REVISTA VEJA
Se alguma dúvida paira ainda, depois dos últimos acontecimentos, sobre o caráter e a natureza do Mercosul, a Copa Libertadores da América está aí para ajudar a dissipá-la. Mercosul e Copa Libertadores são duas instituições da América Latina. Atuam em ambientes diversos, cada qual com os próprios personagens e os próprios instrumentos, mas se unem na essência. Uma espelha e explica a outra. Na disputa da Libertadores, raro é o jogo em que um jogador não acabe triturando a canela do outro. Se um dos contendores não sai do campo para o hospital, é porque a partida se caracterizou por incomum cavalheirismo. Só teve puxões de camisa, cotoveladas e cusparadas, o que, pelos padrões do continente, é atestado de bom comportamento. No Mercosul, as cusparadas e cotoveladas dão lugar a sorrisos e apertos de mão. Mas, como se evidenciou nas últimas semanas, para quem ainda precisava de evidências, prevalece a mesma característica latino-americana de horror às regras e de opção preferencial pela malandragem e pela trapaça.
Os locutores chamam de "espírito da Libertadores" o conjunto de eventos que caracterizam o torneio. Eles dividem os times entre os que têm e os que não têm "espírito da Libertadores". Classificam as partidas mais tomadas pelo afã sanguinário dos contendores como "típicas da Libertadores". E se animam com isso. Os jogadores se estraçalham em campo, a plateia ulula, e os locutores entoam: “É o es-pí-ri-to da Li-ber-ta-dores!!!". O Mercosul é uma instituição de livre-comércio que permite a seus membros impedir o livre-comércio entre si por meio de medidas protecionistas. Quando as medidas protecionistas não bastam, inventam-se papéis necessários à circulação das mercadorias e bloqueia-se a passagem dos caminhões nas fronteiras. "É o es-pí-ri-to do Mer-co-sul!!!", comemoraria o locutor, se locutor houvesse como há no futebol.
O espírito do Mercosul ainda não tinha se revelado de modo tão eloquente quanto nos acontecimentos precipitados pela destituição do presidente paraguaio Fernando Lugo. Ao esquisito processo de impeachment sacramentado em menos de 48 horas sucedeu-se uma esquisita revoada de chanceleres dos países vizinhos para tentar reverter o quadro. Invadia-se o campo para tentar alterar o resultado do jogo. No ato seguinte, denunciou-se uma mais esquisita ainda visita do chanceler da Venezuela aos comandantes militares paraguaios, para supostamente incitá-los a intervir. Era um artifício extracampo, mais pesado do que a saraivada de objetos que nos jogos da Libertadores costuma ser lançada sobre o goleiro do time adversário, sobre o juiz, ou sobre o pobre coitado que, nos estádios mais acanhados, se prepara para bater o escanteio.
Tanto no caso da Libertadores quanto no do Mercosul, inesgotáveis são as artimanhas nos respectivos repertórios. No jogo entre Corinthians e Boca Juniors, na semana passada, o atacante corintiano Emerson foi flagrado no ato de morder os dedos do zagueiro adversário. A cena foi mostrada em toda a sua crueza graças ao novo recurso do zoom em câmera lenta nas transmissões do futebol. O corintiano, meio caído, aproveitou a mão providencialmente próxima do jogador do Boca Juniors para aplicar-lhe uma dentada. Um ensaio de canibalismo tinha lugar no velho estádio do Pacaembu, que já viu tudo, mas isso ainda não tinha visto. No Mercosul, pouco antes, aproveitara-se a suspensão imposta ao Paraguai, em razão da destituição de Lugo, para aprovar o ingresso da Venezuela no bloco. Era mais do que marcar gol em impedimento. Para aceitar novos integrantes, é necessária a aprovacão dos Congressos dos quatro países-membros, e o Congresso do Paraguai recusava-se a aceitar a Venezuela. Aproveitar a ausência de um dos sócios para passar-lhe a perna equivale a virar a mesa para melar o campeonato, coisa que nem na Libertadores ainda se ousou fazer.
Emerson marcou os dois gols da vitória corintiana, mas não só por isso, como também pelas inúmeras provocações aos argentinos, foi considerado o herói da partida. O espírito da Libertadores assim o determina, e vamos em frente. No Mercosul, os dois últimos lances foram o rompimento de relações entre Paraguai e Venezuela, por causa da ação do chanceler venezuelano junto aos generais paraguaios, e um racha no governo uruguaio, por causa da tramóia que possibilitou a adesão da Venezuela ao bloco. Tudo no espírito do Mercosul, mas talvez com peso demasiado para seguir em frente, como se nada tivesse acontecido.
segunda-feira, julho 09, 2012
Custo Brasil, custo Lula - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O ESTADÃO - 09/07
Todo mundo concorda que é preciso turbinar os investimentos no Brasil, públicos e privados. Ambos estão travados. Os primeiros, por incapacidade e falta de recursos; os segundos, porque é difícil e caro investir no País.
A falha do governo federal é flagrante. O dinheiro reservado para investimentos no Orçamento de 2012 é de R$ 90 bilhões, equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) esperado para o ano. É mais do que se gastou nos últimos anos, porém pouco diante das necessidades do Brasil e diante do atraso do País em infraestrutura.
Já houve tempo em que o governo federal investia até 5% do PIB – isso antes de aumentarem fortemente os gastos com Previdência, pessoal, custeio e com programas sociais e assistenciais. Mas, além de ser um dinheiro insuficiente, até a meta de deste ano a administração só conseguiu gastar 20% do que estava orçado.
Exemplo das dificuldades: o diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), general Jorge Fraxe, nomeado há um ano pela presidente Dilma Rousseff para botar ordem na casa, contou a este Estadão que encontrou contratos de obras no valor de R$ 15 bilhões – ou “15 bilhões de problemas”. O general está mudando o sistema de contratação, mas o Tribunal de Contas da União (TCU) encontrou irregularidades nos novos projetos. Dessa forma, vai tudo muito arrastado no órgão responsável pela maior parte dos investimentos em infraestrutura do País.
Repararam que nem falamos em corrupção? Ela existe, é claro, como prova a recente Operação Trem Pagador, da Polícia Federal, que apanhou ex-dirigentes da estatal Valec, dedicada ao importante serviço de construir ferrovias. É grave a roubalheira. Mas os problemas de gestão são ainda maiores, porque estão espalhados por praticamente toda a administração. Todos os dias saem notícias dando conta de atrasos e aumentos de preços em obras federais e nas suas estatais. Outro dia mesmo, a nova presidente da Petrobrás, Graça Foster, reviu para baixo as metas de produção, para cima os custos e para mais à frente os prazos.
Isso é resultado do modo de operação do governo Lula. Seu estilo “vamo-que-vamo”, forçando obras e multiplicando metas – tudo a cargo de uma administração loteada entre os partidos políticos –, reduziu drasticamente a qualidade técnica da gestão e abriu espaço para os malfeitos. Esse é o custo Lula.
Marketing. O que funcionou mesmo foi o marketing. Lembram-se da campanha para celebrar a autossuficiência em petróleo? Pois então, a Petrobrás hoje é importadora de óleo, gasolina e diesel.
Em resumo, o setor público no Brasil nunca foi lá essas coisas. Loteado e politizado, ficou ainda mais incapaz.
Já o setor privado tem dinheiro e competência para investir. Mas não o faz porque os custos são elevados e por falta de condições institucionais, muitas das quais dependem do governo.
Considerem o caso dos aeroportos, por exemplo. Com a privatização de Guarulhos, Viracopos e Brasília, os investimentos anunciados nesses três lugares superam em várias vezes o que a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) podia fazer. Logo...
Burocracia. Informações recentes dizem que, de fato, a presidente Dilma está examinando a ampliação das concessões para aeroportos, portos e rodovias. É disso mesmo que se precisa: de um enorme programa de privatização, um salto expressivo nos investimentos. Outras informações, no entanto, dizem que isso ficará para o próximo ano, por causa da necessidade de rever os modelos de privatização, montar os processos e tal. Sabe como é...
Como conseguem demorar tanto tempo? Concessões não são uma coisa nova. Há décadas que se faz isso, aqui e no mundo todo. A concessão dos aeroportos, por exemplo, foi discutida desde o primeiro governo Lula. Havia um obstáculo político – a rejeição petista às privatizações, à qual se juntou a fisiologia dos partidos aliados que precisam de estatais e governo para tirar de lá seu sustento político e pessoal.
Mas, superada a rejeição do PT, a força dominante por que não avança? O problema não está apenas nos grandes aeroportos. Há outros polos incrivelmente dinâmicos pelo Brasil afora – desde o turismo em Foz do Iguaçu (PR) até a moderna agropecuária em Luís Eduardo Magalhães (BA), passando pelos centros de alta tecnologia em São José dos Campos (SP).
Os três lugares sofrem com aeroportos ridículos para suas necessidades. E eis por que o exemplo é bom: nesses três lugares, conforme pude verificar em visitas recentes, empresas privadas e associações civis já têm tudo pronto: terreno, dinheiro, projeto, expertise e vontade de fazer. As prefeituras locais também estão envolvidas na história. Basta o governo federal dizer “podem fazer!”, e vão brotar aeroportos modernos e, sobretudo, rentáveis por toda aparte. Parece até mais fácil fazer essa privatização regionalizada ou municipalizada.
Mas não anda. Fontes diversas contam-me que batalham há anos em busca de autorização para fazer até mesmo obras paralelas, como a ampliação de estacionamentos, mas topam com burocracias e má vontade.
Acrescente a isso o custo Brasil e o ambiente de negócios hostil, que dificultam e encarecem os investimentos privados em geral, e fica evidente por que o País não deslancha.
Sim, há uma crise internacional, mas os outros países emergentes estão se saindo melhor, com mais crescimento econômico e menos inflação.
Todo mundo concorda que é preciso turbinar os investimentos no Brasil, públicos e privados. Ambos estão travados. Os primeiros, por incapacidade e falta de recursos; os segundos, porque é difícil e caro investir no País.
A falha do governo federal é flagrante. O dinheiro reservado para investimentos no Orçamento de 2012 é de R$ 90 bilhões, equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) esperado para o ano. É mais do que se gastou nos últimos anos, porém pouco diante das necessidades do Brasil e diante do atraso do País em infraestrutura.
Já houve tempo em que o governo federal investia até 5% do PIB – isso antes de aumentarem fortemente os gastos com Previdência, pessoal, custeio e com programas sociais e assistenciais. Mas, além de ser um dinheiro insuficiente, até a meta de deste ano a administração só conseguiu gastar 20% do que estava orçado.
Exemplo das dificuldades: o diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), general Jorge Fraxe, nomeado há um ano pela presidente Dilma Rousseff para botar ordem na casa, contou a este Estadão que encontrou contratos de obras no valor de R$ 15 bilhões – ou “15 bilhões de problemas”. O general está mudando o sistema de contratação, mas o Tribunal de Contas da União (TCU) encontrou irregularidades nos novos projetos. Dessa forma, vai tudo muito arrastado no órgão responsável pela maior parte dos investimentos em infraestrutura do País.
Repararam que nem falamos em corrupção? Ela existe, é claro, como prova a recente Operação Trem Pagador, da Polícia Federal, que apanhou ex-dirigentes da estatal Valec, dedicada ao importante serviço de construir ferrovias. É grave a roubalheira. Mas os problemas de gestão são ainda maiores, porque estão espalhados por praticamente toda a administração. Todos os dias saem notícias dando conta de atrasos e aumentos de preços em obras federais e nas suas estatais. Outro dia mesmo, a nova presidente da Petrobrás, Graça Foster, reviu para baixo as metas de produção, para cima os custos e para mais à frente os prazos.
Isso é resultado do modo de operação do governo Lula. Seu estilo “vamo-que-vamo”, forçando obras e multiplicando metas – tudo a cargo de uma administração loteada entre os partidos políticos –, reduziu drasticamente a qualidade técnica da gestão e abriu espaço para os malfeitos. Esse é o custo Lula.
Marketing. O que funcionou mesmo foi o marketing. Lembram-se da campanha para celebrar a autossuficiência em petróleo? Pois então, a Petrobrás hoje é importadora de óleo, gasolina e diesel.
Em resumo, o setor público no Brasil nunca foi lá essas coisas. Loteado e politizado, ficou ainda mais incapaz.
Já o setor privado tem dinheiro e competência para investir. Mas não o faz porque os custos são elevados e por falta de condições institucionais, muitas das quais dependem do governo.
Considerem o caso dos aeroportos, por exemplo. Com a privatização de Guarulhos, Viracopos e Brasília, os investimentos anunciados nesses três lugares superam em várias vezes o que a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) podia fazer. Logo...
Burocracia. Informações recentes dizem que, de fato, a presidente Dilma está examinando a ampliação das concessões para aeroportos, portos e rodovias. É disso mesmo que se precisa: de um enorme programa de privatização, um salto expressivo nos investimentos. Outras informações, no entanto, dizem que isso ficará para o próximo ano, por causa da necessidade de rever os modelos de privatização, montar os processos e tal. Sabe como é...
Como conseguem demorar tanto tempo? Concessões não são uma coisa nova. Há décadas que se faz isso, aqui e no mundo todo. A concessão dos aeroportos, por exemplo, foi discutida desde o primeiro governo Lula. Havia um obstáculo político – a rejeição petista às privatizações, à qual se juntou a fisiologia dos partidos aliados que precisam de estatais e governo para tirar de lá seu sustento político e pessoal.
Mas, superada a rejeição do PT, a força dominante por que não avança? O problema não está apenas nos grandes aeroportos. Há outros polos incrivelmente dinâmicos pelo Brasil afora – desde o turismo em Foz do Iguaçu (PR) até a moderna agropecuária em Luís Eduardo Magalhães (BA), passando pelos centros de alta tecnologia em São José dos Campos (SP).
Os três lugares sofrem com aeroportos ridículos para suas necessidades. E eis por que o exemplo é bom: nesses três lugares, conforme pude verificar em visitas recentes, empresas privadas e associações civis já têm tudo pronto: terreno, dinheiro, projeto, expertise e vontade de fazer. As prefeituras locais também estão envolvidas na história. Basta o governo federal dizer “podem fazer!”, e vão brotar aeroportos modernos e, sobretudo, rentáveis por toda aparte. Parece até mais fácil fazer essa privatização regionalizada ou municipalizada.
Mas não anda. Fontes diversas contam-me que batalham há anos em busca de autorização para fazer até mesmo obras paralelas, como a ampliação de estacionamentos, mas topam com burocracias e má vontade.
Acrescente a isso o custo Brasil e o ambiente de negócios hostil, que dificultam e encarecem os investimentos privados em geral, e fica evidente por que o País não deslancha.
Sim, há uma crise internacional, mas os outros países emergentes estão se saindo melhor, com mais crescimento econômico e menos inflação.
