sábado, janeiro 09, 2010

FERNANDO DE BARROS E SILVA

A esquerda no recreio

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/01/10


SÃO PAULO - As propostas de uma comissão para esclarecer os crimes cometidos pela ditadura e de uma eventual revisão da Lei da Anistia acabaram monopolizando, num primeiro momento, as discussões em torno do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, lançado pelo governo Lula numa grande cerimônia, já perto do Natal. Percebemos com certo atraso que o documento avança, em suas 74 páginas, sobre muitos outros temas e prevê iniciativas em praticamente todas as esferas de governo. Da taxação de grandes fortunas à descriminalização do aborto, do enquadramento dos planos de saúde ao financiamento público de campanha -o plano de direitos humanos mais parece um rebotalho do que o governo Lula não quis fazer, por conveniência ou pragmatismo. Tem-se a impressão de que nesse programa tudo pode porque, no fundo, nada é para valer. O conjunto sugere que a finalidade inconfessa da peça é expiar a culpa da esquerda petista. Trata-se de transformar a impotência em teatro político, iludindo o público engajado de que assiste a um épico de Estado. Abrindo tantas frentes sem que de fato se comprometa com nenhuma, o ministro Paulo Vannuchi passa por promotor de eventos. O decreto que Lula assinou é um documento oficial, mas, sem efeito prático, confunde-se com uma carta de intenções, como se o governo fizesse o seu Fórum Social Mundial. Não faltam ao texto jabutis autoritários, tão ao gosto dos camaradas. Por exemplo: o propósito de estabelecer critérios de acompanhamento do conteúdo editorial dos veículos de comunicação e fazer um ranking nacional dos que são comprometidos e dos que violam os direitos humanos. Diante do absurdo da proposta, seria o caso de perguntar em que parte do ranking se enquadraria um filme fazendo a apologia de Fidel Castro. E outro, apontando que Cuba é uma ditadura? Está claro que isso é ridículo, não?
Megalomania e frustração, fantasia e tara autoritária se misturam nesse factoide para a esquerda ver. Abaixo a tutela, companheiros!

CESAR BENJAMIN

Exportações primárias

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/01/10


A atual reprimarização da pauta de exportações é algo que vai na contramão da nossa trajetória no século 20

O QUE mais preocupa no desempenho da balança comercial brasileira em 2009 não é o resultado em si, com nova queda no saldo, que poderia ser apenas uma decorrência da crise internacional. Os números se tornam mais problemáticos por dois motivos principais. O primeiro é que claramente estamos diante de uma tendência que transcende a crise; se não for revertida, em pouco tempo ela poderá zerar o nosso resultado ainda positivo no comércio externo.
Como temos deficit estrutural na balança de serviços e rendas, ficaremos cada vez mais vulneráveis. O segundo é que assistimos, com surpreendente passividade, à reprimarização da pauta de exportações, algo que vai na contramão da nossa trajetória no século 20. As mudanças estruturais em curso na economia internacional, com o baixo crescimento dos EUA e da zona do euro, de um lado, e a confirmação da China como potência ascendente, de outro, reforçam esse rumo. O grande país asiático, agora nosso maior comprador, quer principalmente soja e minério de ferro. O governo tem sido fraco no tratamento dessas questões, que exigiriam estratégias múltiplas, envolvendo câmbio, infraestrutura e outras iniciativas, além de negociações internacionais menos retóricas e mais efetivas. O tempo está contra nós. Há muito se sabe que, no longo prazo, o comércio mundial evolui desfavoravelmente aos produtores de bens primários. Os trabalhos no âmbito da Cepal no século 20 apontaram pelo menos cinco motivos para explicar essa tendência secular: a) a oferta de bens industriais se ajusta de forma mais ágil e flexível às oscilações da demanda, enquanto a oferta de bens primários é mais inelástica, de modo que, neste caso, os ajustes são feitos, principalmente, via preços; b) a indústria tem maior capacidade de inventar produtos, criando mercados, enquanto os bens primários permanecem sem alterações significativas ou com alterações apenas marginais, dependendo da expansão de mercados tradicionais; c) o crescimento da produção primária tende a ser mais extensivo, com maior utilização de fatores de produção já existentes; d) as barreiras à entrada de novos concorrentes são maiores nos setores intensivos em capital e tecnologia do que na produção de bens primários, que, por isso, ficam mais expostos à competição; e) por fim, aquilo que, a meu ver, é decisivo: à medida que a renda das sociedades se eleva, cresce a proporção da renda destinada a consumir bens com maior conteúdo tecnológico e cai a proporção destinada a consumir bens primários; assim, as economias que se especializam nestes últimos estão condenadas a disputar parcela menor da renda total. O peso relativo e o próprio grau de validade de cada um desses argumentos, vistos isoladamente, pode variar com o tempo, mas não a ponto de alterar o sentido geral da análise. O sistema internacional é estruturalmente assimétrico, pois as posições mais vantajosas são, por definição, excludentes. Só se mantêm na vanguarda, ou se aproximam dela, países e regiões cujas populações realizam cada vez mais trabalho qualificado. A inserção internacional do Brasil, neste momento, aponta na direção oposta. Só um grande esforço, realizado no âmbito de um projeto nacional consistente, poderá alterar esse rumo. Um esforço que não estamos dispostos a fazer, até mesmo porque não há crise iminente. Em nossa história recente, nunca o horizonte de expectativas da nação esteve tão rebaixado. Por isso achamos que está tudo bem.

O ESGOTO DO BRASIL

JOSÉ SIMÃO

Catástrofe! Ana Maria Braga desaba!

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/01/10

E dizem que a Alinne Moraes vai desfilar no Fashion Rio: paralisa o país como tetraplégica e ainda desfila? Surreal!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Não entramos em 2010, entramos em 2012! Vocês viram as fotos do ensaio sensual da Ana Maria Braga? Mais foto de desabamento. Rarará! Chega de catástrofe! Ana Maria Braga desaba!
E olha a placa verde com uma seta que eu vi numa estrada: "Palmeiras! Aguarde no acostamento". E ontem o Elvis Presley faria 75 anos, se estivesse morto. Rarará. E sabe o que uma bicha alucinada falou pra outra? "Volta pro pão, carne louca!". Buemba 2: diz que a Alinne Moraes vai desfilar pela TNG no Fashion Rio. A fisioterapeuta é milagreira! Só falta essa Luciana levantar da cadeira e dançar a Lady Gaga! A mulher tá paralisando o país no papel de tetraplégica e de repente aparece desfilando? Surreal! E a Alinne Moraes tá cada dia mais linda! E São Paulo inaugura mais um parque aquático: o AQUASSAB!
Beach Park com água de enchente. Beach Park com leptospirose! O Brasil não tem mais população permanente, só população flutuante. O Brasil virou uma população flutuante. Eu tô com o ECOSSISTEMA NERVOSO. Vendo os telejornais, eu acho que o mundo vai acabar. HOJE! E já imaginou as manchetes do fim do mundo? Capa de "Caras": "Xuxa espera o fim do mundo na ilha de Caras". "Veja": "Chávez e PT envolvidos no fim do mundo". "Extra", do Rio: "Psicopata mata a mãe, degola o pai, estupra a irmã e se mata ao saber que o mundo vai acabar". E uma amiga minha vai aproveitar e dar pro prédio inteiro! COM ECO!
E São Paulo? São Paulo é uma ilha cercada de pedágios por todos os lados. Um amigo foi passar o fim de ano em Caldas Novas e desejou feliz ano novo pra todos os operadores de pedágio. Passou o Revéillon rouco! E um outro amigo foi assistir ao filme do Lula em 3D e "na cena que o dedo dele voou na minha direção, eu saí correndo". Rarará. Esse tinha que dar um depoimento na novela do Manoel Carlos. Rarará! É mole? É mole, mas sobe! OU como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. É que em Laguna, no Farol de Santa Marta, tem um inferninho chamado O Boi Cagou! Agora eu pergunto: POR QUÊ? Rarará! Mais direto impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "RSVP": Responde Se Vai, Porra! Rarará. O lulês é mais fácil que o ingrêis.

