FOLHA DE SP - 16/11
RIO DE JANEIRO - Saí à calçada e estiquei o braço em busca de um táxi. Passaram vários, todos cheios. Levei 20 minutos para conseguir um. Muito diferente do que acontece nos filmes, em que não apenas o vilão chega à rua e para imediatamente um táxi para fugir, como o herói toma outro segundos depois e começa a perseguição.
No cinema, os bandidos armam uma bomba atômica e a equipam com um mostrador para que o herói saiba a quantos segundos ela vai explodir. Quando o herói, que é um mosqueteiro, enfrenta 20 espadachins, eles o atacam um a um, em vez de todos de uma vez. O herói resiste bem às dezenas de socos que leva dos bandidos, mas geme quando sua namorada aplica um lencinho molhado aos seus ferimentos.
Ao fugir juntos de uma ameaça, o herói e a mocinha insistem em correr de mãos dadas quando fugiriam muito mais depressa se corressem separados. Quando o herói vai ao médico, nunca será por causa de uma diarreia, mas para enfaixar o ombro ou extrair uma bala. O herói só pode ser ferido no braço --jamais será visto mancando ou com uma atadura na cabeça. Ao acordar e pular da cama, toda mulher entrará imediatamente no chuveiro e nenhuma fará xixi.
Os cavalos do cinema são à prova de balas. Todas as invasões de extraterrestres começam pelos EUA. Qualquer monstro tipo morto-vivo, mesmo que recém-saído do túmulo e arrastando os pés ao andar, consegue capturar a mocinha que tenta escapar dele. Quando uma mulher recordar sua infância, será sempre mostrada de tranças, brincando de amarelinha ou pulando corda. Ao pagar uma conta no restaurante, o galã deixará várias notas na mesa --nunca apresentará o cartão ou fará um cheque.
E por aí vai. Estes são alguns dos casos recolhidos no livro "Tous les Clichés du Cinéma", pelo francês Philippe Mignaval. A vida devia ser mais como nos filmes.
sábado, novembro 16, 2013
Seguindo e sendo seguido - SÉRGIO AUGUSTO
O Estado de S.Paulo - 16/11
Há pouco mais de três anos, no caderno Aliás, reduzi o Twitter a um espaço avaro de vocábulos e congestionado de adolescentes de miolo mole. Ampliando o alcance do meu reducionismo, desdenhei todas as redes sociais da internet como um domínio de desocupados que fizeram da evasão da privacidade uma filosofia de vida. Hum, hum.
O contingente de idiotas, ociosos, narcisistas e tietes ainda é grande, e sem dúvida majoritário, no Twitter. Embora uma pesquisa tenha revelado que a conversa fiada domina 78% dos twits (ou tuítes) e em apenas 13% deles alguma troca de informações relevantes costuma ocorrer, seria leviano negar a existência de vida inteligente e atividades úteis no Twitter e no Facebook. Recentemente, o escritor Jonathan Franzen incorreu nesse equívoco, e levou bala de tudo quanto é lado, até mesmo de quem pensa que hashtag (#) é a versão on-line do Parlamento alemão.
Mesmo no auge do meu ceticismo em relação às mídias sociais, reconheci de público que o Twitter, por sua mobilidade, instantaneidade, intimidade e capilaridade, podia ser uma ferramenta preciosa para jornalistas, cientistas, criadores em geral ou simples usuários com boas ideias para trocar e denúncias a fazer. Confirmei isso na prática, ao aderir ao Twitter cinco meses atrás, por insistência de Lúcia Guimarães. Bem administrado, argumentou ela, é o melhor feed de notícias e informação da internet, jogo rápido e rasteiro, sem os compromissos e as chateações do Facebook.
No meu modesto entender, o Twitter é a melhor ágora da internet, um passatempo intelectualmente estimulante, divertido, catártico - e rigorosamente democrático. Uma comunidade civilizada. Conheci um bocado de pessoas inteligentes e engraçadas; outras mais, certamente, estão a caminho. Só vicia e nos rouba tempo se afrouxarmos o controle sobre nossos impulsos. Ninguém nos faz cobranças do tipo "entrou de férias?", "vagabundando, hein?".
O Twitter emplacou firme no mundo literário, sem distinção de gênero e status. Nenhuma surpresa: os escritores adoram e vivem de escrever, e o Twitter, embora também aceite fotos e vídeos, opera basicamente com palavras, poucas, é verdade, mas não deixa de ser um desafio excitante concentrar uma ou mais ideias em, no máximo, 140 caracteres. Não dá, evidente, para fazer literatura, só tuiteratura, poesia concreta, haicais, aforismos, ou contos miniaturistas, como o clássico do guatemalteco Augusto Monterroso: "Quando ele acordou, o dinossauro ainda estava lá", de apenas 48 caracteres. Fácil entender por que os poetas ganharam sobrevida no mais micro dos microblogs.
É um parque de diversões para escritores atrás de notícias sobre livros, inspiração, distração e folguedos linguísticos, e uma plataforma inestimável para autores inéditos ou iniciantes, nos quais a indústria de livros não tem mais condições de investir. Alguns tuiteratos são hábeis no manejo da ferramenta, outros menos, mas persistentes. No site The Millions, C. Max Magee fez um levantamento de escritores que tuítam, tuítam muito (Margaret E. Atwood, por exemplo) e pouco (Jennifer Egan, apenas oito vezes em três anos). Não satisfeita, pesquisou-lhes a carreira tuiterária, revelando quando e como cada um deles debutou no negócio.
Vários dispensaram saudações, introitos e justificativas do tipo "aqui estou, fulano, por sua insistência", e deram logo o recado: um comentários sobre um fato do dia ou algo mais pessoal (os livros que estavam escrevendo, a festa da véspera, anúncio de algum lançamento ou palestra). Neil Gaiman agradeceu um livro de culinária que lhe fora presenteado, Joyce Carol Oates reproduziu uma tirada do cineasta Oliver Stone, na entrega de um prêmio literário: "Todo escritor sério é um rebelde".
Magee não teve tempo de incluir uma notável adesão mais recente, Philip Roth, por certo a mais ilustre dos últimos tempos. Roth estreou no último dia 6. Com apenas 23 caracteres: "On Twitter. First time." (No Twitter. Primeira vez). E ficou nisso. Um alô simpático, como todos deveriam ser. Nesse quesito, ainda prefiro o do nosso Michel Laub, em 28 de junho de 2010: "Oi".
Não obstante, em sete dias Roth atraiu 440 seguidores. E está seguindo 311 tuiteiros, entre escritores, editores, jornalistas culturais, gente da New Yorker, Salon, The New Republic e publicações literárias. Até Mia Farrow ele está seguindo, espero que sem segundas intenções - remember Claire Bloom.
Não leva jeito de ser um ghost twitterer, como os de tantos autores alheios à cultura digital, como Thomas Pynchon, Umberto Eco, Stephen King, John Grisham (também temos um punhado deles: Ferreira Gullar, Ariano Suassuna, Adélia Prado e Hilda Hilst), ou irremediavelmente impedidos de navegar na internet, como Proust, Oscar Wilde, Dostoievski, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Kafka, Melville, Virginia Woolf, Nabokov, Millôr.
Rubem Fonseca, que virou tuiteiro em maio deste ano, não se identifica como escritor, mas dendrícola (cultivador de árvore). Desde a primeira postagem, vem-se limitando a citar trechos de seus livros, na tradução para o espanhol. Certamente por isso, tem apenas 39 seguidores.
A identificação no Twitter é por conta do freguês. João Ubaldo Ribeiro preferiu ser prosaico, apresentando-se como advogado, escritor, jornalista, roteirista e professor. Seu primeiro tuíte decolou do aeroporto de Frankfurt, em maio do ano passado; seguiram-se mais 56; em dois meses o entusiasmo acabou.
A escolha do handle (o endereço pessoal do Twitter) pode ser complicada se você tiver um nome corriqueiro, como o meu e o de Bernardo Carvalho, para só citar dois exemplos. Não achei o autor de Nove Noites no Twitter, a menos que ele por lá circule oculto por um pseudônimo ao estilo William Gibson, que se assina @GreatDismal. Para evitar um número, quiçá de dois dígitos, acoplado ao meu nome, acabei optando por uma solução romana: @SergiusAugustus. Virei um imperador digital. O jornalista e escritor Sérgio Rodrigues contornou o problema juntando seu prenome ao nome do blog que tem na Abril, Todoprosa, e virou um irresistível jeu de mots.
Há pouco mais de três anos, no caderno Aliás, reduzi o Twitter a um espaço avaro de vocábulos e congestionado de adolescentes de miolo mole. Ampliando o alcance do meu reducionismo, desdenhei todas as redes sociais da internet como um domínio de desocupados que fizeram da evasão da privacidade uma filosofia de vida. Hum, hum.
O contingente de idiotas, ociosos, narcisistas e tietes ainda é grande, e sem dúvida majoritário, no Twitter. Embora uma pesquisa tenha revelado que a conversa fiada domina 78% dos twits (ou tuítes) e em apenas 13% deles alguma troca de informações relevantes costuma ocorrer, seria leviano negar a existência de vida inteligente e atividades úteis no Twitter e no Facebook. Recentemente, o escritor Jonathan Franzen incorreu nesse equívoco, e levou bala de tudo quanto é lado, até mesmo de quem pensa que hashtag (#) é a versão on-line do Parlamento alemão.
Mesmo no auge do meu ceticismo em relação às mídias sociais, reconheci de público que o Twitter, por sua mobilidade, instantaneidade, intimidade e capilaridade, podia ser uma ferramenta preciosa para jornalistas, cientistas, criadores em geral ou simples usuários com boas ideias para trocar e denúncias a fazer. Confirmei isso na prática, ao aderir ao Twitter cinco meses atrás, por insistência de Lúcia Guimarães. Bem administrado, argumentou ela, é o melhor feed de notícias e informação da internet, jogo rápido e rasteiro, sem os compromissos e as chateações do Facebook.
No meu modesto entender, o Twitter é a melhor ágora da internet, um passatempo intelectualmente estimulante, divertido, catártico - e rigorosamente democrático. Uma comunidade civilizada. Conheci um bocado de pessoas inteligentes e engraçadas; outras mais, certamente, estão a caminho. Só vicia e nos rouba tempo se afrouxarmos o controle sobre nossos impulsos. Ninguém nos faz cobranças do tipo "entrou de férias?", "vagabundando, hein?".
O Twitter emplacou firme no mundo literário, sem distinção de gênero e status. Nenhuma surpresa: os escritores adoram e vivem de escrever, e o Twitter, embora também aceite fotos e vídeos, opera basicamente com palavras, poucas, é verdade, mas não deixa de ser um desafio excitante concentrar uma ou mais ideias em, no máximo, 140 caracteres. Não dá, evidente, para fazer literatura, só tuiteratura, poesia concreta, haicais, aforismos, ou contos miniaturistas, como o clássico do guatemalteco Augusto Monterroso: "Quando ele acordou, o dinossauro ainda estava lá", de apenas 48 caracteres. Fácil entender por que os poetas ganharam sobrevida no mais micro dos microblogs.
É um parque de diversões para escritores atrás de notícias sobre livros, inspiração, distração e folguedos linguísticos, e uma plataforma inestimável para autores inéditos ou iniciantes, nos quais a indústria de livros não tem mais condições de investir. Alguns tuiteratos são hábeis no manejo da ferramenta, outros menos, mas persistentes. No site The Millions, C. Max Magee fez um levantamento de escritores que tuítam, tuítam muito (Margaret E. Atwood, por exemplo) e pouco (Jennifer Egan, apenas oito vezes em três anos). Não satisfeita, pesquisou-lhes a carreira tuiterária, revelando quando e como cada um deles debutou no negócio.
Vários dispensaram saudações, introitos e justificativas do tipo "aqui estou, fulano, por sua insistência", e deram logo o recado: um comentários sobre um fato do dia ou algo mais pessoal (os livros que estavam escrevendo, a festa da véspera, anúncio de algum lançamento ou palestra). Neil Gaiman agradeceu um livro de culinária que lhe fora presenteado, Joyce Carol Oates reproduziu uma tirada do cineasta Oliver Stone, na entrega de um prêmio literário: "Todo escritor sério é um rebelde".
Magee não teve tempo de incluir uma notável adesão mais recente, Philip Roth, por certo a mais ilustre dos últimos tempos. Roth estreou no último dia 6. Com apenas 23 caracteres: "On Twitter. First time." (No Twitter. Primeira vez). E ficou nisso. Um alô simpático, como todos deveriam ser. Nesse quesito, ainda prefiro o do nosso Michel Laub, em 28 de junho de 2010: "Oi".
Não obstante, em sete dias Roth atraiu 440 seguidores. E está seguindo 311 tuiteiros, entre escritores, editores, jornalistas culturais, gente da New Yorker, Salon, The New Republic e publicações literárias. Até Mia Farrow ele está seguindo, espero que sem segundas intenções - remember Claire Bloom.
Não leva jeito de ser um ghost twitterer, como os de tantos autores alheios à cultura digital, como Thomas Pynchon, Umberto Eco, Stephen King, John Grisham (também temos um punhado deles: Ferreira Gullar, Ariano Suassuna, Adélia Prado e Hilda Hilst), ou irremediavelmente impedidos de navegar na internet, como Proust, Oscar Wilde, Dostoievski, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Kafka, Melville, Virginia Woolf, Nabokov, Millôr.
Rubem Fonseca, que virou tuiteiro em maio deste ano, não se identifica como escritor, mas dendrícola (cultivador de árvore). Desde a primeira postagem, vem-se limitando a citar trechos de seus livros, na tradução para o espanhol. Certamente por isso, tem apenas 39 seguidores.
A identificação no Twitter é por conta do freguês. João Ubaldo Ribeiro preferiu ser prosaico, apresentando-se como advogado, escritor, jornalista, roteirista e professor. Seu primeiro tuíte decolou do aeroporto de Frankfurt, em maio do ano passado; seguiram-se mais 56; em dois meses o entusiasmo acabou.
A escolha do handle (o endereço pessoal do Twitter) pode ser complicada se você tiver um nome corriqueiro, como o meu e o de Bernardo Carvalho, para só citar dois exemplos. Não achei o autor de Nove Noites no Twitter, a menos que ele por lá circule oculto por um pseudônimo ao estilo William Gibson, que se assina @GreatDismal. Para evitar um número, quiçá de dois dígitos, acoplado ao meu nome, acabei optando por uma solução romana: @SergiusAugustus. Virei um imperador digital. O jornalista e escritor Sérgio Rodrigues contornou o problema juntando seu prenome ao nome do blog que tem na Abril, Todoprosa, e virou um irresistível jeu de mots.
Duas visões do interior - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 16/11
O engarrafamento é hoje comum — e não só nas horas de rush — até naquelas capitais onde as pessoas almoçam (ou almoçavam) em casa confortavelmente
As metrópoles estão exportando suas mazelas para o interior. As pequenas e médias cidades têm hoje os mesmos problemas das grandes, e nem sempre em escala menor. Em viagens, pude observar a espantosa rapidez com que o fenômeno ocorre nesses paraísos perdidos. A crise mais visível é a da (i)mobilidade urbana. O engarrafamento é hoje comum — e não só nas horas de rush — até naquelas capitais onde as pessoas almoçam (ou almoçavam) em casa confortavelmente, com tempo inclusive para uma rápida sesta. As reclamações são as mesmas e têm a ver com a perda de qualidade de vida. “Eu levava 20 minutos, agora levo mais de uma hora”, ouvi em vários lugares. As causas são conhecidas. Com a elevação do poder aquisitivo da nova classe média e o incentivo à indústria automobilística com redução de impostos, as ruas foram invadidas e ocupadas pelos carros, sem que tivesse havido um mínimo de preparação para isso: elas continuam com a mesma largura e, em geral, novas vias de escoamento não foram construídas.
Pior do que o problema do trânsito é o da violência. Para se ter uma ideia: o Piauí, que se orgulha de ser um dos estados menos violentos do país, está preocupado com o alarmante aumento de crimes, como latrocínio (roubo seguido de morte) e estupro, que dobraram ou triplicaram, assim como os casos de morte não solucionados. Eu estava em Teresina quando esses dados foram publicados, para desconforto das autoridades e da população. Outra praga que está infestando o país todo é o consumo de crack, presente nos mais distantes rincões. Conversando com o prefeito de uma cidade do Nordeste, quis saber como a droga chegava ao seu município, e ele explicou que era uma perversa operação. Jovens desempregados são recrutados para trabalhos sazonais em SP, principalmente corte de cana. Vão e os próprios proprietários fornecem a droga como parte do pagamento pelo trabalho. Voltando para suas cidades, eles levam consigo o vício e o produto para traficar, criando assim literalmente um círculo vicioso difícil de desmantelar.
Se por um lado o que chamamos de “interior” está vivendo esses dramas, por outro, observa-se um grande empenho para ativar a vida cultural, com a promoção, por exemplo, de feiras, salões, festivais e bienais de livro. Nas últimas semanas, participei de uns quatro eventos desse tipo, destacando-se o Flin (Festival Literário Internacional de Natal), pela abrangência dos temas e a numerosa participação. Houve mais de trinta mesas sobre os mais variados assuntos, com a presença de autores daqui, de Portugal e da África de Língua Portuguesa. Só de imortais da ABL, eram quatro. De mortais, uns 60. O luxo foi ter Caetano Veloso debatendo poesia com Eucanaã Ferraz e fazendo o show de encerramento. Foram mais de três horas de Caetano sem falar uma só vez de biografias. Uma delícia.
Correção: Na última coluna, quando se fala do Jalapão, saiu 30 em lugar de 13 por um erro de digitação.
