sexta-feira, setembro 23, 2011

LUIZ GARCIA - Casco duro


Casco duro
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 23/09//11

Em outras profissões, quem se aposenta vai para casa ou para a praça, brincar com os netos ou jogar conversa fora, matando o tempo à espera da aposentadoria, digamos assim, definitiva. Na política, é comum que os sem mandato continuem ativos, nos partidos e na mídia. Transformam-se em conselheiros - ou, diriam pessoas menos gentis, palpiteiros -- emitindo opiniões e sugestões, que muitas vezes não têm preço. Isto é, ninguém os compra.

Nos Estados Unidos, criaram para ex-presidentes a expressão elder statesmen (estadistas mais velhos) e costumam ser respeitados. Principalmente se a longa experiência produziu sabedoria e um razoável nível de isenção.

Por aqui, o estadista mais velho mais visto e ouvido, possivelmente porque fala sem parar, é o ex-presidente Lula - que pelo jeito não se considera aposentado de jeito nenhum. O que torna necessário dar atenção ao que ele diz. Outro dia, na Bahia, ele se manifestou sobre um sério problema enfrentado pela presidente Dilma Rousseff: a quantidade de ministros e outros altos funcionários detonados por denúncias de corrupção.

Na visão de Lula, os ministros de Dilma recentemente detonados deveriam ter resistido às denúncias de corrupção em suas pastas. Caíram, na sua opinião, por lhes faltar "casco duro" - seja isso o que for. Não lhe passou pela cabeça a possibilidade, ou alta probabilidade, de que as denúncias seriam mais fortes do que o desejo dos ministros de continuarem nos cargos.

Não se tem notícia, aqui ou em qualquer país, que ocupantes de altas funções públicas costumem correr para casa quando vítimas de denúncias injustas. E a presidente Dilma, que se saiba, não fez qualquer esforço para impedir a revoada dos ministros acusados - mesmo sabendo que isso, para a opinião pública, era a prova definitiva de que as denúncias tinham procedência.

O governo atual tem certamente tempo suficiente - desde, claro, que a presidente capriche mais na escolha de seus auxiliares - para recuperar a boa imagem de sua administração. E deve isso ao fato de que os ministros acusados saíram rapidamente de cena. A falta de "casco duro", que Lula lamentou, deu à presidente oportunidade e tempo para limpar a imagem de sua administração.

Fora isso, o episódio tem relevância por outro lado: ele ajuda consideravelmente a definir como episódios de corrupção na máquina do Estado eram tratados no governo do antecessor de Dilma.

GUILHERME FIUZA - Dilma no circo da ONU



Dilma no circo da ONU
GUILHERME FIUZA
REVISTA ÉPOCA


O Brasil é a maior diversão. Na pantomima da Assembléia Geral da ONU, o país apareceu de novo com uma novidade.

Depois do presidente-operário, a presidente-mulher. Mais um número infalível. Nunca antes na história da ONU uma mulher abriu a sessão da Assembléia Geral etc etc.

E quem é esse grande ícone feminino que entrou para a história da diplomacia internacional?

Segundo a revista “Newsweek”, em matéria de capa, Dilma Rousseff é uma comandante tão severa que já teria feito burocratas do Estado caírem no choro.

A revista americana diz também que a temida presidente brasileira espanou os corruptos e os substituiu por pessoas de sua confiança, sempre lideradas por outras mulheres.

“Não mexam com Dilma” é o título da reportagem. Mas poderia ser também: “A Mulher Maravilha da Newsweek”.

Melhor não contrariar. Não daria para botar a super Dilma na capa se a história fosse contada direito: os corruptos demitidos eram as “pessoas de sua confiança”, ou da confiança de seu padrinho.

E a mulher escolhida por Dilma para liderar seu governo era Erenice, a rainha do tráfico de influência.

A comandante durona que, na literatura da “Newsweek”, leva marmanjos às lágrimas, na vida real é a presidente desnorteada, que dedica seu primeiro ano de governo à partilha de cargos entre os companheiros – e nas horas vagas demite os que a imprensa desmascara.

Em Brasília, Dilma declarou que a limpeza não seria pautada pela imprensa. Em Nova York, declarou que a imprensa é vital para a limpeza.

No Brasil, seu partido ruge pelo “controle social” da mídia e ela se cala. Na ONU, se apresenta como militante da liberdade de expressão.

É um conto de fadas que o circo da diplomacia internacional adora.

Dilma Rousseff se encaixou com perfeição na Assembléia Geral da ONU. Numa reunião tradicionalmente inútil, fez seu discurso tradicionalmente insípido.

Dentre as pérolas de estadista-mulher estava um diagnóstico, por assim dizer, sensível da crise mundial: a falta de soluções “não é por falta de recursos financeiros” dos países ricos, “é por falta de recursos políticos”.

Era a idéia que faltava para o mundo deixar de bobagem e espantar a crise.

Sobre economia brasileira, disse à “Newsweek” que foi possível baixar os juros porque o país tem “um Banco Central rígido”.

Sabendo que o “Banco Central rígido” foi estuprado pelo populismo e obrigado a baixar os juros na marra, a revista poderia ter publicado a declaração de Dilma como piada.

Mas preferiu fingir que acreditou, para não atrapalhar o mito da capa.

Dilma foi um sucesso na ONU. Não disse nada de relevante e saiu com o figurino de Margareth Thatcher da esquerda que puseram nela.

O show tem que continuar. Deixem as agruras da vida real para os palhaços e os contribuintes, ou vice-versa.

ADRIANO PIRES e ABEL HOLTZ - Revisão de uma realidade


Revisão de uma realidade
ADRIANO PIRES e ABEL HOLTZ
O ESTADÃO - 23/09/11

Na década passada,enquanto a população mundial cresceu cercade15%,ageração de resíduos sólidos urbanos( RSUs) aumentou mais de 49%. Hoje, cerca de 50% dos RSUs ainda não têm destinação adequada, tornando-se, pois, um dos maiores problemas a ser enfrentados pela sociedade. Cada vez mais a sociedade gera maior quantidade de lixo.

No caso do Brasil,existe grande variação na composição dos resíduos sólidos urbanos coletados em cada região.Fatores como desenvolvimento econômico e características socio culturais corroboram para tais diferenças. Basicamente, sua composição tem 57% de resíduos orgânicos; 2% têxteis; 2% metais; 16% plásticos;5%vidros;15%papel/papelão; e 3%outros.Comparando os principais indicadores da coleta registrados em 2007 e em2008, observa-se que o índice de coleta per capita, apesar de tudo, cresceu2,8% e a quantidade de resíduos domiciliares coletada cresceu mais ainda, alcançando 5,9%.

Os lixões e aterros do País já estão, em sua grande maioria, saturados. Apesar disso, uma parte insignificante dos resíduos brasileiros é transformada em energia, ao contrário dos países europeus, queprocessam130milhõesdetoneladasdelixo, gerando energia elétrica e térmica em mais de 700 instalações.

A adoção dos aterros sanitários foi um avanço importante, mas, embora melhores que os lixões, estão longe de ser o mais adequado do ponto de vista ambiental, tanto que sua adoção está sendo banida nos países da Comunidade Europeia. A ideia é a contínua redução da matéria biodegradável até a proibição total por volta de 2020. E países como a Alemanha já se anteciparam: lá, a proibição já é total desde 2005.

A alternativa que se tem mostrado mais acertada no mundo, permitindo a disposição final adequada com pequeno impacto ambiental, é o tratamento térmico do lixo.Temperaturas elevadas associadas a um sofisticado sistema de limpeza dos gases da combustão satisfazem as normas ambientais mais exigentes.

A incineração e a digestão anaeróbica acelerada são, essencialmente, as duas formas adotadas para produzir energia elétrica coma quase total eliminação do vazamento de matéria orgânica em aterros sanitários.

A incineração é a melhor opção aos aterros sanitários, pois, além da não emissão de metano - poderoso gás de efeito estufa -, implica reduçãode90%emvolumeede75%em peso das cinzas, inertes, que podem ser colocadas em aterros comuns ou até mesmo utilizadas na construção civil.

As tecnologias disponíveis não são recentes, mas só agora poderão ser adotadas no Brasil. Nos EUA, na Europa, no Japão e,agora,em larga escala na China, já foram implantadas usinas termo elétricas alimentadas por resíduos, notadamente a partir dos anos 80. O grande problema para a adoção dessas usinas em países em desenvolvimento é o seu alto custo.

Com a nova Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), as empresas precisarão desenvolver a logística reversa, ou seja, terão de recolher e tratar o que restou dos produtos por elas comercializados depois de descartados pelo consumidor final.O tratamento pode ser por meio de reúso, reciclagem ou descarte de forma apropriada. A legislação responsabiliza de forma compartilhada fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e sistemas públicos de limpeza e de manejo dos resíduos sólidos.

Com a nova legislação,os lixões deverão deixar de existir e serão substituídos por aterros sanitários,questão mais controlados em termos ambientais e têm vida útil mais longa.A recuperação energética está contemplada como uma forma de tratamento dos resíduos.

