O GLOBO - 07/08
Lula ligou para Zé Dirceu, no fim de semana, para saber como está o ânimo do amigo.
Faltou quórum
Será que Dilma está sendo esnobada pelo empresariado?
Por falta de quórum, foi adiada de hoje para dia 14 sua reunião com 25 empresários pesos-pesados.
A data da volta
O advogado gaúcho Carlos Araújo, que foi casado com Dilma, com quem tem uma filha, marcou para dia 24 sua volta ao PDT. Araújo se afastou do partido há 12 anos.
A quem pergunta por que não vai para o PT, da ex-mulher, a resposta está na ponta da língua: "O PT virou um PMDB de esquerda.”
Nas redes sociais
Caetano Veloso não quis festejar seus 70 anos, hoje. Mas poderá receber mensagens dos fãs.
Para mandar parabéns ao nosso baiano basta acessar a página facebook.com/FalaCaetano ou usar a hashtag #Cae70anos no Twitter.
Filosofia aérea
Domingo, o piloto do vôo 5851 da Webjet (Brasília-Rio), depois das informações de praxe, deixou uma reflexão ao ar, com voz de locutor: "Pense bem e reflita: o pato perdeu a pata. Ele ficou perneta ou... viúvo?”
Foi aplaudido.
No mais
Na bolsa de apostas, um sábio do Direito acha que o STF, preocupado com a opinião pública, vai condenar alguns mensaleiros, "mas sem derramamento de sangue’!
Algo que lembra, segundo ele, a famosa frase de Pinheiro Machado (1851-1915): "Nem tão devagar que pareça afronta, nem tão depressa que pareça medo.” É. Pode ser.
AS APARÊNCIAS ENGANAM
Apesar do risco de queda de reboco em algumas marquises, quem olha para o alto em suas andanças pelo Rio pode ser recompensado com uma arte escondida na fachada de prédios antigos.
Após 12 anos de pesquisa, o fotógrafo e designer Luiz Eugênio Teixeira Leite documentou mais de mil ornamentos que guardam simbolismos da arquitetura carioca. O resultado está no livro “O Rio que o Rio não vê”
(Aori). Em dois casos, o designer descobriu raridades, como baixo-relevo em metal
folheado a ouro baseado na partitura do primeiro arranjo do Hino Nacional (numa rotunda do Teatro Municipal, na foto de baixo) e a imagem do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” na forma de um... asno, num prédio da Rua Teófilo Otoni 152 (foto de cima). Eugênio suspeita que a maldade foi vingança do artista contra o construtor, que não lhe pagou em dia. Ou seria uma brincadeira de algum adepto do jogo do bicho? Deu burro na cabeça (veja mais fotos no site da coluna) •
Essa negra fulô
A Casa de Rui Barbosa, no Rio, ampliou seu acervo sobre o escritor alagoano Jorge de Lima (1893-1953) com doações da filha Maria Teresa Alves Jorge de Lima.
São documentos pessoais, objetos, esculturas, fotos e cartas.
Rainha da paz
Elba Ramalho foi fazer uma peregrinação em Medjugorje, na Bósnia-Herzegovina.
O lugar tem atraído muitos visitantes e artistas por causa de notícias recentes de aparições da Virgem Maria. Numa delas, numa área marcada por guerra civil, a santa se apresentou como "rainha da paz’!
É pra rir ou pra chorar?
Sobrou para Erasmo Carlos num dos documentos da censura na ditadura pesquisados pelo historiador Douglas Attila Marcelino.
Diz que o Tremendão, que nunca foi de se meter em política, "ao erguer e cerrar o punho’,’ no programa de Sílvio Santos, fazia um gesto... comunista.
Sobrou também...
O texto ainda acusa um câmera de focalizar a cena "com insistência”
Gois em Londres
Em Londres, Márcia Lins jantava no elegante restaurante The Wolseley, quando, na mesa ao lado, sentou-se... Paul McCartney!
A secretária de Esportes de Cabral não se conteve e mandou um bilhete, pelo maítre, convidando o ex-beatle para os Jogos de 2016, no Rio. O artista, fofo, respondeu: "Será um prazer estar no Rio mais uma vez.”
Boletim médico
O querido coleguinha Sérgio Cabral, pai, 75 anos, operou a vesícula no Hospital São Vicente, no Rio. Passa bem.
Baden eterno
Os filhos do genial violonista e compositor Baden Powell (1937-2000) — o pianista Philippe e o violonista Marcel
— vão celebrar com um show os 75 anos de nascimento do pai, quinta, na sala que leva seu nome, em Copacabana.
Morte da Justiça
O primeiro ano do assassinato da juíza Patrícia Acioli será lembrado sexta numa manifestação da ONG Rio de Paz.
Vinte e uma fotos de balas de revólver serão postas na areia da Praia do Copacabana, com a frase: "21 tiros na Justiça”.
Nome de rua
A Biblioteca Nacional recebeu de Beatriz Menezes documentos que pertenceram a seu bisavô Joaquim Xavier da Silveira Júnior (1864-1912), homenageado com uma rua em Copacabana.
Abolicionista e republicano, Xavier da Silveira foi prefeito do Rio em 1901.
Reage, Flamengo!
Deve ser coisa de vascaíno, tricolor ou botafoguense. Piadinha que circula sobre a má fase do Flamengo: sabe qual é a bebida que resulta da mistura de um ovo com o time do Fla? É o... "Ovomautime”
Faz sentido. Com todo o respeito.
terça-feira, agosto 07, 2012
Os mosqueteiros de Dilma DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 07/08
Se os advogados não conseguirem tirar a pecha de mensalão das costas do PT, Dilma será a candidata e, como a turma dela sabe da preferência da chefe por planejamento, um grupo de quatro ministros trabalha informalmente no sentido de avaliar a conjuntura para uma campanha pela reeleição
Com o ex-presidente Lula liberado oficialmente pelos médicos para voltar aos palanques e levar uma vida normal, os petistas voltaram a especular sobre uma possível candidatura dele à reeleição em 2014. Ele ainda é a maior estrela do PT, tem o maior Ibope. Só não será candidato se não quiser. Mas, na visão de alguns, falta a Lula a absolvição de seu partido no mensalão. E, como o próprio ex-presidente declarou recentemente que não concorrerá a um terceiro mandato, a sucessora, Dilma Rousseff, já tem dentro do governo um núcleo de ministros que, nas horas vagas, encarrega-se de discutir a perspectiva de a atual presidente concorrer ao segundo mandato.
São quatro os ministros escalados para essa tarefa: o da Educação, Aloizio Mercadante; o das Comunicações, Paulo Bernardo; a da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; e o de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, amigo de Dilma de longa data. Políticos da base aliada foram informados de que esse grupo costuma se reunir, no mínimo, uma vez ao mês para conversar sobre conjuntura política e as possibilidades de reeleição. A ideia é deixar tudo preparado para colocar esse projeto em prática, se for esse o caminho mais seguro.
No momento, integrantes do governo acreditam que, pelo menos até onde a vista alcança, esse caminho não apresenta grandes percalços. O governo Dilma tem uma avaliação que bate a do antecessor, Lula. Está totalmente descolada dos escândalos que afligem o PT. Logo, se os advogados de defesa não conseguirem tirar a pecha de mensaleiro do partido e a economia não der sinais de exaustão, ela é a candidata. E, como seguro morreu de velho, quer estar preparada para encarar o desafio.
Por falar em defesa...Ontem, a defesa dos réus da Ação Penal 470 estrearam na tribuna do Supremo Tribunal Federal, focados em tentar extirpar a sombra da formação de quadrilha que pesa sobre a antiga cúpula do PT e as acusações de compra de voto ou seja, o mensalão. Mas, no caso do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, alguns atentos advogados consideram que a parte técnica foi muito bem explorada ao dizer que não há testemunho sobre a acusação de que, enquanto ministro, Dirceu controlava tudo, inclusive o PT. Ou seja, muitos concordam que a tese de formação de quadrilha é fraca.
Mas faltou dizer que José Dirceu era sim, influente no partido — algo que qualquer político sabe. Na avaliação de alguns advogados, a perspectiva de a defesa não reconhecer a influência de José Dirceu no PT enfraquece argumentos em favor do ex-ministro. Afinal, não é segredo que Dirceu sempre teve — e ainda tem — grande ascendência sobre a legenda. Talvez, por economia de tempo, os advogados não tenham se debruçado sobre o fato de Dirceu influenciar, sim, as decisões do PT ao ponto de ser hoje um de seus maiores líderes.
Por falar em economia...Das variáveis conhecidas hoje, só a economia pode atrapalhar Dilma. E, diante da paralisação das obras do PAC e dos tropeços na Petrobras, área que a presidente domina, isso não é impossível. Não por acaso, os partidos aliados ao governo estão zonzos em relação ao futuro. Eles têm consciência de que Dilma é bem avaliada, de que o governo está em alta nas pesquisas, mas não engolem o jeitão da presidente. Muitos torcem veladamente pelo sucesso do senador Aécio Neves (PSDB-MG), hoje na casa dos 15% das intenções de voto, ou mesmo do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), na faixa dos 7%. Não acham difícil que um dos dois se saia bem nas urnas, ultrapassando a herdeira de Lula. O PT sabe dessas agruras. Por isso, vai logo anunciar em breve seu apoio formal a Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para presidir a Câmara dos Deputados. Assim, enquanto Dilma enrola o PMDB em relação a cargos em estatais e agências reguladoras, conforme já dissemos aqui, os petistas afagam Alves na esperança de evitar problemas no Congresso.
Por falar em Congresso...Os políticos acreditam que esse esforço concentrado analisará as medidas provisórias em pauta e adeus. Há uma combinação entre os integrantes da base de não deixar o parlamento muito ativo neste período de julgamento do mensalão. Uma caixa de ressonância a menos para um caso que constrange tanto o PT.
Se os advogados não conseguirem tirar a pecha de mensalão das costas do PT, Dilma será a candidata e, como a turma dela sabe da preferência da chefe por planejamento, um grupo de quatro ministros trabalha informalmente no sentido de avaliar a conjuntura para uma campanha pela reeleição
Com o ex-presidente Lula liberado oficialmente pelos médicos para voltar aos palanques e levar uma vida normal, os petistas voltaram a especular sobre uma possível candidatura dele à reeleição em 2014. Ele ainda é a maior estrela do PT, tem o maior Ibope. Só não será candidato se não quiser. Mas, na visão de alguns, falta a Lula a absolvição de seu partido no mensalão. E, como o próprio ex-presidente declarou recentemente que não concorrerá a um terceiro mandato, a sucessora, Dilma Rousseff, já tem dentro do governo um núcleo de ministros que, nas horas vagas, encarrega-se de discutir a perspectiva de a atual presidente concorrer ao segundo mandato.
