FOLHA DE SP - 22/08
Na eleição de 2010, Marina ficou em terceiro no Acre. Pobres têm a mania de não saber o que é melhor para si
Nunca entendi, não creio que seja só por ignorância, o que diz Marina Silva. Esforço-me. Procuro identificar o sujeito da frase, busco o verbo, tento encontrar o complemento, procuro os termos adjuntos. Quando consigo pacificar a sintaxe, sou atropelado pela semântica ou por um complexo processo de formação de palavras, que vai da derivação imprópria a neologismos diversionistas, que simulam, no entanto, algo de sublime.
Um exemplo? Perguntaram a Marina se a Rede, o seu futuro partido, seria pragmático. Ela respondeu: "Será sonhático". Houve um úmido frenesi de satisfação. Tempos depois, muito pragmaticamente, ela resolveu estabelecer com o PSB o que prometia ser uma relação de mutualismo trófico: um tinha estrutura, mas não voto; o outro, voto, mas não estrutura. Depois daquele avião, o marinismo se tornou parasitoide do partido de Eduardo Campos, como achei que seria mesmo com ele vivo. No "parasitoidismo" (que é diferente do parasitismo, que o antigo PCB, por exemplo, mantinha com o MDB), o hospedeiro morre. Como morrerá o PSB. Vamos a uma pequena digressão que nos aproxima de uma natureza.
Em fevereiro de 2013, Marina reuniu a sua grei para dar largada à tal Rede. A líder do colapso do sentido formulou, então, aquela que, para mim, é sua mais formidável frase: "Estamos vivendo uma crise civilizatória e não temos o repertório necessário para enfrentá-la". Caramba! Não era um modesto diagnóstico sobre o Brasil, mas uma antevisão do apocalipse civilizacional.
Não quero chocar Remelentos & Mafaldinhas dos coquetéis molotov, mas repito o que observei então (is.gd/z9HUIV): em números relativos ou absolutos, nunca antes na história deste mundo, tantos homens viveram sob regime democrático, os seres humanos tiveram vida tão longa, houve tanta comida e tão barata, tivemos tantos remédios para nossos males, houve tantas crianças com acesso à educação, houve tantos humanos com saneamento básico... O repertório, em suma, nunca foi tão grande para responder aos desafios que nos propõem a natureza e a civilização. É certo que Marina não se inclui entre os ignorantes que identifica. Há ali a inflexão típica dos profetas --falsos, como todos. Fim da digressão aproximativa.
Quem faz política para salvar a humanidade não negocia, mas impõe. Marina, agora candidata do PSB à Presidência, não aceitou assinar compromisso nenhum, rejeitou acordos políticos firmados por Campos e impôs um nome para a coordenação da campanha. Ela se considera, por exemplo, pura demais para apoiar a reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo, que tem como vice Márcio França, do PSB, ex-braço direito de... Campos, aquele cujo retrato a agora presidenciável brandiu à beira do caixão.
Faço aqui um desafio a Marina. Ela é governo no Acre há 16 anos. Seu marido deixou nesta semana o cargo de secretário de Tião Viana (PT), mas seu grupo continua no poder. É um fato. Então que se comparem dois padrões de governança: um que ela aprova, desde 1999, e outro que ela reprova, o de São Paulo. Vamos ver em qual deles os indicadores sociais e econômicos avançaram mais nesse tempo. É óbvio que me refiro a avanço relativo, já que o Acre não chega a ter 800 mil habitantes, e São Paulo tem 43 milhões. O petismo e o marinismo governam, há quatro mandatos, uma população igual à da soma do Grajaú com o Jardim Ângela, dois dos 96 distritos da capital paulista. O grupo poderia ter operado uma verdadeira revolução na qualidade de vida, não é mesmo? Mormente porque, nos 12 anos recentes, tem um aliado no governo federal. Por alguma estranha razão, na eleição de 2010, Marina só venceu no Distrito Federal, que tem a renda per capita mais alta do país, e ficou em terceiro no Acre. Pobres têm a mania de não saber o que é melhor para si. Os ricos sempre sabem.
"Olhem o Reinaldo pegando no pé de Marina, a exemplo dos sites governistas, financiados com dinheiro público!" Esses caras que se danem! Não são meus juízes quando reprovam ou aprovam o que escrevo. Eu quero é ver os políticos disputando territórios --de poder, de linguagem e de futuro-- que são deste mundo. Sou só um cristão que repudia misticismos, o novo ópio --ou a clorofila-- dos intelectuais.
sexta-feira, agosto 22, 2014
Fio terra - DORA KRAMER
O ESTADÃO - 22/08
Renovar os meios e os modos da política é preciso, disso não há dúvida, desta premência ninguém discorda, exceto os acomodados nas más intenções de sempre.
A candidata do PSB, Marina Silva, pretende encarnar o desejo de mudança claramente posto pelo público em toda parte, levantando o estandarte de combatente da política tradicional. Tem chance de êxito como se viu na primeira pesquisa de intenções de voto em que aparece como candidata a presidente. Mas, como também estamos vendo nos primeiros movimentos decorrentes da reorganização da campanha após a morte de Eduardo Campos, o caminho não é suave.
O simples fato de a reunião entre a cúpula do PSB e o grupo de Marina Silva na quarta-feira ter durado o dia todo já diz algo sobre a dimensão dos obstáculos. Estivessem todos tão de acordo como querem fazer crer as declarações oficiais, bastariam poucas horas para alguns ajustes. Afinal, a decisão principal estava tomada, seria ela a candidata. Se os partícipes da aliança precisaram gastar tanto tempo, foi porque havia arestas.
Foram aparadas? A julgar pelos acordes iniciais, não. O secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, deixou a campanha se queixando dos modos autoritários de Marina; o substituto na coordenação-geral será alguém da confiança dela.
Mais: a ex-senadora tratou de assegurar o controle do comitê financeiro, como quem cria uma rede de proteção contra possíveis cortes de "oxigênio"; e já avisou que não estará em palanques aliados ao partido em São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
O registro da candidatura no Tribunal Superior Eleitoral ainda não saiu (a burocracia leva alguns dias) e Marina Silva deixou de se comportar como hóspede para se movimentar com a desenvoltura de dona da casa.
Parece referida na campanha de 2010. Existem diferenças: primeira, agora não é dona da casa. Há condôminos, vale dizer, as seções regionais do PSB, que podem resolver simplesmente abandoná-la e aderir aos adversários devido ao descumprimento de acordos anteriormente firmados.
Marina não é, como em 2010, candidata de si mesma. Há certas tradições na política que não devem desprezadas nem confundidas com velhos vícios. A honra do compromisso é uma delas.
Outra diferença: desta vez é candidata competitiva. A fim de que não perca essa condição, conviria que não perdesse também o fio terra no discurso. Voltamos aqui ao início à questão da renovação. Inovar é possível, desde que as soluções para a realização do sonho sejam factíveis e compreensíveis ao entendimento da maioria.
Contra fatos. O ex-presidente Lula levou a guerra contra a imprensa independente - que chama de "certa imprensa" - para o horário eleitoral. Muita gente viu nisso um gesto de apoio à proposta de controle social da mídia.
Pois pareceu muito mais uma maneira de convencer o eleitorado menos informado - e, portanto, alheio àquela discussão - de que as notícias desfavoráveis ao governo são falsas e que a verdade está ali, nas obras em panorâmica e nos números na casa dos bilhões.
Não tendo como responder às questões que estão aí para todo mundo ver, o governo lança mão da credibilidade de Lula para simplificar as coisas dizendo aos mais simples que é tudo mentira.
Como diz o arquiteto da obra, João Santana, "política é teatro".
Aparência. Pode ser que a presidente da Petrobrás, Graça Foster, não tenha tido, como alega, a intenção de burlar o processo de apuração da compra da refinaria de Pasadena pelo Tribunal de Contas da União, ao transferir seus bens para os filhos.
Mas, a fim de que não pairassem dúvidas, não deveria ter tomado tal providência no curso de um processo em que uma das hipóteses, mesmo remota, poderia vir a ser o bloqueio de bens.
Renovar os meios e os modos da política é preciso, disso não há dúvida, desta premência ninguém discorda, exceto os acomodados nas más intenções de sempre.
A candidata do PSB, Marina Silva, pretende encarnar o desejo de mudança claramente posto pelo público em toda parte, levantando o estandarte de combatente da política tradicional. Tem chance de êxito como se viu na primeira pesquisa de intenções de voto em que aparece como candidata a presidente. Mas, como também estamos vendo nos primeiros movimentos decorrentes da reorganização da campanha após a morte de Eduardo Campos, o caminho não é suave.
O simples fato de a reunião entre a cúpula do PSB e o grupo de Marina Silva na quarta-feira ter durado o dia todo já diz algo sobre a dimensão dos obstáculos. Estivessem todos tão de acordo como querem fazer crer as declarações oficiais, bastariam poucas horas para alguns ajustes. Afinal, a decisão principal estava tomada, seria ela a candidata. Se os partícipes da aliança precisaram gastar tanto tempo, foi porque havia arestas.
Foram aparadas? A julgar pelos acordes iniciais, não. O secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, deixou a campanha se queixando dos modos autoritários de Marina; o substituto na coordenação-geral será alguém da confiança dela.
Mais: a ex-senadora tratou de assegurar o controle do comitê financeiro, como quem cria uma rede de proteção contra possíveis cortes de "oxigênio"; e já avisou que não estará em palanques aliados ao partido em São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
O registro da candidatura no Tribunal Superior Eleitoral ainda não saiu (a burocracia leva alguns dias) e Marina Silva deixou de se comportar como hóspede para se movimentar com a desenvoltura de dona da casa.
Parece referida na campanha de 2010. Existem diferenças: primeira, agora não é dona da casa. Há condôminos, vale dizer, as seções regionais do PSB, que podem resolver simplesmente abandoná-la e aderir aos adversários devido ao descumprimento de acordos anteriormente firmados.
Marina não é, como em 2010, candidata de si mesma. Há certas tradições na política que não devem desprezadas nem confundidas com velhos vícios. A honra do compromisso é uma delas.
Outra diferença: desta vez é candidata competitiva. A fim de que não perca essa condição, conviria que não perdesse também o fio terra no discurso. Voltamos aqui ao início à questão da renovação. Inovar é possível, desde que as soluções para a realização do sonho sejam factíveis e compreensíveis ao entendimento da maioria.
Contra fatos. O ex-presidente Lula levou a guerra contra a imprensa independente - que chama de "certa imprensa" - para o horário eleitoral. Muita gente viu nisso um gesto de apoio à proposta de controle social da mídia.
Pois pareceu muito mais uma maneira de convencer o eleitorado menos informado - e, portanto, alheio àquela discussão - de que as notícias desfavoráveis ao governo são falsas e que a verdade está ali, nas obras em panorâmica e nos números na casa dos bilhões.
Não tendo como responder às questões que estão aí para todo mundo ver, o governo lança mão da credibilidade de Lula para simplificar as coisas dizendo aos mais simples que é tudo mentira.
Como diz o arquiteto da obra, João Santana, "política é teatro".
Aparência. Pode ser que a presidente da Petrobrás, Graça Foster, não tenha tido, como alega, a intenção de burlar o processo de apuração da compra da refinaria de Pasadena pelo Tribunal de Contas da União, ao transferir seus bens para os filhos.
Mas, a fim de que não pairassem dúvidas, não deveria ter tomado tal providência no curso de um processo em que uma das hipóteses, mesmo remota, poderia vir a ser o bloqueio de bens.
Enfim, o ajuste recessivo - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
FOLHA DE SP - 22/08
A economia chega a uma situação da qual o político com experiência foge como o diabo foge da cruz
O PIB no segundo trimestre do ano será certamente negativo: a dúvida dos analistas é hoje apenas a intensidade da queda.
O André Muller, economista da Quest que acompanha a nossa conjuntura -confesso que não tenho mais energia para fazer isso-, prevê que a queda tenha sido de 0,4% em relação ao primeiro trimestre. Tem gente bem mais pessimista, mas aprendi a confiar nos números do André e vou adotá-los na coluna de hoje.
O André simulou o crescimento do ano como um todo com base em números do PIB -hipotéticos- para o terceiro e o quarto trimestre. Em seu cenário, para que o PIB do ano de 2014 como um todo chegue ao medíocre 0,5%, será preciso que o crescimento nos dois últimos trimestres do ano seja também ao redor de 0,5%. Uma hipótese hoje com tintas de otimismo.
No outro extremo, para que tenhamos recessão em 2014 -isto é, PIB do ano menor do que o verificado em 2013-, o crescimento nos próximos seis meses terá que ser também negativo, o que hoje parece a mim e ao André uma hipótese pouco provável.
Mas vejamos qual seria a performance da presidenta Dilma em seu primeiro mandato, caso os números do André estejam corretos:
2011: 2,7%;
2012: 1,0%;
2013: 2,5%;
2014: 0,5%.
Essa sequência de números, para quem tem acompanhado o metabolismo da economia brasileira no período entre 2009 e 2014, traz uma mensagem muito clara: o governo Lula, em seu último ano, e o da presidenta Dilma, em seus quatro anos de mandato, tentaram de forma sistemática evitar uma queda da atividade já contratada em 2009 pela crise externa que nos atingiu.
