FOLHA DE SP - 04/01
Pagando dívidas e com salários em dia, a Gávea virou um bom lugar para se trabalhar no futebol
HÁ DOIS meses, o agente de jogadores Eduardo Uram fez uma observação importante sobre o futuro dos clubes brasileiros: "Ninguém está prestando atenção, mas daqui a dois anos o Flamengo será muito forte". Sua percepção era de que o rubro-negro está pagando dívidas e salários em dia. Diferentemente de outras épocas --e de outros clubes--, a Gávea virou um bom lugar para se trabalhar.
A contratação do atacante Marcelo, do Atlético-PR, confirma a teoria. É o melhor negócio do verão. Marcelo era pretendido por todos os grandes clubes do Brasil e confiou no Flamengo.
Parece incrível, mas o Flamengo de hoje é bom pagador.
A outra razão para o Flamengo ser o destino de Marcelo, em vez do São Paulo, do Corinthians ou do Cruzeiro, é a participação do fundo de investimentos Doyen, o mesmo parceiro do Santos para comprar Leandro Damião. A sociedade provocou comparações entre o fiasco santista com Damião e a dívida que restará ao Flamengo se Marcelo não emplacar.
Há diferenças fundamentais.
Damião era um jogador em declínio, autor de 38 gols em 2011 e de apenas 13 em 2013. Pelo Santos, foram onze gols em 44 partidas. Marcelo tem 23 anos, pode aprimorar suas finalizações, mas é um jogador em crescimento.
Se não vender Damião em três anos, o Santos terá de pagar R$ 40 milhões à Doyen. O Flamengo terá de reembolsar R$ 13 milhões ou vender Marcelo. A quem critica a hipótese da venda vale lembrar que seria também o destino provável de qualquer revelação da Gávea, com ou sem sócio.
Mas a sociedade com a Doyen é um símbolo, por mais extrativista que seja o fundo de investimento do português Nélio Lucas. O Flamengo hoje encontra sócios e atrai jogadores. Está de volta ao mercado.
A visão dos jogadores e empresários sobre os clubes muda rápido. Logo depois de romper com a MSI, em 2007, o Corinthians não era atraente. No fim de 2008, representava a perspectiva de participar de um projeto vencedor. Ronaldo Fenômeno topou o desafio.
Hoje, há empresários negociando com o Palmeiras, porque Paulo Nobre paga em dia. O Corinthians segue sendo um destino atraente, mas não tão seguro quanto era há três anos.
O São Paulo negocia a compra do atacante Dudu e oferece 30% do contrato à vista. O Corinthians tinha a faca e o queijo na mão, mas não o dinheiro. Seu desejo é pagar a primeira parcela somente em maio.
Em 2011, quando os clubes negociaram individualmente os contratos de TV e os acordos deixaram Corinthians e Flamengo muito acima dos demais, apostava-se que o clube paulista poderia se tornar hegemônico --o Flamengo sofria com suas dívidas e os outros recebiam muito menos dinheiro de TV.
Quatro anos depois, os empresários, os fundos de investimento e os jogadores sinalizam apostar no contrário. O Flamengo virou um clube sério.
domingo, janeiro 04, 2015
O anjo exterminador - SACHA CALMON
CORREIO BRAZILIENSE - 04/01
Graça Foster, a incompetente presidente da Petrobras, deve responder pela roubalheira ali fincada, por motivos político-partidários, desde 2004 a esta data. Não tem como escapar ao indiciamento, por ser monstruosamente grande o crime de omissão a ela imputável. Nem sempre o crime exige ação, mas o seu contrário. E imaginem uma pessoa que assiste passivamente a um vizinho invadir e furtar a casa de outros (na espécie, a Petrobras, supostamente pertencente ao povo brasileiro) e não faz nada para evitar o crime nem denuncia o agente da ação delituosa? Caso vertente, a situação é mais grave. Os delitos foram cometidos por seus colegas, depois a ela subordinados, incumbidos de gerenciar com honra e eficiência o maior patrimônio público do Brasil.
Aliás, nem ela, nem os membros do Conselho de Administração, nem as diretorias da Petrobras, nas gestões Gabrielli e Maria das Graças Foster, deveriam sair ilesos desse monstruoso episódio. Não me excedo! No mundo empresarial, inclusive nos Estados Unidos e União Europeia, há corruptos ativos e passivos; mas uma vez descobertos os autores dos crimes, as consequências são fatais. As leis anticorrupção são duras, as penas altíssimas, as multas milionárias. Executivos omissos são apenados com dureza muito maior. Lei sábia! De se notar que as empresas estatais ou de economia mista naquelas plagas são pouquíssimas. Aqui são várias, por interessar ao conúbio político-partidário. Partidos no poder e coligados, querem cargos, empregos, sinecuras e negócios com as empresas estatais e de economia mista, daí o caldo de cultura da corrupção. Quanto mais Estado e mais empresas ele tiver, maior é a corrupção. O que é do governo não é de ninguém e todos metem a mão, a menos que haja uma governança eficaz e governos honestos. Vimos que o Tribunal de Contas da União (TCU), órgão auxiliar do Poder Legislativo, na missão institucional de fiscalizar o Executivo, em vão, o alertou anos a fio. Vale dizer, os poderes políticos (Executivo e Legislativo) são coniventes e a governança da Petrobras revelou-se a pior possível.
