domingo, dezembro 15, 2013

Mulher de malandro decidirá eleição - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

O eleitorado diz que quer mudança, mas pretende reeleger Dilma. È puro chavismo.

O Brasil está fazendo tudo certo para se tornar, em 2014, um país pior. Segundo uma pesquisa Datafolha, 66% dos brasileiros querem mudanças no governo. É um dado novo e expressivo. Parece mostrar que a população enfim percebeu como é governada, descobriu o engodo administrativo que avacalha as contas públicas brasileiras. E como o Brasil quer mudar esse estado de coisas? Elegendo Dilma Rousseff no primeiro turno. É o que dizem o Datafolha e todos os institutos de pesquisa. Ou seja: o eleitorado brasileiro concorre ao troféu mulher de malandro 2014.

E esse eleitorado que quer mudanças no governo tem uma carta na manga. É um não candidato, mas que, se entrar no páreo, torna-se o único nome nacional capaz de derrotar Dilma: Lula. Como se vê, o Brasil quer mudar mesmo.

Esse fenômeno tem uma explicação muito simples, que os cientistas políticos negam desesperadamente, numa espécie de otimismo avestruz. O fenômeno se chama chavismo. E ele, e só ele, que explica o paradoxo da insatisfação com o governo versus apoio eleitoral ao governo. A colossal propaganda populista do petismo conseguiu dissociar nome e pessoa, conseguiu inventar o binômio do crioulo doido - administração desastrosa e governantes bonzinhos. E a culpa não é dos parasitas do PT. Eles estão no papel deles. Fazem o que sabem fazer: parasitar. A culpa é do povo. Resta apenas escolher qual a parte pior do povo: a que não enxerga ou a que faz vista grossa.

Recentemente, Dilma declarou que o IBGE faria a revisão do PIB de 2012, para cima. Antecipou que o índice de crescimento do ano passado passaria de 0,9% para 1,5% - um aumento expressivo e surpreendente. A notícia repercutiu forte, apesar do mal-estar com o fato de a presidente da República ter vazado uma informação do IBGE, uma falta grave na política de sigilo dos dados do instituto. Teoricamente, Dilma nem poderia saber daquele índice - justamente para que não haja tráfico político de estatísticas. Mas o mal-estar seria duplo.

Não bastasse o vazamento, o informante dela estava mal informado. A revisão do PIB foi de 0,9% para 1%, quase nula. Os chavistas venezuelanos e argentinos são mais eficazes na manipulação dos índices que seus governos destroem.

Esses 66% de brasileiros que sentem a inflação morder seus calcanhares não notam nada disso. Deveriam estar olhando para o outro lado quando o governo bateu cabeça em público, para o mundo inteiro ver, discutindo a melhor forma de abafar os preços dos combustíveis - para mascarar a inflação febril dos preços livres, encostando em 10% ao ano. É um imenso contingente de brasileiros divididos entre os que não veem e os que fingem que não veem a demagogia tarifária arrebentando a Petrobras e as elétricas. Assim é o chavismo: a realidade é o que o governo bonzinho diz.

Dizem que haverá nova série de manifestações durante a Copa do Mundo. Entre as pautas dos protestos estará, provavelmente, o reajuste das passagens de ônibus - porque a mentira bondosa da manutenção dos preços das passagens não poderá durar mais muito tempo. E aí já se sabe, pelo nível de esclarecimento dessa geração de manifestantes e seus amigos black blocs, que teremos mais um capítulo da já famosa Primavera Burra brasileira: quebradeira geral e risco zero para os amigos de José Dirceu que comandam o carnaval no Planalto.

O Brasil não se importou de ver um Ministro da Educação panfletário e negligente usando o cargo para virar prefeito de São Paulo. Não se importa de ver um ministro da Saúde em comício permanente para ganhar o governo do Estado de São Paulo - segundo Lula, seu mentor, para tirar "os conservadores" do poder. Eles usarão para sempre a bandeira de revolucionários oprimidos, mesmo já sendo os donos quase absolutos do aparelho de Estado. Enquanto colar, está valendo - e o mensaleiro Delúbio poderá se autodenominar preso político, sem que isso seja uma piada. O Brasil não se importa que o ministro da Justiça, aquele que gritou contra o regime fechado para os mensaleiros, remeta ao Ministério Público um relatório pirata incriminando adversários políticos.

Quem acha que isso não é chavismo que vote em Dilma pela mudança. Basta de conservadorismo.

Conversas iluminadas - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 15/12

Tem coisa mais xarope do que faltar luz? Outro dia estava terminando de escrever um texto e não consegui concluí-lo: o céu enegreceu, trovões começaram a espocar e foi-se a energia da casa. Eram 15h10 da tarde. A luz só voltou às 20h. Fiquei com aquele pedação de dia sem poder trabalhar. Então bati à porta do quarto da minha filha e percebi que ela também estava à toa, sem conseguir desfrutar da companhia inseparável do seu laptop. Ficamos as duas ali nos queixando do desperdício de tempo, até que nos jogamos em sua cama e começamos a conversar. Que jeito.

Conversamos sobre os sonhos que ela tem para o futuro, e eu contei os que eu tinha na idade dela, e de como a vida me surpreendeu desde lá até aqui. E ela me divertiu com umas ideias absurdas que só podiam mesmo sair de sua cabeça inventiva, e eu ri tanto que ela se contagiou e riu muito também de si mesma. Então ela me falou sobre uma peça de teatro que foi assistir quando eu estive viajando, e ela disse que eu teria adorado, e combinamos de ir juntas na próxima vez que o ator voltar a Porto Alegre.

Aí eu contei o que fiz durante essa viagem que me impediu de estar com ela no teatro, e vimos as fotos juntas. Então foi a vez de ela me apresentar o novo disco da Lady Gaga (pelo celular), e ela me convenceu de que existe muito preconceito com essa cantora que, em sua opinião, é revolucionária, e eu escutei umas sete músicas e não gostei tanto assim, mas reconheci ali um talento que eu estava mesmo desprezando. Então foi minha vez de tocar pra ela uma música que eu adoro e ela fez uma careta, e concluí que a careta era eu. E rimos de novo, e conversamos mais um tanto, e então fomos para a cozinha comer um resto de salada de fruta que estava a ponto de estragar naquela geladeira sem vida, já que a luz ainda não havia voltado.

Será que não havia voltado mesmo? Engraçado, fazia tempo que não passava uma tarde tão luminosa.

Quando por fim a luz voltou, voltei também eu para o computador, e voltou minha filha para seu Facebook, e só o que se escutava pela casa era o barulho das teclas escrevendo para seres invisíveis – falávamos com quem? Com o universo alheio.

E tive então um insight: tem, sim, coisa mais xarope do que faltar luz. É ficarmos reféns da tecnologia, deixando de conversar com quem está ao nosso lado. Se é preciso que a energia elétrica seja cortada para resgatar a energia humana, que seja, então. Não em hospitais, não em escolas, mas dentro de casa, uma horinha por semana: não haveria de causar um estrago tão grande. Se acontecer de novo, prometo não reclamar para a CEEE, desde que não demore tanto para voltar a ponto de estragar os alimentos na geladeira e que seja suficiente para me alimentar da clarividência e brilho de um bom papo.

O que me disse a flor - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 15/12

A flor tem a delicadeza encantadora de uma obra de arte. Mas que não foi feita por nenhum artista


Durante um passeio pela avenida Atlântica, sentei-me sob uma das árvores que há ali, próximo aos edifícios, quando, ao meu lado, no banco, caiu uma flor amarela, igual a muitas que estavam ali no chão.

Peguei-a e tive uma surpresa ao olhar para dentro dela, côncava como um cálice. É que o fundo do cálice era de cor lilás intenso e, do centro dele, erguia-se um pistilo que parece um requinte decorativo posto ali para me encantar. Mas, encantar a mim que, por acaso, peguei essa flor? A flor, suas cores, seu pistilo têm a delicadeza encantadora de uma obra de arte. Mas uma obra de arte que não foi feita por nenhum artista, por ninguém.

Observo ainda que o pistilo é constituído de pequenos anéis feitos de uma matéria semelhante a pluma e lindamente completado por quatro fios também lilases. Que capricho, que harmonia em tudo aquilo! A natureza cria beleza para si mesma? A beleza é natural a tudo o que ela cria?

Certamente, você dirá que ela cria também bichos horríveis e repugnantes. É verdade, mas isso torna ainda mais incompreensível o esplendor das coisas belas que ela cria. E, no caso dessa flor, do pistilo dessa flor, fascinou-me o esmero, o capricho, a delicadeza das pequeninas rodelas de pluma amarela, que pareciam ter sido feitas com o deliberado propósito de fascinar. Mas a quem? Mas por quem?

O que eu desejo transmitir a vocês, nesta crônica, é o espanto de que fui tomado, naquela tarde, ao descobrir essa flor. E havia dezenas delas pelo chão, algumas já murchas, outras esmagadas pelos pés dos transeuntes, num desperdício de belezas. Será mesmo um desperdício? Não, ela é assim mesmo em tudo ou quase tudo.

Quando o homem ejacula lança centenas de milhões de espermatozoides, embora apenas um deles tenha a possibilidade de atingir o óvulo e fecundá-lo. Creio que ela pretende, com esse excesso, tornar inevitável a fecundação e o surgimento de outro ser vivo.

Mas meu espanto não para aí. Outro dia, via na televisão um documentário filmado em águas profundas do oceano, aonde a luz do sol não chega. Era um mundo outro, habitado por seres que não sei se devo chamá-los de peixes. Sei que eram estranhíssimos; nadavam, é certo, mas suas nadadeiras eram algo nunca visto, de uma matéria transparente, flexível, que mudava de cor a cada instante.

Tinham cabeça, boca? Não sei. E quase todos traziam consigo antenas em cuja ponta uma pequena lâmpada acendia e apagava. São próprios àquela outra dimensão do planeta, onde se criam outros seres, outras vidas, outra beleza.