Em face da realidade e da legislação que obrigará a adoção de soluções que atendam à PNRS,mecanismos incentivadores da adoção da produção de energia elétrica utilizando os RSUs são um caminho a ser trilhado.Para tanto,poderiam ser criados benefícios às prefeituras que adotarem o método, além da isenção fiscal para investimento:ICMS, ISS, e PIS/Cofins.

RESPECTIVAMENTE, DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRUTURA (CBIE) E ENGENHEIRO, CONSULTOR NA ÁREA DE ENERGIA E NEGÓCIOS.

ALEXANDER RAGIR - Política externa de Dilma afasta-se da de Lula só na retórica


Política externa de Dilma afasta-se da de Lula só na retórica
ALEXANDER RAGIR
O ESTADÃO - 23/09/11

A presidente Dilma Rousseff parecia sugerir que seria menos condescendente com ditadores do que seu predecessor, quando criticou a situação de direitos humanos no Irã, antes de assumir o cargo em janeiro. Até agora, a mudança em relação a seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, tem sido mais de estilo do que de conteúdo, dizem analistas.

Lula irritou o governo Obama ao manter laços estreitos com o Irã. Ele recebeu o presidente Mahmoud Ahmadinejad em 2009 e visitou Teerã no ano seguinte. As relações Brasil-EUA chegaram a seu nível mais baixo no ano passado quando o embaixador do Brasil na ONU votou contra a adoção de sanções mais rigorosas contra o programa nuclear do Irã e Lula ajudou a Turquia a intermediar um acordo para o fornecimento de combustível nuclear a Teerã.

Dilma, ao contrário, recebeu Barack Obama em Brasília menos de três meses após chegar à presidência, e comparou sua eleição como primeira mulher brasileira a assumir o cargo de presidente com a histórica vitória dele - o primeiro negro a tornar-se chefe de Estado americano. Embora Dilma evite a retórica de seu ex-chefe, que comparou a repressão aos protestos em favor da democracia em Teerã a uma briga entre torcidas de futebol no Rio de Janeiro, o governo dela também assumiu posições que não agradaram aos EUA.

Em março, o Brasil absteve-se na resolução da ONU que autorizou ataques aéreos na Líbia. Em junho, Dilma não quis se encontrar com a dissidente iraniana e premio Nobel da Paz, Shirin Ebadi. Dois meses depois, o Brasil juntou-se a África do Sul e Índia para bloquear medidas nas Nações Unidas que buscavam pressionar a Síria para pôr fim à repressão no país. Em abril, falando a formandos do Instituto Rio Branco, Dilma pediu um sistema internacional "realmente multipolar", que possa refletir a mudança do equilíbrio de poder no século 21.

"Houve uma mudança de estilo em relação a Lula, mas não acredito que se trate de muito mais do que isso", afirma Matias Spektor, professor de Relações Internacionais da FGV-RJ. "Quanto mais poderosos os países como o Brasil se tornarem, mais tensões veremos."

Segundo o deputado americano Eliot Engel, democrata e membro de uma subcomissão da Câmara dos Representantes para a América Latina, a campanha do Brasil por um assento permanente no Conselho de Segurança pode estar sendo prejudicada pelo fato de a presidente não confrontar "países desestabilizadores" como Irã, Líbia e Síria. "Embora Dilma tenha afastado o Brasil da intimidade com o Irã, que era muito evidente no governo do seu predecessor, o Brasil ainda parece afagar e encontrar desculpas para esses regimes perigosos", afirmou Eliot Engel, que copreside o Congressional Brazil Caucus, bancada que trabalha para fortalecer as relações bilaterais, em comunicado antes do discurso da presidente (na quarta-feira).

Dois estilos. Lula visitou mais de cem países durante seus oito anos de governo; Dilma Rousseff, pelo contrário, tem se concentrado em questões domésticas. Embora ela tenha se afastado de Lula em assuntos como a contenção dos gastos e o combate à corrupção, sua equipe de política externa assemelha-se à de Lula: o chanceler Antonio Patriota foi o diplomata número 2 do governo anterior. "Lula encarava a política externa como um grande instrumento de marketing para projetar o poder econômico do Brasil", avalia o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia. "Dilma tem outros problemas para resolver."

Para Alexandre Barros, chefe da empresa de consultoria de risco político com sede em Brasília, Early Warning, a política externa de Dilma Rousseff não tem por objetivo provocar. "Sempre foi uma fantasia americana que o Brasil se alinharia com os Estados Unidos", diz . "Não se trata de ser contra alguma coisa. O Brasil simplesmente tem os próprios interesses."

No caso da Líbia, esses interesses incluem investimentos como a construção de um novo terminal no aeroporto de Trípoli pela Odebrecht, e a exploração de petróleo pela Petrobrás. Durante o governo Lula, o comércio com o Irã mais do que dobrou, chegando a US$ 1,2 bilhão por ano. Teerã, hoje, é o segundo maior comprador de carne brasileira. Compra 20% dos US$ 2 bilhões exportados ao ano.

É CORRESPONDENTE NO RIO DE JANEIRO.

CLAUDIA SAFATLE - Taxa de câmbio pode subir de patamar


Taxa de câmbio pode subir de patamar
CLAUDIA SAFATLE
VALOR ECONÔMICO - 23/09/11

Após a inesperada desvalorização do real, consecutiva desde o dia 1º de setembro, a expectativa do governo, no curto prazo, é de que a taxa de câmbio se estabilize num novo patamar, ao redor de R$ 1,70. Isso só viria a ocorrer, porém, num prazo de oito a dez dias, tempo suficiente para que os fundos de hedge, que ainda carregam posição vendida em cupom cambial da ordem de US$ 13 bilhões, se desfaçam desses contratos. Essa seria, inclusive, uma das muitas razões para explicar por que, em meio à crise externa, a desvalorização do real tem sido maior do que as das demais moedas frente ao dólar.

Enquanto o real teve nesses 23 dias uma depreciação de 16,31%, a valorização do dólar perante uma cesta de moedas foi de 6,01% no mesmo período. A aversão ao risco provocada pelo agravamento da crise na Europa, portanto, justifica um pedaço da história, mas não toda ela.

Especialistas em câmbio do governo e do mercado enumeram um conjunto de fatos que estariam na raiz da parcela de depreciação exclusiva do real. Uma delas é o fato de o BC do Brasil ter sido o primeiro a iniciar o processo de corte da taxa de juros. Mas há outros: a incidência de IOF sobre o mercado de derivativos afastou os vendedores de dólar, comprometendo a oferta, numa medida que se revela hoje inoportuna; por ser caro, as empresas que se endividaram em dólar deixaram para fazer "hedge" no último momento, pressionando os preços; há o temor de que, de uma hora para outra, haja a liquidação dos US$ 100 bilhões em fundos japoneses de varejo aplicados em real ("toshin"); e, assim como ocorreu em 2008/2009, há o receio, também, de uma repatriação importante de capitais de filiais brasileiras de empresas americanas e europeias.

A esse leque de motivos, fontes do mercado sublinham duas ações do governo que geraram muitos ruídos e dúvidas sobre o que quer mesmo a gestão da presidente Dilma Rousseff para a economia. Uma foi a decisão do Copom, menos pela redução da taxa em si ainda muito elevada (de 12% ao ano) e mais por fomentar a percepção de que o governo trocou o controle da inflação pela preservação do crescimento. Outra foi a polêmica medida de elevação do IPI para os carros importados. A decisão foi lida tanto no mercado financeiro quanto no setor real como uma declaração do governo de que, a partir de agora, não há mais regras estáveis nem previsibilidade no país.

Mesmo após a venda de US$ 2,7 bilhões no mercado futuro pelo BC, ontem, por meio de operações de swap, o dólar fechou em alta de 1,61%, cotado a R$ 1,8950.

O movimento no mercado de câmbio, porém, não é motivo só de preocupação para a área econômica. Uma face do governo, mais preocupada com a indústria doméstica, celebra a perda de valor do real que animou os exportadores. O fluxo de moeda estrangeira decorrente de operações comerciais chegou a US$ 14,3 bilhões na primeira metade do mês de setembro. Uma soma considerável, equivalente a praticamente todo o fluxo de igual mês do ano passado (de US$ 14,7 bilhões).

Não há clareza, porém, dos custos da depreciação para a inflação. Tudo dependerá de onde a taxa de câmbio vai se estabilizar e por quanto tempo. Sabe-se, hoje, que a desvalorização da moeda tem impacto menor sobre a inflação doméstica do que no passado (sete ou oito anos atrás). Tudo o mais constante, como raciocinam os economistas, o "pass through" cambial é de 2% a 3% no curto prazo (um trimestre) e de 7% a 8% no longo prazo (período de um ano). Assim, uma depreciação de 10% por um ano agregaria algo como 0,7 ponto percentual na inflação. Só que nada é constante num mundo em crise aguda, sob risco de default de países da Zona do Euro e recessão.

Quando, conforme a ata da última reunião do Copom, o Banco Central elaborou um cenário alternativo, incorporou nele uma certa depreciação do real. O BC não explicitou de quanto seria esse movimento, mas não se espera nada parecido com o que ocorreu em 2008/2009, quando a cotação do dólar frente ao real saiu de R$ 1,60 para R$ 2,50.