CELSO MING

Os bancos centrais sob ataque

O ESTADO DE SÃO PAULO - 09/01/10


Por motivos diferentes, em praticamente todos os pontos cardeais, a atuação dos bancos centrais está sendo questionada e sua independência, duramente combatida.

Na Argentina, o presidente do Banco Central, Martín Redrado, foi demitido quinta-feira à noite por decreto pela presidente Cristina Kirchner. Redrado mostrou resistência em repassar US$ 6,5 bilhões das reservas externas para um fundo cuja função seria resgatar a dívida pública contraída para financiar despesas correntes. Ontem à tarde a Justiça o restabeleceu no cargo. Uma enorme batalha política e judicial deve acontecer agora. O governo argentino pretende engajar seu banco central na compra de apoio dos governadores das províncias depois que perdeu maioria nas duas Casas do Congresso.

Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) está sob fogo cerrado no Congresso. No Senado tramita projeto de lei que tira do Fed quaisquer poderes sobre regulação bancária. Na Câmara dos Representantes, o projeto em discussão é patrulhar a política monetária. A proposta é revogar lei de 1978 que garante a confidencialidade das decisões da Comissão de Política Monetária (Fomc, na sigla em inglês), que é o Copom deles. O Fed, presidido por Ben Bernanke, está sendo acusado por políticos de não ter feito nada para evitar a formação de bolhas financeiras e, durante a crise, de ter despejado dinheiro demais para evitar o colapso dos bancos. De todo modo, não há por lá nenhuma tentativa do Executivo de apossar-se de recursos monetários do Fed.

No Brasil, nem é preciso alongar demais o tema, o Banco Central é constantemente acusado, até mesmo dentro do governo, de fazer o jogo dos banqueiros, de só pensar naquilo, ou seja, de puxar exageradamente os juros para cima, de ser excessivamente conservador na sua função de prover dinheiro para o setor produtivo e, também, de administrar mal a política cambial, a ponto de deixar que o real se valorize demais, matando a indústria e fechando postos de trabalho.

O Banco Central Europeu (BCE, que cuida da saúde do euro) tem sido atacado por razões opostas. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, vem se queixando de que o BCE tem sido pão-duro na emissão de euros e que essa é uma das razões pelas quais o emprego vem diminuindo na França. O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, às vezes acompanha as críticas de Sarkozy. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, ao contrário, se queixa de que o BCE deixou os juros baixos demais e que isso vai produzir novas bolhas.

O Banco do Povo da China (banco central) e todo o governo de Pequim estão sob pressão dos países ricos. Entendem que a política cambial da China mantém o yuan (moeda chinesa) artificialmente elevado. Além das distorções no comércio, essa política provoca acumulação de reservas, uma demanda excessiva por títulos do Tesouro dos Estados Unidos e uma baixa acentuada nos juros de longo prazo.

Nesta semana, o ministro de Estratégia e Finanças da Coreia do Sul, Gihoek Jaejeong-bu, anunciou que seu número dois na Pasta passaria a participar de todas as reuniões do Banco da Coreia (banco central) na tomada de decisões sobre juros. Ele argumentou que é preciso "observar" por dentro o que acontecia por lá.

E podemos ir em frente nesse levantamento incipiente. Ataques aos bancos centrais têm acontecido com frequência também na Suíça, na Inglaterra, na Austrália e em tantos países mais. Dois são os principais acirradores da metralha: a crise financeira recente, que mostrou os bancos centrais desaparelhados para exercer a função de fiscais e de supervisores do sistema bancário e o enorme déficit orçamentário em que está mergulhada a maioria dos países do Ocidente. (Amanhã tem mais.)

GOSTOSA

J. R. GUZZO

REVISTA VEJA
J. R. Guzzo

Primeira classe

"Os ministros do STF, com as exceções de sempre,
têm conseguido, na prática, tornar a Justiça brasileira
cada vez mais incompreensível"

A Câmara Distrital de Brasília, essa mesma do noticiário policial, deveria começar 2010 com a inauguração de uma nova sede, cuja construção foi decidida em 2001, teve as obras paralisadas durante quatro anos por ladroagem geral e seria entregue, finalmente, em fevereiro próximo. Em fevereiro? Eis aí um real problema. O novo prédio, um colosso de 50 000 metros quadrados que atenderá aos confortos dos 24 deputados de Brasília e custou ao contribuinte brasileiro quatro vezes o previsto no orçamento inicial, ou perto de 100 milhões de reais, terá de ser inaugurado por alguém. Mas quem? Um candidato natural, o governador do Distrito Federal, foi pego em flagrante recebendo um tijolo de dinheiro vivo no esquema de propinas recém-descoberto em seu governo; após se desligar do DEM, do qual iria ser expulso, termina o ano desfilando no bloco dos mortos-vivos da política brasileira. Outro nome indispensável para a cerimônia de inauguração seria o próprio presidente da Câmara Legislativa; mas foi esse, justamente, o deputado que a investigação policial filmou escondendo dinheiro na meia. Pediu afastamento do cargo, antes de ser deposto, e, como o governador, transformou-se em ectoplasma político.

Os dois, no momento, não estão em condições de inaugurar nem sequer um abrigo em ponto de ônibus; ou reencarnam até fevereiro, caso a história acabe esquecida até lá, ou a inauguração do mais novo palácio de Brasília, com heliporto, piso de granito e estacionamento para 1.000 carros, terá de ficar com o sub do sub do sub. Com o tempo todo que foi gasto em sua construção, o prédio bem que poderia ter ficado pronto um pouco mais cedo – o que teria permitido a festa antes de serem servidas ao público as imagens de escroqueria que todos viram. Ou então, já que a coisa atrasou tanto, que atrasasse mais ainda, para não haver cerimônia alguma em futuro visível. Mas não: a obra está sendo terminada bem agora, quando seus beneficiários mal podem colocar a cara na rua. É uma demonstração, talvez, de que a Divina Providência ainda não perdeu o senso de humor.