Eram peixes? Eram flores? Eram ficção? É que, como no caso da flor amarela que me caiu no colo, eram criações poéticas da natureza. Pois é, ando ultimamente grilado com esses exageros da natureza que não sei explicar. Na verdade, a realidade do mundo excede qualquer lógica. Ou a lógica dele é outra?

Mas não é: já pensou nas descobertas feitas pelos físicos que levaram a descobrir essa maravilha que é o átomo? Fico pensando: descobriram quais partículas constituem o núcleo do átomo e, a partir daí, conseguiram desintegrá-lo. E temos a energia atômica! Não é estranho que seja tudo tão complexo e, ao mesmo tempo, tão bem organizado e que a inteligência humana seja capaz de entender isso?

Gente, quando faço essa pergunta, lembro-me de que o universo é constituído de bilhões e bilhões de galáxias, constituídas, por sua vez, de quatrilhões de sóis. O sistema solar a que pertencemos é quase nada nesse universo infinito. E nosso planeta, que importância tem? Um grãozinho de poeira. E nós, seres humanos, menos que um grãozinho de poeira nessa imensidão. Não obstante, conseguimos pensá-la.

Nelson Mandela é o exemplo incontestável de que não é a raça nem a cor da pele que define as qualidades do ser humano.

Quero deixar consignado a perda, que significou, para a arte brasileira, a morte --faz algumas semanas-- do pernambucano Gilvan Samico, um dos mais importantes artistas plásticos brasileiros. Inspirado na gravura popular nordestina, Samico, preservando-lhe a poesia original, soube dar-lhe a qualidade de grande arte. Perdemos, com sua morte, um artista e um ser humano exemplares.

Ajoelhado no milho - HUMBERTO WERNECK

O Estado de S.Paulo - 15/12

Vieram me dizer que dei muito mau exemplo à juventude ao contar aqui um episódio em que passei de ano graças ao condenável expediente da cola. Admito que errei - e me ponho de joelhos sobre grãos de milho: Jovens do Brasil que me ledes, não coleis de mim se eu vier de novo a me gabar de haver praticado alguma vilania, estudantil ou não! Melhor fora ter contado a história edificante de meu irmão Otávio: tanto se empenhou ele no preparo de uma cola, que aprendeu a resolver todos os 45 problemas de geometria a serem sorteados no exame. Um tanto frustrado, em vez de fazer a prova o Otávio entregou a esmerada cola à dona Reine, que lhe deu nota 7.

Isso posto, aproveito a genuflexão purgatória para relatar outros malfeitos, na esperança de que sejam tomados como exemplos a jamais seguir. Como aquelas retorcidas carcaças de automóveis que o Detran espalhou por São Paulo, anos atrás, para servirem de advertência aos motoristas imprudentes.

Uma de minhas carcaças assinala o ano em que, aluno do ginasial, eu vivia em escaramuças com a dona Aline, professora de francês, a qual tinha por mim escancarada antipatia, no que, diria o Antônio Houaiss, era amplamente reciprocada. Frangote com fumaças literárias, eu achava intolerável a capacidade que tinha a criatura de esvaziar de qualquer resquício de beleza obras-primas como o poema Le lac, de Lamartine, por ela reduzido a um amontoado de morfemas e semantemas.

O sentimento da professora em relação ao petulante pirralho se devia talvez ao fato de que, tendo passado por uma escola primária onde se ensinava francês, eu tirava de letra o que ela teria a oferecer aos ginasianos, principiantes no idioma. Mais de uma vez fui posto para fora da aula por comportamento inconveniente, mas na hora da prova me saía bem. Um dia, porém, dei a dona Aline a impressão de que ela finalmente me apanhara.

Sentado no miolo da sala, eu dividia o olhar entre a folha da prova e, de esguelha, a mão esquerda em concha. Lá na frente, a professora flagrou o movimento suspeito - e veio vindo entre as fileiras, como quem não quer nada, até chegar à minha carteira e, num bote de cascavel, agarrar a mão que mal tive tempo de fechar. Meninos, trombeteou, vejam a desonestidade do colega de vocês! E me ordenou que abrisse a mão. Abre! Não abro! - até que aceitei abrir, expondo, para delírio da assanhada patuleia em torno, o que havia escrito na palma da mão: CURIOSA!

Propagada em cada canto do colégio, a travessura não contribuiu para melhorar a reputação do aluno que, no ano seguinte, se envolveria em algo mais sério. Dessa vez, com a professora de português, a querida Maria Lúcia Lepecki, de quem, dissolvidas as brumas do entrevero, vim a ser amigo, numa camaradagem alimentada pelos muitos encontros que tivemos em Lisboa, onde ela viveu a maior parte de sua vida.

Adolescente chato, eu tinha o hábito de fazer perguntas que desafiavam o saber da mestra, pouco mais velha que os alunos, e numa dessas, depois de me expulsar da sala, ela caiu em prantos.

Foi o que bastou para alimentar versões mirabolantes do acontecimento, a tal ponto que as aulas foram suspensas e os professores se reuniram para decidir que punição dar ao mau elemento - o qual, alarmado, ficou rodando pelo bairro até tomar coragem de encarar a expulsão que certamente o aguardava.

Já me encaminhava para o sacrifício quando, a 10 metros de onde se aglomeravam os professores, vi um dos inspetores de disciplina, o Luís, erguer um dedo justiceiro. Juro que não premeditei a cena que se seguiu.

"Um momento, por favor!", bradei. "Reconheço o meu erro, assumo a responsabilidade e me suspendo por 15 dias!" Sem dar tempo a reações, bati em retirada, deixando no ar o dedo do Luís. O lance de audácia me valeu a simpatia de professores em número suficiente para evitar a expulsão. Nem por isso escapei da reprovação em quase todas as matérias.

Homem de palavra, cumpri a suspensão que me havia imposto, e passei duas semanas longe do colégio, ou não tão longe assim, a três quarteirões dali, na piscina do Minas Tênis Clube.

A parte branca do biquíni - FABRÍCIO CARPINEJAR

ZERO HORA - 15/12

O verão é perturbador.

A nudez da mulher muda com a praia e a piscina.

Ela passa a ter uma calcinha na pele. Quando transar, terei duas calcinhas para tirar.

Se uma já era boa, duas são insuportavelmente excitantes. É a tara masculina saciada em dobro.

Você vai baixar a primeira de renda com as mãos e outra com os olhos.

Preste atenção, aproveite a temporada. Só nos meses quentes para contar com strip-tease duplo de sua esposa.

Irresistível a marca de biquíni que ela deixa para mim. Sua pele branca somente reservada para minha adoração.

É o mapa do pecado, é a geografia do desejo, é o país da lascívia.

Fortalecendo a morenidade de minha mulher, o sol me ajuda, é meu cúmplice de alcova. O sal e o mar colaboram colorindo o corpo e me separando a tez imaculada.

Abençoo o contraste. A parte branca do biquíni significa um presente marítimo, uma concha inteiriça e de som infinito que erguemos do rebuliço das águas.

Eu entendo e respeito quando ela fica horas torrando na cadeira. De bruços, de frente, de lado, seguindo os raios com a lealdade dos reflexos dos óculos escuros. Não reclamo do seu isolamento, não digo que é perda de tempo, não vejo como imolação, não recrimino com piadas sexistas, não zombo da dedicação.

Pelo contrário, agradeço sua generosidade comigo. Levo cerveja gelada, caipirinha e protetor reserva para prolongar seu tempo de exposição. Busco toda coisa que deseje. Ela tem direito a sonhos de grávida, a excentricidades de grávida. Não considero nenhuma regalia absurda perante o prazer que encontrarei de noite.

Eu me torno seu cooler, seu isopor, seu guia do deserto, seu pajem. Altero a direção dos ventos, sopro tempestades para longe, abro frestas nas nuvens com o poder do pensamento. Combato o que pode atrapalhar seu dia iluminado e claro.

Conheço o valor de minha recompensa, prevejo a extensão da dádiva.

Não é o bronzeado que me alucina, é onde ela não se bronzeou. É onde ela se guardou para mim.

A parte branca do biquíni vale qualquer esforço, qualquer sacrifício.

A parte branca do biquíni é uma cobiçada ilha após a natação dos braços.

Sem querer esnobar, eu entro onde nem a luz tem permissão.

Olé! - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O ESTADÃO - 15/12

Las Ventas, em Madrid, é a “plaza de toros” mais importante da Espanha. Estivemos lá há alguns anos, na companhia do fantasma do Goya. A série de gravuras intitulada Tauromarquia do mestre foi inspirada nas “corridas” de touros. Ninguém melhor do que ele para guiar nossos passos pela arena vazia. Goya dizia que tinha sido toureiro na juventude, mas não existe nenhuma evidência disto. O ponto de vista das suas gravuras de touradas é sempre no chão.

O artista está dentro da arena, talvez para comparar a destreza da sua arte com a dos toureiros. As cenas são de ação, mas ao mesmo tempo têm uma certa solenidade estática, uma consciência de que significam mais do que mostram. Touros e toureiros ocupam um espaço despojado, distante de qualquer realidade reconhecível, como símbolos sobre um palco nu.

Símbolos de quê? Velha questão. O touro representaria a natureza bruta, o que não tem regras, o instinto, em contraste com os movimentos ritualizados e a razão aplicada do toureiro. Como o resultado deste encontro de opostos é sempre a morte – do touro certamente, do toureiro possivelmente – ele tem um caráter de definição final, uma forma extrema de despojamento. Num rude esporte popular, repudiado pelas pessoas sensíveis do seu tempo e das suas relações, Goya retratava uma reincidente dramatização da divisão da alma espanhola entre emoção e controle, paixão e forma. Ou não.

