terça-feira, janeiro 20, 2009

COLUNA PAINEL

Entressafra


Folha de S. Paulo - 20/01/2009
 

O número de trabalhadores com carteira assinada em todo o Brasil recuou 2,1% em dezembro, na comparação com novembro, mas há cidades em que esse índice alcançou espantosos 50%. Os dados detalhados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgados ontem, apontam que das 30 cidades que registraram os maiores percentuais de derretimento do emprego formal, 29 são de São Paulo.
Em geral, são municípios que giram em torno da agropecuária, setor que sofreu o maior recuo nos números do governo. Pontal (oeste do Estado), por exemplo, teve 6.067 demissões em dezembro, um tombo de 47% em relação ao número de trabalhadores que tinham carteira assinada um mês antes.

Cascalho
Cidades brasileiras que abrigam grandes mineradoras estão entre as que mais demitiram. Em Itabirito (MG) e Itabira (MG), dominadas pela Vale -cujo presidente já defendeu a flexibilização da lei trabalhista-, o nível de emprego caiu 10,22% e 6,10%, respectivamente. Em Mariana (MG), onde opera a Samarco, a queda foi de 5,35%. 

Marcha a ré
Embora o setor automotivo tenha dado uma respirada, algumas cidades que giram em torno dele tiveram um dezembro ruim. Betim, sede da Fiat, teve 3.041 demitidos no mês, queda de 3,3% no nível de emprego. 

Bu!
Depois de receber vários telefonemas com relatos de ameaças de demissão, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres, colocou como toque do seu celular a trilha do filme "A Hora do Espanto". 

No embalo
Marchinha da Força Sindical para protestar amanhã na porta do Banco Central: "Ei, você aí, faz o juro cair/ Até o Meirelles cair..." 

De novo
O Conare, órgão do Ministério da Justiça que analisa pedidos de refúgio, rejeitou a concessão do benefício a 38 estrangeiros, a maioria de países como Eritreia, Somália, Etiópia e Colômbia. A decisão, publicada ontem no "Diário Oficial" da União, vai para a mesa do ministro Tarso Genro, que na semana passada passou por cima do órgão e concedeu refúgio ao italiano Cesare Battisti.

Prévias 1
Avaliação de integrantes da direção nacional do PSDB sustenta que o convite para que Geraldo Alckmin integre o secretariado de José Serra neutralizou o discurso favorito do mineiro Aécio Neves, de que tem perfil mais "conciliador" para unir o PSDB em 2010 do que o governador paulista. 

Prévias 2
Segundo os tucanos, Aécio teria consultado aliados de Alckmin, no final do ano, sobre a possibilidade de o ex-governador acompanhá-lo no tour que programou pelo interior do país. 

Timing
Frase de Geraldo Alckmin, uma semana depois de ser derrotado no primeiro turno da eleição municipal: "Falar de política? Agora só lá em 2010, né?" 

Precursores
Na entrevista ao cineasta dos EUA Oliver Stone, na Venezuela, Lula disse que antes de se encontrar com Barack Obama pretende enviar o chanceler Celso Amorim e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, para conversar com seus correspondentes norte-americanos, Hillary Clinton e Robert Gates. 
Força
José Serra (PSDB) telefonou para Tião Viana (PT) na sexta-feira estimulando-o a não desistir da candidatura a presidente do Senado. O tucano é um antigo incentivador da campanha do petista. 

Sem ajuda
Ao sancionar há alguns dias o projeto que estabelece tarifa única para os produtos oriundos do Paraguai, Lula vetou artigos aprovados pelo Congresso que permitiam a criação de um fundo para recuperação econômica de Foz do Iguaçu. O argumento é que isso afrontaria o princípio da isonomia".

Tiroteio

"Alckmin, que se apresentou como gerente na campanha presidencial de 2006, agora se contenta com a condição de sub. Se continuar assim, a qual cargo ele se candidatará em 2010?"

Do deputado estadual ENIO TATTO (PT), sobre a nomeação do ex-governador Geraldo Alckmin para a Secretaria de Desenvolvimento do Estado após perder duas eleições consecutivas.

