No livre mercado, indivíduos só são recompensados quando satisfazem as demandas dos outros, ainda que isso seja feito exclusivamente visando aos próprios interesses
Notícias e imagens incrivelmente chocantes nos têm chegado da Venezuela ultimamente. São centenas de milhares de cidadãos atravessando fronteiras de países vizinhos em busca de alimentos e gêneros de primeira necessidade. Gente morrendo em hospitais por falta de medicamentos básicos, como antibióticos. Pessoas revirando lixo, como ratos, atrás de restos de comida, enquanto os índices de violência crescem de forma assustadora. Tudo isso em meio a uma onda de repressão cada vez mais violenta e de medidas econômicas totalmente absurdas.
Qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento histórico e econômico sabe que a atual situação da Venezuela é o resultado previsível do mau funcionamento das instituições capitalistas. A carestia decorre basicamente do descontrole da emissão de moeda e do aumento crescente dos gastos públicos, enquanto a escassez de produtos resulta do congelamento de preços e lucros, medida tão populista quanto estúpida contra a inflação causada pelo próprio governo. O festival de horrores se fecha com o crescente desrespeito do Estado pela propriedade e pelos contratos privados.
É lamentável que, em pleno século XXI, ainda sejamos testemunhas de episódios como esse, na Venezuela, onde milhões de pessoas foram levadas a acreditar numa quimera socialista já testada e reprovada inúmeras vezes através dos tempos. Infelizmente, por trás desse engodo está a má reputação do capitalismo, nem tanto em relação aos seus aspectos econômicos, mas especialmente morais.
Muito embora nem os mais empedernidos marxistas neguem que o advento do capitalismo possibilitou uma prosperidade material constante e crescente, tirando da miséria milhões de pessoas nos quatro cantos da Terra, muitos ainda continuam desconfiados do sistema e prontos a culpá-lo pela maioria dos problemas sociais, reféns que são de clichês como “um outro mundo é possível” ou “de cada um conforme a sua capacidade, para cada um conforme a sua necessidade”.
Do outro lado, há muito pouca gente interessada em demonstrar as vantagens e, principalmente, o lado moral e ético do capitalismo. Poucos se dão conta, por exemplo, de que, no livre mercado, os indivíduos só são recompensados quando satisfazem as demandas dos outros, ainda que isso seja feito exclusivamente visando aos próprios interesses. Ao contrário de outros modelos, o capitalismo não pretende extinguir o egoísmo inerente à condição humana, porém nos obriga constantemente a pensar na satisfação do próximo, se quisermos prosperar. Além disso, para obter sucesso em grande escala, você tem de produzir algo que agrade e seja acessível a muitas pessoas, inclusive aos mais pobres, e não apenas aos mais abastados.
E as desigualdades? Bem, elas estão presentes em todos os sistemas econômicos até hoje testados. As pessoas com as melhores ideias, as mentes mais criativas e mais energia para o trabalho tenderão a alcançar o topo, tanto no capitalismo como numa burocracia socialista. A diferença é que, no sistema capitalista, as ditas elites têm menos poder e influência do que as elites políticas num sistema predominantemente estatal. Mesmo numa democracia, só as autoridades eleitas têm, por exemplo, o poder de retirar, através de pesadas taxações, porções cada vez maiores de nossa renda, ainda que contra a nossa vontade, algo impensável até mesmo aos maiores empresários.
Já no capitalismo, as transações são sempre voluntárias. Vale dizer, dentro da lei, a única forma de eu conseguir colocar a mão no seu dinheiro é oferecendo-lhe algo que você valorize mais do que esse dinheiro. Não por acaso, quando um cliente entra numa loja, a primeira coisa que ouve do vendedor é: “Em que posso ajudá-lo?”. E a última coisa que ambos dizem, depois de uma compra, é um duplo “obrigado!”. Um sinal inequívoco de que aquela transação foi vantajosa para ambos. Isso vale para qualquer negócio ou contrato, desde a compra de um picolé à aquisição de uma grande indústria.
Ademais, um modelo que privilegia a liberdade e a persuasão não pode ser mais imoral ou injusto que um cuja ênfase está na coação e no uso da força.
