quarta-feira, maio 28, 2014

Custos da política econômica do ‘puxadinho’ - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 28/05

Combater o índice de inflação e não a própria, e dissimular custos com subsídio oriundo de dívida pública são exemplares. Como nas favelas, é um tipo de solução perigosa



O termo, tirado do glossário urbanístico da favelização, se encaixa à perfeição à forma como a economia tem sido gerenciada desde que a anabolização feita a partir de fins de 2009, no estouro da crise mundial, passou a não produzir os efeitos esperados.

Os “puxadinhos” começaram a ser construídos à medida que os problemas surgiam — como é da natureza dos “puxadinhos”. É parte da cultura do “puxadinho” um estilo de ação do governo no varejo voltada a combater efeitos e não causas. O setor energético é a grande cobaia deste tipo de ação.

Se a inflação ameaça escapar do controle — por erros do governo no campo monetário e fiscal —, controlem-se tarifas de bens e serviços públicos. E assim os preços de combustíveis passaram a ser subsidiados pela Petrobras, enorme sobrecarga para uma empresa que necessita investir pesadamente.

Cálculos de Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, feitos ainda na primeira quinzena do mês, indicavam uma defasagem de 17% no preço da gasolina e 15% no diesel. Para minimizar as dificuldades da estatal, obrigada a importar mais caro e vender mais barato, outro “puxado”: aumento da mistura de biocombustível no diesel

A tática míope de se administrar o índice de inflação em vez de se combater com o vigor necessário os motivos da elevação dos preços tem provocado um enorme estrago no setor elétrico.

O objetivo era, e é, defensável: reduzir o custo da energia elétrica, um dos fatores negativos na já baixa capacidade de o Brasil competir no exterior e com os produtos importados. Ao se passar à prática, veio o desastre.

Coerente com o seu viés intervencionista, pelo qual tenta-se até tabelar lucro de empresa privada, o Planalto baixou por medida provisória um édito para que as estatais renegociassem suas concessões prevendo tarifas excessivamente baixas. Só as federais o fizeram, porque foram obrigadas. Com a seca e a necessidade de se manter as termelétricas em operação constante, tudo isso somado ao corte forçado de tarifas — com fins eleitorais —, criou-se enorme desequilíbrio financeiro no sistema, com a virtual quebra de distribuidoras. O resultado é que esse “puxadinho” deverá custar no mínimo R$ 20 bilhões ao Tesouro. Sem considerar o mirabolante empréstimo bancário de R$ 11 bilhões à Câmara de Comercialização de Emergia Elétrica (CCEE), entidade sem ativo para qualquer operação simples de crédito. Mas este foi um negócio especial...

Combater o índice de inflação e não a própria e dissimular custos com subsídios pagos por dinheiro oriundo de endividamento público — e não só no setor elétrico — são “puxadinhos” exemplares. Assim como nas favelas, este é um tipo de solução de alto risco.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“A instalação acontecerá, na prática, amanhã”
Renan Calheiros, presidente do Senado, em pleno ‘embromation’; sua especialidade

ALVES NÃO LARGA O OSSO DA CÂMARA ATÉ DEZEMBRO

Candidato ao governo do Rio Grande do Norte, mas decidido a eleger seu sucessor na presidência da Câmara, o deputado Henrique Alves (PMDB-RN) avisou a correligionários que permanecerá no cargo até o fim do mandato, em dezembro, mesmo vencendo a eleição. A intenção dele é impedir que o vice-presidente Arlindo Chinaglia (PT-SP) assuma o cargo e utilize a máquina da Câmara para se eleger em seu lugar.

OUSADIA

Henrique Alves quer eleger em seu lugar o inefável líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), por quem Dilma sente incontornável repulsa.

ESTRATÉGIA

O deputado Arlindo Chinaglia substituiu seu amigo André Vargas (PR), na vice-presidência, já de olho em retornar à presidência da Casa.

LIDERANÇA

Ganha força no Planalto efetivar o petista Henrique Fontana (RS) líder do governo. Outro petista, José Guimarães (PT-CE), também é cotado.