Contraponto

Anos incríveis

A CPI da Câmara Municipal de São Paulo que investigou o funcionamento de bingos ouvia em 2002 o depoimento de Airton Fonseca, do "Bingo Sampa", que falava sobre a contabilidade da sua empresa.
-Faço tudo no papel, mensalmente. Diariamente não tem condições-, disse o interrogado.
Ao que o presidente da comissão, Antonio Goulart (PMDB), interrompeu, um tanto nostálgico:
-Isso me faz recordar da época dos bailes de Carnaval do Corinthians... O pessoal recolhia o dinheiro do caixa e levava para conferir em casa. Nunca a entrada de pessoas conferia com o valor arrecadado!

ELIANE CANTANHÊDE

Obama, trégua e desconfiança


Folha de S. Paulo - 20/01/2009
 

Um dos traços marcantes dos judeus, mundo afora, é o brilhantismo em campos variados, de arte a economia, de joalheria a agricultura. Isso se traduziu num "produto de exportação" de Israel: as áreas militar e de inteligência.
Até aqui, na Colômbia, o Exército e os serviços de informação, que surpreenderam o mundo com a libertação de Ingrid Betancourt "sem uma gota de sangue", tiveram treinamento israelense, assim como norte-americano.
Pois bem. Dia sim, dia não, Israel atingiu escolas da ONU, caminhão da ONU, depósito de doações da ONU e civis sob proteção da ONU na atual guerra, todos identificados.
Das duas, uma: ou a competência virou pó (de fósforo?!), ou foi ordem superior para dizimar não apenas o inimigo Hamas, mas os palestinos da faixa de Gaza.
O Hamas ameaça da boca para fora "varrer Israel do mapa". E o governo de Israel, que deveria acolher o apoio internacional enquanto vítima, parecia agir para efetivamente tirar toda aquela área e toda aquela gente do mapa. Coisa para tribunais internacionais.
A guerra não acabou, e o cessar-fogo mais parece uma trégua para a posse de hoje de Barack Obama. O Brasil soma esforços e se integra a um movimento tácito mundial para reduzir a importância devastadora e a influência dos EUA sobre todo o resto, na economia, na política e no Oriente Médio. Mas, queiram ou não, quem tem poder e quase US$ 14 trilhões de PIB são os EUA.
Que Obama use esse poder com bom senso e parcimônia. Pelas preces brasileiras, inclusive de Lula, para deixar de contaminar o mundo com a crise e irradiar recuperação; impor o fim do bloqueio a Cuba para se aproximar da América Latina e ser agente, não de guerras, mas de um acordo de paz que permita dois Estados: o de Israel, seguro, e o Palestino, viável. Obama, porém, é um símbolo atolado em interrogações.
Tem muito a enfrentar, antes de convencer.

O IDIOTA


ILIMAR FRANCO

Cai a receita

Panorama Político 
O Globo - 20/01/2009
 

Os efeitos da crise econômica também chegaram às prefeituras. A estimativa para janeiro é de uma queda real no repasse do Fundo de Participação dos Municípios de sete pontos percentuais. Esse é o primeiro efeito do pacote fiscal beneficiando a indústria automobilística. Estima-se que esse repasse tenha nova redução em fevereiro, devido à alteração na tabela do Imposto de Renda.

TÁ DOMINADO. Ao ser nomeado para a Secretaria estadual do Desenvolvimento, o ex-governador Geraldo Alckmin se engajou no projeto José Serra 2010. O cargo era ocupado pelo vice-governador Alberto Goldman. Serra unificou as principais lideranças do PSDB paulista. Ele garante o comando de seu processo sucessório e fecha as portas para seu adversário interno na corrida para o Palácio do Planalto, o governador Aécio Neves. 