A Constituição brasileira proíbe a prática da censura em todo o território nacional; não se prevê nenhuma exceção. Mas o jornal O Estado de S. Paulo está sob censura desde o dia 31 de julho de 2009: não pode, por ordem judicial, publicar nem uma palavra sobre o processo por corrupção que envolve o empresário Fernando Sarney, filho do senador José. (O autor da sentença, um juiz federal de Brasília, é amigo querido da família Sarney.) Por quatro vezes, nestes últimos cinco meses, o jornal recorreu à Justiça pedindo que a censura fosse levantada; nas quatro vezes teve o seu direito negado. Viu-se obrigado, assim, ao disparate de apelar ao Supremo Tribunal Federal para resolver uma questão que já deveria ter sido resolvida muito antes e muito abaixo. Um desastre, sem dúvida – mas nunca se deve subestimar a capacidade do STF de tornar as coisas ainda piores do que já são. No caso, os ministros supremos decidiram manter a censura.

O jornal O Estado de S. Paulo pediu ao STF algo extremamente simples: que pusesse fim a uma situação obviamente ilegal, pois, se o artigo 5º da Constituição proíbe a censura no Brasil, o único entendimento possível é que não pode haver censura no Brasil. Nada disso, decidiu o Supremo; quem está errado, no seu entendimento, é o jornal. Deveria ter entrado com o recurso XPTO-1, em vez de entrar com o recurso XPTO-2, ou falhou em alguma outra questãozinha de baixa burocracia processual. Ou não poderia divulgar informações de um processo que corre sob sigilo de Justiça – sigilo cuja guarda não é responsabilidade da imprensa. Ou então, segundo o prodigioso raciocínio de um dos ministros, não existe censura alguma, pois foi um juiz quem proibiu a publicação das notícias sobre Fernando Sarney – e, se foi um juiz quem resolveu, não é censura, é apenas uma decisão judicial. Ou seja: se o autor da proibição fosse um sargento da PM, aí, quem sabe, talvez se pudesse discutir a coisa. Mas foi um juiz. Fim de conversa.

Os ministros do STF, com as exceções de sempre, acham que são os magistrados mais sábios que a humanidade já viu desde o rei Salomão. O que têm conseguido, na prática, é tornar a Justiça brasileira cada vez mais incompreensível.

Ainda bem que o Brasil, como nos garante o presidente Lula, é um país de primeira classe.

PAUL KRUGMAN

Bolhas e bancos

O ESTADO DE SÃO PAULO - 09/01/10


A reforma do sistema de saúde está quase (bata na madeira) acertada. O que vem agora é a reforma do sistema financeiro. Nas próximas semanas, terei muita coisa para escrever sobre a reforma da regulamentação do sistema financeiro. Para começar, uma pergunta fundamental: qual deve ser o objetivo dos reformadores? O debate público tem abordado a questão da proteção dos credores. E, de fato, a criação de uma nova Consumer Financial Protection Agency (Agência de Proteção Financeira dos Consumidores) para tentar acabar com práticas fraudulentas de empréstimo é uma excelente ideia.

Uma maior proteção dos consumidores poderia ter limitado as dimensões da bolha da habitação.

Contudo, esse esquema de proteção, embora talvez bloqueasse muitos empréstimos podres, não teria impedido a enorme taxa de inadimplência das hipotecas convencionais, que os americanos chamam de hipotecas "plain-vanilla". E com certeza não teria impedido a monstruosa expansão seguida de crise do setor imobiliário comercial.

Em outras palavras, uma reforma provavelmente não impeça nem os empréstimos podres nem as bolhas, mas poderá contribuir consideravelmente para impedir o colapso do setor financeiro com o eventual estouro das bolhas.

É preciso ter em mente que a implosão da bolha acionária, na década de 90, embora terrível - os consumidores perderam US$ 5 trilhões - não provocou uma crise financeira. Portanto, o que teve de diferente a bolha da habitação que se seguiu? Resumidamente, a diferença está no fato de que, embora a bolha acionária tenha criado um risco enorme, esse risco estava amplamente distribuído por toda a economia. Agora, ao contrário, os riscos criados pela bolha da habitação se concentravam fortemente no setor financeiro.

Consequentemente, o colapso da bolha ameaçou afundar os bancos da nação. Ora, os bancos desempenham uma função especial na economia.

Quando não podem funcionar, as engrenagens do comércio como um todo param.

Por que motivo os banqueiros assumiram tamanho risco? Porque tinham todo o interesse em fazer isso. Aumentando a alavancagem - ou seja, fazendo investimentos arriscados com dinheiro emprestado -, os bancos podiam aumentar seus lucros no curto prazo. E esses lucros no curto prazo, por sua vez, se refletiam em imensas bonificações pessoais. Se a concentração do risco no setor bancário aumentava o perigo de uma crise financeira em todo o sistema, bem, o problema não era dos banqueiros.

Evidentemente, esse conflito de interesses é a razão da existência de uma regulamentação para os bancos. Mas, nos anos que antecederam a crise, as normas foram relaxadas - e, o que é mais importante, as autoridades reguladoras não expandiram as normas de modo a cobrir o crescente sistema bancário "fantasma", formado por instituições como o Lehman Brothers que realizavam funções próprias dos bancos, embora não operassem com depósitos bancários convencionais.

O resultado foi um setor financeiro enormemente lucrativo enquanto os preços das habitações subiam - o setor financeiro proporcionou mais de um terço do total dos lucros nos Estados Unidos enquanto a bolha inflava-, mas a bolha estourou, arrastando o setor até a beira do colapso. Foi necessária a ajuda do governo numa escala enorme, e a promessa de uma ajuda suplementar se necessário, para impedir que o setor precipitasse no abismo.

Ocorre o seguinte: como a ajuda foi concedida sem muitas condições - particularmente, nenhum dos grandes bancos foi estatizado, embora alguns evidentemente não tivessem sobrevivido sem a intervenção governamental -, os banqueiros agora se sentem confortavelmente motivados a repetir a façanha. Afinal, agora está claro que eles vivem num mundo em que eles ganham ou os contribuintes perdem.

Portanto, o teste da reforma consiste em saber se, daqui em diante, reduzirá os incentivos dos banqueiros e sua capacidade de concentrar os riscos.

A transparência é parte da resposta. Antes da crise, ninguém podia imaginar até que ponto os bancos se arriscavam. É claro que a obrigação de fornecer informações mais amplas, principalmente no que se refere aos complexos derivativos financeiros, é de grande ajuda.

Além disso, um aspecto importante seria a aprovação de novas normas que limitassem a alavancagem dos bancos. Futuramente, analisarei em minha coluna as leis propostas, mas o que posso dizer sobre o projeto de lei da reforma da regulamentação financeira aprovada pela Câmara - com nenhum voto republicano - no mês passado, é que os limites previstos para a alavancagem parecem razoáveis, não grandes, mas razoáveis. Entretanto, será muito fácil enfraquecer essas normas a ponto de inutilizá-las. Com algumas modificações nas letrinhas do texto, os bancos teriam toda a liberdade para voltar a fazer o mesmo jogo.

