A paz não pode ser imposta
RAFAEL ELDAD
O Globo - 23/09/2011
Em meio a tantos mitos, a realidade da relação entre israelenses e palestinos é uma: se não por negociações diretas entre as duas partes, a paz jamais será alcançada e nenhum acordo será acolhido. Nenhum outro método pode assegurar que todas as demandas sejam atingidas e que uma solução aceitável seja obtida para os dois lados, mesmo não suprindo todas as aspirações. Mesmo assim, os palestinos parecem determinados a minar esta realidade em sua busca prematura pelo reconhecimento na ONU.
O fato de os palestinos optarem por ir às Nações Unidas não é surpresa. Em 2009, quando uma nova administração assumiu o poder nos EUA, a liderança palestina tinha esperanças de que a Casa Branca pressionasse Israel a aceitar todas as suas reivindicações. Quando isto falhou, resolveram pressionar Israel através da ONU.
Os dois planos tinham algo em comum: evitar negociações diretas. E, de fato, os palestinos têm evitado as negociações com Israel por dois anos e meio. A paz não pode ser imposta. A história tem nos ensinado que a intervenção de terceiros não pode ditar os termos às partes envolvidas. No entanto, voltando-se para a ONU e pedindo o reconhecimento unilateral de um Estado, os palestinos tentam ditar suas demandas maximalistas, ignorando o processo de negociação que é a única esperança para a verdadeira paz. Negociações futuras também serão afetadas negativamente com uma ação da ONU. Israel não poderá confiar em futuros acordos quando palestinos não respeitam acordos existentes.
Em maio deste ano a Autoridade Palestina assinou um acordo de reconciliação com o Hamas, grupo reconhecido internacionalmente como terrorista, que declara abertamente a destruição do Estado de Israel. O Hamas controla a Faixa de Gaza desde 2007 e a Autoridade Palestina não pode, sequer, chegar àquela região. Este grupo, que faz parte da aliança de um futuro governo palestino, é contra a existência pacífica de dois estados, lançando foguetes e morteiros diariamente contra civis israelenses no sul do país. Os próprios palestinos não conseguem chegar a um consenso na região para a paz e, de fato, o Hamas não é oposição, é uma ameaça à paz.
Apoiar as manobras palestinas na ONU irá enviar uma mensagem direta à sua liderança: que as negociações não são importantes para a paz, invalidado todos os compromissos palestinos que são necessários para os dois lados. Israel já fez muitas concessões necessárias para a paz.
Medidas unilaterais na ONU não resultarão em um Estado Palestino, irão apenas afastar as esperanças de um verdadeiro Estado. A realidade na região não será alterada, apenas a situação política - e para pior. Negociações serão adiadas mais uma vez, e a paz desejada por Israel será mais um sonho que uma realidade. Aqueles que apoiam a paz e a ideia de dois Estados para dois povos devem rejeitar ações unilaterais na ONU e convocar os palestinos a regressarem à mesa de negociação.
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