Desde o início do ano que o BC vinha alertando os mercados para uma possível "virada" no câmbio. Em janeiro criou o limite de US$ 3 bilhões para a posição vendida dos bancos em dólar no mercado à vista, a partir do qual incidiria o compulsório. Em julho, reduziu esse limite para US$ 1 bilhão. No mercado futuro, porém, o BC não atua com a mesma desenvoltura que no spot, que é um mercado dos bancos.

Ontem, de Washington o presidente do BC, Alexandre Tombini, monitorou as ações da autoridade monetária e a evolução do mercado e o diretor de Política Monetária, Aldo Mendes, que estava de malas prontas para embarcar para os EUA, onde ocorre a reunião anual do FMI/Banco Mundial, cancelou a viagem para conduzir as operações de swap.

O diretor disse, no fim do dia, que o BC continuará atuando no mercado futuro por meio de operações de swap cambial, "enquanto entender que as condições de liquidez nesse mercado não são as adequadas". Ou seja, enquanto houver alta volatilidade da taxa de câmbio o BC continuará vendendo dólar.

MOISES NAIM - Jantar com Ahmadinejad



Jantar com Ahmadinejad
MOISES NAIM
FOLHA DE SP - 23/09/11

Minha esperança é que Lula ou outros amigos do Irã no governo brasileiro possam fazer essas perguntas a ele

Karim Sadjapour é meu amigo e colega no Carnegie Endowment, "think tank" (centro de estudos) onde trabalho. É também um dos maiores especialistas mundiais no Irã.
Alguns dias atrás Karim publicou um artigo no "Washington Post", um texto baseado em perguntas ao presidente Mahmoud Ahmadinejad. Karim colheu as perguntas de ativistas iranianos pró-democracia e direitos humanos, que, obviamente, não têm acesso ao presidente. Como o Brasil é bom amigo do Irã e o presidente Lula desenvolveu laços pessoais estreitos com Ahmadinejad, pensei que seria boa ideia divulgar mais essas perguntas.
Minha esperança é que Lula ou outros amigos do Irã no governo brasileiro, quem sabe, possam formular as perguntas a ele diretamente -e discretamente.
Afinal, a explicação que Lula e o Itamaraty deram de seu longo silêncio público em relação às violações de direitos humanos no Irã, Cuba e Venezuela é que são mais eficazes quando transmitem suas mensagens reservadamente a Ahmadinejad, Castro e Chávez. Aqui, então, estão algumas perguntas que eles poderão colocar na próxima vez em que jantarem com o presidente Ahmadinejad.
-Seus adversários nas eleições de 2009, Mir Hossein Mousavi, 69, e Mehdi Karroubi, 73, estão sendo mantidos incomunicáveis há quase um ano. Com base em quê estão sendo mantidos em prisão domiciliar?
-A estudante de PhD Somayeh Tohidlou, 32, recentemente recebeu 50 chibatadas na prisão por ter "insultado" o sr. pelo fato de ter feito campanha por Mousavi em 2009. O sr. acredita que homens açoitarem mulheres por posições políticas é apropriado?
-O sr. disse em setembro de 2010 que "a liberdade é um direito divino". Isso se aplica aos bahai iranianos, que são perseguidos por praticarem sua fé, discriminados nos locais de trabalho e encarcerados por tentarem educar seus jovens, barrados das universidades? -A Transparência Internacional, a Freedom House e o Banco Mundial dizem que os índices de corrupção, mal-estar econômico e repressão durante seu governo são mais altos do que eram no Egito de Hosni Mubarak e na Tunísia de Ben Ali. O sr. acredita que não terá o mesmo destino que eles?
-Os protestos antigoverno no Irã em 2009 foram significativamente maiores do que quaisquer protestos no Oriente Médio este ano, mas o sr. aludiu aos manifestantes como "poeira e sujeira". Por que?
-Durante sua presidência, o Irã vem tendo o mais alto índice per capita de execuções no mundo, incluindo execuções públicas recentes e a morte de acusados de serem homossexuais. O sr. se orgulha desse histórico?
-Ali Vakili Rad, condenado pela França em 1991 pelo assassinato brutal a facadas do ativista democrático iraniano Shapour Bakhtiar, 77, em Paris, teve uma recepção oficial de herói no aeroporto de Teerã ao ser libertado da prisão no ano passado. Por que seu governo glorifica assassinos?
Estas são apenas algumas poucas perguntas que escolhi, mas há muitas outras. Elas garantirão um jantar interessante. E colocá-las é a coisa decente a fazer.

RUY CASTRO - Os garotos do Brasil


Os garotos do Brasil
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 23/09/11

RIO DE JANEIRO - Sócrates, 57, volta para casa depois de 17 dias entre a vida e a morte no hospital por complicações decorrentes de cirrose do fígado. A partir de agora, não poderá mais beber álcool.
Mas isso não fará dele um ex-alcoólatra. Assim como o diabético que deixa de comer açúcar não se torna ex-diabético -torna-se apenas um diabético que deixou de comer açúcar-, Sócrates continuará sendo alcoólatra. Apenas terá deixado de beber.
Para a indústria cervejeira, sua doença é um desastre. Demonstra que ninguém, nem mesmo um homem inteligente, cidadão admirado e, ainda por cima, médico, como Sócrates, está a salvo de seu produto. Que este produto não é diferente dos "mais fortes", como os destilados, e que, apesar disso, entra alegremente pelas casas via televisão, patrocinando inclusive a seleção brasileira.
Pois não é irônico que Sócrates, que já foi um dos símbolos desta como atleta nos anos 80, quase tenha morrido do produto que patrocina hoje a seleção?
Trinta anos de consumo firme e crescente de cerveja renderam-lhe a cirrose cujos sintomas ele, como médico, deve ter percebido há muito. Sócrates percebeu, mas continuou a beber. Por quê? Porque o alcoolismo é progressivo e, depois de certa etapa, quem manda não é a razão, mas o organismo, e este quer sempre mais.
Sócrates pertence aos 15% da humanidade que podem beber muito sem sentir os efeitos adversos do álcool, como embriaguez, intoxicação e ressaca.
Só isso explica que, com seu histórico de copo, nunca tenha sido advertido pelos médicos de seus clubes -que também não entendem de alcoolismo.
Sócrates disse que, se saísse dessa, iria fazer trabalho social junto às crianças da Venezuela. Faria melhor se ficasse aqui e contasse sua história para os garotos do Brasil.


FERNANDO DE BARROS E SILVA - A saúde dos impostos


A saúde dos impostos
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SP - 23/09/11

SÃO PAULO - Nos estratos mais ricos da sociedade, que costumamos confundir com a classe média, é difícil encontrar quem não levan te a voz contra os impostos -extorsivos, como se gosta de dizer. De fato, a nossa carga tributária, em torno de 35% do PIB, além de alta, é atípica para países pobres como o Brasil.
É uma taxa equiparável à de nações como Reino Unido, Alemanha ou Portugal, nas quais os serviços públicos são incomparavelmente melhores. Mas os países da OCDE (com renda e IDH bastante elevados) destinam, em média, 6,5% do PIB à saúde. Nós destinamos apenas 3,6%.
A carga brasileira é pesada, mas o dinheiro que chega à saúde é insuficiente. Quem não precisa encarar as filas e os horrores do sistema público tende a se incomodar apenas com os excessos da tributação.
Há agora uma grita geral contra a criação da CSS, a Contribuição Social para a Saúde. Entre impostos, contribuições e taxas federais, seria o 64º tributo do país. Mas a questão assim está mal posta. Como lembrou Gustavo Patu, nesta mesma página, entidades empresariais contrárias à contribuição não abrem mão das taxações destinadas às confederações da indústria e do comércio.
Os que pregam que a tragédia social se resolve apenas combatendo a corrupção e os desperdícios do Estado são tão demagogos quanto aqueles para quem isso não tem importância. Num país tão desigual, é preciso desmistificar quem paga o que em benefício de quem.
Com os impostos indiretos embutidos no que consome, o pobre destina proporcionalmente mais que o rico ao Estado. Os impostos por aqui são regressivos.
Taxamos muito o consumo (ninguém percebe o que paga), mas a tributação da renda e do patrimônio é baixíssima para os padrões internacionais. Os ricos reclamam da voracidade do Estado. Enquanto isso, ser pobre e ficar doente no Brasil segue sendo um péssimo negócio

ANCELMO GOIS - GOIS NO ROCK IN RIO


GOIS NO ROCK IN RIO 
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 23/09/11

O pessoal das aviadoras deveria pagar royalties ao Roberto Medina, responsável por lotar o Rio de amantes do rock.
Um parceiro da coluna, freguês da Ponte Aérea, pagou, acredite, R$ 1.408,66 por uma passagem, só uma perna, de São Paulo para o Rio, hoje, às 7h na TAM.

JÁ... 
Sexta passada, a passagem na Ponte Aérea das 8h saiu por R$ 851,16.
Convenhamos... também é muito cara.

‘DO’ É O CACETE 
Aliás, este mesmo viajante carioca implicou outro dia com uma aeromoça, também da TAM, que ao decolar de São Paulo disse que o destino do voo era o aeroporto “do” Santos Dumont.
Ele foi lá explicar à moça que, embora Santos Dumont fosse de família rica de produtores de café, nunca foi dono de aeroporto.