Acresce que o país tem uma lei anticorrupção em vigor e dela os gestores não quiseram saber, fiados nos seus protetores políticos aboletados nos mais elevados cargos da República. Veio à tona o que já supúnhamos. O Estado de Minas de 22/12/2014 trouxe à baila o depoimento de Venina Velosa da Fonseca, o anjo exterminador: "As declarações foram feitas em entrevista exclusiva ao Fantástico, da Rede Globo. Venina disse que as irregularidades nos contratos da empresa foram identificadas desde 2008 e todos os seus superiores também foram informados dos problemas.
A geóloga afirmou ter, inclusive, entregue a Graça documentação que comprovam os desvios. "Num primeiro momento, em 2008, como gerente executiva, eu informei ao então diretor Paulo Roberto Costa. Informei a outros diretores, como a Graça Foster, e em outro momento, como gerente-geral, eu informei aos meus gerentes-executivos, José Raimundo Brandão Pereira e o Abílio [Paulo Pinheiro Ramos], que era meu atual gerente-executivo. Informei ao diretor [José Carlos] Cosenza (atual diretor de Abastecimento). (...) Informei ao presidente [José Sérgio] Gabrielli. Informei a todas as pessoas que eu achava que poderiam fazer alguma coisa para combater aquele processo que estava se instalando dentro da empresa"", garantiu.
Venina afirma que as irregularidades na área de comunicação da Diretoria de Abastecimento da estatal incluíam pagamentos por serviços que não foram prestados, contratos superfaturados e negociações que envolviam comissões para envolvidos no contrato. Segundo ela, havia "esquartejamentos de projetos", como forma de dificultar a fiscalização. "Estive com a presidente pessoalmente quando ela era diretora de Gás e Energia. Naquele momento, nós discutimos o assunto. Foi passada uma documentação para ela sobre processo de denúncia na área de comunicação". A geóloga foi gerente-executiva da Petrobras de 2005 a 2009, quando foi transferida para Cingapura, numa tentativa de, segundo ela, afastá-la da gestão da empresa. Ela também fez apelo aos funcionários da estatal e pede que outras pessoas que tenham provas sobre os desvios contribuam com a força-tarefa da Operação Lava-Jato. "Eu tenho medo? Tenho. Mas eu não vou parar. Espero que os empregados da Petrobras, porque eu tenho certeza que não fui só eu que presenciei, eu espero que os empregados da Petrobras criem coragem e comecem a reagir"." Mulher de coragem!
Que venham agora as contrapartes políticas que serão julgadas pelo supremo tribunal Federal. Depois de tudo que já sabemos, mantida a presidente da Petrobras no cargo, aqui e no exterior, todos dirão da suposta grande gestora: é conivente ou incompetente. Talvez as duas coisas juntas.
Graça Foster, a incompetente presidente da Petrobras, deve responder pela roubalheira ali fincada, por motivos político-partidários, desde 2004 a esta data. Não tem como escapar ao indiciamento, por ser monstruosamente grande o crime de omissão a ela imputável. Nem sempre o crime exige ação, mas o seu contrário. E imaginem uma pessoa que assiste passivamente a um vizinho invadir e furtar a casa de outros (na espécie, a Petrobras, supostamente pertencente ao povo brasileiro) e não faz nada para evitar o crime nem denuncia o agente da ação delituosa? Caso vertente, a situação é mais grave. Os delitos foram cometidos por seus colegas, depois a ela subordinados, incumbidos de gerenciar com honra e eficiência o maior patrimônio público do Brasil.
Aliás, nem ela, nem os membros do Conselho de Administração, nem as diretorias da Petrobras, nas gestões Gabrielli e Maria das Graças Foster, deveriam sair ilesos desse monstruoso episódio. Não me excedo! No mundo empresarial, inclusive nos Estados Unidos e União Europeia, há corruptos ativos e passivos; mas uma vez descobertos os autores dos crimes, as consequências são fatais. As leis anticorrupção são duras, as penas altíssimas, as multas milionárias. Executivos omissos são apenados com dureza muito maior. Lei sábia! De se notar que as empresas estatais ou de economia mista naquelas plagas são pouquíssimas. Aqui são várias, por interessar ao conúbio político-partidário. Partidos no poder e coligados, querem cargos, empregos, sinecuras e negócios com as empresas estatais e de economia mista, daí o caldo de cultura da corrupção. Quanto mais Estado e mais empresas ele tiver, maior é a corrupção. O que é do governo não é de ninguém e todos metem a mão, a menos que haja uma governança eficaz e governos honestos. Vimos que o Tribunal de Contas da União (TCU), órgão auxiliar do Poder Legislativo, na missão institucional de fiscalizar o Executivo, em vão, o alertou anos a fio. Vale dizer, os poderes políticos (Executivo e Legislativo) são coniventes e a governança da Petrobras revelou-se a pior possível.
Acresce que o país tem uma lei anticorrupção em vigor e dela os gestores não quiseram saber, fiados nos seus protetores políticos aboletados nos mais elevados cargos da República. Veio à tona o que já supúnhamos. O Estado de Minas de 22/12/2014 trouxe à baila o depoimento de Venina Velosa da Fonseca, o anjo exterminador: "As declarações foram feitas em entrevista exclusiva ao Fantástico, da Rede Globo. Venina disse que as irregularidades nos contratos da empresa foram identificadas desde 2008 e todos os seus superiores também foram informados dos problemas.
