explicação
O deputado Marcus Pestana (MG) justifica o PSDB por não ter votado nos 100% dos royalties para a educação, como prega seu manifesto. Diz: "Mudou a base de cálculo. O Senado vai cortar? Dilma vai vetar? Esta foi a lógica da oposição".

Os pais da ideia
A proposta de promover umas Constituinte exclusiva e um plebiscito para fazer a reforma política foi adotada pela presidente Dilma, no domingo num encontro com os ministros Aloizio Mercadante (foto) e Paulo Bernardo. Relutante, a presidente adotou a tese da Constituinte, que abandonou diante da rejeição do Congresso.

Projeções de ministro do TSE indicam que realizar o plebiscito deve custar R$ 2 bilhões. O referendo do desarmamento custou cerca de R$ 1,3 bilhão.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 28/06

Minas Gerais dá primeiro passo para implantação de trem de passageiros
O projeto para a retomada de trens de passageiros em Minas Gerais deve começar a caminhar no próximo mês, com a abertura de consultas públicas sobre um dos três trechos planejados pela administração estadual.

O objetivo é fechar ainda no segundo semestre a licitação da linha que ligará Belo Horizonte a Brumadinho, na região metropolitana, para que a operação comece em 2016.

O custo, de R$ 600 milhões, deverá ser repartido entre o Estado e a iniciativa privada.

Só depois das consultas públicas será definido qual esfera vai ser responsável pelas obras e pela operação.

"Queremos criar uma CPTM de Belo Horizonte, para atender o deslocamento pendular de pessoas na região", afirma Adrian Batista, diretor de planejamento da Segem (Secretaria Estadual de Gestão Metropolitana).

A Grande Belo Horizonte já teve os chamados trens de subúrbio até os anos 1990, mas os serviços foram extintos com a concessão da malha federal à iniciativa privada.

Hoje, só há na região o transporte de cargas, por ramais operados pela MRS e pela Ferrovia Centro-Atlântica.

Parte desses trilhos existentes serão ampliados para a circulação de passageiros, mas cerca de 65% dos acessos serão construídos.

Os primeiros estudos, definidos por Batista como pessimistas, estimaram que 220 mil pessoas circulariam por dia nos três lotes previstos.

Ele diz, no entanto, que apenas a linha de Belo Horizonte a Brumadinho pode atender diariamente a até 120 mil passageiros.

LUXO SEGURADO
O segmento de veículos de alto padrão cresceu 55,9% no primeiro quadrimestre em relação a igual período de 2012 no grupo BB e Mapfre.

De janeiro a abril, o grupo movimentou R$ 77 milhões em indenizações de veículos de luxo, ante R$ 49,4 milhões no mesmo período de 2012.

Na Chubb, o prêmio cresceu 26,6% e chegou a R$ 121,4 milhões. "A intensidade das importações em 2012 havia diminuído muito em razão do acréscimo de 30% do IPI, mas, neste ano, com a flexibilização, houve uma retomada no crescimento do prêmio de seguros dessa linha", diz o CEO Acacio Queiroz.

"A alta do dólar pode fazer o segmento desacelerar ao encarecer a compra do importado", afirma, Sérgio Barros, diretor do BB e Mapfre.

O prêmio de seguro de todos tipos de carros subiu 24,9%, segundo a CNseg (confederação do setor).

Nível de emprego na construção pesada cresce pelo sexto mês
Ao contrário do segmento de construção imobiliária, que amarga um período de estagnação e demissões, o da indústria pesada está em crescimento desde dezembro de 2012.

O nível de emprego na indústria pesada registrou expansão de 0,51% no mês de maio, o que representa 602 novas vagas.

Foi o sexto mês consecutivo em que o número de trabalhadores empregados cresce, de acordo com dados do Sinicesp (sindicato do setor de São Paulo).

O aquecimento nesse mercado de trabalho é decorrente do maior número de licitações de obras no Estado, diz Helcio Farias, da entidade.

"O DER [Departamento de Estradas de Rodagem], que é o principal contratante da indústria pesada, abriu várias concorrências em abril."

Em março, o sindicato havia reclamado que as licitações prometidas pelo governo em 2012 não estavam saindo do papel.