Ernest Hemingway lançou seu livro sobre touradas, Death in the Afternoon, em 1932, antes da Guerra Civil espanhola e da construção de Las Ventas e não muito depois do governo ter decretado que os cavalos usados pelos picadores fossem protegidos das corneadas do touro, para evitar o que o público não espanhol considerava a parte mais repugnante do espetáculo, as vísceras dos cavalos despejadas na arena. Os cavalos não morriam mais, mas o sanguinário Hemingway não concordava muito com estes pruridos.

No seu livro, ele compara o gosto pela tourada com o gosto pelo vinho. Para o iniciante, o que atrai na tourada é o pitoresco e o supérfluo, o que equivale a uma preferência por vinhos suaves. Só com o tempo a pessoa começa a distinguir o essencial da tourada do meramente pictórico, assim como só com tempo se adquire o paladar para um denso e profundo “grand cru”. O essencial da tourada é a tragédia ritualizada, e para que esta fosse completa as vísceras na areia eram necessárias. Hemingway comparava o horror dos turistas com os cavalos eviscerados a uma renitente queda por frisantes menores.

Na praça em frente a Las Ventas há uma estátua curiosa, de um toureiro reverenciando Alexander Fleming, o inventor da penicilina. Milhares de toureiros devem a sua vida a Fleming, pois antes da penicilina, a maior causa de morte entre eles não era a chifrada do touro, mas as bactérias introduzidas no organismo pelo chifre. Eu tinha chegado a Madri literalmente tomado por uma reação alérgica a um antibiótico receitado para a sinusite. Troquei toda a minha pele. Saí da Espanha outro homem, pelo menos na superfície.

Tudo porque não notei que o antibiótico ingerido continha a invenção do Dr. Fleming, à qual sou alérgico. Só o respeito a tantas vidas poupadas me impediu de sair correndo e dar um pontapé na estátua.

O futuro do futebol - JOÃO UBALDO RIBEIRO

O GLOBO - 15/12

Itaparica sempre marcou presença no futebol nacional e aí está Obina, que não me deixa mentir. Quando eu era jovem, no distante século passado, cheguei a envergar a gloriosa camisa 2 do São Lourenço, sob a alcunha de Delegado, a mim aposta pelo técnico Hélio Gaguinho em alusão a meu eficaz policiamento da grande área — beque direito de recursos talvez limitados, mas aplicadíssimo. Nessa época, o campeonato da ilha era aguerridamente disputado por diversos times hoje legendários, que protagonizaram epopeias futebolísticas inesquecíveis pelo Recôncavo afora, como por exemplo a que envolveu meu saudoso amigo Vavá Paparrão, na condição de ponta-direita do Esporte Clube Ideal, enfrentando, em contenda decisiva, na casa de um adversário que jogava pelo empate, a por todos respeitada equipe da Associação Atlética São Bartolomeu de Maragogipe. Não estive presente no episódio, mas ouço relatos desde pequeno.

São dessas histórias do futebol e do grande atletismo. Logo no começo do primeiro tempo, Paparrão recebeu um lançamento em profundidade de Waltinho Filósofo, à altura da intermediária, dominou o balão de couro, fechou para o centro, traçou um, traçou dois, traçou três, traçou quatro e arremessou rasteiro de canhota, sem chance de defesa para o famoso guarda-vala maragogipense Carrapato, que ainda mergulhou na direção do esférico, mas não viu nem a passagem dele. Foi um delírio na torcida, com invasão de campo e tudo mais. Inconformada, a agremiação da casa passou a perseguir Paparrão com violência por toda a cancha, encorajada pela conivência de Sua Senhoria, que fazia vista grossa e mandava seguir o jogo, sem ligar para Paparrão contorcendo-se em dores no gramado.

Não adiantou, porque, como o gigante Anteu, que se erguia revigorado de cada queda ao solo, Vavá se levantava para de novo infernar a defesa adversária. Terminou marcando mais um gol e dando um passe açucarado para Bertinho Penico fazer o terceiro no apagar das luzes, uma vitória esmagadora. Festa na delegação itaparicana, Paparrão aclamado como o herói da jornada. Mas eis que, ao tentar juntar-se aos que faziam a volta olímpica, ele não conseguiu firmar-se em pé. Para resumir: tinha fraturado a perna em dois lugares, durante o jogo, mas — sabe como é, sangue quente, disputa na raça, o sujeito fica fora de si — só foi notar depois que saiu de campo. Havia diversas testemunhas, mas, infelizmente, todas elas também já se finaram.

No tempo em que o Bahia se concentrava na ilha, todo mundo ia assistir aos craques locais botando os medalhões na roda, notadamente Chupeta. Este, aliás, eu mesmo conheci e tentei marcá-lo diversas vezes, na companhia de meu compadre Edinho. Compadre Edinho é um burro de um homem deste tamanho, seguramente para mais de sete arrobas, e nós dois partíamos em dupla, para marcar Chupeta na praia. Chupeta era desses canhotos, como Maradona, que escondem a bola junto ao pé esquerdo, mas eu tentava fazer com que ele a adiantasse e Edinho jogava um punhado de areia na cara dele. Não adiantava nada e ele sempre passava, do mesmo jeito com que passava por todo o time do Bahia, que, por sinal, tentou levá-lo diversas vezes, mas não conseguiu.

Tudo isto é para mostrar que o debate encetado no Bar de Espanha, no qual se chegou até mesmo à alarmante — e certamente alarmista — sugestão de que o futebol acabou, conta com participantes e plateia à altura da importância do assunto, brasileiros que sabem o que estão dizendo, é bom prestar atenção. Lá dos fundos, mal se vendo de onde ela saía, uma voz roufenha, logo por todos reconhecida, interferiu na discussão.

— O futebol acabou quando acabou o gol de bunda — disse Zecamunista, saindo da sombra e levantando a pala de seu boné da Marinha Soviética. — Todo mundo aqui já viu gol de bunda, alguns até já fizeram, é para curtir com a cara do adversário mesmo, não é esporte? Agora não pode mais. Não pode fazer embaixada, não pode dar dribles supérfluos, Garrincha não ia poder mais, agora só pode jogada politicamente correta! Daqui a pouco vão fazer a lista das jogadas que pode e que não pode! E vão patentear as jogadas, vão vender patrocínios para as jogadas, só quem vai poder fazer é quem o patrocinador autorizar! Vai ter o voleio da Coca-Cola, a cavadinha da Skol e a pedalada da Caloi! Vão regular tudo, vão vender tudo, vão...

— Tenha calma, Zeca, também não é assim.

— É pior! Acabaram com o juiz ladrão! Não pode acabar com o juiz ladrão! Onde já se viu futebol sem juiz ladrão?

— Tenha paciência, não sei como alguém pode defender o juiz ladrão.

— Pois eu defenderei até a morte a preciosa figura do juiz ladrão! Como vão ficar as torcidas derrotadas, no dia seguinte? Quantas vezes a atuação de um bom juiz ladrão evitou uma briga séria ou até um suicídio? Tem que ter juiz ladrão! Agora vão botar máquina para tirar dúvidas e corrigir os erros. Que graça tem isso, empobrece o futebol! O futebol acabou, estão acabando de matar o futebol!

— Exagero seu, as torcidas continuam.

— Continuam, é uma maravilha. O camarada vai ao estádio e recebe uma paulada na cabeça e um chute na barriga. Ou então veste a camisa do time, vai ao boteco e toma um tiro na cabeça. Isto não é torcer por futebol, é esporte radical. Caçar tubarão é mais seguro.

— Já senti que você não vai nem torcer pela seleção, nesta Copa.

— Não, isso eu vou, é uma questão profissional, é a única chance de apostar no Brasil e ganhar.

Rio - FÁBIO PORCHAT

O Estado de S.Paulo - 15/12

Ouçam o que eu estou falando: o Rio Tietê ainda receberá uma Olimpíada. É um rio limpo e cristalino, que, hoje, orgulha os paulistanos e os brasileiros. Um rio que recebe nadadores, remos, crianças e famílias. O Rio Tietê é o rio do Brasil. Esqueçam o Amazonas. Pensem no Rio Tietê! Muita gente fala que ele anda recebendo algum tipo de poluição, mas é mentira. Todo o rio no mundo está sujeito a esse tipo de contaminação natural. Eu disse, natural.

Não é porque ele está recebendo esgoto clandestino em alguns trechos que você pode afirmar que ele inteiro está contaminado. São alguns pontos que recebem o despejo de esgoto ilegal, mas que a prefeitura e o governo já estão tomando as medidas legais para sanar esse tipo de absurdo. Um rio que é a cara de São Paulo, um rio que representa a vida de nossa cidade não pode se sujeitar à podridão de algumas pessoas e empresas que insistem em não respeitar o meio ambiente. É verdade que alguns trechos já não são mais limpos, mas isso é um momento de transição da metrópole como um todo. Toda grande capital passa por transformações e alguns sacrifícios são necessários para o seu desenvolvimento.

É por isso que o Rio Tietê não se encontra mais apto para banho como um todo, mas isso é uma questão de tempo até as autoridades responsáveis começarem a tomar as devidas providências. Uma empresa canadense e uma francesa já começaram a despoluí-lo. Isso pode variar entre um ou dois anos, mas no prazo máximo de três anos, teremos o Tietê de volta. Claro que a burocracia em relação às medidas pode atrasar a data definida mais uma vez, mas ainda há tempo e estamos fazendo de tudo para que isso se resolva.

O fato de hoje o mau cheiro tomar conta dos arredores é uma coisa que incomoda a todos nós, cidadãos, sim, mas cada vez mais estamos correndo contra o tempo para resolver o problema. Hoje é um rio sólido, com dejetos naturais e industriais, um rio químico que não tem mais vida, onde a água não tem mais oxigenação, mas existe uma série de tratamentos possíveis para revertermos esse quadro e isso já está na pauta para as próximas reuniões de governo. Pode não ser durante esse mandato, mas com certeza pro próximo teremos um Tietê já pronto pro futuro.