São quatro os ministros escalados para essa tarefa: o da Educação, Aloizio Mercadante; o das Comunicações, Paulo Bernardo; a da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; e o de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, amigo de Dilma de longa data. Políticos da base aliada foram informados de que esse grupo costuma se reunir, no mínimo, uma vez ao mês para conversar sobre conjuntura política e as possibilidades de reeleição. A ideia é deixar tudo preparado para colocar esse projeto em prática, se for esse o caminho mais seguro.
No momento, integrantes do governo acreditam que, pelo menos até onde a vista alcança, esse caminho não apresenta grandes percalços. O governo Dilma tem uma avaliação que bate a do antecessor, Lula. Está totalmente descolada dos escândalos que afligem o PT. Logo, se os advogados de defesa não conseguirem tirar a pecha de mensaleiro do partido e a economia não der sinais de exaustão, ela é a candidata. E, como seguro morreu de velho, quer estar preparada para encarar o desafio.
Por falar em defesa...Ontem, a defesa dos réus da Ação Penal 470 estrearam na tribuna do Supremo Tribunal Federal, focados em tentar extirpar a sombra da formação de quadrilha que pesa sobre a antiga cúpula do PT e as acusações de compra de voto ou seja, o mensalão. Mas, no caso do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, alguns atentos advogados consideram que a parte técnica foi muito bem explorada ao dizer que não há testemunho sobre a acusação de que, enquanto ministro, Dirceu controlava tudo, inclusive o PT. Ou seja, muitos concordam que a tese de formação de quadrilha é fraca.
Mas faltou dizer que José Dirceu era sim, influente no partido — algo que qualquer político sabe. Na avaliação de alguns advogados, a perspectiva de a defesa não reconhecer a influência de José Dirceu no PT enfraquece argumentos em favor do ex-ministro. Afinal, não é segredo que Dirceu sempre teve — e ainda tem — grande ascendência sobre a legenda. Talvez, por economia de tempo, os advogados não tenham se debruçado sobre o fato de Dirceu influenciar, sim, as decisões do PT ao ponto de ser hoje um de seus maiores líderes.
Por falar em economia...Das variáveis conhecidas hoje, só a economia pode atrapalhar Dilma. E, diante da paralisação das obras do PAC e dos tropeços na Petrobras, área que a presidente domina, isso não é impossível. Não por acaso, os partidos aliados ao governo estão zonzos em relação ao futuro. Eles têm consciência de que Dilma é bem avaliada, de que o governo está em alta nas pesquisas, mas não engolem o jeitão da presidente. Muitos torcem veladamente pelo sucesso do senador Aécio Neves (PSDB-MG), hoje na casa dos 15% das intenções de voto, ou mesmo do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), na faixa dos 7%. Não acham difícil que um dos dois se saia bem nas urnas, ultrapassando a herdeira de Lula. O PT sabe dessas agruras. Por isso, vai logo anunciar em breve seu apoio formal a Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para presidir a Câmara dos Deputados. Assim, enquanto Dilma enrola o PMDB em relação a cargos em estatais e agências reguladoras, conforme já dissemos aqui, os petistas afagam Alves na esperança de evitar problemas no Congresso.
Por falar em Congresso...Os políticos acreditam que esse esforço concentrado analisará as medidas provisórias em pauta e adeus. Há uma combinação entre os integrantes da base de não deixar o parlamento muito ativo neste período de julgamento do mensalão. Uma caixa de ressonância a menos para um caso que constrange tanto o PT.
O crível e o incrível - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 07/08
BRASÍLIA - Perfeito que o advogado José Luis Oliveira Lima repila veementemente a acusação da Procuradoria-Geral da República de que seu cliente, José Dirceu, era "chefe da quadrilha" ou "chefe da organização criminosa".
Mas... só no admirável mundo dos advogados seria possível dizer, com toda a teatralidade cabível, que Dirceu, como chefe da Casa Civil, não mandava nada no PT, não articulava nada, não interferia sequer nas nomeações para cargos públicos.
Sinceramente, essa não dá para engolir, a não ser numa história romanceada do mensalão, em contraponto à que a Procuradoria criou para crianças e que irrita os petistas.
Quanto às audiências de Dirceu com banqueiros e empresários no Palácio do Planalto ("entre quatro paredes"...), Oliveira Lima disse que eram parte do trabalho do então ministro. Mas não explicou onde Delúbio Soares, Sílvio Pereira e Marcos Valério se encaixavam.
Chefes da Casa Civil, de fato, recebem em palácio representantes de bancos e de empresas, mas ao lado do tesoureiro do partido e do presidente? Com o secretário-geral desse partido? E o que fazia Marcos Valério no Planalto com as cúpulas de dois bancos diferentes?! É juntar alhos com bugalhos ou... ah, deixa prá lá.
Já o advogado de José Genoíno, Luiz Fernando Pacheco, lembrou, com propriedade, que seu cliente está longe de ser um homem rico e, ao contrário, tem uma vida até modesta. Mas caiu numa contradição: disse, primeiro, que o mensalão é "inventado e fantasioso" e, ao final, que Genoíno foi "arrastado pela irresponsabilidade de alguns". "Irresponsabilidade" é tradução para mensalão?
Os quatro advogados de ontem contaram uma mesma história, com um mesmo enredo, variando apenas quanto à importância dos personagens -ou clientes. No fim, todos induziram à mesma conclusão: foi tudo caixa dois. E a culpa é do Delúbio? Os 11 ministros podem ou não acreditar.
Mas... só no admirável mundo dos advogados seria possível dizer, com toda a teatralidade cabível, que Dirceu, como chefe da Casa Civil, não mandava nada no PT, não articulava nada, não interferia sequer nas nomeações para cargos públicos.
Sinceramente, essa não dá para engolir, a não ser numa história romanceada do mensalão, em contraponto à que a Procuradoria criou para crianças e que irrita os petistas.
Quanto às audiências de Dirceu com banqueiros e empresários no Palácio do Planalto ("entre quatro paredes"...), Oliveira Lima disse que eram parte do trabalho do então ministro. Mas não explicou onde Delúbio Soares, Sílvio Pereira e Marcos Valério se encaixavam.
Chefes da Casa Civil, de fato, recebem em palácio representantes de bancos e de empresas, mas ao lado do tesoureiro do partido e do presidente? Com o secretário-geral desse partido? E o que fazia Marcos Valério no Planalto com as cúpulas de dois bancos diferentes?! É juntar alhos com bugalhos ou... ah, deixa prá lá.
Já o advogado de José Genoíno, Luiz Fernando Pacheco, lembrou, com propriedade, que seu cliente está longe de ser um homem rico e, ao contrário, tem uma vida até modesta. Mas caiu numa contradição: disse, primeiro, que o mensalão é "inventado e fantasioso" e, ao final, que Genoíno foi "arrastado pela irresponsabilidade de alguns". "Irresponsabilidade" é tradução para mensalão?
Os quatro advogados de ontem contaram uma mesma história, com um mesmo enredo, variando apenas quanto à importância dos personagens -ou clientes. No fim, todos induziram à mesma conclusão: foi tudo caixa dois. E a culpa é do Delúbio? Os 11 ministros podem ou não acreditar.
As ameaças contra a OAB - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 07/08
A exemplo do que ocorreu há alguns anos, quando deputados denunciados por promotores de Justiça apresentaram projetos de lei para esvaziar as prerrogativas do Ministério Público, parlamentares da bancada evangélica estão querendo adotar o mesmo expediente para enfraquecer a OAB.
A ofensiva contra a entidade decorre dos discursos moralizadores que o presidente do Conselho Federal da OAB, Ophir Cavalcante, vem fazendo desde sua posse. Ao assumir o cargo, em 2010, ele criticou a corrupção da classe política, comparou o Congresso a um "pântano" e pediu a senadores e deputados federais que tivessem "mais vergonha na cara". Também foi implacável quando foram divulgados vídeos mostrando deputados distritais evangélicos de Brasília fazendo orações depois de receber propina. E em 2011, quando foi instalada a comissão especial encarregada de analisar alterações no Código de Processo Civil, Cavalcante vetou o nome indicado pelo PMDB como relator, o do deputado fluminense Eduardo Cunha, por não ser vinculado ao "mundo do direito".
Por sua vez, Cunha, que é um dos articuladores da bancada evangélica, passou a lutar contra a reeleição de Cavalcante e lançou uma campanha contra a OAB. Entre outras tentativas de retaliação, os parlamentares evangélicos apresentaram dois projetos de lei - um prevendo a eleição direta para a presidência da OAB, outro extinguindo o chamado exame da Ordem, a prova de qualificação para obtenção de registro profissional. O relator do segundo projeto é o pastor Marco Feliciano (PSC-SP), que já deu parecer favorável.
A prova de habilitação profissional - que tem uma taxa média de reprovação de 75% - vem sendo aplicada há 40 anos pela OAB. A entidade alega que ela é decisiva para impedir a entrada de bacharéis sem qualificação no mercado de trabalho. A bancada evangélica acusa o exame da Ordem de ser uma "reserva de mercado". Para os deputados evangélicos, o alto índice de reprovações é a forma pela qual a entidade controla a entrada de novos advogados no mercado de trabalho, evitando assim que o aumento na oferta de serviços jurídicos reduza o nível salarial da categoria. Atualmente, há 1.259 faculdades de direito no País. Elas têm 700 mil alunos e formam 90 mil bacharéis por ano.
Como esses bacharéis têm de pagar para se submeter ao exame de qualificação profissional, a bancada evangélica também acusa a OAB de tê-lo convertido em fonte de lucro, assegurando o ingresso de R$ 70 milhões por ano aos cofres da entidade. E como ela tem o estatuto jurídico de autarquia especial, os parlamentares evangélicos alegam que sua contabilidade é "inacessível", na medida em que não precisa ser submetida ao TCU.