Os principais instrumentos utilizados nessa tarefa foram: a redução dos juros pelo Banco Central,a expansão do crédito pelos bancos públicos e, finalmente, o aumento vigoroso e continuado dos gastos públicos.
Para o analista com uma visão correta dos problemas que existiam na economia brasileira no ano eleitoral de 2010, estava claro que esses instrumentos iriam provocar um aumento da inflação e uma grande volatilidade no crescimento.
Se a tentativa de reviver a economia em 2010 via respiração boca a boca fazia sentido do ponto de vista político-eleitoral, a utilização desses mesmos instrumentos quando o PIB perdeu força na passagem de 2011 para 2012 deve ser catalogada como um sério erro de política econômica.
E o preço desse erro fica claro quando, no ano eleitoral de 2014, a economia chega exangue ao momento do voto. Uma situação da qual o político com experiência foge como o diabo foge da cruz.
O PIB é uma variável de difícil compreensão da grande maioria do eleitorado -ninguém come PIB, como já disse alguém recentemente-, mas seu baixo crescimento gera situações que chegam ao cidadão comum. É o caso da criação de emprego formal na economia e da taxa de desemprego.
Pois ontem tivemos a divulgação de dois números relativos ao mercado de trabalho. O IBGE divulgou a taxa de desemprego em quatro regiões metropolitanas, mostrando que a desaceleração do PIB ainda não chegou ao mercado de trabalho.
Com alguns ajustes feitos por analistas especializados nesses números, houve um ligeiro aumento no desemprego dessas regiões metropolitanas de 4,3% da População Economicamente Ativa em junho para algo como 4,5% em julho. Esse pequeno aumento não será suficiente para mudar a sensação de pleno emprego que existe hoje no Brasil.
A segunda estatística, divulgada pelo Ministério do Trabalho e que trata da criação de vagas formais em julho, também aponta para uma pequena redução do trabalho formal no país, ainda assim apenas nos números livres das flutuações sazonais (também insuficiente para alterar o humor do brasileiro quanto ao emprego). Talvez o número que mais repercussão terá nas expectativas seja o anúncio de mais de mil demissões na GM.
Mas, independentemente do timing eleitoral, o chamado ajuste recessivo continua a tomar conta da economia brasileira neste fim de mandato presidencial.
A economia chega a uma situação da qual o político com experiência foge como o diabo foge da cruz
O PIB no segundo trimestre do ano será certamente negativo: a dúvida dos analistas é hoje apenas a intensidade da queda.
O André Muller, economista da Quest que acompanha a nossa conjuntura -confesso que não tenho mais energia para fazer isso-, prevê que a queda tenha sido de 0,4% em relação ao primeiro trimestre. Tem gente bem mais pessimista, mas aprendi a confiar nos números do André e vou adotá-los na coluna de hoje.
O André simulou o crescimento do ano como um todo com base em números do PIB -hipotéticos- para o terceiro e o quarto trimestre. Em seu cenário, para que o PIB do ano de 2014 como um todo chegue ao medíocre 0,5%, será preciso que o crescimento nos dois últimos trimestres do ano seja também ao redor de 0,5%. Uma hipótese hoje com tintas de otimismo.
No outro extremo, para que tenhamos recessão em 2014 -isto é, PIB do ano menor do que o verificado em 2013-, o crescimento nos próximos seis meses terá que ser também negativo, o que hoje parece a mim e ao André uma hipótese pouco provável.
Mas vejamos qual seria a performance da presidenta Dilma em seu primeiro mandato, caso os números do André estejam corretos:
2011: 2,7%;
2012: 1,0%;
2013: 2,5%;
2014: 0,5%.
Essa sequência de números, para quem tem acompanhado o metabolismo da economia brasileira no período entre 2009 e 2014, traz uma mensagem muito clara: o governo Lula, em seu último ano, e o da presidenta Dilma, em seus quatro anos de mandato, tentaram de forma sistemática evitar uma queda da atividade já contratada em 2009 pela crise externa que nos atingiu.
Os principais instrumentos utilizados nessa tarefa foram: a redução dos juros pelo Banco Central,a expansão do crédito pelos bancos públicos e, finalmente, o aumento vigoroso e continuado dos gastos públicos.
Para o analista com uma visão correta dos problemas que existiam na economia brasileira no ano eleitoral de 2010, estava claro que esses instrumentos iriam provocar um aumento da inflação e uma grande volatilidade no crescimento.
Se a tentativa de reviver a economia em 2010 via respiração boca a boca fazia sentido do ponto de vista político-eleitoral, a utilização desses mesmos instrumentos quando o PIB perdeu força na passagem de 2011 para 2012 deve ser catalogada como um sério erro de política econômica.
E o preço desse erro fica claro quando, no ano eleitoral de 2014, a economia chega exangue ao momento do voto. Uma situação da qual o político com experiência foge como o diabo foge da cruz.
O PIB é uma variável de difícil compreensão da grande maioria do eleitorado -ninguém come PIB, como já disse alguém recentemente-, mas seu baixo crescimento gera situações que chegam ao cidadão comum. É o caso da criação de emprego formal na economia e da taxa de desemprego.
Pois ontem tivemos a divulgação de dois números relativos ao mercado de trabalho. O IBGE divulgou a taxa de desemprego em quatro regiões metropolitanas, mostrando que a desaceleração do PIB ainda não chegou ao mercado de trabalho.
Com alguns ajustes feitos por analistas especializados nesses números, houve um ligeiro aumento no desemprego dessas regiões metropolitanas de 4,3% da População Economicamente Ativa em junho para algo como 4,5% em julho. Esse pequeno aumento não será suficiente para mudar a sensação de pleno emprego que existe hoje no Brasil.
A segunda estatística, divulgada pelo Ministério do Trabalho e que trata da criação de vagas formais em julho, também aponta para uma pequena redução do trabalho formal no país, ainda assim apenas nos números livres das flutuações sazonais (também insuficiente para alterar o humor do brasileiro quanto ao emprego). Talvez o número que mais repercussão terá nas expectativas seja o anúncio de mais de mil demissões na GM.
Mas, independentemente do timing eleitoral, o chamado ajuste recessivo continua a tomar conta da economia brasileira neste fim de mandato presidencial.
Situação fiscal preocupa GUSTAVO LOYOLA
O ESTADO DE S.PAULO - 22/08
Como reconheceu o próprio Banco Central (BC), os fracos resultados fiscais apresentados no 1.º semestre - os piores para este período do ano desde 2003 - tornaram difícil o cumprimento da meta de 1,9% do PIB de superávit primário estabelecida pelo governo para 2014. Nem mesmo as receitas extraordinárias previstas para o 2.º semestre, oriundas do leilão da telefonia 4G e do Refis, serão suficientes para reverter o quadro.
Diante de tal situação, o governo parece optar por expedientes procrastinatórios e cosméticos, indicando que não tenciona adotar as medidas de ajuste necessárias para obter um superávit primário minimamente suficiente em 2014. Esse é o caso das retenções de recursos devidos pelo Tesouro aos bancos federais, para melhorar a aparência dos resultados fiscais que foram decepcionantes nos últimos meses.
Segundo noticiou o Estado, o Tesouro Nacional está segurando pagamentos devidos ao Banco do Brasil (BB), tendo o montante dos atrasados atingido cerca de R$ 8 bilhões no final de junho passado. Esse valor se junta aos recursos retidos pelo Tesouro relativos aos pagamentos de benefícios previdenciários e assistenciais realizados pela rede bancária, atrasos que atingem principalmente a Caixa Econômica Federal (CEF).
Nesse contexto, muito provavelmente a equipe econômica apenas aguarda o término do período eleitoral para admitir publicamente que a meta será mais uma vez descumprida. Com essa postura, o governo só faz agravar o ambiente de pessimismo em relação às perspectivas da economia para o próximo ano. Assim, não é surpreendente que os mercados associem a hipótese de reeleição de Dilma a um cenário de deterioração macroeconômica.
A verdade é que a situação fiscal preocupa. Os últimos quatro anos presenciaram um desastre nas contas públicas. Não se tratou só da queda do superávit primário fiscal, cuja média no governo Dilma deve ficar em torno de metade do observado no primeiro mandato de Lula. O pior foi a perda da transparência, com a multiplicação do uso de artifícios contábeis, principalmente no relacionamento do Tesouro com suas empresas controladas.
Como exemplo, pode-se citar aumento das transferências de dividendos dos bancos federais para o Tesouro, compensado pela capitalização ou subscrição de dívida subordinada de emissão dessas instituições pelo Tesouro com o intuito de manter o seu capital regulatório mínimo. Vale mencionar que, no 1.º semestre de 2014, os dividendos de estatais foram responsáveis por cerca de 60% do resultado primário do período.
A opacidade da política fiscal suscita, entre os agentes econômicos, a suspeita de que possa estar havendo a geração de "esqueletos fiscais" que mais cedo ou mais tarde aparecerão para assustar o País. Tal percepção é reforçada pela política intervencionista adotada nos setores de petróleo e energia elétrica que tem prejudicado enormemente a Petrobrás e a Eletrobrás. A propósito, essas duas empresas deixaram de compor o "setor público" para efeito de cômputo das estatísticas fiscais, no pressuposto de que não mais dependeriam de recursos do Tesouro, hipótese que, para o futuro, está ameaçada.
Embora não existam riscos imediatos de insolvência fiscal, a permanência da trajetória de deterioração dos fundamentos das finanças públicas em 2015 traria graves consequências sobre a economia brasileira. O prêmio de risco do País se elevaria e provavelmente o Brasil perderia o grau de investimento em sua dívida soberana. As expectativas continuariam se deteriorando e as chances de recuperação da atividade econômica seriam nulas.
Desse modo, o ajuste fiscal se impõe como condição necessária e primeira para a recuperação da credibilidade da política macroeconômica, passo essencial para a retomada do crescimento. O problema é como acreditar que Dilma reeleita fará, em 2015, as correções de rumo necessárias quando, em 2014, seu governo apela para artifícios como a retenção de recursos devidos ao BB e à CEF para furtar-se ao ajuste genuíno das contas públicas.
Como reconheceu o próprio Banco Central (BC), os fracos resultados fiscais apresentados no 1.º semestre - os piores para este período do ano desde 2003 - tornaram difícil o cumprimento da meta de 1,9% do PIB de superávit primário estabelecida pelo governo para 2014. Nem mesmo as receitas extraordinárias previstas para o 2.º semestre, oriundas do leilão da telefonia 4G e do Refis, serão suficientes para reverter o quadro.
Diante de tal situação, o governo parece optar por expedientes procrastinatórios e cosméticos, indicando que não tenciona adotar as medidas de ajuste necessárias para obter um superávit primário minimamente suficiente em 2014. Esse é o caso das retenções de recursos devidos pelo Tesouro aos bancos federais, para melhorar a aparência dos resultados fiscais que foram decepcionantes nos últimos meses.
Segundo noticiou o Estado, o Tesouro Nacional está segurando pagamentos devidos ao Banco do Brasil (BB), tendo o montante dos atrasados atingido cerca de R$ 8 bilhões no final de junho passado. Esse valor se junta aos recursos retidos pelo Tesouro relativos aos pagamentos de benefícios previdenciários e assistenciais realizados pela rede bancária, atrasos que atingem principalmente a Caixa Econômica Federal (CEF).
Nesse contexto, muito provavelmente a equipe econômica apenas aguarda o término do período eleitoral para admitir publicamente que a meta será mais uma vez descumprida. Com essa postura, o governo só faz agravar o ambiente de pessimismo em relação às perspectivas da economia para o próximo ano. Assim, não é surpreendente que os mercados associem a hipótese de reeleição de Dilma a um cenário de deterioração macroeconômica.
A verdade é que a situação fiscal preocupa. Os últimos quatro anos presenciaram um desastre nas contas públicas. Não se tratou só da queda do superávit primário fiscal, cuja média no governo Dilma deve ficar em torno de metade do observado no primeiro mandato de Lula. O pior foi a perda da transparência, com a multiplicação do uso de artifícios contábeis, principalmente no relacionamento do Tesouro com suas empresas controladas.
Como exemplo, pode-se citar aumento das transferências de dividendos dos bancos federais para o Tesouro, compensado pela capitalização ou subscrição de dívida subordinada de emissão dessas instituições pelo Tesouro com o intuito de manter o seu capital regulatório mínimo. Vale mencionar que, no 1.º semestre de 2014, os dividendos de estatais foram responsáveis por cerca de 60% do resultado primário do período.
A opacidade da política fiscal suscita, entre os agentes econômicos, a suspeita de que possa estar havendo a geração de "esqueletos fiscais" que mais cedo ou mais tarde aparecerão para assustar o País. Tal percepção é reforçada pela política intervencionista adotada nos setores de petróleo e energia elétrica que tem prejudicado enormemente a Petrobrás e a Eletrobrás. A propósito, essas duas empresas deixaram de compor o "setor público" para efeito de cômputo das estatísticas fiscais, no pressuposto de que não mais dependeriam de recursos do Tesouro, hipótese que, para o futuro, está ameaçada.