Uma empresa espanhola e uma australiana já começaram a despoluí-lo. Eu afirmo que, hoje, mesmo com os alagamentos, e as doenças que ele transmite, o Rio Tietê tem esperança. Uma empresa japonesa e uma alemã já estão trabalhando para despoluí-lo. Ele estará limpo em pouco tempo! Claro que o fato de pensarmos em cobrirmos o Tietê com concreto, não o inutiliza como rio em si, mas, sim, prepara-o para o futuro, como um alargamento das Marginais. Se, hoje, já não existe mais o Tietê, é porque o rio não soube se adequar a essa cidade e não soube se transformar, como todos nós. O Rio Tietê foi um rio e um rio maravilhoso! Secou, sumiu, mas nunca será esquecido, porque deu lugar a essa enorme avenida. Uma salva de palmas ao Rio Tietê que desde 2014 nos deixa saudades.

Ueba! Obama dormiu no tanque! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 15/12

E o Obama arrastou asa pra loira, a primeira-ministra da Dinamarca! E a Michelle: 'Vou matar essa vadia'


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta: "Galinha se confunde e choca pães de queijo em lugar de ovos, em Varginha, Minas". Tadinha, gente! Deve ser a galinha do Aécio! Desorientada!

Outra piada pronta: "Deputado é vítima de ladrões em Brasília". Isso não é furto, é restituição! Os ladrões, em vez de gritar "passa o seu dinheiro", gritaram: "Devolve o nosso dinheiro". O deputado é o Givaldo Carimbão, do partido PROS! PROStíbulo! Rarará!

E corre na internet um vírus: "Seu cartão foi cronado". O hacker não fez Enem! "O cartão foi cronado em Frorianóporis na estreia do filme CRÔ?!" Rarará!

E o funeral-babado do Mandela?! E o aerobusão da Dilma: Sarney, Collor, FHC e Lula. Não sei como o avião não entrou num buraco negro. Seria o primeiro milagre do Mandela. Rarará!

O Lula foi cantando o hino do Corinthians e batendo na lataria do avião! O FHC ficou irritado porque as pantufas não eram do Ralph Lauren. O Collor, com aquela respiração de Darth Vader! E o Sarney: "O funeral é meu? Fui eu que morri?". Rarará. E o problema não é eles terem ido, o problema é eles terem voltado! Rarará!

E o Obama? O Obama causou no funeral do Mandela! Cumprimentou o Raúl Castro e deixou o mundo estarrecido. São civilizados. Não é Vasco e Atlético PR. E arrastou a asa pra loira, a primeira-ministra da Dinamarca! E a Michelle: "Vou matar essa vadia". Rarará.

Dá na cara da perua, Michelle! O Obama dormiu com couro quente! O Obama dormiu no tanque. O Obama dormiu no tapete do Salão Oval e acordou com aquele "w" de welcome estampado na bochecha! Rarará! O Obama se comportou como todo mundo em funeral: cumprimentou o adversário, beijou a Dilma, azarou a loira e contou piada! Pior uma amiga minha que foi a um velório e deixou o celular cair dentro do caixão! Rarará!

E o Tapetão no Brasileirão! O apelido do Fluminense é Aladim, vive no tapete! O Fluminense pegou um semiaberto! Dorme na segunda, mas joga na primeira!

E o internauta @impedimento: "Sugiro um novo regulamento pro Brasileirão, começa no tapetão e em caso de empate vai pro campo!" Rarará! Turma do Tapetão: Vasco e Fluminense. VASFLU!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Embrutecimento - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O GLOBO - 15/12

Não sei se já nasceu o movimento ‘Fernanda Lima 2014’, com vistas à próxima eleição presidencial, mas me parece uma iniciativa natural



Sabe qual foi a primeira coisa que eu pensei vendo aqueles animais trocando socos e pontapés no estádio, chutando a cabeça de “inimigos” caídos e só não se matando por falta de armas, salvo pedaços de pau? As lutas de “ultimate fighting” na TV. Nada a ver, eu sei. Uma coisa é um espasmo coletivo de irracionalidade, a outra o enfrentamento de dois lutadores preparados, com força equivalente e regras estabelecidas. O que aproxima as duas coisas é a estupidez. A mesma estupidez que parece dominar essa assustadora arena de insultos e ameaças que é a internet e que, cada vez mais, no Brasil, também domina o debate politico e jornalístico, em que termos como “idiota” são muitas vezes os mais suaves que se ouve ou que se lê. O clima é de embrutecimento generalizado. Chutes na cabeça, reais ou figurados, são legitimados pelo clima.

Falemos, pois, das amenidades restantes. Da Fernanda Lima no sorteio das chaves para a Copa, por exemplo. Da sua simpatia, da sua competência, do seu inglês perfeito, do seu decote. Não sei se já nasceu o movimento “Fernanda Lima 2014”, com vistas à próxima eleição presidencial, mas me parece uma iniciativa natural. Já elegemos uma mulher para a Presidência da Republica, o próximo passo lógico seria eleger um mulherão. Onde é que eu assino?

Formidável, também, foi o cara que se apresentou para interpretar para surdos os discursos em homenagem ao Mandela e, literalmente, não sabia o que estava dizendo. Inventou uma linguagem de sinais própria, uma espécie de paródia da linguagem verdadeira, e teve seus minutos de glória internacional ao lado dos oradores. Dizem que ele só foi descoberto porque alguns surdos protestaram, não tinham entendido nada dos discursos. Um chegou a dizer que não podia afirmar com certeza, mas achava que o falso intérprete tinha, sem querer, insultado a sua mãe.

A Oscar é top - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 15/12

A debandada das grifes internacionais de alto luxo para shoppings muda a cara da tradicional rua Oscar Freire, que ganha lojas populares e vira ponto turístico para compradores de todas as classes e bolsos


Habituado a receber em seu restaurante estrelas como Neymar, Bruno Gagliasso e Reynaldo Gianecchini, o dono do Paris 6, Isaac Azar, tem vivido dias de celebridade. "Clientes de outras cidades e estados pedem até para tirar foto comigo e postar no Instagram", conta ele à repórter Marcela Paes, sobre os turistas que circulam pela região da Oscar Freire, nos Jardins, para compras de Natal.

Juscelino Pereira, dono do restaurante Piselli, na rua Padre João Manuel, diz que a área sempre atraiu visitantes --mas nota agora maior fluxo de pessoas do interior, de gaúchos e de nordestinos. Que chegam e encontram uma Oscar Freire diferente.

A zona nobre de comércio dos Jardins está vendo ícones do consumo de luxo internacional serem paulatinamente substituídos por grandes nomes do varejo nacional. Inaugurada em novembro em umas das esquinas mais valorizadas do pedaço, a loja-conceito da Riachuelo, por exemplo, é a unidade da rede de moda que mais vende por metro quadrado no país.

"No Brasil querem fazer shoppings separados para ricos, classe média e populares. Isso é obsoleto. Vamos mostrar que moderno é a sinergia entre as classes", explica Flávio Rocha, presidente do grupo Riachuelo. A clientela AAA não é mais tão visada. "O público com potencial comprador de fato é o B. Não é mais o A, que entra num avião e compra lá fora."

Val Marchiori, famosa pela participação no programa "Mulheres Ricas", sente-se abandonada pelas grifes internacionais que debandaram da região. "Nós, moradores, ficamos carentes! Não gosto mais de passear aqui como antes", diz ela.

Val conta que adorava ser vizinha da Dior, por exemplo, que foi parar no shopping Cidade Jardim --a exemplo de Cartier e Giorgio Armani, que também migraram. "Vamos fazer uma campanha para outras lojas internacionais virem para a nossa amada Oscar Freire", conclama.

"Acho que perdeu o luxo. Lembro de lojas da Tommy Hilfiger e da Armani. Agora só vejo loja de sapatos!", critica o arquiteto gaúcho Ildo Silva, 51, que mora em Porto Alegre e frequenta a área há mais de dez anos.

Já a empresária Fatima Moriz contabilizava gastos em torno de R$ 4 mil na Riachuelo e em outras lojas na semana passada. "A gente vem aqui porque parece Nova York", dizia ela ao lado das filhas, Ana Sara, 15, e Alana, 11.

Frequentadora do comércio nos Jardins, a blogueira e estudante de direito Luisa Meirelles, 21, de Vitória (ES), quer fazer bonito para as leitoras na internet. "A Oscar Freire tem mais referência de moda que um shopping. As pessoas se arrumam para vir aqui. Me inspiro no street style' (estilo de rua)."

Karla Souza e Isabel Bocchese vieram de Cuiabá com um grupo de amigas para uma viagem cultural, gastronômica e de consumo a SP. "A gente adora fazer exposição da figura!", brincava Karla, sem se importar com a longa fila de espera em um restaurante. "Em Cuiabá é muito calor, não dá para ficar batendo perna na rua", emendava Isabel.

Um homem passa fazendo cooper e uma delas diz: "Em shopping com ar-condicionado não tem isso! Um deus grego desfilando!".

Há também moradores que gostaram da chegada das lojas de perfil mais popular. "Elas estão tentando ganhar um refinamento, fazer uma linha mais chiquezinha para se estabelecerem na área. Acho ótimo!", diz a advogada Cláudia Freitas, 48, que vive no bairro há 20 anos. Sua mãe, Lourdes, acredita que a falta de segurança e o preço dos imóveis ajudaram a espantar grifes badaladas.

O corretor Adriano Gomes, da imobiliária Moisés Gomes, confirma que os aluguéis subiram e espantaram antigos lojistas. O resultado são vários pontos vazios e uma rotatividade grande de negócios que abrem e fecham. Numa esquina pode ter uma loja alugada por R$ 25 mil ao mês e R$ 700 mil de luva. Enquanto em outra, o aluguel pedido é de R$ 40 mil, com luva de R$ 2 milhões.

"Quando os proprietários de imóveis morrem, assumem os herdeiros, que têm um pensamento de business. Aí, eles querem ganhar o máximo que podem", relata o corretor. "Só as grandes redes e empresas têm como arcar com o custo daqui."