Alegando que esses recursos são gastos de modo perdulário, Cunha e Feliciano anunciaram que, na volta do recesso parlamentar, proporão a abertura de uma CPI para investigar as contas do Conselho Federal da OAB. Além disso, divulgaram que já estão negociando com o presidente da Câmara, Marco Maia, que o projeto de extinção do exame da Ordem passe a tramitar em regime de urgência. A ofensiva liderada por Cunha contra a entidade tem o apoio do ministro da Pesca, Marcelo Crivella. Ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, o ministro vem travando uma batalha contra a seccional fluminense da OAB, que tem se recusado a expedir carteiras de advogado para membros de seu grupo político, no Rio de Janeiro. Em nota, a OAB criticou a proposta de abertura da CPI, afirmando que vive de anuidades e que não recebe dinheiro público. Também classificou de "eleiçoeira" a ofensiva da bancada evangélica e anunciou que continuará cobrando seriedade e honestidade da classe política.
As críticas contra a OAB são antigas e ela nem sempre as refutou com suficiente clareza. Mas isso não dá aos membros da bancada evangélica o direito de usar as prerrogativas de seu mandato para defender projetos concebidos mais como vingança do que com base no interesse público.
Entranhas do julgamento - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 07/08
SÃO PAULO - O julgamento do mensalão deve ser técnico ou político? A pergunta é pertinente, mas receio que, ao fazê-la, já estejamos embarcando numa impossível busca pela quadratura do círculo.
O problema é que dicotomias e categorias discretas funcionam melhor em nossas cabeças do que no mundo real, onde a maioria dos fenômenos é mais bem descrita em termos de espectros e contínuos, a exemplo da passagem do dia para a noite.
Na prática, são tantos os elementos que influem na decisão de um juiz e tão complicadas suas interações que é inútil tentar separar aqueles que seriam legítimos (técnicos) dos espúrios (políticos).
Vários experimentos demonstram que os julgadores são suscetíveis a vieses que limitam sua capacidade de decidir objetivamente. Eles vão desde elementos estruturantes como características de personalidade e preferências ideológicas até fatores circunstanciais, como o nível de glicose no sangue na hora da decisão. Uma boa estratégia de defesa é garantir um suprimento ilimitado de chocolate para os magistrados.
Nesse contexto, é legítimo e até desejável que os ministros se exponham às pressões políticas, tanto a dos que querem ver os réus absolvidos como a dos que clamam pela condenação. A balbúrdia das diferentes vozes -ao lado de raciocínios propriamente jurídicos- é um dos elementos que ajudam o julgador formar a sua convicção.
A politização vira um problema quando prevalece sobre as demais variáveis, mas só o fato de termos dúvida de como votará cada ministro já indica que não é este o caso aqui.
É verdade que a admissão dessa multiplicidade de fatores a determinar a decisão do juiz enfraquece a noção de Justiça como expressão de uma verdade absoluta. O problema é que essa ideia nunca passou de um mito. Sentenças e acórdãos, apesar da pompa que os embala, contêm uma boa dose de aleatoriedade.
Só um tapinha - LUIZ GARCIA
O GLOBO - 07/08
Servidores públicos podem receber altos salários, pelo simples fato de que trabalham para merecê-los. Ou seja, pelos mesmos critérios existentes na iniciativa privada, e que se baseiam simplesmente na qualidade do trabalho e no tempo de serviço. São critérios universais.
Empresas particulares têm o direito de não revelar os números de suas folhas de pagamentos. Não precisam informar, a não ser para o fisco, o que fazem para garantir a eficiência de seu pessoal. Porque para isso usam recursos próprios. E se um genro ou cunhado ganha mais do que mereceria, o problema e o prejuízo são do patrão e de mais ninguém.
No serviço público, a história é bem diferente. O dinheiro não sai do bolso do administrador: sai do nosso, da turma da arquibancada. Temos o direito de saber se ele é usado corretamente - e de reclamar caso seja mal gasto. Além de se lembrar disso em dias de eleição.
Na semana passada, o Senado e a Câmara dos Deputados reconheceram, em parte, o direito do cidadão a saber como as duas casas gastam o dinheiro dos contribuintes. Divulgaram os salários que pagam, e só uma decisão da Justiça impediu a revelação dos nomes dos beneficiados. O que realmente não tem importância. A opinião pública quer saber mesmo é se há trabalho de verdade esperando os felizes recém-nomeados. De saída, impressiona o número de servidores já existentes: são mais de 22 mil na ativa. Pouco mais de seis mil, nas duas Casas, são concursados e ganham os maiores salários. O campeão é um analista legislativo, com R$ 33 mil e uns trocados. O mais impressionante é que a Câmara acaba de abrir concurso para preencher mais 138 vagas. O concurso garante a inexistência de nepotismo. Mas não é isso que interessa no momento. O que não está garantido é se existe mesmo necessidade desse exército de funcionários no Congresso.
É certo apenas que os felizes novatos não terão do que se queixar: o salário inicial é de R$ 14.825,69. Senado e Câmara merecem pelo menos um tapinha as costas por terem tido a coragem de revelar suas folhas de pagamento. Mas só um tapinha mesmo: terão direito a sonoros aplausos no dia em que explicarem, detalhadamente, o que faz cada um de seus funcionários. E transformarem a nomeação por concurso numa regra sem exceções.
Servidores públicos podem receber altos salários, pelo simples fato de que trabalham para merecê-los. Ou seja, pelos mesmos critérios existentes na iniciativa privada, e que se baseiam simplesmente na qualidade do trabalho e no tempo de serviço. São critérios universais.
Empresas particulares têm o direito de não revelar os números de suas folhas de pagamentos. Não precisam informar, a não ser para o fisco, o que fazem para garantir a eficiência de seu pessoal. Porque para isso usam recursos próprios. E se um genro ou cunhado ganha mais do que mereceria, o problema e o prejuízo são do patrão e de mais ninguém.
No serviço público, a história é bem diferente. O dinheiro não sai do bolso do administrador: sai do nosso, da turma da arquibancada. Temos o direito de saber se ele é usado corretamente - e de reclamar caso seja mal gasto. Além de se lembrar disso em dias de eleição.
Na semana passada, o Senado e a Câmara dos Deputados reconheceram, em parte, o direito do cidadão a saber como as duas casas gastam o dinheiro dos contribuintes. Divulgaram os salários que pagam, e só uma decisão da Justiça impediu a revelação dos nomes dos beneficiados. O que realmente não tem importância. A opinião pública quer saber mesmo é se há trabalho de verdade esperando os felizes recém-nomeados. De saída, impressiona o número de servidores já existentes: são mais de 22 mil na ativa. Pouco mais de seis mil, nas duas Casas, são concursados e ganham os maiores salários. O campeão é um analista legislativo, com R$ 33 mil e uns trocados. O mais impressionante é que a Câmara acaba de abrir concurso para preencher mais 138 vagas. O concurso garante a inexistência de nepotismo. Mas não é isso que interessa no momento. O que não está garantido é se existe mesmo necessidade desse exército de funcionários no Congresso.
É certo apenas que os felizes novatos não terão do que se queixar: o salário inicial é de R$ 14.825,69. Senado e Câmara merecem pelo menos um tapinha as costas por terem tido a coragem de revelar suas folhas de pagamento. Mas só um tapinha mesmo: terão direito a sonoros aplausos no dia em que explicarem, detalhadamente, o que faz cada um de seus funcionários. E transformarem a nomeação por concurso numa regra sem exceções.
Mostrar o elefante - VLADIMIR SAFATLE
FOLHA DE SP - 07/08
Há várias maneiras de esconder um elefante. Uma delas é apresentando suas partes em separado. Em um dia, aparece a pata. No dia seguinte, você mostra a tromba. Passa um tempo e vem a cauda. No fim, não se mostra o elefante, mas uma sequência de partes desconectadas.
Desde o início, o mensalão foi apresentado pela grande maioria dos veículos da imprensa nacional dessa maneira. Vários se deleitaram em mostrá-lo como um caso de corrupção que deixaria evidente a maneira com que o PT, até então paladino da ética, havia assegurado maioria parlamentar na base da compra de votos e da corrupção. No entanto o mensalão era muito mais do que isso.
Na verdade, ele mostrava como a democracia brasileira só funcionava com uma grande parte de seus processos ocultados pelas sombras. O jogo ilícito de financiamento de campanha e de uso das benesses do Estado deixava evidente como nossa democracia caminhava para ser uma plutocracia, independentemente dos partidos no poder.
Como a Folha mostrou em uma entrevista antológica, o então presidente do maior partido da oposição, o senador Eduardo Azeredo, havia sido um dos idealizadores desse esquema, que, como ele mesmo afirmou, não foi usado apenas para sua campanha estadual, mas para arrecadar fundos para a campanha presidencial de seu partido.
Não por acaso, o operador chave do esquema, o publicitário Marcos Valério, já tinha várias contas de publicidade no governo FHC. Ninguém acredita que foi graças à sua competência profissional.
Ou seja, a partir do mensalão, ficou claro como o Brasil era um país no qual a característica fundamental dos escândalos de corrupção é envolver todos os grandes partidos.
Mas, em vez de essa situação nos mobilizar para exigir mudanças estruturais na política brasileira (como financiamento público de campanha, reformas que permitissem ao partido vencedor constituir mais facilmente maiorias no Congresso, proibição de contratos do Estado com agências de publicidade etc.), ela serve atualmente apenas para simpatizantes de um partido jogar nas costas do outro a conta do "maior caso de corrupção do pais".
No entanto essa conta deve ser paga por mais gente do que os réus arrolados no caso do mensalão. O STF teria feito um serviço ao Brasil se colocasse os acusados do PT e do PSDB na mesma barra do tribunal. Que fossem todos juntos!
Desta forma, o povo brasileiro poderia ver o elefante inteiro. Com o elefante, o verdadeiro problema apareceria e a indignação com a corrupção, enfim, teria alguma utilidade concreta.
Há várias maneiras de esconder um elefante. Uma delas é apresentando suas partes em separado. Em um dia, aparece a pata. No dia seguinte, você mostra a tromba. Passa um tempo e vem a cauda. No fim, não se mostra o elefante, mas uma sequência de partes desconectadas.
Desde o início, o mensalão foi apresentado pela grande maioria dos veículos da imprensa nacional dessa maneira. Vários se deleitaram em mostrá-lo como um caso de corrupção que deixaria evidente a maneira com que o PT, até então paladino da ética, havia assegurado maioria parlamentar na base da compra de votos e da corrupção. No entanto o mensalão era muito mais do que isso.