Desde o começo deste ano, no entanto, o nível de emprego cresceu 3,84%. No acumulado dos últimos 12 meses, a elevação é de 4,23%.

Os números do mercado de trabalho do setor --com demissões no ramo imobiliário e contratações na indústria pesada-- mostram que essa última deverá ser a responsável pelo crescimento da construção neste ano.

CENSO DAS MULTINACIONAIS
A ESPM lançou uma plataforma de pesquisa que mapeia a atuação de empresas do país no exterior.

O Observatório de Multinacionais Brasileiras apresenta 320 perfis de matrizes nacionais e suas subsidiárias estrangeiras.

"A ideia surgiu em 2008, quando iniciei meu mestrado para estudar as multinacionais brasileiras e percebi que não existe lista oficial da presença delas fora do país", afirma o coordenador do observatório, Gabriel Vouga.

A proposta de identificar as empresas tornou-se um centro de pesquisa que, além de atualizar os perfis, vai analisar o comportamento das companhias e criar índices de mercado, segundo Vouga.

Ele também prevê o serviço de diagnóstico para empreendedores com interesse em atuar em outros países.

PONTE AÉREA
O governo da Bahia autorizou ontem o início da construção de uma ponte estaiada que ligará Ilhéus a Pontal, no sul do Estado, com quase 500 metros de extensão.

As obras, avaliadas em aproximadamente R$ 165 milhões, devem ficar prontas em dois anos.

O objetivo é beneficiar a agricultura e o turismo na região, além de viabilizar projetos como o Porto Sul e a Ferrovia Oeste-Leste.

Asiática A OrangeLife acaba de abrir uma filial na Coreia do Sul. A companhia tem unidade no Peru, onde assinou um acordo de cooperação para produção de testes rápidos de doenças como a dengue.

Internacional Mantida por professores de engenharia de produção da Escola Politécnica da USP, a Fundação Vanzolini assinou acordo de intercâmbio de alunos com a Universidade de West Virginia.

Educação A Junior Achievement, da área de educação para o empreendedorismo, lançou a primeira campanha de financiamento coletivo. Ela busca recursos para um projeto contra a evasão escolar.

Em deterioração - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 28/06

O Banco Central está fazendo certo esforço para recuperar credibilidade e voltar a conduzir as expectativas de inflação, tarefa que vinha prejudicada. E começa a conseguir, apesar da adoção de critérios discutíveis e das lacunas de comunicação.

O Relatório de Inflação ontem divulgado é o oposto da visão rosicler que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, expôs no dia anterior, no Comitê de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.

O Banco Central admite que a inflação segue em deterioração. Além de crescente, está muito espalhada ("alto índice de dispersão"). Mas nega que esteja fora de controle. Ao contrário, afiança que a política monetária (política de juros) continuará sendo inexoravelmente acionada para conter a velocidade da alta.

As causas da inflação para o Banco Central são as mesmas apontadas há alguns meses: despesas excessivas do governo ("política fiscal expansionista"), demanda forte demais em relação à oferta e mercado de trabalho aquecido, que puxa os salários mais do que comportaria o aumento da produtividade do Trabalho.

De abril para cá, muita coisa mudou na atitude do Banco Central. Antes, vinha com conversa muito parecida com a que ainda mantém o ministro Mantega. Afirmava com todas as letras que a inflação era fenômeno temporário e que, mais adiante, confluiria mais ou menos naturalmente para a meta de 4,5% ao ano. Agora, fique bem entendido, a inflação só recuará à custa de aplicação dos corretivos.

No entanto, mantidas as coisas como previstas até agora (câmbio a R$ 2,10 por dólar e juros básicos a 8,0% ao ano), a inflação terminaria 2013 no nível dos 6,0%, portanto acima dos 5,84% em que ficou em 2012, e acima da meta de 4,5%. Não tem razão o ministro Mantega quando afirma que a inflação está recuando.