Um novo empreendimento tenta oferecer às grifes atrativos e a segurança perdida. O Cidade Jardim Shops, da JHSF, se instalará entre as ruas Haddock Lobo, Sarandi e Vittorio Fasano, em 2015. Com área em torno de 5.000 m² e aproximadamente 50 lojas, o espaço tentará reproduzir o ambiente a céu aberto da rua, mas com a atmosfera de shopping tão cara aos consumidores paulistanos.

"Será uma nova opção para clientes que estão no footing' (caminhando) dos Jardins, mas preferem a segurança e conforto do shopping", diz Robert Harley, diretor do futuro centro de compras.

Sofisticada e exclusivista ou mais popular e acessível, a Oscar Freire permanece como "point". E mesmo aqueles que não têm o intuito principal de comprar veem o destino como um dos melhores programas para se fazer na capital paulista.

"A Oscar Freire não pode faltar na nossa lista", diz o bancário Peterson Ramos, que veio em turma de Belém (PA) para uma festa gay na casa noturna The Week. "Passear aqui é indispensável. Tem muita gente bonita."

"Luxo é uma palavra que ficou brega", diz Rosangela Lyra, presidente da Associação dos Lojistas da Oscar Freire. Ela dá ao antigo "quadrilátero do luxo" (das ruas Oscar Freire, Haddock Lobo, Bela Cintra e alameda Lorena) até outro apelido: "Preferimos quadrilátero do charme".

Eduardo sai do isolamento - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 15/12

O presidente do PPS, Roberto Freire, vai amanhã ao governador Eduardo Campos (PE) formalizar o apoio à candidatura do socialista ao Planalto. O PPS travou duro debate interno. Nunca antes políticos de outros partidos haviam participado de suas conferências regionais. Isso ocorreu agora. Derrotados, os aliados do PSDB ainda tentaram lançar Soninha Francine para impedir que o partido se alinhasse ao PSB.

Reencontro histórico
Um grupo de dirigentes do PPS está apostando na candidatura de Eduardo Campos (PSB) desde o rompimento deste com o PT nas eleições municipais de 2012. Esse grupo, que não vê futuro mantendo-se caudatário do PSDB, venceu o embate interno. Ele aposta em nova polarização política no país. Roberto Freire, depois da decepção com José Serra, abraçou essa proposta. A aliança do PPS com o PSB retoma uma parceria inaugurada com a Frente do Recife, em 1955. Nesse ano, o então PCB apoiou para a prefeitura o socialista Pelópidas da Silveira e, depois, Miguel Arraes (1960). Os ex-comunistas e os socialistas ainda elegeram Arraes governador (PE), em 1963.



"Hoje nós temos 89 dos 513 deputados. Já imaginou, Dilma, se fossem 300? Você ia comer o pão que o diabo amassou"
Lula
Ex-presidente, em discurso na abertura do 5° Congresso do PT

Supremo varejo
O PSDB de São Paulo já obteve liminar do Tribunal de Justiça. Mesmo assim, o presidente regional tucano, Duarte Nogueira, pretende bater às portas do STF para impedir que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, reajuste o IPTU.

#tamojunto
Lançado pela Secretaria dos Direitos Humanos, o "Manifesto Brasil sem Preconceito" ganhou a adesão de dezenas de personalidades, como Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Ney Matogrosso e Beth Carvalho. É um abaixo-assinado para que o Senado aprove projeto que criminaliza a homofobia e todas as formas de preconceito.

A prioridade
O PT quer, pela primeira vez, eleger um governador no Sudeste. Mas sua prioridade é fortalecer sua bancada no Senado e eleger cem deputados. Os petistas buscam ter maior poder de fogo no Congresso.

Apostando nos magoados
O presidenciável Aécio Neves (PSDB) e emissários tucanos conversaram com Eunício Oliveira (PMDB), candidato ao governo do Ceará, sugerindo composição com Tasso Jereissati ao Senado. Houve proposta também a Renan Calheiros de apoio a Renan Filho em Alagoas.

O PMDB cai na rede
Após pesquisas em nove capitais, o PMDB vai criar um instrumento de interação com as redes sociais. O presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Eliseu Padilha, diz que o partido colocará "um exército na rede nos 27 estados".

Reflexão petista
O ministro Marco Aurélio Garcia nadou na contramão dos petistas no 5° Congresso: "Os partidos mais importantes de esquerda, quando não fizeram reflexão sobre seus problemas internos, sofreram processo de degeneração".

A PRESIDENTE DILMA e o seu entorno ficaram preocupados com o tom raivoso e radical dos militantes no Congresso Nacional do PT.

Conflito de interesses - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 15/12

Principal cotado para assumir o Ministério do Desenvolvimento, Josué Gomes da Silva (PMDB) tem a BNDESPar como acionista minoritária de sua empresa, a Coteminas. A holding do BNDES, vinculado à pasta, é detentora de 9,84% das ações da firma, segundo dados registrados na Bovespa. Atualmente, o titular do ministério, Fernando Pimentel, ocupa a presidência do conselho de administração do banco. Além disso, a Coteminas já recebeu financiamentos do BNDES.

Recordar... Integrantes do governo que defendem a ida de Josué para a pasta já têm a informação em seus radares e lembram que a situação remete à de Luiz Fernando Furlan, que se afastou da Sadia para assumir o cargo de ministro no governo Lula.

... é viver Na época, em 2005, ele estava à frente do conselho do BNDES quando o banco barrou um pedido de financiamento apresentado pela Sadia, empresa que havia presidido e que era comandada por seus parentes.

Pressa Alexandre Padilha (Saúde) já fez chegar a Dilma Rousseff que prefere deixar o ministério em janeiro, como estava programado antes de outros ministros começarem movimento para ficar no governo até março.

Tô voltando Nos fins de semana, Padilha e a mulher já se dedicam a empacotar os livros, que estão sendo levados para seu apartamento na rua Avanhandava, na Bela Vista, famosa pelas cantinas.

Timing E apesar da resistência de Fernando Pimentel, o PT também trabalha com sua saída do Ministério do Desenvolvimento até o fim de janeiro para tocar sua candidatura ao governo de Minas.

Migração Sem espaço para ser candidata ao Senado pelo PT catarinense, Ideli Salvatti (Relações Institucionais) pode ser transferida na reforma para a Secretaria de Direitos Humanos, no lugar de Maria do Rosário.

Perspectiva Com a iminente decisão do Banco Central americano de retirar os incentivos para o mercado local, o Planalto já trabalha com a possibilidade de uma intensa volatilidade do dólar a partir de janeiro, podendo afetar os índices de inflação.

Clima 1 A pressão pública do governo brasileiro sobre a França para acelerar o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, durante a visita de François Hollande, serviu para criar um "constrangimento calculado" entre os dois blocos.

Clima 2 O Brasil fez questão de jogar a responsabilidade de volta para os europeus, que no início do ano criticaram o Mercosul pelo atraso da apresentação de propostas para o acordo.

Prova Assim como Dilma, Hollande também sofre críticas de empresários em seu país. Ao receber uma medalha da Fiesp, disse: "Vou mostrar a todo mundo na França para provar que eu defendo a indústria francesa".

União O novo presidente do PSOL, Luiz Araújo, vai conversar com dirigentes do PSTU nas próximas semanas para tentar construir uma inédita aliança de esquerda em torno da candidatura do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) à Presidência.

Em casa Pesquisa do PSOL no Amapá, reduto de Randolfe, mostra o socialista em segundo lugar no Estado, com 25% das intenções de voto, atrás de Dilma (46%). Aécio Neves (PSDB) tem 10% e Eduardo Campos (PSB), 6%.

Submerso Geraldo Alckmin (PSDB) lança terça-feira o edital de licitação do túnel marítimo que ligará Santos ao Guarujá, uma das obras prioritárias de sua gestão, orçada em R$ 2,4 bilhões.

Tiroteio

Os tucanos dizem que o Judiciário não age politicamente. Agora que o trem pagador do PSDB chegou ao STF, é hora de provar a tese.

DO PRESIDENTE DO PT-SP, EMIDIO DE SOUZA, sobre o envio ao STF do inquérito que apura denúncias de corrupção em obras de trem e metrô no governo de SP.

Contraponto

Beleza não põe a mesa

Durante discurso na abertura do 5º congresso do PT, em Brasília, na última quinta-feira, Lula falava sobre o que ele classifica como "preconceito" e "medo" de setores do eleitorado de votar no PT.

O ex-presidente chamou a atenção para vitória do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, em 2012, quando militantes gritaram na plateia:

-Lindo!

Lula, então, respondeu:

-Lindo, né? Ninguém quer saber se ele é lindo! Querem saber se ele é do PT!

Pingos nos is - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 15/12

Diante da vontade dos integrantes da Rede de Marina Silva em balançar a aliança para ver se muda a chapa, o vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, avisa: “Está tudo bem entre Eduardo e Marina. Quando ela entrou no PSB, o partido tinha um candidato a presidente. Ela não telefonou apenas para o presidente do PSB, telefonou para o candidato do PSB. Essa história de desestabilização da aliança só interessa ao PT e ao PSDB. Não cairemos nessa”, diz ele. E as conversas com Aécio? “Temos a política da boa vizinhança. A eleição vai se dar em dois turnos. E a característica dos dois turnos é a de que alguém apoia alguém. Uma campanha contra o Aécio nos traz dificuldade com o eleitorado dele.”

Moral da história: Se depender de apoios expressivos para vencer a eleição num possível segundo turno no ano que vem, Dilma Rousseff terá um mar de dificuldades. Pelo que se vê, 2014 não repetirá as três últimas eleições, quando quem levou a melhor em termos de apoio no segundo turno foi o PT de Lula e de Dilma.