O governo faz bondade com o nosso chapéu (IPI e IR), porque não usou a Cofins" - Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional dos Municípios 

Na outra vez, Gilmar perdeu de 9 a 1 

Na condição de presidente do STF, Gilmar Mendes quer repetir com Cesare Battisti seu entendimento no caso Olivério Medina. Relator do caso e voto vencido, Gilmar entendeu, na ocasião, que a concessão de refúgio pelo Executivo não suspenderia o processo de extradição. Para ele, o tribunal deveria analisar a natureza do crime e referendar ou não a decisão do Conare. Mas a jurisprudência é a de que a concessão de refúgio arquiva o processo de extradição. Gilmar volta a carga e quer que o STF analise o pedido de extradição, depois de concedido o refúgio, à luz da constitucionalidade da legislação sobre refugiados. 

Tratamento VIP 

As equipes do Itamaraty e de seguranças do presidente Lula viajaram em pé, no vôo de uma hora entre Caracas e Maracaibo, na quarta-feira, porque o governo venezuelano resolveu levar dois blindados no avião da Força Aérea Venezuelana.

Para o mundo 

Enquanto Belém sediará o Fórum Social Mundial, mais de 30 cidades ao redor do mundo realizarão atividades descentralizadas. Na França, haverá protesto contra a privatizações; e no Iraque, encontro de líderes tribais para a paz. 

A agricultura e a crise 

A execução do Plano Safra cresceu 23,1% no segundo semestre de 2008, comparado ao mesmo período de 2007, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário. No investimento, o aumento foi de 38,2% e no custeio, de 18,6%. O crescimento foi maior nas regiões Sul e Sudeste. Nessa última, o crescimento foi de 63,8%, e no Sul, de 51,3%. Do total de contratos de investimento no país, 44% foram para aquisição de tratores. 

Um outro mundo é possível 

Foram fechados 654 mil postos de trabalho em dezembro, e as estimativas são de aumento do desemprego por causa dos efeitos da crise econômica. Mas na página do PSDB na internet há um alentado texto afirmando que Alagoas está imune à crise e que o governador Teotônio Vilela trabalha com a criação de 20 mil novos empregos em seu estado até 2010. O governo tucano diz que as oito obras de grande porte do PAC em Alagoas estão indo de vento em popa. 

FALA A LÍDER do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC): "A candidatura do senador Tião Viana à presidência do Senado é irreversível. Vamos para o voto". 

O JORNALISTA de economia predileto da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) é o inglês Martin Wolf, colunista do "Financial Times". 

O MINISTRO Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) fará um périplo pelo Nordeste nesta semana. Ele quer discutir um novo modelo de desenvolvimento para a região.

DORA KRAMER

Um homem cordial


O Estado de S. Paulo - 20/01/2009
 

 Reside nos detalhes - nem sempre sutis, é verdade - a dimensão do empenho do governador de São Paulo no projeto Presidência da República. José Serra nunca esteve tão disposto a remover obstáculos, a não deixar ponto sem nó, a aparar arestas presentes, passadas e futuras.


Cozinha em banho-maria a proposta de realização de prévias no PSDB, como diz querer o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, articula-se com o PT pelo fim da reeleição e agora acaba de matar um mal pela raiz ao deslocar um de seus principais operadores políticos da Secretaria de Desenvolvimento para dar lugar a Geraldo Alckmin. E companhia, obviamente.

José Serra trabalha em silêncio e não é de hoje. Paulista da Mooca, reza pela cartilha da mítica mineira. 

Na eleição municipal "amarrou" o apoio do PMDB de São Paulo à sua candidatura, antes disso havia feito do DEM um devedor eterno ao garantir ao minguante ex-PFL o comando da prefeitura mais importante do País e depois disso teve o cuidado de não celebrar as vitórias.

Frequentador das listas de "ganhadores" daquele certame fez o modesto. No curso do monumental charivari que tomou conta do PSDB paulista - com rebatimento em terras mineiras - fez o frio. O mundo tucano se desfazia em ferro e fogo, mas, no gabinete do governador, a temperatura era de inverso europeu. 