A reforma deveria se preocupar, na realidade, com as práticas de remuneração do setor. Se o Congresso não pode legislar de forma a eliminar o sistema de compensações financeiras pelo risco excessivo, pelo menos pode tentar taxá-las.

Concluirei com uma nota política. A principal razão da reforma é servir à nação. Se não conseguirmos uma significativa reforma financeira agora, estaremos lançando os alicerces da próxima crise. Mas há também uma razão política.

Fermenta neste país uma grande raiva popular, e o tratamento com luvas de pelica dispensado pelo presidente Barack Obama aos banqueiros fez com que os democratas se colocassem do lado errado dessa raiva. Se nos próximos meses os democratas do Congresso não endurecerem sua postura com os bancos, pagarão um preço muito grande em novembro.

*Paul Krugman é Nobel de Economia

O MICO

FERNANDO RODRIGUES

Disfunção gerencial

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/01/10


BRASÍLIA - Entrar na discussão sobre qual é o melhor avião caça para a Força Aérea Brasileira é como andar sobre areia movediça de desenho animado. Quanto mais se mexe, mais se vai ao fundo. Deixo o tema para os especialistas aqui da Folha em Brasília, Eliane Cantanhêde e Igor Gielow. Prefiro abordar o aspecto subjacente da história. Trata-se da exposição cruel da fragilidade administrativa e gerencial do país. Algo bem diferente do "Brasil grande" presente na propaganda lulista. O processo de compra dos aviões de combate começou há dez anos. Agora há uma chance não desprezível de o assunto cair no colo do próximo ocupante do Planalto. Há uma disfunção gerencial grave quando um país demora dez anos para comprar 36 aviões. Mesmo sendo uma operação cara, com grande repercussão no desenvolvimento tecnológico local. Está em desuso comparar práticas administrativas do governo com as da iniciativa privada, mas é útil pensar em como uma multinacional agiria se tivesse de comprar equipamentos de segurança vitais. É o caso dos caças para a FAB. Um país como o Brasil precisa ter aviões desse porte para garantir a segurança e patrulhar seu território continental adequadamente. Se uma multinacional retarda dez anos o processo de aquisição de um sistema de segurança, seu patrimônio acabará dilapidado. Não que os caças da FAB terão o poder de varrer do Brasil, da noite para o dia, o narcotráfico internacional e o contrabando de armas. Mas esses aviões são essenciais como força de dissuasão e ajudam na presença ostensiva das Forças Armadas, hoje algo quase inexistente. O capricho do Planalto a favor do avião francês é talvez o aspecto menos relevante nesse episódio. A incapacidade de decidir é pior. Arrasta o Brasil para baixo. Mostra a distância entre o país real e o da propaganda de Lula na TV e no rádio.

DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJAHerbert Richers vive

sábado, 9 de janeiro de 2010 | 1:00

“Herbert Richers transformou nossa linguagem. Ele revogou todas as regras que constrangiam nossa fala. Em particular, ele nos libertou da estapafúrdia necessidade de expressar um sentido”

A morte de Herbert Richers foi o acontecimento mais marcante de 2009. O mais marcante e, desoladoramente, o mais negligenciado. Herbert Richers montou seu estúdio de dublagem em 1950. Em seis décadas de trabalho, adaptando filmes, seriados de TV e desenhos animados, ele contribuiu de maneira decisiva para moldar e disseminar o dialeto tapuio com o qual passamos a nos comunicar.

Se a língua portuguesa teve Camões – com seus latinismos, com seus volteios eruditos, com sua sonoridade épica –, o patoá nacional teve Herbert Richers – com seus estrangeirismos, com seus falsos cognatos, com sua sonoridade de locutor de rádio. De dublagem em dublagem, Herbert Richers transformou nossa linguagem. Violentando predicados, pervertendo complementos, corrompendo particípios, ele revogou todas as regras que constrangiam nossa fala. Em particular, ele nos libertou da estapafúrdia necessidade de expressar um sentido. Mas ele foi mais longe do que isso. Além de revolucionar nossa linguagem, Herbert Richers revolucionou também nossa moral. Quando Jack Lemmon, numa comédia de Billy Wilder, tem a mesma voz e, principalmente, os mesmos atributos estéticos de Salsicha, num episódio do desenho animado Scooby-Doo (ambos – Jack Lemmon e Salsicha – dublados por Mário Monjardim), o resultado só pode ser uma sociedade como a nossa, em que todos os valores se equivalem e, portanto, se anulam.

No Brasil, atualmente, Dilma Rousseff é quem melhor encarna a reviravolta moral e linguística realizada por Herbert Richers. Ela é o epígono ideal de Carlos Campanile (dublador de Clint Eastwood, Al Pacino, Robert de Niro e Thor dos Cavaleiros do Zodíaco), de Garcia Neto (dublador de Gregory Peck e do Homem-Fera) e de Sumara Louise (dubladora do desenho Gasparzinho e de Meryl Streep). Se alguém lhe pergunta por que as obras do programa Minha Casa, Minha Vida continuam paradas, Dilma Rousseff responde como um médico-legista, num filme estrelado por Bruce Willis (ambos – Dilma Rousseff e Bruce Willis – dublados por Newton da Matta): “Olha, não é isso que nós estamos vendo. Não é isso que a gente está vendo e eu vou te falar a partir do que. Hoje, já tem mais de 400 projetos apresentados para a Caixa, dominantemente naquela distribuição em que zero a três é o pessoal que faz a moradia para renda de zero a três salários mínimos, é a grande maioria”.

Sim, a morte de Herbert Richers, ocorrida dois meses atrás, foi o acontecimento mais marcante de 2009. Mas ele estará sempre presente em 2010.

JAPA GOSTOSA

CLÓVIS ROSSI

Princípios que amávamos e a prática

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/01/10


Aliados norte-americanos no Oriente Médio não têm exatamente o mesmo apego à sociedade aberta que EUA

