FOLHA DE SP - 09/07
Carro é paixão brasileira, mesmo. Talvez tenha a ver com a sensação de liberdade, o direito de ir e vir, transformando a pessoa ao volante em um caubói moderno, que, em lugar das pradarias, cruze avenidas e estradas.
Mas nem tudo é glamour no carro próprio. Primeiramente, os preços são dos mais altos do mundo. Antes que alguém alegue que isso se deva à pesada carga tributária, já foram feitas comparações com retirada de todos os tributos. Ainda assim, os brasileiros pagam muito mais do que seus vizinhos e do que consumidores de outros países.
O desembolso de dinheiro, porém, não para por aí. Os governos não se contentam com a derrama tributária que representa mais ou menos um terço do preço do carro.
Pagamos, também, Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), licenciamento, estacionamentos caríssimos, combustíveis, revisões, os custos das vias esburacadas e mal sinalizadas, um festival de contas.
Em São Paulo, as tarifas de pedágio foram reajustadas neste mês. A mais cara é a do sistema Anchieta-Imigrantes, R$ 21,20. Bacana, não?
Então, fazer os cálculos somente da prestação mensal, com temporária redução do IPI, é um caminho inevitável para o endividamento.
Há, ainda, a inspeção veicular. Em São Paulo, cada proprietário pagará R$ 44,36 em 2012. Boa fonte de arrecadação para os cofres públicos, já repletos de dinheiro originado do mercado automotivo.
Não tratamos ainda do seguro, indispensável, pois o crime está livre, leve e solto nas maiores cidades brasileiras. Esta colunista, por exemplo, foi assaltada em plena luz do dia, em São Paulo, por três motociclistas, ao sair de uma agência bancária. As coisas não ficaram piores porque um taxista teve a coragem de sair do carro, o que fez com que os criminosos fugissem.
De janeiro a maio, no Rio de Janeiro, os roubos de carros aumentaram 28,4% em relação a igual período de 2011. Ou seja, já pagamos impostos, taxas e contribuições de país escandinavo, com serviços risíveis e insegurança pública. O preço médio de um seguro para um carro 1.0 -aqui no Brasil chamado "popular", apesar do preço-, era superior a R$ 1.500,00, em junho, em São Paulo.
Então, calcule: prestação, combustível, manutenção, estacionamento. Some os valores de IPVA, de inspeção veicular, de seguro e divida por 12. Você terá o custo aproximado para manter um automóvel, mensalmente. Sem considerar sinistros, como acidentes, dificilmente será inferior a R$ 300.
Logo, quem se deslumbra com uma mensalidade desse valor, deveria multiplicá-la por dois. Um exemplo: uma pessoa que receba R$ 3.000 por mês terá um salário líquido em torno de R$ 2.500. O automóvel consumirá, portanto, cerca de um quarto de sua renda.
Os outros três quartos vão bancar alimentação, moradia, escola dos filhos, vestuário, medicamentos e as contas inevitáveis -luz, água, telefone etc.
Este artigo não é um libelo contra o direito dos brasileiros de almejar a posse de um veículo. Até porque o transporte público é muito ruim, sujeitando seus usuários a ser esmagados, a sofrer assédio e outros tipos de desrespeito, além de ficar horas em trânsito.
A questão é: por que as autoridades não conseguem oferecer ônibus, trens e metrôs no nível e na quantidade necessários à população? Situação que, consequentemente, empurra as pessoas para dívidas e custos fixos que ativam as vendas de veículos, sim, mas destroem os orçamentos familiares.
A classe C, nova integrante do mercado de consumo, deve principalmente para manter o carro novo. A corda do financiamento rebenta, então, do lado mais fraco da relação, o comprador.
Você, consumidor, não precisa arquivar o sonho do carro zero na garagem. É legítimo e realizável. Mas não dê um passo maior do que a perna, porque corre o risco de perder o veículo, as prestações já pagas e ainda dever para o banco.
