sexta-feira, março 05, 2010

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO


A diplomacia da pirraça

O Estado de S. Paulo - 05/03/2010
 

Três rodadas de sanções impostas pelo Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas não impediram o Irã de desenvolver o seu programa nuclear alegadamente para fins pacíficos - em parte porque a Rússia e a China ajudaram o governo de Teerã a burlá-las. A julgar pelo retrospecto, portanto, uma nova bateria de punições seria inútil ou, pior, teria um efeito bumerangue. "Não é prudente encostar o Irã na parede", disse o presidente Lula na quarta-feira, horas antes de receber a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que reafirmou em Brasília a posição dos Estados Unidos, endossada pela União Europeia, segundo a qual "o tempo da ação internacional é agora". Mas o retrospecto que aparentemente respalda a posição brasileira, favorável a negociações com os iranianos sem data para terminar, é uma premissa enganosa.

É verdade que o tipo de ação que Washington tem em mente costuma produzir, por si, escassos efeitos - com a espetacular exceção do boicote econômico à África do Sul, que precipitou a queda do regime do apartheid. Isso não é o principal, porém. No caso iraniano, se a adoção de novas sanções exprimir e em seguida cimentar a coesão internacional contra a nuclearização do país, a República Islâmica terá recebido uma vigorosa mensagem política que não poderá ignorar. Seria ingenuidade supor que o Irã poderá ser reduzido à condição de Estado-pária. Afinal, a nação persa não é bem um paiseco. Ainda assim, se os aiatolás olharem em volta e se derem conta de que os seus aliados se limitam aos países muçulmanos da África subsaariana e à Venezuela de Hugo Chávez, quem sabe se disponham a fazer de verdade o que até agora só fingiram - conversar a sério. Restará saber em que termos.

Hoje como hoje, o Irã se empenha em obter as condições - matéria-prima, equipamentos, tecnologia e base industrial - que lhe permitam fazer a bomba se e quando entender que chegou a hora. Há poucas semanas, o cão de guarda da ONU para o setor, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), afirmou existirem amplas evidências de que o país caminha a passos firmes nessa direção. É o mais claro alerta já emitido pela entidade sobre as intenções iranianas. Confere à questão um novo sentido de urgência. E implicitamente eleva o preço das contrapartidas que o Irã poderá exigir para mudar de ideia. Não é impossível - a Líbia mudou -, mas não há uma fórmula segura para dissuadir Teerã. No comunicado conjunto sobre a visita de Hillary, Brasil e Estados Unidos manifestaram a sua "séria preocupação com a evolução nuclear no Irã" e o exortaram a cumprir a resolução da ONU.

Uma coisa, no entanto, são as vastas incertezas sobre como chegar à "solução diplomática positiva para o tema" de que fala o comunicado. Outra é o infantilismo da atitude brasileira de rejeitar liminarmente a via das sanções, com a única finalidade de acicatar o governo americano. O que move a diplomacia lulista é a tolice de que a projeção do País como ator global depende de ser visto repetidamente mostrando a língua para os Estados Unidos - quanto mais importante o pretexto para a pirraça, tanto mais depressa Brasília será contemplada com esse imaginário passaporte para a fama. Já não se trata apenas, ao que tudo indica, do antiamericanismo de ranço ideológico. Agora é a vez do antiamericanismo de resultados - conquanto impalpáveis até onde a vista alcança.

Mas deve ter feito um tremendo sucesso em Teerã a esdrúxula tirada do chanceler Celso Amorim, comparando as pressões dos Estados Unidos contra o Irã à retórica americana sobre as armas de destruição em massa do Iraque antes da invasão do país. Saddam Hussein fazia crer que as tinha para não ser derrubado por seus generais. Mahmoud Ahmadinejad nega que pretenda tê-las enquanto se prepara para fazê-las. Com a lábia dos vendedores de tapetes do bazar de Teerã, os diplomatas iranianos se desdobram em lisonjas ao Brasil - e o Itamaraty, ofuscado pela soberba, cai no conto. Cheio de si, Amorim não quer saber se cresce o consenso pelo endurecimento com o Irã. "O Brasil pensa com a própria cabeça", anunciou, contando vantagem à maneira dos novos-ricos. Só foi superado pelo seu "guia", como se refere a Lula. "Se o Irã for além disso (o uso da energia nuclear para fins pacíficos)", balbuciou ele, "não poderemos concordar." Ahmadinejad treme de medo.

PETISTA

JOÃO DONATO


Nova bossa na nossa Bossa Nova


O Globo - 05/03/2010
 
Em  1962, voltei ao Brasil para gravar um disco, depois de dois anos morando nos Estados Unidos. Era uma tarde quente e um produtor entrou no estúdio falando em voz alta: “Mas isso não é Bossa Nova”. Retruquei: “Eu não disse que é, só estou gravando um disco.” Era o meu primeiro 12 polegadas: João Donato e seu Trio Muito à Vontade, com os saudosos Milton Banana (bateria) e Tião Neto (baixo).

Um ano depois retornava à América, em seguida o disco foi lançado pela Pacific Jazz com o nome de “Sambou Sambou” e se tornou o responsável pelo meu ingresso definitivo no mercado fonográfico americano. No auge da Bossa Nova, eu, que desembarcara na terra de Frank Sinatra antes da chegada dos meus amigos João Gilberto e Tom Jobim, assistia à euforia dos músicos de jazz com a novidade.

O jornal “São Francisco Chronicle” chegou a anunciar que o novo gênero musical brasileiro era a melhor coisa que tinha acontecido na música americana.

Cansados de tocar a música exageradamente popular da época, os músicos passaram a usufruir do prazer de viajar pelos ricos acordes do samba-jazz e da sua versão mais suave, a Bossa Nova.

O improviso andava solto e por caminhos nunca antes percorridos. A carreira de Stan Getz, estacionada, ganhou fôlego com a chegada da Bossa Nova. Bud Shank e Chet Baker, meus parceiros de estrada, queriam tocar, gravar e se aprofundar nos ritmos deste país da América Latina que contribuía com algo diferente do mambo, da salsa e da rumba dos imigrantes da América Central.

Mais de meio século depois do marco da exportação da Bossa Nova para o mundo, após fazer música com parceiros de tantas gerações e estilos musicais variados, e de ver minhas canções interpretadas por brasileiros do samba, do bolero e do hip hop, pela Orquestra Sinfônica da Rússia, por um grupo vocal de cubanas, de tocar na Líbia e de ser tratado como um artista popular no Japão, tais lembranças me fazem refletir sobre como talvez eu tenha dado ouvidos àquele produtor e passado a vida resistindo à minha participação e influência no ritmo que veio a se chamar Bossa Nova.

Hoje, tenho consciência de que negar minha participação na história da Bossa Nova seria deletar um trecho da história da música popular brasileira e de minha história pessoal. Em 2002, quando a Dubas relançou “Muito à Vontade” em CD, o escritor Ruy Castro lembrou que o disco me abriu novos horizontes e, nas palavras dele, “devolveu a Donato, sem ele saber, um movimento que ajudara a construir”.

Em 2008, nas comemorações dos 50 anos da Bossa Nova, convidado pelo meu parceiro musical Nelson Motta a receber uma homenagem da nova geração de intérpretes da música, já cansado do peso das viagens — rodei 
11 países em quatro continentes, fui duas vezes a Cuba no mesmo ano — acabei desabafando em uma entrevista: “Não aguento mais falar em Bossa Nova.” Eu sou mesmo assim.

Para lembrar um grande músico brasileiro, Eloir de Morais, “envaideçome” ao ser convencido de integrar uma história tão bonita pelo desenrolar da própria história. Mas devo confessar que, como acreano-pianista-compositorintuitivo, o que me encanta são as infinitas possibilidades que a música me oferece de experimentar novos sons, novos rumos, novas combinações, novos acordes, novas vozes, numa constante renovação.

Algo que foi percebido há muito tempo por gente como Stan Kenton, Miles Davis, mais recentemente por Diana Krall e — por que não? — Black Eyed Peas. Algo que o mundo inteiro reconhece e modernamente aprecia. Percebo que na atualidade há um improviso do improviso.

Uma nova bossa dentro da Bossa e é um patrimônio que, quanto mais se transforma, mais herdeiros faz ao longo do caminho e de uma estrada rumo à imortalidade.

Faltava o Rio, berço da Bossa, valorizar e dar o suporte para que novos compositores, músicos e intérpretes possam fazê-la ecoar e ser recriada a partir da sua maternidade. Um bom começo é o Circuito da Bossa Nova que a prefeitura lançou na segunda-feira, na festa dos 445 anos do Rio, no Espaço Tom Jobim do Jardim Botânico.

