Quem não pratica a autocrítica está impossibilitado de aprender
O Brasil padece de um mal persistente: os debates são substituídos por monólogos, por manipulação de preconceitos, por repetição cansativa de slogans e rótulos. Debater ideias dá trabalho, exige reflexão, argumentos, racionalidade. Muito mais fácil é agredir pessoas, questionar suas intenções, ofendê-las. Isso até o mais ignorante está em condições de fazer, e muito bem.
Virou moda entre a esquerda de hoje repetir que não se faz mais direitista como antigamente. É que os mortos não podem mais incomodar. Citam como exemplo figuras como Nelson Rodrigues ou Roberto Campos, ignorando que ambos foram vítimas da mesma estratégia pérfida que hoje usam contra os novos pensadores de direita. Não desejavam dialogar naquela época também.
Roberto Campos foi alvo de todo tipo de ataque pessoal, já que eram incapazes de refutar seus argumentos. Até a alcunha de Bob Fields ele recebeu, como se fosse um “entreguista” sem valores patrióticos. Mas se tem uma coisa que Campos buscou em sua longa vida pública foi o diálogo civilizado, a troca de ideias em busca conjunta pela verdade. A esquerda preferiu massacrá-lo com adjetivos.
Ele desabafou: “Não raro, essas questões fogem da análise do objeto em discussão e se agasalham num terreno de difícil acesso à indagação racional. Já não se discutem medidas, mas motivações. Já não se procura vincular a argumentação aos objetivos visados e aos meios escolhidos, senão que se busca frustrar o recomendado pela condenação sumária de quem recomenda.”
Pouco evoluímos. Cá estamos nós com uma esquerda que se recusa a dialogar, preferindo o eco da própria voz a disseminar receitas mágicas, culpando os velhos bodes expiatórios de sempre por seu fracasso quando colocadas em prática. O nacional-desenvolvimentismo uma vez mais trouxe apenas estagnação econômica e elevada inflação? Não importa: basta apontar a metralhadora giratória e condenar as “elites”, a ganância dos empresários, os “gringos de olhos azuis”.
Quem não pratica a autocrítica está impossibilitado de aprender. Quem acha que tudo sabe não evolui. Quem não olha para as lições da História está fadado a cometer os mesmos equívocos. Infelizmente, esta tem sido a postura de boa parte de nossa esquerda.
A presidente Dilma resolveu derrubar a taxa de juros na marra, apesar do alerta feito pelos economistas liberais. Hoje, a taxa está acima de quando assumiu, e a inflação rompeu o elevado teto da meta. Mas não vemos um só pedido humilde de desculpas, um único sinal de reconhecimento do erro.
O mesmo vale para várias outras questões: represamento de preços e tarifas públicas, expansão de gastos e crédito públicos, intervenção setorial abusiva etc. A lista é muito longa, sem qualquer indício de arrependimento por parte da presidente.
Ao contrário: diante das evidências crescentes do fracasso, a reação tem sido subir o tom dos ataques. Como um ouriço, a presidente se fecha, expondo seus espinhos a quem quer que faça questionamentos legítimos ou críticas construtivas. São logo rotulados de “pessimistas”, que torceriam pelo pior, que não amariam o Brasil. Falta capacidade e vontade de debater ideias.
O caso do Santander é sintomático. Tudo que a analista do banco fez foi constatar um fato, qual seja, a correlação direta entre pesquisa eleitoral e Bolsa. Dilma cai nas pesquisas, as ações se valorizam, principalmente as das estatais. Os investidores sabem muito bem o risco que mais quatro anos de governo Dilma representam para nossa economia.
Em vez de encarar essa dura realidade, até para eventualmente alterar o curso, a presidente preferiu adotar uma postura autoritária, intimidar o banco que, pusilânime, pediu desculpas. Até o ex-presidente Lula entrou em campo com seu linguajar chulo para ridicularizar a analista e demandar sua demissão, o que conseguiu.
A reação covarde do presidente do Santander é um problema dele e de seus clientes, que agora sabem que não há como confiar em análise alguma feita por seus analistas subservientes ao governo. Mas onde está a Febraban? Por que não vimos uma nota de repúdio veemente ao governo, já que é a credibilidade do setor inteiro em risco?
Estamos vendo a morte do diálogo aberto e o reino absoluto do monólogo oficial, justo o oposto do que precisamos. Como disse Roberto Campos há décadas, mas ainda atual: “O Brasil de hoje exige diálogo entre as posições conflitantes. E havendo diálogo o pensamento viciado não dá fruto. Nem mesmo viciado.”