Beleza ou caricatura? - WALCYR CARRASCO
REVISTA ÉPOCA
A primeira vez em que fui ao museu do Louvre, em Paris, estava ansioso por contemplar a Vênus de Milo, símbolo máximo de beleza da Antiguidade. Quando me aproximei do torso de mármore, descobri se tratar de uma gordinha. Surpreso, confirmei várias vezes a identificação. Era ela mesma. Símbolo de beleza? Quá-quá-quá! Se fosse viva, hoje em dia a Vênus estaria atormentada por regimes. Tenho a mesma sensação quando assisto a filmes antigos. As estrelas do passado, admiradas por seu esplendor, dificilmente resistem aos padrões atuais. Leslie Caron: olhos lindos, mas cadê o queixo? Audrey Hepburn: chique, só que reta como uma tábua. Lana Turner: seios avolumados, mas rosto comum e nariz de batata. Mudaram os padrões de beleza, é certo. E as operações plásticas tiveram grande influência nisso. Atualmente, muitas garotas fazem suas primeiras plásticas já no final da adolescência. Os pais não só pagam, como apoiam. Eu me pergunto: uma adolescente precisa ser peituda? Se dá tanta importância a isso, deveria buscar um terapeuta, e não um cirurgião. Tenta-se corrigir todo o corpo, o que torna algumas pessoas parecidas com ETs. Uma vez, eu assistia a um desfile acompanhado por uma expert em moda. Comentei sobre a modelo na passarela. Minha amiga respondeu:- Não vai ter carreira. Ela fez plástica de nariz. O rosto perdeu a proporção.
Era verdade. O narizinho parecia incrustado numa cara ossuda, sem nada a ver com ele. Confesso: já fiz plástica. Sempre tive trauma da minha barriga. Anos atrás, resolvi eliminá-la a golpes de bisturi. Não me contentei com uma lipo. Também fiz uma abdominoplastia. É uma técnica cirúrgica que remodela o abdome. Como sempre, veio o "já que".
- Aproveite e tire minha papada - disse ao médico.
Deitado na cama da clínica, pensei:
- Mas o que estou fazendo aqui? Por que vou me submeter a uma anestesia geral, da qual posso voltar com sequelas?
Quase levantei para ir embora. Naquele momento me espetaram. Acordei horas depois com um capacete de gaze no rosto. Impossível respirar direito. E sem umbigo.
- São só 24 horas de capacete - disse o médico diante de minhas pupilas lá no fundo, aterrorizadas.
- Ixiiiii....
- Quanto ao umbigo, você vai usar isto aqui, esta prótese de acrílico, para formar um novo buraco. Use sempre, senão fica liso.
- Aiiiiiiiii... - balbuciei através do capacete. Foram dois meses usando colete para formatar a barriga. No maior calor. A pele borbulhava. E o artefato de acrílico preso no abdome, para formar o buraquinho do umbigo. Admito: o resultado foi ótimo. Por sete meses. Já no oitavo, uma nova barriga começou a se formar. Está instalada até hoje, vitoriosa. Uma amiga fez pior. Queria botar prótese nos seios. Apavorou-se já na maca, a caminho da mesa de operação. Pulou e saiu correndo. Nua. Através do hospital. Certas celebridades agem como se fazer plástica fosse semelhante a ir ao cabeleireiro. Algumas fizeram tantas que relacionam os acontecimentos da vida com as operações: - Casei antes da primeira plástica. Agora estou na 20a plástica e no 200 marido. Essa coincidência será um sinal cabalístico? A plástica se tornou uma mania mundial para homens e mulheres. Pessoas fazem poupança para aumentar os seios ou botar bíceps de silicone. Hoje em dia, formar um elenco, principalmente em novela de época, é uma dificuldade. Cadê aquela senhora com cara de voyozinha? A atriz Laura Cardoso, atualmente em Gabriela, é uma das mais requisitadas. Além de ser uma grande intérprete, nunca mexeu no rosto. Demonstra a idade que tem. Sai de uma novela e entra em outra porque, como ela, há raríssimas.
A febre de plásticas tem motivo. A juventude é valorizada, a velhice não. Ninguém quer ser tratado como vovô. É bom se sentir charmoso. É chato estar distante do padrão estético: barriga zero, gordura zero, rugas zero, juízo abaixo de zero. As pessoas esticam o rosto para rejuvenescer. Que engano! A esticada de 50 não parece uma garota de 20. E sim o que é: uma esticada madura. Quanto mais vezes alguém se estica, mais esquisito se torna. Todas as plastificadas e todos os plastificados parecem clones, de boca puxada, olhos esbugalhados. E os incômodos? Eu digo, eu digo! Desde que puxei o queixo, faço barba atrás da orelha! Quanto mais plásticas, menor a identidade. Cadê a pessoa que estava ali? É o pior da plástica repetida: a pessoa se torna uma caricatura de si mesma.
Era verdade. O narizinho parecia incrustado numa cara ossuda, sem nada a ver com ele. Confesso: já fiz plástica. Sempre tive trauma da minha barriga. Anos atrás, resolvi eliminá-la a golpes de bisturi. Não me contentei com uma lipo. Também fiz uma abdominoplastia. É uma técnica cirúrgica que remodela o abdome. Como sempre, veio o "já que".
- Aproveite e tire minha papada - disse ao médico.
Deitado na cama da clínica, pensei:
- Mas o que estou fazendo aqui? Por que vou me submeter a uma anestesia geral, da qual posso voltar com sequelas?
Quase levantei para ir embora. Naquele momento me espetaram. Acordei horas depois com um capacete de gaze no rosto. Impossível respirar direito. E sem umbigo.
- São só 24 horas de capacete - disse o médico diante de minhas pupilas lá no fundo, aterrorizadas.
- Ixiiiii....
- Quanto ao umbigo, você vai usar isto aqui, esta prótese de acrílico, para formar um novo buraco. Use sempre, senão fica liso.
- Aiiiiiiiii... - balbuciei através do capacete. Foram dois meses usando colete para formatar a barriga. No maior calor. A pele borbulhava. E o artefato de acrílico preso no abdome, para formar o buraquinho do umbigo. Admito: o resultado foi ótimo. Por sete meses. Já no oitavo, uma nova barriga começou a se formar. Está instalada até hoje, vitoriosa. Uma amiga fez pior. Queria botar prótese nos seios. Apavorou-se já na maca, a caminho da mesa de operação. Pulou e saiu correndo. Nua. Através do hospital. Certas celebridades agem como se fazer plástica fosse semelhante a ir ao cabeleireiro. Algumas fizeram tantas que relacionam os acontecimentos da vida com as operações: - Casei antes da primeira plástica. Agora estou na 20a plástica e no 200 marido. Essa coincidência será um sinal cabalístico? A plástica se tornou uma mania mundial para homens e mulheres. Pessoas fazem poupança para aumentar os seios ou botar bíceps de silicone. Hoje em dia, formar um elenco, principalmente em novela de época, é uma dificuldade. Cadê aquela senhora com cara de voyozinha? A atriz Laura Cardoso, atualmente em Gabriela, é uma das mais requisitadas. Além de ser uma grande intérprete, nunca mexeu no rosto. Demonstra a idade que tem. Sai de uma novela e entra em outra porque, como ela, há raríssimas.
A febre de plásticas tem motivo. A juventude é valorizada, a velhice não. Ninguém quer ser tratado como vovô. É bom se sentir charmoso. É chato estar distante do padrão estético: barriga zero, gordura zero, rugas zero, juízo abaixo de zero. As pessoas esticam o rosto para rejuvenescer. Que engano! A esticada de 50 não parece uma garota de 20. E sim o que é: uma esticada madura. Quanto mais vezes alguém se estica, mais esquisito se torna. Todas as plastificadas e todos os plastificados parecem clones, de boca puxada, olhos esbugalhados. E os incômodos? Eu digo, eu digo! Desde que puxei o queixo, faço barba atrás da orelha! Quanto mais plásticas, menor a identidade. Cadê a pessoa que estava ali? É o pior da plástica repetida: a pessoa se torna uma caricatura de si mesma.
Eleição "diferenciada" - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 09/07
Os petistas consideram que o julgamento do mensalão vai comprometer o resultado de seus candidatos cuidadosamente selecionados para preparar o PT pós-Lula/Dilma. E essa é a raiz de todo estresse da largada
A expressão “gente diferenciada” ficou famosa quando uma moradora do bairro de Higienópolis em São Paulo se referiu àqueles que iriam baixar no seu pedaço chique da cidade quando houvesse ali uma estação de metrô. Ocupou o topo dos tópicos mais comentados do Twitter na época, tudo por causa da carga de preconceito que carregava contra usuários de transporte coletivo. O “diferenciado” correu o mundo ganhando outras conotações. Agora, tem gente jurando que esta eleição municipal em curso sofrerá uma série de problemas por causa da agenda de Brasília.
O normal nesta semana, cassado o mandato de Demóstenes Torres e aprovada a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2013, seria o Congresso entrar no recesso parlamentar e só voltar a funcionar a pleno vapor em outubro. Mas a agenda deste ano está digamos “diferenciada” pelo mensalão e pela CPI do Cachoeira. Brasília estará “na ativa” durante todo o processo de escolha dos prefeitos. E os petistas olham para esse quadro da mesma forma que a tal moradora de Higienópolis olhava para os visitantes não convidados que chegavam ao seu bairro usando o transporte coletivo.
O PT não se conforma em ter que passar esta temporada eleitoral dando explicações sobre o velho episódio do mensalão. Esse inconformismo é inclusive parte do estresse produzido na última semana com o PSB e a aproximação com o PMDB. Os petistas perceberam que PSDB e PSB têm opções para o futuro, e o PMDB não produziu ninguém. Portanto, será o grande aliado.
Por falar em inconformismo...Na raiz de todos os problemas, tratada apenas nas reuniões mais reservadas do partido, está o fato de os petistas acharem que o julgamento vai comprometer o resultado de seus candidatos nos centros urbanos. Em especial, daqueles chamados a preparar o PT para o pós-Lula/Dilma, cuidadosamente selecionados em 62 das 85 cidades do país com mais de 200 mil eleitores.
Não se pode esquecer que todos os partidos trabalham com a perspectiva de se manter no poder por tempo indeterminado. Os petistas, depois de Dilma e Lula, não veem em suas fileiras ninguém com aquela “pegada” para encantar os eleitores. A própria Dilma só conseguiu porque Lula se dedicou a essa construção por dois longos anos antes da largada da campanha presidencial de 2010. Portanto, essa formação de líderes era a prioridade de 2012.
Agora, diante do julgamento, esses candidatos, se depender de parte do PT focada no mensalão, terão a tarefa de ampliar a defesa do partido no processo e responder aos ataques da oposição na campanha, inclusive no horário eleitoral de rádio e tevê e nas redes sociais. Os candidatos resistem, uma vez que falar do mensalão pode acabar chamando a atenção daqueles que desconhecem o julgamento.
Por falar em prioridade...Como se não bastasse o julgamento do mensalão, a CPI do Cachoeira ganha contornos cada vez mais imprevisíveis. Os petistas tentarão turbiná-la em agosto como contraponto ao julgamento do mensalão. Mas a manobra é arriscada. Até agora, os petistas conseguiram manter o cordão de isolamento, deixando as obras do PAC desfocadas, mas não sabem se conseguirão manter esse sistema de defesa acionado a partir de agosto, com o depoimento de Luiz Antonio Pagot, ex-comandante do Dnit. Dentro do próprio PT, há quem considere essa saída cada vez mais difícil. Cassado Demóstenes esta semana no plenário do Senado, a tendência é o governo entrar no foco da CPI depois das férias dos deputados e senadores.
Por falar em férias...Chegou a hora de aproveitar os próximos 20 dias para recarregar as baterias. Volto em 30 de julho. Até lá, Paulo Silva Pinto e Leonardo Cavalcanti manterão você informado nas entrelinhas da notícia.
Os petistas consideram que o julgamento do mensalão vai comprometer o resultado de seus candidatos cuidadosamente selecionados para preparar o PT pós-Lula/Dilma. E essa é a raiz de todo estresse da largada
A expressão “gente diferenciada” ficou famosa quando uma moradora do bairro de Higienópolis em São Paulo se referiu àqueles que iriam baixar no seu pedaço chique da cidade quando houvesse ali uma estação de metrô. Ocupou o topo dos tópicos mais comentados do Twitter na época, tudo por causa da carga de preconceito que carregava contra usuários de transporte coletivo. O “diferenciado” correu o mundo ganhando outras conotações. Agora, tem gente jurando que esta eleição municipal em curso sofrerá uma série de problemas por causa da agenda de Brasília.
O normal nesta semana, cassado o mandato de Demóstenes Torres e aprovada a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2013, seria o Congresso entrar no recesso parlamentar e só voltar a funcionar a pleno vapor em outubro. Mas a agenda deste ano está digamos “diferenciada” pelo mensalão e pela CPI do Cachoeira. Brasília estará “na ativa” durante todo o processo de escolha dos prefeitos. E os petistas olham para esse quadro da mesma forma que a tal moradora de Higienópolis olhava para os visitantes não convidados que chegavam ao seu bairro usando o transporte coletivo.
O PT não se conforma em ter que passar esta temporada eleitoral dando explicações sobre o velho episódio do mensalão. Esse inconformismo é inclusive parte do estresse produzido na última semana com o PSB e a aproximação com o PMDB. Os petistas perceberam que PSDB e PSB têm opções para o futuro, e o PMDB não produziu ninguém. Portanto, será o grande aliado.
Por falar em inconformismo...Na raiz de todos os problemas, tratada apenas nas reuniões mais reservadas do partido, está o fato de os petistas acharem que o julgamento vai comprometer o resultado de seus candidatos nos centros urbanos. Em especial, daqueles chamados a preparar o PT para o pós-Lula/Dilma, cuidadosamente selecionados em 62 das 85 cidades do país com mais de 200 mil eleitores.
Não se pode esquecer que todos os partidos trabalham com a perspectiva de se manter no poder por tempo indeterminado. Os petistas, depois de Dilma e Lula, não veem em suas fileiras ninguém com aquela “pegada” para encantar os eleitores. A própria Dilma só conseguiu porque Lula se dedicou a essa construção por dois longos anos antes da largada da campanha presidencial de 2010. Portanto, essa formação de líderes era a prioridade de 2012.
Agora, diante do julgamento, esses candidatos, se depender de parte do PT focada no mensalão, terão a tarefa de ampliar a defesa do partido no processo e responder aos ataques da oposição na campanha, inclusive no horário eleitoral de rádio e tevê e nas redes sociais. Os candidatos resistem, uma vez que falar do mensalão pode acabar chamando a atenção daqueles que desconhecem o julgamento.
Por falar em prioridade...Como se não bastasse o julgamento do mensalão, a CPI do Cachoeira ganha contornos cada vez mais imprevisíveis. Os petistas tentarão turbiná-la em agosto como contraponto ao julgamento do mensalão. Mas a manobra é arriscada. Até agora, os petistas conseguiram manter o cordão de isolamento, deixando as obras do PAC desfocadas, mas não sabem se conseguirão manter esse sistema de defesa acionado a partir de agosto, com o depoimento de Luiz Antonio Pagot, ex-comandante do Dnit. Dentro do próprio PT, há quem considere essa saída cada vez mais difícil. Cassado Demóstenes esta semana no plenário do Senado, a tendência é o governo entrar no foco da CPI depois das férias dos deputados e senadores.