Agora, Leny Andrade, Joyce, João e Bebel Gilberto, Pery Ribeiro, Carlos Lyra, Milton Nascimento, Os Cariocas, Emílio Santiago, Roberto Menescal, Cris Dellano, Zé Renato, Mariana Aydar, Wanda Sá, Thaís Fraga, Mário Adnet, Augusto Martins, Miúcha, Sérgio Mendes, Sandra de Sá, Fernanda Takai, Johnny Alf, Adriana Calcanhoto, Marcos Valle, Francis e Olivia Hime, Jaques e Paula Morelenbaum, Roberta Sá — nosso catálogo é infinito — poderão mostrar com ternura, amor e sem temer contradições que a boa música é celestial, é de todos, é nossa e se renova.

FIM DE SEMANA EM NATAL

Sexta-feira
Geraldo Carvalho: O cantor e compositor Geraldo Carvalho se despede do seu público potiguar com uma série de três shows a partir de hoje, antes de viajar à Brasília pela quarta vez para mais uma temporada. Hoje, é no Zen Bar, em Pium, a partir das 21h, dentro do projeto Sexta Lá, encabeçado pelo produtor Nelson Rebouças. Contato: 9922-8188 ou 9151-7783.
Ballet: O espetáculo "Para Acordar os Homens e Adormecer as Crianças" do Ballet de Londrina, será apresentado em Mossoró, no Teatro Dix-Huit Rosado, às 20h30. Ingresso antecipado (West Shooping): R$ 15.
Casa da Ribeira: O espetáculo de dança-teatro, Sente-se, encenado pela Si-La-Ba Companhia de Dança, volta à Casa da Ribeira, com Anízia Marques e Maurício Motta. Às 20h. Preço único: R$ 5. Contato: 3211-7710.
Sgt Peppers: A banda VNV lança seu primeiro Cd In To The 80's, no Sgt. Peppers de Ponta Negra. Participação das bandas Mamãe Ganso e Sunset Boulevard. A partir das 22h. Ingresso: R$ 10. Quem acessar as comunidades das bandas no Orkut ganhadesconto especial para prestigiar o show. Amanhã, a banda Sangue Blues é a atração do local.
Vogue: A forrozeira Rita de Cássia e sua banda Forró Poesia é a atração na Boate Vogue Natal, a partir das 22h. Ainda a cantora Roberta Karina e Banda e o som do DJ Lucas Markis (CE), além do residente França. Amanhã, também às 22h, o DJ Diogo Cavalcanti (PE), show com a drag Magnífica Yankha, Rebekka Martins e Banda (PE). Preço (não informado) com desconto hoje até às 0h. No sábado, ingresso a R$ 12 e ganha um drink.
Sancho: A banda Axé Obá recebe a cantora Thabata Medeiros no Sancho Music Bar, pra uma noite de axé. Amanhã, o rock e o house com a banda de Buck Rogers e o DJ Renato. Domingo, o tradicional Samba do Sancho recebe as bandas Auto Estima e Nosso Grito. Início sempre às 22h. Universitário de Natal tem entrada gratuita até 0h.
Comédia: O humorista potiguar Mafaldo Pinto apresenta hoje e amanhã o Show Sorrir é o Melhor Remédio. A partir das 20h. Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia). Vendas: Pits Burg (Prudente de Morais) e Bilheteria do TAM. Contato: 8824-7208 e 9902-1804 ou www.mafaldopinto.com
Seis em Ponto: A banda Furacão Sertanejo (21h) é a atração de hoje no Bar & Petiscaria Seis em Ponto. Amanhã, samba e feijoada com Vida Alheia (14h) e pop rock internacional com Banda D'vibe (21h). No cruzamento das avenidas Prudente de Morais e Miguel Castro, em Lagoa Nova.
Rastapé: As atrações de hoje no Rastapé são Alvimar Farias, Cipó de Broxa, Silva Jr e Moacir do Repente. Amanhã, Gugu do Acordeon, Forró Selado, Fernando Farias e Moacir do Repente. Ingresso: R$ 10. Universitários até 0h têm entrada gratuita.
Reggae: A banda Rastafeeling comanda o reggae vibration no Castelo Pub. A partir das 22h. A mulherada tem entrada gratuita até às 23h. A entrada custa apenas R$ 5 até a 0h.
Praia Shopping: Dodora Cardoso apresenta sua música no projeto Praia Shopping Musical a partir das 21h. Amanhã, sobe ao palco Leny Caldas, também às 21h. No domingo, a partir das 20h, a Banda Voyage.
Jobim: Diogo Guanabara, Henrique Pacheco e Camila Masiso estarão no palco do Jobim interpretando muita Bossa, Samba, Choro e clássicos do Jazz internacional, em um show com bandolim, violão de 16 cordas e a voz da Jovem Camila. Amanhã, Humberto Dantas e seu piano de bossa e jazz leva o melhor da MPB, da Bossa Nova e do Jazz Internacional. A partir das 21h30. Na Rua Seridó (Pça das Flores), 736, Petrópolis. Contato: 3202-4200.
Jukebox: A atração da noite será Pedro Luccas - um compositor contemporâneo, que recentemente ficou em 3º colocado para cantar com Ivete em um concurso, com bastante influência da bossa nova, do samba, do soul passando pelo pop, rock e baladas românticas. Ainda os Dj's Fam Matos e Guga Holanda. Na Rua Potengi, 417, em frente à Praça Cívica. Informações: (84)-3201-0108
Sábado


Galpão 29: A banda Deadly Fate lança seu 2º Cd e comemora 20 anos de estrada. Participação de Thunder Steel, Metallica Cover e Sunset Boulevard. A partir das 22h, no Galpão 29, Ribeira. Vendas antecipadas: Dio Records: 3091-1991 e Pedrassoli Turismo:3082-8652. Preço: R$ 10 ou R$ 20 ingresso + Cd.
Forró: Flávio José é atração principal do Forró do Pote. Participação de Zé Barros e Forró Du7. Ingresso: R$ 25 (preço único). Senha antecipada: Casa do Fiat, Tábua de Carne e Servebem (Parnamirim). Na Rodovia Pium-Parnamirim. Contato: 3081-3163.
Vila Folia: Ivete Sangalo abre temporada do Vila de Folia. Participação de Márcio Vitor e a banda Psirico, e banda Garota Safada. Ingresso: R$ 35 (pista) e R$ 85 (camarote). Senhas antecipadas: Central do Carnatal e Riachuelo. Contato: 4006-0990.
Domingo
Infantil: A Daluzinha Avlis foi criada por Dalva Lúcia Moura, técnica do Departamento de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde do Estado. A personagem é uma Contadora de Histórias. Um espetáculo que busca despertar o amor pela leitura através de recursos lúdicos e criativos, além de semear uma cultura de paz, amor à família e amigos, respeito e zelo à Natureza. No projeto Bosque em Cena, que acontece às 10h30 no Parque das Dunas (Tirol). Ingresso: R$ 1.
Som da Mata: O Duo de Violão Denison & Guido - oriundos do movimento Ecoarte, trabalho voluntário realizado em praças públicas de Mossoró - virão direto da capital do Oeste para o palco do Anfiteatro Pau-brasil para apresentar seu recital de clássicos da música brasileira que vai de Villa-Lobos a Toquinho, de Pixinguinha a João Pernambuco, dentre muitos outros. Às 16h30, no Parque das Dunas (Tirol). Ingresso: R$ 1 

NELSON MOTTA


Detalhes tão pequenos
O Globo - 05/03/2010

Até a oposição reconhece que o deputado Antonio Palocci foi um dos melhores ministros da Fazenda do Brasil moderno, em um difícil período de transição. Articulado, inteligente e educado, ganhou respeito e credibilidade em todos os segmentos da economia e da politica. Não culpava a herança maldita de FHC por todos os problemas do Brasil, não dividia o país entre pobres e ricos, não dizia que os fins justificam os meios.

Competente, discreto e moderado, sem envolvimento com o mensalão, em tudo aparentava ser o oposto do Zé Dirceu. Certamente seria o candidato ideal de Lula e do PT, até o quase inverossímil “caso do caseiro” que levou à sua queda.

Bill Clinton foi um ótimo presidente, fez dois governos de paz e prosperidade e sofreu um impeachment, não porque fez sexo com Monica Lewinsky na Casa Branca, mas porque mentiu.

No Brasil se debochou muito do puritanismo e da hipocrisia dos americanos.

Aqui, nenhum presidente ou ministro cairia por um escândalo sexual ou amoroso. Nem mesmo se um presidente do Senado usasse um lobista para pagar as contas da amante.

No máximo, como no caso Bernardo Cabral e Zélia, podia cair no ridículo.

Palocci não roubou nem deixou roubar, mas caiu.

Quis a fatalidade que, no caso da casa de Brasília, surgisse o depósito suspeito na conta da testemunhachave.

Provavelmente cerca de 99.9% das pessoas de bem, honestas, democráticas, cristãs, crentes, desconfiariam.

Mas era verdade. Se fosse em um thriller de conspiração política, o leitor abandonaria o livro — seria inverossímil, um abuso da sua boa-fé, dos limites da “suspensão da descrença” indispensável à ficção.

A violação do sigilo bancário do caseiro, em beneficio de Palocci, merece todas as condenações e punições legais, mas o que este prosaico episódio mostra é que, na vida real, está tudo por um fio, que um golpe da sorte, ou a sua falta, pode mudar tudo da noite para o dia.

Sem o caseiro Francenildo, provavelmente não haveria nem Dilma candidata.

Com a economia bombando como agora, nem Serra e Aécio juntos poderiam enfrentar Palocci.

A única certeza é que até outubro tudo estará incerto.
NELSON MOTTA é jornalista.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS e Cia


De volta à recuperação

O GLOBO - 05/03/10


A expansão de 1,1% na produção industrial em janeiro zerou as perdas do último bimestre de 2009 e pôs o setor de volta à curva de recuperação. É bom sinal começar o ano num ritmo de expansão acima de 1%. Em 2008, um grande ano para o PIB até a crise, a indústria chegou ao fim de janeiro crescendo 1,6% sobre dezembro de 2007. O mercado interno continua ditando o ritmo da produção. É nos segmentos voltados ao consumo das famílias que se concentra a recuperação da economia, uma vez que o comércio exterior ainda sofre com a perda de vigor, fruto da crise internacional. André Macedo, da Coordenação de Indústria do IBGE, identificou nove atividades (veja o quadro) que já operam acima do nível de setembro de 2008, ponto zero da turbulência mundial e um dos melhores momentos da indústria nacional na década.

“Todas estão relacionadas ao consumo interno ou aos insumos que vão produzir esses bens”, diz Macedo. É bom lembrar que o time representa apenas um terço da indústria. Dois terços ainda têm desempenho negativo sobre fins de 2008.

Há muita gordura a se ganhar.

Beleza
Michele Tantussi/Bloomberg A BEIERSDORF, alemã fabricante da Nivea, reduziu em 33% seu resultado ano passado, para C 380 milhões.
Mas já estima alta de 10,2% nas margens de lucro operacional este ano, puxada pela demanda na China e nos mercados emergentes.

Em greve
PORTUÁRIOS DA Finlândia entraram em greve por melhores condições para estivadores demitidos. A paralisação levará as papeleiras Stora Enso e UPM a cortar produção, afetando sua recuperação pós-crise mundial.

Comunicação da Melissa lá como cá
A Melissa vai unificar sua comunicação.
A partir do 2º semestre, a marca da Grendene terá as mesmas campanhas no Brasil e no exterior. “Há dois anos iniciamos um trabalho específico para o mercado externo. A estratégia aqui é vincular a marca à moda, o que poderia não funcionar onde não era tão conhecida”, diz Raquel Scherer, coordenadora de marketing da Melissa. Agora, com a marca fortalecida, começa uma nova etapa. E não se restringirá a campanhas. A edição de março da “Plastic Dreams”, revista da marca, com ensaio da artista burlesca Dita Von Teese (foto), será a última restrita ao Brasil. O próximo número também sairá em inglês. Vai circular em lojas como a Saks (EUA), onde a Melissa é vendida.

Retomada
O contrato de R$ 17 milhões assinado anteontem por Eletronuclear e Nuclep pôs fim a um jejum de duas décadas. Há 20 anos, as empresas não firmavam acordo de fornecimento de serviços e equipamentos nucleares. A Nuclep produzirá oito tanques de armazenamento de água (acumuladores) para Angra 3.

Helicópteros
A BHS Helicópteros, de voos offshore para o setor de óleo e gás, elevou em 50% as operações no Aeroporto de Jacarepaguá em 2009. São 12 ligações diárias entre o Rio e a Bacia de Santos, equivalentes a 30% das operações da empresa no estado. A meta para 2010 é crescer cerca de 25%. A BHS também investe para reduzir o barulho gerado pelas aeronaves em Jacarepaguá.

Cabo Frio
O movimento de voos para a Bacia de Campos fez a Petrobras montar uma base operacional no Aeroporto de Cabo Frio. De lá, a empresa transporta 900 pessoas por dia em quatro helicópteros.

Rodada colombiana
A Agencia Nacional de Hidrocarburos, a ANP colombiana, divulgará no Rio o programa de licitação de áreas petrolíferas do país em 2010. A apresentação será feita na 16ª edição do fórum Latin Oil Week, de 22 a 24. O portal Gui@Offshore será a mídia oficial do evento.

Conselho
A Souza Cruz vai submeter aos acionistas em assembleia dia 19 uma mudança em seu estatuto. É o funcionamento permanente de um conselho fiscal, com participação dos minoritários. Foi reivindicação da Previ, informa a empresa. O fundo de pensão do BB é defensor antigo da causa. Já recorreu até à CVM.

Cigarro
A fabricante, esta semana, recebeu decisão favorável da Justiça do Rio, em processo movido por uma ex-fumante. O TJ Rio rejeitou todas as 33 ações indenizatórias já impetradas. No país, até hoje, nenhuma empresa de cigarros foi condenada em definitivo.

Apagão
Light, Oi (fixa) e Ampla foram as empresas mais processadas nos Juizados Especiais do Rio em janeiro. As elétricas somaram 3.782 ações.

Vale fidelidade
A Etna, de móveis e decoração, dará aos clientes bônus de até 25% do valor das compras durante um mês. É ação pelo sexto aniversário da marca. Haverá quatro faixas de premiação. Os descontos valerão para compras na rede.

Um clique
A Saraiva lança na 2ª o sistema “Compre com 1 Clique”. Usuários cadastrados no site poderão comprar sem preencher dados. A ideia é facilitar compras por celular e iPhone, diz Marcílio Pousada, presidente da Saraiva. A livraria investirá R$ 4 milhões no mundo digital até 2012.

Oriental 1
A japonesa Nikko negocia com a BB DTVM a montagem de um fundo de investimento sob medida. Representantes da corretora estão no Brasil para uma rodada de conversas hoje. A ideia é replicar o modelo lançado em novembro de 2009 com a também japonesa ACE Securities. Mês passado, o patrimônio do fundo bateu R$ 155 milhões.

Oriental 2
O fundo BB DTVM/ACE é destinado integralmente a pessoas físicas. “Os investidores japoneses podem aplicar a partir de US$ 100. Não tem absolutamente nada a ver com dekasseguis”, diz Carlos Massaru Takahashi, presidente da gestora do BB.
Os recursos são aplicados em renda fixa (70%) e variável (30%). Outras três corretoras já procuraram o banco.

Transformação
O SANTANDER lança domingo a campanha “Juntos”, criação da Talent. Contará histórias de pessoas que trabalham em conjunto para transformar a sociedade. José Junior, coordenador do AfroReggae, estará num dos filmes.

LIVRE MERCADO

A BRQ, de TI, fechou contrato de R$ 1,4 milhão com a ANP. As contas no setor governamental já representam 10% das receitas.

A ALCOA Foundation vai doar U$ 50 mil às vítimas do terremoto no Chile, por meio da Cruz Vermelha.

A CAIXA será patrocinadora oficial da Luta Olímpica Brasileira pelo 4oano. A modalidade receberá R$ 750 mil.

O MUNDO Verde abre dia 16 a segunda loja no Leblon. Este ano, a rede planeja abrir 40 franquias.

UMA RUMA DE GOSTOSAS

GLAUCO ARBIX


A verdadeira muralha chinesa


Valor Econômico - 05/03/2010
 
Um poderoso firewall oficial bloqueia ou tira do ar inúmeros sites, portais e redes
Nos últimos anos, poucos eventos sacudiram tanto a China quanto a internet. Seu número de internautas já é maior do que os 230 milhões de usuários americanos (North America Internet Stats, 2010). Um público de jovens, com menos de 30 anos e que declaram ter na internet sua melhor fonte de informação.
Todos eles, porém, encontram dificuldades para superar um gigantesco problema: a censura. Um poderoso firewall oficial é a verdadeira muralha da China moderna. Quantos sites são censurados? Portais? Quantas redes? Ninguém sabe. Qual informação é censurável? Que tipo de conhecimento? Ou entretenimento? Talvez alguns poucos dirigentes do partido pudessem responder, ainda que fosse improvável que o fizessem publicamente.
A segregação digital, porém, começa a ser sacudida por caminhos inesperados. Diante da possível interrupção dos serviços do Google no país, a conceituada revista Nature realizou sondagem na comunidade científica chinesa e colheu resultados de primeira grandeza: a censura e eventual fechamento do Google farão muito mal à ciência do país. Segundo os dados divulgados pela agência Reuters (24/02/2010), mais de 70% dos cientistas chineses utilizam o Google como ferramenta de busca de dados, informações, artigos científicos e literatura acadêmica em geral. Dos cientistas entrevistados, 84% afirmaram que suas pesquisas perderiam substantivamente em qualidade se fossem privados do uso do Google; 78% afirmaram que sua colaboração internacional seria profundamente afetada.
O problema de fundo, que preocupa as autoridades chinesas, é que a existência do Google levou a uma alteração de hábitos de pesquisa, interferindo no modo de explorar, testar e difundir informação necessária para a geração de conhecimento. Longe de um gesto de censura de curto alcance (se é que isso é possível), a interrupção do Google provocaria reações de longa duração, com impacto sensível na eficiência da pesquisa científica.
Para um país disposto a disputar a hegemonia mundial, onde a pesquisa científica e tecnológica é a menina dos olhos das autoridades, as novidades vindas da comunidade científica não poderiam ser piores.
É certo que as relações entre democracia e economia nunca foram fáceis, como o crescimento mundial desta década insiste em mostrar. Comparada aos recordes de PIB e desempenho de vários países africanos e do Oriente Médio, a democracia apresentou indicadores tímidos, quando não regressivos, em meio à exuberância do crescimento econômico dos anos 2000/2007. Se tomarmos os Bric, o primeiro destaque cabe ao partido comunista chinês que praticamente triplicou o PIB do país nesse período, deixando um lastro de poeira para democracias na Índia e no Brasil.
Segundo os economistas do Goldman Sachs - que inventaram o selo Bric - essas disparidades aumentarão nas próximas décadas: enquanto a participação chinesa no PIB mundial saltará de 4% para 15%, o G-7 (grupo que reúne os países mais avançados, EUA, Alemanha, Japão, Inglaterra, França, Itália e Canadá) cairá do alto dos seus 60% para 20%. Observados isoladamente, alguns países como Angola, Moçambique, Nigéria, Egito, Paquistão, Vietnã e Irã, para citar apenas alguns, crescerão muito rapidamente, apesar da sua, digamos, pequena indisposição em relação à democracia. Diante dessas previsões, alguns analistas latino-americanos chegaram a manifestar saudades dos anos 80, quando, na década perdida, a democracia floresceu por quase todo o continente.
A famosa tese do "decouple", o descolamento das economias emergentes das avançadas, parece ter se desdobrado em outra versão, agora mais embebida de política. Pelo menos nos dias de hoje, o desempenho econômico parece ter se divorciado da democracia, pois são muitos os países que crescem aceleradamente apesar de seu forte viés antidemocrático.
Não é lei nem regra geral, apenas uma constatação. Por isso mesmo, espera-se que essas relações perigosas não sejam tomadas como exemplos a serem seguidos, pela simples razão que os parâmetros oferecidos pela economia, são poucos (e, muitas vezes, rasos) para a compreensão da democracia como fenômeno social. A política, cultura e a história são, com certeza, mais adequadas para esse fim. Principalmente porque reintroduzem no debate a dimensão do tempo, que é chave para todo e qualquer movimento de mudança e de consolidação institucional.
Não nos referimos aos que fazem história oficial e que pinçam explicações para justificar deslizes da política. É provável que democracia não signifique a mesma coisa em qualquer tempo ou lugar. E que a palavra minzhu (o povo é o senhor), utilizada vulgarmente para traduzir democracia na China, é um conceito que se opõe à tradição inaugurada por Confúcio, de exaltação da harmonia e obediência. Ou então, que Deng Xiaoping, o dirigente que abriu a China para o mundo com as reformas iniciadas em 1978, desenhou não a democracia ocidental, mas uma sob medida para o povo chinês, contida nos limites das quatro linhas: "socialismo, a ditadura do proletariado, o maoísmo e o partido".
Referências desse tipo são fartas e de uso fácil. Difícil, porém, será amenizar as consequências de uma ciência amordaçada para um país como a China que não mede esforços para diminuir a distância que a separa das fronteiras do conhecimento.
Os milhares de funcionários que zelam pelo sistema de censura fariam mais pela eficiência do país se ficassem menos preocupados em perseguir URIs, URLs, FTPs e HTTPs. Para o nervosismo da "nomenklatura" (e satisfação de todos os que desejam um mundo em que o conhecimento possa fluir livremente, a começar dos cientistas e pesquisadores chineses), uma sucessão infindável de geeks, hackers, nerds, dorks e dweebs, com seus correlatos em chinês, descobre a cada dia uma nova maneira de burlar os sistemas de censura*.

PAINEL DA FOLHA


Prévias sim 

Renata Lo Prete
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Folha de S.Paulo - 05/03/2010


Num recuo do discurso antiprévias ouvido no recente congresso do PT, diretórios de Estados onde há disputa interna iniciaram ontem, em reunião da Executiva Nacional, um movimento para afrouxar as regras e liberar esse mecanismo de escolha de candidatos. A articulação é liderada por Pernambuco, Rio e Mato Grosso, onde não há consenso sobre o Senado, e pelo Distrito Federal, que até já agendou suas prévias para escolher o petista que disputará o governo.
Francisco Rocha, da corrente majoritária CNB, foi escalado para tentar dobrar o presidente do partido, José Eduardo Dutra. "Rochinha" representa os interesses do ex-ministro Humberto Costa (PE), que, como ex-prefeito de Recife João Paulo, quer o Senado.

Prévias não. A ala contrária às prévias defenderá hoje no Diretório Nacional que essas disputas prejudicariam a candidatura de Dilma Rousseff, em rota ascendente.
Candidatíssimo. Segundo testemunho dos mais próximos, Aloizio Mercadante (PT) já superou, em privado, a fase de se fazer de difícil quanto à possibilidade de concorrer ao governo de São Paulo. Vendo o ânimo do senador, um correligionário vaticina: "Daqui a pouco ele escala alguém para começar a bater no Ciro".

BH-Fortaleza 1. Ao final do evento de inauguração da nova sede do governo de Minas, Ciro Gomes (PSB) saudou o conterrâneo Tasso Jereissati (PSDB): "Caro vice-presidente...". O senador, recentemente citado como opção para compor chapa com José Serra, riu e respondeu com um "deixa disso".

BH-Fortaleza 2. E Ciro, referindo-se a Serra, seu eterno alvo: "Ao menos isso eu reconheço que ele fez certo".

Primeira-irmã. É quase consenso no PSDB que Aécio Neves não soube de antemão do editorial do "Estado de Minas" desancando a candidatura presidencial de Serra e a hipótese de o mineiro aceitar a vice. Nove entre dez tucanos, porém, completam o diagnóstico com uma ressalva: "Mas a Andréa Neves soube".

Maquete. Dada a semelhança da nova sede administrativa com a arquitetura da capital federal, mais de um convidado comentou: "Aécio fez uma Brasília para ele".

Ágio. Um veterano de apresentações de Fafá de Belém fez o cálculo ontem em Belo Horizonte: na interpretação da cantora, o Hino Nacional fica 50% mais comprido.

Vitrola. Tão caudalosas quanto a interpretação de Fafá foram as lágrimas de Carlos Lupi enquanto ouvia o hino. O ministro do Trabalho seguiu com a torneira aberta quando Milton Nascimento engatou "Coração de Estudante".

Em dupla. A procuradora Raquel Dodge enviou bilhetes para municiar a vice-procuradora-geral da República, Debora Duprat, a quem coube a sustentação contra os duros ataques do advogado de José Roberto Arruda no julgamento do habeas corpus no STF.

Sem fim. E segue o calvário do DEM. Em Chapecó (SC), o prefeito João Rodrigues acaba de ser condenado a cinco anos e três meses de prisão, sem substituição da pena, por irregularidades em licitação.

Sem fim 2. Contra o senador Raimundo Colombo (SC), raro nome do DEM com chances de se eleger governador, está em curso processo por improbidade administrativa, relativo a atos cometidos quando foi prefeito de Lages.

Atravessado. O ministro da Cultura, Juca Ferreira, causou embaraço durante reunião da Executiva do PV ao sugerir que a candidatura presidencial de Marina Silva seja examinada "com mais profundidade". A clorofila entornou de vez quando Ferreira defendeu que o partido libere os diretórios estaduais.

Tiroteio

"O governo usa o Estado para fazer propaganda de seus candidatos, o que nem é mais novidade, diante da campanha antecipada da Dilma."

Contraponto

Desconfiança atávica
À saída do almoço realizado depois da inauguração da Cidade Administrativa de Minas Gerais, nova sede do governo estadual, José Serra foi se despedir do anfitrião, Aécio Neves, e aproveitou para lhe fazer um elogio:
-Aprendi muito com o seu discurso de hoje.
Em resposta, o mineiro sorriu, fez cara de modesto e se saiu com evasivas como "imagine!" e "não há nada para aprender". Diante da resistência do correligionário em aceitar o cumprimento, Serra brincou:
-Aécio, você está parecendo as mulheres: elas nunca acreditam em mim...

MÔNICA BERGAMO

Jesus fala! 


 Folha de S.Paulo - 05/03/2010


Acostumado aos flashes desde o começo do namoro com Madonna, fato que fez sua carreira de modelo decolar, Jesus Luz resolveu falar um pouquinho. Em entrevista à revista "RG Vogue", o carioca diz que se considera "casado" e que constituiu uma família. Sobre as informações de que não cita o nome da namorada por questões contratuais, ele desmente: "Tenho um contrato com a minha consciência. Nunca falei de nenhuma namorada, não vai ser agora que vou agir diferente".

Maratona
Está aberta a corrida pela cadeira de Eros Graus no STF (Supremo Tribunal Federal). Despontam como candidatos com chance os ministros Cesar Asfor Rocha, presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Teori Zavascki e Luiz Fux, do mesmo tribunal.

MARATONA 2
Asfor Rocha tem grande liderança no próprio STJ. O catarinense Teori Zavascki, especialista em direito tributário, tem padrinho forte: Nelson Jobim, ministro da Defesa. O carioca Luiz Fux frequenta há anos a lista de possíveis indicados para o Supremo.

PROMESSA
Eros Grau, que se aposenta em agosto, tem dito a vários interlocutores que sairá do STF em maio.

VALE-BRINDE
Depois de meses de discussão e suspense, a Anvisa retirou da proposta de resolução que irá regular a publicidade de alimentos as diretrizes que tratariam especificamente da propaganda direcionada às crianças. Entidades ligadas à proteção do consumidor reclamam que é preciso haver medidas específicas, como a proibição de distribuição de brindes com venda casada. A Anvisa afirma que regras específicas não são necessárias porque já existe um compromisso das indústrias de não fazer propaganda focada no público infantil.

URNA ELETRÔNICA
Flora Gil abriu dissidência na família: ela vai votar em Dilma Rousseff para presidente, embora seu marido, Gilberto Gil, ex-ministro do governo Lula, tenha declarado apoio a Marina Silva, presidenciável do PV (Partido Verde).

CORRIDA ELEITORAL
E Dilma ganhará um páreo em sua homenagem no aniversário de 135 anos do Jockey Club de SP, no dia 13. O evento será comandado por Marcio Toledo, presidente do Jockey e namorado da ex-prefeita Marta Suplicy (PT-SP). O padre Marcelo Rossi cortará o bolo de aniversário na festa.

BARACK ZUMBI
Hillary Clinton prometeu aos estudantes da Universidade Zumbi dos Palmares que transmitirá ao presidente americano, Barack Obama, o convite para que ele também dê uma entrevista na instituição quando visitar o Brasil.

BERÇÁRIO
O secretário dos Transportes, Alexandre Moraes, anuncia na próxima segunda, 8, Dia Internacional da Mulher, a ampliação, de quatro para seis meses, da licença-maternidade para as funcionárias da CET e da SPTrans. São 1.216 mulheres que podem ser beneficiadas em caso de gravidez, num total de 2.800 empregados da empresa.

ESTACIONE AQUI
Cem paraciclos, grades para estacionar bicicletas, serão instalados neste mês pela Subprefeitura de Pinheiros em áreas verdes como a praça do Pôr do Sol e o parque do Povo.

AFRIKA SP
O DJ e produtor americano Afrika Bambaataa, conhecido como um dos precursores do hip hop, se apresenta no dia 8 de abril no Studio SP ao lado de MCs e DJs brasileiros.

COMPENSAÇÃO
O som baixo foi a principal reclamação dos fãs que foram na noite de terça-feira ao show da banda Coldplay no Morumbi. Na saída, onde os presentes ganhavam um CD de brinde, um dos seguranças comentava: "É pra compensar o show! Vocês não escutaram aqui, mas vão escutar em casa!"

GULLAR NA ACADEMIA

"Cansei de dizer não, não, não"

"Queria lançar aqui o "FGAC': Ferreira Gullar na Academia Brasileira de Letras", diz, erguendo a taça de champanhe, Armando Strozenberg, sócio da Casa do Saber do Rio de Janeiro. Alguém na plateia grita: "Sem Fernando Henrique Cardoso e com Gullar!" O empresário ameniza: "São todos nossos professores, adoramos o Fernando Henrique, mas nosso voto é do Gullar". O poeta sorri. Na noite de quarta, ele dividiu o pequeno palco com a cantora Adriana Calcanhotto e com Antônio Carlos Secchin, ensaísta, professor e membro da ABL.

Sobre a possibilidade de se candidatar, de fato, à cadeira vaga -de número 29, que era de José Mindlin, morto no último final de semana, e aberta a inscrições a partir de hoje-, Gullar titubeia. "Olha, faz 60 anos que eu me nego a entrar para a academia", diz ele, que também é colunista da Folha.
O tradutor Geraldo Holanda Cavalcanti, o sociólogo Muniz Sodré e o poeta Marco Lucchesi já enviaram telegramas aos imortais anunciando suas candidaturas. Gullar não.

"Eu nasci com a geração de antiacadêmicos. Era aquela coisa formal, sisuda. É claro que, agora, mudou. Não tenho propósito para me candidatar, mas, ao mesmo tempo, eu me sinto um arrogante por não aceitar. Cansei de dizer não, não e não.
Quando morreu o João Cabral [de Melo Neto], o Sarney me ligou e disse que eu tinha que entrar. Eu disse: "Mas eu não esculhambei a academia a vida inteira?" E o Sarney: "Não, ninguém tá se lembrando disso!" Bem político, né?"

Ele continua: "Vou te contar uma história. Meu amigo Dias Gomes nunca quis entrar para a ABL. Desabaram Jorge Amado, Rachel de Queiroz e João Ubaldo Ribeiro na casa dele e o convenceram. Um mês depois, ele estava em pânico porque havia um racha na academia e ele não sabia se seria eleito.
Eu liguei para o Sarney, meu conterrâneo: "Você tem que intervir e salvar o Dias Gomes". Ele salvou. Mas você vê que isso é um perigo! Eu já tenho problemas demais. Já basta o governo Lula aí para me atormentar".

Muito crítico ao governo, ele diz que não tem "nada contra a Dilma [Rousseff], pessoalmente". "O fato de o PT continuar é uma ameaça à democracia."

Na palestra, o assunto é poesia. Gullar, que faz 80 anos em 2010 e lança novo livro em agosto, conta histórias, lê poemas. Adriana Calcanhotto está com os olhos cheios de lágrimas. Com grande bracelete no braço direito e vestido longo azul, diz que conheceu a poesia de Gullar quando menina.

"Minha mãe dava aula de manhã, de tarde e de noite. Ela dormia depois do almoço, aquele sono era sagrado. Eu tinha que lavar a louça, mas sem fazer barulho. Então, descobri uma técnica: ligava o rádio bem baixinho e, para ouvir, não podia fazer barulho. Era uma rádio incrível de Porto Alegre e ouvi o Fagner cantando Gullar. É mais do que canção. É uma coisa que me chapou."

Ela canta "Onde Andarás": "Onde andarás nesta tarde vazia/ Tão clara e sem fim/ Enquanto o mar bate azul em Ipanema/ Em que bar, em que cinema/ Te esqueces de mim?" Gullar conta: "Foi uma encomenda da [Maria] Bethânia ao Caetano: "Quero que me faça músicas de dor de corno". E Caetano musicou o poema bem abolerado, bem dor de corno".

A cantora encerra o show-palestra com um poema inédito, escrito por Gullar para "a musa", sua companheira Cláudia Ahimsa. "Como possui-la quando está desnuda? Se ela é toda chuva. Se ela é toda vulva."
(AUDREY FURLANETO, da sucursal do Rio)

CURTO-CIRCUITO
A EXPOSIÇÃO "Roberto Carlos - 50 Anos de Música" será aberta hoje, a partir das 19h, na Oca do parque Ibirapuera. Livre.
A SEGUNDA EDIÇÃO da festa Tô Mara acontece hoje, às 23h, com os DJs My Gay Husband e Dash, na FunHouse. 18 anos.
A CANTORA Luiza Possi se apresenta hoje, às 22h, no Café Paon, no projeto "Sons da Nova". Classificação: 18 anos.
A COMPANHIA SILENCIOSA apresenta a peça "Burlescas" hoje, às 23h, no Kitsch Club. Classificação etária: 18 anos.
A GRIFE Mellina, da estilista Mellina Nunes, faz coquetel de lançamento da coleção de inverno hoje, às 14h, nos Jardins.
O ESTILISTA Pedro Lourenço apresenta sua coleção de outono-inverno 2011 hoje, às 19h, no hotel Westin, em Paris.
A DOCERIA O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo acaba de lançar a empresa O Melhor Bolo Eventos.

RUY CASTRO


Esperando sentado


Folha de S. Paulo - 05/03/2010
 
Foi há 50 anos, e serve para a história do Carnaval, da política brasileira ou de ambas, que, muitas vezes -com todo o respeito pelo Carnaval-, são a mesma coisa. Um tema recorrente das escolas de samba do Rio no Carnaval de 1960 foi a mudança da capital para Brasília, marcada para abril daquele ano. Várias escolas dos três grupos desfilaram pela Presidente Vargas com enredos em exaltação a Juscelino, aos supostos novos tempos e ao gigante que enfim despertava, leia-se Brasil.
Brasília era a "Novacap", nome de uma empresa e jeito modernoso de chamar a nova capital. Donde o Rio passava a ser a "Velhacap"", que não pegou, ou a "Belacap", significando que continuaria lindo e capital. O fato é que, se até as escolas de samba estavam celebrando a mudança, era porque o carioca a apoiava, exceto os funcionários públicos, ameaçados de ter de mudar para as breubas do Planalto Central.
O carioca via na mudança a única maneira de se livrar daquele hóspede grosseiro e folgado, o poder central, que o impedia, havia mais de 200 anos, de decidir seus destinos. Por ser sede deste poder, o Rio não podia eleger um reles prefeito para cuidar de seus problemas. Pois, de repente, iria se tornar dono de seu nariz, como cidade ou como cidade-Estado. Que a capital fosse para Brasília, e já ia tarde.
Alguns alertaram para os prejuízos que o Rio sofreria quase de imediato, com a saída dos ministérios, das autarquias e das representações estrangeiras. Mas todos confiavam em que essa perda se daria aos poucos e que Brasília compensaria o Rio com medidas que estimulassem sua vocação industrial, turística e de serviços.
Até hoje o Rio espera sentado por essas medidas. Razão pela qual, em 2010, uma única escola de samba exaltou os 50 anos de Brasília e, mesmo assim, sendo muito bem paga para isso.

GILLES LAPOUGE


Por trás do voto no Iraque, o embate entre EUA e Irã


O Estado de S. Paulo - 05/03/2010
 
 
O Iraque vai às urnas no domingo na segunda eleição livre no país desde a invasão dos Estados Unidos, em 2003. Raramente uma votação assumiu tanta importância e suscitou tantas esperanças.

Para toda aldeia iraquiana, por menor que seja, estará inaugurada uma nova época histórica. Ou melhor, o regresso do Iraque à História, depois das terríveis convulsões sofridas ao longo de 40 anos: a sórdida ditadura de Saddam Hussein, a guerra implacável contra o vizinho Irã, a guerra do Kuwait, os conflitos com os curdos, a guerra de George W. Bush... Os iraquianos "esperam um milagre" dessas eleições.

O interesse dos países estrangeiros não é menos profundo, como do Egito, Arábia Saudita, Síria. Mas dois países estão diretamente interessados: o Irã e os Estados Unidos. No caso de Washington, essas eleições, se tudo correr bem, constituirão o fim do "pesadelo" que foi a expedição de Bush, a possibilidade de repatriar de maneira pacífica os soldados americanos, e, finalmente, a volta a assuntos sérios, isso é, aos "negócios".

Washington acompanhará a disputa. Um dos candidatos é Ahmad Chalabi, ex-favorito de Bush, mas hoje considerado pelos EUA um "agente duplo", personagem intrigante, brilhante. O Irã gostaria de vê-lo à frente do governo iraquiano, no lugar do atual primeiro-ministro, Nouri al-Maliki, o qual, apesar de tudo, tem chance de conseguir um segundo mandato.

Assim como os EUA, o Irã, o grande país vizinho, acompanha atentamente o desenrolar dos fatos. Esse país - que, desde o aiatolá Ruhollah Khomeini, orquestra "o integrismo islâmico" em todo o mundo - está atualmente envolvido numa queda de braço com o Ocidente, e principalmente com os EUA, sobre a bomba nuclear.

A rivalidade entre os EUA e o Irã em relação ao Iraque é feroz. O problema fundamental é o seguinte: o futuro poder iraquiano continuará no círculo de influência americano ou penderá na direção do Irã?

Apesar de tudo, os iraquianos xiitas, que são árabes, mostram certa reserva diante do fluxo constante da ajuda e das pressões de iranianos, também xiitas, mas persas. Por outro lado, no momento em que o Iraque espera reencontrar uma legitimidade democrática, não devemos esquecer que o Irã é uma ditadura.

Mas é preciso pensar bem no que diz respeito ao futuro: os americanos deixarão o Iraque em 2011. Os iranianos ficarão. E a fronteira entre o Iraque e o Irã tem 1.400 quilômetros de extensão.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

SP dará crédito "verde" para empresas 


Folha de S.Paulo - 05/03/2010


A Nossa Caixa Desenvolvimento, agência de fomento paulista, lançará novas linhas de financiamento no valor de R$ 1 bilhão, no próximo dia 15.

O alvo da Linha Economia Verde são pequenas e médias empresas interessadas em crédito para projetos, como troca de máquinas e equipamentos, que ajudem as companhias a reduzir emissões de gases de efeito estufa.

As empresas beneficiadas devem ser privadas, com faturamento anual entre R$ 240 mil e R$ 100 milhões.

O presidente da Nossa Caixa Desenvolvimento, Milton Luiz de Melo Santos, disse que ainda não pode antecipar as condições de financiamento, mas que os juros e os prazos serão melhores do que os praticados atualmente pelo mercado.

"A operação é feita diretamente para a empresa, sem intermediação de um banco, que cobraria uma taxa pelo risco [da transação]", afirma.

Entre os setores que podem solicitar crédito da Linha Economia Verde estão agroindústria, transportes, saneamento, energias renováveis, eficiência energética, recuperação florestal, construção, entre outros.

As empresas em São Paulo devem cortar emissões em 20%, de acordo com lei estadual, de novembro. Os financiamentos também vão contribuir para elaboração de inventário de emissão de gases e de projetos de MDL (mecanismo de desenvolvimento limpo).

"Precisa fazer inventário para detectar quem emite mais."

JUÍZES DE NEGÓCIOS

"A economia brasileira está crescendo cada vez mais rápido e as empresas não podem perder tempo nos negócios." Essa é a afirmação do secretário-geral-adjunto da Câmara Arbitral de Milão (Itália), Rinaldo Sali, que está no Brasil para trocar informações e sugestões de cooperação com o Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá. "O potencial da arbitragem no Brasil é muito grande", diz. Ao traçar um paralelo entre a Itália e o Brasil, Sali vê similaridade entre as câmaras dos dois países, como os problemas de demora na justiça. "Com a arbitragem é possível ganhar tempo e dinheiro, além da competência dos árbitros, que são especializados no assunto, e da flexibilidade do processo", afirmou. Além de Milão, a Câmara de Comércio Brasil-Canadá já fechou convênios com entidades de Lisboa e Santiago. No país, os principais assuntos tratados na arbitragem são das áreas de direito societário, fusões e aquisições e contratos de construção de grandes obras, segundo Frederico Straube, presidente do Centro de Arbitragem.

SANTOS EM ALTA
Os preços de venda de imóveis corporativos em Santos variam de R$ 800 a R$ 2.450 o metro quadrado, segundo estudo da consultoria Binswanger Brazil. A valorização é puxada pelos investimentos da Petrobras em um centro de operações no município, que causou o aquecimento do mercado e a consequente falta de espaços, segundo Rafael Camargo, executivo da Binswanger.

PRODUÇÃO
A Mercedes-Benz confirma hoje novos investimentos e aumento da capacidade de produção da fábrica de São Bernardo do Campo (SP).

SINO
O presidente da TIM Brasil, Luca Luciani, toca hoje o sino de fechamento da Nyse, para marcar os 12 anos em que os papéis da operadora são negociados na Bolsa.

DAS ANTIGAS

A seguradora Mongeral Aegon comemora 175 anos em 2010. "É a quarta empresa mais antiga do Brasil, que não sofreu descontinuidade nem quebra", diz Helder Molina, presidente da companhia.

No ano passado, a seguradora associou-se à Aegon, uma das grandes dos EUA. Para 2010, a meta é fechar 150 parcerias com empresas e associações de classe. Falta, porém, educação financeira para derrubar preconceitos, afirma.

"Ninguém acorda querendo comprar seguro de vida. Nem vender", diz ele.
"Mas quantas famílias ficaram desestruturadas quando perderam o cabeça da família?"

BNDES atrai a atenção de fundos

O presidente do BNDES Luciano Coutinho almoçou esta semana, em Londres, com cerca de 15 executivos dos maiores fundos de investimento globais.

Os investidores estrangeiros mostraram interesse pelo banco, que tem apresentado desembolso elevado, resultado financeiro positivo e inadimplência reduzida, o que representa baixo risco.

Diante dos efeitos da crise financeira internacional, os executivos veem no BNDES uma boa oportunidade de investimento e deixaram claro que a emissão de títulos do banco no mercado externo seria bem-vinda.

Nesse quesito especifico, Coutinho, depois de responder a muitas perguntas sobre a economia brasileira, optou por apenas ouvir.

WASHINGTON NOVAES


A chave do clima nas mãos do Brasil

O ESTADO DE SÃO PAULO - 05/03/10


Por mais que se queira deixar de lado o tema, não se consegue. O agravamento quase diário dos "eventos climáticos extremos" e o impasse na área das negociações internacionais exigem que se volte à questão.

Vive-se um momento crítico, às vésperas de mais uma reunião preparatória (começo de abril, em Bonn, na Alemanha) da próxima assembleia da Convenção do Clima, esta programada para dezembro, no México. Cientistas de 27 países, que durante 15 meses se revezaram em expedições ao Ártico, informam que as previsões pessimistas para degelo até 2100 podem acontecer entre 2013 e 2030. A Organização Meteorológica Mundial avalia que os furacões, até o fim do século, serão menos frequentes, porém mais intensos (O Globo, 23/2). E o Sul-Sudeste e o Centro-Oeste brasileiros continuam às voltas com inundações frequentes, deslizamentos e mortes.

Mesmo com tudo isso, não se consegue avançar nas negociações. As comunicações feitas até o fim de janeiro à convenção pelos países, sobre suas metas (não compromissos) de redução de emissões, deixam claro que não se chegará à redução global mínima para impedir que a temperatura planetária suba mais do que 2 graus, o que terá consequências muito graves. O embaixador chinês na convenção, Yu Qingtai, já deixou claro (Reuters, 25/2) que não será possível superar, este ano, as divergências entre os países industrializados, a China e os demais membros do bloco de emergentes (Índia, Brasil, África do Sul), juntando-se à opinião do secretário-geral da convenção, Yvo de Bôer, que, para complicar ainda mais as coisas, anunciou que em julho renunciará ao cargo e que não vê possibilidade de acordo antes de dois anos.

Quando se olha para os EUA, vê-se que o presidente Obama, para conseguir apoio do Congresso à sua política do clima, contraditoriamente assegura que permitirá mais explorações de petróleo e de gás no fundo do mar. E a Agência de Proteção Ambiental garante que ali só grandes fontes de emissões sofrerão limitações antes de 2013. As fontes menores, só em 2016. Enquanto isso, avançam os prejuízos. As 3 mil maiores empresas do mundo geram custo de US$ 2,2 bilhões anuais com problemas ambientais, diz o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). E o renomado consultor britânico para a área do clima Sir Nicholas Stern revê de novo seus cálculos e diz que enfrentar os problemas na área terá um custo anual de 2% do produto bruto mundial (US$ 1,2 trilhão), e não de 1%, como calculara.

Já a Agência Internacional de Energia (AIE) adverte que, sem acordo, as emissões de carbono tenderão a se elevar em 40% até 2030, porque a demanda por energia crescerá muito com a Índia tentando prover 400 milhões de pessoas que não têm energia - e fará isso recorrendo ao carvão -, enquanto a China urbanizará mais de 100 milhões de pessoas e ainda utilizará muito carvão. Com tudo isso, diz a AIE, a demanda mundial por petróleo continuará a subir (para 100 milhões de barris/dia) e o carvão passará de 42% para 44% do total.

Nessas condições, reacende-se a discussão que vem desde a Cúpula do Desenvolvimento Sustentável, em 2002, em Johannesburgo: como superar o problema, se a Convenção do Clima exige consenso para qualquer decisão e este parece inalcançável, com as divergências entre países industrializados, emergentes, G-77, países insulares e nações mais pobres? Naquele momento, chegou-se a pensar na criação de uma Organização Mundial do Meio Ambiente, mas concluiu-se que ela enfrentaria os mesmos problemas da ONU. Agora, numa reunião em Bali, ministros de meio ambiente de 135 países decidiram (Reuters, 26/2) retomar esse tema e promover novos estudos, tomando como base o formato da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Há quem pense que "só o mercado resolverá". Mas com que regras, que ninguém consegue explicitar, pois as divergências entre empresas não serão diferentes das que opõem países? Há quem creia num caminho baseado em acordos bilaterais ou multilaterais entre governos, mas o que se fará com as emissões dos que ficarem de fora? E ainda que se consigam acordos, como estendê-los a cada empresa e a cada pessoa? Se o caminho for a criação de uma taxa sobre as emissões de carbono, ela será paga no país da produção ou do consumo (os EUA consomem 35% da produção industrial chinesa e os países ricos detêm 80% do consumo total no mundo)?

Talvez a chave possa estar nas mãos do Brasil. Em 1997, quando se negociou o Protocolo de Kyoto, o Brasil apresentou proposta de que a contribuição de cada país para a redução de emissões deveria tomar por base suas emissões históricas e as emissões atuais. Considerados os dois números, verifica-se a que porcentagem dos gases poluentes acumulados na atmosfera (onde permanecem séculos) essas cifras correspondem. Em seguida calcula-se em quanto essas emissões totais de um país respondem pelo aumento da temperatura planetária. Obtido esse número, ele deve ser transformado na porcentagem das emissões globais que caberá a cada país reduzir. Essa proposta brasileira foi aprovada, em princípio, com a recomendação de ser submetida a estudos mais aprofundados. Mas nada aconteceu desde então.

Mas pode ser o único caminho justo que leve todos os países a um acordo, porque cada um responderá pelo que fez e faz, proporcionalmente ao todo. E se poderá escapar ao poço sem fundo da discussão entre países industrializados e os demais, em que um lado argumenta com a responsabilidade de quem emitiu mais ao longo do tempo (industrializados) ou emite mais hoje (emergentes, principalmente). Mas, para avançar por esse caminho, o Brasil precisará superar a limitação que tem no âmbito da política externa, de manter em qualquer circunstância uma posição conjunta com o G-77 ou os outros emergentes.

Mas é uma oportunidade histórica e decisiva. Não se deve nem se pode perdê-la.

MÍRIAM LEITÃO

Homens de Atenas 


O Globo - 05/03/2010


O primeiro-ministro grego, George Papandreau, começa hoje a circular por Berlim, Paris e Washington atrás de apoio ao país, depois de anunciar esta semana seu terceiro pacote fiscal. Os dois primeiros não convenceram muito, nem as autoridades dos maiores países europeus a ajudar a Grécia, nem os mercados. Ao fim do périplo, talvez os gregos respirem aliviados.

O ministro da economia, George Papaconstantinou, comparou a manobra que o governo socialista está fazendo, para mudar o rumo dos acontecimentos econômicos e fiscais do país, com o esforço para desviar o Titanic do confronto desastroso.

Posto assim, parece tarefa digna do famoso semideus da Grécia Antiga.

Como nenhum dos dois Georges é Hércules, é melhor apostar em soluções menos olímpicas.

O terceiro pacote descontenta funcionários públicos, comerciantes, taxistas, fumantes, contribuintes em geral, mas apesar disso uma pesquisa indica que 60% dos gregos apoiam os esforços do governo para superar a crise causada pela herança maldita da farra fiscal do governo anterior.

O imposto sobre valor agregado subiu de 19% para 21%, espalhando o impacto nos preços em geral. Aumentou o imposto sobre cigarros, bebidas alcoólicas, carros de luxo e combustíveis.

Os cortes de gastos públicos vão atingir as bonificações recebidas pelos funcionários públicos no Natal, na Páscoa e no verão.

Juntos, esses extras cortados significam um mês de salário. Os aposentados terão suas pensões congeladas.

O combate à sonegação exigirá recibo de todo mundo, até de taxista.

Tudo isso feito com um propósito: convencer os países europeus, especialmente a Alemanha, a dar um empréstimo de US$ 27 bilhões à Grécia para que o país possa pagar seus compromissos de curto prazo, que vencem em dois meses.

Se rolar isso, o governo acha que conseguirá, com mecanismos de mercado, rolar o restante da dívida pública, que vence ao longo do ano, de mais 53 bilhões de euros.

Os europeus, Alemanha à frente, estão prisioneiros de dois medos: ajudar a Grécia e, desta forma, criar um moral hazard que leve todos os outros países com alta dívida, alto déficit e baixa capacidade de financiamento – como Portugal, Espanha, Irlanda, Itália – a apostar que a ajuda virá de qualquer maneira.

Não ajudar, e ver o primeiro caso de um país cuja moeda é o euro a entrar em moratória. Por isso, o terceiro caminho que se busca é apertar as exigências sobre a Grécia para que o país faça todo o esforço fiscal possível, cortando na própria carne, e tendo uma meta de déficit público declinante, como pré-requisito para ter o apoio. Hoje em 12,7% do PIB, o déficit tem que cair para 8,7% no final do ano e ir até 2012 a 3%. Se o cerco não fosse feito aos gregos, todos os outros países em dificuldade iriam bater às portas da Alemanha para pedir ajuda sem disposição para fazer o esforço fiscal. Por isso, a Grécia está firmando o modelo de que a ajuda será possível se houver esforço interno para ajustar as contas.

O caso da Grécia mostra que o mundo não mudou.

Países ricos estão com déficits e dívidas altas, mas continuam rolando suas dívidas a preços baixos; países que não fazem parte dessa elite do planeta não conseguem rolar suas dívidas a baixo preço. Tudo o que Papandreau está fazendo é para ter um objetivo, como disse à imprensa: “Quero rolar minha dívida ao mesmo preço que os outros países do euro.” Ontem, três pacotes fiscais depois, muito protesto nas ruas e greves, ele conseguiu captar 15,5 bilhões de euros no lançamento de novos títulos, mas com juros de 6,4%, dois pontos percentuais acima do que é pago pelos portugueses e o dobro do que paga a Alemanha.

A demanda foi boa porque os investidores estão contando que a ajuda ao país virá.

O mercado está convencido de que, no final das contas, os países da União Europeia vão fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar que um dos seus membros declare moratória.

Se houver dúvida sobre isso, o custo da dívida volta a disparar como nas últimas semanas. A Grécia tem um plano B que é pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e entrar então naqueles velhos programas de austeridade fiscal fiscalizada, em troca de empréstimos cheios de condicionalidades, que conhecemos tão bem. O FMI já disse que está preparado para abrir negociação com a Grécia, mas que entende que os europeus queiram primeiro resolver entre eles a questão dos países com dificuldades fiscais. A conclusão dessa guerra helênica é uma só: de que é apressado e perigoso concluir que a austeridade fiscal, o controle do crescimento da dívida, são objetivos do velho e ultrapassado mundo ortodoxo.

Há muita gente aqui no Brasil entendendo assim o que houve no mundo nos últimos dois anos. Como disse na semana passada o economista José Roberto Mendonça de Barros: “aqui, todos começaram keynesianistas e terminaram gastadores.” O gasto excessivo continua sendo um perigoso desestabilizador das economias.

A crise grega é em si um problema para a proposta de uma moeda comum. Ela se sustentava na ideia construída pelo Tratado de Maastricht, de que todos tivessem o mesmo comportamento fiscal responsável.

Agora se viu que vários dos 27 países não ficaram dentro dos limites fiscais. Isso não aconteceu apenas no tempo da gastança na época da crise.

Mesmo antes, os governos já estavam gastando mais do que era necessário e prudente.

FARSA

JOSÉ AGRIPINO MAIA


O que faz o DEM ser diferente

FOLHA DE SÃO PAULO - 05/03/10


Gostaria que o Brasil nos compreendesse. Não houve "mensalão do Democratas". A expressão fica preservada como patrimônio de outros

O EPISÓDIO envolvendo dirigentes e parlamentares do Distrito Federal oferece ao país a oportunidade de acompanhar a maneira como um partido pode comportar-se diante de situações de crise.
A oportunidade também de comparar partidos e comportamentos.
Na desfiliação do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, do vice-governador, Paulo Octávio, do deputado Leonardo Prudente e na dissolução do diretório regional, o Democratas não deu espaço para conveniências imediatistas ou de ordem pessoal. Optou pelo respeito à ética, encarada pelo partido como um valor permanente da vida política.
Levado a cortar na carne e punir filiados de longo tempo, o DEM mostrou ao Brasil que não convive com a improbidade e não aceita a impunidade.
Em novembro do ano passado, o governador Arruda foi exposto à opinião nacional em imagens que o mostravam na prática de ações inaceitáveis. Diante da gravidade das denúncias então veiculadas, o senador Demóstenes Torres, o deputado federal Ronaldo Caiado e eu apresentamos à Executiva do partido representação com pedido de expulsão do governador em rito sumário.
Como é comum nas democracias, todo partido tem linhas diversas de pensamento. A Executiva acatou o pedido, decidindo pela concessão de um prazo de oito dias para a apresentação da defesa.
Próximo ao final do prazo, confrontado com a iminência da sua expulsão, o governador José Roberto Arruda pediu desfiliação. O vice-governador, Paulo Octávio, e o deputado Leonardo Prudente desfiliaram-se após algumas semanas e o diretório regional do partido foi dissolvido.
Em consequência da ação da Executiva partidária, os envolvidos nos episódios do Distrito Federal não poderão candidatar-se a nenhum cargo nas próximas eleições.
Enquanto isso, impõe-se uma reflexão: onde andam os implicados no escândalo dos aloprados? Onde andam os mensaleiros? Onde andam os camufladores de dólares em roupas íntimas? Seguramente, não são do Democratas. E o povo sabe quem continua a acobertá-los.
Dentro da Executiva, pelo diálogo, chegou-se a um entendimento unânime. Prevaleceu no partido a ideia de que ninguém teria, ao julgar colegas, o direito de agir por meio de sentimentos pessoais.
Ao partido, como instituição, impunha-se a tarefa de dar exemplo, cumprindo sua obrigação, fazendo o que outros, em circunstâncias semelhantes, não tiveram a coragem de fazer.
As atitudes foram guiadas pela convicção de que as instituições devem estar acima dos sentimentos que, por serem humanos, são falíveis.
Todo processo traumático de tomada de posição costuma se transformar em referência. Ficam os exemplos -positivos ou negativos. Impôs-se a decência.
Gostaria que o Brasil nos compreendesse. Não houve, portanto, "mensalão do Democratas". Os ilícitos denunciados circunscreveram-se estritamente ao governo de Brasília e não envolveram filiados de outras unidades da Federação.
O partido providenciou, no tempo adequado, o expurgo exigido pelos fatos no Distrito Federal. Detectado o problema, o corrigimos drasticamente, afastando os envolvidos com irregularidades. Em nenhum momento contestamos as evidências exibidas pelos meios de comunicação ou alardeamos a existência de conspirações.
O futuro vai nos reservar o direito de dizer que fizemos história partidária. A expressão "mensalão" fica, assim, preservada como patrimônio de outros partidos que não souberam ou não puderam distanciar-se do território da corrupção.
Vamos reconstruir o DEM no Distrito Federal. O senador Marco Maciel foi designado para recompor os quadros do diretório regional com homens e mulheres que se orgulhem do que o partido fez na crise de Brasília. Continuaremos nosso trabalho.
Atravessamos uma trilha amarga, mas fizemos o que tínhamos que fazer para nos apresentar como referência de rigor na não convivência com a impunidade. Tenho certeza de que, mais à frente, irão reconhecer esse nosso esforço. Não pelo que eu digo, mas pelos fatos.
JOSÉ AGRIPINO MAIA , 65, engenheiro civil, é senador da República pelo DEM-RN e líder de seu partido no Senado Federal. Foi governador do Rio Grande do Norte (1983-1986 e 1990-1994)