O engarrafamento é hoje comum — e não só nas horas de rush — até naquelas capitais onde as pessoas almoçam (ou almoçavam) em casa confortavelmente
As metrópoles estão exportando suas mazelas para o interior. As pequenas e médias cidades têm hoje os mesmos problemas das grandes, e nem sempre em escala menor. Em viagens, pude observar a espantosa rapidez com que o fenômeno ocorre nesses paraísos perdidos. A crise mais visível é a da (i)mobilidade urbana. O engarrafamento é hoje comum — e não só nas horas de rush — até naquelas capitais onde as pessoas almoçam (ou almoçavam) em casa confortavelmente, com tempo inclusive para uma rápida sesta. As reclamações são as mesmas e têm a ver com a perda de qualidade de vida. “Eu levava 20 minutos, agora levo mais de uma hora”, ouvi em vários lugares. As causas são conhecidas. Com a elevação do poder aquisitivo da nova classe média e o incentivo à indústria automobilística com redução de impostos, as ruas foram invadidas e ocupadas pelos carros, sem que tivesse havido um mínimo de preparação para isso: elas continuam com a mesma largura e, em geral, novas vias de escoamento não foram construídas.
Pior do que o problema do trânsito é o da violência. Para se ter uma ideia: o Piauí, que se orgulha de ser um dos estados menos violentos do país, está preocupado com o alarmante aumento de crimes, como latrocínio (roubo seguido de morte) e estupro, que dobraram ou triplicaram, assim como os casos de morte não solucionados. Eu estava em Teresina quando esses dados foram publicados, para desconforto das autoridades e da população. Outra praga que está infestando o país todo é o consumo de crack, presente nos mais distantes rincões. Conversando com o prefeito de uma cidade do Nordeste, quis saber como a droga chegava ao seu município, e ele explicou que era uma perversa operação. Jovens desempregados são recrutados para trabalhos sazonais em SP, principalmente corte de cana. Vão e os próprios proprietários fornecem a droga como parte do pagamento pelo trabalho. Voltando para suas cidades, eles levam consigo o vício e o produto para traficar, criando assim literalmente um círculo vicioso difícil de desmantelar.
Se por um lado o que chamamos de “interior” está vivendo esses dramas, por outro, observa-se um grande empenho para ativar a vida cultural, com a promoção, por exemplo, de feiras, salões, festivais e bienais de livro. Nas últimas semanas, participei de uns quatro eventos desse tipo, destacando-se o Flin (Festival Literário Internacional de Natal), pela abrangência dos temas e a numerosa participação. Houve mais de trinta mesas sobre os mais variados assuntos, com a presença de autores daqui, de Portugal e da África de Língua Portuguesa. Só de imortais da ABL, eram quatro. De mortais, uns 60. O luxo foi ter Caetano Veloso debatendo poesia com Eucanaã Ferraz e fazendo o show de encerramento. Foram mais de três horas de Caetano sem falar uma só vez de biografias. Uma delícia.
Correção: Na última coluna, quando se fala do Jalapão, saiu 30 em lugar de 13 por um erro de digitação.
A torre da família bolha - MARCELO RUBENS PAIVA
O Estado de S.Paulo - 16/11
A arqueologia procura ver nas habitações escavadas como eram nossos antepassados, como evoluímos, quais eram nossos costumes secretos. Cientistas de chapéu e colete de couro fuxicaram a intimidade de "antigos nós" sem pedir licença. Escreveram tratados e biografias não autorizadas, interpretaram nossa cerâmica, pintura rupestre, adorno. Até nossos lixos fuxicaram. Paparazzi com autorização e financiamento do mundo acadêmico.
O que descobriram, além de que sabemos desenhar bisões?
A cidade representa a transição do homem neolítico para o agricultor. Uma cidade só era possível com comida e água abundante. No começo de tudo, o homem morava perto do trabalho. Construiu cidades próximo ao trabalho. As primeiras nasceram na Mesopotâmia, que tem a maior reserva de água doce do planeta.
Recentemente, descobriu-se que o vilarejo mais antigo da humanidade, Göbekli Tepe, construído há 12 mil anos, fica na Turquia. O arqueólogo alemão Klaus Schmidt começou a escavar em 1994. Primeiro achou um templo com pilares em forma de T.
Por que começamos a construir? E por que na Turquia?
Porque foi onde houve a mutação de uma gramínea chamada trigo, que proporcionou a confecção do pão, fácil de armazenar e transportar. O homem começou a construir cercado por aquilo que o alimentava, trigo selvagem. Como bem sabe todo português: a humanidade se desenvolveu graças aos padeiros.
Hoje, olhando os lançamentos imobiliários das cidades congestionadas e amedrontadas, se vê a união de casa, área com lazer de um clube e anexo comercial. Não é perfeito?
O homem mora e trabalha cercado pelo mesmo muro neolítico. Se diverte, se exercita e se liberta do que há de ruim nas cidades. Cultura? Uma rede de distribuição de filmes, peças, óperas, eventos esportivos e shows está disponível por banda larga. Tem as redes sociais, para fazer novas amizades e realimentar as antigas. Tem ensino à distância, para se aprimorar. Sair de casa? Pra quê?
Esquece calçadas, passeios a pé, comércio de rua, sorvete da esquina, banca de jornal, pipoqueiro, mamães com carrinhos de bebê, parquinho, mesinha de damas dos aposentados, quadra em que um filho pode jogar e conhecer um garoto de outro bairro ou classe social. Esquece as padarias.
Como o homem do neolítico, passamos a morar onde trabalhamos. Nas nossas bolhas. Em megacavernas. Eventualmente, em nosso SUV, visitamos outra caverna gigante, templo de compras: o shopping.
Somos mais saudáveis e viveremos com mais segurança. Mas a que preço?
*
Meu pai construiu prédios com o arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Dava os nomes. Anunciava nos jornais. Até hoje, uma das coisas que mais gosto de fazer é ver anúncios imobiliários.
Não estou atrás da garrafa de uísque que algumas incorporadoras oferecem para aqueles que visitam lançamentos residenciais e comerciais - ou melhor, empresariais, afinal, não somos mais comerciantes, mas empreendedores. Para ganhar uma garrafa, é "obrigatório" passar pelo atendimento do corretor. E é válido apenas para as 50 primeiras pessoas que visitarem o plantão. O que não é problema para meus amigos bebuns, que vão direto do bar. Que farra...
Há anos que me debruço fascinado sobre os anúncios, apesar de já ter a chamada casa própria. Ver como as pessoas pretendem morar é um exercício de arqueologia contemporânea. Ver como pretendem morar na vizinhança, voyeurismo. Sem contar a inveja saudável de futuros vizinhos bem-afortunados (literalmente).
Uma revolução acontece entre as coberturas e o térreo. Lançamento de alto padrão não vem com uma simples portaria, mas com "porta cochère". Outros não são apenas condomínios, mas "condomínios resort". Armário embutido desapareceu junto com o tigre da tasmânia. O quarto de empregada foi extinto. Alguns apartamentos vêm sem o quarto, mas com um banheiro na área de serviço. Seria o banheiro da diarista? Ou melhor, da "femme de ménage"?
Aliás, prédios não se chamam mais prédios, mas torres. Alguns se chamam "residencial". Outros, "boulevard". Alguns têm varanda gourmet, o sonho de todo morador de prédio, digo, torre: terraço com churrasqueira.
Outros vêm com fechadura biométrica, serviço pay-per-use, piscina com fundo infinito, fitness center, que antigamente chamávamos de academia, e a última onda, um espaço dedicado a seu quatro patas, agora popularmente conhecido como pet, cujo nome varia: space dog, pet garden, pet place, pet care, pet walk, pet play, pet space.
A maioria dos apartamentos está menor. Recentemente, um lançamento de 18 metros quadrados foi avacalhado nas redes sociais. É o espaço de três metros por seis. Apertado, mas dá. Nos idos tempos, se chamava quitinete, de kitnet. É a medida do apezinho do famoso Bloco B do Copan, antes, terra de ninguém (sã), hoje, valorizadíssimo.
Há poucos anos, os prédios vinham com lounge. Já ficou démodé. Como a sauna. Pelo visto, ninguém mais quer aliviar tensões apertado sobre um tablado de madeira, sufocado por calor e essência de eucalipto, suando com vizinhos, síndico e subsíndico, relembrando a última reunião condominial.
Não se veem mais lançamentos de quatro quartos, como no boom imobiliário da classe média alta da década de 1970. As famílias diminuíram. Mas aumentaram o número de vagas para carros. Menos filhos, mais carros. Dá menos trabalho. Estamos ficando tão estranhos...
O mercado não dorme no ponto, se renova. A PDG lançou o produto "vem com tudo". Imóveis já decorados. Imóveis com móveis planejados. Compra o imóvel de um, dois, três dormitórios, e ganha o móvel, ganha sala, cozinha, quartos e banheiros. Sensacional. Por que não pensaram nisso quando comprei a minha casa própria?
Vou também inovar. Me associar a um site de relacionamento matrimonial, encontrar a cara metade do cliente, a outra face da laranja, através de um programa que calcula por algoritmo as afinidades dos proponentes. Que ganham, no meu futuro empreendimento imobiliário, sala, cozinha, quartos e banheiros, um beagle saudável sem o selo Royal, uma adega com vinho, uísque, vodca e saquê, um marido ou uma esposa! E um ano de ração grátis. Para o pet. Onde está o telefone do Mendes da Rocha?
A arqueologia procura ver nas habitações escavadas como eram nossos antepassados, como evoluímos, quais eram nossos costumes secretos. Cientistas de chapéu e colete de couro fuxicaram a intimidade de "antigos nós" sem pedir licença. Escreveram tratados e biografias não autorizadas, interpretaram nossa cerâmica, pintura rupestre, adorno. Até nossos lixos fuxicaram. Paparazzi com autorização e financiamento do mundo acadêmico.
O que descobriram, além de que sabemos desenhar bisões?
A cidade representa a transição do homem neolítico para o agricultor. Uma cidade só era possível com comida e água abundante. No começo de tudo, o homem morava perto do trabalho. Construiu cidades próximo ao trabalho. As primeiras nasceram na Mesopotâmia, que tem a maior reserva de água doce do planeta.
Recentemente, descobriu-se que o vilarejo mais antigo da humanidade, Göbekli Tepe, construído há 12 mil anos, fica na Turquia. O arqueólogo alemão Klaus Schmidt começou a escavar em 1994. Primeiro achou um templo com pilares em forma de T.
Por que começamos a construir? E por que na Turquia?
Porque foi onde houve a mutação de uma gramínea chamada trigo, que proporcionou a confecção do pão, fácil de armazenar e transportar. O homem começou a construir cercado por aquilo que o alimentava, trigo selvagem. Como bem sabe todo português: a humanidade se desenvolveu graças aos padeiros.
Hoje, olhando os lançamentos imobiliários das cidades congestionadas e amedrontadas, se vê a união de casa, área com lazer de um clube e anexo comercial. Não é perfeito?
O homem mora e trabalha cercado pelo mesmo muro neolítico. Se diverte, se exercita e se liberta do que há de ruim nas cidades. Cultura? Uma rede de distribuição de filmes, peças, óperas, eventos esportivos e shows está disponível por banda larga. Tem as redes sociais, para fazer novas amizades e realimentar as antigas. Tem ensino à distância, para se aprimorar. Sair de casa? Pra quê?
Esquece calçadas, passeios a pé, comércio de rua, sorvete da esquina, banca de jornal, pipoqueiro, mamães com carrinhos de bebê, parquinho, mesinha de damas dos aposentados, quadra em que um filho pode jogar e conhecer um garoto de outro bairro ou classe social. Esquece as padarias.
Como o homem do neolítico, passamos a morar onde trabalhamos. Nas nossas bolhas. Em megacavernas. Eventualmente, em nosso SUV, visitamos outra caverna gigante, templo de compras: o shopping.
Somos mais saudáveis e viveremos com mais segurança. Mas a que preço?
*
Meu pai construiu prédios com o arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Dava os nomes. Anunciava nos jornais. Até hoje, uma das coisas que mais gosto de fazer é ver anúncios imobiliários.
Não estou atrás da garrafa de uísque que algumas incorporadoras oferecem para aqueles que visitam lançamentos residenciais e comerciais - ou melhor, empresariais, afinal, não somos mais comerciantes, mas empreendedores. Para ganhar uma garrafa, é "obrigatório" passar pelo atendimento do corretor. E é válido apenas para as 50 primeiras pessoas que visitarem o plantão. O que não é problema para meus amigos bebuns, que vão direto do bar. Que farra...
Há anos que me debruço fascinado sobre os anúncios, apesar de já ter a chamada casa própria. Ver como as pessoas pretendem morar é um exercício de arqueologia contemporânea. Ver como pretendem morar na vizinhança, voyeurismo. Sem contar a inveja saudável de futuros vizinhos bem-afortunados (literalmente).
Uma revolução acontece entre as coberturas e o térreo. Lançamento de alto padrão não vem com uma simples portaria, mas com "porta cochère". Outros não são apenas condomínios, mas "condomínios resort". Armário embutido desapareceu junto com o tigre da tasmânia. O quarto de empregada foi extinto. Alguns apartamentos vêm sem o quarto, mas com um banheiro na área de serviço. Seria o banheiro da diarista? Ou melhor, da "femme de ménage"?
Aliás, prédios não se chamam mais prédios, mas torres. Alguns se chamam "residencial". Outros, "boulevard". Alguns têm varanda gourmet, o sonho de todo morador de prédio, digo, torre: terraço com churrasqueira.
Outros vêm com fechadura biométrica, serviço pay-per-use, piscina com fundo infinito, fitness center, que antigamente chamávamos de academia, e a última onda, um espaço dedicado a seu quatro patas, agora popularmente conhecido como pet, cujo nome varia: space dog, pet garden, pet place, pet care, pet walk, pet play, pet space.
A maioria dos apartamentos está menor. Recentemente, um lançamento de 18 metros quadrados foi avacalhado nas redes sociais. É o espaço de três metros por seis. Apertado, mas dá. Nos idos tempos, se chamava quitinete, de kitnet. É a medida do apezinho do famoso Bloco B do Copan, antes, terra de ninguém (sã), hoje, valorizadíssimo.
Há poucos anos, os prédios vinham com lounge. Já ficou démodé. Como a sauna. Pelo visto, ninguém mais quer aliviar tensões apertado sobre um tablado de madeira, sufocado por calor e essência de eucalipto, suando com vizinhos, síndico e subsíndico, relembrando a última reunião condominial.
Não se veem mais lançamentos de quatro quartos, como no boom imobiliário da classe média alta da década de 1970. As famílias diminuíram. Mas aumentaram o número de vagas para carros. Menos filhos, mais carros. Dá menos trabalho. Estamos ficando tão estranhos...
O mercado não dorme no ponto, se renova. A PDG lançou o produto "vem com tudo". Imóveis já decorados. Imóveis com móveis planejados. Compra o imóvel de um, dois, três dormitórios, e ganha o móvel, ganha sala, cozinha, quartos e banheiros. Sensacional. Por que não pensaram nisso quando comprei a minha casa própria?
Vou também inovar. Me associar a um site de relacionamento matrimonial, encontrar a cara metade do cliente, a outra face da laranja, através de um programa que calcula por algoritmo as afinidades dos proponentes. Que ganham, no meu futuro empreendimento imobiliário, sala, cozinha, quartos e banheiros, um beagle saudável sem o selo Royal, uma adega com vinho, uísque, vodca e saquê, um marido ou uma esposa! E um ano de ração grátis. Para o pet. Onde está o telefone do Mendes da Rocha?
O vício de comer - DRAUZIO VARELLA
FOLHA DE SP - 16/11
Essa armadilha não lembra, de fato, a que aprisiona dependentes de nicotina, cocaína, álcool ou heroína?
O povo diz que os gordos são mentirosos e preguiçosos, andam pouco e comem mais do que confessam.
Essa visão preconceituosa está por trás do atraso da medicina no tratamento da obesidade. Quando alguém com excesso de peso procura ajuda médica, a única prescrição que leva para casa é a de reduzir o número de calorias ingeridas.
Existe recomendação mais fadada ao insucesso? É o mesmo que aconselhar o alcoólatra a beber com moderação. Quem consegue controlar a compulsão para comer ou beber não engorda nem fica bêbado.
A primeira descoberta relevante no campo da obesidade só aconteceu nos anos 1990, quando Coleman e Friedman relataram que certos ratos obesos eram insaciáveis porque apresentavam um defeito genético nas células do tecido adiposo, que as tornava deficientes na produção de leptina --hormônio ligado à inibição do apetite.
Foi a demonstração inequívoca de que havia fatores hormonais envolvidos na obesidade.
Logo ficou claro, entretanto, que essa visão hormonal era incompleta: 1) São raros os casos de deficiência de leptina. 2) Muitos obesos, ao contrário, produzem níveis mais altos de leptina, insulina e outros hormônios inibidores da fome, mas são pouco sensíveis a seus efeitos.
A visão atual compara a neurobiologia da obesidade à da compulsão por drogas, como cocaína ou heroína.
Quando a fome aperta, hormônios liberados pelo aparelho digestivo ativam os circuitos cerebrais de recompensa localizados no núcleo estriado. Essa área contém concentrações elevadas de endorfinas, mediadores ligados à sensação de prazer.
À medida que o estômago se distende e os alimentos progridem no trato digestivo, há liberação de hormônios que reduzem gradativamente o gosto que a refeição traz, tornando os alimentos menos atraentes. Os hormônios que estimulam ou diminuem o apetite agem por meio do ajuste fino dos prazeres à mesa.
Carboidratos e alimentos gordurosos subvertem essa ordem. São capazes de excitar sensorialmente o sistema de recompensa a ponto de deixá-lo mais resistente aos hormônios da saciedade. Esse mecanismo explica por que depois do terceiro prato de feijoada, já com o estômago prestes a explodir, encontramos espaço para a torta de chocolate.
À medida que o peso corpóreo aumenta, o organismo responde aumentando os níveis sanguíneos de leptina, insulina e outros supressores do apetite.
Como consequência, surge tolerância crescente às ações desses hormônios. Na obesidade, os circuitos de recompensa respondem mal à presença de alimentos no estômago, exigindo quantidades cada vez maiores para disparar a saciedade. Pessoas obesas precisam comer mais para experimentar a mesma sensação de plenitude acessível com quantidades menores às mais magras.