VIVA SÉRGIO BRITO! 
Familiares de Sérgio Brito, 88 anos, conseguiram na 16ª Vara Cível do Rio uma liminar que suspende a doação de bens do grande e querido ator para um ex-administrador.
NO MAIS Veja como a oposição está perdida. O tucano Álvaro Dias criticou Dilma pela defesa na ONU dos palestinos.
Já FH elogiou o discurso e lembrou que pertence ao grupo de ex-presidentes, criado por Mandela, que luta pelo reconhecimento da Palestina.

MERVAL NA ABL 
O coleguinha Merval Pereira toma posse hoje, às 21h, na Academia Brasileira de Letras.
O novo acadêmico é autor, entre outros, do livro O Lulismo no Poder. Vai ocupar a vaga que foi de Moacyr Scliar, falecido em fevereiro.

LUZ NO FIM DO TÚNEL 
O juiz Luiz Roberto Ayoub reuniu-se com a ministra Carmem Lúcia para tratar daquela famosa ação de defasagem tarifária da Varig contra o governo 
(em jogo uns R$ 5 bi).
Existe a expectativa de a decisão sair até o fim do ano. Antigos funcionários da finada atravessam dificuldades.

ALIÁS... 
Em 2009, a ministra, relatora do caso, aceitou suspender o julgamento a pedido do então advogado-geral da União, José Toffoli, hoje ministro do STF, que queria tentar um acordo.

LOBÃO CONTRA-ATACA 
De tanto ouvir ONGs internacionais atacarem Belo Monte, o ministro Edison Lobão resolveu contra-atacar.
Vai aos EUA apresentar o modelo energético brasileiro nas universidades de Columbia e Utah. Falará ainda a empresários de Salt Lake City.

NÃO FALTOU AVISO 
A 3ª vice-presidência do TJ-RJ negou o último dos nove recursos impetrados pelo governo do estado contra a sentença que obriga Cabral a recuperar os bondes de Santa Teresa.
Este mês, a liminar que determina a recuperação completou mil dias. A multa acumulada beira os R$ 50 milhões.

MARACA MAIS BARATO 
O governo do Rio reviu os gastos das obras do Maracanã para baixo em R$ 84 milhões. 
O valor orçado caiu de R$ 860 milhões, quantia acertada com o TCU, para R$ 775 milhões. 

ILIMAR FRANCO - O Rio vai pagar


O Rio vai pagar 
ILIMAR FRANCO
O Globo - 23/09/2011

O ministro Guido Mantega (Fazenda) define hoje, com a presidente Dilma, de quanto a União vai abrir mão, de royalties e de participação especial, para atender os 23 estados não produtores de petróleo. Eles querem a criação de um Fundo Especial de R$8 bilhões. A União já aceita abrir mão de R$3 bilhões e a expectativa, em 2012, é de um crescimento de receita de R$3 bilhões. A maioria do Senado quer arrancar os R$2 bilhões que faltam dos produtores: Rio e Espírito Santo.

Jucá quer votar semana que vem
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), quer votar uma nova lei de divisão da receita do petróleo na próxima semana. Alega que, assim, evita a votação da derrubada do veto do ex-presidente Lula à Lei Ibsen Pinheiro. A nova proposta está sendo costurada pelo senador Vital do Rego (PMDB-PB), relator do PLC 16/2010. Nesta semana, instalado no CCBB, Vital negociou com 18 governadores. Para fechar a equação, falta saber se Mantega convence Dilma de abrir mão de um valor a mais: entre R$500 milhões e R$1 bilhão. O restante, tem dito Vital do Rego, sairá da receita de estados e municípios confrontantes.

Apoiamos a Ana Arraes para o TCU porque podemos nos encontrar com o PSB em vários cantos. O PCdoB não vai nos encontrar em canto nenhum" - Sérgio Guerra, deputado (PE) e presidente do PSDB

Poderoso
No almoço com 18 governadores, anteontem, na residência da presidência da Câmara, o anfitrião, Marco Maia (PT-RS), fez questão de festejar o governador Eduardo Campos (PSB-PE), quando este chegou para o encontro. Foi logo passando a palavra para o filho da ministra eleita para o TCU, Ana Arraes: "Para abrir nosso diálogo, dou a palavra ao governador que, a partir de hoje, é o mais influente no TCU!"

Cabo de guerra
Os ambientalistas levaram a melhor na eleição para escolher o relator da Comissão Mista de Mudanças Climáticas da Câmara. Márcio Macêdo (PT-SE), ambientalista, venceu Mendes Thame (PSDB-SP), apoiado pelos ruralistas, por 10 a 9.

Lamúria
Os presentes ficaram surpresos com frase dita pelo ex-presidente Lula no Jaburu anteontem. Lá pelas tantas, Lula desabafou: "Quando querem ser ministro, juram fidelidade. Mas essa jura só vale até o dia da posse. Não me envolvo mais."

O perfil da Comissão da Verdade
O governo Dilma já tem o perfil dos sete integrantes da futura Comissão da Verdade. Os critérios estão definidos: alguém de esquerda, um tucano, um historiador renomado, um grande jurista, um religioso e um ou dois notáveis intelectuais. O nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é bastante citado no Palácio do Planalto. Aprovada na Câmara, a votação no Senado será acompanhada pela ex-senadora e ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais).

A explicação
A assessoria do Senado liga para dizer, no caso do protesto de vítimas do regime militar, que resolução da Mesa, baixada pelo ex-presidente Antonio Carlos Magalhães, proíbe fincar objetos, como cruzes, no gramado do Congresso.

Casquinha
Ironia do presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Fernando Collor (PTB-AL): "Diziam que a presidente Dilma seria cobrada. Mentira! Ela foi à ONU e, no Ato da Transparência, não se falou da Lei do Fim do Sigilo Eterno."

PESQUISA DO PSDB: Aprovação da presidente Dilma: 66%. Desaprovação: 24%. Avaliação do governo Dilma: positiva, 46%; negativa, 12%.

O CIENTISTA político Antonio Lavareda vai apresentar a pesquisa nacional encomendada pelo PSDB aos deputados federais tucanos na próxima terça-feira.

SOBRE a eleição para o TCU, um deputado tucano conta: "Ouvi gente dizer que votaria na Ana Arraes porque daqui a seis anos tem nova eleição. Se o Aldo Rebelo vencesse, ele só sairia de lá em 15 anos." Os ministros do tribunal se aposentam aos 70 anos.

PAULO SANT’ANA - A engrenagem


A engrenagem
PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 23/09/11 

O que vem a ser uma engrenagem? O que vêm a ser nossas engrenagens?

Eu penso que, quando, por exemplo, suas decisões não influem nada sobre a existência de sua família, sobre a organização da sua família, sobre a desorganização da sua família, você está sendo apenas um joguete na sua família, nesta sua engrenagem.

O mesmo com seu emprego. Quando, em seu emprego, você só obedece às ordens superiores, quando você não contribui em nada para a alteração, a ampliação, a organização dos objetivos de seu emprego, você está sendo apenas um joguete na sua empresa ou repartição.

Ou seja, para que você não se submeta à sua engrenagem, é preciso que participe ativamente da movimentação de conteúdo dela.

Você só não será joguete de sua engrenagem se ela permitir que você afirme a sua soberania.

Em suma, quando sua família passa por cima de sua soberania pessoal como um trator, não se importando com suas opiniões ou ideias ou despreza com método a sua capacidade de decisão ou influência, você acaba de ser um mero joguete da engrenagem.

Você tem o direito de manter e modificar a engrenagem, quando ela o imobiliza à inércia e à desimportância, aí é que se verifica a sua escravidão à engrenagem.

Já fui e sou submetido – e também não o sou – a várias engrenagens, uma roda de amigos, um clube, entidades de comércio e de lazer das quais sou usuário.

Mas, quando tentam me submeter ou conseguem me submeter, precisam ver como eu esperneio. Porque uma mania que eu tenho é a de fazer parte ativa da engrenagem, principalmente pelas minhas ideias. Eu estou sempre dando ideias a respeito de tudo o que me cerca. Em suma, eu sou um reformador.

A minha engrenagem tem de ter, se não meu rosto, pelos menos algumas das minhas feições.

Nada que venha de cima ou de baixo nas minhas engrenagens deixa de receber a minha concordância ou o meu protesto. Procuro ser cordial nesse relacionamento, mas sou muito atento.

Porque eu sempre reservei para mim o direito de decidir sobre o metabolismo das minhas engrenagens.

E confesso que, em matéria de minha família, eu nada mais sou do que um mero joguete dessa minha engrenagem. Essa minha engrenagem passou por cima de mim como um trator, fez o que quis de mim, me despersonalizou, acabou comigo.

Mas o que é que eu vou fazer? As engrenagens têm poder destrutivo.

Mudando de assunto, saúdo efusivamente o lançamento ontem da Ciclovia da Avenida Ipiranga, que terá um percurso de 9,4 quilômetros, da Edvaldo Pereira Paiva até a Antônio de Carvalho.