Do lado de fora, os administradores políticos da confusão - Aloísio Nunes Ferreira e Alberto Goldman - transitavam com os cabelos em pé e os colarinhos amarfanhados. Dentro, o governador - composto e indiferente - tratava o assunto Geraldo Alckmin com naturalidade acadêmica, estudada até a medula.

Nem parecia que o ex-governador, desafeto assumido nas internas e adversário contido para efeito externo, estava criando embaraços graves ao plano de deixar o caminho livre para a candidatura Gilberto Kassab ao encasquetar em disputar a prefeitura pelo PSDB.

Da boca do governador nenhuma crítica produzida na presença de estranhos, jornalistas incluídos. Impassível ante a qualquer provocação, Serra manteve a fleuma do começo ao fim. Oficialmente falando, claro.

Calabrês, disputou, e ganhou, no quesito impassibilidade, celebrado como a marca do anestesista, um homem pouco dado a entusiasmos e duro na queda. Ainda que profunda.

Longe de ser um tolo, muito menos um vocacionado para o conformismo, Alckmin não esquentou cadeira na derrota. Mal digerido o resultado da eliminação no primeiro turno, começou a se movimentar.

Primeiro, a bordo da versão de que deixaria o PSDB, talvez até para se candidatar a presidente. Depois, espalhou que estava pensando em se candidatar a governador em 2010 e disputar a legenda tucana com o indicado por Serra que poderia ser qualquer um, menos ele. 

Desta vez, com a imagem do Palácio do Planalto no horizonte, o governador José Serra não deixou ao tempo a solução dos problemas. Até porque a experiência lhe mostrou duas vezes que a omissão não é a melhor conselheira. 

Em 2006, Serra queria ser candidato, Alckmin também. Mas, agora se vê, não queria tanto assim. Ou imaginou que com a preferência nas pesquisas não precisasse fazer por onde.

Deixou as coisas correrem seu curso livremente e, na última hora, resolveu disputar o governo do Estado, argumentando que não poderia insistir na candidatura a presidente com Alckmin no comando da resistência em São Paulo.

Em 2008, não fez como muitos achavam que deveria ter feito. Não apelou a Alckmin pela desistência da disputa da prefeitura e apostou que ele tropeçaria nas próprias pernas como, de fato, tropeçou.

Mas saiu daquela eleição com mais de 20% dos votos, o que, em termos de São Paulo, quer dizer mais de um milhão e meio de votos. Em matéria de PSDB, uma nova ofensiva de Alckmin no trabalho de construção de barreiras poderia significar bem mais. 

Ele capitaliza, como ocorreu nas ocasiões anteriores, a ação dos adversários de Serra dentro do partido e País afora. Qualquer um que converse com Alckmin dá margem à interpretação de que sobre a formação de um núcleo anti-Serra. É sempre um fator de perturbação. 

Durante a campanha municipal, Aécio Neves participou de atos públicos com Alckmin e a leitura que se fez foi de investida de Aécio contra Serra.

A lógica apontava para uma leitura menos drástica do ponto de vista eleitoral, pois não seria crível que algum paulista mudasse o voto por conta da presença do governador mineiro. 

Só que sob a ótica das aparências partidárias, ações semelhantes nesse período até o início da campanha presidencial, dão ideia de divisão e tudo o que Serra precisa é de construir a união.

Daí a opção por cooptar o grupo de Alckmin, não depreciar a força de nenhum adversário, remover montanhas, dirimir conflitos, comer o mingau pelas beiradas, agregar, como convém a quem cuida de cada lance com o cuidado de um jogo esperado a vida inteira.

TERÇA NOS JORNAIS

- Globo: Governo exigirá manutenção de emprego para cortar impostos

Folha: Indústria concentra demissão recorde

Estadão: Corte de vagas é o maior desde 92

JB: Obama - Reforma começa pela economia

Correio: Obama renova o sonho por um mundo melhor

Valor: Aracruz fecha acordo para pagar dívida de US$ 2,6 bi

Gazeta Mercantil: Demissões chegam a 654 mil em dezembro

Estado de Minas: O sonho não acabou...