Como defende Paul Kenny, do Scripps Research Institute, da Flórida: "A obesidade não é causada por falta de força de vontade. Como nas drogas causadoras de dependência, a compulsão pela comida provoca um feedback' nos centros cerebrais de recompensa: quanto mais calorias você consome, mais fome sente e maior é a dificuldade para aplacá-la".
Essa armadilha não lembra, de fato, a que aprisiona dependentes de nicotina, cocaína, álcool ou heroína? O efeito sanfona não é comparável às recaídas dos usuários dessas drogas? Faz sentido: a evolução não criaria um sistema de recompensa para cada forma de compulsão.
Durante milhões de anos, a sobrevivência de nossos ancestrais esteve ameaçada pela escassez de alimentos. Como ativar a saciedade era preocupação secundária, a seleção natural privilegiou aqueles dotados de circuitos cerebrais mais eficientes em estimular a fome do que em suprimi-la.
Os avanços da culinária, a fartura, a disponibilidade de alimentos industrializados ricos em gorduras e carboidratos, os sucos, refrigerantes, biscoitos e salgadinhos ao alcance das crianças, a cultura de passar horas à mesa e a vida sedentária criaram as condições ambientais para que a epidemia de obesidade se disseminasse.
Segundo o IBGE, há 52% de brasileiros com excesso de peso ou obesidade, número que nos Estados Unidos ultrapassou 70%. Em poucos anos chegaremos lá.
Essa armadilha não lembra, de fato, a que aprisiona dependentes de nicotina, cocaína, álcool ou heroína?
O povo diz que os gordos são mentirosos e preguiçosos, andam pouco e comem mais do que confessam.
Essa visão preconceituosa está por trás do atraso da medicina no tratamento da obesidade. Quando alguém com excesso de peso procura ajuda médica, a única prescrição que leva para casa é a de reduzir o número de calorias ingeridas.
Existe recomendação mais fadada ao insucesso? É o mesmo que aconselhar o alcoólatra a beber com moderação. Quem consegue controlar a compulsão para comer ou beber não engorda nem fica bêbado.
A primeira descoberta relevante no campo da obesidade só aconteceu nos anos 1990, quando Coleman e Friedman relataram que certos ratos obesos eram insaciáveis porque apresentavam um defeito genético nas células do tecido adiposo, que as tornava deficientes na produção de leptina --hormônio ligado à inibição do apetite.
Foi a demonstração inequívoca de que havia fatores hormonais envolvidos na obesidade.
Logo ficou claro, entretanto, que essa visão hormonal era incompleta: 1) São raros os casos de deficiência de leptina. 2) Muitos obesos, ao contrário, produzem níveis mais altos de leptina, insulina e outros hormônios inibidores da fome, mas são pouco sensíveis a seus efeitos.
A visão atual compara a neurobiologia da obesidade à da compulsão por drogas, como cocaína ou heroína.
Quando a fome aperta, hormônios liberados pelo aparelho digestivo ativam os circuitos cerebrais de recompensa localizados no núcleo estriado. Essa área contém concentrações elevadas de endorfinas, mediadores ligados à sensação de prazer.
À medida que o estômago se distende e os alimentos progridem no trato digestivo, há liberação de hormônios que reduzem gradativamente o gosto que a refeição traz, tornando os alimentos menos atraentes. Os hormônios que estimulam ou diminuem o apetite agem por meio do ajuste fino dos prazeres à mesa.
Carboidratos e alimentos gordurosos subvertem essa ordem. São capazes de excitar sensorialmente o sistema de recompensa a ponto de deixá-lo mais resistente aos hormônios da saciedade. Esse mecanismo explica por que depois do terceiro prato de feijoada, já com o estômago prestes a explodir, encontramos espaço para a torta de chocolate.
À medida que o peso corpóreo aumenta, o organismo responde aumentando os níveis sanguíneos de leptina, insulina e outros supressores do apetite.
Como consequência, surge tolerância crescente às ações desses hormônios. Na obesidade, os circuitos de recompensa respondem mal à presença de alimentos no estômago, exigindo quantidades cada vez maiores para disparar a saciedade. Pessoas obesas precisam comer mais para experimentar a mesma sensação de plenitude acessível com quantidades menores às mais magras.
Como defende Paul Kenny, do Scripps Research Institute, da Flórida: "A obesidade não é causada por falta de força de vontade. Como nas drogas causadoras de dependência, a compulsão pela comida provoca um feedback' nos centros cerebrais de recompensa: quanto mais calorias você consome, mais fome sente e maior é a dificuldade para aplacá-la".
Essa armadilha não lembra, de fato, a que aprisiona dependentes de nicotina, cocaína, álcool ou heroína? O efeito sanfona não é comparável às recaídas dos usuários dessas drogas? Faz sentido: a evolução não criaria um sistema de recompensa para cada forma de compulsão.
Durante milhões de anos, a sobrevivência de nossos ancestrais esteve ameaçada pela escassez de alimentos. Como ativar a saciedade era preocupação secundária, a seleção natural privilegiou aqueles dotados de circuitos cerebrais mais eficientes em estimular a fome do que em suprimi-la.
Os avanços da culinária, a fartura, a disponibilidade de alimentos industrializados ricos em gorduras e carboidratos, os sucos, refrigerantes, biscoitos e salgadinhos ao alcance das crianças, a cultura de passar horas à mesa e a vida sedentária criaram as condições ambientais para que a epidemia de obesidade se disseminasse.
Segundo o IBGE, há 52% de brasileiros com excesso de peso ou obesidade, número que nos Estados Unidos ultrapassou 70%. Em poucos anos chegaremos lá.
Até que as imagens nos separem - CACÁ DIEGUES
O GLOBO 16/11
O Cinema Novo conquistava para nós o direito à qualidade, já se podia dizer ‘eu te amo’ no cinema brasileiro
Quando eu era adolescente, havia no país a ideia generalizada de que o Brasil jamais produziria bons filmes. Uma cinematografia nacional de respeito era coisa para quem vivia a modernidade, dominava a tecnologia, produzia coisas para um público ilustrado como não era o nosso. A ausência de um cinema de qualidade era a marca mais nítida da incompetência crônica do país, de sua inferioridade em relação ao resto do mundo.
Um jornalista chegou a escrever que a língua portuguesa não servia para cinema. “É impossível alguém dizer na tela ‘eu te amo’, sem que o público caia na gargalhada”, escrevia ele.
Foi a geração do Cinema Novo que impôs um conceito nacional de qualidade que, consagrado internacionalmente, tornou-se no mínimo polêmico entre nós. O Cinema Novo conquistava para nós o direito à qualidade, já se podia dizer “eu te amo” no cinema brasileiro.
O passo seguinte seria a conquista do público, durante a existência da Embrafilme, empresa estatal através da qual se produziram, na passagem da década de 1970 para os 80, filmes como “Xica da Silva”, “Dona Flor e seus dois maridos”, “Eu te amo”, “A dama do lotação”, “Guerra conjugal”, “Eles não usam black tie”, “O amuleto de Ogum”, “Pixote” e muitos outros. Esse andar da carruagem foi interrompido pela crise econômica que levou o Brasil à moratória e empobreceu a população, no fim dos anos 1980. E pela ascensão do presidente Collor de Mello, o carrasco da cultura brasileira.
Hoje, assistimos ao renascimento do cinema brasileiro, que começou com a Lei do Audiovisual de 1993, criada durante o governo Itamar Franco, permitindo a volta da produção nacional. Essa recuperação é chamada de “retomada”, na esperança de que não seja apenas mais um ciclo que acabe daqui a pouco, mas a inauguração do cinema como atividade permanente no país.
Segundo a Ancine, até o fim de 2013 o Brasil terá produzido 106 filmes de longa-metragem, o que será um recorde mesmo se compararmos o número com os do auge da Embrafilme. Não somos obrigados a gostar de todos esses filmes. Que cinematografia no mundo é capaz de produzir mais do que 10% de grandes filmes por ano? Vemos 60 bons filmes americanos por ano, dos 600 que eles produzem? Ou 25 dos 250 franceses? Temos até mais chance com os nossos prováveis dez, que podem ser muito mais.
Antes de fazermos um filme, o cinema é um sonho. Quando o estamos fazendo com dificuldade, parece um pesadelo. Uma vez o filme pronto para ser lançado, caímos na real. A vida continua sendo mais importante que o sonho, mas a vantagem do filme é que no cinema temos cortes e elipses, enquanto que a vida é feita de um único e interminável plano sequência linear, cheio de excessivos tempos mortos. Mas não precisamos pagar o preço de uma vida por um filme.
Pode ser que estejamos discutindo um passado que ainda não passou. Não só a televisão consolidada, como também a tecnologia digital, a grande rede, a produção audiovisual pós-industrial, tudo isso pode estar tornando o cinema, como o conhecemos hoje, um objeto de museu ou de galeria chique. Quando vejo reportagens instantâneas sobre o tufão nas Filipinas, filmes realizados por rapazes durante as manifestações de rua, programas na internet do tipo “Porta dos fundos” ou do francês Bref, longa-metragens destinados a telas que não são mais as das salas de cinema, me pergunto ansioso pelo futuro do cinema e do audiovisual.
Mas o cinema existe, não é à toa que representa hoje a terceira economia de exportação dos Estados Unidos, a maior potência econômica do mundo, vendendo para o mundo inteiro, junto com os filmes, uma mitologia, um comportamento, um modo de viver. Além de produtos da nação de origem, é claro.
Os filmes que têm feito sucesso são os que nosso público quer ver, os que fizeram de 2013 um ano excepcional para a bilheteria do cinema brasileiro. Nem armados de metralhadora podemos obrigá-lo a ver outros filmes mais a nosso gosto. A outra solução seria trocarmos de povo, importarmos uns dois milhões de franceses ou coisa parecida para substituir nosso público. Mas também não ia dar certo — no cinema da França e dos outros países, a situação é a mesma daqui.
Porém, assim como temos o dever de respeitar o gosto popular, temos também o direito de tentar mudá-lo com novas histórias, novas linguagens, novos modos de fazer. E esses novos filmes, sim, precisam de leis e decretos para lutar pelo futuro, uma atenção do estado que deve atender a todos os cidadãos, mesmo os que são minoritários.
Ainda que não gostemos do particular (os filmes), não podemos deixar de comemorar o geral (o sucesso do cinema brasileiro), e trabalhar pela sua diversidade, para que todas as telas sejam ocupadas por toda espécie de filme, de todas as tendências. Até que, quem sabe, a humanidade se canse de tanta imagem à sua disposição e decida não precisar mais de audiovisual.
O Cinema Novo conquistava para nós o direito à qualidade, já se podia dizer ‘eu te amo’ no cinema brasileiro
Quando eu era adolescente, havia no país a ideia generalizada de que o Brasil jamais produziria bons filmes. Uma cinematografia nacional de respeito era coisa para quem vivia a modernidade, dominava a tecnologia, produzia coisas para um público ilustrado como não era o nosso. A ausência de um cinema de qualidade era a marca mais nítida da incompetência crônica do país, de sua inferioridade em relação ao resto do mundo.
Um jornalista chegou a escrever que a língua portuguesa não servia para cinema. “É impossível alguém dizer na tela ‘eu te amo’, sem que o público caia na gargalhada”, escrevia ele.
Foi a geração do Cinema Novo que impôs um conceito nacional de qualidade que, consagrado internacionalmente, tornou-se no mínimo polêmico entre nós. O Cinema Novo conquistava para nós o direito à qualidade, já se podia dizer “eu te amo” no cinema brasileiro.
O passo seguinte seria a conquista do público, durante a existência da Embrafilme, empresa estatal através da qual se produziram, na passagem da década de 1970 para os 80, filmes como “Xica da Silva”, “Dona Flor e seus dois maridos”, “Eu te amo”, “A dama do lotação”, “Guerra conjugal”, “Eles não usam black tie”, “O amuleto de Ogum”, “Pixote” e muitos outros. Esse andar da carruagem foi interrompido pela crise econômica que levou o Brasil à moratória e empobreceu a população, no fim dos anos 1980. E pela ascensão do presidente Collor de Mello, o carrasco da cultura brasileira.
Hoje, assistimos ao renascimento do cinema brasileiro, que começou com a Lei do Audiovisual de 1993, criada durante o governo Itamar Franco, permitindo a volta da produção nacional. Essa recuperação é chamada de “retomada”, na esperança de que não seja apenas mais um ciclo que acabe daqui a pouco, mas a inauguração do cinema como atividade permanente no país.
Segundo a Ancine, até o fim de 2013 o Brasil terá produzido 106 filmes de longa-metragem, o que será um recorde mesmo se compararmos o número com os do auge da Embrafilme. Não somos obrigados a gostar de todos esses filmes. Que cinematografia no mundo é capaz de produzir mais do que 10% de grandes filmes por ano? Vemos 60 bons filmes americanos por ano, dos 600 que eles produzem? Ou 25 dos 250 franceses? Temos até mais chance com os nossos prováveis dez, que podem ser muito mais.
Antes de fazermos um filme, o cinema é um sonho. Quando o estamos fazendo com dificuldade, parece um pesadelo. Uma vez o filme pronto para ser lançado, caímos na real. A vida continua sendo mais importante que o sonho, mas a vantagem do filme é que no cinema temos cortes e elipses, enquanto que a vida é feita de um único e interminável plano sequência linear, cheio de excessivos tempos mortos. Mas não precisamos pagar o preço de uma vida por um filme.
Pode ser que estejamos discutindo um passado que ainda não passou. Não só a televisão consolidada, como também a tecnologia digital, a grande rede, a produção audiovisual pós-industrial, tudo isso pode estar tornando o cinema, como o conhecemos hoje, um objeto de museu ou de galeria chique. Quando vejo reportagens instantâneas sobre o tufão nas Filipinas, filmes realizados por rapazes durante as manifestações de rua, programas na internet do tipo “Porta dos fundos” ou do francês Bref, longa-metragens destinados a telas que não são mais as das salas de cinema, me pergunto ansioso pelo futuro do cinema e do audiovisual.
Mas o cinema existe, não é à toa que representa hoje a terceira economia de exportação dos Estados Unidos, a maior potência econômica do mundo, vendendo para o mundo inteiro, junto com os filmes, uma mitologia, um comportamento, um modo de viver. Além de produtos da nação de origem, é claro.
Os filmes que têm feito sucesso são os que nosso público quer ver, os que fizeram de 2013 um ano excepcional para a bilheteria do cinema brasileiro. Nem armados de metralhadora podemos obrigá-lo a ver outros filmes mais a nosso gosto. A outra solução seria trocarmos de povo, importarmos uns dois milhões de franceses ou coisa parecida para substituir nosso público. Mas também não ia dar certo — no cinema da França e dos outros países, a situação é a mesma daqui.
Porém, assim como temos o dever de respeitar o gosto popular, temos também o direito de tentar mudá-lo com novas histórias, novas linguagens, novos modos de fazer. E esses novos filmes, sim, precisam de leis e decretos para lutar pelo futuro, uma atenção do estado que deve atender a todos os cidadãos, mesmo os que são minoritários.
Ainda que não gostemos do particular (os filmes), não podemos deixar de comemorar o geral (o sucesso do cinema brasileiro), e trabalhar pela sua diversidade, para que todas as telas sejam ocupadas por toda espécie de filme, de todas as tendências. Até que, quem sabe, a humanidade se canse de tanta imagem à sua disposição e decida não precisar mais de audiovisual.
Feriadão! A Marcha dos Vadios! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 16/11
E o Zé Dirceu que tá na praia. Agora ele vai mudar de banho de sol. O banho de sol continua, só muda o local
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! "Babi Rossi termina namoro com filho do Eike." Tá certa! Quem dá aos pobrex, termina pagando a contex do motelzex. Ficou pobrex, levou um pé na bundex! E o pai vai pro semáforo vender MenteX!
E o Zé Dirceu que tá na praia de Itacaré, Bahia. Agora ele vai mudar de banho de sol. O banho de sol continua, só muda o local. E já imaginou estar na praia e receber a notícia de que vai pra cadeia? Morreu na praia! Rarará!
E o Pedro Corrêa, do PP, está esperando a ordem de prisão na fazenda Boa Esperança, município Brejo de Deus! A esperança foi pro brejo.
E o Roberto Jefferson (aaargh) tem cara de delegado de novela da Record!
E a manchete do Piauí Herald: "Dilma autoriza exumação dos restos mortais do DEM". Rarará!
E piada de internet: "Meu filho virou flamenguista, o que eu faço?". "Vai juntando dinheiro pra fiança!". Rarará!
"Meu filho virou são-paulino, o que eu faço?" "Vai juntando dinheiro pro baile de debutantes e pros CDs do Abba!"
"E o meu filho é corintiano, o que eu faço?" "Vai juntando dinheiro pra visita de domingo." Rarará!
E um amigo nesse feriadão levou a namorada pro motel, tirou a cueca e disse: "É pequeno, mas é de coração". E um outro foi passar o feriadão na casa da sogra e só tinha três tipos de comida: enlatada, congelada e queimada.
E na casa de um outro chegou o sogro, a sogra, a cunhada, a prima e o concunhado, a Marcha dos Vadios! Rarará!
Feriadão: A Marcha dos Vadios! E sabe o que uma amiga vai fazer no feriadão? Botar um adesivo na testa: "Tô dando!". Rarará!
E todo feriadão a gente se lembra que BR é abreviatura de buraco. BR-101 quer dizer que tem 101 mil buracos. E que São Paulo é uma cidade rodeada de pedágios por todos os lados!
E um cidadão estava numa fila imensa do check-in, quando a funcionária perguntou: "Qual o seu destino?". "Meu destino é sofrer!" E um outro estava no check-in e a funcionária: "Que poltrona o senhor quer?". "A poltrona da minha casa!" Rarará!