É um velho sonho dos ambientalistas, dos melhores urbanistas, enfim, dos munícipes.

Saúdo também a parceria entre a prefeitura, o Shopping Praia de Belas e a Companhia Zaffari, estas duas empresas custearão com seus recursos próprios a construção da ciclovia de duas mãos, no valor de R$ 2,5 milhões.

Sonho que essa ciclovia seja inspiradora da construção de inúmeras outras ciclovias em nossa cidade, lógicas soluções urbanas para o lazer, o esporte e a economia de custos individuais dos cidadãos no que se refere ao preço dos transportes.

Ave, Ciclovia da Ipiranga!

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


What?
SONIA RACY
O Estado de S.Paulo - 23/09/2011

O Metrô de São Paulo acaba de receber intimação inusitada. O Ministério Público apura suposto “desprestígio linguístico do idioma oficial da República Federativa do Brasil”. Isso porque a empresa modernizou e adaptou as placas de informação das linhas para o padrão internacional, bilíngue (inglês/português). Lembrete: o País receberá a Copa e as Olimpíadas...

Relaxa e goza?
O Zorra Total, da Globo, está na mira do Sindicato dos Metroviários de São Paulo e do PSTU. Alegam que o quadro Metrô Zorra Total dá a entender que mulheres molestadas nos vagões deveriam “aproveitar” o ataque. A campanha anti-Zorra está distribuindo panfletos na porta da estação Sé. Procurada pela coluna, a assessoria da emissora não foi localizada até o fechamento desta edição.

Prateleira
A Biblioteca Nacional acaba de contratar Aquilles Brayer como consultor. Curador da versão on-line da British Library, o brasileiro vai ajudar a traçar plano estratégico da BN até 2020, reestruturar a BNDigital e implantar a biblioteca de empréstimo de e-books.

Prateleira 2
A BN também está negociando, com a Bill & Melinda Gates Foundation, investimentos em bibliotecas públicas brasileiras a partir de 2012. O primeiro encontro ocorreu há dois meses, no Rio. Na próxima semana, a rodada de conversas será em Houston.

Hotel palácio 
Decidido: serão dois, os prédios a serem construídos no projeto de reformulação do antigo hospital Umberto Primo. Alexandre Allard e Philippe Starck mostraram a planta, esta semana, a Andrea Matarazzo. Além da restauração das construções tombadas, o paisagismo será reforçado, com plantio de mais 700 árvores.

Tapete voador 
Jogadores de Corinthians, Flamengo, Fluminense e Vitória estão se queixando dos shows de Justin Bieber, em outubro, no Engenhão. Preocupam-se com a piorado já difícil gramado.

Acabou 
De fonte forte do futebol: Felipão não completa o ano no comando do Palmeiras.

Pelica 
Durante jantar em torno de Dilma, no Wilson Center,em Nova York, Roger Agnelli, ex-presidente da Vale, levantou-se prontamente ao ver a presidente passar por sua mesa no recinto. Tirou do arranjo uma flor branca e deu à... própria.

Ver para crer 
Em São Paulo, para entender como o Brasil sobre vive parcialmente invicto à crise econômica internacional, está Stuart Gulliver. Nada menos que o presidente mundial do HSBC.

Chiu!
Está na Câmara paulistana projeto que prevê instalação de barreiras de proteção acústica (de acrílico) em trechos da cidade cortados por rodovias. Na Raposo Tavares, por exemplo, o barulho atinge até 74 decibéis. O limite do estresse, segundo a OMS, é 55.

Muro 
Durante jantar em sua homenagem, terça, na casa dos amigos Bete e Marcos Arbaitman, Henrique Meirelles não revelou aos presentes quantos anos completava. Mas confirmou ter recebido convite de Ricardo Teixeira, da CBF, para dirigir o comitê de organização da Copa de 2014. Aesta coluna, ponderou ser difícil conciliar o cargo nas Olimpíadas, que já detém, com uma nova função. Mas registrou que, antes de qualquer decisão, deve conversar com Dilma. O encontro ainda não está marcado.

BARBARA GANCIA - Dá-lhe, Dilmão!


Dá-lhe, Dilmão!
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 23/09/11

Credibilidade é uma área que as mulheres dominam e a presidente Dilma está sabendo capitalizar 


A ESTA altura dos acontecimentos, entrando pelo nono mês do seu mandato, praticamente uma gestação completada com direito a festa no berçário, já se pode afirmar com segurança que Dilma é de casa.
Quando a presidente chegou ao Planalto pontuando frases com suspiros claudicantes, eu disse, xi, ferrou-se. Essa não aguenta esquentar a cadeira do homem enquanto ele vai até ali e volta.
Depois vieram as nomeações de ministros que precisaram ser trocados por encenadores de Sarney de bufê de festa de criança, que vexame. E a Dilma ali, sem ser do PT nem da turma da Berenice, às vezes dando a impressão de não pertencer a lugar nenhum, toda travada naqueles tailleurs com manga 3/4 que eu nunca tinha visto em lugar nenhum.
Era o próprio ET de Varginha habitando o Alvorada com a mãe recém-saída do casting da novela sentada no sofá, que cena.
Eu sei o que a Dilma passa, me identifico com essa coisa de levar a vida deslocadona, querendo se esconder atrás da cortina.
Só que agora o pessoal está lá para vê-la, não dá mais para jogar o holofote na direção da mãe classuda, do ex-marido com pretensões políticas que fala, fala, fala, do netinho, que bonitinho.
Agora a maré mudou e navega de desconforto em desconforto, do evento ao discurso ao jantar sendo ela sempre o centro das atenções. Vai carregando nas costas a responsabilidade e o sacrifício como saco de batatas.
E chegamos à paradinha no meio da frase, para dar um reset na máquina que carrega a Duracell programada para durar até dezembro de 2014, conjunto criado pelo gênio da comunicação João Santana.
Houve um momento nestes últimos nove meses em que o ar de honestidade que Dilma faz transparecer superou tudo o que a presidente possa ter feito de bom e de ruim em seu governo até agora.
Sinto muito se sou perigosamente ingênua ao dizer isto. Mas a impressão de integridade que ela passa é um atributo raro e bem desejável aos políticos.
Por causa dele Dilma, o fantoche, virou "Dilma dinamite" na "Newsweek" (dirão os céticos que a revista está coberta de anúncios de estatais tapuias) e ultrapassou a barreira partidária para conquistar claudetes e troianos.
Em seu discurso na abertura nesta semana da Assembleia-Geral da ONU, Dilma colocou o Brasil como país absolutamente moderno e preparado para encarar um novo paradigma, ao mesmo tempo em que jogou fora aquele ranço insuportável de nos ufanarmos de nossa dimensão continental. 
É pulso cobrar a China em sua política cambial e, no mesmo discurso, puxar a orelha dos EUA como se fossem moleques, para dizer que agora chega de prejudicar o mundo com picuinhas partidárias que são só deles. E fazer isso tudo e ainda ser levada em alta estima por tudo que é jornal e site financeiro. Quando foi mesmo que FHC e Lula tiveram essa repercussão?
Credibilidade é uma seara das mulheres e Dilma está capitalizando. É claro que isso faz com que os escândalos, que não são poucos em seu governo, fiquem automaticamente descolados da sua imagem.
Mas, convenhamos, esse é o verdadeiro milagre brasileiro. Nunca vimos uma mulher que não soa como uma típica populista sul-americana com as velhas artimanhas de sempre abrir a Assembleia-Geral da ONU.

RON PROSOR - A fantasia Abbas na ONU


A fantasia Abbas na ONU
RON PROSOR
Valor Econômico - 23/09/2011

No clássico de Lewis Carroll, "Alice no País das Maravilhas", a heroína cai em uma toca de coelho onde encontra um mundo confuso de fantasias. Se estivesse escrevendo essa mesma história hoje, Carroll poderia ter colocado Alice na 66 ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, onde o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, busca o reconhecimento da ONU para um Estado Palestino. Se Alice ficou perplexa com o Chapeleiro Louco ou a Rainha de Copas, seria interessante ver a reação da jovem diante da ação de um presidente, cujo mandato expirou há muito tempo, pedindo a criação de um Estado em um território que ele mesmo tem medo de visitar certas áreas. A confusão da personagem seria agravada ao descobrir que muitos dos países que fazem parte da Organização estão felizes em ceder a essa fantasia.

A proposta da Autoridade Palestina tem grande possibilidade de passar na Assembleia Geral, onde a dinâmica da votação efetivamente garante que quase todos os caprichos dos palestinos sejam validados. A verdade é que o chefe da Autoridade Palestina não possui, absolutamente, nenhuma autoridade na Faixa de Gaza. Abbas não pôs os pés em Gaza desde que a organização terrorista Hamas realizou um sangrento golpe e tomou o controle da área em 2007. Fazendo um paralelo, seria como se o prefeito eleito da cidade de Nova York fosse incapaz de andar pelas ruas do Brooklyn.

As conversas inevitáveis com Israel não serão tão fáceis e implicarão em um trabalho árduo. Apenas no mundo real, com o diálogo direto permeado de verdades difíceis e compromissos sérios, israelenses e palestinos podem tecer uma paz viável, segura e duradoura.