Por falar em férias...Chegou a hora de aproveitar os próximos 20 dias para recarregar as baterias. Volto em 30 de julho. Até lá, Paulo Silva Pinto e Leonardo Cavalcanti manterão você informado nas entrelinhas da notícia.
Da gabolice à realidade - PAULO BROSSARD
ZERO HORA - 09/07
No fim de maio, faz pouco mais de mês, a senhora presidente da República declarou que o Brasil estava preparadíssimo para enfrentar os efeitos da crise que se repetia na Europa; assoalhou que, se em 2008 o Brasil fora o último país a nela entrar, o primeiro a dela sair, agora estava em situação muito mais cômoda, 100%, 200%, 300% melhor; indo à Feira de Hannover, com uma parada no Porto para nutrir-se com memorável bacalhoada, que atrasou sua chegada à Alemanha, distribuiu conselhos aos governantes europeus. No entanto, a desindustrialização de importante setor da indústria soou como severa advertência acerca da nossa situação. É claro que o inusitado dessa declaração, partindo de uma chefe do Estado e do governo, não poderia causar-me boa impressão, a começar de sua gratuidade e da óbvia inconsequência. De mais a mais, jactar-se de uma superioridade sobre dados estranhos a seu domínio, soa como mera jactância. Outrossim, a assertiva segundo a qual os efeitos da crise estancavam nas fronteiras brasileiras não passava de vã pretensão. Basta lembrar, v.g., que o fato da China suspender a importação do minério de ferro foi o suficiente para a queda do seu preço e uma queda vertical nas exportações brasileiras.Mais ou menos coincidente com o fenômeno lúgubre da desindustrialização foi o crescimento do PIB no segundo trimestre, em apenas 0,2%, comparado com o do último trimestre do ano passado.
Evidentemente, a proclamada inviolabilidade das nossas fronteiras lembrava a da Linha Maginot... e os fatos se encarregaram de demonstrar. O Banco Central, nada menos que o Banco Central, contestou frontalmente a versão presidencial. Em audiência pública, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o presidente do Banco Central declarou que os sinais de desaceleração econômica "vêm de todos os lados", isto porque "longe de uma solução, a crise externa fará com que os mercados financeiros operem voláteis e a economia global tenha ritmo fraco em um período de até dois anos" e, para quem ainda duvidasse, aditou que a economia global deveria seguir em ritmo aquém do previsto.
Suponho que ninguém atribuirá malquerença a essa alta autoridade que, em lugar público e perante uma comissão do Senado, fez as declarações ora reproduzidas, bem como ninguém pode deixar de dar-lhes natural importância.
Não ficou nisso. Além da advertência do presidente do Banco Central, o próprio Banco Central, em exposição trimestral em que avalia as variações da economia nacional, corrigiu de 3,5% para 2,5% sua projeção para o crescimento do PIB em 2012. É de lembrar-se que quando se tornou conhecido o aumento do PIB no segundo trimestre de 2012, em apenas 0,2%, o ministro da Fazenda entrou a delirar, afiançando que seria tão grande o crescimento no terceiro trimestre que já estava a assegurar um crescimento esplêndido de todo o ano em curso!
Desde o fim do ano passado, o governo fez sete anúncios de pacotes na expectativa de reverter a desaceleração da economia interna. O último, no final de junho, foi recebido com ceticismo, diante de redução da produtividade da economia brasileira. O Instituto Brasileiro de Economia da FGV prevê queda de 4,3% da produção industrial, a maior em 32 meses, e a previsão de redução do PIB para 2%, analistas já admitem chegar a 1,7%.
Não me considero habilitado a opinar em matéria dessa delicadeza, mas me parece claro que a situação não se apresenta como tranquila.
Apelo aos candidatos - ROSANE DE OLIVEIRA
ZERO HORA - 09/07
Dos temas que afligem os eleitores e que merecerão atenção dos candidatos nesta eleição, nenhum será mais falado do que a saúde, pelas dificuldades que atingem pequenos, médios e grandes municípios. Desde já se pode ter certeza de que a saúde será alvo das críticas de quem está na oposição e de explicações por quem é governo.Mas essa não pode ser uma campanha de uma nota só. Há outros temas igualmente importantes que correm o risco de ser ofuscados pela falta de leitos, pela demora nas consultas especializadas, pelas carências dos postos de saúde, pela demora na instalação de Unidades de Pronto Atendimento, também conhecidas como UPAs. Um desses temas é a educação infantil.
Responsabilidade dos municípios, a educação infantil é uma das vergonhas do Rio Grande do Sul pela baixíssima oferta de vagas. Um estudo coordenado pelo atual presidente do Tribunal de Contas do Estado, Cezar Miola, mostrou que o Estado está na ponta de baixo no ranking de investimentos na área.
No primeiro debate entre os candidatos a prefeito de Porto Alegre, esse assunto foi apenas tangenciado. Não deveria. Quem se dispõe a governar uma cidade precisa ter em mente que creche e pré-escola têm de ser prioridade de fato. Além de facilitar a vida das mães que precisam trabalhar, creches e escolas de educação infantil são fundamentais no desenvolvimento das crianças.
Quantos candidatos se dedicaram a conhecer a fundo o programa Brasil Carinhoso, lançado recentemente pela presidente Dilma Rousseff? Quantos sabem quais são as possibilidades de seu município fazer convênios com o governo federal para aumentar a oferta de vagas à população? Quantos incluíram a educação infantil nos planos de governo que estão em fase de elaboração?
MILITÂNCIA FORTE
Frio e chuva fina não afugentaram os petistas no ato inaugural da campanha de Adão Villaverde (PT) à prefeitura de Porto Alegre. Alheios ao tempo ruim, centenas de militantes e de lideranças tomaram a escadaria Santa Maria, no bairro Partenon, no sábado, demonstrando a força do partido.
O local não foi escolhido por acaso: a escadaria foi construída no primeiro mandato de Tarso como prefeito.
- Foi uma obra simbólica da Frente Popular. Escolhemos aquele lugar porque a nossa campanha vai estar muito enraizada nas áreas populares da cidade - diz Gerson Almeida, coordenador da campanha de Villaverde, que contou com o apoio de Tarso na largada da disputa eleitoral.
A próxima movimentação intensa da militância do PT ocorrerá na sexta-feira, quando será inaugurado o comitê de campanha, na esquina da Farrapos com a Barros Cassal.
LIMPEZA NA ORLA
Em vez dos tradicionais bandeiraços, caminhadas, panfletagens e carreatas, o prefeito José Fortunati (PDT) optou por mobilizar a militância de uma forma diferente ontem: ele reuniu candidatos a vereador, lideranças partidárias e militantes e levou todos para a orla do Guaíba, nas proximidades do Anfiteatro Pôr-do-Sol, onde recolheram lixo.
- Também vamos realizar as atividades mais comuns de campanha, mas nesse começo resolvemos inovar e promover atos que demonstrem nosso compromisso com a cidade - afirmou o deputado federal Vieira da Cunha (PDT), coordenador da campanha de Fortunati.
Na próxima quinta-feira, será instalado o conselho político do pedetista, em reunião-almoço na churrascaria Na Brasa. Integrado por nomes como Alceu Collares, Jair Soares e Pedro Simon, o grupo deverá discutir estratégias de campanha.
ACERTO NACIONAL
Apostando na simpatia de Manuela D"Ávila, o PC do B prioriza o corpo a corpo da sua candidata à prefeitura. Ontem, ela visitou uma feira na Vila Cruzeiro, passou pela Redenção e também pelo Morro Santa Tereza.
Hoje, Manuela almoça no Chalé da Praça XV para instalar a coordenação de campanha, encabeçada por Beto Albuquerque (PSB). Uma surpresa é preparada para os próximos dias: será inaugurado um comitê suprapartidário de apoio a Manuela com a presença da Senadora Ana Amélia Lemos (PP).
Nos bastidores, os comunistas comemoram silenciosamente um acordo nacional entre os presidentes do PT, Rui Falcão, e do PC do B, Renato Rabelo. Como o PC do B aderiu à coligação de Fernando Haddad (PT) em São Paulo, ficou acertado que o PT apoiará formalmente Manuela no segundo turno em caso de Adão Villaverde (PT) não avançar para esta etapa.
ALIÁS
O atendimento à primeira infância deveria ser item obrigatório na pauta de prioridades dos candidatos, independentemente do tamanho do município.
237 mil é o tamanho do déficit de vagas em creches e pré-escolas no Rio Grande do Sul, conforme estudo do TCE.
Artigo de autoria de Vinicíus Wu, chefe de Gabinete do governador Tarso Genro, afirma que a imprensa procura "punir" os políticos e agentes públicos ao cobrar a plena aplicação da Lei de Acesso à Informação, inclusive com a publicação de listas que incluam nomes e remunerações brutas de servidores, conforme regulamentação da Presidência da República e orientação do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça. Wu defende a máquina estatal dizendo que, se é para radicalizar, os executivos e empresários do setor privado que recebem incentivos fiscais também devem publicizar os seus ganhos na internet.
Nas mãos do Senado
A última etapa do processo de liberação de empréstimo no Banco Mundial (Bird) será vencida amanhã pelo Piratini.
Primeiro, a Comissão de Finanças do Senado dará o parecer favorável à aquisição do financiamento de US$ 480 milhões. Ainda amanhã, a operação de crédito será votada no plenário do Senado. Com a aprovação, restará esperar que o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, comunique ao Bird a autorização de liberação dos recursos. A primeira parcela, de US$ 40 milhões, deverá chegar ainda em julho. Parte do valor será aplicado na reforma de escolas.
Previdência sobre a mesa
Três propostas são analisadas pelo grupo do Conselhão responsável por organizar um projeto que regulamente no Estado a Emenda 41, do governo federal, que irá desvincular os servidores inativos dos ativos na negociação de reajustes salariais.
O ponto de partida é o projeto de lei complementar 90, de 2004, do governo Rigotto, arquivado em 2006. Dois substitutivos foram apresentados por entidades de servidores.
- Correção - Diferentemente do que foi publicado na edição de ontem, a coligação de José Fortunati (PDT) trabalha com o conceito "Fazer mais, fazer melhor , fazer com todos".
- Correção - Roberto Robaina é do PSOL, e não do PSTU como publicado na edição de ontem.
Apelo por eleição limpa
Para contrapor o antigo e desleixado hábito de candidatos que emporcalham ruas e espaços públicos ao jogar milhares de panfletos e santinhos no chão, nasceu no Twitter e no Facebook o movimento "Quem suja agora, vai sujar depois". A ideia é mostar que, além de poluir as cidades, a disseminação de materiais impressos, que invariavelmente causa sujeira e entope bueiros, se faz cada vez menos necessária devido à evolução das campanhas eleitorais nas redes sociais. Em tempos de sustentabilidade, os candidatos precisam se conscientizar e dar o exemplo à população.
A mãe de todas as eleições - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
O Estado de S.Paulo - 09/07
Se você não conhece um candidato a vereador pessoalmente, melhor repensar sua inserção na vida política da sua cidade. Nas próximas eleições, mais de 400 mil pessoas devem se candidatar a um assento numa câmara municipal. É 1 candidato a vereador para cada 320 eleitores, na média brasileira. Ou seja, há uma boa chance de qualquer um ter um primo, um vizinho, um colega de trabalho ou escola que seja candidato.
As probabilidades, é claro, variam de lugar para lugar. Quanto maior a cidade, menor a chance. Em São Paulo, o risco de trombar com um postulante (1 em 7 mil) é uma pequena fração do que é em Araguainha (MT), com seus 21 candidatos para 925 eleitores. Isso não serve de desculpa, todavia. É improvável que a Câmara da pequena cidade mato-grossense empregue um garagista com salário de R$ 23 mil - até por falta de garagem. A de São Paulo sim.
Na média, o candidato a vereador é cinco anos mais novo do que o candidato a prefeito, além de ter passado menos tempo na escola. Tem 45 anos, é homem e não chegou a completar o ensino médio. A maioria é de casados, embora 1 em cada 3 ainda seja solteiro. Tem uma boa chance de ser servidor público municipal. Se não, é provável que seja agricultor ou comerciante. Se for mulher, dona de casa ou professora.
A Câmara Municipal não é a única porta de entrada para a política partidária. Nenhum dos últimos presidentes brasileiros foi vereador. Nem Dilma Rousseff, nem Lula, nem FHC, nem Itamar Franco (tentou mas não conseguiu), nem José Sarney nem Fernando Collor - muito menos os militares. O último - e talvez o único - presidente que havia sido vereador foi Jânio Quadros. OK, não é o melhor exemplo. Mas que não sirva de desencorajamento.
Se ninguém está olhando, vereadores podem se sentir à vontade para fazer de conta que compareceram a sessões nas quais nunca estiveram, terceirizar seu voto para funcionários da Câmara e sabe-se lá mais o que. A prudência recomenda procurar conhecer pessoalmente um candidato a vereador e acompanhar o que ele vier a fazer, se for eleito. Nem que seja para ter um pistolão e se candidatar àquela vaga de garagista.
Tudo bem, seu negócio não é política e você não é muito bom em manobrar carros. Mesmo assim, as eleições municipais são mais importantes do que parecem. É muito mais do que o início de uma carreira política promissora. É a base onde todos os partidos, sem exceção, assentam suas pretensões políticas. Não há partido grande sem base municipal. Sem vereadores é difícil eleger prefeitos, e, sem prefeitos, não se elegem deputados federais.
Há uma correlação estatística quase perfeita entre a quantidade de votos para prefeito que um partido recebe e o número de representantes que a mesma sigla elege dois anos depois para a Câmara dos Deputados. O coeficiente é de 0,96 num máximo de 1. Nenhum dos maiores partidos brasileiros recebeu, em 2008, menos do que 150 mil votos a prefeito por deputado federal eleito em 2010. A proporção parece esdrúxula, mas não é.
Os prefeitos são os principais cabos eleitorais dos deputados. Sem algumas centenas de prefeitos um partido não elege uma dezena de deputados. O tamanho dos eleitorados governados pelos prefeitos faz diferença, mas, na média, um partido médio ou grande precisa eleger 12 prefeitos para levar um deputado à Câmara no pleito seguinte. Alguns precisam mais, outros menos.
O PT precisou de seis prefeitos por deputado; o PTB, de 20. Mas os deputados petistas foram empurrados também pela campanha de Dilma e a popularidade de Lula. O PT, portanto, é a exceção. A regra é o PMDB e o PSDB, que precisaram eleger 15 prefeitos em 2008 para cada deputado federal eleito dois anos depois. Ou o PP, que precisou de 13; ou ainda DEM e PDT, de 12; PSB e PR, de 9. Por isso, os voos partidários em 2014 decolam este ano.
