domingo, agosto 31, 2014

Recessão e outros problemas no palanque de Dilma - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 31/08


A retração da economia no primeiro semestre se torna mais grave quando se constata que, no segundo trimestre, houve grande queda nos investimentos


Se fosse possível, os responsáveis pelas campanhas de Dilma e Aécio eliminariam do calendário a semana que passou. Não teriam a má notícia da lépida subida de Marina Silva na última pesquisa do Ibope, confirmada na noite de sexta pelo Datafolha. E a presidente e candidata à reeleição, em particular, escaparia do dissabor de manchar a biografia com a primeira recessão da economia brasileira desde o último trimestre de 2008. A queda de 0,6% do PIB no segundo trimestre em relação ao primeiro — quando já houve uma retração de 0,2%, numa sequência que configura a recessão — consolida, por enquanto, a expectativa do mercado de que a economia não deve conseguir crescer sequer 1% este ano.

“Recessão” é termo forte, de fácil exploração política. Mas estão no palanque de Dilma vários outros problemas, nem todos de fácil entendimento, mas nem por isso menos espinhosos. A baixa confiabilidade do governo Dilma se expressa na queda de 5,3% dos investimentos, no trimestre, também calculada pelo IBGE. É nítida a postura de “esperar para ver” do empresariado neste ano eleitoral.

Há problemas semeados pelo próprio governo. Um deriva da decisão de Dilma/Mantega de manter valorizado o real, para segurar uma inflação renitente. Para isso, o Banco Central executa as tais operações de “swaps”, pelas quais oferece dólares com compromisso de recompra futura. Não gasta o dólar físico das reservas — bastante altas, em mais de US$ 300 bilhões —, mas assume bilionários compromissos futuros. O saldo líquido dessas operações, no momento, seria de US$ 90 bilhões. Tudo isso faz a alegria de especuladores, que realizam a seguinte arbitragem, em explicação simplificada: financiam-se lá fora a juros muito baixos, pegam o dólar e o vendem no “spot”; com os reais, adquirem títulos no Brasil que rendem 11% ao ano. Fazem ainda “hedge” para garantir dólares a uma determinada cotação, num determinado prazo. E toda essa ciranda quase não tem risco porque o BC evita a desvalorização do real, com os “swaps”. Consta que muitos dos bilhões que entram hoje como “investimento externo direto” de multinacionais vêm, na verdade, participar desta ciranda. Eis porque, numa economia em recessão, bilhões de dólares chegam como se fossem investimento. E cuja taxa continua baixa, em relação ao PIB (14%).

Trata-se de uma manobra que não pode durar muito, até porque o Fed está prestes a anunciar que voltará a subir os juros nos EUA. Isso deflagrará mais uma onda de desvalorização de moedas, e o nosso BC não poderá enfrentar essa queda de braço cambial. Na verdade, os “swaps” são mais um puxadinho de política econômica. E com efeitos contraditórios: seguram artificialmente a inflação, junto com o congelamento de tarifas, mas desestimulam as exportações de manufaturados, já com dificuldade de competição por problemas de infraestrutura, burocracia, etc. Dilma e assessores devem torcer para chegar logo outubro.

A derrota de Dilma - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 31/08


BRASÍLIA - Ganhe ou perca a reeleição, Dilma Rousseff não escapa mais de uma derrota no seu primeiro mandato: na economia. Não foi por falta de aviso. Até Lula alertou.

Enquanto Dilma usa a propaganda de TV, debates e entrevistas para falar de programas pontuais, como o Pronatec, que qualquer gerente faz, a economia brasileira continua dando uma notícia ruim atrás da outra.

O desafio da oposição não é bater na tecla de PIB, controle fiscal e contas externas (a maioria das pessoas nem sabe o que é isso), mas ensinar que não se trata só de números nem atinge só o "mercado" e a "elite". Afeta o desenvolvimento, a indústria, os investimentos, a competitividade e, portanto, a vida de todo mundo e o futuro do Brasil.

O super Guido Mantega, que sempre prevê PIBs estratosféricos e acaba se esborrachando com os resultados, conseguiu adicionar uma pitada de ridículo nas novas notícias ruins. Na quinta (28), ele disse que os adversários de Dilma levariam o país "à recessão". Na sexta (29), o governo anunciou que o risco já chegou: o recuo da atividade econômica pelo segundo trimestre consecutivo caracteriza... "recessão técnica". Ou "herança maldita", segundo Aécio. Não há Pronatec que dê jeito...

Para piorar as coisas, vamos ao resultado fiscal anunciado na mesma sexta: o governo federal (Tesouro, BC e INSS) teve o maior rombo do mês de julho desde 1997. A presidente candidata anda gastando muito.

Passado o trauma da morte de Eduardo Campos e assimilada a chegada triunfal de Marina Silva, a economia retoma o centro do debate eleitoral. Não há uma crise, mas há má gestão. Como Campos dizia, Dilma é "a primeira presidente a entregar o país pior do que encontrou".