Na verdade, ele mostrava como a democracia brasileira só funcionava com uma grande parte de seus processos ocultados pelas sombras. O jogo ilícito de financiamento de campanha e de uso das benesses do Estado deixava evidente como nossa democracia caminhava para ser uma plutocracia, independentemente dos partidos no poder.
Como a Folha mostrou em uma entrevista antológica, o então presidente do maior partido da oposição, o senador Eduardo Azeredo, havia sido um dos idealizadores desse esquema, que, como ele mesmo afirmou, não foi usado apenas para sua campanha estadual, mas para arrecadar fundos para a campanha presidencial de seu partido.
Não por acaso, o operador chave do esquema, o publicitário Marcos Valério, já tinha várias contas de publicidade no governo FHC. Ninguém acredita que foi graças à sua competência profissional.
Ou seja, a partir do mensalão, ficou claro como o Brasil era um país no qual a característica fundamental dos escândalos de corrupção é envolver todos os grandes partidos.
Mas, em vez de essa situação nos mobilizar para exigir mudanças estruturais na política brasileira (como financiamento público de campanha, reformas que permitissem ao partido vencedor constituir mais facilmente maiorias no Congresso, proibição de contratos do Estado com agências de publicidade etc.), ela serve atualmente apenas para simpatizantes de um partido jogar nas costas do outro a conta do "maior caso de corrupção do pais".
No entanto essa conta deve ser paga por mais gente do que os réus arrolados no caso do mensalão. O STF teria feito um serviço ao Brasil se colocasse os acusados do PT e do PSDB na mesma barra do tribunal. Que fossem todos juntos!
Desta forma, o povo brasileiro poderia ver o elefante inteiro. Com o elefante, o verdadeiro problema apareceria e a indignação com a corrupção, enfim, teria alguma utilidade concreta.
Contra ou a favor - CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SP - 07/08
RIO DE JANEIRO - Como em todas as demais profissões, o jornalista enfrenta, de tempos em tempos, uma arapuca da qual nem sempre pode se livrar. Foi o caso, por exemplo, da Copa do Mundo de 1998, em Paris. Na véspera do jogo final, entre o Brasil e a França, eu precisava mandar o meu texto para o fechamento do dia seguinte. O noticiário em si podia esperar o resultado do jogo, com a proclamação do campeão daquela Copa. Mas os comentários tinham de ser enviados antes, devido ao cronograma daquela edição.
Já enfrentara situações parecidas, quando fechava os números de Carnaval nas revistas em que trabalhava. Tinha de escolher a capa com a escola que venceria o desfile. O recurso era fazer duas ou três capas com as favoritas, às vezes dava certo.
No caso do jogo final daquela Copa, fiz a mesma coisa. Um texto em que o Brasil vencia e se sagrava mais uma vez campeão; e outro em que a França conseguiria seu primeiro título mundial. Mandei os dois para que o editor do caderno da Copa publicasse o texto adequado.
Esse tipo de arapuca agora se repete no caso do julgamento do mensalão. No fundo, é um jogo do qual não se pode prever o resultado, se justo, se injusto, se catimbado ou não. A cobertura das sessões do STF pode ser feita porque os noticiários a respeito são também diários, cobrindo os debates da véspera. O cronista tem de submeter-se à escala de sua periodicidade.
Mesmo assim, farei o que costumava fazer diante dessas arapucas: dois textos a respeito do resultado, repetindo conscientemente o episódio atribuído a Alcindo Guanabara (ele terminaria na ABL - Academia Brasileira de Letras) que faz parte da história da nossa imprensa. Numa Sexta-Feira da Paixão, o editor pediu-lhe que fizesse um artigo sobre Jesus Cristo. Alcindo perguntou: "Contra ou a favor?".
RIO DE JANEIRO - Como em todas as demais profissões, o jornalista enfrenta, de tempos em tempos, uma arapuca da qual nem sempre pode se livrar. Foi o caso, por exemplo, da Copa do Mundo de 1998, em Paris. Na véspera do jogo final, entre o Brasil e a França, eu precisava mandar o meu texto para o fechamento do dia seguinte. O noticiário em si podia esperar o resultado do jogo, com a proclamação do campeão daquela Copa. Mas os comentários tinham de ser enviados antes, devido ao cronograma daquela edição.
Já enfrentara situações parecidas, quando fechava os números de Carnaval nas revistas em que trabalhava. Tinha de escolher a capa com a escola que venceria o desfile. O recurso era fazer duas ou três capas com as favoritas, às vezes dava certo.
No caso do jogo final daquela Copa, fiz a mesma coisa. Um texto em que o Brasil vencia e se sagrava mais uma vez campeão; e outro em que a França conseguiria seu primeiro título mundial. Mandei os dois para que o editor do caderno da Copa publicasse o texto adequado.
Esse tipo de arapuca agora se repete no caso do julgamento do mensalão. No fundo, é um jogo do qual não se pode prever o resultado, se justo, se injusto, se catimbado ou não. A cobertura das sessões do STF pode ser feita porque os noticiários a respeito são também diários, cobrindo os debates da véspera. O cronista tem de submeter-se à escala de sua periodicidade.
Mesmo assim, farei o que costumava fazer diante dessas arapucas: dois textos a respeito do resultado, repetindo conscientemente o episódio atribuído a Alcindo Guanabara (ele terminaria na ABL - Academia Brasileira de Letras) que faz parte da história da nossa imprensa. Numa Sexta-Feira da Paixão, o editor pediu-lhe que fizesse um artigo sobre Jesus Cristo. Alcindo perguntou: "Contra ou a favor?".
A importância histórica do STF - ARNALDO JABOR
O Estado de S.Paulo - 07/08
Eu vi os dois primeiros dias do julgamento do mensalão. E, 'data venia', vi que há no Tribunal alguma coisa nascendo nas frestas dos rituais solenes: os indícios de um fato histórico: o STF está mais ligado ao mundo real, mais atento à opinião pública (por que não?)
Mas, dava para ver um tenso alvoroço no plenário como na pré-estreia de um filme inédito. Tudo parecia ainda um atemorizante sacrilégio, como se todos estivessem cometendo um pecado - o delito de ousar cumprir a lei julgando poderosos. Será que ousarão contrariar séculos de impunidade, séculos de distância entre a Justiça e a sociedade?
Vi o frisson nervoso nos juízes que, depois de sete anos de lentidão, têm de correr para cumprir os prazos impostos pelas chicanas e pelos retardos que a gangue de mensaleiros conseguiu criar. Suprema ironia: no país da justiça lenta, os ministros do Supremo são obrigados a correr, andar logo, mandar brasa, falar rápido, pois o Peluso tem de votar e sai em setembro. E só há julgamento porque o ministro Ayres de Britto se empenhou pessoalmente em viabilizar prazos e datas. Se não, não haveria nada.
O STF parecia um palco armado: os advogados dos réus numa tribuna, a imprensa, convidados VIPs. Os advogados se movem em sincronia como discretos bailarinos de ternos, com expressões céticas ou quase cínicas, um tédio proposital nas caras, ostentando a tranquilidade profissional de pistoleiros bem pagos antes de sacar a arma no duelo.
Ali estavam os protagonistas: Joaquim Barbosa transido de dores, ardendo na pressa de emplacar esta revolução no STF, defrontando-se com a programada lentidão de seu inimigo principal, Lewandowski, o homem que levou seis meses para ler um processo escancarado havia sete anos, e que no início do julgamento deu-se ao capricho de ler o seu voto por uma hora e meia, conseguindo cumprir a estratégia de Thomaz Bastos e atrasar mais um dia no processo. E conseguiu irritar Joaquim Barbosa, que o chamou de "desleal". Lewandowski retrucou, revelando a intenção que lhe vai na alma: "pelo que vejo, este julgamento vai ser turbulento". Quando foi cantar o Gilmar Mendes, Lula disse que Lewandowski estava sob muita pressão e que o Joaquim Barbosa era um "complexado" - por quê? Porque é preto e está de coluna doendo? Ninguém, claro, assume o sutil racismo brasileiro, mas ninguém esquece que ele é preto; nem ele. A verdade é que Lula o nomeou achando que seria uma "ação afirmativa" para seu governo e que Barbosa lhe seria grato. Lula achava que podia influir no outro poder com esse gesto. Dançou também no seu 'alopramento'.
No voto de Lewandowski vimos seu desejo de deixar patente na TV que é resistente a pressões de nossa 'rasteira' opinião pública. Quis também exibir cultura jurídica cravejada de citações, criando um mecanismo de defesa preventivo que transmuta sua fama de lento em 'independência' minuciosa. O julgamento vai oscilar entre a pressa e a lentidão. Pelos freios e embreagens, a defesa dos réus se fará por meio de chicanas retardadoras, por atrasos programados, por bloqueios e 'questões de ordem' com cascas de banana.
Aí, começou a leitura da acusação do procurador-geral da República, que ouvi com um arrepio de orgulho, como se estivesse na Inglaterra diante de um sistema judiciário impecável. Seu relatório serviu como uma viagem no tempo, rememorando toda a chanchada deprimente que foi o escândalo do mensalão, sete anos atrás. Tudo reapareceu: cada malinha de dinheiro vivo do Banco Rural, cada cheque administrativo, cada mentira e negação. Será dificílimo contestar o relatório e o voto de Roberto Gurgel, pois ele exibiu o óbvio, a autoevidência dos delitos. Daí, o show de chicanas a que assistiremos.
Foi espantoso constatar também que os "malfeitos" dos mensaleiros foram incrivelmente "aloprados", trabalho de ridículos amadores, deixando pistas gritantes, dando bandeiras em todas as direções. Como puderam errar tanto, ser tão primários?
Pensei e vi o óbvio - lembrei-me dos velhos comunistas que eu conheci tão bem na minha revolução juvenil.
O povão era nossa boa consciência, o povão era nosso salvo-conduto para a alma pacificada, sem culpas - o povão era nossa salvação.
Nós éramos mais "puros", mais poéticos, mais heroicos. Ai, que saudades do comunismo e, como dizia Beckett: "Que saudades das velhas perguntas e das velhas respostas..." A 'verdade' era o simplismo; complexidade era (e ainda é, para eles) coisa de 'direita'.