Sem chance
O medo do governo de que deputados e senadores tirem da cartola algum projeto capaz de ampliar as despesas públicas faz com que os líderes governistas deixem de lado qualquer perspectiva de votação de temas polêmicos na última semana de funcionamento do Congresso. A ordem é votar o Orçamento e ponto.

Vai desidratar
Embora Paulo Skaf, da Fiesp, apareça à frente de Alexandre Padilha nas pesquisas, os petistas consideram que ele perderá pontos para o atual ministro da Saúde, que atualmente está longe do percentual que caracteriza a largada do PT no estado.

Quem cala...
Aqueles que encontraram Aécio nas festas de confraternização dos políticos em Brasília ficaram meio desconfiados quando ele disse a integrantes da base do governo Dilma: “Agora é a minha vez. O povo quer mudança”. Nenhum governista dito aliado era capaz de erguer a voz para defender a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Ficavam dentro do velho espírito do “quem cala, consente”.

Lula e Gilmar Mendes
Passado o julgamento do mensalão, Lula e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes tiveram encontro no Rio de Janeiro neste fim de semana. Calma pessoal. Foi só um oi na festa de casamento da filha de um amigo em comum.

O jovem da turma
O senador José Sarney, do PMDB-AP, não conseguiu esconder a satisfação de viver o momento histórico ao lado dos outros ex-presidentes e Dilma Rousseff. Nem tanto pelas presenças. O que mais empolgou o ex-presidente foi subir os cinco lances de escadas até o camarote das autoridades no estádio. “Descobri que estou em forma, mesmo depois de uma costela quebrada!”, vibrou ele, segundo relatos.

Histórias do Rio I
Quando era candidata a presidente, Dilma Rousseff foi visitar o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e ficou encantada com a Gávea Pequena, a residência oficial, no meio da Floresta da Tijuca. “Se eu for eleita, vou requisitar esta maravilha.”

Histórias do Rio II
Na hora, a mulher de Paes respondeu: “É bom saber! Assim, ninguém aqui em casa vai votar na senhora!”, respondeu Cristine sorrindo. Em tempo: Paes não só votou em Dilma como promete fazer campanha para ela, ainda que PT e PMDB estejam em palanques distintos no primeiro turno da eleição para governador do Rio de Janeiro.

Convers@ de Domingo
O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), faz um balanço do PMDB nesse ano de 2013 e reafirma Luiz Fernando Pezão do Rio. Assista no site do Correio (www.correiobraziliense.com.br).

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 15/12

Copa será só um mês de verão extra para cervejaria

A estimativa de vendas durante a Copa de 2014 não empolga a torcida na indústria de cerveja.

O Mundial deverá representar apenas um mês extra de verão, segundo a CervBrasil, associação que reúne os quatro maiores fabricantes (Ambev, Brasil Kirin, Heineken e Petrópolis).

"Há muitas variáveis que influenciam o consumo como se o Brasil ganhará, ou não, se estará calor durante a Copa...", diz o presidente Paulo de Tarso Petroni.

A associação e fabricantes ouvidos não revelam os números projetados para 2014. Três meses de verão, porém, representam 40% da produção anual de cerveja.

Em 2012, foram fabricados 13,7 bilhões de litros. Os 40%, então, representaram 5,48 bilhões (ou 1,83 bilhão para cada mês do verão, em média).

As expectativas dos fabricantes não seguem um padrão uniforme, segundo o executivo. Elas variam de acordo com a presença regional de cada marca.

"Depende do posicionamento da empresa no país. O Nordeste, por exemplo, está crescendo muito mais."

Se em 2014 a Copa deverá reforçar um pouco as vendas, neste ano o consumo caiu.

De janeiro a novembro, a produção recuou 2,4% na comparação com o mesmo período do ano passado.

"O setor estava crescendo a uma média de 6% ao ano e planejava ir nessa mesma direção [em 2013]. Com a inflexão, alguns investimentos foram revistos, mas a indústria mantém sua visão de longo prazo", afirma Petroni.

O prolongamento da temperatura mais fria em importantes regiões consumidoras, como o Sudeste, e a queda na disponibilidade de renda são razões para a baixa, de acordo com o executivo.

O QUE EU ESTOU LENDO

Romero Rodrigues, CEO do Buscapé

"How Creativity Works", de Jonah Lehrer, foi o livro que Romero Rodrigues, fundador do Buscapé acabou de ler.

"Tenho curiosidade em entender como as pessoas se inspiram e como estimular a criatividade", diz o CEO da empresa de comparação de preços.

"O que me encantou foram os temas lúdicos e de inspiração tratados pelo livro a partir de uma base científica. Achei genial."

Rodrigues ainda não empregou nenhuma dica na empresa.

"Já li duas [indicações] interessantes: empresas com banheiros coletivos são, em geral, mais criativas, e a cor que mais promove a inspiração é o azul", acrescenta.

Micro e pequeno industrial prevê faturar menos, diz entidade

Depois de uma melhora de expectativa em outubro, micro e pequenos industriais paulistas indicam preocupação com incertezas na economia e o desaquecimento de negócios na época de festas.

As projeções com o faturamento dos negócios recuaram em novembro, segundo uma pesquisa feita pelo Datafolha para o Simpi (sindicato do setor).

De 310 empresários entrevistados, 19% afirmaram que o faturamento da empresa deverá cair em dezembro. É o patamar mais alto desde março, quando a pesquisa mensal começou a ser feita.

A parcela dos que esperam aumentar o volume de vendas recuou de 39% para 34% de outubro para novembro.

A pesquisa mostra ainda que oito em cada dez empresários do segmento (81%) não pretendem investir no próximo mês para aumentar a produtividade --o percentual era de 74% em outubro.

"[O aumento do pessimismo] resulta de fatores como o pouco acesso ao crédito, a queda no consumo e a concorrência maior com os importados", diz Joseph Couri, presidente da entidade.

"A dificuldade de crédito decorre da inadimplência, o que torna os bancos ainda mais seletivos, e da elevação do custo do dinheiro."

Rede de lojas de decoração dobrará em cinco anos

A Tok&Stok, rede de móveis e decoração, pretende dobrar no próximo quinquênio o número de lojas abertas em 35 anos de existência.

A expansão com cerca de 40 unidades terá como foco as regiões Nordeste e Centro-Oeste. A empresa entrará em três Estados onde ainda não atua, mas não informa quais serão eles.

Para os próximos 12 meses, há oito projetos confirmados, um ritmo maior que o anterior, em que a média era de duas a três lojas por ano.

Para impulsionar a abertura de unidades, a rede vai implantar um modelo diferenciado de lojas compactas em cidades menores.

"Diferente das lojas complementares, voltadas para acessórios, essa terá rentabilidade e um tíquete médio maior", afirma Paul Dubrule, diretor da rede.

O crescimento incluirá shoppings e lojas de rua.

"As lojas de rua têm maior facilidade de operação e dão mais visibilidade à marca, mas as de shopping facilitam a expansão, pois têm menos risco de as obras atrasarem."

Contratação brasileira

A expectativa de contratação do empresário brasileiro está acima da média global e entre as mais altas do mundo, segundo o International Business Report (IBR) 2013, relatório do terceiro trimestre de 2013 da Grant Thornton.

Dos executivos em 300 empresas ouvidas no Brasil, 51% disseram ter intenção de contratar nos próximos 12 meses.

O país ocupa o sexto lugar no ranking dos 44 países, atrás apenas de Emirados Árabes Unidos (66%), Georgia (60%), Turquia (56%), Peru (54%) e Índia (53%).

A qualificação profissional, entretanto, é considerada uma restrição para 47% dos empresários brasileiros --percentual superior à média global (29%) e dos países que integram os BRICs (17%).

Quanto à remuneração salarial, 93% das companhias do país devem dar aumentos, mas somente 20% deles serão acima da inflação.


Divórcios na indústria - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 15/12

Parte do setor pede abertura comercial; outra, mais imposto de importação e reserva de mercado


UMA PARTE da indústria começou nos últimos meses a dizer com insistência que o Brasil deve abrir mais sua economia para o comércio mundial. Deveríamos retomar negociações com os EUA, acelerar a negociação com a União Europeia etc.

Faz dez dias, porém, umas duas dúzias de associações industriais foram ao Ministério da Fazenda pedir o seguinte:

1) Mais imposto de importação sobre produtos industriais;

2) Um programa que obrigue empresas das grandes obras de infraestrutura a reservar parte de suas compras de matérias-primas e máquinas para produtos nacionais (tal como a Petrobras já é obrigada a fazer);

3) Um aperto na fiscalização de importações subfaturadas, trazidas em geral de China e vizinhança.

A campanha pela negociação de tratados de comércio mais ou menos livre é da Confederação Nacional da Indústria. A CNI passou a fazer pressão sobre o governo, neste ano em particular. Tem feito lobby nos EUA. Financia e alardeia estudos sobre os benefícios do comércio (mais) livre.

O pessoal da CNI está preocupado com o fato de que as economias centrais do planeta (e os periféricos anexos mais liberais) negociam tratados que vão deixar o Brasil de fora da rede mundial de comércio de partes e de montagem de produtos industriais, entre outros problemas.

É evidente que a indústria está dividida em pelo menos dois partidos, digamos assim.

O pessoal que quer mais abertura comercial não aparece muito. Isto é, setores mais interessados em menos impostos de importação e outras proteções ainda preferem não se identificar no palco desse debate. De resto, têm de lidar com um governo protecionista.

O pessoal que está mais preocupado com a contínua invasão chinesa é o da indústria química, petroquímica, siderúrgica, máquinas, eletroeletrônicos, os que utilizam mais mão de obra (têxteis, calçados), entre os mais vocais.

Além de pedir o encarecimento ainda maior de produtos importados e criar reservas de mercado para produtos nacionais, alguns setores empresariais mais extremados, digamos, reclamam até do modestíssimo aumento da taxa de juros do BNDES.

Na semana que passou, o governo anunciou aumentos das taxas de juros das várias modalidades do Programa de Sustentação do Investimento (o PSI).