E trabalhar em feriadão dá ziquizira e EMPIPOCA TUDO!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E o Zé Dirceu que tá na praia. Agora ele vai mudar de banho de sol. O banho de sol continua, só muda o local
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! "Babi Rossi termina namoro com filho do Eike." Tá certa! Quem dá aos pobrex, termina pagando a contex do motelzex. Ficou pobrex, levou um pé na bundex! E o pai vai pro semáforo vender MenteX!
E o Zé Dirceu que tá na praia de Itacaré, Bahia. Agora ele vai mudar de banho de sol. O banho de sol continua, só muda o local. E já imaginou estar na praia e receber a notícia de que vai pra cadeia? Morreu na praia! Rarará!
E o Pedro Corrêa, do PP, está esperando a ordem de prisão na fazenda Boa Esperança, município Brejo de Deus! A esperança foi pro brejo.
E o Roberto Jefferson (aaargh) tem cara de delegado de novela da Record!
E a manchete do Piauí Herald: "Dilma autoriza exumação dos restos mortais do DEM". Rarará!
E piada de internet: "Meu filho virou flamenguista, o que eu faço?". "Vai juntando dinheiro pra fiança!". Rarará!
"Meu filho virou são-paulino, o que eu faço?" "Vai juntando dinheiro pro baile de debutantes e pros CDs do Abba!"
"E o meu filho é corintiano, o que eu faço?" "Vai juntando dinheiro pra visita de domingo." Rarará!
E um amigo nesse feriadão levou a namorada pro motel, tirou a cueca e disse: "É pequeno, mas é de coração". E um outro foi passar o feriadão na casa da sogra e só tinha três tipos de comida: enlatada, congelada e queimada.
E na casa de um outro chegou o sogro, a sogra, a cunhada, a prima e o concunhado, a Marcha dos Vadios! Rarará!
Feriadão: A Marcha dos Vadios! E sabe o que uma amiga vai fazer no feriadão? Botar um adesivo na testa: "Tô dando!". Rarará!
E todo feriadão a gente se lembra que BR é abreviatura de buraco. BR-101 quer dizer que tem 101 mil buracos. E que São Paulo é uma cidade rodeada de pedágios por todos os lados!
E um cidadão estava numa fila imensa do check-in, quando a funcionária perguntou: "Qual o seu destino?". "Meu destino é sofrer!" E um outro estava no check-in e a funcionária: "Que poltrona o senhor quer?". "A poltrona da minha casa!" Rarará!
E trabalhar em feriadão dá ziquizira e EMPIPOCA TUDO!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Supremo: supremo - WALTER CENEVIVA
FOLHA DE SP - 16/11
No começo dos processos, predominava a descrença; parecia a muitos que um ou outro seria punido
Um taxista me perguntou qual a razão de chamar um tribunal de supremo se há até um prato com esse nome. Minha cultura alimentar é muito restrita, de modo que me limitei a anotar a importância do Supremo Tribunal Federal, como a mais alta voz, a última escala, para a realização da justiça oficial no Brasil.
Nada mais foi dito nem perguntado, mas, mesmo assim, cabe lembrar ao leitor um trecho do "Digesto" (seleção de leis organizada no tempo de Augusto e de Justiniano) a dizer que, em tradução livre, supremo é aquele que não tem ninguém depois dele. Ou, no original: "supremus est quem nemo sequitur".
O Supremo tem esse nome porque é a última escala na hierarquia das cortes de Justiça em nosso país (Constituição, art. 102).
Se o leitor assistiu ao desenrolar, ao vivo, do julgamento dos acusados do chamado "mensalão", sabe que vários políticos muito conhecidos, entre outros, foram condenados a penas de prisão.
Variaram as muitas punições --e, no que é fato único na história do Brasil, em tempos de plena democracia.
Criticou-se, no começo, a aglomeração de muitos acusados, autores de condutas diversas, em um único processo. Seria um erro, por facilitar a demora até a decisão final, ao propiciar a prescrição das penas.
Não foi o que aconteceu. Depois das punições impostas e as prisões decretadas, elas estão por serem cumpridas.
No começo dos processos, predominava a descrença popular. Parecia a muitos que um ou outro infeliz, dos escalões inferiores, seria punido, mas os da primeira linha arranjariam um jeito de se livrarem.
Não se há de ficar nem alegre nem triste com o resultado: a importância dos fatos, o realce dos envolvidos, a integração deles ao Poder Executivo, tudo se soma para aplaudir a realização da chamada justiça dos homens.
Demorou muito, dirão alguns. Sobrou gente de fora, dirão outros. Alguns foram punidos, mas só porque foram leais a seus companheiros. O denunciante deveria merecer o prêmio da absolvição ou da pena muito reduzida.
As frases ouvidas e aquelas que chamarão atenção serão superadas pelo dado essencial: houve delitos. Foram apurados. Seguiu-se a denúncia, com a especificação dos crimes. Os acusados tiveram direito à defesa. Os juízes se dividiram, como convém nos caminhos da justiça oficial. Houve substituições de magistrados da Corte Suprema.
O fato concreto que passará à história é simples se resumir. Revelados os deslizes, as investigações foram levadas avante. O Ministério Público tratou de cumprir bem os deveres previstos no art. 127 e seguintes da Constituição. Os criminalistas, alguns dos mais notáveis advogados dessa área, fizeram o seu melhor.
A cobertura da mídia excedeu os padrões normais, ante o relevo do tema. Foi importante, tanto nos veículos impressos quanto nos eletrônicos, o esforço para traduzir a linguagem complicada do direito.
Houve defeitos. Discutiu-se muito a questão da escolha dos novos ministros do Supremo Tribunal Federal. Não há, em verdade, um critério único, sem possibilidade de nascerem dúvidas. Em outros passos a dificuldade também existe.
Tudo bem pensado e considerado: foi, em resumo, uma vitória da Justiça brasileira.
No começo dos processos, predominava a descrença; parecia a muitos que um ou outro seria punido
Um taxista me perguntou qual a razão de chamar um tribunal de supremo se há até um prato com esse nome. Minha cultura alimentar é muito restrita, de modo que me limitei a anotar a importância do Supremo Tribunal Federal, como a mais alta voz, a última escala, para a realização da justiça oficial no Brasil.
Nada mais foi dito nem perguntado, mas, mesmo assim, cabe lembrar ao leitor um trecho do "Digesto" (seleção de leis organizada no tempo de Augusto e de Justiniano) a dizer que, em tradução livre, supremo é aquele que não tem ninguém depois dele. Ou, no original: "supremus est quem nemo sequitur".
O Supremo tem esse nome porque é a última escala na hierarquia das cortes de Justiça em nosso país (Constituição, art. 102).
Se o leitor assistiu ao desenrolar, ao vivo, do julgamento dos acusados do chamado "mensalão", sabe que vários políticos muito conhecidos, entre outros, foram condenados a penas de prisão.
Variaram as muitas punições --e, no que é fato único na história do Brasil, em tempos de plena democracia.
Criticou-se, no começo, a aglomeração de muitos acusados, autores de condutas diversas, em um único processo. Seria um erro, por facilitar a demora até a decisão final, ao propiciar a prescrição das penas.
Não foi o que aconteceu. Depois das punições impostas e as prisões decretadas, elas estão por serem cumpridas.
No começo dos processos, predominava a descrença popular. Parecia a muitos que um ou outro infeliz, dos escalões inferiores, seria punido, mas os da primeira linha arranjariam um jeito de se livrarem.
Não se há de ficar nem alegre nem triste com o resultado: a importância dos fatos, o realce dos envolvidos, a integração deles ao Poder Executivo, tudo se soma para aplaudir a realização da chamada justiça dos homens.
Demorou muito, dirão alguns. Sobrou gente de fora, dirão outros. Alguns foram punidos, mas só porque foram leais a seus companheiros. O denunciante deveria merecer o prêmio da absolvição ou da pena muito reduzida.
As frases ouvidas e aquelas que chamarão atenção serão superadas pelo dado essencial: houve delitos. Foram apurados. Seguiu-se a denúncia, com a especificação dos crimes. Os acusados tiveram direito à defesa. Os juízes se dividiram, como convém nos caminhos da justiça oficial. Houve substituições de magistrados da Corte Suprema.
O fato concreto que passará à história é simples se resumir. Revelados os deslizes, as investigações foram levadas avante. O Ministério Público tratou de cumprir bem os deveres previstos no art. 127 e seguintes da Constituição. Os criminalistas, alguns dos mais notáveis advogados dessa área, fizeram o seu melhor.
A cobertura da mídia excedeu os padrões normais, ante o relevo do tema. Foi importante, tanto nos veículos impressos quanto nos eletrônicos, o esforço para traduzir a linguagem complicada do direito.
Houve defeitos. Discutiu-se muito a questão da escolha dos novos ministros do Supremo Tribunal Federal. Não há, em verdade, um critério único, sem possibilidade de nascerem dúvidas. Em outros passos a dificuldade também existe.
Tudo bem pensado e considerado: foi, em resumo, uma vitória da Justiça brasileira.
Policiais não são máquinas de segurança - MARIA CECÍLIA DE SOUZA MINAYO
O GLOBO - 16/11
São homens e mulheres que, como nós, sofrem, amam, desejam, têm medo, mas arriscam sua vida para nos proteger
Dentre os assuntos tratados pela mídia a partir da divulgação do Anuário de Segurança Pública de 2013, destaco um ainda não tocado: a pessoa do policial. Não falo dos policiais corruptos que cruzam a linha tênue entre o crime e sua coerção. Refiro-me à maioria dos 675.996 policiais do país e especificamente aos quase 60 mil do Estado do Rio de Janeiro.
Desde 2002 estudamos as condições de vida, trabalho e saúde dos policiais civis e militares, na hipótese de que seu bem-estar contribui para a segurança da sociedade. A lógica do Estado democrático repousa sobre a coesão e a coerção social, e a polícia, no mundo inteiro, foi criada para manter esse equilíbrio. Sua missão é exercer o monopólio da violência física legítima em nome do Estado, substituindo a prática da justiça pelas próprias mãos.
A Constituição brasileira também atribui à polícia o nobre papel de proteger a sociedade, prevenir o crime e investigar os malfeitos que corroem a vida social. Apesar dessa missão indispensável, a polícia no Brasil sempre foi desprezada e cobrada mais do que deveria. Quando há um contexto conflituoso e convulsionado como o que ocorre desde junho de 2013, o endurecimento policial, cujo efeito funesto para a coesão social é conhecido, sempre acaba sendo reforçado. Poucos perguntam os motivos que provocam as desordens. Falta consciência de que ordem e desordem são coproduções, nas quais instituições de segurança têm papel tão importante como as populações com as quais se confrontam.
Policiais não são máquinas de produzir segurança: enfrentam situações de risco que os levam à morte e a lesionar-se em proporções muito mais altas do que a população civil; suas jornadas são exercidas em condições adversas e extenuantes; existe insuficiência de servidores para a quantidade de serviço; e seus equipamentos de trabalho e proteção pessoal muitas vezes são impróprios e inadequados.
Nossos estudos e outros mostram que a dignidade prévia de que os policiais se investem pelo papel essencial de poder de Estado não se sustenta quando inexistem condições suficientes para exercê-la. As pesquisas realçam o mal que lhes fazem a insatisfação, a ansiedade e a falta de reconhecimento. A impossibilidade de expressar e ver acolhido seu sofrimento acabam se transformando em adoecimento e comorbidades como problemas gastrintestinais, disfunções cardíacas, insônia, irritação, depressão e outros agravos físicos e mentais. Mas, mesmo enfrentando desvalorização profissional, a maioria gosta do que faz: seu papel social entranha tanto sua identidade que chega a definir o que são, como agem e como pensam.
Assim, contra os que colocam na conta dos policiais todos os problemas de segurança pública, minha intenção é suscitar uma reflexão social sobre a necessidade de reconhecimento do seu papel e do valor de sua contribuição. Policiais são homens e mulheres que, como nós, sofrem, amam, desejam, têm medo, mas arriscam sua vida para nos proteger.
São homens e mulheres que, como nós, sofrem, amam, desejam, têm medo, mas arriscam sua vida para nos proteger
Dentre os assuntos tratados pela mídia a partir da divulgação do Anuário de Segurança Pública de 2013, destaco um ainda não tocado: a pessoa do policial. Não falo dos policiais corruptos que cruzam a linha tênue entre o crime e sua coerção. Refiro-me à maioria dos 675.996 policiais do país e especificamente aos quase 60 mil do Estado do Rio de Janeiro.
Desde 2002 estudamos as condições de vida, trabalho e saúde dos policiais civis e militares, na hipótese de que seu bem-estar contribui para a segurança da sociedade. A lógica do Estado democrático repousa sobre a coesão e a coerção social, e a polícia, no mundo inteiro, foi criada para manter esse equilíbrio. Sua missão é exercer o monopólio da violência física legítima em nome do Estado, substituindo a prática da justiça pelas próprias mãos.
A Constituição brasileira também atribui à polícia o nobre papel de proteger a sociedade, prevenir o crime e investigar os malfeitos que corroem a vida social. Apesar dessa missão indispensável, a polícia no Brasil sempre foi desprezada e cobrada mais do que deveria. Quando há um contexto conflituoso e convulsionado como o que ocorre desde junho de 2013, o endurecimento policial, cujo efeito funesto para a coesão social é conhecido, sempre acaba sendo reforçado. Poucos perguntam os motivos que provocam as desordens. Falta consciência de que ordem e desordem são coproduções, nas quais instituições de segurança têm papel tão importante como as populações com as quais se confrontam.
Policiais não são máquinas de produzir segurança: enfrentam situações de risco que os levam à morte e a lesionar-se em proporções muito mais altas do que a população civil; suas jornadas são exercidas em condições adversas e extenuantes; existe insuficiência de servidores para a quantidade de serviço; e seus equipamentos de trabalho e proteção pessoal muitas vezes são impróprios e inadequados.
Nossos estudos e outros mostram que a dignidade prévia de que os policiais se investem pelo papel essencial de poder de Estado não se sustenta quando inexistem condições suficientes para exercê-la. As pesquisas realçam o mal que lhes fazem a insatisfação, a ansiedade e a falta de reconhecimento. A impossibilidade de expressar e ver acolhido seu sofrimento acabam se transformando em adoecimento e comorbidades como problemas gastrintestinais, disfunções cardíacas, insônia, irritação, depressão e outros agravos físicos e mentais. Mas, mesmo enfrentando desvalorização profissional, a maioria gosta do que faz: seu papel social entranha tanto sua identidade que chega a definir o que são, como agem e como pensam.
Assim, contra os que colocam na conta dos policiais todos os problemas de segurança pública, minha intenção é suscitar uma reflexão social sobre a necessidade de reconhecimento do seu papel e do valor de sua contribuição. Policiais são homens e mulheres que, como nós, sofrem, amam, desejam, têm medo, mas arriscam sua vida para nos proteger.
BOCA DE URNA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 16/11
A defesa do auditor Ronilson Bezerra Rodrigues, um dos pivôs do escândalo dos fiscais da Prefeitura de São Paulo, estuda argumentar que os crimes, se existiram, foram eleitorais.
PÉ E CABEÇA
"O encaminhamento que o Ministério Público tem dado às investigações, com o envolvimento de vereadores que receberiam dinheiro para campanhas, mostram que as coisas caminham para esse lado. Do ponto de vista jurídico, é uma reviravolta", diz Ricardo Sayeg, advogado de Rodrigues.
É POSSÍVEL
Ele segue: "Ainda não temos um diagnóstico. Mas é uma das possibilidades, se tudo for retratado como um delito eleitoral".
BATE EM CHICO
O advogado de Antonio Palocci, José Roberto Batochio, diz que, caso seja constatado que os fiscais acusados de corrupção também quebraram o sigilo fiscal do ex-ministro, "ficará comprovado mais uma vez que ele é vítima de vazadores militantes juramentados".
BATE EM FRANCISCO
Palocci, que caiu do ministério de Lula quando foi acusado de vazar dados bancários de um caseiro, em 2006, teria tido os próprios dados vasculhados e vazados pelos fiscais na administração de Gilberto Kassab em 2011, segundo testemunha que depôs no Ministério Público. Então ministro da Casa Civil de Dilma Rousseff, Palocci caiu de novo por não explicar o aumento de seu patrimônio, após série de reportagens da Folha.
TCHAU, MALUF
Antonio Amaral, presidente da CDHU, a estatal paulista de casas populares, vai sair do cargo. Ele foi nomeado pelo governador Geraldo Alckmin na cota do PP de Paulo Maluf --que deve apoiar o PT na disputa contra o tucano em 2014.
ESTRELA PRINCIPAL
O escritor Laurentino Gomes planejava escrever a biografia de Tiradentes. Desistiu depois de descobrir que o jornalista Lucas Figueiredo já iniciara pesquisa sobre o personagem.
CAMINHO
Lucas Figueiredo procurou saber --e descobriu que Tiradentes não tem herdeiros que poderiam complicar a publicação da obra.
TELA
E o agente de Laurentino nos EUA foi procurado por uma produtora de lá interessada em transformar "1889", seu livro mais recente, em série.
CARTA DE FORTALEZA
Mais de uma dezena de escritores reunidos em Fortaleza assinaram uma carta aberta defendendo a ação que tenta derrubar, no STF (Supremo Tribunal Federal), a exigência de autorização prévia para a publicação de biografias. E apoiando o projeto do deputado Newton Lima (PT-SP) sobre o mesmo tema. Assinaram o documento biógrafos como Fernando Morais, Paulo César de Araújo, Mário Magalhães e também Lucas Figueiredo.
TUDO SE TRANSFORMA
Os apresentadores Luciano Huck e Flávio Canto, a atriz Fiorella Mattheis e o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) entregaram nesta semana alguns dos prêmios do Trip Transformadores 2013. A cantora Daniela Mercury e o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) estavam entre os homenageados da noite. O dono da Editora Trip, Paulo Lima, recebeu convidados como o humorista Rafinha Bastos no Auditório Ibirapuera.
CURTO-CIRCUITO
Verônica Ferriani canta hoje no Auditório Ibirapuera, às 21h. Livre.