Mas, como era bom se sentir superior a um mundo povoado de "burgueses, caretas e babacas", como eu classificava a humanidade. Daí, a explicação: para que se importar com os babacas? Podemos deixar pistas à vontade porque, como disse o Lula, "sempre foi assim". Passaram a "desapropriar" a grana da "direita" - ou seja, inventaram o roubo com boa consciência, para 'salvar' o povão com a grana do povão. Claro que isso foi apenas o "rationale" para justificar a 'mão grande', um estandarte ideológico para legitimar a invasão da 'porcada magra no batatal'. Claro que pegaram altos trocos, porque ninguém é de ferro. Só não contavam com as 'cobras criadas' do Congresso, como o Jefferson, que viram aqueles comunas folgados descumprindo promessas, tratando-os com descaso de heróis contra 'burgueses alienados e covardes'. Deu nas denúncias operísticas do Jefferson, um dos recentes salvadores da pátria. Por trás do mensalão há desprezo pela inteligência da sociedade.
Mas, muito mais grave do que a tradicional mãozinha nas cumbucas, mais grave que punhados de dólares na cueca ou na bolsinha, muito mais grave é a justificativa de que tudo não passou de 'crime eleitoral', quando se tratou de mais de R$ 100 milhões num roubo "revolucionário". Os mensaleiros se absolvem e justificam porque teriam uma missão acima da democracia "burguesa".
Portanto, o STF não está julgando apenas umas roubalheiras, mas a tentativa de desmoralizar a democracia para o benefício de um partido único. O PT quis usar o governo que "tomaram" para mudar o Estado brasileiro. O STF está julgando a preservação da República que lentamente se aperfeiçoa e este julgamento já é uma etapa de nossa evolução democrática.
Sentimento de culpa - FRANCISCO DAUDT
FOLHA DE SP - 07/08
Como instrumento de dominação, a nossa espécie nunca inventou arma melhor do que essa
QUE NÓS nascemos com a capacidade de sentir culpa, é certo. Até cães vêm com este programa. É velha a expressão "cara de cachorro que quebrou a panela". De fato, depois de um óbvio "malfeito", lá vem ele com a cabeça baixa e as orelhas murchas a tentar nos lamber, a nos pedir perdão. O sentimento de culpa mistura vergonha com arrependimento e supõe uma certa integridade moral de quem o tem.
É sabido que os psicopatas passam-lhe ao largo, apesar de a ele não serem indiferentes. Ao contrário, desafiam-no. Lembro-me bem que as regras da Igreja Católica para categorizar algo como pecado incluíam pleno conhecimento da transgressão, livre arbítrio para fazê-la e um momento de "dane-se, vou fazer".
Se nós fossemos bem atentos ao catecismo (e soubéssemos nossa taxa de livre arbítrio), não seríamos tão assíduos ao confessionário. Mas à instituição não interessava nem um pouco a discussão dos meios, pois ela lucrava e prosperava com a culpa: o bobalhão acreditava no seu livre arbítrio, desconsiderava sua explosão hormonal da adolescência e considerava-se criminoso por ter-se masturbado, ou mesmo por pensamentos contra a castidade. Confessava seu crime. O padre, pelo ato da absolvição e pela penitência imposta, endossava que havia crime de fato, e lá ia o jovem, livre para pecar outra vez.
Ouvi dizer que a Igreja não considera mais a masturbação como pecado mortal. Numa festa do colégio jesuíta em que me formei, apresentei esta questão ao nosso antigo padre prefeito: "E aqueles que morreram em pecado antes da mudança da lei? Queimam no inferno assim mesmo?". Ele, que não tinha cacife intelectual para uma resposta teológica, e pressionado pela gargalhada dos colegas, disse-me que eu já havia bebido vinho o bastante.
Fato é que, como instrumento de dominação, a nossa espécie não inventou arma melhor. A Igreja usa e abusa dela, e se mantém por 2.000 anos. Você pode fazer com que uma pessoa se ajoelhe, submissa, sob a mira de um revólver. Mas, se ela tiver oportunidade, revidará. Uma vez sentindo-se culpada, a pessoa implora para se ajoelhar diante de você! Imbatível!
A coisa ficou séria quando a esquerda descobriu que podia fazer os trabalhadores prósperos se sentirem culpados de sua riqueza.
Em nome deste grave pecado (a prosperidade, que vem de "explorar humildes"), joga, sobre quem ganha seu dinheiro honestamente, impostos escorchantes, camuflados ou não (os camuflados tiram dos humildes, que ironia). São penitências atuais. É secundário se os impostos forem para perpetuar seu esquema de poder em vez de serem revertidos para segurança, saúde e educação. O importante é dominar.
O mesmo vale para as compensações exigidas pelas minorias massacradas por nossos ancestrais, sejam elas Quilombolas ou índios.
Você vai ver, a grande defesa do mensalão será que ele não foi em proveito próprio, mas na busca de uma sociedade mais igualitária, para ressarcir os coitadinhos. E o pior: há multidões que acreditam nesta culpa, pois, coitadas, têm "certa integridade a defender".
A tentação do álcool - ROSELY SAYÃO
FOLHA DE SP - 07/08
Não sei por que os pais têm facilitado tanto a oferta de bebida para jovens que mal saíram da infância
Tive uma conversa muito interessante com a mãe de uma garota de 15 anos. Ela me contou que a filha é extrovertida, faz sucesso em rede social, sempre é procurada por vários colegas e chamada pelo celular o dia todo.
A menina também tem alguns amigos mais chegados que estão sempre por perto.
Mesmo assim, a filha não sai. É convidada para ir a festas, ao cinema, para dormir na casa de colegas, viajar. Mas ela só sai mesmo para ir à escola. Recusa todos os convites que recebe.
Acredite, caro leitor, isso preocupou essa mãe. Curioso o fato, já que as mães de garotas dessa idade costumam se preocupar pelo motivo oposto: filhas que querem sair sempre.
Assim que o sinal amarelo acendeu para essa mãe, ela tomou uma atitude. Chamou a filha para um lanche, disposta a conversar com ela para saber o motivo da sua reclusão. Parece que é comum as duas conversarem sem muitos rodeios.
Dessa maneira, a mãe logo ficou sabendo que a filha tinha lá suas razões para preferir ficar em casa: "Se eu sair, mãe, vou ter de ficar, beijar, talvez transar; vou precisar beber, vou ter de comprar coisas que eu não sei se quero. Então, eu prefiro ficar em casa por enquanto".
É, não tem sido fácil para muitos jovens atravessar essa fase da vida. As tentações têm sido excessivas para eles. E hoje vou ficar apenas em uma delas: a ingestão de bebidas alcoólicas.
Não sei por que os pais têm facilitado tanto a oferta de bebida para esses jovens que mal saíram da infância.
Já ouvi alguns pais declararem que, apesar de serem contra o consumo de bebida alcoólica nessa idade, ofereceriam essa opção na festa de aniversário dos filhos para garantir a presença dos convidados. Isso significa que festa, para eles, não existe sem a presença de álcool?
Quem é adulto e tem controle sobre a quantidade de bebida que ingere sabe os efeitos que o álcool produz no organismo. As sensações de euforia e de segurança para correr riscos costumam ser os principais motivos que levam a garotada a beber.
É uma tentação poder viver, por alguns momentos, sem muita censura e sem grandes dúvidas a respeito do que fazer, não é? Nessa idade, tal tentação é sedutora.
O problema é que eles bebem demais -demais mesmo-, muito cedo e se esquecem de aprender a viver em grupo sem os efeitos que a bebida provoca. Falta coragem, dá medo, provoca angústia. Talvez por isso alguns adolescentes bebam até cair.
Tem sido bem impressionante a quantidade de adolescentes que passam mal, muito mal, depois de beber. É que eles costumam ser exagerados em tudo o que oferece satisfação imediata. É por isso, entre outros fatores, que perdem a medida.
Diversas mães se assustaram com o que viram nessas férias de inverno. Li o relato de uma delas que levou a filha, de 14 anos, com duas amigas para uns dias em Campos de Jordão. Ficou assustada com o que viu: crianças de 12, 13 anos vomitando em praças, caindo pelas ruas de tão bêbadas que estavam. "Onde estão os pais dessas crianças?" perguntou ela.
Provavelmente por perto, mas sem saber o que fazer.
Quem tem filhos adolescentes não deve ficar impotente, congelado, com receio de ser considerado careta. Aliás, em muitos aspectos, é papel dos pais ser careta.
E é bom saber que isso não impedirá o filho de experimentar muitas coisas. Apenas o ajudará a conhecer melhor seu nível de saciedade com a bebida alcoólica, por exemplo. Para que ela funcione como um mediador social, apenas isso.
Os pais dos adolescentes não conseguirão livrar os filhos de todas as tentações que a vida oferece.
Mas, pelo menos, devem tentar poupá-los de algumas delas. Para o bem deles. Como? Vetar a ingestão de bebida alcoólica nessa idade já é um bom começo.
Dupla militância - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 07/08
Banco do Nordeste: Dilma x Cid
A presidente Dilma resolveu contrariar o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), e está decidida a nomear para a presidência do Banco do Nordeste o ex-ministro dos Portos, Pedro Brito, que é funcionário de carreira da instituição. Brito atualmente é diretor da Antaq e está rompido com os Ferreira Gomes desde a fase final do governo Lula. Cid Gomes fez tudo para vetar Brito, manifestando preferência pelo presidente interino, Paulo Ferraro. Para emplacar seu nome, Cid pediu o apoio do governador Jaques Wagner (BA-PT), mas não adiantou até agora. Dilma gosta de Brito e quer na instituição alguém de sua confiança e que tenha autonomia para trabalhar.
“O Brasil se tornou um país do faz-de-conta. Faz de conta que não se produziu o maior dos escândalos nacionais, que os culpados nada sabiam” Marco Aurélio Mello Discurso de posse na presidência do STF (4/5/2006)
Ao pé do ouvido
A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, garantiu que o cronograma de investimentos das refinarias em construção não irá atrasar, apesar do prejuízo de R$ 1,3 bilhão da estatal no segundo trimestre. Mas falando sobre o assunto com os governadores, tem aconselhado a procurar investidores estrangeiros para antecipar as obras.
Aconteceu na quinta-feira (2)
No intervalo da sessão do STF, após rejeitar pedido do advogado Alberto Toron, o presidente Ayres Britto pergunta ao relator, ministro Joaquim Barbosa: "Você acha que fui muito ríspido?". A resposta: "Não, imagina. Logo o Toron...".