O Banco Central omitiu-se na avaliação do tamanho do repasse da alta do dólar sobre a inflação, no momento uma das principais causas de alta dos preços. O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, limitou-se a dizer que o fator câmbio já não tem a mesma força de tempos atrás. Em todo o caso, disse ele, esse repasse deve ser hoje em torno de 6% a cada 12 meses. Ou seja, para cada 10 pontos porcentuais de alta do dólar em 12 meses, a inflação, no mesmo período, aumenta 0,6 ponto porcentual. Nos últimos 12 meses, até ontem, o dólar ficou 5% mais caro em reais.

Ficou estranho que o Banco Central tenha incluído nos seus cálculos o impacto da baixa das tarifas dos transportes coletivos, mas não tenha incluído a alta do dólar.

O Banco Central reviu as projeções de evolução do PIB deste ano. O crescimento não será mais de 3,0% (segundo estimativa do Relatório de Inflação de março), mas de 2,7%.

Embora o Banco Central trabalhe hoje com mais realismo, não dá para embarcar de olho fechado nas suas projeções. Todas elas (de inflação, contas públicas, avanço do PIB e rombo nas contas externas) vêm sendo sistematicamente revisadas para pior e não se sabe até quando.

Os juros básicos continuarão subindo porque o governo não faz o suficiente para controlar a inflação.

O pibinho americano - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

FOLHA DE SP - 28/06

Os números do PIB americano trouxeram um pouco de bom-senso aos espíritos dos mais afobados


A imprensa brasileira tem usado a expressão "pibinho" para descrever -e ridicularizar- o nosso crescimento econômico na era Dilma. Muito dessa expressão representa uma reação bem brasileira ao eterno excesso de otimismo do ministro da Fazenda ao falar sobre o futuro da economia.

Pois a divulgação final dos números do crescimento nos Estados Unidos, no primeiro trimestre do ano, foi recebida com o mesmo sentimento de frustração pelos mercados financeiros. Esperava-se um aumento do PIB da ordem de 2,4% ao ano e o número final foi de apenas 1,8% ao ano, um verdadeiro "pibinho".

Na métrica usada pelo IBGE no Brasil, teríamos na maior economia do mundo, nestes primeiros três meses do ano, um crescimento de 0,45%, ante 0,60% no Brasil.

Mas é importante entender que os EUA vivem uma dinâmica econômica bastante diferente da brasileira e, nessas condições, comparar taxas de crescimento pode levar a conclusões erradas e perigosas.

No Brasil, a dificuldade de crescer vem principalmente do esgotamento de um ciclo criado pela ocupação de espaços ociosos de oferta na economia, em resposta principalmente a estímulos fiscais e de crédito criados pelo governo.

Nos Estados Unidos, ainda é muito grande a ociosidade em partes importantes do tecido econômico, principalmente no mercado de trabalho e no sistema bancário, e por isso a economia vem trabalhando bem abaixo de seu potencial.

Por outro lado, a política fiscal nesta primeira metade do ano tem sido um fator de contração da demanda, com uma redução importante do deficit das contas públicas.

A atividade econômica, medida apenas no setor privado da economia, cresceu nestes primeiros três meses do ano a uma taxa anual bem mais elevada (2,75%). Ou seja, a política fiscal de ajuste do deficit orçamentário, depois de vários anos de política fiscal expansionista anticíclica, está reduzindo em mais de 1% ao ano o crescimento americano em 2013.

Mesmo com esse freio funcionando deliberadamente, a economia já se encontra em uma fase inicial de recuperação do crescimento, depois de mais de cinco anos de crise financeira. Um fato que deve ser comemorado por todos os países, desenvolvidos ou emergentes, com entusiasmo.

Foi nesse ambiente de retomada de um crescimento sustentado que o Federal Reserve, o banco central dos EUA, comunicou ao mercado que começaria a normalizar a política monetária até o fim de 2013.

Em entrevista logo após a reunião do Fomc -equivalente ao nosso Copom-, o presidente do Fed descreveu uma agenda muito cuidadosa e cheia de qualificações dos próximos passos na direção de uma política monetária clássica.

Claramente ele temia uma reação exagerada dos mercados e que uma alta nos juros americanos, muito acima da desejada pela autoridade monetária, poderia abortar essa recuperação.