Na política brasileira, há dois astros (PT e PSDB) em torno de qual orbitam quase todas as outras siglas. O número de satélites varia em função de qual dos dois está no poder. A grande exceção, por ora, é o PMDB, que tenta ser o fiel da balança sem o qual é impossível governar. Mas há duas novidades em cena, disputando o papel dos protagonistas.
O PSB de Eduardo Campos pretende em 2014 (mais difícil) ou em 2018 (mais provável) se tornar um astro com candidato a presidente viável. E o PSD de Gilberto Kassab quer ser o novo PMDB. O sucesso ou fracasso desses planos depende, principalmente, do desempenho de PSB e PSD nas próximas eleições. Para chegarem ao estrelado, precisão eleger mais prefeitos do que têm hoje. Por isso 2012 é a mãe de todas as eleições.
Estados e municípios - AÉCIO NEVES
FOLHA DE SP - 09/07
À luz do dia, constata-se a paralisia de matérias essenciais, como a renegociação das dívidas dos Estados, a desoneração das empresas estaduais de saneamento (que pagam em impostos quase o mesmo o que investem), a revisão do vencido marco regulatório sobre a exploração mineral ou o injustificável atraso do novo plano decenal da educação.
Ao mesmo tempo em que concentra recursos e retarda decisões, o governo federal transfere responsabilidades.
Casos como a regulamentação da Emenda 29, em que o governismo obrigou os entes federados a adotarem patamar mínimo de investimentos na saúde, eximindo a União do mesmo dever, ou a adoção, sem a devida contrapartida financeira, de piso salarial para carreiras extensas do funcionalismo, remuneradas de forma preponderante por estados e municípios, são exemplos irrefutáveis.
Mas não é só isso.
Dados da Secretaria do Tesouro Nacional indicam que, em 2010, os gastos do governo central em educação representavam só 22,7% do gasto total no setor. Para transporte e segurança pública, a participação federal foi de apenas 35% e 18,3%, respectivamente.
No prazo de dez anos (2000-2010), a participação da União em saúde caiu de 44% para 32,6%. Em habitação e urbanismo, caiu de 15,2% para 10,3%. Ou seja, a maior parte das despesas com as funções essenciais à sociedade tem sido responsabilidade dos Estados e dos municípios.
Além de aumentar as atribuições dos governos regionais, o poder central toma, por reiteradas vezes, medidas que lhes retiram ainda mais recursos.
Os Estados têm pago os seus compromissos da dívida com a União sem conseguir amortizá-la -pelo contrário, os saldos devedores se multiplicaram exponencialmente.
As transferências de recursos na área de segurança têm sido contingenciadas. A redução da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) e as isenções tributárias com base em receitas partilhadas são exemplos de ações danosas a Estados e municípios. São recursos que constavam de seus orçamentos e que foram cancelados sem qualquer compensação.
As decisões que, pensava-se, serem econômicas, começam a ganhar contornos de lógica política. Enfraquecer a federação, aumentando a dependência do país ao governo central, prejudica a população e não é um caminho que honre as nossas melhores tradições.
Insisto nesse tema: o país reclama solidariedade política e mais compartilhamento de responsabilidades.
Sonho ou pesadelo do carro próprio? - MARIA INÊS DOLCI
FOLHA DE SP - 09/07
Carro é paixão brasileira, mesmo. Talvez tenha a ver com a sensação de liberdade, o direito de ir e vir, transformando a pessoa ao volante em um caubói moderno, que, em lugar das pradarias, cruze avenidas e estradas.
Mas nem tudo é glamour no carro próprio. Primeiramente, os preços são dos mais altos do mundo. Antes que alguém alegue que isso se deva à pesada carga tributária, já foram feitas comparações com retirada de todos os tributos. Ainda assim, os brasileiros pagam muito mais do que seus vizinhos e do que consumidores de outros países.
O desembolso de dinheiro, porém, não para por aí. Os governos não se contentam com a derrama tributária que representa mais ou menos um terço do preço do carro.
Pagamos, também, Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), licenciamento, estacionamentos caríssimos, combustíveis, revisões, os custos das vias esburacadas e mal sinalizadas, um festival de contas.
Em São Paulo, as tarifas de pedágio foram reajustadas neste mês. A mais cara é a do sistema Anchieta-Imigrantes, R$ 21,20. Bacana, não?
Então, fazer os cálculos somente da prestação mensal, com temporária redução do IPI, é um caminho inevitável para o endividamento.
Há, ainda, a inspeção veicular. Em São Paulo, cada proprietário pagará R$ 44,36 em 2012. Boa fonte de arrecadação para os cofres públicos, já repletos de dinheiro originado do mercado automotivo.
Não tratamos ainda do seguro, indispensável, pois o crime está livre, leve e solto nas maiores cidades brasileiras. Esta colunista, por exemplo, foi assaltada em plena luz do dia, em São Paulo, por três motociclistas, ao sair de uma agência bancária. As coisas não ficaram piores porque um taxista teve a coragem de sair do carro, o que fez com que os criminosos fugissem.
De janeiro a maio, no Rio de Janeiro, os roubos de carros aumentaram 28,4% em relação a igual período de 2011. Ou seja, já pagamos impostos, taxas e contribuições de país escandinavo, com serviços risíveis e insegurança pública. O preço médio de um seguro para um carro 1.0 -aqui no Brasil chamado "popular", apesar do preço-, era superior a R$ 1.500,00, em junho, em São Paulo.
Então, calcule: prestação, combustível, manutenção, estacionamento. Some os valores de IPVA, de inspeção veicular, de seguro e divida por 12. Você terá o custo aproximado para manter um automóvel, mensalmente. Sem considerar sinistros, como acidentes, dificilmente será inferior a R$ 300.
Logo, quem se deslumbra com uma mensalidade desse valor, deveria multiplicá-la por dois. Um exemplo: uma pessoa que receba R$ 3.000 por mês terá um salário líquido em torno de R$ 2.500. O automóvel consumirá, portanto, cerca de um quarto de sua renda.
Os outros três quartos vão bancar alimentação, moradia, escola dos filhos, vestuário, medicamentos e as contas inevitáveis -luz, água, telefone etc.
Este artigo não é um libelo contra o direito dos brasileiros de almejar a posse de um veículo. Até porque o transporte público é muito ruim, sujeitando seus usuários a ser esmagados, a sofrer assédio e outros tipos de desrespeito, além de ficar horas em trânsito.
A questão é: por que as autoridades não conseguem oferecer ônibus, trens e metrôs no nível e na quantidade necessários à população? Situação que, consequentemente, empurra as pessoas para dívidas e custos fixos que ativam as vendas de veículos, sim, mas destroem os orçamentos familiares.
A classe C, nova integrante do mercado de consumo, deve principalmente para manter o carro novo. A corda do financiamento rebenta, então, do lado mais fraco da relação, o comprador.
Você, consumidor, não precisa arquivar o sonho do carro zero na garagem. É legítimo e realizável. Mas não dê um passo maior do que a perna, porque corre o risco de perder o veículo, as prestações já pagas e ainda dever para o banco.
Nessa hora, ninguém virá em seu auxílio, nem o aplaudirá por ser o motor da economia brasileira.
Mas nem tudo é glamour no carro próprio. Primeiramente, os preços são dos mais altos do mundo. Antes que alguém alegue que isso se deva à pesada carga tributária, já foram feitas comparações com retirada de todos os tributos. Ainda assim, os brasileiros pagam muito mais do que seus vizinhos e do que consumidores de outros países.
O desembolso de dinheiro, porém, não para por aí. Os governos não se contentam com a derrama tributária que representa mais ou menos um terço do preço do carro.
Pagamos, também, Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), licenciamento, estacionamentos caríssimos, combustíveis, revisões, os custos das vias esburacadas e mal sinalizadas, um festival de contas.
Em São Paulo, as tarifas de pedágio foram reajustadas neste mês. A mais cara é a do sistema Anchieta-Imigrantes, R$ 21,20. Bacana, não?
Então, fazer os cálculos somente da prestação mensal, com temporária redução do IPI, é um caminho inevitável para o endividamento.
Há, ainda, a inspeção veicular. Em São Paulo, cada proprietário pagará R$ 44,36 em 2012. Boa fonte de arrecadação para os cofres públicos, já repletos de dinheiro originado do mercado automotivo.
Não tratamos ainda do seguro, indispensável, pois o crime está livre, leve e solto nas maiores cidades brasileiras. Esta colunista, por exemplo, foi assaltada em plena luz do dia, em São Paulo, por três motociclistas, ao sair de uma agência bancária. As coisas não ficaram piores porque um taxista teve a coragem de sair do carro, o que fez com que os criminosos fugissem.
De janeiro a maio, no Rio de Janeiro, os roubos de carros aumentaram 28,4% em relação a igual período de 2011. Ou seja, já pagamos impostos, taxas e contribuições de país escandinavo, com serviços risíveis e insegurança pública. O preço médio de um seguro para um carro 1.0 -aqui no Brasil chamado "popular", apesar do preço-, era superior a R$ 1.500,00, em junho, em São Paulo.
Então, calcule: prestação, combustível, manutenção, estacionamento. Some os valores de IPVA, de inspeção veicular, de seguro e divida por 12. Você terá o custo aproximado para manter um automóvel, mensalmente. Sem considerar sinistros, como acidentes, dificilmente será inferior a R$ 300.
Logo, quem se deslumbra com uma mensalidade desse valor, deveria multiplicá-la por dois. Um exemplo: uma pessoa que receba R$ 3.000 por mês terá um salário líquido em torno de R$ 2.500. O automóvel consumirá, portanto, cerca de um quarto de sua renda.
Os outros três quartos vão bancar alimentação, moradia, escola dos filhos, vestuário, medicamentos e as contas inevitáveis -luz, água, telefone etc.
Este artigo não é um libelo contra o direito dos brasileiros de almejar a posse de um veículo. Até porque o transporte público é muito ruim, sujeitando seus usuários a ser esmagados, a sofrer assédio e outros tipos de desrespeito, além de ficar horas em trânsito.
A questão é: por que as autoridades não conseguem oferecer ônibus, trens e metrôs no nível e na quantidade necessários à população? Situação que, consequentemente, empurra as pessoas para dívidas e custos fixos que ativam as vendas de veículos, sim, mas destroem os orçamentos familiares.
A classe C, nova integrante do mercado de consumo, deve principalmente para manter o carro novo. A corda do financiamento rebenta, então, do lado mais fraco da relação, o comprador.
Você, consumidor, não precisa arquivar o sonho do carro zero na garagem. É legítimo e realizável. Mas não dê um passo maior do que a perna, porque corre o risco de perder o veículo, as prestações já pagas e ainda dever para o banco.
Nessa hora, ninguém virá em seu auxílio, nem o aplaudirá por ser o motor da economia brasileira.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 09/07
Setor farmacêutico pede redução tributária
A indústria farmacêutica vai levar ao Conselho Nacional de Saúde, nesta semana, um estudo em que reuniu argumentos que apontam que a queda da carga tributária no setor pode elevar o consumo e a arrecadação.
O trabalho, finalizado em junho, afirma que após a redução do ICMS de medicamentos de 18% para 12% no Paraná, o preço para o consumidor caiu e a arrecadação cresceu 132%. Em 2008, com alíquota de 18%, o Paraná arrecadou R$ 76,8 milhões com o ICMS dos medicamentos. Em 2010, após a queda, a receita foi para R$ 178,6 milhões, segundo a entidade.
A ideia é pressionar por reduções nas alíquotas que hoje estão em 19% no Rio, 18% na maioria dos Estados e 17% no Nordeste, todos para 12%, segundo Nelson Mussolini, do Sindusfarma.
"Geralmente, fazemos pedidos semelhantes diretamente às autoridades. Essa é a primeira vez que vamos levar o caso ao conselho, um órgão vinculado ao ministério que tem a participação de trabalhadores e usuários do SUS. Agora solicitaremos participação da sociedade civil."
Ambição Nacional
O presidente do BNDES quer olhar para o futuro quando se trata de prioridades na política industrial.
Luciano Coutinho diz que o governo rediscute a metodologia de apuração do conteúdo local -que estabelece limites mínimos de valor agregado decorrente de produção nacional.
"Quero fidedignidade, clareza e transparência para poder enxergar qual é o efetivo de conteúdo local. Não nos move uma intenção punitiva. Queremos entender e calibrar nossa política para apoiar o processo de melhoria da indústria."
O economista diz que o ambiente global e integrado requer "horizontes diferentes". Em certos casos, avalia ele, é impossível chegar a um conteúdo local muito alto: "As economias de especialização e escala internacionais não permitem chegar lá e ser competitivo".
Para o pesquisador e especialista em setores de alta complexidade, como biotecnologia, química fina, mecânica de precisão e novos materiais, a prioridade de alguns setores deve ser agregar mais valor nos componentes mais sofisticados, de mais engenharia. Segundo Coutinho, o Brasil pode estar na contramão em relação a isso. "Precisamos ambicionar ter competitividade nos sistemas mais intensivos de capacidade de manufatura, engenharia; esse é o grande desafio."
"O Brasil já ultrapassou a fase em que trabalho barato era fonte de competitividade. Precisamos tê-la agora nos sistemas mais intensivos de capacidade de manufatura, engenharia; esse é o grande desafio"
Boleto no celular
Os latino-americanos são os mais dispostos a utilizar celulares para o pagamento de contas, segundo a Nielsen.
Europeus e norte-americanos, por outro lado, são os menos propensos a adotar o mecanismo.
A pesquisa fez mais de 28 mil entrevistas em 56 países.
Saúde Integrada
A Intersystems investirá US$ 20 milhões até o final de 2013 no Brasil para disputar licitações de informatização e compartilhamento de dados clínicos dos pacientes.
A companhia já realiza projetos similares no Distrito Federal, em Passo Fundo (RS) e no Chile (onde serão investidos outros US$ 20 milhões). Com esse tipo de iniciativa, as informações de cada paciente ficam disponíveis em todos os hospitais e postos de saúde da localidade contratante.
"No Brasil, existe uma dificuldade maior para realizar essa integração, pois há hospitais municipais, estaduais e federais", diz Carlos Eduardo Nogueira, principal executivo da companhia na América Latina.
Em 2011, o faturamento da empresa foi de US$ 500 milhões, sendo 6% no Brasil. "Queremos crescer 50% em dois anos."
Treinado A Ambev vai investir mais de R$ 30 milhões em treinamento e qualificação neste ano. Parte do valor será destinado ao programa de trainee da companhia. O valor investido no ano passado foi de R$ 26,7 milhões.
Líquido... A Alcoa informa que iniciou fornecimento de metal líquido no Maranhão. A tecnologia já era utilizada pela empresa na unidade de Poços de Caldas (MG).
...metálico O embarque de alumínio líquido começa a ser realizado a partir da unidade da Alumar, em São Luís (MA), segundo a empresa.