Cada Estado reconhecido pelas Nações Unidas tem a obrigação de estar disposto e apto a exercer sua autoridade sobre seu próprio território. Abbas está disposto a exercer essa autoridade e é capaz de controlar o Hamas? Talvez os cidadãos do sul de Israel, semipermanentes residentes de abrigos antibomba, possam oferecer uma resposta para essa questão. A chuva contínua de foguetes, morteiros e mísseis do Hamas contra casas, hospitais e escolas israelenses nos fornece uma vívida ilustração de que a Autoridade Palestina não quer e é incapaz de sustentar esse requisito básico.

Ao apoiar essa iniciativa, muitos na comunidade internacional parecem dispostos a varrer para debaixo do tapete as questões sobre o terrorismo palestino, o incitamento e a falta de uma governança coerente. Estão apenas cedendo a uma marcha da insensatez. A Assembleia Geral não pode criar um Estado Palestino pois uma ação unilateral não seria apenas maléfica para a paz, mas para a região e, acima de tudo, para o avanço nas aspirações dos palestinos de um Estado genuíno.

Muitos líderes palestinos, incluindo o primeiro-ministro Salam Fayyad, entendem que, como resultado direto de uma forte cooperação econômica e de segurança entre israelenses e palestinos, a economia palestina experimentou um crescimento de 10% em 2010. A única região do mundo que pode ostentar esses números é a Cisjordânia. Aqueles que conseguem compreender o esforço necessário para a criação de um verdadeiro estado não desejam colocar em risco esse progresso com uma declaração prematura e fantasiosa de um estado imaginário.

O que aconteceria com a decisão favorável à criação de um Estado Palestino na Assembleia Geral da ONU?

Em primeiro lugar, isso iria alimentar uma fantasia de que compromissos alcançados nas negociações podem ser ignorados. John F. Kennedy descreveu uma vez a impossibilidade de trabalhar com aqueles que dizem "o que é meu é meu e o que é seu é negociável". A premissa básica do apelo palestino nas Nações Unidas é a seguinte: Nos dê tudo, sem negociação, e depois vamos negociar o resto.

Os verdadeiros amigos dos palestinos na comunidade internacional devem incentivá-los a retomar imediatamente as conversações diretas com Israel. Ninguém, além de israelenses e palestinos, por conta própria, na mesa de negociações, pode enfrentar os grandes desafios que devem ser abordados para que a paz seja alcançada. Essa ação unilateral faz o oposto, permitindo que a Autoridade Palestina contorne o caminho das negociações, enquanto viola todos os acordos bilaterais entre líderes palestinos e israelenses desde os acordos realizados em Oslo.

Além disso, incentiva comportamentos imprudentes em uma região já fragilizada. Aprovar essa manobra unilateral é uma receita para a instabilidade, o colapso das cooperações e, potencialmente, a violência. Aprovar resoluções na Assembleia Geral não requer concessões, não demanda liderança e também não cobra responsabilidade por parte dos palestinos. As conversas inevitáveis com Israel não serão tão fáceis e implicarão em um trabalho árduo, frustrações e muitas noites sem dormir, porém, as negociações continuam a ser única forma para conseguir avanços.

Enquanto os líderes palestinos clamam pelo reconhecimento unilateral, aqueles que apoiam essa medida podem, em breve, estar chorando por suas consequências.

A busca de um Estado virtual incide na mesma esfera de fantasia que Alice descobre no país das maravilhas, todos os coelhos brancos e arenques vermelhos. Apenas no mundo real, com o diálogo direto permeado de verdades difíceis e compromissos sérios, israelenses e palestinos podem tecer uma paz viável, segura e duradoura.

Ron Prosor é embaixador de Israel na Organização das Nações Unidas.

MARINA SILVA - Chancela


Chancela
MARINA SILVA
Folha de São Paulo 23/09/11

Apesar da rica discussão feita pelos senadores na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), foi aprovado sem alteração o relatório do senador Luiz Henrique (PMDB-SC) ao projeto da Câmara que muda o Código Florestal.

Foram apontadas várias inconstitucionalidades no texto, mas a comissão atendeu o apelo do relator e rejeitou as 11 emendas mais importantes destacadas pelos senadores.

O argumento principal foi a complexidade das emendas e a dificuldade em analisá-las naquele momento.

Repetem-se os erros ocorridos na Câmara. Primeiro, por atropelar a discussão para produzir uma lei que seja boa e contemple as contribuições de vários setores da sociedade. Não entendo essa lógica em que os problemas são reconhecidos, mas não corrigidos porque deve-se aprovar um texto num prazo que não se sabe por que ou quem o estabeleceu.

Segundo, por chancelar e concentrar poder nas mãos de quem não demonstra imparcialidade. O governo não dialogou com o Congresso para evitar que o mesmo senador fosse relator em três das quatro comissões em que o projeto vai tramitar -quando governador de SC, Luiz Henrique sancionou lei que está sendo contestada em sua constitucionalidade, porque fere o Código Florestal em vigor.

Sua responsabilidade ficou maior, pois assumiu a tarefa de acolher emendas nas outras comissões em que é relator -a de Agricultura e a de Ciência e Tecnologia.

Maior ainda é a responsabilidade do senador Jorge Viana (PT-AC), relator na Comissão de Meio Ambiente, que também respaldou essa equivocada estratégia. Haverá uma muita cobrança para que ele contemple as contribuições dos demais senadores, que foram prejudicadas na CCJ. São 96 emendas ignoradas.

Jorge Viana parece ter transferido ao colega esse lugar de mediador capaz de apresentar um texto mais equilibrado do que o que veio da Câmara. Não há uma manifestação por parte do líder do governo nem uma posição clara do líder do PT. Na Câmara, o líder petista Paulo Teixeira (SP), com outros dois partidos, o PSOL e o PV, fez um contraponto ao texto de Aldo Rebelo (PC do B-SP).

De positivo, há a retirada do trecho que conferia aos Estados poder de estabelecer os próprios critérios de supressão da vegetação nativa, o que levaria a uma disputa pela menor proteção possível e atrairia investimentos predatórios.

É muito pouco. O que deveria ser tratado com todo o cuidado, com visão estratégica, vai se apequenando, preso a interesses particulares.

O Código Florestal não é só a salvaguarda para as florestas: é também garantia de qualidade de vida nas cidades, já tão desfiguradas. Trata-se da legislação que permitirá constituir -ou não- a próspera economia verde do século 21.