Apesar do cuidado de suas palavras, essa decisão provocou um abalo importante nos negócios financeiros pelo mundo afora. Os juros dos títulos do Tesouro americano de dez anos de prazo --que já vinham aumentando em razão das expectativas-- deram um pulo de mais de 0,5 ponto percentual, arrastando nesse movimento as Bolsas de Valores no mundo todo e as moedas dos países emergentes.

Na rudimentar opinião dos mercados, uma normalização dos juros nos EUA vai fazer com que a maior parte do dinheiro que circula hoje em países como o Brasil volte correndo para Wall Street, deixando à míngua essas economias.

Mas números do PIB norte-americano, divulgados anteontem, trouxeram um pouco de bom-senso aos espíritos dos mais afobados ao mostrar que a tão cantada normalização dos juros vai ter que esperar dias melhores na maior economia do mundo.

Com isso, certa calma voltou aos mercados emergentes, com queda nos juros, fortalecimento das moedas desses países e uma tímida recuperação dos preços das ações.

Minha expectativa é que nas próximas semanas essa percepção de que o dia do ajuste final só ocorrerá em 2014 consolide esse movimento de recuperação dos mercados emergentes.

O ambiente econômico da rua brava - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 28/06

Economia não levou pessoas as ruas, mas mediocridade até 2014 não deve ajudar a desanuviar o clima


O BANCO CENTRAL do Brasil prevê uma inflação média rodando em torno de 5,5% em 2013 e 2014. Perdoe-se e releve-se a imprecisão decimal. O cansaço com anos de inflação nesse patamar desbastava lentamente o prestígio do governo na "Era AP" (antes dos protestos).

Segundo o Banco Central, a coisa não vai ser muito diferente até 2014, na média. Decerto mudanças relativas de preços podem ocorrer, aliviando a pressão. Por exemplo, a inflação da comida pode não subir tanto quanto nos últimos anos. Nos últimos meses, o preço da comida subia ao ritmo anual de 15% ano, por aí, quase o dobro dos aumentos de salários.

A diferença deste biênio final de Dilma Rousseff é que a taxa de juros será maior.

A taxa de desemprego em tese deveria subir ligeiramente neste período. Mas, dadas as esquisitices recentes da economia brasileira, nem isso dá para prever.

Sim, o crescimento será maior do que a miséria de 2012. Em termos políticos e sociais, não fará assim diferença para o cidadão comum. A julgar pelo lento andar da carruagem, o crescimento virá um pouco mais de investimento do que de consumo, o que é bom, mas tal mudança não aparece para mulheres e homens da rua.

A dúvida politicamente mais relevante diz respeito ao ritmo de aumento dos salários, que está diminuindo. Mas tal resposta depende, óbvio, do que vai acontecer com o emprego, bem incerto, como se observou linhas acima. De qualquer modo, não parece razoável esperar que os salários passem a crescer mais do que agora.

O cálculo da probabilidade de o protesto ter algum efeito econômico é uma pilhéria ainda maior. Por ora, parece que não vai ser bom. Governos acuados, politicamente tontos, para não dizer ineptos, estão acumulando alguns problemas fiscais (desequilíbrios entre receitas e despesas). Isso ainda vai pingar algumas gotas azedas num cenário econômico na melhor das hipóteses medíocre.

No mais, a especulação sobre o efeito da rua na economia é ainda mais pretensiosa, embora a demagogia e o oportunismo das respostas de governos e parlamentos sempre nos permitam esperar o pior.

E daí? O protesto da rua dificilmente foi uma reação geral à deterioração das condições econômicas. A gente mal vê reivindicação de salários, embora apareçam ali e aqui queixas sobre o custo de vida.

Mesmo nas pesquisas realizadas durante os protestos as pessoas se disseram "satisfeitas ou muito satisfeitas" com sua vida em 71% dos casos.

Ainda assim, mais um ano e meio de mediocridade econômica com redução do poder de compra (ou estagnação do processo de melhorias) certamente não vão desanuviar o ambiente.

Observe-se ainda que nem toda a população teve ganho de renda "na média". Pessoas com nível de renda bem acima da média e abaixo dos raros ricos, vamos dizer o "quinto" ou o "décimo" realmente classe média não progrediram tanto assim. Estava aí o bastião do azedume contra o governo, são daí muitos dos manifestantes da rua, pelo menos das ruas centrais das cidades. Essas pessoas parecem mais iradas do que o restante dos seus concidadãos.