A geóloga afirmou ter, inclusive, entregue a Graça documentação que comprovam os desvios. "Num primeiro momento, em 2008, como gerente executiva, eu informei ao então diretor Paulo Roberto Costa. Informei a outros diretores, como a Graça Foster, e em outro momento, como gerente-geral, eu informei aos meus gerentes-executivos, José Raimundo Brandão Pereira e o Abílio [Paulo Pinheiro Ramos], que era meu atual gerente-executivo. Informei ao diretor [José Carlos] Cosenza (atual diretor de Abastecimento). (...) Informei ao presidente [José Sérgio] Gabrielli. Informei a todas as pessoas que eu achava que poderiam fazer alguma coisa para combater aquele processo que estava se instalando dentro da empresa"", garantiu.
Venina afirma que as irregularidades na área de comunicação da Diretoria de Abastecimento da estatal incluíam pagamentos por serviços que não foram prestados, contratos superfaturados e negociações que envolviam comissões para envolvidos no contrato. Segundo ela, havia "esquartejamentos de projetos", como forma de dificultar a fiscalização. "Estive com a presidente pessoalmente quando ela era diretora de Gás e Energia. Naquele momento, nós discutimos o assunto. Foi passada uma documentação para ela sobre processo de denúncia na área de comunicação". A geóloga foi gerente-executiva da Petrobras de 2005 a 2009, quando foi transferida para Cingapura, numa tentativa de, segundo ela, afastá-la da gestão da empresa. Ela também fez apelo aos funcionários da estatal e pede que outras pessoas que tenham provas sobre os desvios contribuam com a força-tarefa da Operação Lava-Jato. "Eu tenho medo? Tenho. Mas eu não vou parar. Espero que os empregados da Petrobras, porque eu tenho certeza que não fui só eu que presenciei, eu espero que os empregados da Petrobras criem coragem e comecem a reagir"." Mulher de coragem!
Que venham agora as contrapartes políticas que serão julgadas pelo supremo tribunal Federal. Depois de tudo que já sabemos, mantida a presidente da Petrobras no cargo, aqui e no exterior, todos dirão da suposta grande gestora: é conivente ou incompetente. Talvez as duas coisas juntas.
Quem é o inimigo? - MARCELO AGNER
CORREIO BRAZILIENSE - 04/01
O tom eleitoral do discurso de posse da presidente Dilma em seu segundo mandato reciclou promessas da campanha e repetiu a necessidade de o país priorizar a educação - um lugar comum entre os políticos e que raramente termina em ações efetivas -, desta vez com um slogan confuso: "Brasil, pátria educadora". Mas o ponto alto do palanque do 1º de janeiro foi a defesa enérgica do combate à corrupção na Petrobras.
Dilma prometeu proteger a estatal dos "inimigos externos e dos predadores internos". Mas a presidente deliberadamente não disse quem são essas pessoas. A frase de efeito, típica dos marqueteiros eleitorais, tenta induzir os brasileiros a acreditarem que a crise na estatal é uma ação organizada para destruir um patrimônio do país. E, ao deixar dúvidas sobre a identidade dos malfeitores, busca afastar do governo qualquer tipo de responsabilidade.
A Petrobras sangra hoje por obra de conhecidos ladrões do dinheiro público, nomeados e mantidos nos cargos pela direção da própria empresa, com o suporte político de vários partidos, entre eles o PT. Muitas irregularidades foram cometidas em outros governos, não há dúvida. Mas há a certeza de que a apoteose da corrupção ocorreu nas últimas administrações da empresa.
Ao ser imprecisa na definição dos "inimigos e dos predadores", Dilma dá um passo atrás no combate aos malfeitos. Para salvar a Petrobras, a presidente não precisa de frases de efeito. Ela tem que agir. Muitos corruptos e corruptores estão presos ou já foram denunciados e processados. Falta agora nomear os políticos que sustentaram o esquema de desvio do dinheiro público, seja recebendo as propinas, seja mantendo os ladrões em cargos estratégicos na Petrobras. E a maioria deles ainda vive à sombra do Planalto. Dilma sabe disso.
O tom eleitoral do discurso de posse da presidente Dilma em seu segundo mandato reciclou promessas da campanha e repetiu a necessidade de o país priorizar a educação - um lugar comum entre os políticos e que raramente termina em ações efetivas -, desta vez com um slogan confuso: "Brasil, pátria educadora". Mas o ponto alto do palanque do 1º de janeiro foi a defesa enérgica do combate à corrupção na Petrobras.
Dilma prometeu proteger a estatal dos "inimigos externos e dos predadores internos". Mas a presidente deliberadamente não disse quem são essas pessoas. A frase de efeito, típica dos marqueteiros eleitorais, tenta induzir os brasileiros a acreditarem que a crise na estatal é uma ação organizada para destruir um patrimônio do país. E, ao deixar dúvidas sobre a identidade dos malfeitores, busca afastar do governo qualquer tipo de responsabilidade.
A Petrobras sangra hoje por obra de conhecidos ladrões do dinheiro público, nomeados e mantidos nos cargos pela direção da própria empresa, com o suporte político de vários partidos, entre eles o PT. Muitas irregularidades foram cometidas em outros governos, não há dúvida. Mas há a certeza de que a apoteose da corrupção ocorreu nas últimas administrações da empresa.