ARTHUR DAPIEVE - Atenção à verdadeira Cidade do Samba



Atenção à verdadeira Cidade do Samba
ARTHUR DAPIEVE
O GLOBO - 23/09/11
Certo. Depois de décadas humilhada por más notícias, a cidade está lavando a égua com a sua escolha para sede das Olimpíadas de 2016, com a perspectiva de ser o principal centro da Copa de 2014 e com o retorno do pródigo Rock in Rio, cuja quarta edição carioca começa hoje. Negocia-se, ainda, para que ela sedie três finais consecutivas do ATP World Tour, tira-teima da temporada do tênis, de 2013 a 2015.
Certo. Na área da segurança pública, embora a médio prazo não sejam eficazes se não forem acompanhadas pela ocupação social, as UPPs são a única resposta a até hoje apresentar resultados, tanto práticos quanto na autoestima do Rio. Escrever que fracassaram por causa das recentes escaramuças na Maré, como li em artigo num jornal paulistano, é ou ingenuidade ou má-fé. Ninguém aqui se iludiu com uma vitória final.
Certo. Nem tudo é um mar de rosas também em setores menos traumáticos. O momento trouxe para a cidade uma carestia indecente, e o ufanismo dele decorrente às vezes resvala para um "ame-o ou deixe-o" no qual as críticas soam como heresias, o que cria um ambiente provinciano - e favorável à malversação de verbas públicas. É lícito, porém, que o carioca queira aproveitar a boa fase e deixar todo o passado para trás.
Todo? Errado. Existem passados e passados. O recente deve ser superado, embora não esquecido (para não ser repetido). O distante precisa ser preservado, mesmo se não tiver sido glorioso. A mais nova edição da "Inteligência Empresarial", revista trimestral do Centro de Referência em Inteligência Empresarial da Coppe/UFRJ, editada por Marcos do Couto Bezerra Cavalcanti e coordenada por Luiz Carlos Prestes Filho, levanta uma bola importante nessa hora de renascimento do ufanismo carioca.
O número 35 da publicação reúne artigos e uma entrevista - com a arqueóloga Tania Andrade Lima, do Museu Nacional - que tratam da necessidade de equilibrar desenvolvimento e preservação histórica. O primeiro tende a literalmente passar por cima da segunda, demolindo prédios importantes e redesenhando vizinhanças em nome do progresso de ocasião. Quase sempre sem consultar os habitantes da área afetada.
Os dois grandes protagonistas dessa "Inteligência Empresarial" são o Porto Maravilha e a Pequena África. O primeiro é o projeto lançado em junho de 2009 para a crucial revitalização da zona portuária dos bairros de Santo Cristo, Gamboa e Saúde, projeto inspirado em experiências bem-sucedidas em Barcelona (Port Vell) e em Buenos Aires (Puerto Madero), entre outras. Lá, áreas degradadas foram reurbanizadas, atraíram investimentos e passaram a gerar lucros para a economia das cidades.
Já a Pequena África foi uma área delimitada, grosso modo, pelas atuais avenidas Rio Branco, a leste; Francisco Bicalho, a oeste; por uma linha paralela à Presidente Vargas, quarteirões ao sul dela; e pelo recorte da própria Baía de Guanabara, ao norte. A região tinha esse nome - que soa simultaneamente preconceituoso e carinhoso, numa ambiguidade muito brasileira, aliás - por conta da grande quantidade de negros ali encontrados. Às vezes, de modo permanente: o cemitério de escravos fica na Saúde.
Com a chegada de D. João VI e da corte portuguesa da Europa, em 1808, toda a movimentação do tráfico humano deveria ficar longe dos olhos da elite branca do Rio. Portanto, quando chegavam da África, os escravos passaram a desembarcar no Cais do Valongo, na fronteira norte da Pequena África, e não mais na Praça XV, bem central. Mesmo o Valongo, contudo, acabou sendo soterrado pelas obras do Cais da Imperatriz, por onde desembarcou a princesa Tereza Cristina para o casamento com D. Pedro II.
Tania Andrade Lima vê assim a missão de sua equipe nos 2.000 m² escavados: "Trabalhamos na arqueologia histórica com o propósito de sermos um antídoto contra amnésias sociais, buscando o resgate do que o tempo e a sociedade preferiram ocultar e esquecer. O Cais do Valongo é um exemplo concreto dessa amnésia social." Os negros foram as principais vítimas dessa memória seletiva, mas não os únicos. Em seu artigo na revista, o historiador Milton Mendonça Teixeira lembra que "em toda a extensão do Porto do Rio de Janeiro residiam, majoritariamente, negros, judeus, árabes e ciganos. Pobre e excluída socialmente, essa parcela da sociedade encontrava-se abandonada nesta área e era utilizada pelo poder político e econômico da época como mão de obra barata." O comércio popular da Saara é um resquício vivo dessas outras colônias.
A área correspondente à Pequena África é a verdadeira Cidade do Samba: ainda concentra, segundo os dados da "Inteligência Empresarial", 63 barracões de escolas adultas e mirins - além do próprio Sambódromo, não muito distante de onde ficava a lendária casa da Tia Ciata. Esta há muito foi posta abaixo, mas estão lá, aguardando reforma, preservação e valorização, as casas onde nasceram dois gigantes da cultura carioca, Machado de Assis (no Morro do Livramento) e Ernesto Nazareth (no Morro do Pinto). Compreensivelmente entusiasmado pelo Projeto Porto Maravilha, o poder público tem também o desafio de não ignorar a história do Rio em nome de uma modernidade asséptica. Nenhuma cidade conquista o futuro dando as costas ao passado.

GILLES LAPOUGE - Sarkozy, Obama e Israel


Sarkozy, Obama e Israel
GILLES LAPOUGE 
 O Estado de S.Paulo - 23/09/11

Nicolas Sarkozy, em meio a semanas (ou anos) de problemas, teve duas alegrias nos últimos dias. Primeiro, pôde ir à Líbia, a Trípoli e Benghazi, na qualidade de senhor da guerra, como os cônsules romanos, que ao regressar depois dos combates desfilavam em triunfo. Segundo, conseguiu criticar, na ONU, o balanço feito por Barack Obama sobre a questão entre palestinos e Israel. Até se permitiu propor, para romper o impasse que Obama acabava de admitir, uma nova saída - um novo labirinto.

O momento foi muito bem escolhido. Há tempos Sarkozy morria de vontade de meter-se na questão Israel-palestinos. Mas era visto, contrariamente à tradição diplomática da França, como amigo dos judeus e adversário dos árabes. A proximidade com Israel valeu a Sarkozy uma grande popularidade em Jerusalém. Enquanto De Gaulle era detestado em Israel, Sarkozy era adorado - o mais popular de todos os presidentes franceses desde 1958. Sua opção em favor de Israel decorre certamente de cálculos políticos e diplomáticos, mas também da história familiar de Sarkozy.

Apenas uma vez ele levantou o véu desse mistério, durante uma visita à Grécia, ao lembrar que seu avô materno, Benedict Aaron Mallah, era um judeu de Salonica, que chegou na França em 1904, com 14 anos. Mais tarde, em 2008, pronunciou na Knesset (o Parlamento israelense) um discurso entusiasta: "Israel não está sozinho. A França estará sempre ao seu lado quando sua existência for ameaçada".

Infelizmente, com os Estados árabes não foi tão bem-sucedido. Demonstrou grande amizade pelos líderes africanos mais odiosos: o tunisiano Ben Ali, o egípcio Mubarak, o líbio Kadafi. Mas Sarkozy é uma enguia. Desde o início das "primaveras árabes", ele procurou se reciclar, compreendendo que esses colegas africanos eram uns crápulas, e logo tratou de censurá-los violentamente. Graças a isso, hoje, ele se apresenta como amigo dos "democratas africanos", finalmente livres dos déspotas.

É por isso que Sarkozy continua envolvido no Oriente Médio e poderá vir a exercer certa influência. Nesse exercício, ele demonstra sua habilidade. Enquanto Obama reconhece, na ONU, o fiasco monumental dos EUA no conflito palestino-israelense, Sarkozy, adepto do "voluntarismo integral", recusa-se a deixar a questão exclusivamente aos interessados, como faz Obama. Sarkozy continua achando, ao contrário, que uma coalizão de países deve impor a árabes e israelenses um cronograma rígido antes de qualquer negociação. Será que está certo? Não está se enganando? Pelo menos, ele mostra uma virtude: não se inclina diante da fatalidade. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA

NELSON MOTTA - Enquanto a bola rola


Enquanto a bola rola
NELSON MOTTA
O Globo - 23/09/2011

Para quem ama futebol não existe nada melhor do que ir a uma Copa do Mundo e assistir todos os jogos, com o seu time terminando campeão. Mas nada pode ser pior para um torcedor apaixonado do que ir a uma Copa e não conseguir ver os jogos. Para assistir pela televisão é mais barato e confortável ficar em casa, ou no bar com os amigos, tomando sua cervejinha no ar-condicionado. Ver um jogo no estádio é muito diferente, é uma sensação insuperável para quem ama o futebol, que nem a melhor TV em 3-D consegue dar.

Quem vai viajar milhares de milhas e gastar milhares de dólares para ir a uma Copa do Mundo e não ver os jogos? Pelas contas oficiais, muita gente: 600 mil turistas são esperados para a Copa de 2014. Como entre brasileiros e estrangeiros só 80 mil vão ver a final no Maracanã, vai sobrar muito turista fora do estádio, assistindo pela TV, como se estivesse em sua própria casa. Nas semifinais serão só 130 mil ingressos para nativos e gringos, e nas quartas, só 260 mil privilegiados vão assistir os 4 jogos ao vivo. Os cidadãos que pagaram a conta da festa vão ver na TV.

Otimista, o Ministério do Turismo também espera 3,7 milhões de brasileiros viajando pelo país durante a Copa, mas a grande maioria não tem chance de ver os jogos além das oitavas de final. O que essa multidão de turistas, que adora futebol e gasta muito dinheiro para viajar, vai fazer aqui se não puder ver os jogos? Só se for turismo sexual. Para turistas não futebolísticos, viajar para o Brasil no inverno é uma roubada. O pior é gastar uma grana para ver seu país ser eliminado logo no inicio e ficar zanzando como um zumbi futebolístico, fingindo que ainda está interessado na Copa.

Mas a ministra do Planejamento já planejou: como os projetos de mobilidade urbana não vão ficar prontos para a Copa, para diminuir o número de pessoas na rua e a demanda por transporte público, pode ser decretado feriado nos dias de jogos. Enquanto 70 mil, que é menos da metade do publico do Rock in Rio, vão ao estádio, o resto da turistama fica de bobeira, com o comércio fechado e a cidade parada, vendo a Copa pela TV.

JOSÉ SIMÃO - Rock in Rio! Chama o Cauby!