A meta, algum dia - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 28/06

O Banco Central está mais pessimista. Foi isso que ficou claro no Relatório de Inflação do segundo trimestre, divulgado ontem. A previsão de inflação subiu, e a estimativa para o PIB diminuiu. Algumas premissas foram alteradas para pior. O centro da meta ficou para ser atingido, algum dia, no próximo governo. Os juros continuarão subindo.

A previsão de crescimento do PIB foi reduzida de 3,1% para 2,7%, enquanto a estimativa para a inflação subiu de 5,7% para 6%. Aí está o dilema: a inflação exige juros mais altos, o crescimento baixo pode ser uma barreira para a política monetária.

O BC vinha prometendo uma inflação menor do que a do ano passado, que havia ficado em 5,8%. Só que nos vários cenários do Banco Central, o IPCA não irá para o centro da meta, de 4,5%, nem mesmo no primeiro trimestre de 2015.

É por isso que vários analistas ontem mudaram suas projeções. Passaram a achar que os juros subirão mais e por mais tempo. Há economistas convencidos de que mesmo piorando suas estimativas o Banco Central ainda está sendo otimista.

Na quarta-feira, no Congresso, o ministro Guido Mantega falou em buscar o déficit nominal zero. Não se comprometeu com data, mas só de falar nisso é curioso. Esse déficit nominal zero, ou seja, o equilíbrio nas contas públicas totais, após o pagamento de juros, é aquela proposta feita pelo ministro da Fazenda da época, em 2005, Antonio Palocci. A então ministra Dilma Rousseff achou a proposta "rudimentar" e disse que era preciso "combinar com os russos".

Com juros subindo, fica mais difícil atingir essa meta, não porque o objetivo seja uma ideia rudimentar, mas porque a tendência é de aumento das despesas, principalmente no ano que vem, na busca da reeleição da presidente. A principal dúvida é saber se a autoridade monetária terá autonomia para elevar a taxa até onde for necessário, mesmo que vá a dois dígitos.

A subida dos juros também esbarra em outros problemas: nível de atividade ainda fraco, inadimplência elevada, endividamento recorde. A economia brasileira está numa encruzilhada. Se não combater a inflação, a atividade cai porque as famílias perdem renda e capacidade de consumo. Se subir os juros para reduzir os preços, pode enfraquecer mais a atividade e alimentar a inadimplência.

É por isso que muitos economistas têm defendido um forte ajuste nos gastos do governo. O Banco Central alega no Relatório que acredita no cumprimento da meta fiscal do ano, e o ministro da Fazenda garantiu que a cumprirá. O ceticismo fora do governo é enorme em relação a isso. Os números do superávit primário caíram no acumulado de janeiro a maio. A arrecadação está crescendo abaixo do esperado, o governo tem elevado gastos de custeio e cortado investimentos. As desonerações destinadas ao consumo continuam. As manifestações nas ruas, mesmo tendo boas demandas, vão representar mais gastos, seja de prefeituras, governos estaduais e federal.

As reduções das tarifas de transporte público já foram incorporadas nas projeções do BC. Isso fica claro na queda da estimativa para os preços administrados, de 2,7% para 1,8% entre o relatório de inflação de março e o divulgado ontem. Mas não foi incorporada a alta do câmbio. O BC achava que não haveria muito impacto da valorização do dólar na inflação, mas a realidade não está confirmando essa hipótese.

Os preços no atacado voltaram a dar dor de cabeça este mês. Depois de ficar estável em maio, o IGP-M saltou para 0,75% em junho. A desvalorização do real pesou nos preços dos alimentos, que saíram de -1,98% para 1,01% entre os dois meses. Isso anula em parte o efeito positivo da queda de preços de alimentos e das reduções das tarifas.

Sobre o cenário internacional, o Banco Central enxerga os EUA em recuperação, a China reduzindo o ritmo, e a Europa ainda enfrentando a recessão. Pesando tudo na balança, o BC mudou sua visão e já não enxerga mais um cenário externo "desinflacionário". Segundo o banco: "o cenário central contempla ritmo de atividade global mais intenso no horizonte relevante para a política monetária, que, em se confirmando, tende a se manifestar em pressões de preços nos mercados globais."