QUANDO CHEGOU , anteontem à noite, o e-mail da Casa Branca com o discurso do presidente Barack Obama, minha atenção centrou-se em um pedaço que, a rigor, tinha pouco a ver com o eixo do pronunciamento (terrorismo e como combatê-lo).
É o pedaço que diz: "Estou menos interessado em passar adiante a culpa do que em aprender desses erros e corrigi-los", em alusão às falhas "sistêmicas" que permitiram o atentado, ainda que frustrado, do dia de Natal. A frase fechava com: "Quando o sistema falha, é minha responsabilidade". Em um mundo em que governantes raramente assumem suas responsabilidades por qualquer tipo de problema em suas gestões, é uma lufada de ar fresco. Retórica, dirá você. Sim, retórica, mas é sempre melhor do que culpar algum auxiliar, o resto do mundo, uma conspiração da mídia que jamais existiu -enfim, o elenco de fuga à responsabilidade a que os brasileiros nos acostumamos há séculos e que só faz crescer. Um segundo trecho do discurso é igualmente feliz, a saber: "Não vamos sucumbir a uma mentalidade que sacrifique a sociedade aberta e as liberdades que valorizamos, pois grandes e orgulhosas nações não se escondem atrás de muralhas de suspeita e de desconfiança". Como enunciado, perfeito. Pena que a realidade seja bastante diferente. Os EUA, em nome de preservar as liberdades que valorizam, sacrificaram as liberdades alheias, não apenas na América Latina mas também no mundo árabe, o que ajuda a entender as dificuldades para ganhar a guerra contra o terrorismo. Ou, como escreveu ontem para "El País" da Espanha Juan Goytisolo, grande novelista espanhol, "enquanto os reformistas e dissidentes do comunismo soviético receberam o suporte material e moral do Ocidente durante a Guerra Fria, os dos países árabes foram varridos ante a sua indiferença ou com sua pouco gloriosa cumplicidade". Poderia citar dezenas de exemplos, mas fico com o do país que entrou na roda como novo foco do terrorismo, o Iêmen. A revista "Foreign Policy" publica notável artigo de Ellen Knickmeyer, ex- correspondente em países do Oriente Médio e na África para o "Washington Post" e a Associated Press, hoje aluna da Escola Kennedy de Governo, da mitológica Harvard University. O texto é extremamente simpático ao país e aos iemenitas, mas diz de seu presidente, Ali Abdullah Saleh: "O governo Saleh tentou fazer jogo duplo com a Al Qaeda e com os Estados Unidos; seu ministro da Defesa até admitiu ter chamado pessoal da Al Qaeda e outros extremistas religiosos sunitas [maioria no país, embora o presidente seja xiita] para lutar contra um rebelião xiita no norte do Iêmen". Knickmeyer também cita o fato de que diplomatas ocidentais acusam Saleh de ter chegado a um acordo de cavalheiros com a rede terrorista, "pelo qual permitia a figuras da Al Qaeda viver no Iêmen desde que não cometessem atentados contra o governo de Saleh ou outros alvos no país". A questão em aberto é saber se Obama poderá compatibilizar a guerra ao terrorismo com a preservação de sociedades abertas, de mãos dadas com os muitos Salehs espalhados por aí.

BRASÍLIA -DF

Operação Rio de Janeiro

Luiz Carlos Azedo

CORREIO BRAZILIENSE - 09/01/10


A coalizão PSDB-DEM-PPS busca uma saída para a armadilha eleitoral na qual caiu, no Rio de Janeiro, desde quando a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva trocou o PT pelo PV para ser candidata a presidente da República contra a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), candidata à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O deputado Fernando Gabeira (PV) era o candidato a governador da coalizão, na esteira de seu excelente desempenho nas eleições municipais de 2008, quando quase se elegeu prefeito do Rio. Porém, Gabeira jogou a toalha: desceu do palanque da coalizão e é apenas candidato a deputado federal.

Neste final de semana, o ex-governador Marcelo Alencar, o grão-tucano fluminense, terá uma conversa definitiva com Gabeira. Tentará convencê-lo a manter a candidatura a governador, com o apoio dos três partidos da coalizão serrista, mesmo que o preço a pagar seja um palanque exclusivo para Marina no primeiro turno. Sobrariam para Serra os palanques dos candidatos ao Senado. Na avaliação de Alencar, Marina terá grande votação no Rio de Janeiro, mas Gabeira é um candidato muito competitivo ao governo e poderia transferir a maioria desses votos para Serra, no segundo turno.


Onda

Com Gabeira fazendo doce, o vereador Alfredo Sirkis, grande responsável pela candidatura de Marina Silva, já se lançou candidato a governador pelo PV. Acredita que vem por aí uma onda verde, principalmente nas eleições fluminenses, por causa da tragédia de Angra dos Reis e das enchentes na Baixada Fluminense.

Farroupilha

Já acertado com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, do PMDB, entrou na disputa pelo governo do Rio Grande do Sul atropelando os demais candidatos. Mas padece de dúvidas sobre a melhor estratégia para vencer as eleições gaúchas. Não sabe se é preferível que a governadora tucana Yeda Crusius concorra à reeleição, apesar do desgaste político, ou desista da disputa, o que lhe garantiria o apoio tucano já no primeiro turno.

Chorão

O ex-prefeito do Rio Cesar Maia (foto) dá mostra de crescente irritação com a cúpula da coalizão PSDB-DEM-PPS , o que inclui o próprio filho, deputado Rodrigo Maia(DEM-RJ). Candidato ao Senado, ficou isolado e busca uma alternativa para viabilizar a própria eleição. Já não descarta uma aproximação com o ex-governador Anthony Garotinho (PR), hoje o principal opositor do governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB). Maia vive reclamando de Serra.

Ciranda

Pergunta que se ouve nos corredores do Ministério da Fazenda: é necessário carregar tantos dólares na conta do Banco Central (BC), que emite títulos públicos no mercado interno sempre que precisa comprar a moeda americana, pagando juros estratosféricos? O custo acumulado para elevar as reservas cambiais do país, nos últimos três anos e meio, para os atuais US$ 239 bilhões, atingiu R$ 71,4 bilhões.


Missão

Ao desembarcar em Brasília, o novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, começou uma corrida contra o tempo. As relações do Brasil com os Estados unidos regrediram. Ex-assistente da Embaixada dos EUA no Brasil, Shanon passou pela Venezuela e África do Sul em momentos difíceis.


Leopoldina/ Criminoso o abandono da antiga Estação da Estrada de Ferro Leopoldina, no Rio de Janeiro, um patrimônio arquitetônico e histórico da ex-capital da República, cuja gare foi importada da Inglaterra. O choque de ordem urbana, focado nas favelas e praias cariocas, também precisa chegar ao acervo arquitetônico e cultural do Rio.

Dominó/ Para apressar a fase judicial do processo, a Polícia Federal deverá desmembrar o inquérito da Operação Caixa de Pandora, que apura pagamento de propinas no GDF. O delegado Alfredo Junqueira espera o resultado das perícias para comprovar a materialidade de alguns fatos e encaminhar os relatórios ao Ministério Público, que oferecerá as denúncias.