Política externa bisonha - MARCELO DE PAIVA ABREU
O Estado de S. Paulo - 09/07
Em meu último artigo, escrito horas antes de eclodir a crise paraguaia, usei metáfora futebolística para caracterizar a ação do Itamaraty nos últimos tempos: defesa mais que razoável; ataque bisonho. A defesa se referia à postura defensiva do Ministério das Relações Exteriores no campo político. O ataque, às propostas brasileiras no terreno econômico.
Com base no primeiro ano e meio do lado político da diplomacia do governo Rousseff, sublinhei as virtudes do afastamento em relação a Teerã e Caracas. O Itamaraty parecia ter sido capaz de se distanciar dos excessos a que se havia exposto na época da tríade Amorim-Guimarães-Garcia. Com otimismo, Rio Branco ameaçava voltar a se sobrepor à diplomacia de grêmio estudantil que tanto agradava a Lula.
Em contraste, no terreno propositivo, especialmente na esfera econômica, eu havia mencionado a pobreza das propostas brasileiras no quadro multilateral. Primeiro, na Organização Mundial do Comércio (OMC), enfatizando a necessidade de que negociações comerciais levassem em conta flutuações cambiais, assunto em relação ao qual até o Fundo Monetário Internacional, como agência multilateral especializada em finanças, se revela relativamente impotente. E também no G-20, ao propor nova rodada de negociações comerciais multilaterais na OMC, a despeito de o Brasil ter-se tornado um dos grandes delinquentes em matéria de escalada do protecionismo no passado recente.
Havia ventilado como bastante provável a hipótese de que o Itamaraty estivesse sendo posto à margem do processo decisório de política comercial. De fato, é difícil crer que possam ter bom trânsito no Palácio dos Arcos iniciativas que desgastam o bom nome brasileiro acumulado desde a Rodada Uruguai até os vitoriosos contenciosos do algodão e do açúcar. As impressões digitais do eixo Fazenda-Planalto são visíveis.
Na verdade, devo agora reconhecer que minha avaliação sobre a vertente política da diplomacia brasileira estava equivocada. Não havia bola de cristal disponível para prever as trapalhadas da diplomacia do Brasil no quadro da crise política paraguaia. Em especial, a propensão a repetir erros do passado. O que se conclui agora é que, na política exterior brasileira, não é só o ataque que é bisonho, a defesa também o é.
O Paraguai foi censurado por seus companheiros do Mercosul por açodamento na aplicação de rito de impeachment previsto na Constituição, embora não seja claro qual teria sido o timing aceitável pelos críticos da deposição de Fernando Lugo. No passado, o preciosismo do governo brasileiro na avaliação dos ritos processuais foi bem menos marcado na apreciação das peripécias eleitoreiras de Hugo Chávez na Venezuela. Certamente, um caso de dois pesos e duas medidas.
É sabido que o Itamaraty tentou mitigar a impetuosidade presidencial e houve sucesso em impedir tresloucadas sanções econômicas ao Paraguai, que contavam com a simpatia do eixo Buenos Aires-Caracas. Mas a presidente Dilma, a julgar por revelações de dirigentes uruguaios, teve papel ativo e decisivo quando foram consideradas as consequências da suspensão do Paraguai como membro do Mercosul, com possível remoção do obstáculo à admissão da Venezuela, cujo ingresso dependia de voto favorável do Senado paraguaio. Suspenso o Paraguai, admita-se a Venezuela. A pressa em resolver o assunto, em benefício da postulação venezuelana, contrasta com a censura à pressa paraguaia em aprovar o impeachment de Lugo. A melhor justificativa encontrada pelo Itamaraty - "é a Venezuela que está sendo admitida no Mercosul, e não Chávez" - é ridícula, para dizer o mínimo.
Fica claro que a política externa brasileira hoje tem sido formulada e implementada em grande medida ao arrepio do Itamaraty. A perspectiva de curto prazo tem prevalecido sobre qualquer visão estratégica sobre o papel político e econômico que o País possa desempenhar em escala global. É uma versão um tanto inusitada de diplomacia presidencial, com o presidente tornando-se o principal formulador da política externa.
Não se discute que a política externa brasileira tenha como pilar a manutenção de relações cordiais com seus vizinhos. De fato, a secular convivência pacífica com os vizinhos é um dos aspectos mais positivos da tradição diplomática do Brasil, configurando um contraste positivo com diversos outros emergentes. Essa prioridade explicaria as acomodações que têm marcado a postura do País diante de Caracas e Buenos Aires. Mas o preço da manutenção de tal postura tem aumentado desmesuradamente à medida que "se va la mano de los hermanos", especialmente no caso da Argentina, onde prospera o primitivismo peronista. Certamente haverá limites para a capacidade brasileira de fazer vista grossa às decisões argentinas prejudiciais ao Brasil e, também, aos destemperos chavistas.
Que credibilidade global pode ter um Brasil a reboque de Argentina e Venezuela? Não só o Mercosul fica ainda mais estigmatizado como parceiro comercial preferencial das economias desenvolvidas, mas também a postulação brasileira ao Conselho de Segurança da ONU, emblemática do anseio por um papel global, torna-se despropositada.
Transparência para quê? - EDUARDO GRAEFF
FOLHA DE SP - 09/07
Os servidores pedem isonomia com carreiras mais bem pagas sempre. Resultado: os salários nunca se alinham. A lei limita aumentos? Tentam mudar a lei
A Lei de Acesso à Informação pode pegar, graças às cobranças da imprensa, da sociedade e da melhor parte dos agentes públicos. A publicação da folha de pagamentos de órgãos públicos é um bom começo, mas é só um começo. A grande pergunta é: o que fazer com toda essa informação?
Identificar aberrações individuais é importante. Mas é fundamental usar a informação obtida para começar a botar ordem na balbúrdia da remuneração de funcionários e autoridades públicas em geral.
Na falta de políticas remuneratórias consistentes, a regra do setor público brasileiro é: quem grita mais alto, leva. A altura da gritaria é razão direta da proximidade dos centros do poder e razão inversa do número de bocas.
Isso dá margem a todo tipo de aberração. Destaco três: o descolamento do teto, a gangorra ascendente e o esmagamento da base da pirâmide salarial.
Descolamento do teto é a brecha entre os salários mais altos e mais baixos do setor público. Ministros dos nossos tribunais superiores ganham tanto ou mais que juízes da Suprema Corte americana. Mas um professor primário nos Estados Unidos ganha um quarto de um juiz da Suprema Corte. No Brasil, deve ganhar um décimo ou menos.
A mesma desproporção se verifica nos salários de policiais, médicos, enfermeiros etc. O que faz com que eles sempre achem que ganham mal, mesmo quando não ganham tão mal assim.
Gangorra ascendente é o efeito da busca de isonomias e equiparações entre funcionários de diferentes carreiras, órgãos, poderes e níveis de governo.
Delegados de polícia querem ganhar como juízes e promotores; militares de alta patente querem ganhar como delegados; funcionários do Executivo querem ganhar como os do Legislativo e Judiciário; policiais e professores dos Estados querem ganhar como os federais. Como as escalas salariais nunca se alinham, a gangorra nunca para e vai sempre para cima.
Esmagamento da base é o impacto final dessa engrenagem sobre a carga tributária. A Lei de Responsabilidade Fiscal limitou a parcela da receita dos Estados e municípios destinada ao pagamento de salários. As demandas dos funcionários, justas ou injustas, se chocam com esses limites.
Virou moda tentar derruba-los via emendas constitucionais garantindo aumentos para funcionários estaduais e municipais. Assim não há carga tributária que chegue -nem dinheiro que sobre para investir em infraestrutura e melhora da qualidade dos serviços.
Acesso à informação, somente, não vai mudar esse quadro. Mas pode ajudar a sociedade e autoridades responsáveis a dimensionar o problema, discutir soluções e alinhar iniciativas na direção de uma política remuneratória consistente.
Para isso, a informação deve ser abrangente e comparável. O ideal é que todos os órgãos públicos, de todos os poderes e níveis de governo, publiquem e atualizem regularmente sua folha de pagamentos.
Agregar, tabular e comparar essa massa de dados não será nenhum bicho de sete cabeças, se eles forem publicados em formato aberto, como prevê a lei. Um órgão como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) pode fazer isso. Outros entes públicos e privados, como o Contas Abertas, também.
Só assim saberemos quem está gritando de barriga cheia e quem está ganhando pouco ou na justa medida -que, para ser justa, tem que ser proporcional à capacidade de pagamento do país.
Quem se dá bem na sombra achará pretextos para resistir à abertura da informação. O que é motivo suficiente para os amigos da transparência insistirem.
Os servidores pedem isonomia com carreiras mais bem pagas sempre. Resultado: os salários nunca se alinham. A lei limita aumentos? Tentam mudar a lei
A Lei de Acesso à Informação pode pegar, graças às cobranças da imprensa, da sociedade e da melhor parte dos agentes públicos. A publicação da folha de pagamentos de órgãos públicos é um bom começo, mas é só um começo. A grande pergunta é: o que fazer com toda essa informação?
Identificar aberrações individuais é importante. Mas é fundamental usar a informação obtida para começar a botar ordem na balbúrdia da remuneração de funcionários e autoridades públicas em geral.
Na falta de políticas remuneratórias consistentes, a regra do setor público brasileiro é: quem grita mais alto, leva. A altura da gritaria é razão direta da proximidade dos centros do poder e razão inversa do número de bocas.
Isso dá margem a todo tipo de aberração. Destaco três: o descolamento do teto, a gangorra ascendente e o esmagamento da base da pirâmide salarial.
Descolamento do teto é a brecha entre os salários mais altos e mais baixos do setor público. Ministros dos nossos tribunais superiores ganham tanto ou mais que juízes da Suprema Corte americana. Mas um professor primário nos Estados Unidos ganha um quarto de um juiz da Suprema Corte. No Brasil, deve ganhar um décimo ou menos.
A mesma desproporção se verifica nos salários de policiais, médicos, enfermeiros etc. O que faz com que eles sempre achem que ganham mal, mesmo quando não ganham tão mal assim.
Gangorra ascendente é o efeito da busca de isonomias e equiparações entre funcionários de diferentes carreiras, órgãos, poderes e níveis de governo.
Delegados de polícia querem ganhar como juízes e promotores; militares de alta patente querem ganhar como delegados; funcionários do Executivo querem ganhar como os do Legislativo e Judiciário; policiais e professores dos Estados querem ganhar como os federais. Como as escalas salariais nunca se alinham, a gangorra nunca para e vai sempre para cima.
Esmagamento da base é o impacto final dessa engrenagem sobre a carga tributária. A Lei de Responsabilidade Fiscal limitou a parcela da receita dos Estados e municípios destinada ao pagamento de salários. As demandas dos funcionários, justas ou injustas, se chocam com esses limites.
Virou moda tentar derruba-los via emendas constitucionais garantindo aumentos para funcionários estaduais e municipais. Assim não há carga tributária que chegue -nem dinheiro que sobre para investir em infraestrutura e melhora da qualidade dos serviços.
Acesso à informação, somente, não vai mudar esse quadro. Mas pode ajudar a sociedade e autoridades responsáveis a dimensionar o problema, discutir soluções e alinhar iniciativas na direção de uma política remuneratória consistente.
Para isso, a informação deve ser abrangente e comparável. O ideal é que todos os órgãos públicos, de todos os poderes e níveis de governo, publiquem e atualizem regularmente sua folha de pagamentos.
Agregar, tabular e comparar essa massa de dados não será nenhum bicho de sete cabeças, se eles forem publicados em formato aberto, como prevê a lei. Um órgão como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) pode fazer isso. Outros entes públicos e privados, como o Contas Abertas, também.
Só assim saberemos quem está gritando de barriga cheia e quem está ganhando pouco ou na justa medida -que, para ser justa, tem que ser proporcional à capacidade de pagamento do país.
Quem se dá bem na sombra achará pretextos para resistir à abertura da informação. O que é motivo suficiente para os amigos da transparência insistirem.
Novo Oriente Médio? - RUBENS RICUPERO
FOLHA DE SP - 09/07
A derrota de Assad, como desejam os EUA, mudaria o equilíbrio da região mais explosiva do globo
Se o conflito sírio terminar com a derrota completa do regime de Assad, como desejado e exigido por Hillary Clinton, o equilíbrio do mapa político da mais explosiva região do globo sofrerá mudanças de enorme alcance.
O Irã amanheceria isolado e ameaçado a ter de escolher entre ceder ou se tornar a próxima vítima. O Hizbollah e o Hamas perderiam o contato direto com sua fonte de armas e financiamento no Irã através da Síria. O núcleo duro da oposição à estratégia ocidental, muito reduzido após a supressão de Arafat, Saddam Hussein e Gaddafi, praticamente se resumiria a Teerã, uma vez removido Assad.
A Rússia perderia seu último aliado (e base naval) na região e, junto com a China, sairia derrotada do intento de evitar o domínio da área por EUA, Israel e aliados. Num balanço geral, as transformações trazidas pela Primavera Árabe têm mais favorecido do que prejudicado a posição relativa dos americanos.
Imaginava-se que, em caso de sublevação popular, os primeiros regimes a cair seriam as monarquias quase absolutas do golfo, aliadas e dependentes dos EUA.
Não foi o que sucedeu. Dosando concessões moderadas com transferência de renda à população, as monarquias lograram neutralizar as pressões populares. A exceção foi o Bahrein, de maioria xiita dominada por dinastia sunita. Esta não hesitou em esmagar a rebelião com apoio militar direto dos sauditas, sem que as potências ocidentais demonstrassem indignação remotamente comparável à reservada à Síria.
Fora o retardatário Iêmen, a insurreição varreu governos que tinham começado como nacionalistas e reformistas, acomodando-se depois (Egito, Tunísia, Líbia). Pareciam em todo caso pertencer a uma etapa mais avançada de desenvolvimento histórico do que os feudais. A situação que vem emergindo nesses países lembra em alguns aspectos a do Iraque: governos pouco efetivos, divididos por dissensões tribais ou de partidos islamistas, duvidosa capacidade de promover o desenvolvimento de sociedades de expectativas longamente reprimidas.
Para os EUA, o regime de Assad constitui o inimigo ideal: brutal, sanguinário e incompetente. Facilita a montagem de uma união sagrada, capaz de fornecer até aos turcos uma oportunidade de realinhamento com o Ocidente após a quase ruptura com Israel.
Vista em retrospectiva, a invasão do Iraque atirou no que viu e matou o que não viu. Não havia bomba atômica iraquiana nem aliança com o terrorismo. A guerra continua tão imperdoável como sempre foi pelas atrocidades e crimes cometidos.
Involuntariamente, porém, acabou fornecendo o choque exterior que faltava aos fatores internos para desestabilizar o Oriente Médio e romper a longa estagnação e o imobilismo político.
A história se põe novamente em marcha e o quadro está longe de completo. Falta, sobretudo, saber o que vai acontecer ao Irã.
Até agora, a ação se tem concentrado no interior dos países. Cedo ou tarde, a questão que determina a dinâmica regional voltará ao centro do palco: como negociar uma paz satisfatória e durável com Israel. Só aí se vai saber se as mudanças em curso ajudarão a região a finalmente exorcizar seus fantasmas.