A peça "A Geometria do Absurdo", de Marcio Aquiles, será apresentada amanhã, às 19h30, na SP Escola de Teatro. 14 anos.
A Cia Soma de Dança estreia o espetáculo "A Última Estrada", na Casa das Caldeiras, amanhã, às 21h. Grátis. Livre.
Alexandre Nero faz show de lançamento do DVD "Revendo Amor, com Pouco Uso, Quase na Caixa", no Auditório Ibirapuera, amanhã, às 19h. Livre.
O livro "Butantã, um Bairro em Movimento" (Versal Editores), do fotógrafo Edu Simões, será lançado no dia 27, no terraço do edifício Odebrecht, às 19h.
PÉ E CABEÇA
"O encaminhamento que o Ministério Público tem dado às investigações, com o envolvimento de vereadores que receberiam dinheiro para campanhas, mostram que as coisas caminham para esse lado. Do ponto de vista jurídico, é uma reviravolta", diz Ricardo Sayeg, advogado de Rodrigues.
É POSSÍVEL
Ele segue: "Ainda não temos um diagnóstico. Mas é uma das possibilidades, se tudo for retratado como um delito eleitoral".
BATE EM CHICO
O advogado de Antonio Palocci, José Roberto Batochio, diz que, caso seja constatado que os fiscais acusados de corrupção também quebraram o sigilo fiscal do ex-ministro, "ficará comprovado mais uma vez que ele é vítima de vazadores militantes juramentados".
BATE EM FRANCISCO
Palocci, que caiu do ministério de Lula quando foi acusado de vazar dados bancários de um caseiro, em 2006, teria tido os próprios dados vasculhados e vazados pelos fiscais na administração de Gilberto Kassab em 2011, segundo testemunha que depôs no Ministério Público. Então ministro da Casa Civil de Dilma Rousseff, Palocci caiu de novo por não explicar o aumento de seu patrimônio, após série de reportagens da Folha.
TCHAU, MALUF
Antonio Amaral, presidente da CDHU, a estatal paulista de casas populares, vai sair do cargo. Ele foi nomeado pelo governador Geraldo Alckmin na cota do PP de Paulo Maluf --que deve apoiar o PT na disputa contra o tucano em 2014.
ESTRELA PRINCIPAL
O escritor Laurentino Gomes planejava escrever a biografia de Tiradentes. Desistiu depois de descobrir que o jornalista Lucas Figueiredo já iniciara pesquisa sobre o personagem.
CAMINHO
Lucas Figueiredo procurou saber --e descobriu que Tiradentes não tem herdeiros que poderiam complicar a publicação da obra.
TELA
E o agente de Laurentino nos EUA foi procurado por uma produtora de lá interessada em transformar "1889", seu livro mais recente, em série.
CARTA DE FORTALEZA
Mais de uma dezena de escritores reunidos em Fortaleza assinaram uma carta aberta defendendo a ação que tenta derrubar, no STF (Supremo Tribunal Federal), a exigência de autorização prévia para a publicação de biografias. E apoiando o projeto do deputado Newton Lima (PT-SP) sobre o mesmo tema. Assinaram o documento biógrafos como Fernando Morais, Paulo César de Araújo, Mário Magalhães e também Lucas Figueiredo.
TUDO SE TRANSFORMA
Os apresentadores Luciano Huck e Flávio Canto, a atriz Fiorella Mattheis e o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) entregaram nesta semana alguns dos prêmios do Trip Transformadores 2013. A cantora Daniela Mercury e o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) estavam entre os homenageados da noite. O dono da Editora Trip, Paulo Lima, recebeu convidados como o humorista Rafinha Bastos no Auditório Ibirapuera.
CURTO-CIRCUITO
Verônica Ferriani canta hoje no Auditório Ibirapuera, às 21h. Livre.
A peça "A Geometria do Absurdo", de Marcio Aquiles, será apresentada amanhã, às 19h30, na SP Escola de Teatro. 14 anos.
A Cia Soma de Dança estreia o espetáculo "A Última Estrada", na Casa das Caldeiras, amanhã, às 21h. Grátis. Livre.
Alexandre Nero faz show de lançamento do DVD "Revendo Amor, com Pouco Uso, Quase na Caixa", no Auditório Ibirapuera, amanhã, às 19h. Livre.
O livro "Butantã, um Bairro em Movimento" (Versal Editores), do fotógrafo Edu Simões, será lançado no dia 27, no terraço do edifício Odebrecht, às 19h.
A montanha vai a Maomé - JORGE BASTOS MORENO
O GLOBO - 16/11
Imaginem eu chamar a Renata Vasconcellos de feia e, no dia seguinte, a Mariana Ximenes aparece na casa dela para uma visita de agradecimento pela amizade que as une e de reconhecimento da sua beleza. É para romper comigo. Mais que isso, desautorizar-me publicamente. Pois bem, na próxima quarta-feira, Dilma Rousseff comparece à sede do PDS para agradecer a Gilberto Kassab o apoio do partido à sua candidatura à reeleição. Kassab está sendo acusado por Haddad e pelo PT de, no mínimo, convivência com o esquema de propina dos auditores fiscais do município que está sendo desbaratado pelo município. O ex-prefeito reage, mostrando que a corrupção estava na secretaria de governo de Haddad. Kassab, que tira as meias sem se livrar dos sapatos, está tão exultante com a visita de Dilma que tenta me enganar: — Não houve troca de acusações e sim mal-entendidos: esqueciam-se de dizer que as investigações começaram na gestão anterior.
Zorra Total
Cabral pode não ser o amigo dos sonhos da Dilma. Mas é o que mais a diverte, fazendo imitações dela, do Lula e de quem mais aparecer pela frente. No jantar da última quarta-feira, no Alvorada, o governador do Rio, acompanhado do seu vice, Pezão, quase derruba a presidente da cadeira de tanto rir, ao relatar, nos mínimos detalhes, como tinha sido seu último café da manhã com o senador Lindbergh Farias, pré-candidato do PT à sua sucessão. Lindinho, segundo Cabral, depois de obter passe livre dos black blocs, conseguiu entrar no Laranjeiras para dizer ao governador que ele, somente ele, é o herdeiro político dos seus votos. — Votos?! Que votos?! — era o que eu, no caso do governador, perguntaria ao adversário. Depois do café, o senador voltou à sua tribo.
Jango
Conta-me o meu homem no Planalto que o processo de exumação dos restos mortais de João Goulart foi mais longo do que se esperava. Durou 19 horas. O motivo é que, quando Jango foi enterrado, em 1976, os coveiros do cemitério de São Borja acabaram trocando o caixão de lugar. O caixão era muito grande, eles deveriam tê-lo colocado no lado direito, como está registrado no livro oficial do cemitério da cidade . Só que, como não coube, no dia, depois que as pessoas saíram do funeral, os coveiros trocaram para o lado esquerdo. Mas os peritos, segundo minha fonte, fizeram um excelente trabalho. A presidente Dilma foi informada de tudo através de telefonemas dos ministros Cardozão e Maria do Rosário. Dilma pediu também que tudo fosse informado à viúva Maria Thereza.
Caim e Abel?
Michel Temer tem feito de tudo para acabar com a guerra entre os presidentes da Câmara e do Senado. À luz da harmonia, do bom senso e da confluência partidária, é realmente uma batalha insana. Como estímulo ao funcionamento do Congresso, até que ela não é tão ruim assim. Ruim é o “Coisa-ruim”, que manda na bancada da Câmara e estimula a briga para tirar proveitos dela.
Até tu?
Por falar nisso, a presidente Dilma também foi flagrada, dia desses, usando o apelido “Coisa-Ruim” para se referir ao indigitado deputado.
Chapa
Na próxima semana, está previsto mais um encontro entre Eduardo Campos e Aécio Neves. Discutindo sexo dos anjos é que não estão.
‘Moneylisa’
Ah, ia me esquecendo desta nota sensacional. No debate sobre beleza feminina, que reuniu três profissionais do ramo — os renomados cirurgião plástico Volnei Pitombo e dermatologista Fábio Cuyabano, e este modesto repórter —, os médicos condenavam o uso de acrílicos e fios de ouro em cirurgia de correções faciais, devido à rejeição do organismo humano a esses materiais, quando eu próprio dei uma de Ancelmo Gois e gritei: — Há controvérsias! — Como? — assustou-se Cuyabano. Respondi: — Eduardo Cunha foi a São Paulo fazer Botox e colocar fios de ouro no rosto e não houve a menor rejeição.
Imaginem eu chamar a Renata Vasconcellos de feia e, no dia seguinte, a Mariana Ximenes aparece na casa dela para uma visita de agradecimento pela amizade que as une e de reconhecimento da sua beleza. É para romper comigo. Mais que isso, desautorizar-me publicamente. Pois bem, na próxima quarta-feira, Dilma Rousseff comparece à sede do PDS para agradecer a Gilberto Kassab o apoio do partido à sua candidatura à reeleição. Kassab está sendo acusado por Haddad e pelo PT de, no mínimo, convivência com o esquema de propina dos auditores fiscais do município que está sendo desbaratado pelo município. O ex-prefeito reage, mostrando que a corrupção estava na secretaria de governo de Haddad. Kassab, que tira as meias sem se livrar dos sapatos, está tão exultante com a visita de Dilma que tenta me enganar: — Não houve troca de acusações e sim mal-entendidos: esqueciam-se de dizer que as investigações começaram na gestão anterior.
Zorra Total
Cabral pode não ser o amigo dos sonhos da Dilma. Mas é o que mais a diverte, fazendo imitações dela, do Lula e de quem mais aparecer pela frente. No jantar da última quarta-feira, no Alvorada, o governador do Rio, acompanhado do seu vice, Pezão, quase derruba a presidente da cadeira de tanto rir, ao relatar, nos mínimos detalhes, como tinha sido seu último café da manhã com o senador Lindbergh Farias, pré-candidato do PT à sua sucessão. Lindinho, segundo Cabral, depois de obter passe livre dos black blocs, conseguiu entrar no Laranjeiras para dizer ao governador que ele, somente ele, é o herdeiro político dos seus votos. — Votos?! Que votos?! — era o que eu, no caso do governador, perguntaria ao adversário. Depois do café, o senador voltou à sua tribo.
Jango
Conta-me o meu homem no Planalto que o processo de exumação dos restos mortais de João Goulart foi mais longo do que se esperava. Durou 19 horas. O motivo é que, quando Jango foi enterrado, em 1976, os coveiros do cemitério de São Borja acabaram trocando o caixão de lugar. O caixão era muito grande, eles deveriam tê-lo colocado no lado direito, como está registrado no livro oficial do cemitério da cidade . Só que, como não coube, no dia, depois que as pessoas saíram do funeral, os coveiros trocaram para o lado esquerdo. Mas os peritos, segundo minha fonte, fizeram um excelente trabalho. A presidente Dilma foi informada de tudo através de telefonemas dos ministros Cardozão e Maria do Rosário. Dilma pediu também que tudo fosse informado à viúva Maria Thereza.
Caim e Abel?
Michel Temer tem feito de tudo para acabar com a guerra entre os presidentes da Câmara e do Senado. À luz da harmonia, do bom senso e da confluência partidária, é realmente uma batalha insana. Como estímulo ao funcionamento do Congresso, até que ela não é tão ruim assim. Ruim é o “Coisa-ruim”, que manda na bancada da Câmara e estimula a briga para tirar proveitos dela.
Até tu?
Por falar nisso, a presidente Dilma também foi flagrada, dia desses, usando o apelido “Coisa-Ruim” para se referir ao indigitado deputado.
Chapa
Na próxima semana, está previsto mais um encontro entre Eduardo Campos e Aécio Neves. Discutindo sexo dos anjos é que não estão.
‘Moneylisa’
Ah, ia me esquecendo desta nota sensacional. No debate sobre beleza feminina, que reuniu três profissionais do ramo — os renomados cirurgião plástico Volnei Pitombo e dermatologista Fábio Cuyabano, e este modesto repórter —, os médicos condenavam o uso de acrílicos e fios de ouro em cirurgia de correções faciais, devido à rejeição do organismo humano a esses materiais, quando eu próprio dei uma de Ancelmo Gois e gritei: — Há controvérsias! — Como? — assustou-se Cuyabano. Respondi: — Eduardo Cunha foi a São Paulo fazer Botox e colocar fios de ouro no rosto e não houve a menor rejeição.
Há vagas - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 16/11
A Secretaria de Administração Penitenciária do governo de São Paulo deve informar à Justiça Federal que dispõe de vagas para que condenados do mensalão cumpram pena em regime semiaberto em pelo menos dois presídios do Estado. Levantamento mostra que há dez leitos na Penitenciária 2 de Tremembé e pelo menos o mesmo número no Centro de Ressocialização de Limeira. Nas duas unidades, quem cumpre pena nesse regime dorme em um tipo de alojamento, e não em celas.
Em casa
A comunicação do governo paulista sobre a disponibilidade de lugares deve frustrar a estratégia de vários advogados de requerer regime aberto por falta de capacidade do sistema prisional para receber esses presos.
Tensão
Advogados e parentes de José Genoino se preocuparam com a saúde do ex-presidente do PT, que chegou muito ofegante à sede da Polícia Federal em São Paulo. O petista está sob acompanhamento médico por problemas cardíacos e toma remédios anticoagulantes.
Resignado
A pessoas próximas, Genoino desabafou, logo antes de se apresentar: "Já passei por situações piores. Enfrentarei esse momento com dignidade".
Cuidado 1
A defesa de Marcos Valério pediu ao governo de Minas que seja providenciada uma cela especial, em que o operador do mensalão fique sozinho.
Cuidado 2
Valério relata ter sofrido agressões quando ficou preso. O governo mineiro concordou com o pedido e o publicitário deverá ir para o presídio de Sete Lagoas, mais seguro que os da capital.
Mesozoico
Na sessão de quinta-feira do STF, a ministra Rosa Weber brincou que a duração de sua carreira na magistratura a tornava "jurássica". "Então estamos com Steven Spielberg, no parque de dinossauros que ele imaginou", disse o colega Luiz Fux.
Rei do...
O PMDB vai protestar se Dilma Rousseff "fatiar" a reforma da Esplanada, dividindo entre janeiro e março a saída dos ministros que disputarão a eleição.
... camarote
A sigla acha injusto que Alexandre Padilha (Saúde), por exemplo, fique no governo para aumentar sua exposição por mais dois meses, enquanto os peemedebistas candidatos podem ser instados a sair antes.
Pano rápido
A presidente não escondeu o constrangimento ontem no Congresso do PC do B diante do coro "É Flávio Dino, é união, é Flávio Dino para mudar o Maranhão". O PT deve apoiar o candidato do PMDB à sucessão de Roseana Sarney.
Camaradas
Dino e a deputada federal Jandira Feghali, que também deve enfrentar o PT se disputar o governo do Rio, foram apresentados como candidatos a governador durante o evento do PC do B. Padilha foi saudado apenas como ministro.
No bolso
Eduardo Campos agendou uma maratona de encontros com representantes do mercado financeiro na segunda-feira, em São Paulo. O pessebista tem almoço marcado no Banco Pine, palestra no Credit Suisse e jantar no JP Morgan.
Senta lá
Apesar de negociar a indicação de um vice para Alexandre Padilha, o PR procurou o PSDB paulista e fez chegar ao Palácio dos Bandeirantes que a decisão sobre seu apoio na eleição só será tomada em 2014.
1 x 0
Tucanos festejaram por Aécio Neves ter sido ovacionado no Mineirão ao aparecer no telão após o título do Cruzeiro no Campeonato Brasileiro, quarta-feira. Lembram a vaia a Dilma na Copa das Confederações, em junho.
com BRUNO BOGHOSSIAN e PAULO GAMA
tiroteio
"Marina sempre fez terrorismo ambiental. Ao prever inflação de 10%, faz terrorismo econômico e prova que vive em outro mundo."
DO DEPUTADO ANDRÉ VARGAS (PT-PR), vice-presidente da Câmara, sobre texto de Marina Silva na Folha, em que aponta inflação "extraoficial" de 10% anuais.
contraponto
O homem que sabia demais
Em uma sala com o ex-chanceler Antonio Patriota e o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), o diplomata sueco Jan Eliasson, secretário-geral-adjunto da ONU, relatou episódio da abertura da Assembleia-Geral da entidade, em setembro. Eliasson contou que, antes de entrar na sessão, Barack Obama perguntou o que Dilma Rousseff havia dito em seu discurso.
O sueco entregou a Obama uma cópia da fala da brasileira, que criticou a espionagem dos EUA no Brasil. O americano leu trechos e, resignado, devolveu o papel.
--Não estou surpreso... --respondeu Obama.
Em casa
A comunicação do governo paulista sobre a disponibilidade de lugares deve frustrar a estratégia de vários advogados de requerer regime aberto por falta de capacidade do sistema prisional para receber esses presos.
Tensão
Advogados e parentes de José Genoino se preocuparam com a saúde do ex-presidente do PT, que chegou muito ofegante à sede da Polícia Federal em São Paulo. O petista está sob acompanhamento médico por problemas cardíacos e toma remédios anticoagulantes.
Resignado
A pessoas próximas, Genoino desabafou, logo antes de se apresentar: "Já passei por situações piores. Enfrentarei esse momento com dignidade".
Cuidado 1
A defesa de Marcos Valério pediu ao governo de Minas que seja providenciada uma cela especial, em que o operador do mensalão fique sozinho.
Cuidado 2
Valério relata ter sofrido agressões quando ficou preso. O governo mineiro concordou com o pedido e o publicitário deverá ir para o presídio de Sete Lagoas, mais seguro que os da capital.
Mesozoico
Na sessão de quinta-feira do STF, a ministra Rosa Weber brincou que a duração de sua carreira na magistratura a tornava "jurássica". "Então estamos com Steven Spielberg, no parque de dinossauros que ele imaginou", disse o colega Luiz Fux.
Rei do...