Embora não existam riscos imediatos de insolvência fiscal, a permanência da trajetória de deterioração dos fundamentos das finanças públicas em 2015 traria graves consequências sobre a economia brasileira. O prêmio de risco do País se elevaria e provavelmente o Brasil perderia o grau de investimento em sua dívida soberana. As expectativas continuariam se deteriorando e as chances de recuperação da atividade econômica seriam nulas.
Desse modo, o ajuste fiscal se impõe como condição necessária e primeira para a recuperação da credibilidade da política macroeconômica, passo essencial para a retomada do crescimento. O problema é como acreditar que Dilma reeleita fará, em 2015, as correções de rumo necessárias quando, em 2014, seu governo apela para artifícios como a retenção de recursos devidos ao BB e à CEF para furtar-se ao ajuste genuíno das contas públicas.
Polarizações - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 22/08
Esta, sem dúvida, será uma eleição diferente das demais. Estamos vendo se configurarem duas polarizações, uma, a tradicional, entre PT e PSDB. Outra, uma novidade, entre a autointitulada nova política e a política tradicional, que se esboçou em 2010 mas chega madura à eleição deste ano, com a mesma protagonista, Marina Silva, disputando espaço prioritariamente com o mesmo partido, o PSDB, para enfrentar o PT, de onde veio e que está no governo há 12 anos, sendo que praticamente oito deles tendo em Marina uma de suas estrelas.
É de se notar que as polarizações se colocam entre partidos, mas não no caso de Marina, uma liderança individualista que tanto faz estar no Partido Verde, como em 2010, ou no PSB agora, sempre terá de ocupar todo espaço de comando, como se já estivesse na sua própria Rede, criada à sua imagem e semelhança, até mesmo na incapacidade de organização demonstrada ao não obter o registro a tempo e hora de disputar a eleição presidencial, o que só conseguiu graças à providência divina .
É claro que houve um excesso de zelo provocado por interesses políticos dos tribunais eleitorais, notadamente o da região do ABC, área de influência de Lula, para barrar Marina logo na largada. Mas se a Rede tivesse sido menos amadora no recolhimento de assinaturas e mais profissional nos cuidados jurídicos, não teria dado pretextos para a impugnação. A saída de cena de Carlos Siqueira, coordenador da campanha de Eduardo Campos, um quadro político de peso do PSB, mostra bem que a transição de candidaturas não se processou de maneira amena, e se falta a intermediação de Campos, não haverá sintonia entre Rede e PSB.
O fato é que Marina entrou no páreo do tamanho que saiu em 2010 e, ao contrário do que muitos supunham, inclusive eu, parece ter espaço para crescer numa campanha que, diferente da anterior, busca um nome que personifique o desejo de mudança registrado pelas pesquisas. Enquanto estava no páreo Campos, o candidato do PSDB, Aécio Neves, parecia o mais capacitado. Semelhantes em tudo, o tucano tinha a vantagem da estrutura partidária e das alianças, mesmo informais, com diversos partidos da base governista.
A chegada de Marina adicionou uma carga de emoção nessa polarização que, pelo menos no primeiro momento, a favorece. É interessante notar que mesmo com a melhora da avaliação de seu governo, a presidente Dilma não cresceu nas pesquisas, o que mostra que acrescentar novas adesões aos seus eleitores é uma tarefa mais difícil do que se supunha até pouco tempo atrás. Os sucessivos escândalos parecem não dar margens a um respiro, como aconteceu agora com sua melhor amiga e presidente da Petrobras, Graça Foster, que andou transferindo imóveis para parentes antes que o TCU lançasse mão do bloqueio de bens dos diretores acusados de culpa na compra da refinaria de Pasadena.
O fato de o responsável pelo relatório falho tecnicamente , Nestor Cerveró, ter feito o mesmo e ter sido treinado na sala contígua à da presidência da Petrobras para sua performance na CPI da Petrobras, com direito a receber o gabarito correto das perguntas com antecedência, só reforça a percepção de que se trata de uma ação entre amigos, contra os contribuintes.
Marina encontra no ambiente político atual o terreno fértil para levar sua anticandidatura adiante, mas precisa mais que isso para chegar lá. O interessante é que ela parece jogar todas as fichas na ação política independente dos partidos, enquanto cada vez mais Aécio e Dilma jogam o jogo político tradicional, que já lhes deu mais tempo de propaganda eleitoral do que ao PSB, e amplia os palanques estaduais, especialmente os do PSDB, com dissidências das candidaturas de PT e PSB.
A síntese dessas duas políticas era encarnada por Campos, que começou a campanha muito próximo a Aécio e se inclinava para o radicalismo de Marina, mas com nuances que lhe permitiriam usar a máquina do governador Geraldo Alckmin, em São Paulo, por exemplo. Na política tradicional, é Aécio quem sai em vantagem nesse momento de polarizações diversas, agregando apoios em estados cruciais como os do Nordeste. Mas, a valerem os números de 2010, Marina tem por conta própria votações respeitáveis em capitais como Belo Horizonte, Rio, São Paulo, e no Distrito Federal, o que lhe dá capital político para rejeitar apoios indesejáveis. Nesses locais, também, atinge o eleitorado onde Aécio pretendia crescer, além do fato de que o perfil dos votantes dos dois é semelhante em quase tudo - idade, escolaridade, nível de renda. Menos no entendimento do que seja a política. E aí está a chave do desempate que levará um dos dois para o 2º turno.
Aviso do Fed - CELSO MING
O ESTADÃO - 22/08
Vai começar a retirar moeda da economia; Essa política está listada entre aquelas em que os Estados Unidos tossem e provocam pneumonia no resto do mundo;E o Brasil não está imunizado contra isso
O Fed (banco central dos Estados Unidos) avisou quarta-feira que está preparando a retomada da alta dos juros. Ou seja, vai começar a retirar moeda da economia. Essa política está listada entre aquelas em que os Estados Unidos tossem e provocam pneumonia no resto do mundo. E o Brasil não está imunizado contra isso.
Por enquanto, a política do Fed, presidido por Janet Yellen (foto), ainda é de injeção de dólares por meio da compra de títulos. Mas o ritmo já é de reversão. Em dezembro de 2013, ainda comprava US$ 85 bilhões por mês. De lá para cá, essa ração mensal é cortada à proporção de US$ 10 bilhões por mês. Em outubro, espera-se que esse processo conhecido como tapering (afunilamento) se estancará.
A ata da última reunião do Fed (julho) divulgada quarta-feira ainda menciona a necessidade de observar um intervalo entre o fim do tapering e a retomada da alta dos juros, se o comportamento da economia americana continuar favorável.
O quadro é hoje de recuperação, os relatórios sobre o desempenho da atividade econômica mostram que, depois de um longo período de estagnação, o crescimento anualizado do PIB no segundo trimestre alcançou 3,0%. E as estatísticas que medem o comportamento do mercado de trabalho acusam melhora.
O principal recado do Fed é o de que não vai ficar parado. Pode voltar a puxar pelos juros assim que sentir que há condições. Isso pode acontecer no segundo trimestre de 2015 ou ainda no primeiro.
É elevadíssima a oferta de moeda no mundo, coisa aí de mais de US$ 5 trilhões. Mas o aviso de que o enxugamento não tardará deve atuar como fator de escassez de moeda forte no mundo.
E o Brasil com isso? Ao longo de 2012 e de 2013, o governo brasileiro denunciava a superabundância. A presidente Dilma se queixava do “tsunami monetário” e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, da “guerra cambial”. Acusavam a política dos grandes bancos centrais – e não só a do Fed – de inundar o mercado internacional com dinheiro emitido do nada. Uma boa fatia dessa massa monetária desembarcou no Brasil, o que ajudou a provocar valorização cambial (alta do dólar em reais), fator que passou a tirar a competitividade do produto brasileiro.
Mas essa retórica parou na segunda metade de 2013. Em junho, o governo se queixava do movimento contrário: o de que a simples perspectiva de reversão da política do Fed reduziu o fluxo de moeda estrangeira para o Brasil, passou a puxar as cotações do dólar para cima e, com o encarecimento dos produtos importados, a inflação disparou por aqui.
A reação do governo foi zerar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na entrada de capitais destinados às aplicações em renda fixa. Ou seja, foi voltar a incentivar a entrada de recursos, não importando se fossem especulativos. Para mantê-los por aqui, o Banco Central tratou de estabilizar as cotações do câmbio por meio de operações de swap, equivalentes à venda de moeda estrangeira, cujo estoque hoje é de US$ 92 bilhões.
A operação de retirada de dólares pelo Fed acontece justamente quando o governo brasileiro faz o contrário do que pretendia: passou a atrair capitais. Mais ainda, acontece num momento em que crescem as incertezas sobre o comportamento da economia brasileira a partir de 2015, sob um novo governo, com ou sem Dilma Rousseff.
Desaquecimento
Julho foi mês de Copa do Mundo e de mau desempenho não só da seleção, mas de toda a atividade econômica. Mas, independentemente desse fator, já se aprofunda o desaquecimento do mercado de trabalho, como mostram os dados acima, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A outra estatística, a que aponta para a procura de emprego, continua prejudicada pela greve dos funcionários do IBGE.
Vai começar a retirar moeda da economia; Essa política está listada entre aquelas em que os Estados Unidos tossem e provocam pneumonia no resto do mundo;E o Brasil não está imunizado contra isso
O Fed (banco central dos Estados Unidos) avisou quarta-feira que está preparando a retomada da alta dos juros. Ou seja, vai começar a retirar moeda da economia. Essa política está listada entre aquelas em que os Estados Unidos tossem e provocam pneumonia no resto do mundo. E o Brasil não está imunizado contra isso.
Por enquanto, a política do Fed, presidido por Janet Yellen (foto), ainda é de injeção de dólares por meio da compra de títulos. Mas o ritmo já é de reversão. Em dezembro de 2013, ainda comprava US$ 85 bilhões por mês. De lá para cá, essa ração mensal é cortada à proporção de US$ 10 bilhões por mês. Em outubro, espera-se que esse processo conhecido como tapering (afunilamento) se estancará.
A ata da última reunião do Fed (julho) divulgada quarta-feira ainda menciona a necessidade de observar um intervalo entre o fim do tapering e a retomada da alta dos juros, se o comportamento da economia americana continuar favorável.
O quadro é hoje de recuperação, os relatórios sobre o desempenho da atividade econômica mostram que, depois de um longo período de estagnação, o crescimento anualizado do PIB no segundo trimestre alcançou 3,0%. E as estatísticas que medem o comportamento do mercado de trabalho acusam melhora.
O principal recado do Fed é o de que não vai ficar parado. Pode voltar a puxar pelos juros assim que sentir que há condições. Isso pode acontecer no segundo trimestre de 2015 ou ainda no primeiro.
É elevadíssima a oferta de moeda no mundo, coisa aí de mais de US$ 5 trilhões. Mas o aviso de que o enxugamento não tardará deve atuar como fator de escassez de moeda forte no mundo.
E o Brasil com isso? Ao longo de 2012 e de 2013, o governo brasileiro denunciava a superabundância. A presidente Dilma se queixava do “tsunami monetário” e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, da “guerra cambial”. Acusavam a política dos grandes bancos centrais – e não só a do Fed – de inundar o mercado internacional com dinheiro emitido do nada. Uma boa fatia dessa massa monetária desembarcou no Brasil, o que ajudou a provocar valorização cambial (alta do dólar em reais), fator que passou a tirar a competitividade do produto brasileiro.
Mas essa retórica parou na segunda metade de 2013. Em junho, o governo se queixava do movimento contrário: o de que a simples perspectiva de reversão da política do Fed reduziu o fluxo de moeda estrangeira para o Brasil, passou a puxar as cotações do dólar para cima e, com o encarecimento dos produtos importados, a inflação disparou por aqui.
A reação do governo foi zerar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na entrada de capitais destinados às aplicações em renda fixa. Ou seja, foi voltar a incentivar a entrada de recursos, não importando se fossem especulativos. Para mantê-los por aqui, o Banco Central tratou de estabilizar as cotações do câmbio por meio de operações de swap, equivalentes à venda de moeda estrangeira, cujo estoque hoje é de US$ 92 bilhões.
A operação de retirada de dólares pelo Fed acontece justamente quando o governo brasileiro faz o contrário do que pretendia: passou a atrair capitais. Mais ainda, acontece num momento em que crescem as incertezas sobre o comportamento da economia brasileira a partir de 2015, sob um novo governo, com ou sem Dilma Rousseff.
Desaquecimento
Julho foi mês de Copa do Mundo e de mau desempenho não só da seleção, mas de toda a atividade econômica. Mas, independentemente desse fator, já se aprofunda o desaquecimento do mercado de trabalho, como mostram os dados acima, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A outra estatística, a que aponta para a procura de emprego, continua prejudicada pela greve dos funcionários do IBGE.