A maioria das taxas continua abaixo de zero ou quase isso, em termos reais. Isto é, o juro é menor que a inflação. Na prática, o governo dá algum dinheiro para os empresários.

Está certo que o custo das empresas cresce bem, dada a nossa inflação relativamente mais alta (devido a nossos salários em alta, basicamente). É verdade que os impostos são altos (mas não aumentavam desde meados da década passada e, faz dois anos, caem para muita empresa). O câmbio estava hipervalorizado ("dólar barato", o que encarece nossos produtos), mas melhorou nos anos Dilma Rousseff. Sim, há "dumping". Sim, a infraestrutura ficou ainda pior.

Enfim, mesmo com tudo isso muita empresa exporta, e exporta até bens de alta complexidade.

Está ficando evidente que partes da indústria estão tomando rumos diferentes em termos de competitividade "real", preferências de integração mundial e ação política. Vai ser difícil contentar todas as partes.

Não dá para brincar de empresa - JOÃO LUIZ MAUAD

GAZETA DO POVO - PR - 15/12

O jornal Valor Econômico estampou, no fim do mês passado, matéria preocupante sobre a situação econômico-financeira da Petrobras. De acordo com o jornal, a “observação dos indicadores nos últimos 19 anos mostra que a situação financeira da estatal atualmente se compara apenas com aquela vista no fim da década de 1990, quando o tamanho era metade do atual em termos de produção e a cotação do petróleo oscilava em média abaixo de US$ 20, ante os mais de US$ 100 atuais. Desde aquela época, a margem bruta da companhia não caía abaixo de 30% e nem a margem líquida se mostrava inferior a 10%, como ocorreu em 2012 e se repete até setembro de 2013 (...) Em termos de endividamento, a relação entre a dívida líquida e o patrimônio líquido, que atingiu 56,24% em setembro, também é a maior desde 1999”.

Como chegamos a esse descalabro? Má gestão! Decisões políticas e corporativistas predominam no dia a dia da estatal, transformando-a em mero joguete nas mãos de políticos oportunistas e grupelhos sindicais, no lugar de servir aos interesses de consumidores e acionistas, como seria esperado por qualquer investidor.

Por essas e outras, ainda que este escriba tivesse muito dinheiro sobrando, jamais colocaria suas economias em ações da Petrobras. Não que o petróleo seja um mau negócio, longe disso. O problema é a sociedade com o governo, que transforma as empresas estatais em entidades normalmente ineficientes, mal administradas, tocadas por funcionários improdutivos e utilizadas para fins político-eleitoreiros.

Alguns dirão que exagero, principalmente os neófitos dos monopólios estatais e da administração pública em geral. Será?

Peguem, por exemplo, a estapafúrdia história da aquisição daquela refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos. Depois de diversas trapalhadas e de uma disputa judicial com os antigos sócios, a Petrobras fechou um acordo segundo o qual irá pagar o valor total de US$ 1,18 bilhão pelo controle de uma refinaria que, segundo as estimativas mais favoráveis, não valeria hoje 10% disso. Alguém foi punido ou demitido?

Querem mais? Em 2005, foi anunciado ao país, com toda a pompa e circunstância (o setor de marketing é, sem dúvida, o mais ativo da empresa), que a Petrobras havia alcançado um patamar de produção necessário para que o Brasil pudesse ser considerado autossuficiente em petróleo. Nacionalistas e protecionistas, tanto à esquerda quanto à direita, rejubilaram-se com o grande acontecimento. Mas eis que tudo não passou de propaganda enganosa. Estima-se que em 2013 o país tenha um déficit próximo de US$ 12 bilhões na “conta petróleo”, já que a produção praticamente estagnou desde então, enquanto a demanda não parou de crescer.

Como ensinou o economista Murray Rothbard, empreendimentos estatais estão fadados ao fracasso pelo simples motivo de que “é impossível brincar de empresa”. Empreender significa arriscar o próprio dinheiro. Burocratas e políticos não têm incentivo real para desenvolver habilidades empresariais, para se ajustar às demandas do consumidor ou para reduzir custos. Simplesmente porque não arriscam o próprio dinheiro no negócio, mas o dinheiro dos outros.

Infelizmente, poucos têm coragem para falar em privatização, mas seria melhor que se pensasse nisso rápido, enquanto ainda há tempo.

Causas do fracasso - AMIR KHAIR

O Estado de S.Paulo - 15/12

Fim de ano é ocasião de fazer o balanço dos resultados do ano e traçar perspectivas para 2014. O governo pinta um céu de brigadeiro e as análises capitaneadas pelo mercado financeiro vão ao extremo de alardear o pomposo nome de tempestade perfeita, que é a combinação do início da redução dos estímulos monetários nos Estados Unidos com o rebaixamento da classificação de risco da dívida brasileira.

De forma geral, as previsões fora do governo apontam para crescimento de 2% para o próximo ano. Caso isso venha a ocorrer, o governo Dilma pode ficar marcado pelo fracasso de sua política econômica e não poderá por a culpa no cenário externo, pois no período 2011 a 2013, quando o País cresceu em média 2% por ano, os países emergentes cresceram à taxa de 5,3% e o mundo, 3,3%.

Causas do fracasso. Algumas análises atribuem o fracasso à exaustão do modelo adotado pelo governo desde 2004 de estimular o consumo, e que para retomar o crescimento se torna necessário refrear o consumo para maior poupança e investimento, que deveria alcançar 22% do PIB para permitir crescimento de 5% ao ano. Estranho esses números, que, de tanto serem repetidos, dão a impressão de estarem certos. Mas vale sempre lembrar que, na década de 80, o investimento médio anual foi de 22% do PIB e o crescimento, de apenas 1,7% por ano. E como se isso não bastasse, de 1951 a 1980 o investimento ficou próximo ao nível atual e o crescimento médio foi de 7,4% a cada ano.

Mas fato é que o governo, incomodado com o fracasso na condução da economia, cedeu na sua política de estímulo ao consumo e passou a defender a necessidade de crescer os investimentos, lançando o pacote de concessão ao setor privado nos modais de transporte, procedendo a leilões visando atrair o capital privado para reduzir os estrangulamentos da infraestrutura e logística, barreiras ao bom funcionamento da atividade econômica.

Meia trava também foi dada pelo governo para frear a expansão do crédito por parte dos bancos oficiais Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, ante avaliações de que isso poderia comprometer essas instituições, prejudicando a classificação de risco do País, sob ameaça face ao mau desempenho fiscal e nas suas contas externas.

Soa estranho, no entanto, a recente declaração do Ministro da Fazenda de que o País manca de duas pernas: a externa, que dificulta as exportações, e a interna, que é o freio do crédito pelos bancos privados. Afinal, é para frear ou acelerar o crédito?

Vale observar que expandir um crédito às siderais taxas de juros para o consumidor não parece recomendável. O problema não é o volume, mas a qualidade ruim desse crédito, que quase dobra o preço à vista de um bem para financiamentos de um ano.

Outro conjunto de análises, do qual me aproximo, vê duas causas principais para o fracasso no front econômico: a) taxa de juros ao tomador elevada e; b) câmbio excessivamente apreciado.

O principal freio ao consumo está na prática do mercado financeiro de impor aos tomadores a mais alta taxa de juros do mundo. Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), está parada em 90% ao ano desde outubro do ano passado. Nove vezes a praticada pelos países emergentes. Esse é o potente freio ao consumo.

Vale, no entanto, considerar que, apesar desse freio, o consumo das famílias ainda é o carro-chefe que comanda o crescimento da economia. Ele foi responsável por 70% do crescimento do PIB desde 2009 até 2012, quatro anos após a crise de 2008. Pena que essa expansão vem sendo crescentemente atendida pelo produto importado, e aí vale destacar a questão do câmbio, a outra causa do fracasso da política econômica.

Câmbio. Interessante repetir neste artigo o gráfico exposto em artigo anterior no qual é apresentada a evolução ocorrida desde 1980 até agora do câmbio real, que exclui a inflação no Brasil e nos Estados Unidos.

Os valores no gráfico são todos de junho deste ano, portanto, comparáveis. Nota-se alguns pontos interessantes nessa evolução: a) há clara tendência histórica de apreciação cambial (valorização do real perante o dólar); b) depois de atingir R$ 4,30/US$ em 2002, ocorreu forte apreciação até 2011, quando se verifica a mínima histórica de R$ 1,83/US$ e; c) após a depreciação ocorrida desde 2011 para os atuais R$ 2,30/US$, esse valor é ainda bem inferior à média histórica de R$ 3,63/US$.

Essa distorção cambial ocorre em decorrência da política adotada desde o Plano Real de baratear o produto importado para frear as remarcações de preços face à demanda em expansão. A via de obtenção desse câmbio artificial se dá pela atração de dólares para o País pela convidativa oferta de taxa básica de juro muito acima da praticada internacionalmente.

O presente dado pelo governo ao capital especulativo internacional rouba do País anualmente a média de US$ 10 bilhões em juros (média desde 1980). Neste ano até setembro, com a retirada do IOF (imposto sobre operações financeiras), os investimentos estrangeiros em carteira (especulativos) atingiram US$ 26,7 bilhões. A avalanche especulativa deste ano só perde historicamente para 1994 (Plano Real), com US$ 46,8 bilhões, e 2010, com US$ 30,1 bilhões.

É triste, para não dizer trágica, essa política suicida praticada pelo governo para controlar a inflação. Infelizmente, não vejo mudanças em 2014 nessa monótona, ineficaz e destrutiva política econômica.

Decisão futura - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 15/12

Governar é espinhoso. A pessoa que estiver exercendo o poder em 2015, seja a presidente Dilma ou quem for eleito, terá uma difícil
decisão a tomar. Vai ter que propor uma fórmula de reajuste do salário mínimo ou confirmar a atual, que tem elevado vários custos, como o previdenciário e do seguro-desemprego. Esse é o ponto que a carta do Ibre, da FGV, destaca este mês.