O PMDB vai protestar se Dilma Rousseff "fatiar" a reforma da Esplanada, dividindo entre janeiro e março a saída dos ministros que disputarão a eleição.
... camarote
A sigla acha injusto que Alexandre Padilha (Saúde), por exemplo, fique no governo para aumentar sua exposição por mais dois meses, enquanto os peemedebistas candidatos podem ser instados a sair antes.
Pano rápido
A presidente não escondeu o constrangimento ontem no Congresso do PC do B diante do coro "É Flávio Dino, é união, é Flávio Dino para mudar o Maranhão". O PT deve apoiar o candidato do PMDB à sucessão de Roseana Sarney.
Camaradas
Dino e a deputada federal Jandira Feghali, que também deve enfrentar o PT se disputar o governo do Rio, foram apresentados como candidatos a governador durante o evento do PC do B. Padilha foi saudado apenas como ministro.
No bolso
Eduardo Campos agendou uma maratona de encontros com representantes do mercado financeiro na segunda-feira, em São Paulo. O pessebista tem almoço marcado no Banco Pine, palestra no Credit Suisse e jantar no JP Morgan.
Senta lá
Apesar de negociar a indicação de um vice para Alexandre Padilha, o PR procurou o PSDB paulista e fez chegar ao Palácio dos Bandeirantes que a decisão sobre seu apoio na eleição só será tomada em 2014.
1 x 0
Tucanos festejaram por Aécio Neves ter sido ovacionado no Mineirão ao aparecer no telão após o título do Cruzeiro no Campeonato Brasileiro, quarta-feira. Lembram a vaia a Dilma na Copa das Confederações, em junho.
com BRUNO BOGHOSSIAN e PAULO GAMA
tiroteio
"Marina sempre fez terrorismo ambiental. Ao prever inflação de 10%, faz terrorismo econômico e prova que vive em outro mundo."
DO DEPUTADO ANDRÉ VARGAS (PT-PR), vice-presidente da Câmara, sobre texto de Marina Silva na Folha, em que aponta inflação "extraoficial" de 10% anuais.
contraponto
O homem que sabia demais
Em uma sala com o ex-chanceler Antonio Patriota e o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), o diplomata sueco Jan Eliasson, secretário-geral-adjunto da ONU, relatou episódio da abertura da Assembleia-Geral da entidade, em setembro. Eliasson contou que, antes de entrar na sessão, Barack Obama perguntou o que Dilma Rousseff havia dito em seu discurso.
O sueco entregou a Obama uma cópia da fala da brasileira, que criticou a espionagem dos EUA no Brasil. O americano leu trechos e, resignado, devolveu o papel.
--Não estou surpreso... --respondeu Obama.
Bolsa assentado - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 16/11
Uma nova bolsa de transferência de renda será lançada pelo governo Dilma. Ainda sem nome, vai para os assentados pela reforma agrária. Ela vai substituir o crédito instalação, financiamento com 100% de inadimplência. Cada assentado terá seu cartão e receberá os recursos sem ter que pagar depois. O objetivo da bolsa é garantir a subsistência e fomentar o aumento da produção pelos assentados.
Overdose de paulistas
Um dos mais antigos partidos do país, o PCdoB, realiza Congresso neste fim de semana. Um dos objetivos, não declarados, dos comunistas é o de promover uma redução de paulistas em sua direção. Hoje, cerca de 50% de seu diretório nacional, é composto por quadros que atuam em São Paulo. Esta reorientação pesou na escolha da deputada Luciana Santos (PE) para suceder, a partir de janeiro de 2015, ao atual presidente, Renato Rabelo. O dirigente mais conhecido do partido, o deputado Aldo Rebelo (SP), atual ministro dos Esportes, foi descartado. Além disso, pesaram divergências nos rumos estratégicos da atuação dos comunistas no Brasil.
“A Lei Kandir é uma mentirinha. Não há ressarcimento da isenção de impostos aos estados exportadores. Mentirinha dos governos Dilma, Lula e, justiça seja feita, FH”
Paulo Bauer Senador (PSDB-SC)
Na trilha da oposição
A candidata do PP ao governo gaúcho, senadora Ana Amélia, recusou sondagem do PT para que a presidente Dilma tenha duplo palanque. O dela e o do governador Tarso Genro. Sua estratégia eleitoral requer distância dos petistas.
O Candidato
As tendências que reelegeram o presidente do PT, Rui Falcão, já articulam a escolha de um novo secretário-geral. O deputado federal Geraldo Magela, do Movimento PT, vem sendo apontado como o nome mais forte para ocupar a função. Magela liderou em sua organização o movimento para apoiar a reeleição do atual presidente.
Marcando em cima
O governo vai incluir no marco civil da internet prazo máximo para a Justiça determinar a retirada de conteúdo difamatório. E que o provedor responderá solidariamente em ações penais contra o autor do conteúdo ofensivo.
Correndo contra o tempo
Para aprovar o marco civil da internet, o governo está disposto a ceder ao líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), delegando a regulamentação da neutralidade para a Anatel. E a neutralidade da rede que impede as teles de cobrar preços diferentes para o tráfego de conteúdo, como no caso das TVs a cabo. Se isso acontecer, o relator, Alessandro Molon (PT-RJ), sofrerá um revés.
O que dá para rir dá para chorar
Toda vez que os tucanos defendem uma chapa pura, seja na eleição presidencial ou para o governo de São Paulo, os deputados do DEM que defendem a candidatura própria (do líder na Câmara, Ronaldo Caiado) comemoram.
O choro dos desamparados
É comum ouvir de petistas reclamações contra o “jeitão” da presidente Dilma. Eles gostam de cantar em prosa e verso, sobretudo os que não eram próximos ao ex-presidente Lula, como ele era “carinhoso” e “caloroso” com os companheiros.
O CANDIDATO DO PSDB, AÉCIO lança em dezembro sua “Agenda para o Futuro”, com propostas para enfrentar os temas mais urgentes da economia.
Uma nova bolsa de transferência de renda será lançada pelo governo Dilma. Ainda sem nome, vai para os assentados pela reforma agrária. Ela vai substituir o crédito instalação, financiamento com 100% de inadimplência. Cada assentado terá seu cartão e receberá os recursos sem ter que pagar depois. O objetivo da bolsa é garantir a subsistência e fomentar o aumento da produção pelos assentados.
Overdose de paulistas
Um dos mais antigos partidos do país, o PCdoB, realiza Congresso neste fim de semana. Um dos objetivos, não declarados, dos comunistas é o de promover uma redução de paulistas em sua direção. Hoje, cerca de 50% de seu diretório nacional, é composto por quadros que atuam em São Paulo. Esta reorientação pesou na escolha da deputada Luciana Santos (PE) para suceder, a partir de janeiro de 2015, ao atual presidente, Renato Rabelo. O dirigente mais conhecido do partido, o deputado Aldo Rebelo (SP), atual ministro dos Esportes, foi descartado. Além disso, pesaram divergências nos rumos estratégicos da atuação dos comunistas no Brasil.
“A Lei Kandir é uma mentirinha. Não há ressarcimento da isenção de impostos aos estados exportadores. Mentirinha dos governos Dilma, Lula e, justiça seja feita, FH”
Paulo Bauer Senador (PSDB-SC)
Na trilha da oposição
A candidata do PP ao governo gaúcho, senadora Ana Amélia, recusou sondagem do PT para que a presidente Dilma tenha duplo palanque. O dela e o do governador Tarso Genro. Sua estratégia eleitoral requer distância dos petistas.
O Candidato
As tendências que reelegeram o presidente do PT, Rui Falcão, já articulam a escolha de um novo secretário-geral. O deputado federal Geraldo Magela, do Movimento PT, vem sendo apontado como o nome mais forte para ocupar a função. Magela liderou em sua organização o movimento para apoiar a reeleição do atual presidente.
Marcando em cima
O governo vai incluir no marco civil da internet prazo máximo para a Justiça determinar a retirada de conteúdo difamatório. E que o provedor responderá solidariamente em ações penais contra o autor do conteúdo ofensivo.
Correndo contra o tempo
Para aprovar o marco civil da internet, o governo está disposto a ceder ao líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), delegando a regulamentação da neutralidade para a Anatel. E a neutralidade da rede que impede as teles de cobrar preços diferentes para o tráfego de conteúdo, como no caso das TVs a cabo. Se isso acontecer, o relator, Alessandro Molon (PT-RJ), sofrerá um revés.
O que dá para rir dá para chorar
Toda vez que os tucanos defendem uma chapa pura, seja na eleição presidencial ou para o governo de São Paulo, os deputados do DEM que defendem a candidatura própria (do líder na Câmara, Ronaldo Caiado) comemoram.
O choro dos desamparados
É comum ouvir de petistas reclamações contra o “jeitão” da presidente Dilma. Eles gostam de cantar em prosa e verso, sobretudo os que não eram próximos ao ex-presidente Lula, como ele era “carinhoso” e “caloroso” com os companheiros.
O CANDIDATO DO PSDB, AÉCIO lança em dezembro sua “Agenda para o Futuro”, com propostas para enfrentar os temas mais urgentes da economia.
Preparar para recuar - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 16/11
Os parlamentares acreditam ter encontrado um discurso para fazer com que os congressistas possam retirar de pauta o aumento dos agentes de saúde sem que fique muito feio para eles. Na terça-feira, quando a presidente Dilma Rousseff reunir o conselho político (presidentes de partido, líderes e ministros palacianos), o bloco PP-Pros, o PMDB e o PT apresentarão a proposta de “pacto pela estabilidade econômica”, tomando como iniciativa deles, deputados e senadores, a proteção da economia.
A ordem é para não votar nada que possa aumentar a despesa pública, sem a contrapartida da receita. “O Congresso tem que fazer a sua parte”, diz o líder do bloco PP-Pros, Eduardo da Fonte (PE), que há menos de 20 dias batia o pé em prol da aprovação do aumento dos agentes de saúde. Agora, com o aval dos presidentes dos partidos da base, Henrique Eduardo Alves terá discurso para retirar os aumentos de pauta. Falta combinar com o plenário.
À flor da pele
A prisão dos condenados no processo do mensalão em pleno feriado levou o PT ao confronto direto com o Supremo Tribunal Federal. Daí, a nota emitida ontem. Internamente, há quem defenda que essa guerra perdure. Lula será o árbitro dessa disputa.
Reservado
O Ministério da Agricultura continua com o PMDB quando o ministro Antonio Andrade sair para concorrer à reeleição para deputado federal em Minas Gerais.
Estilo
Depois de ter dito a alguns interlocutores que a aposta para a Casa Civil era Carlos Gabas, a presidente Dilma Rousseff voltou a embaralhar a carta, sacou o nome de Miriam Belchior, e ainda jogou Aloizio Mercadante na roda. Tudo para evitar as pressões sobre o secretário executivo da Previdência e distribuir bajuladores e aqueles que costumam puxar os tapetes pela Esplanada.
Duelo marcado
A briga pelo diretório do PMDB no Tocantins foi parar na Comissão Executiva Nacional do partido. Lá, na próxima terça-feira, a senadora Kátia Abreu tenta tomar o controle da legenda do presidente, deputado Júnior Coimbra.
Comparações
Jader Barbalho se referiu ao voto secreto no Senado no caso de vetos e indicação de autoridades como aquele que serve de proteção a integrantes de um júri popular. Na hora, o líder do PSB na Casa, Rodrigo Rollemberg (DF), reagiu: “Eles estão protegidos é de bandidos, nós aqui temos que ser que nem os ministros do STF: votar aberto”.
Dias de treinamento
Com a pedofilia e os crimes contra crianças e adolescentes cada vez mais frequentes, a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados decidiu armar melhor seu exército para o combate. Pela primeira vez, os juizes interessados terão curso sobre como conduzir os processos contra pedófilos sem causar novos traumas às vítimas.
Felicidade
O deputado Luiz Pitiman (PSDB-DF) está na maior alegria desde que foi citado pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) em programa de tevê como o possível candidato a governador do Distrito Federal pelos tucanos. E, assim, segue a disputa dele com Izalci Lucas.
Escola Agaciel
A secretária-geral da Mesa Diretora do Senado, Claudia Lyra, é pré-candidata a deputada federal pelo PMDB do Distrito Federal. Segue assim o caminho percorrido pelo ex-diretor-geral da Casa Agaciel Maia.
A ordem é para não votar nada que possa aumentar a despesa pública, sem a contrapartida da receita. “O Congresso tem que fazer a sua parte”, diz o líder do bloco PP-Pros, Eduardo da Fonte (PE), que há menos de 20 dias batia o pé em prol da aprovação do aumento dos agentes de saúde. Agora, com o aval dos presidentes dos partidos da base, Henrique Eduardo Alves terá discurso para retirar os aumentos de pauta. Falta combinar com o plenário.
À flor da pele
A prisão dos condenados no processo do mensalão em pleno feriado levou o PT ao confronto direto com o Supremo Tribunal Federal. Daí, a nota emitida ontem. Internamente, há quem defenda que essa guerra perdure. Lula será o árbitro dessa disputa.
Reservado
O Ministério da Agricultura continua com o PMDB quando o ministro Antonio Andrade sair para concorrer à reeleição para deputado federal em Minas Gerais.
Estilo
Depois de ter dito a alguns interlocutores que a aposta para a Casa Civil era Carlos Gabas, a presidente Dilma Rousseff voltou a embaralhar a carta, sacou o nome de Miriam Belchior, e ainda jogou Aloizio Mercadante na roda. Tudo para evitar as pressões sobre o secretário executivo da Previdência e distribuir bajuladores e aqueles que costumam puxar os tapetes pela Esplanada.
Duelo marcado
A briga pelo diretório do PMDB no Tocantins foi parar na Comissão Executiva Nacional do partido. Lá, na próxima terça-feira, a senadora Kátia Abreu tenta tomar o controle da legenda do presidente, deputado Júnior Coimbra.
Comparações
Jader Barbalho se referiu ao voto secreto no Senado no caso de vetos e indicação de autoridades como aquele que serve de proteção a integrantes de um júri popular. Na hora, o líder do PSB na Casa, Rodrigo Rollemberg (DF), reagiu: “Eles estão protegidos é de bandidos, nós aqui temos que ser que nem os ministros do STF: votar aberto”.
Dias de treinamento
Com a pedofilia e os crimes contra crianças e adolescentes cada vez mais frequentes, a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados decidiu armar melhor seu exército para o combate. Pela primeira vez, os juizes interessados terão curso sobre como conduzir os processos contra pedófilos sem causar novos traumas às vítimas.
Felicidade
O deputado Luiz Pitiman (PSDB-DF) está na maior alegria desde que foi citado pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) em programa de tevê como o possível candidato a governador do Distrito Federal pelos tucanos. E, assim, segue a disputa dele com Izalci Lucas.
Escola Agaciel
A secretária-geral da Mesa Diretora do Senado, Claudia Lyra, é pré-candidata a deputada federal pelo PMDB do Distrito Federal. Segue assim o caminho percorrido pelo ex-diretor-geral da Casa Agaciel Maia.
O desafio do petróleo - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 16/11
O Brasil deve se tornar o 6.º maior produtor mundial de petróleo até 2035, aponta projeção da Agência Internacional de Energia (AIE) divulgada na última terça-feira (12).
Esses cálculos contam com a produção de 6 milhões de barris (cada um com 159 litros) diários, o equivalente, hoje, às ofertas somadas do Iraque e dos Emirados Árabes Unidos. É uma boa aposta. Mas sobre ela pairam dúvidas quanto à real capacidade de chegar a isso e quanto ao que até lá terá acontecido no mercado global de hidrocarbonetos.
Todos os tipos de energia devem experimentar aumento de demanda até 2035 (veja o gráfico). No entanto, a participação dos combustíveis fósseis no consumo mundial deve cair dos atuais 82% para 76%, diz o relatório da AIE. Em matéria de capa de agosto deste ano, a revista britânica The Economist advertiu que o petróleo está se transformando em "combustível de ontem" e que as projeções da AIE superestimam a demanda real.
Fator determinante neste cenário é a perspectiva de que o maior consumidor mundial de energia, os Estados Unidos, se tornará autossuficiente a partir de 2020, graças à produção de óleo não convencional (tight oil) e de gás de xisto (shale gas). A AIE é mais conservadora nas projeções. Prevê a autossuficiência apenas em 2035.
Basta esse novo dado de mercado para que os interesses dos vendedores de petróleo e gás sejam convulsionados, observa Carlos Assis, especialista em Energia da consultoria Ernst & Young. A partir das estatísticas de importação dos Estados Unidos em 2012, a autossuficiência, qualquer que vier a ser a data em que passasse a acontecer, tiraria 11 milhões de barris diários do mercado. É o equivalente a 11,0% da demanda mundial estimada pela AIE para 2035.
A revolução energética que toma corpo no mundo não para por aí. Contribuirão ainda para a redução da demanda mundial as crescentes pressões dos ambientalistas por motores movidos a eletricidade e a busca intensa por fontes renováveis. "Haverá grande avanço nas energias eólica e solar graças ao maior conhecimento nessas áreas e à importante redução dos custos de produção", observa José de Sá, especialista em Petróleo e Energia da consultoria Bain & Company. A AIE estima que as fontes de energia renováveis na matriz energética mundial devem saltar de 20% em 2011 para 31% em 2035.
Para Edmar Fagundes, professor do Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o avanço das fontes renováveis ainda não significa substituição automática do petróleo. "Enquanto a Europa trabalha pra reduzir a dependência do petróleo, os países do Oriente Médio e da Ásia só aumentam o consumo", pontua ele. Em contrapartida, convém levar em conta que a China detém a maior reserva mundial de xisto que ainda não começou a ser acionada para a produção de gás.
Antes de se tornar um grande fornecedor de petróleo para o mundo, o Brasil precisará investir em média US$ 90 bilhões por ano, estima a AIE. Para Assis, da Ernst & Young, o Brasil também enfrentará forte concorrência de novos projetos de exploração em águas profundas do Golfo do México e da África Ocidental.