Na linguagem do Banco Central, "o balanço de riscos para o cenário prospectivo se apresenta desfavorável". Ou seja, está tudo um pouco pior diante do que havia imaginado antes.

Bora, enxugar gelo! - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 28/06

Fazer leis tem bastado para consertar o que está errado no país em que leis 'pegam' ou não segundo o vento?


Nesta hora tão grave, os brasileiros estão unidos em torno de uma só verdade: nunca se disse tanta asneira quanto agora.

Está certo que é melhor ouvir do que ser surdo e que é preferível ver gente nas ruas gritando e agitando cartazes que digam frases como "Vendo Palio 2005" do que recostada no sofá comendo farinha crua.

A falta de familiaridade com a prática do agir e pensar político, porém, já está trazendo consequências que podem não ser as mais desejáveis.

Sem querer moralizar, mas já dando um baita puxão de orelha: o que é que esta humilde datilógrafa vem dizendo há anos (desde 2006 para ser precisa)? Que o processo do mensalão só podia dar nhaca. Que não existe condenação viável com 37 réus agrupados em um mesmo processo, uns civis outros não, sem direito a recurso.

Joaquim Barbosa fez lá seu show por meses a fio e deu neste nó jurídico. A desilusão quem causou foi ele. Só que a percepção de quem está nas ruas é de impunidade geral, enquanto ele sai como herói.

Outra ilusão é a tal PEC 37. Em vez de extirpar o cancro, resquício do regime militar, ineficiente inoperante e responsável por toda a violência existente, ou seja uma polícia configurada como militar, nós focamos o problema em outro canto e tratamos de dar superpoderes aos promotores. Por que isso? Por acaso promotor é mais idôneo do que policial? Quem disse?

E desde quando, em um país injusto, sem mecanismos de controle e passível a desmandos como o nosso, o sujeito que investiga pode ser o mesmo que denuncia? Elevamos o status dos promotores (lembra do partidarismo do Luís Francisco?) que, muitas vezes, são tão mal preparados e mal remunerados, ou seja, passíveis de corrupção, quanto a polícia. Ganhamos o que com isso?

Voltando aos PMs: se é polícia, não pode ser militar. As duas são instituições estruturadas para fins distintos. Uma é preparada para a guerra, ou seja, para atuar em operações de grande impacto e isoladas com estrutura verticalizada. A polícia deve agir em vários locais e sempre.

É repetir a falácia do Alckmin. Assim que os índices de violência voltaram a subir em SP, por conta de brigas internas entre a PM e a Polícia Civil, que historicamente se estranham, e, quiçá, por sabotagem de grupos criminosos, (desconfio que, sobre isso, nem mesmo o Alckmin saberia responder), em vez de tentar sanear a instituição ou propor o início da conversa para a reestruturação do sistema nacional de segurança, nosso governador resolveu priorizar a questão da redução da maioridade penal. Isto quando as pesquisas mostram que apenas 3% dos crimes são praticados por menores, ainda que exista forte tendência de aumento desse índice.

Quer mais uma aberração servida de bandeja? Pois eu pergunto a você, que pede leis mais duras e discordou de tudo o que eu disse até agora. Você, que foi contra a PEC 37, que acha o ministro Joaquim Barbosa um azogue porque, afinal, ele tem pinta de eficiente e é assim que você tem se pautado na hora de escolher em quem votar, confiando na sua intuição e pronto.

Pois bem: a lei de crimes hediondos serviu para diminuir a incidência de crimes horripilantes no país? Por sinal, será que existem "crimes magníficos"?

Fazer novas leis tem bastado para consertar o que está errado nesta nossa terra abençoada em que as leis "pegam" ou não de acordo com a direção do vento? Ou será que tentar acabar com o desvio de dinheiro público usando leis já existentes não seria bem mais eficiente do que transformar corrupção em crime hediondo, hein, dona Dilma?