Ao ser imprecisa na definição dos "inimigos e dos predadores", Dilma dá um passo atrás no combate aos malfeitos. Para salvar a Petrobras, a presidente não precisa de frases de efeito. Ela tem que agir. Muitos corruptos e corruptores estão presos ou já foram denunciados e processados. Falta agora nomear os políticos que sustentaram o esquema de desvio do dinheiro público, seja recebendo as propinas, seja mantendo os ladrões em cargos estratégicos na Petrobras. E a maioria deles ainda vive à sombra do Planalto. Dilma sabe disso.
À beira da irrelevância - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 04/01
O novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, terá uma tarefa árdua pela frente: tirar o Brasil da quase irrelevância nas relações políticas e econômicas internacionais. Ele destacou no discurso de posse a necessidade de ampliar o comércio internacional, o que parece indicar que o Itamaraty dará mais atenção ao comércio exterior - uma necessidade - do que à política, que pode vir a ser uma consequência. A quase irrelevância política brasileira, dentro e fora dos Brics, foi confirmada em recente pesquisa do Ash Center para Governança Democrática e Inovação, da Harvard Kennedy School, que perguntou a cidadãos de 30 países suas opiniões sobre 10 influentes líderes nacionais que têm impacto global.
Enquanto Rússia e China surgem como lideranças reconhecidas, Brasil e África do Sul aparecem entre as menos importantes do grupo. As notas médias mais altas de conhecimento são para o presidente Barack Obama, dos Estados Unidos (93,9%), para o presidente Vladimir Putin, da Rússia (79,3%), e para o presidente Xi Jinping, da China (59,12%).
Os líderes nacionais menos conhecidos são o presidente da África do Sul, Jacob Zuma (27,8%), e Dilma Rousseff, do Brasil (25,4%). O diretor do Ash Center, Tony Saich, comenta que "claramente nenhum dos dois é visto como capaz de desempenhar um papel importante".
O primeiro-ministro da Índia, Narandra Modi, recebe um tratamento neutro na interpretação de Tony Saich, pois, ao mesmo tempo em que aparece em antepenúltimo lugar na percepção dos cidadãos de outros países, está em terceiro lugar como um dos líderes mais bem avaliados por sua própria população.
Saich atribui essas contradições ao fato de que Modi foi eleito no início de 2014 e, se ainda vive uma lua de mel com seus eleitores, é desconhecido no resto do mundo. Putin divide opiniões com apenas um terço dos países dando a ele nota acima de 6, mas é bem visto no Vietnã e na China.
Essa opinião dividida faz com que a média para Putin entre os 30 países (6) seja a mais baixa entre os 10 líderes. O presidente chinês Xi Jinping tem a nota mais alta (7,5) porque, com exceção do Japão, ele é razoavelmente bem recebido em todos os países da pesquisa. Obama aparece em sexto lugar, com nota 6,6, ficando abaixo de Dilma, que obteve 6,8.
A presidente consegue uma média mais alta na avaliação dos cidadãos de outros países do que no Brasil (6,3), em especial porque recebe nota 7 ou pouco mais nos países dos Brics e nos EUA.
A chanceler Angela Merkel, da Alemanha, obtém o melhor resultado na avaliação de quem tem mais condições de lidar com as questões domésticas e internacionais por ter sido colocada entre os três primeiros por 23 dos países pesquisados, sendo que em 13 deles fica em primeiro.
Merkel não é bem vista, no entanto, na Rússia, país que ela tem criticado muito, e na Espanha, devido à sua liderança europeia pela contenção de gastos. Obama, apesar de notas desfavoráveis dos próprios americanos, tem boas notas em outros países, com exceção da Rússia e do Paquistão.
Tony Saich diz que, se por um lado essas notas são esperáveis, a avaliação baixa (5,8) no Japão é surpreendente. A pesquisa define que existem quatro líderes que têm altos níveis de confiança pela maneira como lidam com questões internas e externas: o chinês Xi Jinping; o russo Vladimir Putin; o indiano Narandra Modi e a alemã Angela Merkel.
Os presidentes Dilma Rousseff, do Brasil, François Hollande, da França, e Jacob Zuma, da África do Sul não inspiram confiança na maneira como lidam com estas matérias.
Mau sinal
O recuo do Ministério do Planejamento com relação à mudança da fórmula para definir o aumento do salário mínimo é um mau sinal. Ou o ministro Nelson Barbosa falou demais, antes do tempo, e mostrou que não tem sensibilidade política, ou a presidente Dilma voltou atrás da autorização que dera para rever a fórmula, que o ministro considera equivocada.
O novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, terá uma tarefa árdua pela frente: tirar o Brasil da quase irrelevância nas relações políticas e econômicas internacionais. Ele destacou no discurso de posse a necessidade de ampliar o comércio internacional, o que parece indicar que o Itamaraty dará mais atenção ao comércio exterior - uma necessidade - do que à política, que pode vir a ser uma consequência. A quase irrelevância política brasileira, dentro e fora dos Brics, foi confirmada em recente pesquisa do Ash Center para Governança Democrática e Inovação, da Harvard Kennedy School, que perguntou a cidadãos de 30 países suas opiniões sobre 10 influentes líderes nacionais que têm impacto global.
Enquanto Rússia e China surgem como lideranças reconhecidas, Brasil e África do Sul aparecem entre as menos importantes do grupo. As notas médias mais altas de conhecimento são para o presidente Barack Obama, dos Estados Unidos (93,9%), para o presidente Vladimir Putin, da Rússia (79,3%), e para o presidente Xi Jinping, da China (59,12%).