Sonháticos e pesadeláticos - NELSON MOTTA
O GLOBO - 22/08
Só falta o sotaque pernambucano para ser o militante exaltado de Marcelo Adnet no ‘Tá no ar’, mas é o manifesto do Partido Socialista Brasileiro
Estatização progressiva do sistema bancário, do crédito, do comércio exterior, da agricultura, da educação, da saúde, das fontes e empresas de energia, de transportes e de indústrias extrativistas, eliminação de todos os impostos indiretos e aumento dos diretos sobre renda, capital e herança até que estejam satisfeitas as necessidades da sociedade.
Só falta o sotaque pernambucano para ser o militante exaltado de Marcelo Adnet no “Tá no ar”, mas é o manifesto do Partido Socialista Brasileiro, seu programa politico, seu projeto de país. No paraíso socialista tropical, governo, partidos e sindicatos, sempre em nome do povo, escolherão a dedo todos os burocratas que ocuparão todos os empregos, diretorias e presidências das empresas que farão do Brasil um país “justo e solidário”, seja lá o que isso for.
Nenhuma palavra sobre mérito, produtividade, eficiência, hierarquia e outras canalhices da direita.
Parece piada pronta, mas o lema do partido é o paradoxal “socialismo e liberdade”: você pode estudar e trabalhar onde quiser, desde que indicado pelo partido ou pelo sindicato, fazer o que quiser, desde que obedeça ao Estado, que sabe o que é melhor para você e para a sociedade.
Além de cômico, é tão constrangedor que, há dois meses, Eduardo Campos, que na sua proposta de governo valorizava o mérito, a produtividade e a liberdade individual e econômica, cobrou a urgente atualização do programa do PSB. Imaginem os do PCB, do PCdoB, do PT …rsrs… e ainda chamam Marina Silva de sonhática.
Se nem as lideranças e os militantes profissionais levam a sério, então para que servem esses programas e manifestos, a não ser para rir e pensar que eles acham que todo mundo é burro e que vivemos em Marte? Depois fingem que não sabem por que os jovens, e com mais razões os mais vividos, têm tanto desprezo pelos partidos.
Mas o que fazer, diria Lênin, além de não assistir ao circo de horrores do horário eleitoral, não ler os comentários nos blogs políticos e não ver o “Jornal Nacional”?
OK, não vamos desistir do Brasil, mesmo porque não há outra alternativa além do tiro no pé, nos quatro.
Só falta o sotaque pernambucano para ser o militante exaltado de Marcelo Adnet no ‘Tá no ar’, mas é o manifesto do Partido Socialista Brasileiro
Estatização progressiva do sistema bancário, do crédito, do comércio exterior, da agricultura, da educação, da saúde, das fontes e empresas de energia, de transportes e de indústrias extrativistas, eliminação de todos os impostos indiretos e aumento dos diretos sobre renda, capital e herança até que estejam satisfeitas as necessidades da sociedade.
Só falta o sotaque pernambucano para ser o militante exaltado de Marcelo Adnet no “Tá no ar”, mas é o manifesto do Partido Socialista Brasileiro, seu programa politico, seu projeto de país. No paraíso socialista tropical, governo, partidos e sindicatos, sempre em nome do povo, escolherão a dedo todos os burocratas que ocuparão todos os empregos, diretorias e presidências das empresas que farão do Brasil um país “justo e solidário”, seja lá o que isso for.
Nenhuma palavra sobre mérito, produtividade, eficiência, hierarquia e outras canalhices da direita.
Parece piada pronta, mas o lema do partido é o paradoxal “socialismo e liberdade”: você pode estudar e trabalhar onde quiser, desde que indicado pelo partido ou pelo sindicato, fazer o que quiser, desde que obedeça ao Estado, que sabe o que é melhor para você e para a sociedade.
Além de cômico, é tão constrangedor que, há dois meses, Eduardo Campos, que na sua proposta de governo valorizava o mérito, a produtividade e a liberdade individual e econômica, cobrou a urgente atualização do programa do PSB. Imaginem os do PCB, do PCdoB, do PT …rsrs… e ainda chamam Marina Silva de sonhática.
Se nem as lideranças e os militantes profissionais levam a sério, então para que servem esses programas e manifestos, a não ser para rir e pensar que eles acham que todo mundo é burro e que vivemos em Marte? Depois fingem que não sabem por que os jovens, e com mais razões os mais vividos, têm tanto desprezo pelos partidos.
Mas o que fazer, diria Lênin, além de não assistir ao circo de horrores do horário eleitoral, não ler os comentários nos blogs políticos e não ver o “Jornal Nacional”?
OK, não vamos desistir do Brasil, mesmo porque não há outra alternativa além do tiro no pé, nos quatro.
O problema é depois - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 22/08
BRASÍLIA - Surpresa não foi, mas a crise da candidatura de Marina Silva começou bem antes e foi bem mais ostensiva do que se pensava.
Secretário-geral do PSB e ex-coordenador da campanha de Eduardo Campos, Carlos Siqueira saiu chutando a porta e desdenhando Marina como "hospedeira". Errou o termo, mas todo mundo entendeu.
A reação de Marina foi com a magnanimidade dos puros de alma e a esperteza dos bons de voto, que miram o eleitor, não o entorno: "Foi só um mal-entendido", disse, humilde.
A coisa não está boa, como estava na cara que não iria ficar. Se o PT e o PSDB estão estrebuchando depois da morte de Eduardo Campos, imagine-se como não estão o PSB e a Rede, amarrados dentro da mesma caixa, agora de cabeça para baixo.
Mas, vá lá, campanhas são assim mesmo: todo mundo briga por tudo. É "brigalhada" para estabelecer hierarquias, dividir o dinheiro, acertar as alianças, ajustar o discurso...
Quando Marina se tornar "viral" (termo introduzido na internet para temas que disparam), grandes divergências tendem a virar só probleminhas. Quero ver quantos vão sair dando canelada diante da chance real de subir a rampa do Planalto.
Marina é uma sensação e tem ligação direta com o eleitorado, independentemente do número de partidos que a apoiam ou do tempo de propaganda que tenha na TV. Não é como Aécio, tentando convencer que é estadista. Nem como Dilma, que precisa de Lula para pedir desculpas por um governo que é ruim, mas vai ficar "melhor".
O problema que a campanha de Marina projeta, de falta de partidos, de sintonia, de setores consistentes, é depois, se ela bater Aécio e Dilma e virar presidente do Brasil. O primeiro momento vai ser de festa. O segundo, de perplexidade. O terceiro, de confusão e incertezas. Ganhar eleições tem lá seus truques. Governar é muito mais complicado.
PS - Nova disputa entre PT e PSDB: quem vai bater primeiro em Marina?
BRASÍLIA - Surpresa não foi, mas a crise da candidatura de Marina Silva começou bem antes e foi bem mais ostensiva do que se pensava.
Secretário-geral do PSB e ex-coordenador da campanha de Eduardo Campos, Carlos Siqueira saiu chutando a porta e desdenhando Marina como "hospedeira". Errou o termo, mas todo mundo entendeu.
A reação de Marina foi com a magnanimidade dos puros de alma e a esperteza dos bons de voto, que miram o eleitor, não o entorno: "Foi só um mal-entendido", disse, humilde.
A coisa não está boa, como estava na cara que não iria ficar. Se o PT e o PSDB estão estrebuchando depois da morte de Eduardo Campos, imagine-se como não estão o PSB e a Rede, amarrados dentro da mesma caixa, agora de cabeça para baixo.
Mas, vá lá, campanhas são assim mesmo: todo mundo briga por tudo. É "brigalhada" para estabelecer hierarquias, dividir o dinheiro, acertar as alianças, ajustar o discurso...
Quando Marina se tornar "viral" (termo introduzido na internet para temas que disparam), grandes divergências tendem a virar só probleminhas. Quero ver quantos vão sair dando canelada diante da chance real de subir a rampa do Planalto.
Marina é uma sensação e tem ligação direta com o eleitorado, independentemente do número de partidos que a apoiam ou do tempo de propaganda que tenha na TV. Não é como Aécio, tentando convencer que é estadista. Nem como Dilma, que precisa de Lula para pedir desculpas por um governo que é ruim, mas vai ficar "melhor".
O problema que a campanha de Marina projeta, de falta de partidos, de sintonia, de setores consistentes, é depois, se ela bater Aécio e Dilma e virar presidente do Brasil. O primeiro momento vai ser de festa. O segundo, de perplexidade. O terceiro, de confusão e incertezas. Ganhar eleições tem lá seus truques. Governar é muito mais complicado.
PS - Nova disputa entre PT e PSDB: quem vai bater primeiro em Marina?
As doações de Graça - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 22/08
Em 20 de março passado, um dia depois de o Estado divulgar a nota de próprio punho que lhe encaminhou a presidente Dilma Rousseff, sobre o seu papel na compra da primeira metade da Refinaria de Pasadena em 2006, a atual presidente da Petrobrás, Graça Foster, à época diretora de Gás e Energia, doou aos filhos Flávia e Colin, com cláusula de usufruto, uma casa na Ilha do Governador e um apartamento no centro do Rio de Janeiro. Dilma alegou que, na chefia do Conselho de Administração da empresa, aprovara o fechamento do negócio com base, apenas, em um resumo executivo "técnica e juridicamente falho".
Três semanas depois, em 9 de abril, Graça pôs no nome do filho um terceiro imóvel, em Búzios. Em 10 de junho, por sua vez, o ex-diretor da estatal Nestor Cerveró - o autor do parecer verberado por Dilma - cedeu aos herdeiros três propriedades no bairro de Ipanema. Ele tinha sido demitido de uma diretoria da BR Distribuidora dois dias depois da divulgação da nota da presidente da República. A revelação das transferências no site do jornal O Globo, na tarde de terça-feira, produziu um efeito imediato: travou mais uma vez a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), que então estava para ser tomada sobre a eventual inclusão de ambos entre os 11 executivos e ex-diretores da Petrobrás cujos bens foram bloqueados em julho último por iniciativa do relator da matéria, ministro José Jorge.
A intenção foi assegurar à empresa a recuperação de pelo menos parte do rombo de US$ 792 milhões que sofreu em Pasadena, caso se comprove a responsabilidade dos envolvidos. Graça é citada por ter prejudicado a Petrobrás, ao retardar o cumprimento da decisão arbitral nos Estados Unidos favorável ao grupo belga a que se associara. O adiamento custou à petroleira US$ 92,3 milhões. Estranho participante das sessões do TCU - como se entre as suas atribuições estivesse a de defender funcionários de uma companhia controlada pelo governo -, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, parecia seguro de que a maioria do colegiado rejeitaria o pedido do relator no caso de Graça. Tanto que insistiu no prosseguimento dos trabalhos mesmo depois do impacto provocado pela notícia das doações, que levou o relator a suspender a votação de seu parecer até a averiguação dos fatos.
Segundo Jorge, confirmadas as transferências, terá ocorrido uma "burla gravíssima do processo de apuração de irregularidade". A rigor, o que há a averiguar, em relação a Graça, não são as doações - que ela reconhece -, mas quando e por que tomou a decisão de fazê-las. Ou imediatamente em seguida à confissão de Dilma, em março último, ou ainda em junho do ano passado, conforme nota da Petrobrás. Na primeira hipótese, pode-se supor que ela tenha pressentido que a manifestação da presidente aceleraria as investigações do TCU, iniciadas em março de 2013, com riscos até então não vislumbrados para si e, quem sabe, para o seu patrimônio.
Na segunda hipótese, a motivação de Graça poderia ser atribuída à abertura do processo no TCU - cerca de três meses antes que ela começasse a providenciar, de acordo com a empresa, "a documentação necessária", por sinal descrita na nota, para formalizar em cartório as doações. O texto nega "veementemente" que Graça "tenha feito qualquer movimentação patrimonial com intuito de burlar a decisão do TCU" do bloqueio de bens e assinala que "doações de bens são atos legítimos, previstos em lei e objetivam evitar futuros conflitos entre herdeiros". De todo modo, o fato é que a sua revelação devolve o escândalo de Pasadena ao centro das atenções - desta vez com a campanha eleitoral em andamento.
Ecoando o ministro José Jorge, o senador petebista Gim Argello, que preside a CPI mista da Petrobrás, considerou o caso "gravíssimo". A oposição quer verificar se as doações foram aquelas mesmas e se configuram fraude. Já para o advogado-geral Adams, não houve "fuga patrimonial" porque Graça não pôs os seus bens em nome de laranjas, para impedir que venham a ser recuperados. Mas não deixou de admitir que, se ficasse provado que a presidente da Petrobrás tentou se desfazer de bens por motivos escusos, as doações poderiam ser revertidas.
Em 20 de março passado, um dia depois de o Estado divulgar a nota de próprio punho que lhe encaminhou a presidente Dilma Rousseff, sobre o seu papel na compra da primeira metade da Refinaria de Pasadena em 2006, a atual presidente da Petrobrás, Graça Foster, à época diretora de Gás e Energia, doou aos filhos Flávia e Colin, com cláusula de usufruto, uma casa na Ilha do Governador e um apartamento no centro do Rio de Janeiro. Dilma alegou que, na chefia do Conselho de Administração da empresa, aprovara o fechamento do negócio com base, apenas, em um resumo executivo "técnica e juridicamente falho".