As muitas pedras no meio do caminho - WASHINGTON NOVAES

O ESTADO DE S. PAULO - 28/06
Durante caminhada por um parque público, o autor destas linhas ouviu trechos da conversa entre dois senhores com mais de 60 anos: "O problema e o aparelhamento do poder pelos partidos que estão no governo federal e até em outros; só interessa, só se faz o que é conveniente para manter no poder o pessoal desses partidos; sindicatos, associações, nada disso importa mais". Não é de estranhar, assim, que os movimentos de rua tenham sido mobilizados, via internet e telefones celulares, pelas redes sociais, que independem de partidos. Nem que 77% das pessoas mobilizadas por essas vias tenham diploma universitário (77%) e menos de 25 anos de idade (53%), segundo pesquisa recente (Folha de S.Paulo, 19/6).

As redes sociais abrangem 79 milhões de pessoas no País (Estado, 18/6). Setenta entidades já se mobilizam agora para reunir 1,5 milhão de assinaturas em favor de uma Assembleia exclusivamente Constituinte - embora não se saiba qual será o projeto básico para essa nova Constituição - e há partidários e adversários no Congresso e no Judiciário. Mas parte dos manifestantes não aceita a participação de parlamentares (Agência Estado, 21/6). O próprio presidente do PT-SP, Edinho Silva, aceita a crítica de que seu partido não assimilou os novos movimentos sociais (21/6) e precisa encontrar uma "agenda para a juventude". Talvez por isso, esta semana o PT deu alguns sinais de rebeldia, criticando a presidente da República.

Que respostas a parte da sociedade desligada de partidos e governos dará aos cinco projetos básicos enunciados pela presidente? Esta começou pela proposta de "responsabilidade fiscal" nos governos federal, estaduais e municipais. Mas como se fará isso num regime generalizado de incentivos fiscais para tantos setores? Como se fará se há Estados que já concederam um total de incentivos - para instalação de empresas em seus territórios - equivalente a mais de dez vezes sua arrecadação anual e não abrem mão desses sistema, como se tem visto nas discussões no Congresso e no Confaz? E o passe livre combina com a proposta? Quem pagará?

O segundo ponto é o da "reforma política", com plebiscito, já com contestadores nos partidos e fora, até argumentando que a internet "não revogou a Constituição", que tem dispositivos específicos para esse caminho. E se tudo precisa passar pelo Congresso, como esquecer que ali tiveram apoio projetos - execrados nas ruas - a favor da revogação de poderes do Ministério Público para investigações (afinal rejeitada, sob pressão) e da "cura gay", entre vários? Como deslembrar que o Executivo federal tem partilhado o poder com agremiações políticas e parlamentares que defendem posições repudiadas nas passeatas? Correrá o risco de perder esse apoio e tornar-se minoritário no Parlamento?

Um terceiro tema do pronunciamento presidencial, o dos transportes, colide com a pregação do equilíbrio fiscal, ao propor a isenção de contribuições, desoneração de impostos estaduais e municipais, alívio nos impostos sobre energia elétrica e óleo diesel, além de mais verbas orçamentárias (R$ 50 bilhões) para investimentos na "mobilidade urbana" (enquanto se entopem as ruas com veículos produzidos com incentivos fiscais). A destinação de 75% dos royalties do petróleo para a educação e 25% para a saúde pode enfrentar a resistência de Estados produtores.

O capítulo dos transportes urbanos talvez seja o mais complicado, porque não se circunscreve à questão do preço dos bilhetes. A cidade de São Paulo, por exemplo, perde R$ 33 bilhões anuais com o trânsito, 10% do seu PIB (Estado, 19/9/2010). E o tempo médio consumido pelo paulistano para se deslocar não para de crescer: há dois anos já era de duas horas e 49 minutos diários, o que significa um total de um mês por ano. A frota brasileira em dez anos dobrou (21/10), em São Paulo foram mais de 34 milhões de veículos entre 2001 e 2011. Mas o que se planeja é um multibilionário trem-bala Rio-São Paulo. Como se pretende enfrentar essas questões?

Da mesma forma, não parece definido com eficácia o que se fará na área da saúde. Um ponto já levanta acirrada polêmica, seja entre profissionais da saúde, seja na população: a contratação de médicos no exterior.