Cartão/ O sumiço do noticiário contra o governador José Roberto Arruda (DEM), no site da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Distrito Federal, foi coisa de quem é mais realista do que o rei, segundo o novo presidente da entidade, Francisco Caputo, que não gostou do ocorrido. O responsável foi demitido.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Construção pesada antecipa contratações

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/01/10


A ameaça de escassez de mão de obra no setor da construção pesada provocou um movimento de antecipação das contratações que teve início no final do ano passado.
Executivos de grandes empresas do setor têm comentado que a ideia é começar a contratar antes da concorrência e se preparar para a onda de construções de estradas, pontes, vicinais, asfaltamentos e viadutos, além do PAC e outras obras que tradicionalmente se aquecem em ano eleitoral.
O emprego na indústria da construção pesada no Estado de São Paulo voltou a registrar alta em novembro passado, chegando à marca de 66.625 trabalhadores.
O incremento foi de mais 550 vagas no mês, contra uma redução de quase 120 postos de trabalho em outubro, segundo levantamento do Sindicato da Indústria da Construção Pesada.
"Ano político é assim. Aquece mesmo e a demanda por trabalhadores sempre sobe", afirma Helcio Farias, responsável pelo departamento técnico do Sinicesp.
Outra razão para a alta das contratações foi a solução de uma pendência que vinha se arrastando desde o início do segundo semestre de 2009. O governo de São Paulo, que tinha uma dívida de aproximadamente R$ 500 milhões, segundo o sindicato, quitou os débitos com as empresas de engenharia credoras.
O pagamento ocorreu após comunicado feito pelo Sinicesp ao governo de que o setor já começava a falar em demissões em massa. "Este também foi um dos motivos para o novo salto que elevou as contratações a um patamar que não se via desde julho", diz Farias.
Um estudo da Abramat (associação da indústria de material de construção) aponta que a construção civil contratará mais 180 mil trabalhadores em 2010 no Brasil.

VESTIDO PARA O SUCESSO

Sandálias de couro para homens. Sim ou não?

Para a grife italiana Salvatore Ferragamo, sim. Mas os brasileiros não têm o hábito de desembolsar tanto por um par de chinelos feitos de couro de vitela que valem R$ 1.631, segundo Ziza Menezes, supervisora da marca no Brasil. "No Rio, até que vendemos, mas, em geral, o brasileiro não paga tão caro por sandálias de marca importada. Por sapatos, sim."
O estilista Ricardo Almeida afirma que os calçados abertos podem até ser usados com calça comprida, mas são adequados a situações informais e mais comuns em Recife, Salvador e Rio. "É um estilo, mas, para trabalhar, eu não usaria. É mais informal, pode até usar de noite, em uma festa", afirma.
Para Patricia Gáia, presidente do Grupo Armani no Brasil, elas devem ser usadas em ocasiões como praia, passeios de barco, piscina, campo ou um almoço despojado. "Fica perfeito se usado com bermudas e calças de linho."
Sérgio K., da marca que leva seu nome, discorda. "Eu particularmente não gosto e não faço. Em vez de sandália tipo franciscano, prefiro chinelos de gorgurão, com azul marinho, branco, preto ou vermelho."
Na marca Richards, podem ser encontrados modelos de sandálias de couro por menos de R$ 300.

AO TRABALHO 1
Durante o período de Natal, foram contratados 125 mil trabalhadores temporários no país. O número é 8,5% maior do que o de 2008, de acordo com o levantamento da Asserttem (Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e Trabalho Temporário), realizado pelo Instituto de Pesquisa Manager.

AO TRABALHO 2
O resultado superou a expectativa da Asserttem, que era de 7% de acréscimo na quantidade de vagas criadas.

MAIS CRÉDITO
O volume total de crédito a ser concedido neste ano terá crescimento de 20% a 25% em relação ao ano passado, segundo Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban. Em 2009, o volume foi de R$ 1,4 trilhão. As perspectivas da Febraban serão publicadas na próxima edição da revista Ibef News, que circula entre executivos de finanças.

NA AMÉRICA
O filme "Olhar" da Petrobras, criado pela Quê Comunicação, que está sendo veiculado no Brasil, será internacionalizado para exibição em Chile, Argentina, Uruguai, Colômbia e Paraguai, países onde a Petrobras opera.

CONSIGNADO 1
A carteira total de crédito consignado do Banco do Brasil registrou crescimento de 4,3% em novembro de 2009. O número ficou acima da média do mercado, que apresentou alta de 1,6%.

CONSIGNADO 2
Entre as razões para o crescimento estão a incorporação do banco Nossa Caixa e a parceria com o banco Votorantim, o que possibilitou que o Banco do Brasil atingisse 34,4% de participação de mercado nessa modalidade. O destaque foi o segmento público, em que o banco cresceu 5,4% em relação ao mês anterior.

HIDRELÉTRICA
A Itaipu Binacional acaba de aderir à Life, nova certificação ambiental, lançada em 2009, para ações de biodiversidade na gestão ambiental das empresas. O Instituto Life tem apoio do ministério do Meio Ambiente e da CDB (Convenção da Diversidade Biológica das Nações Unidas). A hidrelétrica passa a fazer parte do grupo que já conta com as empresas Posigraf, MPX e Boticário.

À BEIRA-MAR
A Miolo Wine Group está vendendo os espumantes da linha Terranova à beira-mar nas praias de Florianópolis (SC). Os produtos circulam nas areias do litoral em carrinhos climatizados. A garrafa de 250 ml custa R$ 10.

PADARIA
No Natal do ano passado, o Carrefour vendeu quase 5 milhões de unidades no Brasil. Os produtos fabricados nas padarias da rede venderam 40% a mais do que o volume registrado no ano anterior.

VASSOURA
A Abralimp (Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional) tem novo presidente. A entidade elegeu o administrador Luciano Galea para a gestão 2010/2011. Ele toma posse dia 26, em São Paulo. O setor de limpeza profissional, que gera aproximadamente 1,5 milhão de empregos diretos no país, em 2009, movimentou cerca de R$ 9,4 bilhões.

ELIANE CANTANHÊDE

Jobim vai cobrar de Lula a revisão do programa

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/01/10


O ministro da Defesa, Nelson Jobim, vai se reunir na semana que vem com o presidente Lula para revisar o terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos. Jobim quer que a futura comissão da verdade possa, em tese, investigar os dois lados envolvidos, o da repressão e o da esquerda armada, mas há resistência das pastas da Justiça e Direitos Humanos. O plano, que encontra fortes reações também na Igreja Católica, no setor ruralista, e de entidades de comunicação, se tornou o principal e mais complexo problema político de Lula no início de 2010, ano da campanha sucessória. O presidente se comprometeu com Jobim a promover a revisão numa conversa dos dois na Base Aérea de Brasília no dia 22 de dezembro, um dia depois do lançamento oficial do plano e em meio à ameaça de demissão dos comandantes das Forças Armadas. No dia seguinte, o ministro comunicou a decisão a eles, que aguardam a concretização do acordo. A área política do governo, porém, duvida da revisão e teme que o problema se desloque de lado: o principal responsável pelo plano, o ministro de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, é quem poderia pedir demissão. Ao mesmo tempo em que prometeu mudar os pontos que geram tensão entre os militares, Lula não quer perder apoio de uma área tão forte, em um ano eleitoral. A proposta original de Jobim, depois de ouvir Exército, Marinha e Aeronáutica, era a criação de uma comissão da verdade e da reconciliação, seguindo o modelo da África do Sul. Ele e os militares reclamam que Vannuchi não acatou nenhuma das sugestões da área militar. Há duas opções para mexer na diretriz 23, do 6º capítulo, que fala em violações de Direitos Humanos "praticadas no contexto da repressão política" da época da ditadura militar (1964-1985). Como está, prevê apuração só de torturas praticados por militares. Jobim defende que haja abertura para investigar também assaltos a bancos, sequestros e mortes promovidos pelos militantes da esquerda armada.