Três semanas depois, em 9 de abril, Graça pôs no nome do filho um terceiro imóvel, em Búzios. Em 10 de junho, por sua vez, o ex-diretor da estatal Nestor Cerveró - o autor do parecer verberado por Dilma - cedeu aos herdeiros três propriedades no bairro de Ipanema. Ele tinha sido demitido de uma diretoria da BR Distribuidora dois dias depois da divulgação da nota da presidente da República. A revelação das transferências no site do jornal O Globo, na tarde de terça-feira, produziu um efeito imediato: travou mais uma vez a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), que então estava para ser tomada sobre a eventual inclusão de ambos entre os 11 executivos e ex-diretores da Petrobrás cujos bens foram bloqueados em julho último por iniciativa do relator da matéria, ministro José Jorge.
A intenção foi assegurar à empresa a recuperação de pelo menos parte do rombo de US$ 792 milhões que sofreu em Pasadena, caso se comprove a responsabilidade dos envolvidos. Graça é citada por ter prejudicado a Petrobrás, ao retardar o cumprimento da decisão arbitral nos Estados Unidos favorável ao grupo belga a que se associara. O adiamento custou à petroleira US$ 92,3 milhões. Estranho participante das sessões do TCU - como se entre as suas atribuições estivesse a de defender funcionários de uma companhia controlada pelo governo -, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, parecia seguro de que a maioria do colegiado rejeitaria o pedido do relator no caso de Graça. Tanto que insistiu no prosseguimento dos trabalhos mesmo depois do impacto provocado pela notícia das doações, que levou o relator a suspender a votação de seu parecer até a averiguação dos fatos.
Segundo Jorge, confirmadas as transferências, terá ocorrido uma "burla gravíssima do processo de apuração de irregularidade". A rigor, o que há a averiguar, em relação a Graça, não são as doações - que ela reconhece -, mas quando e por que tomou a decisão de fazê-las. Ou imediatamente em seguida à confissão de Dilma, em março último, ou ainda em junho do ano passado, conforme nota da Petrobrás. Na primeira hipótese, pode-se supor que ela tenha pressentido que a manifestação da presidente aceleraria as investigações do TCU, iniciadas em março de 2013, com riscos até então não vislumbrados para si e, quem sabe, para o seu patrimônio.
Na segunda hipótese, a motivação de Graça poderia ser atribuída à abertura do processo no TCU - cerca de três meses antes que ela começasse a providenciar, de acordo com a empresa, "a documentação necessária", por sinal descrita na nota, para formalizar em cartório as doações. O texto nega "veementemente" que Graça "tenha feito qualquer movimentação patrimonial com intuito de burlar a decisão do TCU" do bloqueio de bens e assinala que "doações de bens são atos legítimos, previstos em lei e objetivam evitar futuros conflitos entre herdeiros". De todo modo, o fato é que a sua revelação devolve o escândalo de Pasadena ao centro das atenções - desta vez com a campanha eleitoral em andamento.
Ecoando o ministro José Jorge, o senador petebista Gim Argello, que preside a CPI mista da Petrobrás, considerou o caso "gravíssimo". A oposição quer verificar se as doações foram aquelas mesmas e se configuram fraude. Já para o advogado-geral Adams, não houve "fuga patrimonial" porque Graça não pôs os seus bens em nome de laranjas, para impedir que venham a ser recuperados. Mas não deixou de admitir que, se ficasse provado que a presidente da Petrobrás tentou se desfazer de bens por motivos escusos, as doações poderiam ser revertidas.
Problema maquiado - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 22/08
Contabilidade criativa praticada pelo governo Dilma procura esconder real estado das contas públicas e já afeta até INSS e programas sociais
Quando um governo se dispõe, desconsiderando o pagamento de juros, a gastar menos do que arrecada (ou seja, fazer superavit primário), entende-se que sua intenção é demonstrar solidez e responsabilidade administrativa. Ninguém gosta de emprestar dinheiro a quem parece preso a uma espiral de dívidas cada vez maiores.
No governo Dilma Rousseff (PT), todavia, predomina outra lógica. Sem economizar o que deveria, sua equipe recorre a truques contábeis com o intuito de esconder a deterioração das contas públicas --pratica, em outras palavras, a chamada contabilidade criativa. As manobras já afetam até os repasses ao INSS e para programas sociais.
Com efeito, o Tesouro tem retido recursos que deveriam ser encaminhados a bancos federais e que se destinam a aposentadorias, seguro-desemprego, abono salarial, financiamento rural e Bolsa Família.
Começam a aparecer, como decorrência, atritos entre governo e bancos públicos, no colo dos quais cai a fatura, ainda que temporariamente. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, recorreu à Advocacia-Geral da União para que os repasses fossem regularizados.
O governo também procura obter mais dividendos das estatais a fim de fechar o caixa. Nada de errado, a princípio, em contar com tais recursos, mas há evidências de que não se veriam as cifras em questão no curso normal dos negócios --a saúde financeira dessas empresas, portanto, pode terminar ameaçada.
Em meio a tantas camadas de maquiagem, perde-se a transparência das contas. Sabe-se, porém, que a meta de economia de R$ 99 bilhões neste ano (1,9% do PIB) dificilmente será atingida. No primeiro semestre, acumulou-se um saldo de R$ 29,4 bilhões.
Pior, descontadas as manobras, alguns analistas estimam que o governo se aproxima de um deficit primário, algo que não ocorria desde o fim dos anos 1990.
A piora das contas tem consequências práticas muito claras. Entre elas estão juros altos, maior pressão inflacionária e rebaixamento adicional da nota de crédito do país, o que poderia levar à fuga de recursos para o exterior.
Instaura-se, assim, um ciclo vicioso: o setor privado deixa de confiar no país, os investimentos se retraem, a arrecadação encolhe, o governo não atinge o superavit primário anunciado.
Não é por acaso que a expectativa de crescimento da economia só diminui e o Brasil está à beira de uma recessão. Dados do Banco Central mostraram estagnação no primeiro semestre, e o governo reage com a receita de sempre: um pacote para estimular o crédito.
A continuidade dessas tendências não é inevitável. Revertê-las, todavia, requer demonstração de austeridade e abandono das manipulações com objetivos eleitorais.
Contabilidade criativa praticada pelo governo Dilma procura esconder real estado das contas públicas e já afeta até INSS e programas sociais
Quando um governo se dispõe, desconsiderando o pagamento de juros, a gastar menos do que arrecada (ou seja, fazer superavit primário), entende-se que sua intenção é demonstrar solidez e responsabilidade administrativa. Ninguém gosta de emprestar dinheiro a quem parece preso a uma espiral de dívidas cada vez maiores.
No governo Dilma Rousseff (PT), todavia, predomina outra lógica. Sem economizar o que deveria, sua equipe recorre a truques contábeis com o intuito de esconder a deterioração das contas públicas --pratica, em outras palavras, a chamada contabilidade criativa. As manobras já afetam até os repasses ao INSS e para programas sociais.
Com efeito, o Tesouro tem retido recursos que deveriam ser encaminhados a bancos federais e que se destinam a aposentadorias, seguro-desemprego, abono salarial, financiamento rural e Bolsa Família.
Começam a aparecer, como decorrência, atritos entre governo e bancos públicos, no colo dos quais cai a fatura, ainda que temporariamente. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, recorreu à Advocacia-Geral da União para que os repasses fossem regularizados.
O governo também procura obter mais dividendos das estatais a fim de fechar o caixa. Nada de errado, a princípio, em contar com tais recursos, mas há evidências de que não se veriam as cifras em questão no curso normal dos negócios --a saúde financeira dessas empresas, portanto, pode terminar ameaçada.
Em meio a tantas camadas de maquiagem, perde-se a transparência das contas. Sabe-se, porém, que a meta de economia de R$ 99 bilhões neste ano (1,9% do PIB) dificilmente será atingida. No primeiro semestre, acumulou-se um saldo de R$ 29,4 bilhões.
Pior, descontadas as manobras, alguns analistas estimam que o governo se aproxima de um deficit primário, algo que não ocorria desde o fim dos anos 1990.
A piora das contas tem consequências práticas muito claras. Entre elas estão juros altos, maior pressão inflacionária e rebaixamento adicional da nota de crédito do país, o que poderia levar à fuga de recursos para o exterior.
Instaura-se, assim, um ciclo vicioso: o setor privado deixa de confiar no país, os investimentos se retraem, a arrecadação encolhe, o governo não atinge o superavit primário anunciado.
Não é por acaso que a expectativa de crescimento da economia só diminui e o Brasil está à beira de uma recessão. Dados do Banco Central mostraram estagnação no primeiro semestre, e o governo reage com a receita de sempre: um pacote para estimular o crédito.
A continuidade dessas tendências não é inevitável. Revertê-las, todavia, requer demonstração de austeridade e abandono das manipulações com objetivos eleitorais.
Ideologia cara e ineficiente - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 22/08
Era absolutamente necessária uma melhora nos aeroportos brasileiros. O significativo aumento do número de passageiros observado nos últimos anos, além do fato de o Brasil ser sede de grandes eventos - em especial a Copa do Mundo e a Olimpíada -, só reforçou a evidência de que o País precisava de outro padrão aeroportuário. Diante desse fato, o governo federal não teve outra saída senão recorrer ao setor privado, com a concessão dos maiores (e mais lucrativos) aeroportos brasileiros. Mas o viés ideológico do PT teve a sua quota de participação na elaboração do modelo, ao impor que a Infraero tivesse uma participação de 49% nas Sociedades de Propósito Específico criadas para administrar os aeroportos após os leilões de outorga. O governo se rendia à realidade ao procurar o setor privado, mas ao mesmo tempo deixava a sua marca ideológica, como se a participação estatal no negócio fosse sinônimo de respeito ao interesse público. O resultado é um modelo enviesado, cuja conta quem paga é em último termo o cidadão brasileiro, viaje ele ou não de avião.
A Infraero tem pela frente um cenário nebuloso: perdeu boa parte das suas receitas em razão das concessões, tem dificuldades em diminuir as suas despesas e - por causa da participação obrigatória nas concessões - se vê impelida a bancar boa parte dos investimentos nos aeroportos. É uma conta cara, cujo mais recente capítulo é a tentativa da Infraero de diminuir as suas despesas por meio de um Plano de Demissão Voluntária (PDV), ao qual espera a adesão de 2,5 mil funcionários. Tão cara é a conta que o ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, Wellington Moreira Franco, reconheceu recentemente ao Estado que "vamos dar uma parada na concessão de aeroportos para a Infraero se ajustar à nova realidade". Uma realidade desenhada e implantada pelo governo, que intencionalmente fechou os olhos para os fatos: a conta desse modelo não fechava e, portanto, era um contrassenso impor a participação da Infraero em todas as concessões. Já que ela não tem condições de arcar com os aportes, o Tesouro a socorre. Essa situação levou o ministro a reconhecer, em 2013, que o modelo escolhido pelo governo brasileiro "é um sacrifício para o País".
Desde 2012, a Infraero não administra os aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília. A transferência de operação acarretou uma diminuição de 37% da sua receita operacional. Mais dois aeroportos - Confins (MG) e Galeão (RJ) - saíram da administração da estatal. O leilão ocorreu em novembro de 2013, mas foi feito um acordo com os concessionários para que a administração só fosse transferida após a Copa, para evitar maiores transtornos. Agora, haverá um período de 90 dias de transição entre a administração da Infraero e a dos concessionários. A estimativa é de que a mudança na administração dos cinco aeroportos acarrete uma perda de 65% das receitas da estatal, em comparação a 2012.
"Mas nós não perdemos as despesas correspondentes", reconhece o presidente da Infraero, Gustavo do Vale. Uma medida para aliviar a situação seria reduzir o número de funcionários, e, conforme noticiou o Estado (9/8), a empresa negocia com o Ministério do Planejamento um montante de R$ 750 milhões para iniciar um PDV. Atualmente, a estatal tem pouco mais de 12 mil funcionários e, caso o número seja mantido, estima-se um prejuízo de R$ 450 milhões em 2015. Em 2013, a Infraero já tinha registrado prejuízo de R$ 1,2 bilhão. Em novembro daquele ano, por causa dos prejuízos, a estatal anunciara um corte de R$ 391 milhões nas despesas de manutenção preventiva dos aeroportos, o que gerou protesto de superintendentes da própria estatal, pois se colocava em risco a segurança dos usuários.
Quando a cabeça não pensa, o corpo padece, reza o ditado. Quando se pensa de forma equivocada, todo o sistema se ressente. E é o que se observa em mais uma estatal sob o governo do PT. O viés ideológico não é uma proteção do interesse público. É antes uma conta cara, paga pelo cidadão brasileiro, que se vê financiando algo diferente do que precisa o País.