A derrota de Assad, como desejam os EUA, mudaria o equilíbrio da região mais explosiva do globo
Se o conflito sírio terminar com a derrota completa do regime de Assad, como desejado e exigido por Hillary Clinton, o equilíbrio do mapa político da mais explosiva região do globo sofrerá mudanças de enorme alcance.
O Irã amanheceria isolado e ameaçado a ter de escolher entre ceder ou se tornar a próxima vítima. O Hizbollah e o Hamas perderiam o contato direto com sua fonte de armas e financiamento no Irã através da Síria. O núcleo duro da oposição à estratégia ocidental, muito reduzido após a supressão de Arafat, Saddam Hussein e Gaddafi, praticamente se resumiria a Teerã, uma vez removido Assad.
A Rússia perderia seu último aliado (e base naval) na região e, junto com a China, sairia derrotada do intento de evitar o domínio da área por EUA, Israel e aliados. Num balanço geral, as transformações trazidas pela Primavera Árabe têm mais favorecido do que prejudicado a posição relativa dos americanos.
Imaginava-se que, em caso de sublevação popular, os primeiros regimes a cair seriam as monarquias quase absolutas do golfo, aliadas e dependentes dos EUA.
Não foi o que sucedeu. Dosando concessões moderadas com transferência de renda à população, as monarquias lograram neutralizar as pressões populares. A exceção foi o Bahrein, de maioria xiita dominada por dinastia sunita. Esta não hesitou em esmagar a rebelião com apoio militar direto dos sauditas, sem que as potências ocidentais demonstrassem indignação remotamente comparável à reservada à Síria.
Fora o retardatário Iêmen, a insurreição varreu governos que tinham começado como nacionalistas e reformistas, acomodando-se depois (Egito, Tunísia, Líbia). Pareciam em todo caso pertencer a uma etapa mais avançada de desenvolvimento histórico do que os feudais. A situação que vem emergindo nesses países lembra em alguns aspectos a do Iraque: governos pouco efetivos, divididos por dissensões tribais ou de partidos islamistas, duvidosa capacidade de promover o desenvolvimento de sociedades de expectativas longamente reprimidas.
Para os EUA, o regime de Assad constitui o inimigo ideal: brutal, sanguinário e incompetente. Facilita a montagem de uma união sagrada, capaz de fornecer até aos turcos uma oportunidade de realinhamento com o Ocidente após a quase ruptura com Israel.
Vista em retrospectiva, a invasão do Iraque atirou no que viu e matou o que não viu. Não havia bomba atômica iraquiana nem aliança com o terrorismo. A guerra continua tão imperdoável como sempre foi pelas atrocidades e crimes cometidos.
Involuntariamente, porém, acabou fornecendo o choque exterior que faltava aos fatores internos para desestabilizar o Oriente Médio e romper a longa estagnação e o imobilismo político.
A história se põe novamente em marcha e o quadro está longe de completo. Falta, sobretudo, saber o que vai acontecer ao Irã.
Até agora, a ação se tem concentrado no interior dos países. Cedo ou tarde, a questão que determina a dinâmica regional voltará ao centro do palco: como negociar uma paz satisfatória e durável com Israel. Só aí se vai saber se as mudanças em curso ajudarão a região a finalmente exorcizar seus fantasmas.
A idiota de Deus - LUIZ FELIPE PONDÉ
FOLHA DE SP - 09/07
Quando o espírito humano se ergue, o corpo cai de joelhos, dizia o saudoso Otto Maria Carpeaux
Meus leitores sabem o quanto abomino aeroportos. Criei mesmo a expressão "churrasco na laje" para descrever essa sensação de que somos atropelados por uma mistura de música brega e pessoas mal-educadas.
Não se trata de preconceito (no sentido banal que a palavra ganhou depois de virar chiclete com banana na boca de todo mundo) porque não acho que as pessoas não sabem se comportar nos aeroportos porque são de classe social ou cor específicas. Trata-se apenas de falta de educação.
Voltando de um compromisso profissional fora de São Paulo, me encontrei num aeroporto de uma cidade em que as pessoas ainda têm o hábito de ir aos domingos assistir avião subir e descer. O aeroporto em questão tem mesmo um espaço dedicado a "vista panorâmica" da pista de pouso e decolagem. Que horror.
Só pessoas loucas viajam por vontade própria. As normais o fazem por obrigação. Penso mesmo que em alguns anos aeroportos serão os piores lugares para você ser visto, assim como ser visto algemado numa delegacia de polícia. Uma vergonha.
Proponho que as autoridades (vamos "evoluir" nesta direção) proíbam todos, salvo os passageiros, de entrarem no aeroporto. O mesmo tipo de atitude solene e silenciosa dos hospitais deveria ser cobrada nos aeroportos.
Estava eu, então, estoicamente suportando os berros das crianças que lá estavam vendo os aviões, com seus pais que nunca entendem que berros de crianças são apenas berros de crianças e não manifestações sagradas de seus pequenos deuses.
Em meio a isso, bárbaros batendo fotos de si mesmos na frente dos portões de embarque com suas dez malas e funcionárias das empresas aéreas descabeladas justificando o injustificável overbooking.
De repente paro em frente a um balcão desses cafés, sem saber exatamente o que fazer, já que teria que esperar naquele pequeno pedaço de inferno por duas horas. Então, uma jovem garçonete sorriu pra mim. Com seu uniforme amassado, seu rosto cansado, seu corpo pequeno, ela parecia um anjo caído do céu no corpo de uma pequena e pobre princesa africana.
O mundo parou. Seu sorriso e sua generosidade suspenderam o mecanismo infernal do lugar.
Ela me pergunta o que eu quero. Não respondo porque não sabia se queria alguma coisa. Ela então me puxa pela mão e me mostra uma mesa vazia, sem cadeiras, num canto minimamente longe do inferno. Põe-se a limpar a mesa, busca uma cadeira e me dá um cardápio na mão. Volta alguns segundos depois e anota meu pedido.
Nos minutos que se seguem, enquanto tomo um café, acompanho seus movimentos delicados e ágeis, ouvindo, anotando pedidos, limpando mesas. De vez em quando se volta para mim, e repete seu sorriso aberto e generoso. O contraste da cor da sua pele com a cor dos seus dentes produzia uma beleza peculiar. De onde vem tamanha doçura?
Meu Deus, quanta doçura num pequeno corpo como aquele que corre de um lado para o outro, servindo tanta gente, como eu, sem doçura alguma.
Deve ter sido sensações como essas que levou Joaquim Nabuco, o grande pensador conservador brasileiro, a ver o horror que era a escravidão, e lançar a campanha abolicionista. Ainda que no famoso caso dificilmente Joaquim Nabuco estivesse contemplando um sorriso.
Como ele, sou pernambucano. Venho de uma terra onde as diferenças sociais são vistas como marcas da natureza, como montanhas, vales e pragas. Não sou dado a arroubos políticos, sou um niilista e cético. Sou versado em dialética materialista, psicanálise, mercantilização da vida e nos sete pecados capitais. Não tenho esperança alguma.
Por isso mesmo, sempre que percebo a generosidade no mundo, fico paralisado. O mundo cai no silêncio como se ali estivesse Deus em pessoa, cobrindo a precariedade humana com sua misericórdia.
Quando o espírito humano se ergue, o corpo cai de joelhos, dizia o saudoso Otto Maria Carpeaux citando algum luminar alemão.
Antes de eu embarcar, ela me disse: "Deus te abençoe".
Fosse eu um Dostoiévski, diria que fui visitado por uma "idiota de Deus", aquele tipo que ele tinha em mente quando disse que a beleza salvaria o mundo.
Quando o espírito humano se ergue, o corpo cai de joelhos, dizia o saudoso Otto Maria Carpeaux
Meus leitores sabem o quanto abomino aeroportos. Criei mesmo a expressão "churrasco na laje" para descrever essa sensação de que somos atropelados por uma mistura de música brega e pessoas mal-educadas.
Não se trata de preconceito (no sentido banal que a palavra ganhou depois de virar chiclete com banana na boca de todo mundo) porque não acho que as pessoas não sabem se comportar nos aeroportos porque são de classe social ou cor específicas. Trata-se apenas de falta de educação.
Voltando de um compromisso profissional fora de São Paulo, me encontrei num aeroporto de uma cidade em que as pessoas ainda têm o hábito de ir aos domingos assistir avião subir e descer. O aeroporto em questão tem mesmo um espaço dedicado a "vista panorâmica" da pista de pouso e decolagem. Que horror.
Só pessoas loucas viajam por vontade própria. As normais o fazem por obrigação. Penso mesmo que em alguns anos aeroportos serão os piores lugares para você ser visto, assim como ser visto algemado numa delegacia de polícia. Uma vergonha.
Proponho que as autoridades (vamos "evoluir" nesta direção) proíbam todos, salvo os passageiros, de entrarem no aeroporto. O mesmo tipo de atitude solene e silenciosa dos hospitais deveria ser cobrada nos aeroportos.
Estava eu, então, estoicamente suportando os berros das crianças que lá estavam vendo os aviões, com seus pais que nunca entendem que berros de crianças são apenas berros de crianças e não manifestações sagradas de seus pequenos deuses.
Em meio a isso, bárbaros batendo fotos de si mesmos na frente dos portões de embarque com suas dez malas e funcionárias das empresas aéreas descabeladas justificando o injustificável overbooking.
De repente paro em frente a um balcão desses cafés, sem saber exatamente o que fazer, já que teria que esperar naquele pequeno pedaço de inferno por duas horas. Então, uma jovem garçonete sorriu pra mim. Com seu uniforme amassado, seu rosto cansado, seu corpo pequeno, ela parecia um anjo caído do céu no corpo de uma pequena e pobre princesa africana.
O mundo parou. Seu sorriso e sua generosidade suspenderam o mecanismo infernal do lugar.
Ela me pergunta o que eu quero. Não respondo porque não sabia se queria alguma coisa. Ela então me puxa pela mão e me mostra uma mesa vazia, sem cadeiras, num canto minimamente longe do inferno. Põe-se a limpar a mesa, busca uma cadeira e me dá um cardápio na mão. Volta alguns segundos depois e anota meu pedido.
Nos minutos que se seguem, enquanto tomo um café, acompanho seus movimentos delicados e ágeis, ouvindo, anotando pedidos, limpando mesas. De vez em quando se volta para mim, e repete seu sorriso aberto e generoso. O contraste da cor da sua pele com a cor dos seus dentes produzia uma beleza peculiar. De onde vem tamanha doçura?
Meu Deus, quanta doçura num pequeno corpo como aquele que corre de um lado para o outro, servindo tanta gente, como eu, sem doçura alguma.
Deve ter sido sensações como essas que levou Joaquim Nabuco, o grande pensador conservador brasileiro, a ver o horror que era a escravidão, e lançar a campanha abolicionista. Ainda que no famoso caso dificilmente Joaquim Nabuco estivesse contemplando um sorriso.
Como ele, sou pernambucano. Venho de uma terra onde as diferenças sociais são vistas como marcas da natureza, como montanhas, vales e pragas. Não sou dado a arroubos políticos, sou um niilista e cético. Sou versado em dialética materialista, psicanálise, mercantilização da vida e nos sete pecados capitais. Não tenho esperança alguma.
Por isso mesmo, sempre que percebo a generosidade no mundo, fico paralisado. O mundo cai no silêncio como se ali estivesse Deus em pessoa, cobrindo a precariedade humana com sua misericórdia.
Quando o espírito humano se ergue, o corpo cai de joelhos, dizia o saudoso Otto Maria Carpeaux citando algum luminar alemão.
Antes de eu embarcar, ela me disse: "Deus te abençoe".
Fosse eu um Dostoiévski, diria que fui visitado por uma "idiota de Deus", aquele tipo que ele tinha em mente quando disse que a beleza salvaria o mundo.
Geisel sem Golbery - VINICIUS MOTA
FOLHA DE SP - 09/07
SÃO PAULO - Recolhimento e austeridade; nacionalismo, apreço pelo ativismo estatal e tecnocracia. Esses traços aproximam a presidente Dilma Rousseff do general Ernesto Geisel, o penúltimo dirigente do Brasil (1974-1979) na ditadura.
Geisel assumiu numa quadra crítica para o regime. Esgotavam-se os efeitos positivos do boom econômico que ajudava a sustentar a ditadura, cujo partido, a Arena, prevalecera largamente nas eleições para o Congresso de 1966 e 1970.
A insatisfação popular com a corrosão da renda, efeito da alta inflacionária, levaria a oposição, o MDB, ao seu primeiro feito eleitoral em 1974. O que começava a ruir não era apenas um arranjo episódico na economia política brasileira.
Entrava em xeque a arquitetura financeira do pós-guerra, indutora de 30 anos de frenético crescimento em países como Brasil e Japão. A resposta de Geisel a essa ameaça produziu efeitos duradouros e contraditórios.
Buscava livrar o Brasil da dependência energética que, com a escalada no preço do petróleo, atiçava a dívida externa. Além disso, o país precisaria obter divisas por suas próprias forças, catapultando a produção de alimentos e minério.
O plano não salvou o regime dos generais nem evitou mais de 20 anos de estagnação -ao aumentar a dívida para custear os investimentos, contribuiu para esses desfechos. Seus principais resultados positivos só eclodiram no século 21, para a glória do governo do líder das greves que haviam ajudado a enterrar a ditadura.
Dilma não tem seu Golbery -o estrategista da política que deu sobrevida à ditadura cambaleante. Mas encara, como Geisel, o desafio de conduzir o Brasil numa transição tectônica da economia global.
Já de seu Reis Velloso -artífice do plano desenvolvimentista de Geisel-, Dilma não pode ressentir-se. Luciano Coutinho, note-se pela entrevista de ontem nesta Folha, é bem mais que um mero presidente do BNDES.
Internet, leitura e reflexão - CARLOS ALBERTO DI FRANCO
O Estado de S.Paulo - 09/07
Os adolescentes são fascinados pelas ferramentas da era digital. Eles não desgrudam do celular, vivem digitando mensagens de texto, passam horas escrevendo em blogs, navegando na web ou absortos nos videogames. Mas a dependência da internet não é exclusiva dos adolescentes. Todos nós, jovens e menos jovens, sucumbimos aos apelos do mundo virtual. Eu mesmo já fiz o propósito de não acessar meus e-mails nos fins de semana. Tem sido uma luta. Com vitórias, mas também com derrotas. Para o norte-americano Nicholas Carr, formado em Harvard e autor de livros de tecnologia e administração, a dependência da troca de informações pela internet está empobrecendo nossa cultura.
Segundo Carr, o uso exagerado da internet está reduzindo nossa capacidade de pensar com profundidade: "Você fica pulando de um site para o outro. Recebe várias mensagens ao mesmo tempo. É chamado pelo Twitter, pelo Facebook ou pelo Messenger. Isso desenvolve um novo tipo de intelecto, mais adaptado a lidar com as múltiplas funções simultâneas, mas que está perdendo a capacidade de se concentrar, ler atentamente ou pensar com profundidade".