Mudanças
Há duas formas possíveis para isso. Ou o texto passa a falar em violações praticadas "no contexto de conflitos políticos e da repressão política", ou a se referir diretamente a "violações de Direitos Humanos ocorridas no Brasil", sem indicar quem as teria cometido. Conforme a Folha apurou, o Ministério da Defesa concluiu que não adianta Lula empurrar o desfecho para abril, quando o projeto de lei que irá instituir a comissão faria o ajuste. Como o plano é um decreto presidencial, um projeto de lei não tem força legal para revogá-lo.
Jobim também está negociando a revisão de dois outros pontos do plano com Lula. Um deles é o que prevê que comitês estaduais identifiquem e cataloguem instalações militares que abrigaram tortura durante a ditadura. O outro ponto é a intenção de tirar o nome de ex-presidentes militares, como Castello Branco, Costa e Silva e Emílio Médici, de locais públicos como pontes e viadutos.
A crítica é que ambos têm "viés stalinista". O temor é que incitem uma onda de civis contra prédios e oficiais militares. Para o Ministério da Defesa e para os militares, porém, os críticos estão fazendo confusão entre a comissão da verdade e a revisão da anistia. Na avaliação deles, o programa não implica a revisão da lei que anistiou todos os lados, até porque o segundo item da própria diretriz 23, que trata das atividades da comissão, manda observar "as disposições da Lei 6683, de 28.08.1979" -que é, justamente, a Lei da Anistia. Trata-se do reconhecimento de sua legitimidade.

GOSTOSA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

O piloto vai sumir?

O ESTADO DE SÃO PAULO - 09/01/10


O setor de aviação do Brasil pode estar próximo de outro apagão: o de mão de obra especializada. Se for mantida a tendência de crescimento do setor, diz Graziella Baggio, do indicato dos Aeronautas, "vai faltar piloto no mercado".

O grande desafio, no caso, é que custa caro formar um aeronauta. Na PUC-RS, que tem um dos poucos cursos disponíveis, a mensalidade anda pelos R$ 3.000.

O piloto 2

A Anac sabe do risco e começa a se mexer para evitá-lo. Fechou convênio de R$ 3 milhões com o Ministério da Defesa para oferecer bolsas de curso prático - 139 para piloto privado e 74 para comercial.

Em cursos particulares, a formação de um piloto não sai por menos de R$ 70 mil.

Grande angular

Alvarenga, comunidade pobre de São Bernardo, passará a ser monitorada por dez câmeras de vídeo a partir do fim do mês.

Com a medida, Tarso Genro põe São Paulo no mapa do projeto Território da Paz - conjunto de ações para prevenir a criminalidade em áreas de risco.

Imposto menor

Vem aí um levantamento detalhado do perfil socioeconômico das pessoas com deficiência em São Paulo.

A partir dele, Mara Gabrilli quer propor isenção ou redução do IPTU desse universo de paulistanos.

Jobs = money

Não foi à toa que Steve Jobs, da Apple, venceu a pesquisa sobre "o melhor patrão do mundo", da Harvard Business Review.

Os critérios foram rentabilidade e valorização das ações. A Apple faturou, desde 1997, US$ 150 bilhões.

Feira livre

Podem respirar aliviados por mais dois meses - pelo menos - os expositores da feira da Praça da República.

As permissões, que venceram no dia 31 de dezembro, foram prorrogadas até o fim de fevereiro.

Sem gordura

O Idec mandou carta a José Gomes Temporão sugerindo mudanças importantes que o Brasil deveria defender, na próxima reunião da OMS sobre publicidade de alimentos para crianças.

No texto, a coordenadora do instituto, Lisa Gunn, pede quatro alterações no documento internacional sobre o tema, que será discutido dia 18 em Genebra.

Sem gordura 2

Em uma delas, o Idec diz que a definição de alimentos impróprios fala em "alto teor de gorduras saturadas... etc" mas nada diz sobre pobreza de nutrientes.

"É preciso fechar essa lacuna", diz a executiva. E pede que a Anvisa publique logo a resolução sobre o tema - há meses na gaveta.

Na mira

Têm fundamento os rumores de que a InBrands e o BTG Pactual estariam olhando a compra da marca e da Villa Daslu. No entanto, estão achando o buraco grande demais.

Só com o ICMS, a dívida passa dos R$ 500 milhões.

Bolachão

A Prefeitura fez acordo com a Fundação Padre Anchieta para digitalizar um dos maiores arquivos sonoros da cidade - o da Discoteca Oneyda Alvarenga, hoje guardada no Centro Cultural.

Criada por Mário de Andrade em 1935, ela reúne cerca de 75.000 discos e 2.500 CDs.

Café frio

George Duffield, produtor do documentário The End of The Line - que fala sobre a pesca indiscriminada pelo mundo -, saiu à francesa após a apresentação do filme anteontem, no Gstaad Yacht Club, na Suíça.

É que o cardápio do jantar anunciava... salmão e salada de frutos do mar.

Ano de Freyre

Enquanto a Flip prepara homenagem, este ano, para Gilberto Freyre, a Fundação que leva seu nome, em Recife, saiu à cata de recursos para dois projetos.

Um deles, montar centro documental iconográfico para abrigar seu acervo. Outro, a restauração da Igreja do Antigo Convento do Carmo, de Olinda.

Ouro escondido

Perto de concluir uma reforma que durou mais de um ano, no Teatro Municipal, o pessoal que a comandou não para de descobrir pequenos tesouros da memória paulistana - embora já tenham ocorrido outras restaurações nesses cem anos.

Durante a pintura das salas de apoio ao palco foram encontrados preciosos afrescos em art nouveau datados de 1911, ano de sua inauguração.

Agora, adianta a diretora Beatriz do Amaral, eles virão à tona. Assim como as ferragens douradas, que estavam cobertas de tinta preta, e pinturas no bar do Teatro - que, degradadas na década de 50, serão reconstituídas seguindo o padrão original.

A preocupação com o patrimônio não se restringe a reviver o estilo de época. A direção do teatro também quer medidas para evitar incêndios como o do Cultura Artística, em 2008. Daí, a decisão de revestir todas as cadeiras de um tecido antichamas, mas seguindo a cor original. O "verde-teatro".
MARILIA NEUSTEIN

Na frente

Juliana Paes ainda não decidiu o que fará em 2010. Ou aceita convite para novela da Globo ou... faz uma encomenda para a dona Cegonha.

A banda Vanguart - que vai abrir as apresentações do Coldplay no Brasil, é a atração de hoje no Studio SP.