Era absolutamente necessária uma melhora nos aeroportos brasileiros. O significativo aumento do número de passageiros observado nos últimos anos, além do fato de o Brasil ser sede de grandes eventos - em especial a Copa do Mundo e a Olimpíada -, só reforçou a evidência de que o País precisava de outro padrão aeroportuário. Diante desse fato, o governo federal não teve outra saída senão recorrer ao setor privado, com a concessão dos maiores (e mais lucrativos) aeroportos brasileiros. Mas o viés ideológico do PT teve a sua quota de participação na elaboração do modelo, ao impor que a Infraero tivesse uma participação de 49% nas Sociedades de Propósito Específico criadas para administrar os aeroportos após os leilões de outorga. O governo se rendia à realidade ao procurar o setor privado, mas ao mesmo tempo deixava a sua marca ideológica, como se a participação estatal no negócio fosse sinônimo de respeito ao interesse público. O resultado é um modelo enviesado, cuja conta quem paga é em último termo o cidadão brasileiro, viaje ele ou não de avião.
A Infraero tem pela frente um cenário nebuloso: perdeu boa parte das suas receitas em razão das concessões, tem dificuldades em diminuir as suas despesas e - por causa da participação obrigatória nas concessões - se vê impelida a bancar boa parte dos investimentos nos aeroportos. É uma conta cara, cujo mais recente capítulo é a tentativa da Infraero de diminuir as suas despesas por meio de um Plano de Demissão Voluntária (PDV), ao qual espera a adesão de 2,5 mil funcionários. Tão cara é a conta que o ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, Wellington Moreira Franco, reconheceu recentemente ao Estado que "vamos dar uma parada na concessão de aeroportos para a Infraero se ajustar à nova realidade". Uma realidade desenhada e implantada pelo governo, que intencionalmente fechou os olhos para os fatos: a conta desse modelo não fechava e, portanto, era um contrassenso impor a participação da Infraero em todas as concessões. Já que ela não tem condições de arcar com os aportes, o Tesouro a socorre. Essa situação levou o ministro a reconhecer, em 2013, que o modelo escolhido pelo governo brasileiro "é um sacrifício para o País".
Desde 2012, a Infraero não administra os aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília. A transferência de operação acarretou uma diminuição de 37% da sua receita operacional. Mais dois aeroportos - Confins (MG) e Galeão (RJ) - saíram da administração da estatal. O leilão ocorreu em novembro de 2013, mas foi feito um acordo com os concessionários para que a administração só fosse transferida após a Copa, para evitar maiores transtornos. Agora, haverá um período de 90 dias de transição entre a administração da Infraero e a dos concessionários. A estimativa é de que a mudança na administração dos cinco aeroportos acarrete uma perda de 65% das receitas da estatal, em comparação a 2012.
"Mas nós não perdemos as despesas correspondentes", reconhece o presidente da Infraero, Gustavo do Vale. Uma medida para aliviar a situação seria reduzir o número de funcionários, e, conforme noticiou o Estado (9/8), a empresa negocia com o Ministério do Planejamento um montante de R$ 750 milhões para iniciar um PDV. Atualmente, a estatal tem pouco mais de 12 mil funcionários e, caso o número seja mantido, estima-se um prejuízo de R$ 450 milhões em 2015. Em 2013, a Infraero já tinha registrado prejuízo de R$ 1,2 bilhão. Em novembro daquele ano, por causa dos prejuízos, a estatal anunciara um corte de R$ 391 milhões nas despesas de manutenção preventiva dos aeroportos, o que gerou protesto de superintendentes da própria estatal, pois se colocava em risco a segurança dos usuários.
Quando a cabeça não pensa, o corpo padece, reza o ditado. Quando se pensa de forma equivocada, todo o sistema se ressente. E é o que se observa em mais uma estatal sob o governo do PT. O viés ideológico não é uma proteção do interesse público. É antes uma conta cara, paga pelo cidadão brasileiro, que se vê financiando algo diferente do que precisa o País.
Política de estímulo ao consumo anda em círculos - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 22/08
Com famílias endividadas e numa economia em marcha lenta, já com sinais de elevação do desemprego, é arriscado apostar no êxito das medidas
O impulso recebido pela economia a partir de fins de 2008, como proteção diante do impacto recessivo do estouro da bolha imobiliária americana, teve êxito. Muito longe de ter sido uma “marolinha”, como dissera o então presidente Lula, o travamento do crédito em escala planetária, no final de 2008, jogou, por exemplo, a produção industrial brasileira no chão. As transferências de recursos ao BNDES e outros bancos estatais, somadas aos gastos públicos como um todo, amorteceram o choque. Cumpriram, portanto, seu papel “anticíclico”. Um dos resultados foi o crescimento do PIB de 2010 em fulgurantes 7,5%, ajuda providencial à campanha em que Lula elegeu Dilma como sucessora.
A partir daquele momento, veio a conhecida sucessão de erros do governo Dilma, um dos maiores deles a insistência em privilegiar o consumo como alavanca da produção, a desconsideração inicial do setor privado para acelerar investimentos imprescindíveis na infraestrutura e o descaso com a inflação.
Quatro anos depois, analistas indicam a possibilidade de o país estar no momento em leve recessão. E se o recuo na produção for revertido até dezembro, mesmo assim o PIB de 2014 não deve ultrapassar 1% de expansão. O diagnóstico unânime fora do governo é que de fato se esgotou qualquer possibilidade de a economia ser reanimada por meio do consumo das famílias. Endividadas, não há mais espaço no seu orçamento para novos créditos. Também a inflação, resistente na proximidade dos 6,5% — limite superior da meta, por leniência do Planalto —, corrói o poder aquisitivo da população, além de reduzir a confiança das pessoas em assumir novos compromissos financeiros. Enquanto isso, o Planalto não consegue ativar os investimentos, os únicos capazes de reanimar a economia de forma duradoura.
Mas o Ministério da Fazenda insiste. Depois de ter procurado turbinar o financiamento de veículos no final de julho, com a liberação de recursos do compulsório dos bancos, o governo voltou, quarta-feira, a fazer o mesmo. Agora, também com medidas bem-vindas de desburocratização nos financiamentos, incluindo o de imóveis. Os dois pacotes, o de agora e o de julho, estima-se, injetam no sistema de crédito cerca de R$ 75 bilhões. A cifra em si é elevada, mas pouco representativa dentro do bolo geral de crédito no país, próximo dos R$ 3 trilhões. Se a política econômica já tem baixa confiabilidade, a imagem dela piora com a constatação de que os estímulos ao consumo vão em direção oposta ao da política monetária: o BC, com os juros, restringe o consumo; e a Fazenda o estimula.
Diante de famílias no limite do endividamento e numa economia em marcha lenta, com sinais de elevação do desemprego, principalmente na indústria, é arriscado apostar no êxito dos pacotes. Quanto mais não fosse, as eleições e suas incertezas também ajudam a adiar decisões de consumo e investimentos.
Com famílias endividadas e numa economia em marcha lenta, já com sinais de elevação do desemprego, é arriscado apostar no êxito das medidas
O impulso recebido pela economia a partir de fins de 2008, como proteção diante do impacto recessivo do estouro da bolha imobiliária americana, teve êxito. Muito longe de ter sido uma “marolinha”, como dissera o então presidente Lula, o travamento do crédito em escala planetária, no final de 2008, jogou, por exemplo, a produção industrial brasileira no chão. As transferências de recursos ao BNDES e outros bancos estatais, somadas aos gastos públicos como um todo, amorteceram o choque. Cumpriram, portanto, seu papel “anticíclico”. Um dos resultados foi o crescimento do PIB de 2010 em fulgurantes 7,5%, ajuda providencial à campanha em que Lula elegeu Dilma como sucessora.
A partir daquele momento, veio a conhecida sucessão de erros do governo Dilma, um dos maiores deles a insistência em privilegiar o consumo como alavanca da produção, a desconsideração inicial do setor privado para acelerar investimentos imprescindíveis na infraestrutura e o descaso com a inflação.
Quatro anos depois, analistas indicam a possibilidade de o país estar no momento em leve recessão. E se o recuo na produção for revertido até dezembro, mesmo assim o PIB de 2014 não deve ultrapassar 1% de expansão. O diagnóstico unânime fora do governo é que de fato se esgotou qualquer possibilidade de a economia ser reanimada por meio do consumo das famílias. Endividadas, não há mais espaço no seu orçamento para novos créditos. Também a inflação, resistente na proximidade dos 6,5% — limite superior da meta, por leniência do Planalto —, corrói o poder aquisitivo da população, além de reduzir a confiança das pessoas em assumir novos compromissos financeiros. Enquanto isso, o Planalto não consegue ativar os investimentos, os únicos capazes de reanimar a economia de forma duradoura.
Mas o Ministério da Fazenda insiste. Depois de ter procurado turbinar o financiamento de veículos no final de julho, com a liberação de recursos do compulsório dos bancos, o governo voltou, quarta-feira, a fazer o mesmo. Agora, também com medidas bem-vindas de desburocratização nos financiamentos, incluindo o de imóveis. Os dois pacotes, o de agora e o de julho, estima-se, injetam no sistema de crédito cerca de R$ 75 bilhões. A cifra em si é elevada, mas pouco representativa dentro do bolo geral de crédito no país, próximo dos R$ 3 trilhões. Se a política econômica já tem baixa confiabilidade, a imagem dela piora com a constatação de que os estímulos ao consumo vão em direção oposta ao da política monetária: o BC, com os juros, restringe o consumo; e a Fazenda o estimula.
Diante de famílias no limite do endividamento e numa economia em marcha lenta, com sinais de elevação do desemprego, principalmente na indústria, é arriscado apostar no êxito dos pacotes. Quanto mais não fosse, as eleições e suas incertezas também ajudam a adiar decisões de consumo e investimentos.
Mais do mesmo - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 22/08
Para fazer a economia crescer, não se vê, por parte do governo, nada diferente do – já exaurido – estímulo ao consumo
Em junho, durante um seminário do jornal espanhol El País no Rio Grande do Sul, o ex-presidente Lula aproveitou a presença do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, e pediu ampliação do crédito. “Não temos de ter medo. Acho que temos de ficar um pouco mais afoitos agora. Apenas seguir a rotina técnica não dá mais certo”, disse, logo depois de perguntar a Augustin: “Arno, um dia você vai ter de me explicar: se a gente não tem inflação de demanda, por que a gente está barrando o crédito?” O Banco Central já havia atendido o pedido de Lula em julho; agora, volta a oferecer a mesma dose de um remédio que já não está fazendo o efeito desejado no paciente.
Depósitos compulsórios são um valor que os bancos são obrigados a deixar no BC, calculado de acordo com as quantias que as instituições possuem em depósitos feitos. O compulsório serve como uma espécie de proteção do sistema financeiro contra quebras, mas outra de suas funções é o controle da inflação: com uma menor quantidade de moeda circulando no mercado, os preços não podem subir demais, já que os consumidores não teriam tanto dinheiro disponível para seguir gastando. Em 25 de julho, o BC mudou uma regra referente aos compulsórios, permitindo que os bancos usassem até 50% do valor que tinham depositado no BC. Na ocasião, estimou-se que a medida colocaria até R$ 30 bilhões em circulação imediatamente, facilitando o crédito. Mas a medida parece não ter sido suficiente, e na quarta-feira, menos de um mês depois da primeira mudança, o BC passou a permitir que os bancos usassem até 60% do valor do compulsório, deixando mais R$ 10 bilhões disponíveis. Outras medidas tomadas no mesmo pacote podem aumentar ainda mais o volume de dinheiro para operações de crédito.
Nem Banco Central, nem o Ministério da Fazenda dizem com todas as letras, mas o objetivo é o mesmo de sempre: facilitar o crédito para que os brasileiros adquiram especialmente bens duráveis, automóveis e imóveis. É a mesmíssima estratégia que foi colocada em prática durante a crise internacional e, aliada à grande demanda por commodities em outros países emergentes, ajudou o país a aguentar o tranco enquanto as economias desenvolvidas se afundavam na recessão. Mas o que parecia ser uma solução pontual para uma situação específica se converteu na única maneira que o governo conhece de tentar fazer o Brasil crescer.
No entanto, o fôlego do consumidor brasileiro já não é aquele de anos atrás. Em abril e maio deste ano, as montadoras estavam com pátios lotados e acabaram dando férias coletivas aos funcionários. O colunista da Gazeta do Povo Franco Iacomini informou, na semana passada, que construtoras importantes estavam registrando, em seus balanços do segundo trimestre, aumentos no número de distratos – cancelamentos de contratos imobiliários. Em um cenário desses, fica difícil imaginar como esse novo estímulo ao consumo pode virar o jogo do crescimento, que, a julgar pelas previsões do mercado, deve ficar abaixo de 1% em 2014.
A insistência nesse modelo de crescimento permite questionar se o governo realmente tem algo que se possa chamar de política econômica, pois não se vê nada diferente do – já exaurido, como se pode perceber – estímulo ao consumo. Enquanto isso, o governo resiste a cortar gastos e enxugar a máquina pública, e não incentiva a poupança para garantir o investimento privado. É uma pena que a criatividade só brinde a equipe econômica na hora de brincar com os dados das contas públicas para fingir que as metas estabelecidas estão sendo cumpridas.