Por aí se vê que falta muita coisa. As manifestações que precederam o leilão de Libra preferiam que o Brasil só produza o petróleo para abastecimento próprio. Se for por aí, o tempo do petróleo poderá ter passado e as nossas riquezas terão de permanecer intactas no subsolo.
Não falta apenas uma visão estratégica. Se é para apressar a produção, obviamente será preciso abrir o mercado produtor para outras empresas, porque a Petrobrás já não dá mais conta do que já tem programado. E será preciso rever o estatuto da reserva de mercado para a indústria de fornecedores nacionais de equipamentos, que não está preparada para produzir com a qualidade e os custos exigidos na empreitada.
Confiar somente na competitividade do petróleo brasileiro, no tamanho das reservas do pré-sal e na sua prometida capacidade de produção ainda é pouco e pode custar caro demais.
O Brasil deve se tornar o 6.º maior produtor mundial de petróleo até 2035, aponta projeção da Agência Internacional de Energia (AIE) divulgada na última terça-feira (12).
Esses cálculos contam com a produção de 6 milhões de barris (cada um com 159 litros) diários, o equivalente, hoje, às ofertas somadas do Iraque e dos Emirados Árabes Unidos. É uma boa aposta. Mas sobre ela pairam dúvidas quanto à real capacidade de chegar a isso e quanto ao que até lá terá acontecido no mercado global de hidrocarbonetos.
Todos os tipos de energia devem experimentar aumento de demanda até 2035 (veja o gráfico). No entanto, a participação dos combustíveis fósseis no consumo mundial deve cair dos atuais 82% para 76%, diz o relatório da AIE. Em matéria de capa de agosto deste ano, a revista britânica The Economist advertiu que o petróleo está se transformando em "combustível de ontem" e que as projeções da AIE superestimam a demanda real.
Fator determinante neste cenário é a perspectiva de que o maior consumidor mundial de energia, os Estados Unidos, se tornará autossuficiente a partir de 2020, graças à produção de óleo não convencional (tight oil) e de gás de xisto (shale gas). A AIE é mais conservadora nas projeções. Prevê a autossuficiência apenas em 2035.
Basta esse novo dado de mercado para que os interesses dos vendedores de petróleo e gás sejam convulsionados, observa Carlos Assis, especialista em Energia da consultoria Ernst & Young. A partir das estatísticas de importação dos Estados Unidos em 2012, a autossuficiência, qualquer que vier a ser a data em que passasse a acontecer, tiraria 11 milhões de barris diários do mercado. É o equivalente a 11,0% da demanda mundial estimada pela AIE para 2035.
A revolução energética que toma corpo no mundo não para por aí. Contribuirão ainda para a redução da demanda mundial as crescentes pressões dos ambientalistas por motores movidos a eletricidade e a busca intensa por fontes renováveis. "Haverá grande avanço nas energias eólica e solar graças ao maior conhecimento nessas áreas e à importante redução dos custos de produção", observa José de Sá, especialista em Petróleo e Energia da consultoria Bain & Company. A AIE estima que as fontes de energia renováveis na matriz energética mundial devem saltar de 20% em 2011 para 31% em 2035.
Para Edmar Fagundes, professor do Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o avanço das fontes renováveis ainda não significa substituição automática do petróleo. "Enquanto a Europa trabalha pra reduzir a dependência do petróleo, os países do Oriente Médio e da Ásia só aumentam o consumo", pontua ele. Em contrapartida, convém levar em conta que a China detém a maior reserva mundial de xisto que ainda não começou a ser acionada para a produção de gás.
Antes de se tornar um grande fornecedor de petróleo para o mundo, o Brasil precisará investir em média US$ 90 bilhões por ano, estima a AIE. Para Assis, da Ernst & Young, o Brasil também enfrentará forte concorrência de novos projetos de exploração em águas profundas do Golfo do México e da África Ocidental.
Por aí se vê que falta muita coisa. As manifestações que precederam o leilão de Libra preferiam que o Brasil só produza o petróleo para abastecimento próprio. Se for por aí, o tempo do petróleo poderá ter passado e as nossas riquezas terão de permanecer intactas no subsolo.
Não falta apenas uma visão estratégica. Se é para apressar a produção, obviamente será preciso abrir o mercado produtor para outras empresas, porque a Petrobrás já não dá mais conta do que já tem programado. E será preciso rever o estatuto da reserva de mercado para a indústria de fornecedores nacionais de equipamentos, que não está preparada para produzir com a qualidade e os custos exigidos na empreitada.
Confiar somente na competitividade do petróleo brasileiro, no tamanho das reservas do pré-sal e na sua prometida capacidade de produção ainda é pouco e pode custar caro demais.
O toque de Midas brasileiro - RODRIGO M. PEREIRA
CORREIO BRAZILIENSE - 16/11
Glover Teixeira, estrela em ascensão no mundo das artes marciais mistas (MMA), foi embora do Brasil para treinar nos Estados Unidos. Quando perguntado por uma repórter sobre o porquê da mudança, ele disse que precisava de um pneu de trator, para treinar, que custa R$ 2 mil no Brasil. Nos Estados Unidos, o mesmo pneu custa cento e poucos dólares, e rapidamente estava à disposição dele para treinos.
Todo mundo sabe que tudo custa muito caro no Brasil, muito mais caro que no resto do mundo. Mas o que a história do Glover deixa claro é o custo social de se viver num país com essa condição. Imagine a quantidade de atletas que param de treinar ou não tornam competitivos porque os equipamentos são caros demais; a de meninos que não viram grandes pianistas, porque piano no Brasil custa três vezes o preço cobrado no resto do mundo; a de Airton Sennas que não passam de promessas, porque, no Brasil, um kart e seus custos de manutenção são 2,5 vezes maiores, e por aí vai.
Mas esse custo social invisível não se restringe a isso, há também um efeito toque de Midas muito ruim para a produtividade do país: quando alguém consegue fazer um produto entrar nas fronteiras do país, ele, instantaneamente, tem o valor de mercado duplicado ou triplicado. O contrabando torna-se extremamente lucrativo, e uma larga parcela da população deixa de usar seu potencial criativo e produtivo na produção de bens e serviços para tentar achar brechas no curral imposto pela Receita Federal, e lucrar com o efeito toque de Midas. Quem conhece a Feira dos Importados em Brasília sabe do que eu estou falando.
O fato é que não é por acaso que tudo no Brasil custa muito caro. Há toda uma arquitetura econômica deliberadamente construída que é responsável por isso. Do sistema tributário ao tamanho do setor público, da falta de concorrência em muitos setores à herança de uma mentalidade pró-substituição de importações (em que importar é intrinsecamente errado, e quem insistir no erro deve ser punido), tudo contribui para que o Brasil seja um país muito caro.
O Brasil tem quase que por tradição um imenso setor público, e uma pretensão de ter um Estado de bem-estar social à la países nórdicos, com saúde pública e educação universais, larga rede de proteção social etc. Tudo isso custa caro e tem que ser pago com impostos.
Com uma razão arrecadação/PNB se aproximando dos 40%, o Brasil fica bem acima de países como Chile (18,4%), México (17,4%) e Estados Unidos (24,1%) e bem próximo das vedetes mundiais de proteção social, como Noruega (42,9%) e Suécia (46,7%).
Mas, diferentemente desses países, que concentram a tributação em impostos diretos, sobretudo no Imposto de Renda, nosso sistema tributário ainda é típico de país terceiro-mundista, com altíssimo percentual de impostos indiretos no total da arrecadação. No Brasil, 48,4% do total arrecadado vem na forma de impostos indiretos, contra 27,5% na Noruega.
Mas se os impostos indiretos, como o IPI ou o ICMS, são exatamente aqueles que fazem os bens ficarem mais caros, e se há um enorme custo social no convívio com preços tão altos, por que, então, o Brasil não faz como o mundo desenvolvido e tributa mais a renda e menos os bens? Porque tributar os consumo de bens é muito mais fácil do que tributar a renda.
No Brasil, quase a metade do mercado de trabalho é informal. Uma maior tributação sobre a renda seguramente levaria a uma informalidade ainda maior. Mas, além disso, boa parte da metade que é formal não paga um único centavo de Imposto de Renda, porque cai na faixa de isenção, que vai de zero a aproximadamente R$ 1.600 mensais. Como esse é também o valor de nossa renda per capita, o indivíduo mediano simplesmente não paga IR no Brasil.
De um grupo selecionado de 100 países com alguma estrutura tributária civilizada, 45 não têm faixa de isenção alguma do Imposto de Renda. Dos 55 que têm isenção, o Brasil é um dos mais generosos, com uma razão limite de isenção do IR/renda per capita de 100%. Para efeito de comparação, na Noruega essa razão fica em torno de 6%; ou seja, quem ganha 6% da renda per capita já começa a pagar Imposto de Renda.
Então, como é possível sustentar um governo que gasta quase 40% do PNB, com uma arrecadação de tributos diretos insuficiente? Basta enfiar impostos indiretos nos bens que a população compra. Mas que fique tudo nebuloso, porque se ela souber o quanto paga de impostos quando vai às compras, seria capaz de sair às ruas revoltada em passeatas de protesto.
Enquanto isso, o efeito toque de Midas corre solto. Um borracheiro estava me dizendo que quem tem carros grandes, como picapes Hilux, S10 etc., tem ido até o Paraguai na hora de trocar os pneus. Um jogo custa R$ 4 mil no Brasil, contra R$ 1,7 mil no Paraguai. "Mas tem que cortar os cabelinhos do pneu, doutor, senão a Receita descobre que o pneu é novo e aí já era."
O Brasil emperrado e a tese de Nelson Rodrigues - ROLF KUNTZ
O ESTADO DE S. PAULO - 16/11
Se toda unanimidade for mesmo burra, como escreveu Nelson Rodrigues, respeitados economistas nacionais e estrangeiros devem estar errados, porque as avaliações negativas da economia brasileira estão ficando quase unânimes. A Standard & Poorís, uma das principais agências de classificação de risco, poderá mudar a nota do País antes das eleições de 2014, se a situação das contas públicas continuar piorando, disse em Nova York, na quarta-feira, o diretor responsável pelo acompanhamento do Brasil, Sebastian Briozzo. Ele também revelou a previsão de crescimento econômico para este ano e para 2014, em torno de 2,5%. Um dia antes o Conference Board, organismo especializado em estudos macroeconômicos, havia indicado uma projeção pouco menor para o próximo ano, 2,3%. Estimativas semelhantes haviam sido divulgadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): expansão de 2,2% neste ano, 2,5% no próximo e 3,1% em 2015. Os cálculos anteriores, publicados no primeiro semestre, haviam sido mais otimistas - 3% para 2013 e 3,6% para 2014. Mas essas estimativas são apenas uma parte - e a menos preocupante - da unanimidade em formação.
As coincidências mais importantes referem-se à qualidade da política econômica, ao ambiente de negócios e ao fiasco brasileiro no cenário internacional, sintetizado recentemente na capa da revista The Economist pela queda do Redentor-foguete. Na pesquisa da OCDE, as economias emergentes e em desenvolvimento continuam perdendo impulso, mas ainda devem crescer em média 4,5% em 2013, 5% em 2014 e 5,3% em 2015. A zona do euro continuará em marcha lenta, mas a recessão vai ficando para trás. Os Estados Unidos, mesmo com a trava nos gastos públicos, devem manter-se em aceleração.
Na sondagem de clima econômico, realizada pelo instituto alemão IFO em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a projeção de crescimento para o Brasil nos próximos três a cinco anos ficou em 2,6%, número modestíssimo quando confrontado com aqueles previstos para Chile (3,8%), Colômbia (3,9%), Equador (4,1%) e Peru (5%). Na avaliação do clima econômico o Brasil aparece em 9º lugar numa lista de 11 latino-americanos. Os principais problemas detectados nas entrevistas são três faltas: de confiança na política econômica, de competitividade internacional e de mão de obra qualificada.
Bem conhecidos no País, esses pontos negativos se tomaram lugares-comuns nas avaliações divulgadas por entidades internacionais públicas e privadas, como a OCDE, o Banco Mundial, o Fórum Econômico Mundial e as agências de classificação de risco.
A quase unanimidade internacional a respeito das más condições do País tem sido alimentada por informações e avaliações também de entidades oficiais brasileiras. O Banco Central (BC) tem chamado a atenção, há um bom tempo, para as limitações do lado da oferta, para o desajuste no mercado de trabalho, para a demanda de consumo perigosamente aquecida e para a inflação resistente, mas a cúpula do Executivo continua agindo como se o grande entrave ao crescimento brasileiro estivesse do lado dos consumidores. Como conseqüência, o governo tem queimado dezenas de bilhões de reais em estímulos fiscais ao mercado, com pouquíssima ou nenhuma resposta da indústria. Mesmo o dinheiro do Tesouro entregue aos bancos públicos para financiar o investimento produziu efeitos abaixo de pífios nos últimos anos. O valor investido pelo governo e pelo setor privado continua na vizinhança de 19% do produto interno bruto (PIB), uns cinco pontos abaixo da média latino-americana.
Os sinais de estagnação continuam pipocando. O mais recente é o índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB. O número de setembro foi 0,01% inferior ao de agosto e 2,68% maior que o de um ano antes na série com ajuste sazonal. O índice do terceiro trimestre foi 0,12% inferior ao do segundo e o acumulado em 112 meses chegou a 2,48%.
A estimativa do PIB atualizada até o período de julho a setembro só deve ser divulgada no começo do próximo mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por enquanto, os levantamentos indicam um resultado muito fraco. Isso inclui o crescimento industrial de apenas 1,1% nos 12 meses até setembro, segundo os últimos dados do IBGE.
Enquanto isso, a alta dos preços ao consumidor continua em aceleração, mesmo com a acomodação dos preços no atacado (IPA). O IGP-10 de novembro subiu 0,44%, freado por seu componente de maior peso: o IPA, com elevação de 0,4%, avançou bem menos que no mês anterior (1,48%). Mas os preços ao consumidor, também cobertos pela pesquisa, aumentaram 0,61%, com variação de 5,44% em 12 meses. Em outubro haviam subido 0,33%. A nova apuração mostrou alta de preços em seis dos oito grupos de bens e serviços pesquisados, com destaque, novamente, para os serviços - mais um forte sinal de excesso de demanda.
Toda unanimidade pode ser burra, mas pode causar muito prejuízo antes de ser descoberta a burrice. A movimentação no mercado financeiro já tem mostrado os efeitos da desconfiança em relação à política fiscal, muito frouxa, e às possibilidades de crescimento econômico nos próximos anos. Além disso, restam dois motivos de preocupação. Primeiro: talvez haja algum exagero na tese de Nelson Rodrigues. Nesse caso, pelo menos algumas unanimidades poderão ser fundamentadas. Segundo: mesmo avaliações defeituosas podem motivar profecias autorrealizáveis. Pelo sim, pelo não, a presidente Dilma Rousseff deveria pensar nessas possibilidades, para tentar garantir nos próximos anos uma economia mais bonitinha e menos ordinária.
Sabedoria chinesa - KÁTIA ABREU
FOLHA DE SP - 16/11
Deveríamos olhar para as Zonas Econômicas Especiais; não custa nada aprender com os chineses
Terminou, no dia 12, a terceira sessão plenária do 18º Comitê Central do Partido Comunista. Houve a aprovação de um novo e amplo programa de reformas. Entre elas, a flexibilização na política do filho único, com o objetivo de aumentar, a longo prazo, a força de trabalho.
Para manter o crescimento econômico, a China calcula ser necessário alcançar uma população de 1,5 bilhão de habitantes em 2030.
Outra medida de impacto é a flexibilização da venda de terras rurais, permitindo que a população do campo migre para outras cidades do país.
Uma avaliação preliminar das medidas que vão sendo conhecidas indica um aprofundamento da estratégia de reforma e de abertura desenhada por Deng Xiaoping em 1978, durante outra reunião dos líderes do Partido Comunista chinês. Nesse modelo desenvolvimentista, as ZEEs (Zonas Econômicas Especiais) tinham um papel central para o início da abertura da economia do país.
Na China, liderando uma missão de empresários do agronegócio nos últimos dez dias, tive a oportunidade de visitar mais uma vez a Suzhou Industrial Park, uma ZEE com impressionantes 8.000 empresas estrangeiras e 10 mil chinesas, que faturou US$ 30 bilhões em 2012.
Após 35 anos em que as primeiras zonas especiais foram instaladas, no litoral oriental da China, elas continuam a ser um importante instrumento para a modernização da atual economia do país asiático. Atraíram capital externo --principalmente de japoneses e de norte-americanos-- e foram decisivas para o desenvolvimento do parque industrial chinês.
Os objetivos desses megaempreendimentos são relevantes. Apesar da forte participação do Estado, permitem a gradativa abertura do mercado para empresas internacionais. Nelas, vigoram a economia de mercado e um modelo vencedor de parceria público-privada. A prova do sucesso é que elas chegam a crescer três vezes mais do que a própria China.
Além disso, criam um espaço delimitado em que o governo pode testar novos modelos econômicos. Se aprovados, esses experimentos transformam-se em políticas públicas regionais ou nacionais. A delimitação geográfica permite que as autoridades chinesas avaliem reformas com menor exposição a riscos e a resistências socioeconômicas.
A abertura da economia chinesa para o mercado internacional é um dos elementos centrais das ZEEs, que, entre outros benefícios, incentivam a atração do investimento direto estrangeiro e facilitam a incorporação de tecnologias e de novas formas de gestão.
Promovem, ainda, a integração das cadeias produtivas e contribuem para a geração dos saldos comerciais de que a China necessita para assegurar o desenvolvimento da indústria e dos serviços internos.
Há, também, redução de procedimentos burocráticos, liberalização de restrições aos fluxos de capital e flexibilização de normas tributárias e fiscais. Essas medidas tornam as ZEEs um espaço econômico mais favorável e atrativo para empresários e empreendedores.
O modelo é flexível, podendo promover objetivos específicos, tais como zonas de processamento focadas em exportações, a formação de parques tecnológicos e a implementação de políticas ambientais por meio da criação de reservas ecológicas.