Em qualquer país, esse é um assunto politicamente difícil. Mas aqui é pior porque o efeito não se limita ao mercado de trabalho. Afeta também 20 milhões de aposentados, os que recebem benefícios continuados, e o abono pago a desempregados. Politicamente, é sempre melhor dar aumentos acima da inflação, mas, do ponto de vista fiscal, o governo está reduzindo seus espaços para outras despesas.

— Nos outros países não existe a ideia de aumento real para aposentados, normalmente a preocupação é a de manter o valor da aposentadoria — diz Luiz Schymura, presidente do Ibre. Pode parecer bem antecipada a discussão, mas é um nó que terá que ser desatado em algum momento. A fórmula atual sempre elevará o salário mínimo em termos reais, já que o reajuste é pela soma da inflação e do crescimento do PIB de dois anos antes.

Foi um alivio político para o governo Dilma que não teve o desgaste de negociar ano a ano o aumento do mínimo, mas está tirando espaço de outras despesas. E quem for eleito terá que saber se continua ou não com a fórmula. “Pela legislação em vigor, até o fim do primeiro ano do próximo mandato presidencial, o Poder Executivo deve encaminhar ao Congresso Nacional um projeto de lei com as regras do ajuste do salário mínimo entre 2016 a 2019”, lembra o texto da FGV.

Desde a estabilização, em 1994, o salário mínimo está em recuperação. Em termos nominais, saiu de R$ 64 para R$ 678. O ganho acima da inflação no período é de 151%, pelas contas do economista Salomão Quadros.

De 2002 a 2013, o aumento do salário mínimo foi de 81,4%. O valor ainda é baixo, mas o problema é o atrelamento de outros benefícios, na opinião dos economistas da FGV. Os reajustes perderam ritmo desde 2011 porque o PIB tem crescido pouco, mas em qualquer cenário de forte crescimento ele acaba sendo um complicador.

O FAT está com déficit que é, em parte, produzido pelo aumento das despesas com seguro- desemprego e abono pago quando o trabalhador demitido ganha até dois salários mínimos. Os pagamentos do Regime Geral de Previdência Social são indexados ao mínimo. Os benefícios da Lei Orgânica de Assistência Social também são corrigidos pela mesma fórmula.

Afeta a vida de 20 milhões de brasileiros. “Na Previdência, ele engloba 67% dos benefícios e 48% do total dos gastos. No Loas, há a indexação total”. Os economistas da FGV lembram que o peso fiscal do seguro-desemprego e abono salarial já é grande. “Representa uma conta superior à do Bolsa Família”.

Segundo eles, se a fórmula for mantida, representará aumento real de 16,2% nessas despesas, de dezembro de 2013 a dezembro de 2019. E o Brasil, por razões demográficas, já vai aumentar seu gasto previdenciário. — O total de transferências previdenciárias e de benefícios sairá, se a fórmula for mantida, de 9,6% do PIB para 10,7%, segundo nosso cenário — disse Schymura.

A tendência é aumentar a conta pelo envelhecimento natural da população. A pessoa que estiver no poder em 2015 terá que decidir entre enfrentar esse assunto impopular ou deixar a confusão para o sucessor.

Educação e crescimento econômico - SAMUEL PESSÔA

FOLHA DE SP - 15/12

Maior escolaridade causa maior remuneração; logo, é possível dizer que redunda em maior crescimento?


Na coluna do dia 1º, tratei da relação entre educação e renda do trabalho. Narrei como, após mais de quatro décadas de pesquisa, construiu-se o entendimento de que a correlação positiva entre renda e escolaridade é causal. Isto é, pessoas que estudam mais aprendem técnicas e desenvolvem habilidades que as tornam mais produtivas, o que resulta em maior renda. Maior escolaridade causa maior remuneração.

Hoje tratarei da questão natural que se segue a essa. Há, do ponto de vista agregado, impacto da educação sobre crescimento econômico?

Evidentemente, a verificação de que educação causa elevação da produtividade das pessoas sugere que a resposta à pergunta acima é positiva. Ou seja, para responder negativamente à afirmação do parágrafo anterior, será necessário haver evidência robusta de que o mecanismo não funciona quando há esforço coletivo de elevar a escolaridade.

A grande dificuldade em testar a proposição é que não temos experimentos naturais com sociedades inteiras. Um experimento natural seria haver num momento inicial diversas economias e um planejador central que escolheria de forma aleatória metade delas para ser o "grupo de tratamento" e a outra metade para ser o "grupo de controle". Para o grupo de tratamento, o planejador central alteraria a legislação de forma a subsidiar fortemente o investimento em educação. Para o grupo de controle, nada seria feito.

Décadas depois, seria avaliado se o impacto das medidas coletivas de estímulo à acumulação de capital humano resultou em maior crescimento.

Para países, como o leitor pode imaginar, é impossível a construção de experimentos dessa natureza. O que se pode fazer é tentar verificar se há ou não correlação entre crescimento e acumulação de educação e, adicionalmente, estabelecer se há precedência temporal entre o investimento em educação e o crescimento econômico. Apesar de precedência temporal não ser igual a causalidade, é um bom indicador de que ela possa existir.

Em 9 de junho, apontei exemplos de países que fizeram a transição para economias de renda elevada em que houve precedência entre investimento educacional e crescimento. Certamente foi o caso dos EUA, da Coreia do Sul e do Japão. Também mostrei que há correlação entre uma medida de excesso educacional em 1960 e o crescimento econômico nas cinco décadas subsequentes. Isto é, economias que apresentavam em 1960 muita educação para pouco PIB cresceram mais nas décadas subsequentes. Finalmente verifiquei que o efeito sobrevive quando se controla para os diferenciais de investimento entre as economias ao longo das cinco décadas.

A academia passou a olhar com mais cuidado a relação entre educação e desenvolvimento econômico a partir dos anos 1990.

Os primeiros trabalhos não mostraram resultados positivos. Aparentemente não havia correlação entre crescimento econômico e educação.

A grande dificuldade é que a qualidade dos dados de escolaridade é muito ruim. E dados ruins tendem a obscurecer correlações. Adicionalmente, os primeiros estudos macroeconômicos não consideraram a variável educação da mesma forma que a literatura microeconômica, objeto que a coluna de duas semanas passadas tratou. Este último problema foi rapidamente identificado e corrigido. Os resultados melhoraram.

Há duas dificuldades com relação à qualidade da medida de escolaridade de uma sociedade. A primeira é que a maioria das bases de dados existentes considera medida puramente quantitativa --tipicamente os anos médios de escolaridade da população economicamente ativa-- em vez de considerar a qualidade da educação. Sabe-se que cinco anos de escolaridade no Brasil representam um ganho de aprendizagem menor dos que os mesmos cinco anos na Finlândia, por exemplo.

A segunda dificuldade é que mesmo as bases de dados puramente quantitativas apresentam erros de medida. Ainda não temos censos demográficos disponíveis para inúmeros países, e há lacunas em muitas décadas.

De qualquer forma, trabalhos posteriores, que construíram bases de dados de melhor qualidade, obtiveram efeitos bem mais fortes da educação sobre o crescimento.

Na próxima coluna abordarei o que sabemos sobre o impacto da qualidade da educação e o crescimento econômico.

Variáveis-chave - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 15/12

Na entrevista publicada nesta edição do Estadão, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a condicionar o desempenho da economia brasileira em 2014 à superação da crise global: "Para mim, a variável-chave é a economia internacional".

É, outra vez, tirar importância dos problemas internos. A crise está pegando forte por aqui porque a economia está desequilibrada, à mercê de muitas distorções.

A indústria brasileira não exporta pouco apenas em consequência da quebra de encomendas pelos países prostrados pela recessão global. Exporta pouco principalmente porque não tem preço e, grande parte das vezes, também não tem qualidade.

Não é verdade que as desonerações e a desvalorização cambial (de cerca de 12% em 2013) tornaram a indústria brasileira mais competitiva. Isso acontecerá apenas quando o chamado custo Brasil for fortemente rebaixado.

O ministro deve estar preocupado mais com o corte de importações de veículos brasileiros impostos pelo governo da Argentina. Isso pouco tem a ver com a crise global. Tem a ver com as mazelas da Argentina.

Ainda assim, a melhora da economia mundial não é uma aposta despropositada. Tudo indica que pelo menos a economia dos Estados Unidos terá um desempenho melhor no ano que vem. Deverá ter avançado 1,8% em 2013 e poderá entregar 2,6% em 2014, conforme apontam as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). Se for tudo isso, não será pouca coisa.

Mas não dá para transferir automaticamente o possível melhor resultado da economia dos Estados Unidos para o Brasil. O próprio Mantega fala em "trajetória ascendente, mas não linear". Ou seja, o crescimento sustentável não está garantido.

Mantega afirma que não há inflação represada no Brasil. Se é isso, faltou explicar por que os preços administrados pelo governo subiram apenas 0,9% nos últimos 11 meses enquanto a inflação acumulada no período foi de 4,95%. É claro que essa diferença de números apenas acontece porque o governo está adiando reajustes. E isso está especialmente claro no caso dos combustíveis. De um lado, Mantega nega as tais "defasagens" nos preços ao consumidor da gasolina e do diesel, mas, de outro, admite que falta transferir para o varejo o que a Petrobrás pagou a mais pelos combustíveis importados em consequência da alta do dólar em reais: "Aí desalinhou tudo com o câmbio", reconhece.

Há notória disposição do governo em dar maior transparência à administração das contas públicas. A decisão de não usar mais as tais manobras contábeis para enfeitar resultados está no caminho correto.

Outra boa notícia do governo está no propósito de buscar mais solidez nas contas públicas. O ministro avisa que "tem de desmontar essa política anticíclica (de despesas crescentes do governo), porque o mercado tem de caminhar com suas próprias pernas". Falta saber o quanto aguenta essa boa intenção num ano eleitoral, como será 2014.