Leila Pinheiro prepara para abril uma homenagem ao amigo e parceiro Renato Russo. No ano em que o roqueiro completaria 50 anos, a cantora lança CD e faz show com os sucessos da Legião Urbana.

Nana Caymmi faz retrospectiva de sua carreira, hoje e amanhã, no Sesc Pompeia.

O DJ holandês Ferry Corsten e o filipino LaidBack Luke estarão no bloco da Skol no carnaval de Salvador. No dia 16 de fevereiro.

A top-blogueira francesa Garance Doré confirmou via Twitter sua presença no Fashion Rio. Domingo confere Alice Dellal, no desfile de Patricia Vieira, no Copa.

Eduardo Paes deu um "xeque-mate". Depois de proibir, liberou venda de mate em tonel nas praias do Rio.

Interinos: Doris Bicudo, Gabriel Manzano Filho, Marilia Neustein e Pedro Venceslau.

Cara nova
Rodrigo Khuri


Ele não é cara tão nova assim. Há cinco anos mantém a Kurhi, linha de objetos e "utensílios de vida", como define. O designer, que escolheu um estúdio no coração da Vila Madalena para elaborar suas criações, recorre ao humor para descrever seu estilo: "Trabalho com coisas funcionais, sem muitas chorumelas", brinca. Habitué do mundo das artes plásticas, confessa que prima pela simplicidade do objeto, "sem ostentação".

MÍRIAM LEITÃO

País perdido

O GLOBO - 09/01/10


Em pouco mais de 24 horas, na Argentina: a presidente Cristina Kirchner demitiu o presidente do Banco Central por decreto. Ele entrou na Justiça e voltou ao cargo. A oposição obteve medida cautelar contra o uso das reservas cambiais. A presidente criticou a Justiça. O governo acusou o vice-presidente de conspiração. O vice-presidente anunciou que vai mobilizar o Congresso contra o ato da presidente.

O que está por trás de toda essa confusão é a espantosa deterioração fiscal do país. O economista José Luis Espert, da consultoria Espert & Associados, conta que, de 2004 a 2009, os gastos públicos aumentaram dez pontos percentuais do PIB, saindo de 25% para 35%, e o país saiu de um superávit de 4% do PIB para um déficit estimado de 5% este ano.

O governo alegou que quer usar as reservas para pagar dívida externa. Ninguém acreditou. Para isso, há recursos previstos no Orçamento de 2010. O objetivo é indiretamente usar as reservas para ampliar ainda mais a expansão fiscal, explica o economista João Pedro Ribeiro, da Tendências: — A dívida externa seria paga pelo Banco Central, e os recursos do orçamento que deixariam de ser usados no pagamento de dívida seriam gastos como o governo quisesse.

O g o v e r n o K i rc h n e r amarga os efeitos de uma penosa derrota política no ano passado. Numa manobra para evitar um fracasso nas eleições parlamentares, a eleição foi antecipada de outubro para junho. A ideia era que a situação econômica iria se deteriorar ao longo do ano, então era melhor antecipar a eleição para garantir que o governo ficasse com a maior bancada.

A manipulação das normas eleitorais não funcionou, a derrota foi acachapante.

O kirchnerismo conseguiu 30% dos votos. O próprio ex-presidente concorreu pela Província de Buenos Aires e foi derrotado por um novato na política, Francisco de Navaez.

O governo ficou em quarto lugar em Buenos Aires e em Córdoba; terceiro, em Santa Fé; e segundo, em Mendonza e Entre Rios. Perdeu até na desabitada província que Kirchner governou como rei por vários mandatos: Santa Cruz.

O cientista político Rosendo Fraga, em seu relatório de fim de ano, avalia que diante da derrota o casal Kirchner montou uma estratégia para a recuperação da força política. “Rapidamente reagrupou forças e abriu um conflito com os meios de comunicação, enviando ao Congresso a nova Lei de Meios. Em seguida, reabriu o conflito com o campo, ao vetar a resolução que suspendia a cobrança das retenciones (impostos sobre exportação de grãos) para áreas atingidas por enchentes.

Formalizou o conflito com o setor industrial e abriu nova briga com a Igreja.” Esse é o estilo do ex-presidente: governar pelo confronto. A estratégia não funcionou. A presidente Cristina Kirchner, que em dezembro de 2007 tinha 58% de popularidade, chegou a setembro do ano passado com 23%.

Para piorar a situação política, o Congresso eleito há sete meses ainda não começou as sessões. A antiga legislatura ficou até o fim de 2009, e só agora neste começo de ano se instalará o novo Congresso, em que o governo perdeu a maioria.

Aproveitando-se dessa distorção criada pela manobra de antecipação das eleições, o governo mandou ao Congresso, onde ainda tinha maioria, a lei contra a imprensa, e conseguiu sua aprovação. Em seguida, conseguiu a renovação de um decreto que dá ao executivo superpoderes. Agora, aproveita-se do recesso parlamentar e ataca o princípio constitucional da independência do Banco Central.

Pela Constituição, o chefe do Executivo não pode demitir o presidente do Banco Central, só o Congresso poderia fazê-lo, mas está em recesso.

Foi por isso que o vicepresidente, Julio Cobos, inimigo declarado da presidente, convocou para segundafeira uma reunião de líderes de bancada para articular a instalação de uma comissão bicameral que vai analisar o decreto da presidente.

Na Argentina, o vicepresidente da República é presidente do Senado, isso deu a Cobos uma possibilidade de agir, que ele vai usar.

A Argentina entrou em velocidade relâmpago numa crise institucional de grandes proporções. Não que isso seja novidade no governo Kirchner. Eles buscam crises a cada momento que estão em desvantagem política. Foi assim que eles abriram o conflito com o campo, quando determinaram a pesada taxação sobre a exportação de grãos.

Além de distúrbios de rua em Buenos Aires, eles colheram um previsível resultado econômico.

— Quando as retenciones foram anunciadas, a safra de 2008 já havia sido plantada, e o país quase não sentiu o efeito no ano passado.

Mas em 2010 vai sentir.

O país deve importar trigo e carne este ano — conta Roberto Troster, economista da Câmara de Comércio Brasil-Argentina.

O país cresceu 6,8% em 2008 e o número final do PIB de 2009 deve ser uma queda de 2,7%, isso agravou a situação fiscal e elevou o desemprego.

Com a crise, o risco-país subiu 25 pontos, chegando a 681 pontos, e ontem, pelo segundo dia, o Banco Central teve que atuar para evitar a disparada do dólar. Da inflação ninguém tem certeza porque a intervenção do governo no Indec quebrou a confiança no índice oficial. As previsões são de que a taxa deve ficar entre 15% e 25%.

Toda essa crise institucional parece coisa velha. O peronismo é movimento político da primeira metade do século passado. O governo briga com os credores, adota confisco nas exportações de grãos e manipula índices de inflação, como nos anos 1980. A Argentina perdeu o trem para o século XXI e continua brigando na estação.

oglobo.com.br/miriamleitao • e-mail: miriamleitao@oglobo.com.br