A nova geração de adolescentes tem mais acesso à informação do que qualquer outra antes dela. Mas isso não se reflete num ganho cultural. Os índices de leitura e de compreensão de texto vêm caindo desde o início dos anos 1990. A conclusão é de que, apesar do maior acesso às novas tecnologias, não se vê um ganho expressivo em termos de apreensão de conhecimento.
A internet é uma magnífica ferramenta. Mas não deve perder o seu caráter instrumental. O excesso de internet termina em compulsão, um tipo de dependência que já começa a preocupar os especialistas em saúde mental. Usemos a internet, mas tenhamos moderação. Ler é preciso. Jovens, e adultos, precisam investir em leitura e reflexão. Só assim, com discernimento e liberdade, se capacitam para conduzir a aventura da própria vida.
Compartilho com você, amigo leitor, algumas obras. Espero, quem sabe, que o estimulem nas férias deste mês de julho.
Mata! O Major Curió e as Guerrilhas no Araguaia (Editora Companhia das Letras) é o registro rigoroso de um duro período da nossa História. A partir de um perfil biográfico do lendário coronel do Exército Sebastião Rodrigues de Moura, mais conhecido como Major Curió, e da história da guerrilha e de seu extermínio - com base em documentos inéditos e depoimentos de vítimas, testemunhas e protagonistas da repressão militar -, o jornalista Leonencio Nossa, repórter do jornal O Estado de S. Paulo, lança um poderoso facho de luz numa quadra que pretendia permanecer na sombra. A seriedade na apuração e o texto jornalístico, saboroso e leve, dão ao livro o status de referência obrigatória.
What Were They Thinking? (Harvard Business School Press) é o título de um livro de Jeffrey Pfeffer, professor de Stanford e um dos mais renomados gurus da administração na atualidade. No capítulo 3 ele comenta a grata impressão que lhe causou a experiência que teve como professor visitante no Iese de Barcelona, a escola de negócios da Universidade de Navarra (Espanha).
"Bem na época em que saía a versão para o cinema de O Código Da Vinci", diz Pfeffer, "eu passava umas semanas na Iese Business School, escola de negócios espanhola que figura entre as líderes do mundo. O que eu encontrei lá não foi nem cilícios, nem cadáveres, nem monges albinos: foi great management. Uma escola de grande sucesso. Eu me perguntava o que é que estaria por trás desse sucesso. Descobri que havia pessoas brilhantes, bem preparadas, que poderiam ter condições econômicas mais rentáveis em outros lugares, mas havia algo que as atraía e as mantinha lá: esse algo é caring culture (cultura de atenção, cuidados, serviço às pessoas). Como eu mesmo experimentei. Minha esposa contraiu uma forte dor de ouvido por ter tido de pegar um voo resfriada. O diretor-geral do Iese, Jordi Canals, não teve dúvida: providenciou primeiro uma consulta com um clínico-geral, depois com um famoso especialista em ouvido, destacou uma funcionária de fala inglesa para acompanhar minha esposa, serviço de táxi, pagou tudo e não nos fez nenhuma pergunta. Isso era algo que não estava previsto no contrato de minha estadia no Iese e simplesmente conquistou nossa eterna gratidão. Para Canals, era algo que fazia parte da missão de serviço aos membros da instituição, mesmo que fossem membros temporários, como era o nosso caso". O livro, carregado de experiências, suscita inúmeras reflexões.
A Igreja das Revoluções (Editora Quadrante, São Paulo) é o último título da História da Igreja de Cristo, a monumental obra de Daniel-Rops. O autor, membro da Academia Francesa de Letras, estava trabalhando no 11.º, que trataria do Concílio Vaticano II, quando faleceu, em 1965. Emérico da Gama, um editor apaixonado pelo ofício e autêntico artesão das letras, caprichou na qualidade da edição. A multissecular História da Igreja, intimamente relacionada com a História da civilização, é um banho de cultura e um magnífico prazer intelectual.
Los Contenidos de los Medios de Comunicación - Calidad, Rentabilidad y Competencia (Deusto, Barcelona) trata-se de interessante livro do professor Alfonso Sánchez-Tabernero, especialista em empresa informativa e vice-reitor da Universidade de Navarra. A quem acredita que o sucesso das empresas de comunicação depende de sua capacidade de dar ao público o que ele quer (ou imagina que quer) Tabernero propõe uma reflexão: quem só vai atrás de supostas demandas do mercado pode conseguir sucesso imediato, mas corre o risco de perder prestígio a longo prazo. Um belo mapeamento do negócio informativo.
A todos, boa leitura, e aos que viajam, boas férias!
Profeta do nada óbvio - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 09/07
RIO DE JANEIRO - Nelson Rodrigues era diabólico. Com toda a miopia e aversão a óculos, seu poder de enxergar ao longe era desconcertante. Como em 1970, quando, durante meses, sustentou sozinho a certeza de que a seleção brasileira "ganharia andando" a Copa do México (seus colegas, os "profetas da derrota", apostavam na correria das seleções europeias). Bem, o Brasil ganhou andando.
Outra premonição foi a de fins de maio de 1962, quando garantiu que, se Pelé se machucasse na Copa do Chile, o garoto Amarildo o substituiria como um "possesso". Um mês depois, Pelé se contundiu na segunda partida e a Copa acabou para ele. Amarildo entrou nos jogos restantes, fez os gols que Pelé faria e foi o "Possesso" que Nelson anteviu.
Outra de suas "verdades eternas" -proclamada na "Resenha Facit", que Nelson estrelava na TV Rio com João Saldanha, Armando Nogueira e demais- foi a de que o videoteipe era "burro". Na hora, parecia absurdo -como contestar algo que se podia ver e rever? Trinta anos depois, uma infração de Júnior Baiano na área do Brasil passou em branco pelos videoteipes e só apareceu, dias depois, por um ângulo inusitado de câmera. O juiz, que marcara o pênalti, estava certo. O videoteipe era mesmo burro.
Em fins dos anos 60, Nelson produziu outra frase impossível de ser verificada e que parecia provocação: "Ainda seremos o maior país ex-católico do mundo". Previa um declínio da fé católica no Brasil porque setores da igreja estavam trocando a promessa da vida eterna pela luta armada contra a ditadura.
Nas décadas seguintes, sai papa, entra papa, essa linha política seria abandonada. Mas o encanto se quebrara. Em 1970, os católicos eram 90% dos brasileiros. Hoje, segundo o IBGE, são 64%. E, em 2030, serão menos de 50%. Nelson errou a causa, mas sua sentença continuou de pé.
RIO DE JANEIRO - Nelson Rodrigues era diabólico. Com toda a miopia e aversão a óculos, seu poder de enxergar ao longe era desconcertante. Como em 1970, quando, durante meses, sustentou sozinho a certeza de que a seleção brasileira "ganharia andando" a Copa do México (seus colegas, os "profetas da derrota", apostavam na correria das seleções europeias). Bem, o Brasil ganhou andando.
Outra premonição foi a de fins de maio de 1962, quando garantiu que, se Pelé se machucasse na Copa do Chile, o garoto Amarildo o substituiria como um "possesso". Um mês depois, Pelé se contundiu na segunda partida e a Copa acabou para ele. Amarildo entrou nos jogos restantes, fez os gols que Pelé faria e foi o "Possesso" que Nelson anteviu.
Outra de suas "verdades eternas" -proclamada na "Resenha Facit", que Nelson estrelava na TV Rio com João Saldanha, Armando Nogueira e demais- foi a de que o videoteipe era "burro". Na hora, parecia absurdo -como contestar algo que se podia ver e rever? Trinta anos depois, uma infração de Júnior Baiano na área do Brasil passou em branco pelos videoteipes e só apareceu, dias depois, por um ângulo inusitado de câmera. O juiz, que marcara o pênalti, estava certo. O videoteipe era mesmo burro.
Em fins dos anos 60, Nelson produziu outra frase impossível de ser verificada e que parecia provocação: "Ainda seremos o maior país ex-católico do mundo". Previa um declínio da fé católica no Brasil porque setores da igreja estavam trocando a promessa da vida eterna pela luta armada contra a ditadura.
Nas décadas seguintes, sai papa, entra papa, essa linha política seria abandonada. Mas o encanto se quebrara. Em 1970, os católicos eram 90% dos brasileiros. Hoje, segundo o IBGE, são 64%. E, em 2030, serão menos de 50%. Nelson errou a causa, mas sua sentença continuou de pé.
Integridade e discernimento - PAULO GUEDES
O Globo - 09/07
Poucos dias antes de assumir a Presidência dos Estados Unidos, em janeiro de 1961, discursava John F. Kennedy despedindo-se de seu mandato como senador por Massachusetts: "Quando no futuro o alto tribunal da História se reunir para julgar cada um de nós... nosso sucesso ou fracasso em qualquer cargo exercido será avaliado em função das respostas a quatro perguntas. Éramos nós homens de coragem? Éramos nós homens íntegros? Éramos nós homens dedicados? Éramos nós homens com capacidade de discernimento?"
Além dos valores éticos como a integridade, a dedicação e a coragem, a capacidade de discernimento foi sempre um atributo desejável para o desempenho exemplar das lideranças políticas e empresariais. "O discernimento é a essência da verdadeira liderança. Tomar decisões é o trabalho essencial de um líder. Quando há bom discernimento, pouca coisa mais interessa. E, na falta do bom discernimento, nada mais interessa. Os bons líderes separam o importante do trivial. Seu foco é acertar nas decisões mais importantes", ensinam Noel Tichy e Warren Bennis, em "Decisão: como líderes bem-sucedidos fazem as escolhas certas" (2007).
Na política externa brasileira, a Presidência e o Itamaraty teriam de decidir entre o Executivo venezuelano e o Congresso paraguaio. Entre influências do "socialismo bolivariano" e nossos interesses em questões delicadas como a energia de Itaipu e as condições de vida e trabalho dos "brasiguaios". Serão igualmente necessários coragem, integridade e discernimento de nossos congressistas na condução da CPI do Cachoeira. E, "quando no futuro o alto tribunal da História se reunir para julgar" cada um dos juízes do Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão, cada voto exercido será avaliado pelos mesmos atributos: coragem, integridade, dedicação e capacidade de discernimento.
"No decorrer de nossa existência, cada um de nós toma milhares de decisões. Algumas são triviais, como o tipo de cereal a comprar. Outras são de grande importância: com quem se casar, que carreira seguir. A nossa vida é o resultado de todas essas decisões tomadas. Quantas boas decisões tomamos? E, principalmente, tomamos decisões corretas acerca das questões realmente mais importantes? Afinal, nossos valores e capacidade de discernimento determinam a qualidade de nossas vidas", advertem Tichy e Bennis.
A democracia no Mercosul - RENATO JANINE RIBEIRO
VALOR ECONÔMICO - 09/07
Para a democracia funcionar hoje, ela precisa de dois fatores fundamentais, mas que vivem em tensão e até se opõem: a mobilização popular e a segurança das instituições. Sem a primeira, a democracia se torna fria, conservadora, sem apelo. Sem a segunda, fica instável demais. Nos dois casos, se fragiliza. Uma democracia muito institucional não acolhe o novo e a juventude. Repete o passado. Mas uma democracia com permanente mobilização popular acaba se matando, simplesmente porque o povo não consegue, nem gosta, de viver num estado ininterrupto de militância. Daí que a arte da democracia atual esteja num equilíbrio, sempre no limite de se desfazer e de desfazê-la, entre os mobilização e instituições.
Como fica, nisso, o Mercosul? A Argentina merece particular atenção. Forma, com o Uruguai e o Chile, a trinca de países mais politizados da América do Sul. Contudo, desde Carlos Menem, o presidente "cap i cua" (do nome catalão para as palavras que são lidas da mesma maneira de frente para trás e de trás para frente, as quais teriam um poder particularmente forte, não se sabe se para o bem ou o mal), ela decaiu em mobilização popular e em segurança das instituições. A Argentina costumava pôr as massas na rua contra as canalhices do poder - golpes militares, torturas, desastres econômicos. Mas isso parece ter acabado. Passou a mobilização. Também padeceram as instituições. Menem e Kirschner mexeram fundo na Corte Suprema, que se politizou.
O Brasil parece ser uma história de sucessos, o que é algo paradoxal. Em termos de instituições, mantivemos as da ditadura. O primeiro Congresso do governo civil até respeitou os mandatos de uma das criações mais desprezíveis do regime autoritário, os senadores nomeados ou "biônicos". Mas, com o passar do tempo, completamos uma transição branda para a democracia. Muitos prefeririam que os remanescentes da ditadura tivessem sido excluídos da cena pública. Eles saíram de cena só com o passar do tempo, e ainda nem todos. Fomos brandos nisso como somos brandos na justiça social: com Lula, o Brasil não redistribuiu renda, porque não tirou dos ricos para dar aos pobres; aproveitou a bonança que viveu para dar a estes sem tirar daqueles. Por enquanto, deu certo. As instituições se renovam, embora, como tenho dito do Supremo Tribunal, sem entender bem o que é democracia (o STF é bom em direitos humanos, não nela). Quanto à mobilização, levou o PT à presidência e depois se arrefeceu.
Paraguai é fraco em instituições e mobilização
Mas o que dizer do país agora em foco, o Paraguai? Ele não é bom de mobilização nem de instituições. Criticando a diplomacia do governo atual, Elio Gaspari lembrou que a diplomacia de FHC, com apoio norte-americano, impediu o golpe do general Oviedo contra o presidente Wasmosy. Bem lembrado - mas bem diferente. Naquele caso, Washington foi contra o golpe. Mas, sobretudo, o que o episódio atesta é a frequência de exceções à vida institucional no país irmão. Houve um vice-presidente assassinado, dois presidentes destituídos pelo Congresso, um quase deposto. É muita coisa, em duas décadas. O julgamento sem defesa, que afastou Lugo, até poderia ser constitucional - e com razão Ricardo Noblat lembra que não o é, porque viola o direito de defesa assegurado pela Carta paraguaia. Mas, mesmo que o fosse, mostra uma fragilidade das instituições que assusta. Como, em menos de dois dias, se destitui um presidente da República? Isso não existe.
Para quem leu até aqui, observo o seguinte: toda a argumentação que precede é de origem conservadora. Defender as instituições é característica mais dos conservadores, que dos progressistas. Quem melhor entendeu o papel pedagógico das instituições foi Edmund Burke, na crítica que fez à Revolução Francesa. Muito bem. Já a defesa da mobilização é mais de esquerda. Partidos de centro ou da direita civilizada não mobilizam. Quem mobiliza gente por uma causa política é a esquerda em geral, ou a direita fascista. Estas têm militantes. Partidos liberais têm simpatizantes. Aliás, é por isso que para muitos, inclusive eu, a democracia exige direita e esquerda, desde, claro, que civilizadas (repito). Sem a esquerda, ela não mobiliza. Não consegue se renovar, atrair os jovens, viver. Sem a direita, ela não institucionaliza. Não consegue consolidar, equilibrar.