E tudo isso acontece em meio à queda nos índices de aprovação do governo e da presidente, assim como em meio à descrença progressiva nos três Poderes da República. A presidente e seu Ministério viram cair para apenas 19% seu índice de aprovação alta, ante 51% na avaliação anterior (Folha de S.Paulo, 19/6). Isso pode indicar que não faltará apoio para novas manifestações convocadas pelas redes sociais.

Tudo leva às mesmas perguntas já formuladas no artigo da semana passada neste espaço: conseguirão as redes sociais formular um projeto político para o País - e não apenas reivindicações pontuais? Se conseguirem e tiverem apoio social, como conseguirão torná-lo viável em termos legais? Como ficará o governo, que até aqui se tem mantido graças a apoio negociado com uma base política que se mantém adstrita a seus interesses específicos, e não a desejos mais amplos da sociedade? Ou caminhamos, como outros países, rumo a transformações bruscas, mas também ineficazes? Ou ainda - o que parece menos provável - haverá um esvaziamento dos protestos? Sem falar que o País continua sem uma estratégia básica que dê prioridade a suas vantagens comparativas, a começar pelas áreas de energia e recursos naturais.

Parece não haver dúvida de que vivemos um tempo em que as instituições se mostram defasadas em relação às aspirações sociais. Excetuados os países mais ricos da América do Norte ou do Norte da Europa, onde problemas sociais são menos agudos, e países fechados politicamente, autoritários - a China é o exemplo mais forte o panorama em toda parte só desperta aflições. E o que se anuncia para o Brasil não parece ainda mudar o panorama.

Que se cuidem - - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 28/06

Dilma corre o risco de ter anunciado um pacote de medidas talvez pesado demais para o seu governo



Até prefeitos dos mais modestos municípios do país sabem que, em momentos de crise — principalmente aqueles que sugerem erros e inação em suas administrações —, é preciso tomar iniciativas que convençam os cidadãos de que são capazes de ações corajosas e produtivas.

Foi o que fez em grande escala, a presidente Dilma Rousseff. Reuniu os 27 governadores e mais 26 prefeitos de capitais e anunciou iniciativas obviamente importantes. Nenhuma delas, curiosamente, fora anunciada, sequer mencionada de passagem, pelo Palácio do Planalto em momento algum de sua administração.

Ela propôs à plateia um pacto nacional em cinco áreas: responsabilidade fiscal, reforma política, saúde, educação e transportes públicos. E mais um plebiscito sobre a criação de uma assembleia constituinte destinada a fazer uma reforma política.

Também sugeriu uma iniciativa que jamais fez parte das preocupações de governos anteriores — nem do seu, até agora: que a corrupção de agentes do Estado seja incluída na categoria dos crimes hediondos. Finalmente, ela se lembrou dos acontecimentos que deram início à crise atual e prometeu medidas que melhorem os transportes públicos em geral.

Tudo isso parece ser realmente necessário. Inclusive a promessa de investimento pesado em transportes públicos — que não fez parte da pauta dos últimos governos. Nem no da própria Dilma, até a inédita crise atual, em que a ação de baderneiros produziu manifestações de cidadãos honestos que ganharam as ruas, em Brasília e em diversos estados.

O que a presidente está fazendo — melhor dizendo, anunciando que vai fazer — é um pacote considerável.

Certamente, raras vezes um presidente prometeu tanto, de uma vez só. Dilma precisará de forte apoio dos partidos políticos e da opinião pública em geral. Ela tem a seu favor as imagens da reação popular nos últimos dias. Também corre o risco de ter anunciado um pacote de medidas talvez pesado demais para o seu governo, que, pelo que se viu nos últimos dias, não vive dias de alta popularidade. E é verdade que, terça-feira passada, ela teve de recuar de outra ideia sua, a convocação de uma assembleia constituinte específica que faria a reforma política. Ministros do Supremo Tribunal Federal e diversos juristas convenceram-na de que era melhor investir num plebiscito que garanta a participação da sociedade na escolha dos caminhos da reforma.

No fim das contas, a crise política, marcada por manifestações populares realmente espontâneas, terá seu destino definido pela reação dos mesmos cidadãos que saíram às ruas do país para manifestar sua decepção com os políticos que mandam no país em seu nome. O governo e os homens públicos em geral que se cuidem. A opinião pública está de olho.