Os líderes nacionais menos conhecidos são o presidente da África do Sul, Jacob Zuma (27,8%), e Dilma Rousseff, do Brasil (25,4%). O diretor do Ash Center, Tony Saich, comenta que "claramente nenhum dos dois é visto como capaz de desempenhar um papel importante".
O primeiro-ministro da Índia, Narandra Modi, recebe um tratamento neutro na interpretação de Tony Saich, pois, ao mesmo tempo em que aparece em antepenúltimo lugar na percepção dos cidadãos de outros países, está em terceiro lugar como um dos líderes mais bem avaliados por sua própria população.
Saich atribui essas contradições ao fato de que Modi foi eleito no início de 2014 e, se ainda vive uma lua de mel com seus eleitores, é desconhecido no resto do mundo. Putin divide opiniões com apenas um terço dos países dando a ele nota acima de 6, mas é bem visto no Vietnã e na China.
Essa opinião dividida faz com que a média para Putin entre os 30 países (6) seja a mais baixa entre os 10 líderes. O presidente chinês Xi Jinping tem a nota mais alta (7,5) porque, com exceção do Japão, ele é razoavelmente bem recebido em todos os países da pesquisa. Obama aparece em sexto lugar, com nota 6,6, ficando abaixo de Dilma, que obteve 6,8.
A presidente consegue uma média mais alta na avaliação dos cidadãos de outros países do que no Brasil (6,3), em especial porque recebe nota 7 ou pouco mais nos países dos Brics e nos EUA.
A chanceler Angela Merkel, da Alemanha, obtém o melhor resultado na avaliação de quem tem mais condições de lidar com as questões domésticas e internacionais por ter sido colocada entre os três primeiros por 23 dos países pesquisados, sendo que em 13 deles fica em primeiro.
Merkel não é bem vista, no entanto, na Rússia, país que ela tem criticado muito, e na Espanha, devido à sua liderança europeia pela contenção de gastos. Obama, apesar de notas desfavoráveis dos próprios americanos, tem boas notas em outros países, com exceção da Rússia e do Paquistão.
Tony Saich diz que, se por um lado essas notas são esperáveis, a avaliação baixa (5,8) no Japão é surpreendente. A pesquisa define que existem quatro líderes que têm altos níveis de confiança pela maneira como lidam com questões internas e externas: o chinês Xi Jinping; o russo Vladimir Putin; o indiano Narandra Modi e a alemã Angela Merkel.
Os presidentes Dilma Rousseff, do Brasil, François Hollande, da França, e Jacob Zuma, da África do Sul não inspiram confiança na maneira como lidam com estas matérias.
Mau sinal
O recuo do Ministério do Planejamento com relação à mudança da fórmula para definir o aumento do salário mínimo é um mau sinal. Ou o ministro Nelson Barbosa falou demais, antes do tempo, e mostrou que não tem sensibilidade política, ou a presidente Dilma voltou atrás da autorização que dera para rever a fórmula, que o ministro considera equivocada.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
PARLAMENTARES NÃO DEVEM ESCAPAR
O Conselho de Ética da Câmara já decidiu que deputados podem ser cassados pelo envolvimento no esquema do Petrolão, mesmo que toda a roubalheira tenha acontecido antes do mandato que irão assumir em fevereiro. De acordo com o posicionamento do conselho, ato ilícito que não era conhecido à época da eleição e fere a imagem do Parlamento pode levar à cassação do parlamentar, mesmo em outra Legislatura.
REGRA AGORA É CLARA
A questão foi levantada pelo deputado Miro Teixeira (Pros-RJ) quando Jaqueline Roriz usou essa tática para escapar da cassação, em 2011.
SENADORES TREMEM
Petistas citados no listão, Gleisi Hoffmann, Humberto Costa, Lindbergh Farias e Delcídio Amaral estão no meio do mandato e na linha de tiro.
PMDB IDEM
Renan Calheiros, Edison Lobão, Romero Jucá e Valdir Raupp estão na mesma situação e vão passar o ano desconfiando até das sombras.
TODO COMPROMETIDO
Figuras constantes em delações, Benedito de Lira e Ciro Nogueira não se identificaram quando Youssef disse que só se salvam dois no PP.
FHC É ‘HOMEM DO ANO’
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, hoje aos 83 anos de idade, vai receber o título de “homem do ano” mais de doze anos depois de entregar o poder ao sucessor Luiz Inácio Lula da Silva, em 1º de janeiro de 2003. O título, o mais concorrido do gênero, é concedido em Nova York, todos os anos, pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. A solenidade de entrega será realizada em maio.
ÍCONE TUCANO
O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) não poupa elogios ao amigo FHC: “Ele é o homem do século! Preparou o Brasil para o século 21”.
MAU SINAL
A nota das escolas estaduais de Ensino Médio no Ceará caiu de 3,4 para 3,3 na gestão de Cid Gomes, novo ministro da Educação.
DIVISÃO DA ESQUERDA
Das siglas que integram o Bloco da Esquerda, só o SD apoia Eduardo Cunha ao comando da Câmara. PSB, PPS e PV vão de Júlio Delgado.
BIGODES LUSTRADOS
Considerado exímio nas artes e manhas da corte, o novo chanceler Mauro Vieira, na definição de experiente embaixador, “vai dar lustre aos bigodes oliva do primeiro-ministro Aloizio Mercadante”.
BNDES PEQUENO
Na lista de prioridades do governo em 2014, Caixa e Banco do Brasil colocam a concorrência no chinelo: levaram R$ 125,4 bilhões contra R$ 17 bilhões do BNDES que, na teoria, promove o desenvolvimento.