Nessa hora, ninguém virá em seu auxílio, nem o aplaudirá por ser o motor da economia brasileira.
Mas nem tudo é glamour no carro próprio. Primeiramente, os preços são dos mais altos do mundo. Antes que alguém alegue que isso se deva à pesada carga tributária, já foram feitas comparações com retirada de todos os tributos. Ainda assim, os brasileiros pagam muito mais do que seus vizinhos e do que consumidores de outros países.
O desembolso de dinheiro, porém, não para por aí. Os governos não se contentam com a derrama tributária que representa mais ou menos um terço do preço do carro.
Pagamos, também, Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), licenciamento, estacionamentos caríssimos, combustíveis, revisões, os custos das vias esburacadas e mal sinalizadas, um festival de contas.
Em São Paulo, as tarifas de pedágio foram reajustadas neste mês. A mais cara é a do sistema Anchieta-Imigrantes, R$ 21,20. Bacana, não?
Então, fazer os cálculos somente da prestação mensal, com temporária redução do IPI, é um caminho inevitável para o endividamento.
Há, ainda, a inspeção veicular. Em São Paulo, cada proprietário pagará R$ 44,36 em 2012. Boa fonte de arrecadação para os cofres públicos, já repletos de dinheiro originado do mercado automotivo.
Não tratamos ainda do seguro, indispensável, pois o crime está livre, leve e solto nas maiores cidades brasileiras. Esta colunista, por exemplo, foi assaltada em plena luz do dia, em São Paulo, por três motociclistas, ao sair de uma agência bancária. As coisas não ficaram piores porque um taxista teve a coragem de sair do carro, o que fez com que os criminosos fugissem.
De janeiro a maio, no Rio de Janeiro, os roubos de carros aumentaram 28,4% em relação a igual período de 2011. Ou seja, já pagamos impostos, taxas e contribuições de país escandinavo, com serviços risíveis e insegurança pública. O preço médio de um seguro para um carro 1.0 -aqui no Brasil chamado "popular", apesar do preço-, era superior a R$ 1.500,00, em junho, em São Paulo.
Então, calcule: prestação, combustível, manutenção, estacionamento. Some os valores de IPVA, de inspeção veicular, de seguro e divida por 12. Você terá o custo aproximado para manter um automóvel, mensalmente. Sem considerar sinistros, como acidentes, dificilmente será inferior a R$ 300.
Logo, quem se deslumbra com uma mensalidade desse valor, deveria multiplicá-la por dois. Um exemplo: uma pessoa que receba R$ 3.000 por mês terá um salário líquido em torno de R$ 2.500. O automóvel consumirá, portanto, cerca de um quarto de sua renda.
Os outros três quartos vão bancar alimentação, moradia, escola dos filhos, vestuário, medicamentos e as contas inevitáveis -luz, água, telefone etc.
Este artigo não é um libelo contra o direito dos brasileiros de almejar a posse de um veículo. Até porque o transporte público é muito ruim, sujeitando seus usuários a ser esmagados, a sofrer assédio e outros tipos de desrespeito, além de ficar horas em trânsito.
A questão é: por que as autoridades não conseguem oferecer ônibus, trens e metrôs no nível e na quantidade necessários à população? Situação que, consequentemente, empurra as pessoas para dívidas e custos fixos que ativam as vendas de veículos, sim, mas destroem os orçamentos familiares.
A classe C, nova integrante do mercado de consumo, deve principalmente para manter o carro novo. A corda do financiamento rebenta, então, do lado mais fraco da relação, o comprador.
Você, consumidor, não precisa arquivar o sonho do carro zero na garagem. É legítimo e realizável. Mas não dê um passo maior do que a perna, porque corre o risco de perder o veículo, as prestações já pagas e ainda dever para o banco.
Nessa hora, ninguém virá em seu auxílio, nem o aplaudirá por ser o motor da economia brasileira.
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