terça-feira, agosto 05, 2014

O termômetro industrial - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 05/08


É hora de o país discutir o que fazer para reverter a tendência de queda da atividade industrial



A satisfação das necessidades básicas da população – como alimentação, vestuário, abrigo e preservação da saúde – exige que a atividade de produção ocorra de forma equilibrada entre os três setores: o primário (agricultura, pecuária, vegetal e animal), o secundário (indústria de transformação) e o terciário (comércio, transporte, educação, lazer e demais serviços). A indústria de transformação desempenha o papel de fazer o balanceamento adequado entre os três setores, pela simples razão de que os recursos da natureza precisam ser transformados em artigos consumíveis.

Uma economia saudável é aquela que apresenta um equilíbrio entre a produção dos três setores de atividade, com a indústria de transformação fazendo o papel de termômetro do equilíbrio. Os países que apresentam um setor primário desenvolvido, mas cuja indústria é pequena e incipiente, acabarão caindo na necessidade de se tornarem exportadores de produtos primários a fim de fazer caixa em dólares para importar produtos industriais indispensáveis. Entre os produtos industriais necessários estão os bens de consumo duráveis (a exemplo dos eletrodomésticos) e a extensa gama de medicamentos destinados a combater as doenças.

Historicamente, os preços internacionais dos produtos primários sempre foram deprimidos em relação aos produtos industrializados. Há pouco tempo, a importação de um computador pessoal exigia o pagamento de um preço equivalente às receitas com exportação de dez toneladas de soja. Nas últimas oito décadas a essência do debate econômico era de que somente as nações que conseguissem desenvolver seu parque industrial iriam chegar ao crescimento econômico e melhorar o padrão de vida de seu povo.

Os discursos dos candidatos à Presidência da maioria dos países eram centrados na meta de industrializar o país. No Brasil, não foi diferente, tanto na esfera federal quanto na estadual. Somente nos últimos 20 anos é que os preços dos produtos primários, especialmente os alimentos, começaram a crescer enquanto diversos preços de produtos industrializados começaram a cair, permitindo melhorar a relação entre o setor primário e o secundário.

Apesar de alguma melhoria na situação dos países produtores de bens primários, o desenvolvimento de um parque industrial capaz de transformar os recursos naturais, gerar empregos, agregar valor e competir no mercado internacional é o termômetro das possibilidades de crescimento econômico e desenvolvimento social. Além disso, quando o setor industrial está bem, trabalhando a plena carga e produzindo para o mercado interno e para exportações, em geral é um sinal de que a economia em geral vai bem. O inverso também é verdadeiro. Quando o setor industrial começa a dar sinais de falha, fábricas são desativadas, a produção é diminuída e o setor começa a apresentar prejuízos, em geral é porque a economia como um todo está mal.

No mundo todo, o setor industrial é o mais sensível às virtudes e às imperfeições da política econômica e da ação do governo. Uma das razões da alta sensibilidade da indústria vem do fato de que sua atividade requer grandes aportes de capital para a montagem de fábricas, modernização tecnológica e reposição de máquinas e equipamentos. Outra razão é que tanto o setor primário quanto o setor terciário vivem também em função de movimentar e operar produtos resultantes da indústria. Por essas e outras razões, as recentes estatísticas sobre o investimento industrial, a produção do setor e as oscilações na atividade de transformação mostram um quadro preocupante que denuncia furos no painel da economia brasileira.

Redução de investimentos, postergação de projetos, queda na atividade, redução de lucros, excesso de carga tributária e desconfiança dos investidores são algumas das doenças do setor industrial, retratadas nas diversas publicações, artigos e reportagens sobre a indústria brasileira. A política oficial de conceder incentivos a alguns setores escolhidos e privilegiar alguns setores muitos específicos (como o automobilístico) está mostrando furos no que nem pode ser chamado de “política industrial”.

A parte da indústria que era voltada para a exportação amargou, durante anos, uma taxa de câmbio defasada e causadora de prejuízo. Ao bater em seu nível mais baixo, em torno de R$ 1,60, a taxa de câmbio fez considerável estrago na indústria de exportação. Não bastasse isso, as empresas continuaram amargando custos elevados, decorrentes da precariedade da infraestrutura de transportes, portos, aeroportos e outros. É hora de o país discutir o que fazer para reverter a tendência de queda da atividade industrial, mesmo porque esse setor é importante gerador de empregos, e o aumento do desemprego é assunto socialmente explosivo.


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