Dilma e Mantega culpam o cenário internacional. Marina, rumo à vitória, e Aécio dizem que não é bem assim e apontam quem vai arranhar o joelho, cortar o cotovelo e talvez machucar a cabeça se a economia for ladeira abaixo. O eleitor, claro.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

‘Vai ser como massa de pão: quanto mais baterem, mais ela sobe’
Deputado Júlio Delgado (PSB-MG), otimista com os números de Marina nas pesquisas


APRESENTAR PRESO AO JUIZ EM 24H PREJUDICA O RÉU

O projeto de lei do Senado, que obriga a apresentação de presos em flagrante a um juiz, no prazo máximo de 24h, é no mínimo impraticável, por atentar contra o direito de defesa do réu, além do “incomensurável custo de deslocamento”, segundo entendimento de pelos menos duas entidades que representam os profissionais envolvidos no assunto: as associações de Magistrados do Brasil (AMB) e de Delegados (Adepol).

CHOVENDO NO MOLHADO

Relator, o senador Humberto Costa (PT-PE) nem percebe que o projeto é inócuo: prisões já são notificadas imediatamente ao juiz e à família.

IMPRATICÁVEL

Em julho, se essa lei existisse, só em São Paulo seriam necessárias mais de 350 audiências por dia com juízes, para apresentar presos.

PERNAS CURTAS

Entidades de juízes e delegados negam que a Convenção de Direitos Humanos determine apresentação ao juiz em 24h, como diz o projeto.

SÓ UM FACTOIDE

No Senado, o projeto é recebido com reservas pela estranha pressa da ministra Ideli Salvatti (Direitos Humanos), ansiosa por uma “bandeira”.

MARINA ‘BOMBA’ EM PESQUISAS E NAS REDES SOCIAIS

Nas pesquisas e nas redes sociais, os eleitores mal conseguem esconder o encantamento pela candidata do PSB a presidente, Marina Silva. Além da pesquisa Datafolha de sexta-feira, que aponta seu crescimento estonteante, ela lidera os números nas redes sociais. Sua página oficial no Facebook, de longe a mais acessada nos últimos dias, acumulou quase 700 mil “curtidas” desde a morte de Eduardo Campos.

ATÉ NO TWITTER

Marina (PSB) e Dilma (PT) são mencionadas no Twitter entre 30 e 60 vezes por hora. Já Aécio (PSDB) não passa de dez menções.

FENÔMENO

No Facebook, Marina rivaliza com grandes páginas da rede: acumulou 280 mil likes na última semana. A página oficial do Barcelona, 400 mil.

DECEPÇÃO

O ex-presidente do Supremo Joaquim Barbosa prometeu barbarizar no Twitter, mas até agora tem só 30 mil seguidores.

TRAIÇÕES A GALOPE

Perplexos com o crescimento da candidatura de Marina Silva, agora empatada em primeiro lugar nas pesquisas com Dilma Rousseff, petistas ilustres já começam a buscar “convergências” com ela.

DIFERENÇAS

Marina foi chamada de “Lula de saias” por José Dirceu, até porque sua trajetória é semelhante à do ex-presidente, mas só na origem humilde. Ela aprendeu a ler só aos 16 anos de idade, mas, além disso, e ao contrário de Lula, tomou gosto pelos estudos e pela leitura.

É BRASIL, MARINA

Quando lhe contaram, sexta-feira, que tinha 34% no Datafolha, empatando com Dilma, Marina Silva achou que os números se referiam somente a São Paulo. “É Brasil?”, exultou. Mal acreditava.

PROJETOS DE PRESIDENTE

O votenaweb.com.br, que avalia o trabalho de políticos, classifica Aécio (PSDB) como o de melhores projetos entre os presidenciáveis, 88% de aprovação. Dilma, 82%. Marina teve só dois projetos no Senado.

ESFORÇO DESCONCENTRADO

Apesar do número de sequestros-relâmpago disparar em todo o País, está parado na Câmara o projeto 6.726, que autoriza as operadoras a informar a localização de celulares às polícias, mediante requisição.

FAZ SENTIDO

O site da Secretaria Geral da Presidência foi infectado por um vírus. Ao ser acessado, o domínio www.secretariageral.gov.br é congelado, com o aviso: “invasores podem estar roubando suas informações”.

OBSTRUÇÃO À VISTA

Na pauta do “esforço concentrado” da primeira semana de setembro está prevista a votação, na Câmara dos Deputados, do projeto que anula a criação dos “conselhos populares”. O PT promete obstruir.

PROMESSA É DÍVIDA

De 2007 a 2013, o governo federal diz ter investido R$ 9 bilhões em creches, mas das 6.427 prometidas pela então candidata Dilma (PT), na campanha de 2010, ela só entregou cerca de 500.

PENSANDO BEM...

...em vez da frustração porque não lhe faziam perguntas, no debate da Band, Luciana Genro (PSOL) deveria se sentir frustrada por sua carência de votos.


PODER SEM PUDOR

CRUEL RECEPÇÃO

Duas dezenas de jornalistas aguardavam no aeroporto Santos Dumont, no Rio, a chegada de Ulysses Guimarães, candidato do PMDB à presidência da República, naquele ano de 1989. Mas, no desembarque, eles se depararam com outro candidato, Aureliano Chaves (PFL), que chegara antes. As chances dos dois eram mínimas, mas Ulysses sempre gerava boas notícias, ao contrário de Aureliano. Ninguém se mexeu e a saia já era demasiado justa quando o pefelista pediu:

- Sei que vocês esperam o Ulysses, mas podem perguntar que eu falo.

Como jornalista é bicho muito mal educado, ninguém perguntou nada e Aureliano foi embora, cabisbaixo e constrangido.