ONDE MORA O PERIGO
Para o líder do SD, Arthur Maia (BA), as investigações feitas pelos EUA sobre a corrupção na Petrobras oferecem mais riscos de desgaste à presidente Dilma do que a delações premiadas da Operação Lava Jato
ÚLTIMA CARTADA
Depois de fingir que não quer nada, o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), sem mandato para este ano, investiu forte durante a posse de Dilma com conversa ao pé do ouvido. Faltou chorar no ombro
BASE NO RIO
Eduardo Cunha diz que o PMDB não tem operador em esquema na Petrobras. Mas que o lobista Fernando Baiano gera tremeliques no PMDB do Rio, isso nem os próprios deputados são capazes de negar.
NA FILA
Eleito suplente na coligação, o presidente do PV, José Luiz Penna, está na expectativa de assumir mandato caso o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) nomeie mais um deputado federal no secretariado.
#DEVOLVEGILMAR
Já chega a 7,4 mil o número de participantes de evento no Facebook pressionando pelo julgamento de ação que proíbe doação de empresas a campanhas. O ministro Gilmar Mendes (STF) pediu vista há 9 meses.
OLHO VIVO
O Itamaraty afirmou que o Consulado em Zurique acompanha de perto a situação da brasileira Monica Vieira, expulsa da Suíça depois de ficar tetraplégica e passar a dormir na casa do tutor, que mora na Itália.
PENSANDO BEM...
... o susto de Henrique Alves não deve ter sido com os tiros de canhão disparados, mas com a ausência de público na posse de Dilma.
PODER SEM PUDOR
O GATO É BRAVO...
Três dias após renúncia de Jânio Quadros (28 de agosto de 1961), o deputado udenista Adauto Lúcio Cardoso subiu à tribuna para atacar os ministros militares que se opunham à posse do vice João Goulart, que visitava a China. Adauto, adversário de Jango, propôs enquadrar os militares na Lei de Segurança Nacional e por crime de responsabilidade. Seu colega Aliomar Baleeiro (UDN) pediu um aparte para concordar com ele "em gênero, número e grau", mas fez uma pergunta incômoda: - Quem é que vai colocar guizo no gato? Eu é que não vou...
O Conselho de Ética da Câmara já decidiu que deputados podem ser cassados pelo envolvimento no esquema do Petrolão, mesmo que toda a roubalheira tenha acontecido antes do mandato que irão assumir em fevereiro. De acordo com o posicionamento do conselho, ato ilícito que não era conhecido à época da eleição e fere a imagem do Parlamento pode levar à cassação do parlamentar, mesmo em outra Legislatura.
REGRA AGORA É CLARA
A questão foi levantada pelo deputado Miro Teixeira (Pros-RJ) quando Jaqueline Roriz usou essa tática para escapar da cassação, em 2011.
SENADORES TREMEM
Petistas citados no listão, Gleisi Hoffmann, Humberto Costa, Lindbergh Farias e Delcídio Amaral estão no meio do mandato e na linha de tiro.
PMDB IDEM
Renan Calheiros, Edison Lobão, Romero Jucá e Valdir Raupp estão na mesma situação e vão passar o ano desconfiando até das sombras.
TODO COMPROMETIDO
Figuras constantes em delações, Benedito de Lira e Ciro Nogueira não se identificaram quando Youssef disse que só se salvam dois no PP.
FHC É ‘HOMEM DO ANO’
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, hoje aos 83 anos de idade, vai receber o título de “homem do ano” mais de doze anos depois de entregar o poder ao sucessor Luiz Inácio Lula da Silva, em 1º de janeiro de 2003. O título, o mais concorrido do gênero, é concedido em Nova York, todos os anos, pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. A solenidade de entrega será realizada em maio.
ÍCONE TUCANO
O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) não poupa elogios ao amigo FHC: “Ele é o homem do século! Preparou o Brasil para o século 21”.
MAU SINAL
A nota das escolas estaduais de Ensino Médio no Ceará caiu de 3,4 para 3,3 na gestão de Cid Gomes, novo ministro da Educação.
DIVISÃO DA ESQUERDA
Das siglas que integram o Bloco da Esquerda, só o SD apoia Eduardo Cunha ao comando da Câmara. PSB, PPS e PV vão de Júlio Delgado.
BIGODES LUSTRADOS
Considerado exímio nas artes e manhas da corte, o novo chanceler Mauro Vieira, na definição de experiente embaixador, “vai dar lustre aos bigodes oliva do primeiro-ministro Aloizio Mercadante”.
BNDES PEQUENO
Na lista de prioridades do governo em 2014, Caixa e Banco do Brasil colocam a concorrência no chinelo: levaram R$ 125,4 bilhões contra R$ 17 bilhões do BNDES que, na teoria, promove o desenvolvimento.
ONDE MORA O PERIGO
Para o líder do SD, Arthur Maia (BA), as investigações feitas pelos EUA sobre a corrupção na Petrobras oferecem mais riscos de desgaste à presidente Dilma do que a delações premiadas da Operação Lava Jato
ÚLTIMA CARTADA
Depois de fingir que não quer nada, o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), sem mandato para este ano, investiu forte durante a posse de Dilma com conversa ao pé do ouvido. Faltou chorar no ombro
BASE NO RIO
Eduardo Cunha diz que o PMDB não tem operador em esquema na Petrobras. Mas que o lobista Fernando Baiano gera tremeliques no PMDB do Rio, isso nem os próprios deputados são capazes de negar.