Para fazer a economia crescer, não se vê, por parte do governo, nada diferente do – já exaurido – estímulo ao consumo
Em junho, durante um seminário do jornal espanhol El País no Rio Grande do Sul, o ex-presidente Lula aproveitou a presença do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, e pediu ampliação do crédito. “Não temos de ter medo. Acho que temos de ficar um pouco mais afoitos agora. Apenas seguir a rotina técnica não dá mais certo”, disse, logo depois de perguntar a Augustin: “Arno, um dia você vai ter de me explicar: se a gente não tem inflação de demanda, por que a gente está barrando o crédito?” O Banco Central já havia atendido o pedido de Lula em julho; agora, volta a oferecer a mesma dose de um remédio que já não está fazendo o efeito desejado no paciente.
Depósitos compulsórios são um valor que os bancos são obrigados a deixar no BC, calculado de acordo com as quantias que as instituições possuem em depósitos feitos. O compulsório serve como uma espécie de proteção do sistema financeiro contra quebras, mas outra de suas funções é o controle da inflação: com uma menor quantidade de moeda circulando no mercado, os preços não podem subir demais, já que os consumidores não teriam tanto dinheiro disponível para seguir gastando. Em 25 de julho, o BC mudou uma regra referente aos compulsórios, permitindo que os bancos usassem até 50% do valor que tinham depositado no BC. Na ocasião, estimou-se que a medida colocaria até R$ 30 bilhões em circulação imediatamente, facilitando o crédito. Mas a medida parece não ter sido suficiente, e na quarta-feira, menos de um mês depois da primeira mudança, o BC passou a permitir que os bancos usassem até 60% do valor do compulsório, deixando mais R$ 10 bilhões disponíveis. Outras medidas tomadas no mesmo pacote podem aumentar ainda mais o volume de dinheiro para operações de crédito.
Nem Banco Central, nem o Ministério da Fazenda dizem com todas as letras, mas o objetivo é o mesmo de sempre: facilitar o crédito para que os brasileiros adquiram especialmente bens duráveis, automóveis e imóveis. É a mesmíssima estratégia que foi colocada em prática durante a crise internacional e, aliada à grande demanda por commodities em outros países emergentes, ajudou o país a aguentar o tranco enquanto as economias desenvolvidas se afundavam na recessão. Mas o que parecia ser uma solução pontual para uma situação específica se converteu na única maneira que o governo conhece de tentar fazer o Brasil crescer.
No entanto, o fôlego do consumidor brasileiro já não é aquele de anos atrás. Em abril e maio deste ano, as montadoras estavam com pátios lotados e acabaram dando férias coletivas aos funcionários. O colunista da Gazeta do Povo Franco Iacomini informou, na semana passada, que construtoras importantes estavam registrando, em seus balanços do segundo trimestre, aumentos no número de distratos – cancelamentos de contratos imobiliários. Em um cenário desses, fica difícil imaginar como esse novo estímulo ao consumo pode virar o jogo do crescimento, que, a julgar pelas previsões do mercado, deve ficar abaixo de 1% em 2014.
A insistência nesse modelo de crescimento permite questionar se o governo realmente tem algo que se possa chamar de política econômica, pois não se vê nada diferente do – já exaurido, como se pode perceber – estímulo ao consumo. Enquanto isso, o governo resiste a cortar gastos e enxugar a máquina pública, e não incentiva a poupança para garantir o investimento privado. É uma pena que a criatividade só brinde a equipe econômica na hora de brincar com os dados das contas públicas para fingir que as metas estabelecidas estão sendo cumpridas.
Círculo vicioso do terror - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 22/08
A escalada da violência no Oriente Médio há muito deixou de ser fenômeno regional. É ingenuidade imaginar que a motivação que rouba vidas na Palestina, na Síria, no Paquistão, na Líbia ou em Israel tem nacionalidade conhecida e certidão de nascimento registrada em cartório. Não tem. A decapitação do jornalista James Foley transmitida mundo afora pela internet serve de assustador exemplo.
Não se deve ao acaso a escolha do carrasco encapuzado que matou o repórter americano. Especialistas em fonética identificaram que o algoz não só falava um inglês perfeito mas denunciava sotaque multicultural londrino. Trata-se de um entre tantos jovens dos cinco continentes que engrossam as fileiras jihadistas internacionais atraídos por apelos de ódio que se espalha como rastilho de pólvora.
Além de britânicos, australianos, chineses e indonésios aparecem nas peças do terror divulgadas pelo grupo Estado Islâmico (EI). Formado por extremistas sunitas apeados do poder com a queda de Saddam Hussein, o EI espalha pânico no Iraque e no norte da Síria. Persegue minorias com crueldade que desconhece a compaixão. Dezenas de milhares de curdos se refugiaram em cavernas de montanhas e se tornaram reféns dos radicais, que os sitiaram e os impediram de sair. Na prática, condenaram-nos à morte - por falta de água, alimentos e remédios.
Os Estados Unidos - principais responsáveis pela tragédia que se abateu sobre a antiga Mesopotâmia - mandaram ajuda humanitária aos refugiados e bombardearam os jihadistas para evitar o massacre de xiitas, curdos e cristãos. A resposta veio com a decapitação de James Foley e o recado de que, se os ataques continuarem, outro refém será sacrificado. Trata-se do jornalista Steven Sottof, ex-colaborador do Time, Foreign Policy e Christian Science Monitor.
A escalada do terror preocupa o mundo. O envolvimento de jovens de diferentes nacionalidades no Estado Islâmico permite imaginar que dificilmente a violência se restringirá ao Oriente Médio. É questão de tempo. Nada impede que a demonstração de força e poder chegue aos demais continentes. A reação será violenta e espalhará mais ódio que levará a mais violência.
Impõe-se cortar o círculo vicioso. Sem atacar a causa - o desamparo, a pobreza, a discriminação - abater os sintomas é secar gelo. Como as cabeças da hidra, novos grupos surgirão. A Al-Qaeda - que se notabilizou por espalhar o pânico com homens-bomba -, além de se multiplicar em células espalhadas mundo afora, convive agora com o Estado Islâmico, que, em vez de explodir as vítimas, corta-lhes a cabeça. É mais uma cabeça da hidra.
Não se deve ao acaso a escolha do carrasco encapuzado que matou o repórter americano. Especialistas em fonética identificaram que o algoz não só falava um inglês perfeito mas denunciava sotaque multicultural londrino. Trata-se de um entre tantos jovens dos cinco continentes que engrossam as fileiras jihadistas internacionais atraídos por apelos de ódio que se espalha como rastilho de pólvora.
Além de britânicos, australianos, chineses e indonésios aparecem nas peças do terror divulgadas pelo grupo Estado Islâmico (EI). Formado por extremistas sunitas apeados do poder com a queda de Saddam Hussein, o EI espalha pânico no Iraque e no norte da Síria. Persegue minorias com crueldade que desconhece a compaixão. Dezenas de milhares de curdos se refugiaram em cavernas de montanhas e se tornaram reféns dos radicais, que os sitiaram e os impediram de sair. Na prática, condenaram-nos à morte - por falta de água, alimentos e remédios.
Os Estados Unidos - principais responsáveis pela tragédia que se abateu sobre a antiga Mesopotâmia - mandaram ajuda humanitária aos refugiados e bombardearam os jihadistas para evitar o massacre de xiitas, curdos e cristãos. A resposta veio com a decapitação de James Foley e o recado de que, se os ataques continuarem, outro refém será sacrificado. Trata-se do jornalista Steven Sottof, ex-colaborador do Time, Foreign Policy e Christian Science Monitor.
A escalada do terror preocupa o mundo. O envolvimento de jovens de diferentes nacionalidades no Estado Islâmico permite imaginar que dificilmente a violência se restringirá ao Oriente Médio. É questão de tempo. Nada impede que a demonstração de força e poder chegue aos demais continentes. A reação será violenta e espalhará mais ódio que levará a mais violência.
Impõe-se cortar o círculo vicioso. Sem atacar a causa - o desamparo, a pobreza, a discriminação - abater os sintomas é secar gelo. Como as cabeças da hidra, novos grupos surgirão. A Al-Qaeda - que se notabilizou por espalhar o pânico com homens-bomba -, além de se multiplicar em células espalhadas mundo afora, convive agora com o Estado Islâmico, que, em vez de explodir as vítimas, corta-lhes a cabeça. É mais uma cabeça da hidra.
O BC no jogo do consumo - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 22/08
Com mais uma rodada de estímulo ao consumo, o governo tentará garantir um pouco mais de atividade neste semestre e atenuar o desastre econômico do ano. O primeiro semestre foi perdido, a produção industrial continua em marcha lenta e a confiança do empresário do setor permanece muito baixa, segundo informou nesta semana a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Se o novo lance der muito certo, ainda poderá produzir algum efeito benéfico no começo de 2015, nos primeiros meses do governo recém-eleito. Nesse caso, os dirigentes do setor automobilístico, o mais beneficiado pelas novas medidas, terão um bom réveillon e um bom ano-novo e o governo terá, mais uma vez, demonstrado um carinho especial pela indústria de veículos.
A nova tentativa coube ao Banco Central (BC). Não se mexe nos juros básicos da economia, mantidos em 11%, e com isso a autoridade monetária continua fazendo cara feia para a inflação. Mas o crédito será relaxado por outro meio. Os bancos poderão diminuir o recolhimento compulsório sobre os depósitos a prazo e dispor de mais R$ 10 bilhões para empréstimos. Em julho o BC já havia facilitado a liberação de R$ 30 bilhões, ao iniciar o afrouxamento dos compulsórios sobre contas à vista e a prazo.
A mudança no recolhimento anunciada na quarta-feira beneficia especialmente os negócios do setor automobilístico e da indústria de motocicletas, além de favorecer os empréstimos consignados. Para aproveitar plenamente as novas facilidades, os bancos terão de aumentar em 20% o saldo das operações com veículos, acentuou em entrevista o chefe do Departamento de Operações Bancárias do BC, Daso Coimbra. Dificilmente se poderia pensar em um benefício financeiro carimbado com maior clareza.
No mesmo dia o BC anunciou uma redução de R$ 15 bilhões do capital mínimo exigido para certas operações bancárias. Esse novo corte é somado ao de R$ 10 bilhões concedido em julho. Os bancos poderão adicionar aos empréstimos cerca de R$ 225 bilhões, nove vezes o valor subtraído do capital mínimo exigido pelas normas de segurança financeira.
Com essas medidas, a autoridade monetária avança no desmonte da política prudencial adotada em 2010. Naquele ano a economia cresceu 7,5% e a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 5,91%.
Nos anos seguintes o quadro só mudou em parte. Em 2011 o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou só 2,7%. A expansão ficou em 1% em 2012 e em 2,5% em 2o13. Neste ano, a atividade econômica foi muito fraca no primeiro semestre - os números gerais devem ser divulgados no fim do mês - e os sinais de estagnação da indústria persistem. A economia se enfraqueceu, mas a inflação continuou elevada. Bateu em 6,5% em 2011, recuou ligeiramente, para 5,84%, em 2012, e alcançou novamente 5,91% em 2013. Neste ano, o acumulado em 12 meses continua muito perto de 6,5%, limite da margem de tolerância, apesar do recuo das taxas mensais na passagem do primeiro para o segundo semestre. Mas economistas do setor privado continuam prevendo um repique e uma taxa acumulada, em dezembro, ainda na vizinhança de 6%.
O governo continua gastando muito, os aumentos salariais permanecem acima dos ganhos de produtividade e ainda será preciso ajustar, neste ano ou no próximo, preços contidos de forma voluntarista pelo governo. Ao ampliar o crédito aos consumidores, o BC assume, portanto, o risco de jogar mais combustível na inflação. Dirigentes da instituição têm negado esse perigo, como se a manutenção dos juros em 11% bastasse para frear a alta de preços e levar a inflação a 4,5%, a meta, nos próximos anos. Mas por que os preços seriam imunes a um novo estímulo ao consumo?
Além do mais, incentivos ao consumo vigoram há anos e a economia permanece emperrada. Aos empresários falta confiança para investir e elevar a produtividade das empresas. Ao governo falta competência para realizar seus projetos e programas. Crédito mais fácil em véspera de eleição nunca resolveu problemas como esses.
Com mais uma rodada de estímulo ao consumo, o governo tentará garantir um pouco mais de atividade neste semestre e atenuar o desastre econômico do ano. O primeiro semestre foi perdido, a produção industrial continua em marcha lenta e a confiança do empresário do setor permanece muito baixa, segundo informou nesta semana a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Se o novo lance der muito certo, ainda poderá produzir algum efeito benéfico no começo de 2015, nos primeiros meses do governo recém-eleito. Nesse caso, os dirigentes do setor automobilístico, o mais beneficiado pelas novas medidas, terão um bom réveillon e um bom ano-novo e o governo terá, mais uma vez, demonstrado um carinho especial pela indústria de veículos.