MUSA

Após Xuxa, ontem foi a vez da atriz Camila Pitanga virar os centro das atenções no Congresso, dando força à PEC do Trabalho Escravo.

FALTA POUCO PARA A MP DAS SEGURADORAS VIRAR LEI

O Senado pode votar nesta quarta-feira a Medida Provisória 633, que aumenta em R$ 80 bilhões o limite de crédito do BNDES, e livra grandes seguradoras de pagar mais de R$ 17 bilhões em indenizações a mutuários do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) ordenadas pela Justiça. A MP 633 insere a Caixa nas ações para possibilitar recursos à Justiça Federal que alterem sentenças condenatórias das seguradoras.

CRUELDADE

Mutuário do SFH é obrigado a fazer seguro (20% do valor do imóvel), contra defeitos de construção. A MP dificulta o pagamento do sinistro.

QUASE LEI

Aprovada sem mudanças na Câmara semana passada, a MP 633 não precisa ser sancionada por Dilma. Sem mudanças no Senado, vira lei.

TOLERÂNCIA

Só no Brasil, a pretexto de “respeitar o direito a manifestação”, permita-se o bloqueio de avenidas, suprimindo o direito de ir e vir da maioria.

ONGs FINANCIADORAS

Os índios que saíram às ruas, ontem, começaram a chegar a Brasília domingo, em voos da TAM, e foram instruídos a não revelar quem lhes pagou a viagem. Mas foram ONGs, sobretudo estrangeiras, empenhadas em derrubar a proposta de emenda constitucional 215.

QUESTÃO DE PODER

As ONGs querem derrubar a PEC 215, que atribui ao Congresso a demarcação de terras indígena e quilombola, porque perdem influência e o poder que hoje desfrutam em órgãos do governo federal.

ISSO PEGA?

O PT pediu o mandato do deputado André Vargas, após identificar que o escândalo gritava em pesquisa qualitativa. Também pesa na conta a má avaliação da gestão do petista Fernando Haddad, em São Paulo.

INDEPENDÊNCIA

A oposição vibrou com o nome do ex-presidente Marco Maia (PT-RS) para relator da CPMI da Petrobras. Em sua gestão à frente da Câmara, ele deu trabalho ao Planalto, enfrentando-o inúmeras vezes.

DESAPEGAR, NÃO DÁ

Na CPI chapa-branca do Senado, Graça Foster admitiu outra vez que não foi “bom negócio” comprar a refinaria de Pasadena. Pena que o prazo de troca do Procon venceu. Nem dá para desapegar na internet.

EXPLICA AÍ, ANP

Em Ji-Paraná (RO), a milhares de quilômetros das distribuidoras, o litro de gasolina é vendido a R$ 3,12. Em Brasília, onde o comércio de combustíveis é cartelizado há anos, custa R$ 3,15. Ninguém vai preso.

DECADÊNCIA

Os Correios pioram a cada dia. Uma encomenda despachada dia 16 em Londrina (PR) para Itabuna (BA) está há dez dias dormitando, “em trânsito”, em Feira de Santana (BA). Deve ser Sedex viajando no lombo do jegue que Lula sugeriu como meio de transporte, em lugar de metrô.

BOLA NO ESTÔMAGO

A Itália trará a própria comida para a Copa, diz a Gazzetta dello Sport, após inspeção sanitária do Rio encontrar alimentos vencidos nos dois hotéis que hospedam o time. Também não oferecia camisinhas.

PENSANDO BEM...

...pelo ritmo das obras da Copa e das greves nos transportes País afora, vai faltar jegue para o brasileiro ir aos estádios.


PODER SEM PUDOR

QUEM NEM SÃO JOSÉ

Beto Albuquerque (PSB-RS) era vice-líder do governo quando se embananou tentando explicar por que os deputados não abandonavam a obstrução, mesmo depois de o Palácio do Planalto anunciar a liberação das emendas. Mostrou sua falta de intimidade com religião, afirmando que todos estavam "que nem São José".

- O senhor quer dizer São Tomé... - corrigiu um jornalista.

- ...é, aquele que só acredita vendo.