Um memorial para Jorge Amado
Na solenidade do centenário de nascimento de Jorge Amado, ontem, no Senado, a família do escritor e o governador Jaques Wagner (BA) retomaram negociações para transformar a casa de Jorge Amado, em Salvador, num memorial.
Ibama quer superpoderes
A Confederação Nacional dos Municípios e a Câmara Brasileira da Indústria da Construção atuam juntas na votação do Código Florestal. As duas entidades se rebelam contra a tentativa do Ibama de tirar dos municípios o poder de decidir sobre a ocupação do solo urbano. A senadora Ana Amélia (PP-RS) resume: "Eles querem aplicar na área urbana o mesmo critério da área rural".
Delta e financiamento eleitoral
As consultorias a serviço do PSDB descobriram que a Delta mandou recursos para 16 empresas de fachada. A remessa mínima estimada é de R$ 291 milhões. Os tucanos suspeitam que esse dinheiro foi para campanhas eleitorais em 2010.
Saia-justa
O candidato à reeleição em Curitiba, Luciano Ducci (PSB), apoiado pelo governador tucano Beto Richa, tem dado dor de cabeça ao PSDB do Paraná. Sua campanha é só de elogios ao governo Dilma. Os petistas apoiam Gustavo Fruet (PDT).
A MINISTRA Miriam Belchior (Planejamento) é a madrinha do novo secretário-executivo da Secretaria de Aviação Civil, Guilherme Ramalho.
São Tomé - SONIA RACY
O ESTADÃO - 07/08
Não esperam grande redução da carga tributária ou queda importante do preço de energia. E poucos apostam que os incentivos para reforçar PPPs na área de infraestrutura atraiam a liquidez externa. Defendem, sim, a liberação das obras para iniciativa privada, minimizando a burocracia. O que não deve acontecer.
O pano de fundo para tamanho ceticismo é o que a Fazenda tem feito a conta-gotas: medidas consideradas paliativas, de curto prazo e efeito pífio.
A conferir
Pelo que se apurou, entretanto, Dilma pode surpreender. Tem tido quatro horas de reuniões por dia para acertar os detalhes das medidas.
Sem deixar vazar para os empresários.
Menos é mais?
A arrecadação de ICMS do Estado de SP, em julho, totalizou R$ 8,7 bilhões. Algo como 3,2% abaixo das projeções.
Apesar disso, Andrea Calabi, secretário da Fazenda, avalia os números positivamente.
Carioca…
Luiz Fux, do STF, abdicou do cooper pelas ruas brasilienses e de jantares em restaurantes da capital. Até o fim do julgamento do mensalão.
E, para ficar atento durante as longas sessões que se seguirão, está tomando mais café.
…da gema
Mas de uma coisa o magistrado não abre mão: praia no fim de semana. No Rio, claro.
Pressa “ibope”
É grande a pressão para que Iris Abravanel escreva, agora, uma segunda versão da novela Carrossel, responsável por levar o SBT de volta ao segundo lugar de audiência.
Querem até que a mulher de Silvio Santos reduza a folga de sua equipe: de três meses para apenas um.
Brasil, sil, sil?
Nem as Olimpíadas para consolidar o segundo lugar da Record no Ibope. A direção da emissora não está nada contente com o fato de só liderar quando Neymar e cia. entram em campo.
Além disso, as derrotas para reprises do Chaves, no SBT, vêm deixando os ânimos exaltados na rede do bispo Macedo.
$$$$$$$$
E Xuxa aceitou pintar o cabelo… de preto. Para a Wella.
Impressionou
O CCBB planeja mais Viradas Impressionistas após o sucesso do evento neste fim de semana. Das 15h de sábado às 22h de domingo, cerca de 10 mil pessoas passaram pelo espaço, no centro de SP.
Tudo para ver as telas de Cézanne, Monet, Manet, Renoir, Van Gogh e cia. de graça.
Impressionou 2
E a espera chegou a três horas na fila, com gente de A a Z. Paulo Pasta, por exemplo, aguardou, pacientemente, sua vez para ver o segundo andar. O artista adorou os pré-impressionistas da Escola de Barbizon.
Já no subsolo do CCBB, pasmou diante de dois de seus ídolos: Vuillard e Bonnard.
Na frente
Roberto Podval debaterá a reforma do Código Penal. Amanhã, na USP.
Daniela Beyruti voltou ontem da licença-maternidade e reassumiu seu cargo no SBT.
Com direção de Odilon Wagner, a peça Como Ter Sexo a Vida Inteira com a Mesma Pessoa estreia quinta. No teatro da Livraria da Vila, no Shopping JK.
Gregório Graziosi exibe seu curta Monumento, sobre a obra de Brecheret no Ibirapuera. Hoje, no Festival de Locarno.
Alberto Amorim arma degustação de vinhos às cegas no Spadaccino. Parte do Desafio da Vila Madalena. Hoje.
Tem desfile na Daslu hoje.
Manuela Carneiro da Cunha lança livro hoje. Na Martins Fontes da Paulista.
O lançamento da revista Forbes Brasil é hoje, no La Tambouille.
Leilah Moreno e MC Stamina se apresentam no Cine Joia. Na sexta-feira.
A pré-estreia de Marighella acontece hoje no Espaço Itaú de Cinema do Frei Caneca.
E tem gente da PF se queixando no julgamento do mensalão. “O MP vende o peixe como se tivesse feito todo o trabalho sozinho”, reclama fonte da coluna.
Garantistas FC - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 07/08
Uma preocupação em especial pautou a estratégia dos advogados dos principais réus do mensalão, que abriram a defesa ontem no julgamento do Supremo Tribunal Federal: conquistar o voto dos ministros que tendem a se ater estritamente às provas para condenar. Para isso, vários deles lembraram votos passados de Celso de Mello, Gilmar Mendes, Cezar Peluso e Marco Aurélio Mello, que compõem a bancada dos chamados "garantistas" da Corte, no jargão judicial.
De fundo O primeiro dia da defesa mostrou aspecto tido como decisivo pelos ministros: se as provas colhidas na CPI dos Correios, fora da fase processual, terão efeito na análise do mensalão.
Forcinha Mais técnico dos advogados do primeiro dia, Marcelo Leonardo, defensor de Marcos Valério, abordou pontos que devem ajudar outros réus. Ao negar irregularidades no contrato da SMP&B com a Câmara, praticamente pediu a absolvição de João Paulo Cunha.
Privado? Outra tese importante evocada por Leonardo foi a de que os recursos que compunham o fundo Visanet eram privados, e não públicos. Se a maioria dos ministros se convencer disso, cai o crime do peculato.
Júri A alusão ao filho de Valério que morreu de câncer aos 6 anos foi inédita. O advogado pediu autorização ao operador do mensalão para citar a história após ver as fotos dos dois carecas.
Suando a toga Do criminalista Arnaldo Malheiros Filho, após sua ofegante sustentação oral, em defesa de Delúbio Soares: "Se até Rui Barbosa tremia diante daquela tribuna, por que não eu?".
Replay Advogado do ex-deputado Paulo Rocha, João Gomes acompanha as sessões no plenário, mas grava as sustentações orais em seu escritório. "É para aprender com as lendas", brinca.
O mentor Membros da CPI tentarão extrair hoje de Andressa Mendonça quem a orientou a procurar um juiz na tentativa de libertar Carlinhos Cachoeira. Em conversas reservadas, congressistas duvidam que o empresário soubesse da iniciativa da mulher, considerada inábil.
É com ele Atônitos com a ausência de Dilma Rousseff no palanque eletrônico de Fernando Haddad, petistas recorrem ao último Datafolha para supervalorizar o apoio de Lula. Pela pesquisa, 40% dos eleitores votariam, com certeza, no candidato do ex-presidente e 33% no nome defendido pela presidente.
Stand by Após a adesão de vereadores de sua bancada à candidatura de Márcio Lacerda (PSB), o PMDB de Belo Horizonte divulgou nota pró-Patrus Ananias (PT), com quem está coligado. O PC do B, também na aliança do petista, pediu a seus militantes distância da campanha até segunda ordem.
Ouvidoria 1 Geraldo Alckmin empossa hoje os membros do Conselho da Transparência e da Comissão de Ética do governo paulista. Entre os representantes da sociedade civil estarão o jurista Hélio Bicudo e o jornalista Cláudio Weber Abramo.
Ouvidoria 2 O governador assinará ainda decreto de combate ao enriquecimento ilícito na administração pública. Pela nova norma, caberá aos servidores comprovar a origem dos recursos de sua evolução patrimonial. Hoje, o ônus da prova em situações suspeitas é do Estado.
Visita à Folha Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, visitou ontem a Folha. Estava com Samantha Lima, assessora de imprensa.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Depois do boicote de Marta, agora Dilma desconfia do potencial de Haddad. A virtude do PT é o faro político das suas mulheres."
DO LÍDER DO PSDB NA CÂMARA PAULISTANA, FLORIANO PESARO, sobre a recusa da presidente em gravar para a propaganda de TV de seu ex-ministro.
contraponto
Abstinência judicial
Advertido por comer no plenário do STF no julgamento do mensalão, o advogado Antonio de Almeida Castro, o Kakay, lembrou episódio semelhante envolvendo a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello. Durante interrogatório presidido pelo ministro Néri da Silveira, ela, que amamentava, aceitou bolacha oferecida pela diretoria da Corte após três horas de depoimento. Néri a repreendeu:
-A senhora é ré, não pode comer no meu tribunal!
Assustada, avisou que desmaiaria. Kakay emendou:
-Se você conseguir, desmaie!
Médicos e bombeiros foram acionados para socorrê-la.
Ato de compra - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 07/08
Os advogados começaram ontem suas defesas no processo do mensalão insistindo na tese de que para todos os efeitos seus clientes não cometeram crime algum à luz do Código Penal. São meros infratores eleitorais.
Não obstante a exigência de conduta legalmente correta, transparente, impessoal e moralmente aceitável na vida pública, expressa no artigo 37 da maior de todas as leis, convencionou-se que o transgressor da legislação eleitoral é, ao fim e ao cabo, uma vítima do sistema.
Cheio de falhas, brechas, irrealista, hipócrita e obsoleto, não deixaria aos usuários (vale dizer, partidos e políticos) outra opção a não ser a transgressão.
De onde, por ocasião de escândalos defende-se a reforma política. Evidentemente, e não por acaso, com ânimo inversamente proporcional à falta de entusiasmo desses mesmos personagens ante a oportunidade concreta de alterar as malfadadas normas que os levam a viver muito a contragosto na ilegalidade.