Pois, de novo, muito bem. O Paraguai é um dos países com mais porcentual da população filiado a um de seus partidos. Quinze ou mais por cento dos 7 milhões de habitantes são membros do Partido Colorado. Este, que governou o país durante toda a ditadura de Stroessner, seguiu no poder depois que o general foi deposto por seu consogro. Só em 2008, com Fernando Lugo, o partido saiu brevemente do poder. Mas os colorados continuam controlando o funcionalismo, o oficialato e - eis o curioso - tendo enorme número de filiados. Mas quer isso dizer que estes se mobilizam, que tomam as ruas por um projeto social? Não. Daí que a constitucionalidade paraguaia tenha problemas sérios, para falar em termos de teoria politica. Não há mobilização intensa para mudar as relações sociais e políticas. Não há instituições aptas a garantir que o jogo político seja limpo, e que quem ganhar levará. Neste quadro, a "cláusula democrática" do Mercosul, que afasta da aliança o país que deixar a democracia, se aplica.
Mas mesmo isso é triste. Nenhum país será democrático só porque um ou mais protetores dizem que não aceita golpes. Democracia vem de dentro. Será preciso que o próprio povo paraguaio rejeite soluções, por engenhosas que pareçam, que ameaçam o regime democrático. Por ora, as previsões não são boas.
Para a democracia funcionar hoje, ela precisa de dois fatores fundamentais, mas que vivem em tensão e até se opõem: a mobilização popular e a segurança das instituições. Sem a primeira, a democracia se torna fria, conservadora, sem apelo. Sem a segunda, fica instável demais. Nos dois casos, se fragiliza. Uma democracia muito institucional não acolhe o novo e a juventude. Repete o passado. Mas uma democracia com permanente mobilização popular acaba se matando, simplesmente porque o povo não consegue, nem gosta, de viver num estado ininterrupto de militância. Daí que a arte da democracia atual esteja num equilíbrio, sempre no limite de se desfazer e de desfazê-la, entre os mobilização e instituições.
Como fica, nisso, o Mercosul? A Argentina merece particular atenção. Forma, com o Uruguai e o Chile, a trinca de países mais politizados da América do Sul. Contudo, desde Carlos Menem, o presidente "cap i cua" (do nome catalão para as palavras que são lidas da mesma maneira de frente para trás e de trás para frente, as quais teriam um poder particularmente forte, não se sabe se para o bem ou o mal), ela decaiu em mobilização popular e em segurança das instituições. A Argentina costumava pôr as massas na rua contra as canalhices do poder - golpes militares, torturas, desastres econômicos. Mas isso parece ter acabado. Passou a mobilização. Também padeceram as instituições. Menem e Kirschner mexeram fundo na Corte Suprema, que se politizou.
O Brasil parece ser uma história de sucessos, o que é algo paradoxal. Em termos de instituições, mantivemos as da ditadura. O primeiro Congresso do governo civil até respeitou os mandatos de uma das criações mais desprezíveis do regime autoritário, os senadores nomeados ou "biônicos". Mas, com o passar do tempo, completamos uma transição branda para a democracia. Muitos prefeririam que os remanescentes da ditadura tivessem sido excluídos da cena pública. Eles saíram de cena só com o passar do tempo, e ainda nem todos. Fomos brandos nisso como somos brandos na justiça social: com Lula, o Brasil não redistribuiu renda, porque não tirou dos ricos para dar aos pobres; aproveitou a bonança que viveu para dar a estes sem tirar daqueles. Por enquanto, deu certo. As instituições se renovam, embora, como tenho dito do Supremo Tribunal, sem entender bem o que é democracia (o STF é bom em direitos humanos, não nela). Quanto à mobilização, levou o PT à presidência e depois se arrefeceu.
Paraguai é fraco em instituições e mobilização
Mas o que dizer do país agora em foco, o Paraguai? Ele não é bom de mobilização nem de instituições. Criticando a diplomacia do governo atual, Elio Gaspari lembrou que a diplomacia de FHC, com apoio norte-americano, impediu o golpe do general Oviedo contra o presidente Wasmosy. Bem lembrado - mas bem diferente. Naquele caso, Washington foi contra o golpe. Mas, sobretudo, o que o episódio atesta é a frequência de exceções à vida institucional no país irmão. Houve um vice-presidente assassinado, dois presidentes destituídos pelo Congresso, um quase deposto. É muita coisa, em duas décadas. O julgamento sem defesa, que afastou Lugo, até poderia ser constitucional - e com razão Ricardo Noblat lembra que não o é, porque viola o direito de defesa assegurado pela Carta paraguaia. Mas, mesmo que o fosse, mostra uma fragilidade das instituições que assusta. Como, em menos de dois dias, se destitui um presidente da República? Isso não existe.
Para quem leu até aqui, observo o seguinte: toda a argumentação que precede é de origem conservadora. Defender as instituições é característica mais dos conservadores, que dos progressistas. Quem melhor entendeu o papel pedagógico das instituições foi Edmund Burke, na crítica que fez à Revolução Francesa. Muito bem. Já a defesa da mobilização é mais de esquerda. Partidos de centro ou da direita civilizada não mobilizam. Quem mobiliza gente por uma causa política é a esquerda em geral, ou a direita fascista. Estas têm militantes. Partidos liberais têm simpatizantes. Aliás, é por isso que para muitos, inclusive eu, a democracia exige direita e esquerda, desde, claro, que civilizadas (repito). Sem a esquerda, ela não mobiliza. Não consegue se renovar, atrair os jovens, viver. Sem a direita, ela não institucionaliza. Não consegue consolidar, equilibrar.
Pois, de novo, muito bem. O Paraguai é um dos países com mais porcentual da população filiado a um de seus partidos. Quinze ou mais por cento dos 7 milhões de habitantes são membros do Partido Colorado. Este, que governou o país durante toda a ditadura de Stroessner, seguiu no poder depois que o general foi deposto por seu consogro. Só em 2008, com Fernando Lugo, o partido saiu brevemente do poder. Mas os colorados continuam controlando o funcionalismo, o oficialato e - eis o curioso - tendo enorme número de filiados. Mas quer isso dizer que estes se mobilizam, que tomam as ruas por um projeto social? Não. Daí que a constitucionalidade paraguaia tenha problemas sérios, para falar em termos de teoria politica. Não há mobilização intensa para mudar as relações sociais e políticas. Não há instituições aptas a garantir que o jogo político seja limpo, e que quem ganhar levará. Neste quadro, a "cláusula democrática" do Mercosul, que afasta da aliança o país que deixar a democracia, se aplica.
Mas mesmo isso é triste. Nenhum país será democrático só porque um ou mais protetores dizem que não aceita golpes. Democracia vem de dentro. Será preciso que o próprio povo paraguaio rejeite soluções, por engenhosas que pareçam, que ameaçam o regime democrático. Por ora, as previsões não são boas.
A estagnação da Petrobrás - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 09/07
A incapacidade da Petrobrás de atingir as metas de extração de petróleo e gás fixadas por sua administração superior se tornou uma marca do modelo de gestão da empresa desde que o PT passou a controlá-la. De 2003, primeiro ano do governo Lula, até 2011, já no governo Dilma, em nenhum ano as metas foram alcançadas. Trata-se de incapacidade gerencial sistemática, que produz fracassos igualmente sistemáticos. Com a produção praticamente estagnada nos últimos três anos - período em que o PIB brasileiro cresceu mais de 10% -, a empresa está montando um plano de emergência para tentar recuperar sua eficiência.
O choque de realismo nos programas e nas metas da Petrobrás, anunciado por sua presidente Graça Foster, é uma boa indicação de que uma nova orientação está sendo imprimida à gestão da estatal. Mas será difícil e demorado remover o peso da herança deixada pelo governo Lula, que usou a empresa para alcançar objetivos políticos. Planos mirabolantes foram anunciados, mas quase nunca executados - e, quando isso ocorreu, os atrasos e os aumentos de custo foram muito grandes.
À lista de fracassos como o descumprimento das metas de extração, mostrado em reportagem do Estado (1/7), podem ser acrescentados vários outros. Anunciados para agradar a governadores e políticos das regiões que seriam beneficiadas, os planos de construção do complexo petroquímico do Rio (Comperj) e das refinarias do Maranhão, do Ceará e de Pernambuco renderam ao ex-presidente a oportunidade de lançar pedras fundamentais e aparecer como grande realizador de obras, mas nada renderam para a população.
Passados vários anos da exploração política da necessidade de ampliar a capacidade de refino da Petrobrás, pouca coisa avançou. As refinarias do Maranhão e do Ceará mal saíram do papel. A Comperj é um imenso canteiro de obras que não têm prazo de conclusão.
A Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, foi anunciada como resultado da sociedade entre a Petrobrás e a venezuelana PDVSA, de acordo com os delírios terceiro-mundistas e bolivarianos do ex-presidente. Mas até agora o presuntivo sócio venezuelano não aplicou nenhum tostão nessa obra que está muito atrasada (deveria ter sido inaugurada em 2011, mas só ficará pronta em 2014) e que deveria custar US$ 4 bilhões, mas exigirá US$ 17 bilhões.
A Petrobrás perdeu eficiência e não ampliou sua produção nem sua capacidade de refino. Ela tem sido obrigada a importar cada vez mais combustíveis para abastecer o mercado doméstico. A reação imediata dos investidores diante do quadro real da empresa apresentado por sua presidente, no cargo há apenas cinco meses, não poderia ser outra senão a decepção e a desconfiança.
A estagnação de sua produção, que a está forçando a adotar um plano de emergência, é apenas uma das faces das múltiplas consequências da gestão imposta à empresa de 2003 até o início deste ano. Buscam-se explicações técnicas para a situação a que ela chegou. Atribuiu-se à queda da eficiência operacional na Bacia de Campos - a principal do País e responsável por até 85% do petróleo consumido internamente - o problema hoje enfrentado pela Petrobrás. Na semana passada, sua presidente se referiu a essa questão ao expor o Plano de Negócios da empresa para os próximos cinco anos. "É preciso que aumentemos urgentemente a eficiência operacional da Bacia de Campos", disse Graça Fortes.
A ação tornou-se urgente porque nada foi feito desde que surgiram os sinais de que a produção de óleo e gás de grandes áreas produtoras da Bacia de Campos, como o Campo de Marlim, vinha diminuindo, com o aumento da proporção de água no volume de hidrocarbonetos extraídos. Para enfrentar o problema, a empresa anunciou a adoção do Programa de Aumento de Eficiência Operacional (Proef), voltado especificamente para a Bacia de Campos.
Ao declínio da taxa de recuperação de óleo e gás, normal em campos maduros, é muito provável que tenha se somado a perda de eficiência - que agora, sob os olhos ainda desconfiados dos investidores, sua direção anuncia que pretende recuperar - decorrente do uso político da empresa.
Mercado de opções - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 09/07
Novas interceptações da Polícia Federal enviadas à CPI revelam uma conversa em agosto de 2011 entre Carlinhos Cachoeira e o ex-agente da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá, na qual eles discutem a venda de 15 carros usados para "Fonseca", da Polícia Rodoviária Federal. Pelos diálogos, a venda seria sem licitação para um "esquema dele lá no Ministério da Justiça". Interessado no negócio, Cachoeira manda Dadá resolver com o ex-diretor da Delta Cláudio Abreu.
Outro lado O servidor citado é Alex Sandro Fonseca. A assessoria do Ministério da Justiça afirma que ele pertence aos quadros da PRF, mas nunca foi cedido à pasta. Um dia após a Operação Monte Carlo, no final de fevereiro, ele foi afastado de suas funções e virou alvo de processo administrativo no órgão.
Dois pesos... Cachoeira também aparece intermediando com Dadá suborno de um funcionário de operadora telefônica para escuta clandestina. "Os caras não fazem no amor, não, tem que dar café pros caras", afirma o ex-agente ao suposto chefe.
... duas medidas No processo de defesa de Cachoeira, seu advogado, o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, tentou anular na Justiça as provas produzidas pela Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo, alegando que as escutas eram ilegais.
Na canela Do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sobre as críticas do presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, ao voto secreto: "Com eleição indireta e sem fiscalização, a OAB não tem autoridade moral para falar de corporativismo no Congresso".
Como está Cunha, que é contra o fim do voto secreto, acredita que a Câmara dos Deputados não aprovará o projeto que já passou no Senado, na semana passada. Segundo ele, o sigilo preserva os parlamentares da pressão em processos de cassações.
Liberou geral Sem consultar os parlamentares, a direção da Câmara distribuiu notebooks para todos os gabinetes. O líder do PPS, deputado federal Rubens Bueno (PR), mandou devolver o computador, alegando que a Casa desperdiça dinheiro ao não questionar antes de adquirir os equipamentos.
Companheiros 1 No texto protocolado na Justiça Eleitoral com as diretrizes de seu programa de governo, Fernando Haddad (PT) menciona três vezes o nome da ex-prefeita petista Marta Suplicy, ausente de sua campanha até aqui. Em outras três ocasiões cita Luíza Erundina (PSB), sua ex-futura-vice.
Companheiros 2 Embora enalteça os feitos da gestão paulistana desde 2004, documento análogo entregue por José Serra (PSDB) no registro de sua candidatura não faz qualquer referência a Gilberto Kassab (PSD).
Tela quente Enquanto Fernando Haddad acoplou a seu recém-lançado site a chamada "Lula TV", com vídeos gravados pelo ex-presidente, a equipe do tucano José Serra prepara telejornal diário a ser veiculado na página oficial de sua campanha.
Longa-metragem Geraldo Júlio, candidato do PSB de Eduardo Campos à Prefeitura de Recife, terá intermináveis 12 minutos a cada programa do horário eleitoral. Tempo necessário para tornar conhecido um técnico lançado na última hora.
Time novo Para a campanha de Júlio, o PSB foi buscar o marqueteiro eleitoral no agora time adversário. O escolhido será Raimundo Luedy, que fez as três últimas campanhas vitoriosas do PT na capital pernambucana.
Tiroteio
No PT não tem coronel, tem democracia interna e suas contradições. Nos enganamos, achávamos que ele era confiável.
DO DEPUTADO FEDERAL ANDRÉ VARGAS (PT-PR), sobre o governador Eduardo Campos, que declarou que o PT cria mais problemas para Dilma do que o PSB.
Contraponto
Seu desejo é uma ordem
Demonstrando pressa, Aécio Neves (PSDB-MG) entrou semana passada no elevador do Anexo 1 do Senado, onde fica seu gabinete, e disse ao ascensorista:
-Toca pro 11, por favor!
O funcionário não vacilou e foi direto para o 11º andar, sem considerar que vários funcionários da Casa já estavam no elevador e ficariam em andares inferiores.
Aécio desceu no andar requisitado e agradeceu. Quando saiu, os servidores reclamaram do privilégio.
-Tá louco, rapaz? Manda quem pode e obedece quem tem juízo -, defendeu-se o ascensorista.
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