Disfunção gerencial
FOLHA DE SÃO PAULO - 09/01/10
BRASÍLIA - Entrar na discussão sobre qual é o melhor avião caça para a Força Aérea Brasileira é como andar sobre areia movediça de desenho animado. Quanto mais se mexe, mais se vai ao fundo. Deixo o tema para os especialistas aqui da Folha em Brasília, Eliane Cantanhêde e Igor Gielow. Prefiro abordar o aspecto subjacente da história. Trata-se da exposição cruel da fragilidade administrativa e gerencial do país. Algo bem diferente do "Brasil grande" presente na propaganda lulista. O processo de compra dos aviões de combate começou há dez anos. Agora há uma chance não desprezível de o assunto cair no colo do próximo ocupante do Planalto. Há uma disfunção gerencial grave quando um país demora dez anos para comprar 36 aviões. Mesmo sendo uma operação cara, com grande repercussão no desenvolvimento tecnológico local. Está em desuso comparar práticas administrativas do governo com as da iniciativa privada, mas é útil pensar em como uma multinacional agiria se tivesse de comprar equipamentos de segurança vitais. É o caso dos caças para a FAB. Um país como o Brasil precisa ter aviões desse porte para garantir a segurança e patrulhar seu território continental adequadamente. Se uma multinacional retarda dez anos o processo de aquisição de um sistema de segurança, seu patrimônio acabará dilapidado. Não que os caças da FAB terão o poder de varrer do Brasil, da noite para o dia, o narcotráfico internacional e o contrabando de armas. Mas esses aviões são essenciais como força de dissuasão e ajudam na presença ostensiva das Forças Armadas, hoje algo quase inexistente. O capricho do Planalto a favor do avião francês é talvez o aspecto menos relevante nesse episódio. A incapacidade de decidir é pior. Arrasta o Brasil para baixo. Mostra a distância entre o país real e o da propaganda de Lula na TV e no rádio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário