sexta-feira, janeiro 22, 2010

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

A desmontagem da fraude tira o sono dos patrulheiros

22 de janeiro de 2010

“Por que vocês não param de falar da Dilma?”, não param de berrar, cada vez mais estridentes, as patrulhas do stalinismo farofeiro. Porque não se deve parar no meio o serviço que começou com a destruição da fantasia da superexecutiva incomparável, costurada para camuflar a gerente de microempresa de subúrbio. É preciso concluir a desmontagem da farsa forjada para instalar na presidência da República uma Dilma Rousseff que não há.

O Brasil que vê as coisas como as coisas são já enxerga com nitidez uma candidata sem brilho, sem modos, sem ideias, sem rumo. E ouviu nesta semana uma oradora bisonha despejando palavrórios indecifráveis sobre plateias sonolentas. O Brasil do faz-de-conta enxerga o que quer e transforma em tribuno até aprendiz de camelô. Na passagem de Dilma por Minas, viu o nascimento de uma estrela dos palanques.

“Uma boa estreia no debate político”, diz o título da nota publicada pelo jornalista Ilimar Franco no Globo desta quinta-feira. ”Muito comemorado no governo o discurso de Dilma Rousseff sobre a oposição e o PAC”, informa o texto. “O presidente Lula e seus assessores avaliam que ela dissipou quase todas as dúvidas existentes quanto ao traquejo e a sensibilidade da candidata do PT. (…) A reação da oposição (…) mostrou, segundo eles, que Dilma é boa de briga”.

Nesta sexta-feira, num sindicato em São Paulo, Dilma exibiu-se outra vez ao lado do padrinho. ”É preciso discutir o que será do país pós-Lula”, ensinou num trecho da discurseira. . “Isso não significa dizer que será preciso começar tudo outra vez. Será uma continuidade do processo e precisamos de vontade política para mudar o país”. Lula ouviu aquilo com cara de pai da noiva. E condecorou a afilhada. “A bichinha está palanqueira, palanqueira de primeira”, fantasiou. Ninguém ousou discordar.

Prisioneiro da formação intelectual indigente, incapaz de descobrir se alguém deve inscrever-se no Enem ou reinvidicar uma cátedra em Harvard, é possível que Lula ache mesmo que Dilma é um colosso. Mas o coro dos contentes não é feito só de lulas. Muitos sabem que nem o mais po-popular dos presidentes elege uma nulidade de alto risco. Sabem que Dilma seria pulverizada por um Jânio Quadros no primeiro minuto do primeiro debate. Sabem que a mulher que mente compulsivamente é ela própria uma mentira.

É possível que os grandes eleitores de Dilma andem mentindo a si mesmos. É possível que tenham resolvido acreditar na mentira que inventaram. Talvez acreditem que a oposição não passa de um conglomerado de idiotas. Talvez achem que o país engole tudo. Seja qual for a alternativa correta, cumpre aos brasileiros decentes impedir o assassinato da verdade e o triunfo da fraude. É preciso mostrar aos arquitetos da fraude que o Brasil ainda faz sentido.

RUY CASTRO

Zumbis na passarela

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/01/10

RIO DE JANEIRO - Quando se imaginava que a morte por inanição de duas ou três modelos brasileiras iria restabelecer o primado de mulheres minimamente saudáveis nas passarelas, as semanas de moda em São Paulo e no Rio voltaram a apresentar o costumeiro desfile de "grotesqueries", a ponto de alguns na plateia se perguntarem se esta ou aquela menina não estaria doente. A resposta é: "Claro que está".
Se a média de idade das atuais modelos for de 20 anos, significa que elas tinham menos de 15 quando trocaram suas quatro refeições diárias por uma dieta de água, café e cigarros para ficar no peso ideal para estilistas e agências. Considerando-se que ainda estavam em fase de crescimento quando aderiram a esse ritual macabro, não admira que seu índice de massa corporal, avaliado pela Folha, seja igual ao de uma criança.
Há muito me convenci de que o sonho dos criadores de moda era ter como modelo o zumbi Cesare, interpretado por Conrad Veidt, no filme de Robert Wiene, "O Gabinete do Dr. Caligari", de 1920. Ele era magérrimo, tinha cabelos pretos escorridos e úmidos, grandes olheiras, beiços de batom escuro e usava uma malha preta inteiriça que lhe realçava os braços e pernas de graveto. A diferença para com as modelos de hoje é que Cesare se vestia melhor.
E essa é a contradição. Talvez eu não frequente os ambientes certos, mas não vejo as "criações" exibidas na passarela se transferirem para as ruas. Nem poderiam. Como imaginar que roupas criadas para menores de 50 kg se adaptem às mulheres da vida real, cujo dia a dia se compõe de cachorro quente, batata frita e torta de brigadeiro?
Ou talvez o mundo da moda seja apenas uma outra forma de teatro, em que -ao contrário deste, que retrata a vida- as pessoas se vistam a caráter para morrer.

GOSTOSA

CELSO MING

Disparada no meio da crise


O Estado de S. Paulo - 22/01/2010

A economia da China se expandiu a espantosos 8,7% ao longo de 2009, ano em que o resto do mundo mergulhou na recessão e no desemprego, na maior crise econômica global desde os anos 30.

A informação foi passada ontem por Ma Jiantang, diretor do Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês). No quarto trimestre do ano, a atividade econômica cresceu 10,7% em relação ao quarto trimestre de 2008, acima da expectativa dos especialistas, que não previam mais do que 10%.

Quando a crise mundial se agravou, o governo chinês tomou as mesmas providências tomadas pelas autoridades monetárias e fiscais do Ocidente. Baixou os juros, estimulou o crédito e distribuiu vantagens tributárias que incentivaram o consumo e absorveram parte da produção que não pôde ser mais destinada ao mercado externo, porque as encomendas haviam despencado.

Os números das Contas Nacionais da China agora divulgados mostraram que o governo de Pequim foi eficiente (bem mais do que os governos dos países ricos) em neutralizar os efeitos negativos da crise. Mas a velocidade da expansão da atividade econômica não é sustentável. Tende a provocar inflação e a escalada da bolha imobiliária.

Uma espiada nos avanços do PIB em cada trimestre de 2009 dá boa ideia disso. Foi de 6,2% no primeiro trimestre (em relação ao primeiro trimestre do ano anterior), de 7,9% no segundo, de 9,1% no terceiro e, como já adiantado, de 10,7% no quarto.

Esses números mostram que a economia da China medida pelo tamanho do PIB em dólares já chegou aos US$ 4,9 trilhões. E, se for levado em conta que o yuan (a moeda chinesa) está excessivamente desvalorizado, um câmbio mais realista talvez puxasse o valor do PIB para perto dos US$ 5,5 trilhões, equivalente ao PIB do Japão.

O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, e as autoridades da área monetária já anunciaram mão pesada para controlar a inflação. Dia 12, o Banco do Povo da China (banco central) aumentou em 0,5 ponto porcentual o valor da retenção compulsória (o volume de dinheiro dos depositantes que o banco tem de recolher ao banco central) e agora cresce a expectativa de que vem aí uma puxada nos juros primários com o objetivo de desacelerar o crescimento.

Se isso se confirmar, o impacto sobre a economia mundial deve ser imediato. Em primeiro lugar, na medida em que o ritmo das encomendas da China ao resto do mundo terá de ser reduzido, tendem a ajustar-se (para baixo) as cotações do petróleo, das matérias-primas e dos principais alimentos. Em segundo lugar, a recuperação da economia mundial deve, também, ser mais lenta e isso freia as exportações de certos países ricos, especialmente da Alemanha, dos Estados Unidos e do Japão. E, em terceiro lugar, alguma consequência sobre a atuação dos bancos centrais dos países ricos deve acontecer.

Mas ainda não está claro se a perspectiva de um ralentando na recuperação global pode adiar o enxugamento dos recursos despejados durante a crise que os bancos centrais estão planejando ou se, ao contrário, pode acelerá-lo, uma vez que o banco central da China está mostrando que o ajuste deve ser feito o quanto antes.

Confira:
Despencaram - Esse foi o estrago sobre as ações dos grandes bancos americanos provocado pela decisão do presidente Barack Obama de limitar o tamanho e as aplicações dos bancos nos Estados Unidos.

ARI CUNHA

Um dia no Haiti


Correio Braziliense - 22/01/2010

Nenhuma imagem no pensamento poderia alcançar a realidade de Porto Príncipe. A diferença entre acompanhar as notícias e estar lá é indescritível. Um lugar que já era arrasado e cujo clamor de socorro o mundo tentou calar, tapando a boca dos desafortunados com dinheiro. Ao ver um repórter, homens e crianças se juntam ao redor apenas para pedir. Pedir qualquer coisa. Até um olhar serve. Cheiro de corpos em decomposição, trânsito caótico, choro. As armas não matam a fome nem a sede da população. Como tudo o que há, vem o lado bom. A solidariedade humana, o choro dos soldados ao resgatar mais uma pessoa viva, os braços abertos e o sorriso do garotinho que dias depois conseguiu voltar à luz do sol. Os Estados Unidos ganham com a experiência, porque também esperam um terremoto. O Brasil é visto com a simpatia do mundo, mesmo com a dor de também ter perdido bravos soldados. (Circe Cunha)

A frase que foi pronunciada

“A única coisa que nos salva da burocracia é a ineficiência.”
» Zé, aluno que se formou no Ilal e não consegue manter a matrícula na faculdade.

Entendimentos

» Argentina e Brasil têm entendimentos para liberar importações e exportações. Os negócios estão sendo feitos em moedas nacionais. A intenção de ambos é equilibrar importações e exportações.

Estrada

» A DF-05, ligando o Varjão ao Paranoá, está com duas vias. Não foram construídos os pontos de ônibus. Na chuva, moradores se encolhem nas paradas de madeira. A sinalização é deficiente. O motorista está sujeito a desencontro. A linha de retorno do piscinão não está sinalizada. Um descuido faz o automóvel bater no canteiro de entrada.

Medição

» Em alguns lugares de muitas obras, o trabalho de produção é interrompido pelo pessoal da medição. O faturamento está sendo feito em alguns lugares.

Cocô de cães

» Cento e cinquenta e três euros é o que Paris está cobrando de quem não apanha o cocô dos cães que sujam as ruas. O fato tem tido tal importância, para que as pessoas que não acompanham cães sejam protegidas pela lei, que está ao lado delas.

Um ano de Obama

» Barack Obama comemora o primeiro ano à frente do governo norte-americano. Continua em conversa com o Congresso, que bem conhece. O povo aplaude suas posições sem que a demagogia tome conta da política. O fato é que Obama prometeu governar com a popularidade que agrada ao povo. Os Estados Unidos têm sofrido, mas convivem com nova história de amizade intercontinental.

Opinião

» Embaixador Sérgio Amaral entende que Obama ganhou com o programa de saúde e outros. Ele se desvincula de movimentos não populares. Recebeu o mérito da paz, ainda que mantenha guerras em favor dos EUA. Não perdeu a esportiva.

Burocracia

» Mérito ao ministro da Educação, Fernando Haddad. Os funcionários terceirizados que atendem na recepção do ministério são muito educados. Porém, pouco instruídos, não têm a menor intenção em desburocratizar. São necessários muitos minutos à espera de respostas.

Má imagem

» Continuamos pagando as dívidas das visitas, e temos base financeira. Diz o presidente Lula que o Brasil mantém boa fase financeira. A má imagem do Brasil está saindo de foco, principalmente na França. Aviões de fabricação francesa fazem visita ao Brasil a qualquer momento.

História de Brasília

Aquela valeta sobre a qual falamos ontem, existente na Quadra 31, foi aberta pela Civilsan. Era para a colocação das manilhas. Acontece que a Manesmann não mandou as braçadeiras e a empresa empreiteira, que não teve o cuidado de verificar o trabalho, viu-se obrigada a interromper o serviço. Agora, estão tentando soldar as junções e colocar piche, mas não deu certo também. (Publicado em 23/2/1961)

GOSTOSA

MARK DAVIS

Não inveje a economia da China

O Estado de S. Paulo - 22/01/2010


Por que os Estados Unidos não conseguem ser mais parecidos com a China? Essa pergunta sempre surge quando o tema da conversa são os atuais problemas da economia americana. Milhões de americanos estão desempregados, empresas estão falindo, proprietários de imóveis estão sendo desalojados em massa.

Mas a China está a todo vapor. Soubemos esta semana que a China ultrapassou a Alemanha como a maior exportadora do planeta. Os consumidores chineses hoje compram mais carros no ano do que os americanos. E proximamente a China vai superar o Japão e se tornar a segunda maior economia do mundo.

Não fique surpreso ao saber que os Estados Unidos ainda estão em primeiro lugar. Mas reconheço que podemos ter dúvidas quanto a isso, diante de todas as dificuldades que estamos atravessando.

A economia da China, você deve saber também, não se deixou afetar pela crise financeira. Os líderes chineses injetaram bilhões de recursos na economia, para estimulá-la, como fez também o governo americano. Pediram aos bancos para emprestarem mais, como ocorreu nos Estados Unidos. A diferença chave está na maneira como os banqueiros reagiram.

Nos Estados Unidos, eles tergiversaram, disseram que sim, mas nada fizeram. Na China, fazem o que Pequim manda. Apesar de todas as reformas de mercado, a economia chinesa é planificada e o poder político controla os recursos.

Todos esses eventos e a posição da China, da qual ela pode se congratular, foram matéria de capa do The New York Times na semana passada. Segundo o editorial, muitas pessoas se preocupam que a China não conseguirá manter esse ritmo de atividade e, de alguma maneira, as coisas acabarão mal e todos nós vamos sofrer com isso. E o artigo prossegue afirmando, como muitos outros editoriais, que os nossos problemas econômicos em parte se devem à política cambial chinesa.

Então, por que os Estados Unidos não conseguem ser mais como a China? Muitos americanos não iriam tolerar, graças a Deus. Existe um grande risco num sistema econômico centralizado que agora está funcionando muito bem na China. E basta olhar para um dos vizinhos da China para ver a que ponto esse sistema pode ser prejudicial.

Veja as medidas adotadas há um mês pela Coreia do Norte com relação à sua própria moeda. O governo decidiu emitir uma nova moeda (cortando dois zeros que costumavam aparecer em cada cédula) em meio a uma inflação galopante. Uma ação decisiva. E devastadora.

Os líderes norte-coreanos autorizaram cada cidadão do país a trocar apenas $ 150 do dinheiro antigo e contas de poupança pela nova moeda, segundo o The Wall Street Journal. Qualquer valor mais virou papel. Esse foi o ponto central do plano.

O objetivo dos líderes norte-coreanos era acabar com a economia paralela, que opera nas sombras do sistema controlado pelo Estado. Pyongyang continua seguindo a direção errada, mesmo observando o milagre econômico da vizinha China, em meio à abertura da economia e dando direito de escolha ao consumidor.

Minha pergunta não é por que os Estados Unidos não podem ser mais parecidos com a China. Eu me questiono o quanto mais a China se assemelhará aos Estados Unidos.

*Mark Davis é colunista do "Kansas City Star"

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Com receita recorde, Brasilcap cresce 9%

Folha de S.Paulo
- 22/01/2010


A Brasilcap, braço de capitalização do Banco do Brasil, encerrou o ano passado com faturamento recorde de R$ 2,3 bilhões, expansão de 9% na comparação com o ano anterior.
O avanço da receita foi resultado de novas estratégias da companhia, que teve como foco o lançamento de novos produtos, aumento do tíquete médio e investimento no segmento empresarial, segundo Márcio Lobão, presidente da Brasilcap. A empresa divulga hoje os números de 2009 ao mercado.

Outra ação que alavancou o faturamento foi disponibilizar o pagamento de títulos via cartão de crédito para não correntistas do Banco do Brasil.

A reestruturação societária da Brasilcap, anunciada pelo BB no início deste ano, irá contribuir para o crescimento da companhia, diz Lobão. "A Icatu Hartfort Seguros tem know-how em trabalhar em canal alternativo. Iremos vender fora do balcão do Banco do Brasil."

Antes da reestruturação, os sócios da Brasilcap eram também concorrentes entre si, e agora as carteiras passaram a ser uma só. Para Lobão, o potencial de crescimento é muito grande. "O mercado de capitalização é o menor da área de seguridade. E é o que tem maior potencial de capitalização."

No início deste mês, o BB anunciou a saída da SulAmérica e da Aliança da Bahia na Brasilcap, e, em consequência, a maior participação da Icatu.

A Brasilcap, a maior empresa do mercado de capitalização, continuará sendo privada, com 50,1% das ações ON (com direito a voto) nas mãos da Icatu -que antes tinha 17%. O BB terá 49,9%. Com a aliança, o banco irá ampliar a sua fatia no capital total da companhia dos 49,9% para 74,9%, ficando com 100% das ações PN. Com a Icatu, a fatia de mercado da Brasilcap sobre o faturamento irá subir de 23% para 31%.

O volume de reservas técnicas -montante relativo aos depósitos efetuados pelos clientes detentores de títulos- atingiu R$ 3,6 bilhões no ano passado, com crescimento de 18,3%.
Já o lucro líquido caiu para R$ 85 milhões, devido ao fato de o resultado de 2008 ter sido inflado pela venda de ativos e à queda dos juros. Para 2010, Lobão prevê crescimento do faturamento acima de 12%.

Banco Móvel
O Banco do Brasil havia montado um banco itinerante com o intuito de percorrer as praias durante o verão deste ano. Mas, antes de seguir viagem ao litoral, o carro, equipado com sala de atendimento e caixa eletrônico, vai atender a população vitimada pela enchente em São Luiz do Paraitinga. O banco também pode aproveitar a unidade, que disponibiliza saldo, extrato, saque, pagamento de contas e contratação de crédito, para bancarização, com abertura de conta e registro de CPF.

Retorno 1
As operações de ofertas públicas estão de volta, definitivamente. O escritório Barbosa, Müssnich & Aragão já tem quatro ofertas em andamento, que podem ser concluídas até março. O Demarest & Almeida tem duas em andamento e outras em estudo. "Muitas operações que ficaram em espera em 2009 estão para sair. No segundo trimestre, haverá ainda mais", afirma Thiago Giantomassi, sócio da área de mercados de capitais do Demarest.

Retorno 2
Todas as novas ofertas que terão início neste ano deverão estar em conformidade com a instrução nº 480 da CVM. A nova norma também contribuiu para aquecer a demanda das empresas nos escritórios, segundo Camila Goldberg, sócia do Barbosa, Müssnich & Aragão.

ENDEREÇO 1 Depois que a Abrace (associação de grandes consumidores industriais de energia e de consumidores livres) mudou sua sede de São Paulo para Brasília, para ficar mais perto dos órgãos do governo ligados ao setor, alguns executivos da entidade não quiseram acompanhá-la e mudar de endereço. Um grupo de ex-executivos da Abrace se uniu para abrir uma consultoria em energia, a Nova Geração Energia.

ENDEREÇO 2 Com sede em São Paulo, a empresa inicia atividades neste mês. Vai realizar serviços técnicos e comerciais especializados na área de gás natural e energia elétrica. A Nova Geração Energia prestará serviços para migração de empresas ao mercado livre, gestão de contratos, apoio regulatório e comercialização.

ROMANCE O novo livro "Mosaico da Economia - (In)confidências sobre a Atualidade Brasileira" (editora Saraiva, 336 páginas, R$ 39,90), de Eliana Cardoso, economista-chefe para a região da Ásia do Sul no Banco Mundial, aborda as economias brasileira e mundial contextualizadas por passagens de romances, poesias, óperas e filmes. Neste livro, Cardoso também relata experiências e ideias próprias.

NAVEGANTE O governo do Pará recebeu R$ 520 milhões do governo federal para retirar rochas que impedem a navegabilidade do rio Tocantins. Com a conclusão das duas eclusas de Tucuruí, a hidrovia Araguaia-Tocantins pode ser operacionalizada e receber embarcações de grande porte até o fim de 2012.

NA PISTA A Copa Airlines recebeu dois novos Boeings-737/ 800. A empresa fez encomenda de 13 Boeings-737/ 800 no ano passado, com opção de compra de outros oito aviões. Também confirmou aquisição de duas aeronaves, chegando a 15 encomendas no ano. A Copa tem ainda 26 a serem recebidos até 2015.

DESEMBARQUE John Grill, presidente e fundador da Worley Parsons, grupo australiano que adquiriu da Camargo Corrêa a empresa de projetos Cnec Engenharia, desembarca no Brasil neste final de semana. Grill vem dar início à transição das operações e à expansão dos negócios da empresa na América Latina.

EXPERIÊNCIA O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa hoje de evento em que a Natura vai assinar protocolo de intenções para pesquisar novas tecnologias em pele e cabelo em parceria com o Laboratório Nacional de Luz Síncroton, localizado no Laboratório Nacional de Biociências, em Campinas.

SERVE PARA DILMA

ARMÍNIO FRAGA

Consumo como motor do crescimento: modelo perneta*

VALOR ECONÔMICO


Essa não é condição suficiente para o crescimento sustentável, longe disso



Para o Brasil crescer de 5% a 7% deve investir mais, especialmente em infraestrutura, e se esforçar mais na educação

O Brasil é tido como o mais ocidental dos Brics - uma democracia cheia de vida, uma sociedade aberta, permeável às novidades e sabores mundiais.

Uma característica que sustenta essa visão é que o consumidor brasileiro parece ser totalmente americano, e digo isso nem como insulto nem como elogio, mesmo depois da confusão econômica mundial que ainda estamos digerindo. As famílias brasileiras gostam de comprar as últimas inovações e preferem gastar em itens que melhorem seu bem-estar de curto prazo, em vez de economizar para os dias chuvosos. Isso explica, em parte, o baixo índice de poupança no Brasil - que vem flutuando em torno a 17% do PIB nos últimos dez anos, proporção de contraste gritante com a da China, na faixa entre 45% e 50%.

Essa discrepância maciça também é estimulada pela diferença entre as redes de segurança social das duas nações: a do Brasil tem cobertura ampla (assistência médica, educação e seguridade social universais) e extravagante (aposentadoria prematura com pagamento integral, por exemplo), enquanto a da China é bastante modesta.

Recentemente, uma boa parte do crescimento no consumo baseou-se no rápido aumento da captação de crédito pelos consumidores. A taxa de dívida em relação à renda das famílias subiu de 18% a 35%, entre o início de 2005 e o fim de 2009. Essa expansão foi puxada pela queda nas taxas de juros, maior estabilidade e previsibilidade da economia e aperfeiçoamentos legais e de regulamentação nos mercados de crédito (que levaram a spreads de crédito mais baixos). Mais à frente, essa fonte de expansão poderá chegar a um limite temporário, porque a carga dos serviços das dívidas sobre as famílias (amortização mais juros) agora é de 25% de sua renda, um número elevado. Ainda poderá haver alto crescimento no consumo, mas isso exigirá aumento mais rápido da renda, taxas de juros mais baixas e vencimento mais longo das dívidas.

Outro motor-chave do aumento na demanda vem sendo o crescimento da renda da faixa mais pobre da população. Nos últimos seis anos, o crescimento anual da renda dos 30% da camada mais baixa superou os 9%, enquanto nos 30% de cima a alta foi a metade disso. O crescimento a taxas chinesas que vemos na faixa inferior é certamente bem-vindo, uma vez que a distribuição de renda no Brasil é uma das mais distorcidas no mundo. Com esforços adicionais no front da educação, esse crescimento animador aliado a esse padrão de distribuição pode continuar por mais tempo. Isso provavelmente sustentará um maior aprofundamento da estabilidade política, um atributo importante, que tende a criar um círculo virtuoso de prosperidade econômica.

Até agora, discuti alguns dos motores do crescimento do consumo no Brasil. O consumo, claro, é crucial para o crescimento e os recentes desenvolvimentos o colocam em posição proeminente no mapa brasileiro. Não é, no entanto, uma condição suficiente para o crescimento sustentável, longe disso. O Brasil precisa poupar e investir mais. Nos últimos 15 anos, os investimentos mostraram uma média muito baixa, de 16,5% do PIB. Recentemente, na esteira da recuperação, subiu um pouco, para cerca de 19% do PIB. O aumento foi em grande parte financiado pelos mercados de capitais e pela ampliação dos empréstimos de longo prazo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ainda assim, para o Brasil levar seu índice de crescimento para uma taxa sustentável de 5% a 7%, precisará investir mais, especialmente em infraestrutura, além de esforçar-se mais na educação.

Aqui, o contraste com a experiência do Chile é interessante. Após a saída do general Pinochet, havia um grande temor de que o retorno à democracia trouxesse de volta o populismo e instabilidade macroeconômica. Quando os social-democratas assumiram o poder e se saíram extremamente bem na gestão da economia, a taxa de investimento em relação ao PIB rapidamente avançou em cerca de 5 pontos percentuais. Desde então, o Chile vem sendo o queridinho da América Latina.

No Brasil, sempre se pensou que receios similares quanto a uma vitória do Partido dos Trabalhadores seriam um fator-chave para explicar taxas de crescimento e investimento modestas. Quando o presidente Lula assumiu o cargo e demonstrou, de forma rápida e confiável, que pretendia defender a estabilidade macroeconômica duramente conquistada, as expectativas acalmaram-se e imaginou-se que haveria um salto similar na taxa de investimento. Mas isso nunca ocorreu, por vários motivos, incluindo as finanças retesadas do governo, as decorrentes altas taxas de juros e uma estrutura de regulamentação ainda inadequada em algumas áreas importantes.

Apesar dessa deficiência, o Brasil conseguiu elevar sua taxa de crescimento para uma faixa entre 4% e 5% nos últimos anos, graças a poucos anos de grande prosperidade mundial e a um setor privado muito eficiente. As tensões de uma infraestrutura em estágio de desgaste, contudo, são visíveis a olho nu e provavelmente frustrarão as expectativas altamente otimistas agora predominantes nos mercados financeiros, a menos que algo seja feito em breve.

O Brasil está entrando agora em uma campanha eleitoral que poderia trazer uma ideia para onde as coisas deverão ir. Muitos por aqui sentem que a recente crise deu um cheque em branco para a volta ao antigo modelo de grande presença do Estado na economia. Ninguém discorda de que o Estado precisa desempenhar um grande papel. Nosso Estado, contudo, já é bem grande. O encargo tributário total aproxima-se de 38% do PIB, número muito elevado para um país de renda média.

Para haver um salto na taxa de crescimento, algumas decisões políticas difíceis terão de ser tomadas, incluindo uma reorientação dos gastos do governo em direção ao investimento. Apenas isso, entretanto, não será suficiente para fazer o trabalho, portanto, o investimento do setor privado e a poupança terão de desempenhar um papel crucial. Isso exigirá uma abordagem mais pragmática e crível sobre a regulamentação e a coordenação.

*Publicado no Economists Forum, em série do FT sobre mercados emergentes.

Armínio Fraga é presidente do conselho de administração da Gávea Investimentos e BMF&Bovespa e ex-presidente do Banco Central do Brasil

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Brasil: uma fronteira cruzada

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/01/10



Só evitaremos um deficit crescente se ocorrerem profundas mudanças na política econômica do governo

OS DADOS relativos às nossas contas cambiais em dezembro mostram de forma clara o que alguns analistas vinham alertando já há algum tempo: uma mudança forte de sinal na conta-corrente do Brasil. Nos últimos anos os elevados saldos positivos em nossas transações comerciais e financeiras com o mundo foram uma das forças mais importantes nas mudanças ocorridas no Brasil. Pela primeira vez em várias décadas as reservas brasileiras ultrapassaram o total de nosso endividamento externo.
Essa nova situação provocou uma expressiva apreciação do real e deu início a um processo de desinflação e aumento dos salários reais após 2005. Esse aumento do poder aquisitivo do brasileiro foi fundamental no movimento que nos colocou entre os países mais admirados pelos investidores internacionais.
Entre 2006 e o início da crise internacional foi a força de nossas contas externas que permitiu uma transição sem inflação entre o forte crescimento da demanda interna e o aumento posterior da oferta resultante da maturação dos novos investimentos privados.
As importações em um ambiente de moeda em processo de valorização foram as responsáveis por evitar desta vez a tradicional armadilha em que sempre caímos no Brasil em situações semelhantes. Por isso chamo a atenção para uma nova fase que vamos viver e que se caracteriza por um deficit crescente da conta-corrente do nosso balanço de pagamentos.
Só evitaremos essa situação se ocorrerem profundas mudanças na política econômica do governo, principalmente do que tomará posse em janeiro de 2011. Na Quest estamos prevendo um deficit externo de US$ 60 bilhões no ultimo ano do período Lula e de cerca de US$ 90 bilhões no primeiro ano do novo presidente. São números expressivos e que vão recolocar na ordem do dia a questão dos riscos que poderemos correr em um ambiente externo menos favorável.
Devo lembrar que isso ocorre em um ambiente de medíocre investimento, principalmente do setor público. Se houver um bem-vindo aumento em futuro próximo, os números do deficit poderão ser maiores do que os previstos. Certamente muitos analistas vão dizer que mesmo um deficit dessas dimensões poderá ser facilmente financiado pela entrada de investimentos diretos e capitais financeiros, principalmente para a compra de ações brasileiras. Outros adicionarão ainda que, como a dívida externa brasileira é pequena, será fácil buscar o equilíbrio de nossas contas cambiais com a emissão de dívida em moeda estrangeira.
Tudo isso é verdadeiro se as coisas correrem normalmente nos próximos anos, como espero também. Mas aprendemos com o passado, principalmente com a crise que ainda está no ar, que uma economia como a brasileira não pode ficar dependente de uma situação de contínua normalidade, sem trancos de tempos em tempos. Em outras palavras, os riscos associados a uma nova situação de descontinuidade na economia mundial serão muito maiores daqui em diante.
E o mercado vai precificar isso ao longo dos próximos meses, principalmente em momentos de tensão e busca de investimentos de menor risco. A taxa de câmbio será o preço de ativo mais sensível a esse tipo de situação que passa a existir. Minha primeira impressão é que, mesmo em um cenário benigno no exterior, o real ao longo deste ano vai se desvalorizar entre 5% e 10%. E a sua volatilidade nos mercados de câmbio vai aumentar bastante.

GOSTOSAS

VINICIUS TORRES FREIRE

A guerra de Obama contra a banca

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/01/10



Presidente americano propõe ampla reforma a fim de limitar tamanho e atuação dos bancos e diz estar "pronto para a briga"


"SE ESSA gente quer brigar, estou pronto para a briga." Foi com frases como esta que Barack Obama anunciou ontem o mais importante plano de reforma do sistema financeiro americano desde 1933. De um modo sumaríssimo, Obama pretende: 1) limitar o tamanho dos bancos; 2) proibi-los de negociar títulos e ações com seu próprio dinheiro; 3) proibi-los de serem proprietários ou de algum modo financeira ou legalmente responsáveis por fundos de hedge e de "private equity". É uma amputação.
A paulada de Obama derrubou as ações de bancos, provocou aumento de juros e do custo de seguros financeiros, enfim, piorou o faniquito do mercado que começara anteontem.
Em tese, se as intenções de Obama pudessem se tornar realidade sem maiores dificuldades, a amputação da atividade bancária provocaria a princípio uma seca nos mercados de ações e derivativos.
Por outro lado, é difícil entender como, num mercado financeiro tão interconectado, os bancos poderiam exercer várias atividades essenciais sem tomar posições próprias no mercado de derivativos ou de securitização, por exemplo. De resto, se algumas instituições desistirem do status de bancos, o problema apenas terá mudado de nome -haverá riscos imensos não segurados pelo Estado, mas com os mesmos perigos "sistêmicos" em caso de quebra.
Mas essa é uma história para outro dia. O mais relevante agora é que Obama está em guerra aberta contra a banca.
O presidente americano foi acusado de populismo. A popularidade de Obama tem baixado. Os democratas vêm perdendo eleições parciais importantes. As pesquisas registram ainda mau humor crescente com o socorro do governo aos bancos, com o excesso de gastos federais e com o desemprego alto e resistente.
O projeto parece politicamente suspeito. Trata-se de uma grande mudança de rumo nas políticas em relação ao sistema financeiro. Obama parece ter aderido às ideias de Paul Volcker, ex-presidente do Fed lendário por ter acabado com a inflação americana dos anos 1970-80.
A "velha escola" de Volcker prefere um sistema financeiro mais controlado e simples, à maneira do que vigorou entre 1933, ano da lei bancária conhecida como Glass-Steagall, e quase até 1999, quando tais normas foram de vez para o arquivo morto.
A face mais conhecida da lei de 1933 era a separação de bancos estrito senso (instituições que recebem depósitos) de bancos de investimento. Mas Timothy Geithner (secretário do Tesouro) e Larry Summers (principal assessor econômico) jamais deram apoio a tais ideias. Foram adeptos ou promotores da liberalização financeira -Summers como sub e secretário do Tesouro de Clinton, Geithner como presidente do Fed de Nova York durante o governo de George Bush 2.
Ambos vinham defendendo mudanças apenas no sentido de exigir que os bancos tenham um colchão maior de capital para cobrir perdas, mudanças que vêm sendo discutidas nos principais comitês internacionais que discutem as reformas financeiras, como o de Basileia.
No discurso de ontem, Obama reclamou outra vez do "exército de lobistas" da banca que tentam barrar "regras de bom senso" para "proteger a economia e o povo americano".

MÔNICA BERGAMO

Madeeeira!

Folha de S.Paulo - 22/01/2010


A chegada da Fórmula Indy ao entorno do sambódromo deverá mudar a paisagem local. A prefeitura autorizou o corte de 16 árvores e o transplante de 19 para fazer o circuito. O acordo diz também que os organizadores deverão preservar 245 árvores, plantar mais cem e remover duas que estão mortas.

CAMPUS
Funcionários de portaria de 23 unidades da USP ameaçaram fazer greve por não terem recebido salário da empresa terceirizada para o serviço. A situação se resolveu há alguns dias, depois que a USP falou em romper o contrato. Alguns funcionários chegaram de fato a cruzar os braços -informação que a USP diz desconhecer.

ME DÁ UM DINHEIRO AÍ
A Fecomercio-SP divulga hoje pesquisa sobre a percepção de aumento de crédito: 82% dos 2.200 entrevistados com renda familiar de mais de dez salários mínimos acreditam que conseguir empréstimo para comprar a prazo está mais fácil agora do que há um ano. Entre os que ganham até dez salários, 68% acham que a situação melhorou.

MAIS VERDE
O cemitério da Consolação pode virar um "cemitério parque". A Secretaria Municipal de Cultura encampa a ideia.

REI DO BLUES
O Bourbon Street também pode abrigar show da turnê de B.B. King. Falta o patrocínio. No Via Funchal, além do show no dia 19 de março, também haverá apresentação no dia 20.

FRANQUIA 1
De José Padilha, diretor de "Tropa de Elite", brincando sobre transformar em trilogia o filme, que tem segunda versão confirmada: "A gente pode fazer o "Tropa de Elite - Origens", com o Capitão Fábio pequenininho, roubando a merenda na escola. Daí, vem o Capitão Nascimento pequenininho e dá uma bolacha na cara dele".

FRANQUIA 2
O diretor tem outra "ideia": "Dá pra fazer o "Vatapá 3-D", com o Wagner Moura todo pintado de amarelo na Bahia!"

ENCOMENDA
Para viver sua primeira vilã de novela, em "Passione", Mariana Ximenes assiste a uma bateria de filmes. O autor Silvio de Abreu disse para ela se inspirar em Bette Davis e na sensualidade de Brigitte Bardot.

JESUS FAZ MILAGRES

Nos bastidores da SPFW, modelos comentam o status de Jesus Luz, namorado de Madonna, no evento. "Jesus é tão poderoso que transforma pão em pizza", diz Raphael Lacchine, que já fez trabalhos em Milão e Paris. "A gente tava comendo sanduíche e, de repente, sentiu um cheirinho de pizza. Era pra Jesus", brinca ele, acompanhado dos amigos Rael Costa e Vinicius Piccoli. "É que Jesus é top", comenta alguém. Os três começam então a imitar o moço desfilando, com poses, caras e bocas. "Parece que tá mancando."

CURTO-CIRCUITO
O COMPOSITOR e violonista Chico Pinheiro faz show hoje, às 20h, no Sesc Vila Mariana. Classificação etária: livre.
A ESTILISTA Isabela Capeto arma festa para convidados hoje, às 21h, no espaço Manioca, para celebrar o desfile na SPFW. O ATOR Pedro Cardoso reestreia a peça "Os Ignorantes" hoje, às 21h30, no teatro Bradesco. Classificação etária: 16 anos.
OS CANTORES Toni Garrido e Falcão são os convidados de Carlinhos Brown no Sarau du Brown, no dia 31, no Museu du Ritmo, em Salvador. Classificação etária: 16 anos.

GOSTOSA

ELIANE CANTANHÊDE

Fora de hora

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/01/10


Segundo o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, a candidata do PT, Dilma Rousseff, "mentiu no passado sobre seu currículo e mente hoje sobre seus adversários, usa a mentira como método".
E, para os presidentes do PT, Ricardo Berzoini, que sai, e José Eduardo Dutra, que entra, o candidato do PSDB, José Serra, é "hipócrita" por se preservar e usar Guerra como "um jagunço da política".
Não é enriquecedor? O polo do bate-boca e do bate-nota é se, em caso de vitória, os tucanos vão ou não acabar com o PAC, como ele fosse algo mais do que três letrinhas de objetivo midiático. Mas isso é o de menos, mero pretexto.
As acusações são vagas, adjetivas e inconsequentes, acompanhadas de mais uma representação da oposição na Justiça contra a propaganda ilegal de Dilma e Lula, como se só eles descumprissem a lei e só a lei eleitoral fosse descumprida.
Além de toda a sua irrelevância, esse nível de "disputa política" é grosseiramente inoportuno.
Enquanto isso... os eleitores assistiam pela TV às homenagem aos 18 militares e ao diplomata Luiz Carlos da Costa, que morreram representando o Brasil na missão de paz da ONU no Haiti.
Enquanto isso... os eleitores viam, horrorizados, a tragédia que não está no Haiti, mas aqui nas nossas barbas: as enchentes e desabamentos que já mataram quase 60 pessoas em São Paulo e mais de 70 no Rio desde o final de 2009. São famílias inteiras soterradas nos Estados mais ricos, mais populosos e com os maiores colégios eleitorais do país, ao lado de Minas.
A meteorologia prevê mais tempestade hoje para o Rio, e São Paulo continua com milhares de pessoas que perderam suas casas e seus pertences sem saber para onde ir, como e por quanto tempo. Quem quer governar o país deveria ter mais o que fazer do que trocar desaforos vazios -e que, certamente, não dão voto para ninguém e podem tirá-los de todos.

LUIZ GARCIA

Preconceitos

O GLOBO - 22/01/10

Não há qualquer dúvida de que os cidadãos da etnia negra ainda são cidadãos de segunda classe no Brasil.

A forma irresponsável e mesmo cruel com que foi abolida a escravidão, tirando quase toda a população negra das senzalas e jogando praticamente todos os ex-escravos na miséria, com toda a liberdade para morrerem de fome, criou o problema social que existe até hoje. A maioria dos cidadãos negros — não seria exagero algum falar em grande maioria — continua na base da pirâmide social. E o preconceito que existe, se existe, parece ser muito mais social do que racial.

Isso é apenas uma constatação, não um argumento contrário à necessidade de políticas públicas que enfrentem mais o problema social, que é real e sério, e menos o fantasma do preconceito — que certamente ainda existe, mas a cada dia menos assustador.

A cor da pele não impede o acesso aos mais altos cargos da administração pública e do Judiciário — mas a pobreza histórica, não o preconceito, limita o número dos beneficiados.

Essa constatação óbvia não impede que, com a bênção e o estímulo de áreas oficiais, proliferem propostas e pressões no sentido de combater um suposto, pelo menos exagerado, racismo na sociedade. É o caso das conclusões de iniciativas governamentais recentes, como a II Conferência Nacional de Cultura e a Conferência de Política de Igualdade Racial, de junho passado.

Nada há de errado, por exemplo, em pedir, se existirem casos documentados, a punição de empresas de comunicação por divulgação de material de cunho deliberadamente racista ou involuntariamente preconceituoso.

Mas é simplesmente absurdo, por outro lado, fixar em 20%, e isso já foi proposto, a presença de negros, índios e cidadãos de outras etnias em programas de rádio e TV. Como se fosse natural e democrática essa intromissão, por exemplo, no roteiro de uma novela. E o que justifica a porcentagem? Falando sério, alguém nota qualquer sombra de preconceito na formação dos elencos de uma novela de TV? Por outro lado, o que diriam os donos dessa ideia se alguém defendesse uma percentagem fixa de brancos no desfile de uma escola de samba? É razoável pedir punição para jornais ou TVs que deliberadamente abriguem matérias ou programas de cunho racista. Mas essa proposta ganharia mais validade se fosse acompanhada de alguns exemplos. Seria interessante conhecermos quais são as empresas de mídia capazes de semelhante burrice.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS

Guerrilha e redemocratização

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/01/10


Pela má qualidade do texto do PNDH-3 e pelo viés ideológico ditatorial, dificilmente essas propostas passarão no Legislativo


OREGIME de exceção, em que o Brasil viveu de 1964 a 1985, foi encerrado, não por força da guerrilha -que terminou, de rigor, em 1971-, mas principalmente pela atuação da OAB, à época em que figuras de expressão a conduziam, como Raymundo Faoro, Márcio Thomaz Bastos, Mário Sérgio Duarte Garcia e Bernardo Cabral, e de parlamentares como Ulysses Guimarães, Mário Covas e Franco Montoro, entre outros.
Tenho para mim que a guerrilha apenas atrasou o processo de retorno à democracia, pois ódio gera ódio, e a luta armada acaba por provocar excessos de ambos os lados, com mortes, torturas e violências.
Muitos dos guerrilheiros foram treinados na mais antiga e sangrenta ditadura da América (Cuba) e pretendiam, em verdade, apenas substituir uma ditadura de direita por uma ditadura de esquerda.
Os verdadeiros democratas, a meu ver, foram aqueles que, usando a melhor das armas, ou seja, a palavra, obtiveram um retorno indolor à normalidade, sem mortes, sem torturas, sem violências.
A Lei da Anistia, proposta principalmente pelos guerrilheiros, foi um passo importante para a redemocratização, pois possibilitou àqueles que preferiram as armas às palavras a sua volta ao cenário político. A lei, à evidência, pôs uma pedra sobre o passado, sepultando as atrocidades praticadas tanto pelos detentores do poder, à época, como pelos guerrilheiros. E foram muitas de ambos os lados.
Num país em que o ódio tem pouco espaço -basta comparar as revoluções de nossos vizinhos com as do Brasil para constatar que o derramamento de sangue aqui foi sempre muito menor-, tal olhar para o futuro permitiu que o Brasil ressurgisse, com uma Constituição democrática.
Nela, o equilíbrio dos Poderes possibilitou o enfrentamento de crises, como o impeachment, a superinflação, os mais variados escândalos, entre os quais o do mensalão foi o maior, e a alternância de poder sem que se falasse em rupturas institucionais. Vive-se -graças à redemocratização voltada para o futuro, e não para o passado- ambiente de liberdade e desenvolvimento social e econômico próximo ao de nações civilizadas.
O Programa Nacional de Direitos Humanos, organizado por inspiração dos guerrilheiros pretéritos, pretende, todavia, derrubar tais conquistas, realimentando ódios e feridas, inclusive com a tese de que os torturadores guerrilheiros eram santos, e aqueles do governo, demônios.
Essa parte do plano foi corrigida, tendo o presidente Lula admitido que, se for criada a comissão da verdade, há de apurar tudo o que de excessos foi praticado naquela época -por militares e guerrilheiros. Tenho a impressão de que isso não será bom para a candidata Dilma Rousseff.
O pior, todavia, é que o programa é uma reprodução dos modelos constitucionais venezuelano, equatoriano e boliviano, todos inspirados num centro de estudos de políticas sociais espanhol, para o qual o Executivo é o único Poder, sendo o Judiciário, o Legislativo e o Ministério PúblicoPoderes vicários, acólitos, subordinados. No programa, pretende-se fortalecer o Executivo, subordinar o Judiciário a organizações tuteladas por "amigos do rei", controlar a imprensa, pisotear valores religiosos, interferir no agronegócio para eliminá-lo, afastar o direito de propriedade, reduzir o papel do Legislativo e aumentar as consultas populares, no estilo dos referendos e plebiscitos venezuelanos, além de valorizar o homicídio do nascituro e a prostituição como conquistas de direitos humanos.
Quem ler a Constituição venezuelana verificará a extrema semelhança entre os instrumentos de que dispõe Chávez para eliminar a oposição e aqueles que o PNDH-3 apresenta, objetivando alterar profundamente a lei maior brasileira.
O programa possui, inclusive, "recomendações" ao Judiciário sobre como devem os magistrados decidir as questões prediletas do grupo que o elaborou, à evidência, à revelia de toda a população e do Congresso. Pela má qualidade do texto e pelo viés ideológico ditatorial, dificilmente essas propostas passarão no Legislativo. Se passarem, creio que o Supremo barrará tudo aquilo que nele fere as cláusulas pétreas constitucionais e os valores maiores em que a sociedade se lastreia.
Certa vez, ao saudoso crítico Agripino Grieco um amigo meu (Dalmo Florence) apresentou livro de poesia recém-lançado, pedindo-lhe a opinião. No dia seguinte, Agripino disse-lhe: "Dalmo, li o livro de seu amigo e aconselho a queimar a edição e, em caso de reincidência, o autor". Sem necessidade de adotar a segunda parte do conselho agripiniano, a primeira seria admiravelmente aplicável a esse programa de direitos desumanos.

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, 74, advogado, professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra, é presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio.

WASHINGTON NOVAES

A cada minuto, 12 hectares áridos

O ESTADO DE SÃO PAULO - 22/01/10


O alarido em torno do "fracasso de Copenhague", na reunião da Convenção do Clima, impediu que a comunicação desse destaque a algumas discussões ali ocorridas, entre elas as que se referiam ao tema da desertificação e suas relações com mudanças climáticas (uma das causas centrais da desertificação progressiva no mundo, onde esse processo avança à razão de mais de 60 mil km2 por ano, 12 hectares por minuto). É pena.

Ainda na nona reunião da Convenção da ONU sobre Luta contra a Desertificação, realizada em Buenos Aires, no final de setembro e começo de outubro, ficou claro que a situação continua a agravar-se. Só para focar mais perto de casa, foi dito ali que a América Latina e o Caribe já têm 25% de terras áridas, semiáridas e subúmidas secas. E destas, 75% com sérios problemas de degradação por causa do clima e do mau uso. Argentina, México e Paraguai são os países com mais problemas. Mas o Brasil tem mais de 1 milhão de km2 envolvidos no processo, dos quais 180 mil no Semiárido nordestino e mineiro, em situação mais delicada. Ao todo são 1.482 municípios (15% do território nacional) e 32 milhões de pessoas.

Segundo a ONU, no mundo 2 bilhões de pessoas vivem em áreas com terras secas predominantes - 40% da superfície da Terra. Dessas, 325 milhões (40% da população total do continente) estão na África, onde o processo evolui mais rapidamente que em qualquer parte. Até 2025, diz a ONU, a seca pode atingir 70% do planeta. De 1990 para cá, cresceu 15% a área atingida. E quase nada se tem avançado no enfrentamento do problema, devido, além do clima, a desmatamento, mau uso e degradação do solo, urbanização em áreas antes férteis (em 40 anos um terço das terras de cultivo foi abandonado). E esse caminho é dos que mais contribuem para o crescimento do número de "migrantes ambientais", que já são 24 milhões hoje e poderão ser 200 milhões em 2050.

Entre nós a situação é mais grave nos 180 mil km2 e, nestes, em Irauçuba (CE), Seridó (PB), Gilbués (PI) e Cabrobó (PE). Na Paraíba, segundo estudo da Embrapa e da Unicamp, 66,6% das terras férteis foram comprometidas pelo processo de desertificação; no Ceará, 79,6%; no Piauí, 70,1%. Mas parte pode ser recuperada, com caminhos e métodos adequados. Só que dos R$ 49,4 milhões destinados a enfrentar o problema entre 2004 e 2009 apenas 20% foram utilizados (Congresso em Foco, 11/4/2009).

Mas há caminhos para enfrentar o problema, no mundo e aqui. Entre nós, felizmente, passou a prevalecer a visão de que é preciso trabalhar a questão não tentando "combater a seca", e sim adotando um programa de "convivência adequada" com o Semiárido e suas possibilidades. A propósito, o escritor Ariano Suassuna, que cria cabras em região árida, costuma dizer - e provavelmente por isso já foi citado aqui - que "enfrentar a seca criando um Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, como fizemos, é como criar um departamento de combate à neve na Sibéria". Tarefa impossível.

No campo da água, propriamente, o caminho mais indicado para abastecer as populações que vivem em pequenas comunidades isoladas, onde não chegam nem chegarão adutoras com águas de transposição, é o das cisternas de placas, que recebem a água de chuva canalizada nos telhados e a depositam em reservatórios de paredes cobertas por placas que impedem a infiltração na terra. Por esse caminho, na estiagem, uma cisterna pode abastecer com 20 litros diários de água cada uma das pessoas na casa - "uma bênção", como disse ao autor destas linhas uma mulher no interior de Pernambuco, erguendo as mãos para o céu. Já se construíram mais de 200 mil cisternas de placas e é preciso chegar a 1 milhão - mas, infelizmente, o grosso dos recursos no Semiárido vai para o programa de transposição de águas do São Francisco, que não as atenderá, já que mais de metade da água transposta irá para programas de irrigação de produtos destinados à exportação e outra grande parte, para reforço do abastecimento de água das cidades que, em média, perdem mais de 40% da que sai das estações de tratamento.

Nas zonas rurais, o caminho está também em barragens subterrâneas e barragens encadeadas, que viabilizem cada vez mais programas como a cultura de caju, do umbu, da cera de carnaúba, de fibras e outras, além da apicultura, piscicultura (em reservatórios já existentes), caprinocultura e outras.

Em março, em Petrolina e Juazeiro, será realizado o Encontro Nacional de Enfrentamento da Desertificação, no qual se pretende construir um "pacto pelo desenvolvimento sustentável do Semiárido". Será uma boa oportunidade de avançar. Não apenas conceitualmente, mas acertando a destinação dos recursos imprescindíveis, que até aqui são quase ridículos. Abrindo para sua utilização caminhos corretos, que não sejam nem o das megaobras como a do São Francisco (muitas vezes comentadas aqui), nem os que acabam concentrando água para poucos beneficiários (como nos grandes açudes construídos durante décadas em propriedades privadas, sem beneficiar o grosso da população).

É preciso ressaltar, como tem feito a ONU, que a degradação da terra não é apenas consequência de mudanças climáticas, é causa também - como tem sido observado, principalmente, na África, onde a terra degradada é fonte geradora de emissões que intensificam o efeito estufa. A recuperação dessas terras ajuda a fixar carbono e até removê-lo da atmosfera. E nesse ponto entra em cena o problema do mercado mundial de carbono, em que os financiamentos continuam a escassear, ante a incerteza quanto do futuro do Protocolo de Kyoto e seu Mecanismo do Desenvolvimento Limpo, que destina recursos a esses caminhos.

Os novos conceitos permitem enfrentar dois problemas ao mesmo tempo, o do clima e o da pobreza - não esquecendo que hoje há mais de 1 bilhão de pessoas que passam fome todos os dias.

Washington Novaes é jornalista E-mail: wlrnovaes@uol.com.br

JAPA GOSTOSA

MERVAL PEREIRA

Troca de chumbo

O Globo - 22/01/2010

Uma das diferenças mais admiradas entre Lula e certos líderes da América Latina é o fato de ele não ter enveredado pela tentativa de um terceiro mandato, apesar da popularidade que possui. Esse seria um sinal, especialmente para os investidores estrangeiros, de que no Brasil a democracia está institucionalizada, a estabilidade política e econômica está assegurada e a alternância de poder é de fato possível.

Mesmo achando que Lula não deu trela aos que defendiam um terceiro mandato consecutivo por ser mais esperto politicamente que seus aduladores, compreendo que cada vez que o protoditador da Venezuela Hugo Chávez abre a boca para dizer absurdos, como acusar os Estados Unidos de ter provocado o terremoto no Haiti com o teste de uma nova arma que pretende usar para arrasar o Irã, cresce a importância de existir um Lula na América Latina.

Mesmo que Lula esteja mais próximo de Chávez do que seria desejável, como no caso de Honduras, ele ainda assim é uma barreira aos arroubos chavistas.

Não é por acaso que o presidente brasileiro é festejado em vários países do mundo, e acaba de ser laureado com o título de Estadista Global pelo Fórum Econômico Mundial, prêmio que receberá no final do mês em Davos, na Suíça.

Os líderes mundiais, aturdidos com a ação deletéria de Chávez pelo continente, que já gerou frutos como Evo Morales na Bolívia, Correa no Equador, os Kirchner na Argentina, Daniel Ortega na Nicarágua, louvam a presença sensata de Lula nessa arena latinoamericana enlouquecida.

Pela história de vida e pela comparação com os líderes regionais que o cercam, Lula cresce de tamanho diante dos olhos espantados dos “brancos de olhos azuis”, ainda culpados pela crise econômica internacional.

A formidável campanha publicitária de endeusamento de Lula faz com que a candidata oficial, Dilma Rousseff, diga que Lula é “um dos maiores líderes mundiais, se não o maior”. Esperando que essa entidade a eleja presidente do Brasil.

Mesmo sem ter lutado pelo terceiro mandato, Lula se coloca como o centro da próxima campanha presidencial ao anunciar que quer um plebiscito, do tipo “quem sou eu, quem és tu”, referindo-se indiretamente ao seu grande adversário político, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em relação a quem parece nutrir um complexo de inferioridade que nem todas as glórias do mundo conseguem aplacar.

A ministra Dilma Rousseff chamou o PSDB para briga ao atribuir ao partido a decisão de “acabar com o PAC”. Aproveitou-se de um escorregão do presidente tucano em entrevista à revista Veja que, no afã de desqualificar o programa de obras do governo, disse que ele não existia, e um futuro governo do PSDB acabaria com ele.

Atacado em seu flanco frágil, Guerra pegou pesado, chamando Dilma de “mentirosa” em nota oficial, e recebeu o troco de outra nota oficial do PT, que classificou de “desespero” sua reação à crítica de Dilma.

Ao jogar-se com tanta disposição na campanha eleitoral, Lula corre o risco de ofuscar sua candidata, mas parece não se incomodar com esse risco calculado.

Pois se não se jogar de corpo e alma na disputa, chamando para si a tarefa de derrotar o candidato do PSDB, Lula sabe que não conseguirá eleger Dilma.

Ontem, na primeira reunião ministerial do ano, Lula mostrou que não está tão seguro quanto finge estar quando discursa nos palanques.

Chamou o presidente do PSDB de “babaca”, e insinuou que o governador José Serra pode não se candidatar à presidência, permanecendo em São Paulo.

Sinais claros de que a disputa presidencial este ano não será amena. Dizem que chumbo trocado não dói. Mas a eleição presidencial caminha para ser das mais dolorosas dos últimos tempos.

A propósito da coluna de ontem, na qual relato as negociações que estão ocorrendo na Índia e nos Emirados Árabes para a compra de aviões de caça, a preços menores do que o governo brasileiro está pagando, Jean Marc Merialdo, representante da Dassault e do consórcio Rafale no Brasil, assegura que, dependendo das configurações, das missões, perfil de aviões de um país para o outro, os preços serão compatíveis.

O fato de a Índia comprar 126 aviões faz diferença no preço final, pois o Brasil está comprando apenas 36 aviões, diz ele.

Quandos e vende um conjunto de aviões não são apenas eles que entram na negociação, explica. Cada país, cada Força Aérea, tem suas exigências em termos de apoio logístico, que estará embutido no preço. O prazo pode ser de 3 anos, de 6 anos, ou 10 anos, e aí varia muito o preço total.

Segundo ele, é difícil dividir o preço total pelo número de aviões e dizer que pagamos um preço mais alto que outro país. Porque talvez haja outras coisas embutidas nos contratos, que não são iguais de um país para o outro.

O valor de US$ 10 bilhões, divulgado pela imprensa indiana e por sites especializados, não seria oficial, porque o governo da Índia não revelou quanto pretende gastar. A concorrência ainda está na fase técnica e inclui propostas comerciais distintas, que estão em envelopes lacrados.

Quanto aos Emirados Árabes, não há uma concorrência, a Dassault está negociando diretamente, e ainda não há uma definição de preços segundo ele. De acordo com as informações extraoficiais, que Jean Marc Merialdo não confirma, o pacote incluiria a compra de 60 aviões Rafale por um valor que varia de US$ 8 a 11 bilhões.

DORA KRAMER

Desmonte exemplar

O ESTADO DE SÃO PAULO - 22/01/10


Não são poucas nem amenas as críticas que se fazem ao Poder Judiciário quando cassa governantes eleitos em processos comprovadamente viciados pelo abuso do poder econômico ou quando impõe aos parlamentares e respectivos partidos um enquadramento mais rigoroso aos melhores costumes políticos.

O mínimo que se diz é que o Judiciário exorbita de suas funções e, em alguns casos ? como o da determinação para que assuma o segundo colocado na eleição do governador ou prefeito cassado ?, fala-se até em desrespeito à vontade do eleitor e, portanto, às regras da democracia.

Quanto às transgressões em si, contra as quais se batem cada vez mais os tribunais, comenta-se um pouco a respeito, manifesta-se indignação com a falta de decoro e ausência de senso ético por parte de suas excelências e toca-se a vida de consciência mais ou menos tranquila na base do "assim não é possível".

Essa é a rotina. Seja nas artimanhas montadas no Congresso Nacional para livrar acusados de acusações, seja nos artifícios espúrios engendrados nos Legislativos locais, cujo exemplo mais recente e eloquente é a operação abafa arquitetada pelo governador José Roberto Arruda e aliados na Câmara Distrital de Brasília.

Pois o juiz ? e ultimamente sempre aparece um juiz ? Vinicius Santos da Silva, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, numa decisão tão simples que chega a ser óbvia expôs o quanto essas falcatruas cada vez mais habituais nos Legislativos são, elas sim, danosas à democracia, por um fator de desequilíbrio nas atribuições dos Poderes.

Determinou que os oito deputados e dois suplentes envolvidos no escândalo de corrupção do DF sejam afastados das atividades relativas aos pedidos de impeachment do governador Arruda.

Diz o juiz Vinicius Santos Silva em seu despacho: "Em Estado de Direito não é dado a ninguém ser o julgador da própria causa, como se o interesse público do julgamento pudesse sucumbir às naturais tendências de autodefesa. Feriria de morte a legitimidade do julgamento."

No caso estava mais que ferida na composição das comissões encarregadas do exame dos processos, todas controladas por correligionários de Arruda.

Quando o Legislativo faz o que quer ao arrepio da lei ou quando muda a lei ao arrepio da probidade, ultrapassa as limitações impostas pelo Estado de Direito ao exercício do poder pelos donos de mandatos eletivos.

O Judiciário, neste e em outros casos, não exorbitou. Apenas recuperou o equilíbrio rompido pelo Legislativo, fazendo valer a Constituição.

Sobre isso, o despacho do juiz também é bastante claro: "O afastamento dos envolvidos, ao contrário de ser uma indevida interferência do Poder Judiciário, configura uma afirmação dos princípios mais caros ao Estado Democrático de Direito, a demonstrar que o jogo político tem de estar atento à lisura."

Nítido, certeiro e exemplar. Oxalá o Ministério Público e o Judiciário tivessem tido a mesma iniciativa em maquinações semelhantes ocorridas no Congresso Nacional, embora sempre seja tempo. No que depender dos Poderes Legislativos em qualquer âmbito, não faltarão novas oportunidades.

Não é garantia da "lisura" aludida pelo juiz. Mas ao menos expõe suas excelências à luz do sol e aos efeitos do sereno.

Aqui mesmo

O PSDB não precisaria ir tão longe, até o Chile, para descobrir que votos não se transferem automaticamente. Bastaria lembrar a eleição municipal de 2008, quando o presidente Lula perdeu as tentativas de eleger Marta Suplicy prefeita de São Paulo e de derrotar Micarla de Souza em Natal, as duas campanhas em que se expôs mais explicitamente.

Com Marta Lula perdeu duas vezes. Logo no primeiro mandato, em 2003, exortou a população de São Paulo a reeleger a então prefeita, derrotada no ano seguinte.

Táticas

O PT tende a recrudescer daqui até março nos ataques aos tucanos em geral e ao governador José Serra, em particular.

A ideia é a de que Serra possa pensar em desistir da candidatura presidencial ante a visão da guerra de extermínio.

Já ao PSDB agradou o ataque de Dilma Rousseff acusando a oposição de querer "acabar com o PAC". Não pelo conteúdo, que deixa os tucanos mal com a população mais pobre.

Gostaram da forma. Com Dilma na ofensiva, PSDB acha que pode estabelecer a polarização que lhe interessa: candidato contra candidato e não presidente (Lula) contra ex-presidente (Fernando Henrique).

Tubo bem

No caos das chuvas de dezembro em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab saudou o "lado positivo" das enchentes. Ontem, em meio à contabilização dos mortos na enxurrada, assegurou que as ações da prefeitura "estão surtindo efeito".