segunda-feira, julho 09, 2012

Eleição "diferenciada" - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 09/07




Os petistas consideram que o julgamento do mensalão vai comprometer o resultado de seus candidatos cuidadosamente selecionados para preparar o PT pós-Lula/Dilma. E essa é a raiz de todo estresse da largada
A expressão “gente diferenciada” ficou famosa quando uma moradora do bairro de Higienópolis em São Paulo se referiu àqueles que iriam baixar no seu pedaço chique da cidade quando houvesse ali uma estação de metrô. Ocupou o topo dos tópicos mais comentados do Twitter na época, tudo por causa da carga de preconceito que carregava contra usuários de transporte coletivo. O “diferenciado” correu o mundo ganhando outras conotações. Agora, tem gente jurando que esta eleição municipal em curso sofrerá uma série de problemas por causa da agenda de Brasília. 
O normal nesta semana, cassado o mandato de Demóstenes Torres e aprovada a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2013, seria o Congresso entrar no recesso parlamentar e só voltar a funcionar a pleno vapor em outubro. Mas a agenda deste ano está digamos “diferenciada” pelo mensalão e pela CPI do Cachoeira. Brasília estará “na ativa” durante todo o processo de escolha dos prefeitos. E os petistas olham para esse quadro da mesma forma que a tal moradora de Higienópolis olhava para os visitantes não convidados que chegavam ao seu bairro usando o transporte coletivo. 
O PT não se conforma em ter que passar esta temporada eleitoral dando explicações sobre o velho episódio do mensalão. Esse inconformismo é inclusive parte do estresse produzido na última semana com o PSB e a aproximação com o PMDB. Os petistas perceberam que PSDB e PSB têm opções para o futuro, e o PMDB não produziu ninguém. Portanto, será o grande aliado. 

Por falar em inconformismo...Na raiz de todos os problemas, tratada apenas nas reuniões mais reservadas do partido, está o fato de os petistas acharem que o julgamento vai comprometer o resultado de seus candidatos nos centros urbanos. Em especial, daqueles chamados a preparar o PT para o pós-Lula/Dilma, cuidadosamente selecionados em 62 das 85 cidades do país com mais de 200 mil eleitores. 
Não se pode esquecer que todos os partidos trabalham com a perspectiva de se manter no poder por tempo indeterminado. Os petistas, depois de Dilma e Lula, não veem em suas fileiras ninguém com aquela “pegada” para encantar os eleitores. A própria Dilma só conseguiu porque Lula se dedicou a essa construção por dois longos anos antes da largada da campanha presidencial de 2010. Portanto, essa formação de líderes era a prioridade de 2012. 
Agora, diante do julgamento, esses candidatos, se depender de parte do PT focada no mensalão, terão a tarefa de ampliar a defesa do partido no processo e responder aos ataques da oposição na campanha, inclusive no horário eleitoral de rádio e tevê e nas redes sociais. Os candidatos resistem, uma vez que falar do mensalão pode acabar chamando a atenção daqueles que desconhecem o julgamento. 

Por falar em prioridade...Como se não bastasse o julgamento do mensalão, a CPI do Cachoeira ganha contornos cada vez mais imprevisíveis. Os petistas tentarão turbiná-la em agosto como contraponto ao julgamento do mensalão. Mas a manobra é arriscada. Até agora, os petistas conseguiram manter o cordão de isolamento, deixando as obras do PAC desfocadas, mas não sabem se conseguirão manter esse sistema de defesa acionado a partir de agosto, com o depoimento de Luiz Antonio Pagot, ex-comandante do Dnit. Dentro do próprio PT, há quem considere essa saída cada vez mais difícil. Cassado Demóstenes esta semana no plenário do Senado, a tendência é o governo entrar no foco da CPI depois das férias dos deputados e senadores. 

Por falar em férias...Chegou a hora de aproveitar os próximos 20 dias para recarregar as baterias. Volto em 30 de julho. Até lá, Paulo Silva Pinto e Leonardo Cavalcanti manterão você informado nas entrelinhas da notícia. 

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