As ZEEs funcionam, também, como um polo de integração logística. Ao maximizar a utilização da infraestrutura de comunicação e de transporte, a concentração de empresas e a internalização dos processos alfandegários reduzem os custos de transações das firmas.
Ao associarem países a empresas, essas zonas especiais são um laboratório para iniciativas de cooperação internacional. Estruturadas por meio de regras claras, podem ser um poderoso instrumento de modernização econômica também para o Brasil.
Embora o ambiente sociopolítico da China seja diferente, deveríamos olhar, com atenção, para essa experiência adotada por Pequim e considerarmos a possibilidade de criar zonas experimentais no Brasil, com a colaboração de países que vêm utilizando esse modelo de sucesso. Não custa nada aprender com os chineses.
Deveríamos olhar para as Zonas Econômicas Especiais; não custa nada aprender com os chineses
Terminou, no dia 12, a terceira sessão plenária do 18º Comitê Central do Partido Comunista. Houve a aprovação de um novo e amplo programa de reformas. Entre elas, a flexibilização na política do filho único, com o objetivo de aumentar, a longo prazo, a força de trabalho.
Para manter o crescimento econômico, a China calcula ser necessário alcançar uma população de 1,5 bilhão de habitantes em 2030.
Outra medida de impacto é a flexibilização da venda de terras rurais, permitindo que a população do campo migre para outras cidades do país.
Uma avaliação preliminar das medidas que vão sendo conhecidas indica um aprofundamento da estratégia de reforma e de abertura desenhada por Deng Xiaoping em 1978, durante outra reunião dos líderes do Partido Comunista chinês. Nesse modelo desenvolvimentista, as ZEEs (Zonas Econômicas Especiais) tinham um papel central para o início da abertura da economia do país.
Na China, liderando uma missão de empresários do agronegócio nos últimos dez dias, tive a oportunidade de visitar mais uma vez a Suzhou Industrial Park, uma ZEE com impressionantes 8.000 empresas estrangeiras e 10 mil chinesas, que faturou US$ 30 bilhões em 2012.
Após 35 anos em que as primeiras zonas especiais foram instaladas, no litoral oriental da China, elas continuam a ser um importante instrumento para a modernização da atual economia do país asiático. Atraíram capital externo --principalmente de japoneses e de norte-americanos-- e foram decisivas para o desenvolvimento do parque industrial chinês.
Os objetivos desses megaempreendimentos são relevantes. Apesar da forte participação do Estado, permitem a gradativa abertura do mercado para empresas internacionais. Nelas, vigoram a economia de mercado e um modelo vencedor de parceria público-privada. A prova do sucesso é que elas chegam a crescer três vezes mais do que a própria China.
Além disso, criam um espaço delimitado em que o governo pode testar novos modelos econômicos. Se aprovados, esses experimentos transformam-se em políticas públicas regionais ou nacionais. A delimitação geográfica permite que as autoridades chinesas avaliem reformas com menor exposição a riscos e a resistências socioeconômicas.
A abertura da economia chinesa para o mercado internacional é um dos elementos centrais das ZEEs, que, entre outros benefícios, incentivam a atração do investimento direto estrangeiro e facilitam a incorporação de tecnologias e de novas formas de gestão.
Promovem, ainda, a integração das cadeias produtivas e contribuem para a geração dos saldos comerciais de que a China necessita para assegurar o desenvolvimento da indústria e dos serviços internos.
Há, também, redução de procedimentos burocráticos, liberalização de restrições aos fluxos de capital e flexibilização de normas tributárias e fiscais. Essas medidas tornam as ZEEs um espaço econômico mais favorável e atrativo para empresários e empreendedores.
O modelo é flexível, podendo promover objetivos específicos, tais como zonas de processamento focadas em exportações, a formação de parques tecnológicos e a implementação de políticas ambientais por meio da criação de reservas ecológicas.
As ZEEs funcionam, também, como um polo de integração logística. Ao maximizar a utilização da infraestrutura de comunicação e de transporte, a concentração de empresas e a internalização dos processos alfandegários reduzem os custos de transações das firmas.
Ao associarem países a empresas, essas zonas especiais são um laboratório para iniciativas de cooperação internacional. Estruturadas por meio de regras claras, podem ser um poderoso instrumento de modernização econômica também para o Brasil.
Embora o ambiente sociopolítico da China seja diferente, deveríamos olhar, com atenção, para essa experiência adotada por Pequim e considerarmos a possibilidade de criar zonas experimentais no Brasil, com a colaboração de países que vêm utilizando esse modelo de sucesso. Não custa nada aprender com os chineses.
Precatórios, processo espoliativo - ANTONIO CARLOS FERREIRA
GAZETA DO POVO - PR - 16/11
Ao ler os comentários de Egon Bockmann Moreira, na Gazeta do Povo de 30 de outubro, quedei-me estupefato com as incongruências do artigo, ao ver que a matéria transcende o âmbito dos interesses defendidos por advogados de todo o país, porque dizem respeito a direitos subjetivos, da mais alta objetividade na ordem pública. Aqui, nós, advogados, patrocinamos interesses não só de seus constituintes, mas especialmente de toda a coletividade. A matéria e a brutalidade da opinião são tais que inquirimos: existe propriedade privada no Brasil?
O precatório não deixa de ser um título executivo contra a União, estados ou municípios de natureza privada. Evidente está que nossos comentários nada têm a ver com o regime da propriedade no âmbito do Direito Civil, mas com aquele em que, por motivo de interesse público, se derrogam os preceitos de ordem civil. O precatório, tal como regula a Constituição Federal no seu artigo 100, mantém o cidadão brasileiro quase que completamente desamparado e impedido de invocar as garantias constitucionais, reduzido no que tange à sua propriedade, quando esta venha reclamada em condições inferiores a qualquer outro indivíduo.
A Constituição nos diz que “todos são iguais perante a lei”, mas isso não ocorre, pois o particular em uma ação executiva fiscal será penalizado por multas, juros abusivos e correção monetária. No caso dos precatórios e da Emenda Constitucional 62, questionada no STF e julgada parcialmente procedente, os juros eram um assalto à bolsa dos credores. Não bastou não pagar, mas também assaltar os credores em juros e correções ínfimas, que o STF corrigiu. E não se alegue que ninguém sabia da Ação Direta de Inconstitucionalidade 4.357: são mais de 20 autores, incluindo a Ordem dos Advogados do Brasil e a Associação dos Advogados de São Paulo.
Enfim, o STF assumiu a direção e vai modular os pagamentos. O Judiciário tentará pôr fim a tanta iniquidade, imoralidade e enriquecimento ilícito proporcionado ao Estado, que praticou inclusive leilões da dívida dos precatórios. Ives Gandra Martins, quando discorre sobre o artigo 30, da Lei de Responsabilidade Fiscal, diz: “Sempre o calote oficial foi a marca de todos os governos, mesmo daqueles considerados bons numa perspectiva histórica, como se o monopólio da imoralidade fosse privilégio dos ‘homens públicos’”.
A tentativa moralizadora, incluindo-se o valor dos precatórios não pagos na dívida consolidada para determinação dos limites possíveis, permitirá que o calote seja punido, além de evitar a possibilidade de gastar mais do que as futuras receitas permitam pela proposta orçamentária. Aqui o núcleo central da questão não é se pagar 1% ou 2%, mas responsabilizar os administradores públicos por improbidade administrativa e intervenções federais – enfim, moralizar a questão, pondo-se termo à espoliação do cidadão titular do precatório do mais sagrado direito: o direito de defesa perante o poder estatal, no Judiciário.
Pode estar certo o professor Bockmann de que o STF saberá lidar com a questão, pondo fim a esta ignomínia e insensatez de gravíssimas consequências, que a todos traz o indefensável desrespeito às mais fundamentais garantias inscritas em nossa vigente Constituição.
Ao ler os comentários de Egon Bockmann Moreira, na Gazeta do Povo de 30 de outubro, quedei-me estupefato com as incongruências do artigo, ao ver que a matéria transcende o âmbito dos interesses defendidos por advogados de todo o país, porque dizem respeito a direitos subjetivos, da mais alta objetividade na ordem pública. Aqui, nós, advogados, patrocinamos interesses não só de seus constituintes, mas especialmente de toda a coletividade. A matéria e a brutalidade da opinião são tais que inquirimos: existe propriedade privada no Brasil?
O precatório não deixa de ser um título executivo contra a União, estados ou municípios de natureza privada. Evidente está que nossos comentários nada têm a ver com o regime da propriedade no âmbito do Direito Civil, mas com aquele em que, por motivo de interesse público, se derrogam os preceitos de ordem civil. O precatório, tal como regula a Constituição Federal no seu artigo 100, mantém o cidadão brasileiro quase que completamente desamparado e impedido de invocar as garantias constitucionais, reduzido no que tange à sua propriedade, quando esta venha reclamada em condições inferiores a qualquer outro indivíduo.
A Constituição nos diz que “todos são iguais perante a lei”, mas isso não ocorre, pois o particular em uma ação executiva fiscal será penalizado por multas, juros abusivos e correção monetária. No caso dos precatórios e da Emenda Constitucional 62, questionada no STF e julgada parcialmente procedente, os juros eram um assalto à bolsa dos credores. Não bastou não pagar, mas também assaltar os credores em juros e correções ínfimas, que o STF corrigiu. E não se alegue que ninguém sabia da Ação Direta de Inconstitucionalidade 4.357: são mais de 20 autores, incluindo a Ordem dos Advogados do Brasil e a Associação dos Advogados de São Paulo.
Enfim, o STF assumiu a direção e vai modular os pagamentos. O Judiciário tentará pôr fim a tanta iniquidade, imoralidade e enriquecimento ilícito proporcionado ao Estado, que praticou inclusive leilões da dívida dos precatórios. Ives Gandra Martins, quando discorre sobre o artigo 30, da Lei de Responsabilidade Fiscal, diz: “Sempre o calote oficial foi a marca de todos os governos, mesmo daqueles considerados bons numa perspectiva histórica, como se o monopólio da imoralidade fosse privilégio dos ‘homens públicos’”.
A tentativa moralizadora, incluindo-se o valor dos precatórios não pagos na dívida consolidada para determinação dos limites possíveis, permitirá que o calote seja punido, além de evitar a possibilidade de gastar mais do que as futuras receitas permitam pela proposta orçamentária. Aqui o núcleo central da questão não é se pagar 1% ou 2%, mas responsabilizar os administradores públicos por improbidade administrativa e intervenções federais – enfim, moralizar a questão, pondo-se termo à espoliação do cidadão titular do precatório do mais sagrado direito: o direito de defesa perante o poder estatal, no Judiciário.
Pode estar certo o professor Bockmann de que o STF saberá lidar com a questão, pondo fim a esta ignomínia e insensatez de gravíssimas consequências, que a todos traz o indefensável desrespeito às mais fundamentais garantias inscritas em nossa vigente Constituição.
Deflação: armadilha europeia - GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 16/11
Boa notícia: a Europa sai, enfim, da crise da dívida. Má notícia: apenas o céu começava a desanuviar, novas nuvens começaram a escurecer o horizonte, com um nome assustador: a deflação.
Prova de que a Europa virou a página da crise: o grupo do euro aprovou, na quinta-feira, o fim do planos de ajuda a Espanha e à Irlanda, implementados nos dois anos após o naufrágio de seu setor bancário. Isto quer dizer que a austeridade que causou tantos desgastes nos país e em toda a Europa meridional vai enfim ser abandonada.
Isto era motivo para todo o mundo ficar contente, mas uma nova sirene tocou para anunciar um renovado perigo: a deflação. Este ano, a inflação média na zona do euro caiu para 0,7% enquanto o Banco Central Europeu (BCE) tinha a missão de manter a inflação média em 2%. Na França, ela está em 0,7%, mas na Espanha caiu para zero. Na Grécia, está negativa, em - 1,9%.
A deflação é um inimigo muito perverso porque as pessoas não compreendem que ela injeta veneno nas veias da economia. Um efeito da deflação? Uma queda duradoura e generalizada nos preços. É bom que se diga que as famílias e os consumidores acolhem uma queda nos preços como uma bênção. Eles gastariam menos para fazer suas compras ou adquirir eletrodomésticos. Mas a deflação elimina o crescimento.
As famílias adiam suas compras na expectativa de novas quedas de preços, o que reduz as encomendas das empresas, penalizando com isso os salários, os investimentos e, por conseguinte, o crescimento. E por um efeito automático, a queda dos preços infla o custo do financiamento dos Estados. Em suma, a dívida pública, em vez de cair, continua a crescer.
Como explicar que a Europa, no exato momento em que reencontrava um pouco de fôlego, fosse assaltada por este novo inimigo, a deflação? Um fator pesou fortemente aqui: a queda dos preços da energia (na França, por exemplo, eles caíram 1,7% em um ano). Mas há também um fator específico desta "máquina infernal" que é a zona do euro.
De fato, como a moeda única (o euro) administrada pelo BCE substituiu as moedas nacionais, cada país perdeu a soberania de sua moeda. Por conseguinte, ele não pode desvalorizar. A Grécia, por exemplo, quando foi sacudida pela crise da dívida, teria podido se safar desvalorizando sua moeda, o dracma.
Agora isto está fora de questão, infelizmente: o drama não existe mais. Ele foi substituído pelo euro. O que fizeram então os países estrangulados? Procederam o que se costuma chamar de uma "desvalorização interna".
Procuraram reconstruir sua competitividade - as vezes com sucesso - reduzindo os salários e os preços. Aí se origina a espiral da deflação.
Um dos encantos da economia e, sobretudo, das teorias econômicas, é que a todo momento escutam-se da boca dos especialistas e dos banqueiros tudo e o seu contrário. Por exemplo, há economistas muito sérios que defendem a teoria oposta. Os alemães têm em geral uma grande ternura pela deflação. Michael Heise, economista-chefe da seguradora Allianz, em Munique, longe de maldizer a deflação a aceita e quase a deseja. "A redução dos preços na zona do euro é uma boa coisa." E ninguém duvida que a chanceler Angela Merkel tenha a mesma opinião. Tudo, menos inflação! Ante essas advertências, o campo dos "antideflacionistas" responde citando um exemplo contemporâneo: o poderoso Japão se debate há 20 anos nas areias movediças da deflação. Ao que parece, ele está começando a se livrar de seu abraço mortal, mas depois de quantos anos perdidos e quantas cicatrizes em todo o tecido industrial do país! / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
Boa notícia: a Europa sai, enfim, da crise da dívida. Má notícia: apenas o céu começava a desanuviar, novas nuvens começaram a escurecer o horizonte, com um nome assustador: a deflação.
Prova de que a Europa virou a página da crise: o grupo do euro aprovou, na quinta-feira, o fim do planos de ajuda a Espanha e à Irlanda, implementados nos dois anos após o naufrágio de seu setor bancário. Isto quer dizer que a austeridade que causou tantos desgastes nos país e em toda a Europa meridional vai enfim ser abandonada.
Isto era motivo para todo o mundo ficar contente, mas uma nova sirene tocou para anunciar um renovado perigo: a deflação. Este ano, a inflação média na zona do euro caiu para 0,7% enquanto o Banco Central Europeu (BCE) tinha a missão de manter a inflação média em 2%. Na França, ela está em 0,7%, mas na Espanha caiu para zero. Na Grécia, está negativa, em - 1,9%.
A deflação é um inimigo muito perverso porque as pessoas não compreendem que ela injeta veneno nas veias da economia. Um efeito da deflação? Uma queda duradoura e generalizada nos preços. É bom que se diga que as famílias e os consumidores acolhem uma queda nos preços como uma bênção. Eles gastariam menos para fazer suas compras ou adquirir eletrodomésticos. Mas a deflação elimina o crescimento.
As famílias adiam suas compras na expectativa de novas quedas de preços, o que reduz as encomendas das empresas, penalizando com isso os salários, os investimentos e, por conseguinte, o crescimento. E por um efeito automático, a queda dos preços infla o custo do financiamento dos Estados. Em suma, a dívida pública, em vez de cair, continua a crescer.
Como explicar que a Europa, no exato momento em que reencontrava um pouco de fôlego, fosse assaltada por este novo inimigo, a deflação? Um fator pesou fortemente aqui: a queda dos preços da energia (na França, por exemplo, eles caíram 1,7% em um ano). Mas há também um fator específico desta "máquina infernal" que é a zona do euro.
De fato, como a moeda única (o euro) administrada pelo BCE substituiu as moedas nacionais, cada país perdeu a soberania de sua moeda. Por conseguinte, ele não pode desvalorizar. A Grécia, por exemplo, quando foi sacudida pela crise da dívida, teria podido se safar desvalorizando sua moeda, o dracma.
Agora isto está fora de questão, infelizmente: o drama não existe mais. Ele foi substituído pelo euro. O que fizeram então os países estrangulados? Procederam o que se costuma chamar de uma "desvalorização interna".
Procuraram reconstruir sua competitividade - as vezes com sucesso - reduzindo os salários e os preços. Aí se origina a espiral da deflação.
Um dos encantos da economia e, sobretudo, das teorias econômicas, é que a todo momento escutam-se da boca dos especialistas e dos banqueiros tudo e o seu contrário. Por exemplo, há economistas muito sérios que defendem a teoria oposta. Os alemães têm em geral uma grande ternura pela deflação. Michael Heise, economista-chefe da seguradora Allianz, em Munique, longe de maldizer a deflação a aceita e quase a deseja. "A redução dos preços na zona do euro é uma boa coisa." E ninguém duvida que a chanceler Angela Merkel tenha a mesma opinião. Tudo, menos inflação! Ante essas advertências, o campo dos "antideflacionistas" responde citando um exemplo contemporâneo: o poderoso Japão se debate há 20 anos nas areias movediças da deflação. Ao que parece, ele está começando a se livrar de seu abraço mortal, mas depois de quantos anos perdidos e quantas cicatrizes em todo o tecido industrial do país! / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
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