João Luiz Mauad é administrador e diretor do Instituto Liberal
Notícias e imagens incrivelmente chocantes nos têm chegado da Venezuela ultimamente. São centenas de milhares de cidadãos atravessando fronteiras de países vizinhos em busca de alimentos e gêneros de primeira necessidade. Gente morrendo em hospitais por falta de medicamentos básicos, como antibióticos. Pessoas revirando lixo, como ratos, atrás de restos de comida, enquanto os índices de violência crescem de forma assustadora. Tudo isso em meio a uma onda de repressão cada vez mais violenta e de medidas econômicas totalmente absurdas.
Qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento histórico e econômico sabe que a atual situação da Venezuela é o resultado previsível do mau funcionamento das instituições capitalistas. A carestia decorre basicamente do descontrole da emissão de moeda e do aumento crescente dos gastos públicos, enquanto a escassez de produtos resulta do congelamento de preços e lucros, medida tão populista quanto estúpida contra a inflação causada pelo próprio governo. O festival de horrores se fecha com o crescente desrespeito do Estado pela propriedade e pelos contratos privados.
É lamentável que, em pleno século XXI, ainda sejamos testemunhas de episódios como esse, na Venezuela, onde milhões de pessoas foram levadas a acreditar numa quimera socialista já testada e reprovada inúmeras vezes através dos tempos. Infelizmente, por trás desse engodo está a má reputação do capitalismo, nem tanto em relação aos seus aspectos econômicos, mas especialmente morais.
Muito embora nem os mais empedernidos marxistas neguem que o advento do capitalismo possibilitou uma prosperidade material constante e crescente, tirando da miséria milhões de pessoas nos quatro cantos da Terra, muitos ainda continuam desconfiados do sistema e prontos a culpá-lo pela maioria dos problemas sociais, reféns que são de clichês como “um outro mundo é possível” ou “de cada um conforme a sua capacidade, para cada um conforme a sua necessidade”.
Do outro lado, há muito pouca gente interessada em demonstrar as vantagens e, principalmente, o lado moral e ético do capitalismo. Poucos se dão conta, por exemplo, de que, no livre mercado, os indivíduos só são recompensados quando satisfazem as demandas dos outros, ainda que isso seja feito exclusivamente visando aos próprios interesses. Ao contrário de outros modelos, o capitalismo não pretende extinguir o egoísmo inerente à condição humana, porém nos obriga constantemente a pensar na satisfação do próximo, se quisermos prosperar. Além disso, para obter sucesso em grande escala, você tem de produzir algo que agrade e seja acessível a muitas pessoas, inclusive aos mais pobres, e não apenas aos mais abastados.
E as desigualdades? Bem, elas estão presentes em todos os sistemas econômicos até hoje testados. As pessoas com as melhores ideias, as mentes mais criativas e mais energia para o trabalho tenderão a alcançar o topo, tanto no capitalismo como numa burocracia socialista. A diferença é que, no sistema capitalista, as ditas elites têm menos poder e influência do que as elites políticas num sistema predominantemente estatal. Mesmo numa democracia, só as autoridades eleitas têm, por exemplo, o poder de retirar, através de pesadas taxações, porções cada vez maiores de nossa renda, ainda que contra a nossa vontade, algo impensável até mesmo aos maiores empresários.
Já no capitalismo, as transações são sempre voluntárias. Vale dizer, dentro da lei, a única forma de eu conseguir colocar a mão no seu dinheiro é oferecendo-lhe algo que você valorize mais do que esse dinheiro. Não por acaso, quando um cliente entra numa loja, a primeira coisa que ouve do vendedor é: “Em que posso ajudá-lo?”. E a última coisa que ambos dizem, depois de uma compra, é um duplo “obrigado!”. Um sinal inequívoco de que aquela transação foi vantajosa para ambos. Isso vale para qualquer negócio ou contrato, desde a compra de um picolé à aquisição de uma grande indústria.
Ademais, um modelo que privilegia a liberdade e a persuasão não pode ser mais imoral ou injusto que um cuja ênfase está na coação e no uso da força.
João Luiz Mauad é administrador e diretor do Instituto Liberal