NA FILA
Eleito suplente na coligação, o presidente do PV, José Luiz Penna, está na expectativa de assumir mandato caso o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) nomeie mais um deputado federal no secretariado.
#DEVOLVEGILMAR
Já chega a 7,4 mil o número de participantes de evento no Facebook pressionando pelo julgamento de ação que proíbe doação de empresas a campanhas. O ministro Gilmar Mendes (STF) pediu vista há 9 meses.
OLHO VIVO
O Itamaraty afirmou que o Consulado em Zurique acompanha de perto a situação da brasileira Monica Vieira, expulsa da Suíça depois de ficar tetraplégica e passar a dormir na casa do tutor, que mora na Itália.
PENSANDO BEM...
... o susto de Henrique Alves não deve ter sido com os tiros de canhão disparados, mas com a ausência de público na posse de Dilma.
PODER SEM PUDOR
O GATO É BRAVO...
Três dias após renúncia de Jânio Quadros (28 de agosto de 1961), o deputado udenista Adauto Lúcio Cardoso subiu à tribuna para atacar os ministros militares que se opunham à posse do vice João Goulart, que visitava a China. Adauto, adversário de Jango, propôs enquadrar os militares na Lei de Segurança Nacional e por crime de responsabilidade. Seu colega Aliomar Baleeiro (UDN) pediu um aparte para concordar com ele "em gênero, número e grau", mas fez uma pergunta incômoda: - Quem é que vai colocar guizo no gato? Eu é que não vou...
O ano começou com uma boa notícia - ELIO GASPARI
FOLHA DE SP - 04/01
Graça Foster mudou seu jogo nas investigações das petrorroubalheiras, resta saber se é para valer
A melhor notícia de 2015 veio nos últimos dias de 2014: a Petrobras suspendeu novos negócios com as 23 empreiteiras apanhadas na Operação Lava Jato e abriu uma investigação nas contas da Transpetro, da BR Distribuidora e no fundo de pensão Petros. Com quase um ano de atraso, o comissariado partiu para o ataque, se é que partiu. Nesse período, a empresa perdeu 37% do seu valor de mercado e danificou sua credibilidade.
Assim como sucedeu com a seleção brasileira na Copa, a defesa da Petrobras sofreu um apagão. No início de 2014 sabia-se que estourara um escândalo nas suas operações com a companhia holandesa SBM, que lhe alugara sete navios-plataformas. Falava-se de um pagamento de comissões que chegavam a US$ 139 milhões. A doutora Graça Foster poderia ter soado algum alarme. Deu-se o contrário. Uma delegação da empresa foi a Amsterdã e concluiu que nada houvera de errado. Em novembro a SBM foi multada, na Holanda, em US$ 240 milhões pelas propinas que distribuiu mundo afora.
As petrorroubalheiras tinham três vértices: o comissariado, funcionários corruptos e empresas corruptoras. Durante todo o ano o governo e as empresas acreditaram que prevaleceria algum tipo de código de silêncio. O "amigo Paulinho" não contaria o que sabia. Muito menos Alberto Youssef, seu operador financeiro. Empreiteiras? Nem pensar, isso jamais acontecera.
Em março a doutora Graça Foster anunciou que a Petrobras investigaria as roubalheiras e "não ficará pedra sobre pedra". Parolagem. A essa época a Polícia Federal e o Ministério Público já puxavam os fios da meada das roubalheiras e, paralelamente, sabia-se que o fundo Petros fechara 2013 com um rombo de R$ 7 bilhões, corrigido para R$ 2,8 bilhões. O comissariado e as empreiteiras acreditavam que ninguém desafiaria seus poderes e seria possível conter as denúncias brandindo-se o santo nome da Petrobras. Lula chegou a marcar um fracassado ato público em frente à sede da empresa. A casa começou a cair em agosto, quando o "amigo Paulinho" passou a colaborar com as investigações. Num de seus depoimentos, ele mencionou uma propina de US$ 23 milhões da empreiteira Odebrecht. Foi rebatido pelo presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, que classificou a afirmação como "denúncia vazia de um criminoso confesso". O ano terminou com pelo menos nove "criminosos confessos" entre os quais, pela primeira vez, havia uma empreiteira, a Toyo Setal.
Documentos apreendidos pela polícia revelaram a estratégia de defesa dos envolvidos. Tratava-se de conseguir um acordo com o Ministério Público e de tirar o processo das mãos do juiz Sergio Moro. Afinal, mexer com as empreiteiras significaria "parar o país". Um escritório fixou seus honorários em R$ 2 milhões, mais R$ 1,5 milhão caso o estratagema fosse bem-sucedido. Como no fatídico jogo do Brasil contra a Alemanha, deu tudo errado.
A doutora Dilma disse que a Petrobras "já vinha passando por um aprimoramento de gestão". Cadê? Durante todo esse tempo o governo e a Petrobras foram agentes passivos da crise. Paulinho, Youssef e Pedro Barusco, um felizardo do segundo escalão que entesourara R$ 252 milhões, eram velhos conhecidos da rede petista, mas fazia-se de conta que eram marcianos. Durante quase um ano as poucas iniciativas tomadas pela Petrobras foram provocadas por fatores externos, sobretudo depois da abertura da investigações e processos nos Estados Unidos.