No decorrer do julgamento o argumento que atribui poderes saneadores à reforma política ressurgirá na boca dos que pretendem amoldar os réus ao perfil de vítimas do sistema.
Ainda que se tome como verdadeira a versão de que o dinheiro que correu do PT aos partidos aliados via valerioduto foi empregado na quitação de dívidas eleitorais, é de se perguntar o que mesmo o sistema tem a ver com as escolhas de cada um.
Está demonstrado, e a defesa dos réus não nega, que o PT ao chegar ao poder escolheu assegurar maioria no Congresso distribuindo dinheiro a partidos até então militantes no outro lado do balcão como base de apoio dos governos anteriores, todos adversários do PT.
Conforme ressaltou a Procuradoria-Geral da República em peça que os advogados não conseguiram desconstruir - ao menos não em suas sustentações orais - pouco importa o destino do dinheiro.
O problema não é o gasto. É a deterioração legal e moral contida no ato da compra.
Delírio. Não, mesmo se houver condenação, ninguém sairá do STF algemado. Além de prazos e procedimentos a serem cumpridos antes de se validar as sentenças, há a impossibilidade física: nenhum deles acompanha o julgamento no tribunal.
Favoritismo. Pesquisa CNT aponta o ex-presidente Lula como favorito para eleição de 2014 e registra crescente apoio ao governo de Dilma Rousseff.
Noves fora, guardadas as atuais condições o governo é favorito qualquer que seja o candidato.
No cenário desenhado por petistas, no entanto, Lula não voltará a disputar. A questão é política. Segundo companheiros de partido, o bom senso (que nem sempre prevalece) aconselharia ao ex-presidente não pôr em risco o patrimônio amealhado em dois mandatos bem-sucedidos e cujas circunstâncias favoráveis não necessariamente se repetiriam.
Partindo desse pressuposto, o PT só vê uma candidatura no horizonte: a de Dilma mesmo à reeleição.
Isso na perspectiva do partido. Analisando o quadro pelo prisma da presidente, petistas acham que três pontos pesarão na decisão dela - nenhum deles de caráter partidário - sobre concorrer ou não a um novo mandato: o compromisso com a própria história, a avaliação da família e a opinião de Lula.
Sem ordem hierárquica nos fatores. É um conjunto.
Presente. Os tucanos alinhados à candidatura presidencial do senador Aécio Neves reclamam do engajamento da presidente na eleição municipal de Belo Horizonte por simples dever de ofício oposicionista.
Na realidade estão adorando: a entrada de Dilma na disputa dá destaque nacional a uma eleição que habitualmente ficaria em segundo plano diante da disputa em São Paulo e visibilidade à força política de Aécio em Minas.
Se ganhar, ficará devendo esse "plus" a Dilma.
O desenho do PT no pós-mensalão - RAYMUNDO COSTA
Valor Econômico - 07/08
Numa primeira abordagem sobre a repercussão do julgamento do mensalão, presume-se que o PT que sofrerá algum prejuízo na eleição municipal de outubro, mas entrará com força no jogo principal, em 2014. Seja com a candidatura à reeleição de Dilma Rousseff, seja com a volta de Luiz Inácio Lula da Silva, na hipótese de agravamento da crise internacional e seus efeitos no país forem calamitosas.
Não é por outro motivo de a presidente guardou uma prudente distância do processo em julgamento no Supremo Tribunal Federal e colocou o governo inteiro para trabalhar no pacote de medidas que pretende anunciar aos poucos, até que o mensalão saia de cena. Nas reuniões para acertar projetos de concessão no setor de infraestrutura, diminuição no preço da tarifa de energia elétrica, entre outros, uma palavra permeia todos os debates: emprego. A reeleição da presidente está mais na manutenção da sensação de bem estar da população que nas discussões, indigestas mas necessárias, do julgamento do mensalão.
Mas no Supremo Tribunal Federal (STF) também joga-se a sorte do PT e de líderes que fizeram do partido o gigante que é hoje. O PT olha de viés para o julgamento, porque considera que pagou a conta eleitoral do mensalão em 2006. Hoje o assunto teria muito menos impacto na opinião pública ou "publicada", como preferem distinguir líderes do partido. Pode ser. Os números indicam isso.
Partido acha que pagou conta do mensalão em 2006
Entre a primeira eleição de Lula, em 2002, e a reeleição, em 2006, o partido perdeu 2,1 milhões de votos. Quatro anos mais tarde, na eleição de Dilma Rousseff, candidata que nunca antes havia disputado ao menos uma eleição de vereador, o PT praticamente dizimou a oposição.
Mas eleições costumam surpreender. Em 2006, o fato de ter deixado a prefeitura, após ter prometido que não largaria o cargo para o qual fora eleito dois anos antes, não atrapalhou tanto José Serra na eleição para o governo estadual como viria atrapalhar na eleição presidencial de 2010, quando perdeu para Dilma. Serra teve de se explicar, na disputa com Dilma, mais do que na campanha anterior.
A eleição de 2006 foi disputada menos de um ano após as CPIs do Congresso que botaram o PT no banco dos réus. Ainda assim, Lula estava cotado para vencer no primeiro turno. Um fato teria contribuído para levar o presidente ao segundo turno Geraldo Alckmin, o candidato do PSDB: o escândalo dos aloprados, às vésperas da eleição - um grupo de petistas flagrado quando tentava comprar um suposto dossiê com denúncias contra o PSDB.
Em meio a tudo isso ainda houve o caso de um assessor de deputado petista detido num aeroporto tentando embarcar com maços de dólares escondidos na cueca. De fato, o noticiário não era nada favorável ao PT, como não é agora, mas o partido ganhou as eleições. A um custo bastante alto, somente recuperado em 2010.
Em 2006, a votação do PT nas eleições para a Câmara dos Deputados caiu 13% em relação à onda vermelha de 2002. Já em 2010, cresceu 14,8 na comparação com 2006, e voltou a eleger o maior número de deputados para a Câmara. O partido teve 16 milhões de votos, enquanto o PMDB, que esperava ficar em primeiro lugar, somou 12,5 milhões de eleitores.
Na ementa, o PT arquivou o mensalão como assunto eleitoralmente resolvido em 2006, 2008 e 2010. Avalia hoje que em um mês, depois da sobrevida que o assunto ganhou com o julgamento, ninguém mais lembrará da crise. E em dezembro a imprensa já estará ocupada com a reeleição e com quem será o candidato a vice na chapa de Dilma. O efeito eleitoral esperado é para agora, nas eleições municipais, inclusive em São Paulo.
Seja qual for o resultado das eleições municipais em São Paulo, é certo que o PT paulista não será mais o mesmo de antes do mensalão. Para ser mais preciso, o PT já não é o mesmo. As tendências que antes de 2002 faziam do PT um partido vivo, atualmente estão diluídas. O que existe hoje, no entendimento de quem vive o dia a dia partidário, é o peso das personalidades avulsas. Entre elas, José Dirceu. Se for absolvido, ainda será um nome forte no aparelho partidário, em geral, e na corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), em particular. Mas já não será onipresente como antes.
É improvável que Dirceu tenha condições de se recolocar no jogo presidencial como esteve quando Lula assumiu o governo em janeiro de 2003. Até por uma questão de precedência: mesmo se for redimido no julgamento, antes tem a reeleição de Dilma e, depois, a volta de Lula, no caso de os petistas considerarem que "o projeto" está ameaçado. Depois de Lula e Dilma, o PT é uma terra de ninguém.
O governador da Bahia, Jaques Wagner, já esteve melhor cotado no mercado interno. No momento, duvida-se de sua capacidade para ajudar a eleger o candidato do PT a prefeito de Salvador (BA). A violência e uma greve de professores desgastaram a gestão de Wagner. Mesmo que consiga dar a volta por cima, Wagner é visto como uma liderança de âmbito regional.
Se Patrus Ananias eventualmente ganhar a eleição de Belo Horizonte, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) também se "redime" do ensaio herético de uma composição tucano-petista para o pós Lula, feita em 2010 a quatro mãos com Aécio Neves, o eventual nome do PSDB contra Dilma, em 2014. E o crédito não será dele, mas de Dilma.
Marcelo Déda tem prestígio entre os petistas e é compadre de Lula, mas governa um Estado pequeno e de pouca força eleitoral. O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, dirigiu dois ministérios e liderou uma corrente para a "refundação" do PT após o escândalo do mensalão. É um dos principais obstáculos a voos mais altos de José Dirceu.
Ele mesmo tem ambições que ultrapassam as divisas do Rio Grande do Sul, já manifestadas antes, nos momentos em que Lula parecia hesitar em concorrer novamente à Presidência. Aí Dirceu é quem será o obstáculo.
Caso típico de gestão temerária - EDITORIAL O GLOBO
O Globo - 07/08
Impacto negativo da desvalorização do real sobre suas operações financeiras, insucesso na perfuração de poços em águas ultraprofundas, gastos excepcionais com importação de derivados -,vendidos subsidiados, por imposição do governo. As explicações para o elevado prejuízo (R$ 1,3 bilhão) registrado pela Petrobras no segundo trimestre, o primeiro desde 1999, podem ser pontuais, mas, na verdade, este resultado vinha sendo desenhado pelo tipo de gestão temerária que o acionista controlador, o Tesouro Nacional, por determinação do Planalto, impôs à companhia, por propósitos meramente políticos e partidários. No período de José Sérgio Gabrielli na presidência (2005-2012), a partidarização avançou bastante na estatal. A atual diretoria, à frente Graça Foster, assumiu com a tarefa de corrigir tal rumo desastroso, mas, num grupo gigante como a Petrobras, o trabalho equivale a manobrar um transatlântico. Por algum tempo, a Petrobras tenderá mais a refletir o longo período de gestão temerária do que o de correção de rumos.
Sem uma política industrial capaz de inserir o setor no novo contexto mundial em que os países asiáticos se tornaram protagonistas da manufatura tradicional, o governo passou os últimos anos concentrando na Petrobras o esforço para o país manter um parque fabril ativo. Na prática, isso tem significado enormes estouros de orçamento, prazos não cumpridos e elevação de custos operacionais. Como uma grande companhia estatal que se beneficiou de um monopólio longevo (e ainda não desfeito pelas forças de mercado), entende-se que a Petrobras seja obrigada a ter mais responsabilidades dentro de políticas públicas, e seja um importante agente na execução de alguns programas de Estado.