Rock in Rio! Chama o Cauby!
JOSÉ SIMÃO 
FOLHA DE SP - 23/09/11 

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador-geral da República! Piada pronta direto da Espanha: "Atacante do Zaragoza preso por abuso sexual". Como é o nome dele? BRAULIO! Atacante Braulio. Não prenderam antes não foi por falta de aviso. Rarará!
E o Brasil continua obcecado pelo Sarney. E Deus disse: "Ainda bem que, quando eu criei o Paraíso, ainda não existia esse tal de Sarney". E o anjo respondeu: "E quem o senhor acha que indicou a serpente?". Rarará! O Sarney é tão velho que até trocou as fraldas da avó dele!
E adorei o recado dessa menina no Facebook: "Rock in Rio 2011! Confirmada minha ausência!" Rock RIU! O rock riu do Rock in Rio.Olha a programação de hoje: Paralamas, Milton Nascimento, Orquestra Sinfônica Brasileira e Elton John. Que ano é hoje? É Rock in Rio ou Baile da Saudade? Esqueceram de convidar o Cauby. Esqueceram do Agnaldo Rayol! Rarará!
E o Elton John? O Elton John tá a cara da Vovó Mafalda! Aliás, o Elton John tá a cara do Joelmir Beting. Rarará! O Elton John já fez até trilha sonora para sexo oral: "Blow the Candle". Rarará! E como disse o outro: "Já estão vendendo os abadás pro show da Claudia Leitte no Rock in Rio!". Rarará! E diz que até o secretário-geral da ONU ficou com medo de ser demitido pela Dilma. "Essa ONU tá um bagunça! Fora! Vamos chamar uma mulher." Rarará! E vamos mudar ONU pra ONUA!
E sabe o que aconteceu ontem no Dia Mundial Sem Carro? Roubaram o carro do meu vizinho! Rarará! Ladrão ecológico! Deve ter sido algum bicicleteiro! Bicicleteiro até transa com a bicicleta! Aliás, sabe como se chama fazer sexo com bicicleta? PEDALFILIA! Rarará! Os Predestinados! Encontrei uma geriatra chamada Silvia Avó! Rarará! E em São Paulo tem o advogado Angelo Jorge Batman! Eu quero! Na primeira engrossada, é só gritar "Batman! Batman! Batman!".
Aliás, sabe o que o Batman fez quando viu o Robin? Entrou no batmóvel, foi pra batcaverna e bateu uma! Rarará! E um amigo meu foi pra Istambul e disse que todo vendedor de tapete que quer fazer negócio com brasileiro conhece o Amaury Jr. Nóis sofre, mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MÔNICA BERGAMO - CAIXA FORTE



CAIXA FORTE
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 23/09/11

Um grupo de seis vítimas do assalto aos cofres do Itaú, no final de agosto, vai processar o banco. Eles não concordaram em receber só os R$ 15 mil que estão sendo pagos a todos os que tiveram pertences roubados. Segundo o advogado Claudio Daólio, do escritório Moraes Pitombo, dois clientes tinham seguros de R$ 200 mil. Mas o Itaú estaria condicionando a indenização à assinatura de um acordo em que eles se comprometam a não cobrar mais nada na Justiça.

HORA MARCADA
Os clientes devem ingressar com as ações em duas semanas, após comprovar os valores que tinham nos cofres, para cobrar o ressarcimento. Um deles sustenta que guardava documentos no banco e teve o escritório assaltado cinco dias após a divulgação do roubo. Uma viúva trancou no cofre a coleção de relógios do marido, e esperava os netos crescerem para distribuir as peças. O banco não se manifestou.

LISTA VIP
O prefeito Gilberto Kassab apresentou para dirigente partidário recentemente a lista de seus pré-candidatos. Incluiu nela sua vice, Alda Marco Antonio (PMDB).

MAIS UM
Roberto Carlos anuncia mais uma data de show em SP, no dia 11 de novembro, no Credicard Hall.
Os ingressos para os outros dois dias (9 e 10/11) já estão esgotados.

ANIMADO
Reynaldo Gianecchini manifestou aos produtores de "Cruel" desejo de voltar aos palcos em fevereiro de 2012. A temporada da peça foi suspensa até que ele termine as sessões de quimioterapia. A equipe achou melhor trabalhar com prazo maior -março ou abril.

CALMA
Depois da quimioterapia, pacientes voltam a trabalhar, mas são desaconselhados a frequentar ambientes fechados e cheios, como cinemas e teatros -justamente o local de trabalho de Gianecchini.

CLÁSSICO
O cineasta Toni Venturi começa a preparar seu novo filme: "A Igreja do Diabo", baseado em conto de Machado de Assis, com roteiro de José Roberto Torero.

CIDADE MARAVILHOSA O show dos 80 anos do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que acontece no dia 12 de outubro, no aterro do Flamengo, terá repertório homenageando a cidade. Sandy interpretará "O Barquinho" e Alexandre Pires, "País Tropical".

SETE ONDINHAS
O Iate Clube de Santos está fechando contrato de R$ 1 milhão com a cantora baiana Claudia Leitte. Quer que ela se apresente no Réveillon em sua unidade em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.

CARONA
Uma copiloto da TAM pegou carona num avião da Gol sem ter a presença registrada no voo, no dia 6. Chegando a Congonhas, foi envolvida no caso do furto do computador de um passageiro. A Polícia Civil diz que a funcionária apenas resgatou o objeto e o entregou às autoridades. A TAM afirma estar colaborando na investigação do caso e afirma que tomará as providências necessárias. Já Gol diz que "desconhece o fato e ressalta que não é procedimento da companhia o embarque sem bilhete aéreo".

EU AVISEI
Autor da lei que instituiu a plaquinha de "Verifique se o mesmo está parado neste andar", o deputado estadual Vitor Sapienza (PPS-SP) aproveita a morte de uma mulher, que na semana passada caiu no fosso do elevador de uma maternidade em SP, para defender sua criação. "Quando eu fiz a lei, há quase 20 anos, disseram que era inócua. Não existe isso. Ela é para ser observada e cumprida", diz.

POR UMA BOA CAUSA
O corintiano Toquinho assistiu pelo iPad ao primeiro tempo do jogo de seu time contra o São Paulo, anteontem, antes de subir ao palco do Palácio dos Bandeirantes. Ele se apresentou durante o jantar em prol da Aliança da Misericórdia, organizado por Rosângela Lyra. Márcia Karallas e Maria Carolina Grecco participaram do evento beneficente.

CURTO-CIRCUITO

Washington Olivetto fará hoje a abertura do Seminário do IBEF Mulher.

Frejat fará duas novas apresentações de "A Tal da Felicidade", nos dias 14 e 15 de outubro, às 22h, no Citibank Hall. 14 anos.

O Oi Futuro abriu as inscrições para o edital do Programa Oi de Incentivo ao Esporte 2011.

Maria Gilka exibe a obra "Sob o Manto do Poder" na exposição de artes do Clube de Campo São Paulo.

O livro "Ego Trip", de Roberto Bicelli, será lançado no dia 3, a partir das 19h, na Livraria da Vila do shopping Higienópolis.

A festa Discotexxx fará hoje homenagem ao Nirvana, no Sonique. 18 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

RAFAEL ELDAD - A paz não pode ser imposta


A paz não pode ser imposta
RAFAEL  ELDAD
O Globo - 23/09/2011

Em meio a tantos mitos, a realidade da relação entre israelenses e palestinos é uma: se não por negociações diretas entre as duas partes, a paz jamais será alcançada e nenhum acordo será acolhido. Nenhum outro método pode assegurar que todas as demandas sejam atingidas e que uma solução aceitável seja obtida para os dois lados, mesmo não suprindo todas as aspirações. Mesmo assim, os palestinos parecem determinados a minar esta realidade em sua busca prematura pelo reconhecimento na ONU.

O fato de os palestinos optarem por ir às Nações Unidas não é surpresa. Em 2009, quando uma nova administração assumiu o poder nos EUA, a liderança palestina tinha esperanças de que a Casa Branca pressionasse Israel a aceitar todas as suas reivindicações. Quando isto falhou, resolveram pressionar Israel através da ONU.

Os dois planos tinham algo em comum: evitar negociações diretas. E, de fato, os palestinos têm evitado as negociações com Israel por dois anos e meio. A paz não pode ser imposta. A história tem nos ensinado que a intervenção de terceiros não pode ditar os termos às partes envolvidas. No entanto, voltando-se para a ONU e pedindo o reconhecimento unilateral de um Estado, os palestinos tentam ditar suas demandas maximalistas, ignorando o processo de negociação que é a única esperança para a verdadeira paz. Negociações futuras também serão afetadas negativamente com uma ação da ONU. Israel não poderá confiar em futuros acordos quando palestinos não respeitam acordos existentes.

Em maio deste ano a Autoridade Palestina assinou um acordo de reconciliação com o Hamas, grupo reconhecido internacionalmente como terrorista, que declara abertamente a destruição do Estado de Israel. O Hamas controla a Faixa de Gaza desde 2007 e a Autoridade Palestina não pode, sequer, chegar àquela região. Este grupo, que faz parte da aliança de um futuro governo palestino, é contra a existência pacífica de dois estados, lançando foguetes e morteiros diariamente contra civis israelenses no sul do país. Os próprios palestinos não conseguem chegar a um consenso na região para a paz e, de fato, o Hamas não é oposição, é uma ameaça à paz.

Apoiar as manobras palestinas na ONU irá enviar uma mensagem direta à sua liderança: que as negociações não são importantes para a paz, invalidado todos os compromissos palestinos que são necessários para os dois lados. Israel já fez muitas concessões necessárias para a paz.

Medidas unilaterais na ONU não resultarão em um Estado Palestino, irão apenas afastar as esperanças de um verdadeiro Estado. A realidade na região não será alterada, apenas a situação política - e para pior. Negociações serão adiadas mais uma vez, e a paz desejada por Israel será mais um sonho que uma realidade. Aqueles que apoiam a paz e a ideia de dois Estados para dois povos devem rejeitar ações unilaterais na ONU e convocar os palestinos a regressarem à mesa de negociação.