A nova tentativa coube ao Banco Central (BC). Não se mexe nos juros básicos da economia, mantidos em 11%, e com isso a autoridade monetária continua fazendo cara feia para a inflação. Mas o crédito será relaxado por outro meio. Os bancos poderão diminuir o recolhimento compulsório sobre os depósitos a prazo e dispor de mais R$ 10 bilhões para empréstimos. Em julho o BC já havia facilitado a liberação de R$ 30 bilhões, ao iniciar o afrouxamento dos compulsórios sobre contas à vista e a prazo.
A mudança no recolhimento anunciada na quarta-feira beneficia especialmente os negócios do setor automobilístico e da indústria de motocicletas, além de favorecer os empréstimos consignados. Para aproveitar plenamente as novas facilidades, os bancos terão de aumentar em 20% o saldo das operações com veículos, acentuou em entrevista o chefe do Departamento de Operações Bancárias do BC, Daso Coimbra. Dificilmente se poderia pensar em um benefício financeiro carimbado com maior clareza.
No mesmo dia o BC anunciou uma redução de R$ 15 bilhões do capital mínimo exigido para certas operações bancárias. Esse novo corte é somado ao de R$ 10 bilhões concedido em julho. Os bancos poderão adicionar aos empréstimos cerca de R$ 225 bilhões, nove vezes o valor subtraído do capital mínimo exigido pelas normas de segurança financeira.
Com essas medidas, a autoridade monetária avança no desmonte da política prudencial adotada em 2010. Naquele ano a economia cresceu 7,5% e a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 5,91%.
Nos anos seguintes o quadro só mudou em parte. Em 2011 o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou só 2,7%. A expansão ficou em 1% em 2012 e em 2,5% em 2o13. Neste ano, a atividade econômica foi muito fraca no primeiro semestre - os números gerais devem ser divulgados no fim do mês - e os sinais de estagnação da indústria persistem. A economia se enfraqueceu, mas a inflação continuou elevada. Bateu em 6,5% em 2011, recuou ligeiramente, para 5,84%, em 2012, e alcançou novamente 5,91% em 2013. Neste ano, o acumulado em 12 meses continua muito perto de 6,5%, limite da margem de tolerância, apesar do recuo das taxas mensais na passagem do primeiro para o segundo semestre. Mas economistas do setor privado continuam prevendo um repique e uma taxa acumulada, em dezembro, ainda na vizinhança de 6%.
O governo continua gastando muito, os aumentos salariais permanecem acima dos ganhos de produtividade e ainda será preciso ajustar, neste ano ou no próximo, preços contidos de forma voluntarista pelo governo. Ao ampliar o crédito aos consumidores, o BC assume, portanto, o risco de jogar mais combustível na inflação. Dirigentes da instituição têm negado esse perigo, como se a manutenção dos juros em 11% bastasse para frear a alta de preços e levar a inflação a 4,5%, a meta, nos próximos anos. Mas por que os preços seriam imunes a um novo estímulo ao consumo?
Além do mais, incentivos ao consumo vigoram há anos e a economia permanece emperrada. Aos empresários falta confiança para investir e elevar a produtividade das empresas. Ao governo falta competência para realizar seus projetos e programas. Crédito mais fácil em véspera de eleição nunca resolveu problemas como esses.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
TRAGÉDIA: NÃO SE SABE QUEM PAGARÁ INDENIZAÇÕES
Ainda não se sabe ao certo quem era dono do jato Cessna, prefixo PR-AFA, cuja queda tirou a vida de Eduardo Campos e mais seis pessoas. Muito menos quem pagará indenizações milionárias, inclusive a quem teve imóveis destruídos ou danificados. Oficialmente, o jato é da empresa AF Andrade, de José Carlos Andrade, que, sob recuperação judicial, o teria vendido “informalmente” a um usineiro de Alagoas.
JOGO DE EMPURRA
Um regulador de seguros avalia o acidente, porque a lei pode livrar a seguradora das indenizações, em caso de falha técnica ou humana.
SEM DINHEIRO
O Cessna estava à venda até o dia 9, quatro dias antes da tragédia. O dono oficial do jatinho, “quebrado”, não teria como pagar indenizações.
PROCESSO CLARO
Se não tiver cumprido exigências legais para alugar ou obter o jato, o PSB é passível de ação judicial. Mas o partido não quis se pronunciar.
RESPONSABILIDADE
Pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, indenizações de acidente aéreo fatal são dever do dono, do transportador ou do explorador do avião.
TORTURA EXIGE PEDIDO DE DESCULPAS DE MILITARES
Estarrecido com o depoimento da jornalista Miriam Leitão ao repórter Luiz Cláudio Cunha, publicado no portal Diário do Poder, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) escreveu bilhete, de punho, ao ministro Celso Amorim (Defesa), afirmando que o relato das torturas “exige um reconhecimento e pedido de desculpas por parte das Forças Armadas”. Amorim ligou para o senador, dizendo-se “impactado”, mas nada fez.
MINIMINISTRO
A Cristovam, Celso Amorim diz que telefonou para Miriam, mas nada pode fazer porque tem “limitações”. Medo dos militares, certamente.
COVARDIA E CRUELDADE
Miriam Leitão conta detalhes da tortura sofrida por três meses, aos 19 anos e grávida, num quartel do Exército em Vila Velha (ES), em 1973.
CUMPLICIDADE
No bilhete ao ministro Celso Amorim, o senador Cristovam Buarque disse que manter silêncio sobre o caso é “conivência e cumplicidade”.
TRÊS VAGAS NO STJ
Quem vencer as eleições presidenciais vai começar o governo, em 2015, escolhendo três ministros para o Superior Tribunal de Justiça, o “tribunal da cidadania”. As vagas serão abertas com as aposentadorias dos ministros Sidnei Beneti, Gilson Dipp e Ari Pargendler.
BRIGA PELO PODER
“Marineiros”, que tutelam Marina Silva, forçaram a saída de Carlos Siqueira da campanha. Secretário-geral do PSB, ele era homem de confiança e coordenador-geral do comitê de Eduardo Campos.
BRAÇO DIREITO
Coordenador-geral é a função mais ambicionada nas campanhas. É uma espécie de Chefe da Casa Civil, que inclusive arrecada dinheiro e, em nome do candidato, assume “compromissos” com os doadores.
‘FELICIANOBOOK’
O deputado Marco Feliciano (PSC-SP), candidato à reeleição, tem mais “curtidas” no Facebook que qualquer candidato a presidente: 1,34 milhão. Dilma (PT) tem 943 mil, Aécio (PSDB) 1,17 milhão e Marina (PSB) 1,28 milhão. Pastor Everaldo (PSC) tem só 298 mil.
ORDEM E IMPOSTOS
Apenas dez dias depois de o Impostômetro chegar a R$ 1 trilhão, mais R$ 41 bilhões foram adicionados à conta do contribuinte. Isso significa que cada brasileiro já pagou R$ 5,3 mil em impostos este ano.
BOLSÃO FAMÍLIA
Há 46 dias da eleição, o Portal da Transparência ainda não atualizou os dados relativos ao repasse de verbas ao Bolsa Família. Até junho deste ano haviam sido injetados R$ 10,5 bilhões no bolso do eleitor. A média em 2014 de repasses do governo é de quase R$ 2 bilhões por mês.
COMPRA DE VOTOS
Os valores espetaculares de recursos públicos fazem do Bolsa Família, conforme o definiu o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), “o maior programa de compra de votos do mundo”.
MODA QUE PEGA
O Exército dos EUA proibiu acesso em todas as bases militares ao site Intercept, conhecido por divulgar documentos “vazados” por hackers. Aqui, o Banco do Brasil e a Petrobras censuram até enciclopédia livre.
PENSANDO BEM...
...ao prender um postulante a deputado pelo PSOL fumando maconha enquanto dirigia seu carro, a polícia de Brasília mostrou que barato de candidato pode sair caro.
###
PODER SEM PUDOR
EX-MULHER É PARA SEMPRE
Maria Christina Mendes Caldeira, que foi casada com o mensaleiro e presidiário Valdemar Costa Neto (PR-SP), mostrou na prática que ex-mulher é mesmo para sempre. Certa vez, ao ser abordada na entrada do Senado por uma vendedora de velas ornamentais, ela não deixou por menos, referindo-se àquele que renunciara para não ser cassado:
- Venda para o meu ex-marido, que é dono do mensalão...
Ainda não se sabe ao certo quem era dono do jato Cessna, prefixo PR-AFA, cuja queda tirou a vida de Eduardo Campos e mais seis pessoas. Muito menos quem pagará indenizações milionárias, inclusive a quem teve imóveis destruídos ou danificados. Oficialmente, o jato é da empresa AF Andrade, de José Carlos Andrade, que, sob recuperação judicial, o teria vendido “informalmente” a um usineiro de Alagoas.
JOGO DE EMPURRA
Um regulador de seguros avalia o acidente, porque a lei pode livrar a seguradora das indenizações, em caso de falha técnica ou humana.
SEM DINHEIRO
O Cessna estava à venda até o dia 9, quatro dias antes da tragédia. O dono oficial do jatinho, “quebrado”, não teria como pagar indenizações.
PROCESSO CLARO
Se não tiver cumprido exigências legais para alugar ou obter o jato, o PSB é passível de ação judicial. Mas o partido não quis se pronunciar.
RESPONSABILIDADE
Pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, indenizações de acidente aéreo fatal são dever do dono, do transportador ou do explorador do avião.
TORTURA EXIGE PEDIDO DE DESCULPAS DE MILITARES
Estarrecido com o depoimento da jornalista Miriam Leitão ao repórter Luiz Cláudio Cunha, publicado no portal Diário do Poder, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) escreveu bilhete, de punho, ao ministro Celso Amorim (Defesa), afirmando que o relato das torturas “exige um reconhecimento e pedido de desculpas por parte das Forças Armadas”. Amorim ligou para o senador, dizendo-se “impactado”, mas nada fez.
MINIMINISTRO
A Cristovam, Celso Amorim diz que telefonou para Miriam, mas nada pode fazer porque tem “limitações”. Medo dos militares, certamente.
COVARDIA E CRUELDADE
Miriam Leitão conta detalhes da tortura sofrida por três meses, aos 19 anos e grávida, num quartel do Exército em Vila Velha (ES), em 1973.
CUMPLICIDADE
No bilhete ao ministro Celso Amorim, o senador Cristovam Buarque disse que manter silêncio sobre o caso é “conivência e cumplicidade”.
TRÊS VAGAS NO STJ
Quem vencer as eleições presidenciais vai começar o governo, em 2015, escolhendo três ministros para o Superior Tribunal de Justiça, o “tribunal da cidadania”. As vagas serão abertas com as aposentadorias dos ministros Sidnei Beneti, Gilson Dipp e Ari Pargendler.
BRIGA PELO PODER
“Marineiros”, que tutelam Marina Silva, forçaram a saída de Carlos Siqueira da campanha. Secretário-geral do PSB, ele era homem de confiança e coordenador-geral do comitê de Eduardo Campos.
BRAÇO DIREITO
Coordenador-geral é a função mais ambicionada nas campanhas. É uma espécie de Chefe da Casa Civil, que inclusive arrecada dinheiro e, em nome do candidato, assume “compromissos” com os doadores.
‘FELICIANOBOOK’
O deputado Marco Feliciano (PSC-SP), candidato à reeleição, tem mais “curtidas” no Facebook que qualquer candidato a presidente: 1,34 milhão. Dilma (PT) tem 943 mil, Aécio (PSDB) 1,17 milhão e Marina (PSB) 1,28 milhão. Pastor Everaldo (PSC) tem só 298 mil.
ORDEM E IMPOSTOS
Apenas dez dias depois de o Impostômetro chegar a R$ 1 trilhão, mais R$ 41 bilhões foram adicionados à conta do contribuinte. Isso significa que cada brasileiro já pagou R$ 5,3 mil em impostos este ano.
BOLSÃO FAMÍLIA
Há 46 dias da eleição, o Portal da Transparência ainda não atualizou os dados relativos ao repasse de verbas ao Bolsa Família. Até junho deste ano haviam sido injetados R$ 10,5 bilhões no bolso do eleitor. A média em 2014 de repasses do governo é de quase R$ 2 bilhões por mês.
COMPRA DE VOTOS
Os valores espetaculares de recursos públicos fazem do Bolsa Família, conforme o definiu o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), “o maior programa de compra de votos do mundo”.
MODA QUE PEGA
O Exército dos EUA proibiu acesso em todas as bases militares ao site Intercept, conhecido por divulgar documentos “vazados” por hackers. Aqui, o Banco do Brasil e a Petrobras censuram até enciclopédia livre.
PENSANDO BEM...
...ao prender um postulante a deputado pelo PSOL fumando maconha enquanto dirigia seu carro, a polícia de Brasília mostrou que barato de candidato pode sair caro.
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PODER SEM PUDOR
EX-MULHER É PARA SEMPRE
Maria Christina Mendes Caldeira, que foi casada com o mensaleiro e presidiário Valdemar Costa Neto (PR-SP), mostrou na prática que ex-mulher é mesmo para sempre. Certa vez, ao ser abordada na entrada do Senado por uma vendedora de velas ornamentais, ela não deixou por menos, referindo-se àquele que renunciara para não ser cassado:
- Venda para o meu ex-marido, que é dono do mensalão...
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