No entanto, a Petrobras não é puramente estatal. Tem milhões de acionistas, muitos dos quais participantes de fundos de investimento nos quais aportam suas economias na expectativa de constituir uma poupança que lhes garanta boa qualidade de vida no futuro. Nessa lista, devem ser considerados também aqueles que aplicaram parte do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Não foi por falta de metas ambiciosas que a Petrobras deixou de apresentar bom desempenho. Trata-se da companhia petrolífera com maior volume de encomendas de plataformas de exploração e produção, de construção de navios, dutos e equipamentos para refinarias. Em uma das mais audaciosas iniciativas de capitalização que o mercado de capitais já viu no mundo, a Petrobras buscou recursos por meio de lançamento de ações conjugado à cessão onerosa de reservas prováveis de petróleo que poderão chegar à casa de cinco bilhões de barris (equivalentes a um terço de suas atuais reservas provadas).
O mínimo que se pode esperar é que se abandone a ingerência na empresa, deixando-a retomar o caminho da competência que a Petrobras já mostrou possuir em sua atividade-fim.
Acredite quem quiser - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 07/08
Ao final da defesa dos quatro mais importantes réus do mensalão, já é possível se ter uma ideia dos rumos que o julgamento vai tomar, embora continuemos, como de início, sem saber o resultado final que sairá da cabeça dos 11 juízes do Supremo Tribunal Federal.
Se o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ao fazer sua denúncia, teve carência de provas materiais, mas citou abundantes provas testemunhais, os advogados de defesa procuraram ontem desmontar sua bem contada história, enfatizando que a acusação utilizou-se de testemunhos dados antes da fase do contraditório.
Os advogados tentaram desqualificar assim as testemunhas de acusação e alegaram que o procurador-geral utilizou-se de depoimentos colhidos na CPI dos Correios, um cenário político onde as palavras ditas seriam mais tendenciosas. As provas testemunhais da defesa, no entanto, foram todas de petistas ou de pessoas envolvidas nas acusações, o que também não estabelece uma zona de credibilidade indiscutível.
Dois dos advogados, Arnaldo Malheiros Filho, de Delúbio Soares, e Marcelo Leonardo, de Marcos Valério, admitiram "atividades ilícitas" e "caixa dois eleitoral", ao contrário de José Luís Mendes de Oliveira Lima, o advogado de José Dirceu, que passou longe de admitir qualquer tipo de crime de seu cliente, mesmo o eleitoral.
Da defesa dos três que formaram, segundo a denúncia do Ministério Público Federal, o "núcleo político" do mensalão, têm-se a impressão de que o PT era um partido completamente acéfalo, que ninguém comandava e no qual todo mundo tinha uma atividade específica sem ligação com um objetivo final, nem político, muito menos criminoso.
Dirceu, segundo a narrativa de seu advogado, que contradiz a do próprio Dirceu em várias ocasiões, era um ministro influente, mas não interferia no PT - partido que ajudou a fundar e do qual fora presidente até pouco tempo antes de assumir o cargo no primeiro governo Lula -, e não indicava pessoas para cargos no governo. Estaria longe, portanto, de ter o "domínio final do fato", o que o caracteriza, segundo a acusação, como "chefe da quadrilha".
Genoino, presidente do PT, segundo seu advogado só fazia acordos políticos e não tinha a menor ideia sobre questões financeiras. Mas seu advogado esqueceu-se de falar que Genoino assinou os empréstimos bancários com o BMG e o Rural, - que, segundo a denúncia, foram simulados para justificar o desvio de recursos públicos - o que demonstra que sem sua assinatura eles não poderiam ser tomados pelo tesoureiro Delúbio Soares. Logo, Genoino deveria saber que empréstimos eram. Ele os negou até que a assinatura apareceu, e alegou que assinara sem ler.
E Delúbio bolou essa estratégia com o auxílio de Marcos Valério, por uma amizade repentina que os uniu logo depois que o deputado mineiro Virgilio Guimarães os apresentou, em 2003, sem que ninguém, no PT ou no Palácio do Planalto, tivesse autorizado.
O detalhe de que Valério havia aplicado sua expertise de desviar dinheiro público para campanhas eleitorais na eleição mineira de 1998, para tentar eleger o tucano Eduardo Azeredo governador de Minas, só faz aumentar os indícios de que essa aproximação tinha um objetivo espúrio, fato ressaltado pelo procurador-geral.
Mas ao explicar porque Dirceu se encontrou com a direção do Banco Rural, em companhia de Valério, no período em que o banco fez um "empréstimo" ao partido, o advogado José Luís Mendes de Oliveira Lima alegou que receber empresários é função do ministro-chefe da Casa Civil. Os fatos de que o BMG ganhou exclusividade para explorar o crédito consignado logo que foi lançado e o Banco Rural negociava uma decisão do governo sobre o Banco Mercantil de Pernambuco seriam coincidências que nunca entraram nas conversações.
Marcelo Leonardo, advogado de Valério, foi o protagonista de um anticlímax revelador das dificuldades de sua defesa. Foi o mais enfático dos advogados, mesmo quando defendia causas de antemão perdidas, e pediu a absolvição de todos os 9 crimes de que seu cliente é acusado. Mas, ao final, piscou. Disse que se, "por absurdo", Marcos Valério for condenado, que o Supremo lhe dê penas leves.
Não devemos ter grandes novidades nas demais defesas, e os ministros do Supremo terão mesmo que se guiar por suas convicções pessoais: há sete anos há uma narrativa coerente sobre um esquema criminoso montado de dentro do Palácio do Planalto para comprar a adesão política ao governo, e a tentativa de transformar essa ação em crime eleitoral, banalizado na vida política brasileira. Acredite quem quiser.
RAFINHA FOLIA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 07/08
OLHOS ABERTOS
O ministro Joaquim Barbosa, relator do "mensalão do PT" no STF (Supremo Tribunal Federal), segue atento ao "mensalão mineiro", que envolve líderes do PSDB. Ele pretende deter-se em providências que levem à rápida localização de testemunha considerada chave nas investigações e que tomou chá de sumiço em Minas Gerais.
PEDREIRA
Barbosa, que defendeu o desmembramento nos dois casos e foi voto vencido, acredita que o risco de prescrição no "mensalão mineiro" é até maior do que havia no "mensalão do PT". E diz a interlocutores que, se no caso petista tudo quase sempre foi aprovado por unanimidade no STF, no mineiro as dificuldades foram maiores.
TEM MAIS
Ele também questiona a imprensa. Quando procurado por repórteres para falar do processo contra petistas, provoca, ao fim da entrevista: "E sobre o outro, vocês não vão perguntar nada?". Recebe como resposta "sorrisos amarelos". "A imprensa nunca deu bola para o 'mensalão mineiro'", diz ele.
DE VOLTA
Carlinhos Cachoeira quer recontratar o advogado Ricardo Sayeg para defendê-lo.
EM FRENTE
No começo do escândalo, Sayeg chegou a defender que seu cliente fizesse delação premiada. Agora, a questão estaria superada.
CPI DO ABORTO
A frente evangélica na Câmara já recolheu cerca de 50 assinaturas para instalar uma CPI sobre entidades que financiam o aborto no país. A meta é chegar a 171 apoiadores até quinta, o mínimo para abrir uma investigação.
VESTIDO DE NOIVO
A loja do estilista João Pimenta, na Vila Madalena, fechou no domingo. Ele vai abrir um ateliê na rua dos Pinheiros e seu foco será a criação de roupas sob medida para noivos. "Todo mês, atendo a uns 20 homens que vão se casar." As peças que desfila na SPFW serão vendidas em lojas multimarcas.
EFEITO ARRASTÃO
A rua Amauri, que concentra alguns dos restaurantes mais caros de São Paulo, na região da avenida Brigadeiro Faria Lima, adotou um novo sistema de segurança. A Associação dos Moradores e Empresários da via instalou câmeras, botões de pânico e contratou cinco seguranças -três uniformizados e dois à paisana- para circularem pelo local.
EFEITO ARRASTÃO 2
O novo sistema possui um mecanismo de gravação inteligente de imagens que compara movimentos atípicos.
Alerta também quando um mesmo veículo passa diversas vezes na mesma rua.
BRIGADEIRO
Nuno Leal Maia e José de Abreu, o Nilo de "Avenida Brasil", vão dividir o palco a partir de outubro, quando termina a novela. Eles vão estrelar, no Rio, "Bonifácio Bilhões", peça em que um economista socialista aposta na loteria e promete dividir o prêmio com um vendedor de doces. Depois de ganhar, ele pensa em dar o cano no amigo humilde. José de Abreu será o doceiro.
FLORES MINEIRAS
Glória Pires viaja para Outro Preto nos próximos dias. A atriz e a colega Miranda Otto filmarão na cidade mineira cenas do longa "Flores Raras", de Bruno Barreto, em que vivem uma história de amor gay. Depois, a australiana Miranda segue para filmagens em Nova York. O ator Treat Williams, estrela dos filmes "Hair" e "Era uma Vez na América", fará uma participação especial.
50 ANOS DE NASCIMENTO
O cantor Milton Nascimento comemorou 50 anos de carreira com show paulistano na sexta, no HSBC Brasil. Marina de la Riva assistiu à apresentação de que participaram Sandy e Lô Borges. A turnê segue para Salvador, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Três Pontas (MG).
CRIADOS E CRIATURA
Os rappers Emicida e Karol Conká se apresentaram no evento multimídia The Creators Project, no fim de semana. Também estiveram lá o gerente da revista "Vice" brasileira, Tony Cebrian, e o diretor da Intel David Haroldsen, organizadores do evento.
CURTO-CIRCUITO
O artista Alex Hornest inaugura hoje a exposição "Zôo" na galeria Logo, em Pinheiros, às 17h.
O clube nova-iorquino Provocateur abre hoje filial no Itaim, com festa para convidados. 18 anos.
Claudio Lottenberg, presidente do hospital Albert Einstein, fala sobre tecnoligia e humanização amanhã, na Hebraica, às 12h.
A bilheteria da peça "Bibi, Histórias e Canções", de Bibi Ferreira, será revertida para a ONG Liga Solidária no dia 31.
O Oi Futuro abriu inscrições para o edital do programa Oi Novos Brasis.
com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, CHICO FELITTI, LÍGIA MESQUITA e OLÍVIA FLORÊNCIA
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