A decisão de Graça Foster ao final do ano passado pode significar uma mudança de comportamento. Em vez de jogar com uma defesa bichada, a empresa partiria para o ataque contra as roubalheiras. A entrada do fundo Petros no elenco pode ser um sinal disso, desde que se coloque mercadoria na vitrine. A doutora Dilma disse que vai "investigar a fundo, doa a quem doer". Dor mesmo, seu governo só deu aos acionistas da empresa, que perderam uma parte de seus investimentos. Ela assumiu seu segundo mandato dizendo que é preciso defender a Petrobras dos "inimigos externos". Doze anos de poder petista mostraram que Lula e ela cevaram "predadores internos".
LEI DA ANISTIA
Foram para o fundo do mar as possibilidades de qualquer revisão da Lei da Anistia.
As chances de que o Supremo Tribunal Federal mexesse na questão eram quase nulas, mas uma discreta movimentação dos comandantes militares, somada ao desinteresse do Planalto, tornaram-nas inexistentes.
O EFEITO MARTA
Quando a doutora Dilma resolveu colocar Juca Ferreira no Ministério da Cultura sabia exatamente o tamanho da encrenca que compraria com a senadora Marta Suplicy.
É enorme.
TUCANOS PRUDENTES
Um pedaço do PSDB já fez saber ao PT que não gosta da ideia de apoiar o deputado Eduardo Cunha para a presidência da Câmara.
Se as coisas continuarem como estão, Cunha deverá sua eventual escolha ao comando político do Planalto, ou à falta de comando político no Planalto.
PAPA FRANCISCO
O papa Francisco anunciou que em fevereiro sagrará novos cardeais e a qualquer momento, a partir de hoje, o Vaticano poderá divulgar seus nomes. Bergoglio é argentino, mas, se Deus é brasileiro, preencherá as sés cardinalícias de Salvador e de Brasília.
SYLVESTER STALIN
O filme "A Entrevista", que causou uma crise entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, não chega a ser uma esquadra inglesa, mas é divertido. Tem uma ótima piada, sinal dos tempos.
Quando o ditador Kim Jong-un diz ao jornalista David Skylark que o tanque de guerra guardado na sua coleção de automóveis foi "um presente de Stalin" ao seu pai, o americano corrige:
"Nós pronunciamos Stallone."
O ÚLTIMO PALANQUE DA DOUTORA
Tomara que os dois discursos de Dilma Rousseff durante as cerimônias de sua posse tenham sido os últimos lances de uma campanha eleitoral que acabou no ano passado. Se não fossem tão longos e defensivos, poderiam ser atribuídos ao marqueteiro João Santana. Prova da sua falta de assunto foi a enésima defesa de uma reforma política. (Há um projeto no Congresso, cuja discussão é obstruída pelo PT.) "Pátria Educadora" é um slogan, ruim, que parece ter saído dos versos oitocentistas do Hino Nacional.
O comissariado acusa a oposição de não ter saído do palanque. Viu-se em Brasília que quem não quer deixá-lo é o governo. Repetindo o Lula de 2003, apropriou-se da agenda econômica dos tucanos, no que pode ter feito bem. Quem falou aos brasileiros como presidente da República foi a representante de uma facção, porta voz dos "nossos governos" (o dela e o de Lula).
Tudo bem, mas a partir de amanhã ela e seus 39 ministros terão um serviço para tocar.
Graça Foster mudou seu jogo nas investigações das petrorroubalheiras, resta saber se é para valer
A melhor notícia de 2015 veio nos últimos dias de 2014: a Petrobras suspendeu novos negócios com as 23 empreiteiras apanhadas na Operação Lava Jato e abriu uma investigação nas contas da Transpetro, da BR Distribuidora e no fundo de pensão Petros. Com quase um ano de atraso, o comissariado partiu para o ataque, se é que partiu. Nesse período, a empresa perdeu 37% do seu valor de mercado e danificou sua credibilidade.
Assim como sucedeu com a seleção brasileira na Copa, a defesa da Petrobras sofreu um apagão. No início de 2014 sabia-se que estourara um escândalo nas suas operações com a companhia holandesa SBM, que lhe alugara sete navios-plataformas. Falava-se de um pagamento de comissões que chegavam a US$ 139 milhões. A doutora Graça Foster poderia ter soado algum alarme. Deu-se o contrário. Uma delegação da empresa foi a Amsterdã e concluiu que nada houvera de errado. Em novembro a SBM foi multada, na Holanda, em US$ 240 milhões pelas propinas que distribuiu mundo afora.
As petrorroubalheiras tinham três vértices: o comissariado, funcionários corruptos e empresas corruptoras. Durante todo o ano o governo e as empresas acreditaram que prevaleceria algum tipo de código de silêncio. O "amigo Paulinho" não contaria o que sabia. Muito menos Alberto Youssef, seu operador financeiro. Empreiteiras? Nem pensar, isso jamais acontecera.
Em março a doutora Graça Foster anunciou que a Petrobras investigaria as roubalheiras e "não ficará pedra sobre pedra". Parolagem. A essa época a Polícia Federal e o Ministério Público já puxavam os fios da meada das roubalheiras e, paralelamente, sabia-se que o fundo Petros fechara 2013 com um rombo de R$ 7 bilhões, corrigido para R$ 2,8 bilhões. O comissariado e as empreiteiras acreditavam que ninguém desafiaria seus poderes e seria possível conter as denúncias brandindo-se o santo nome da Petrobras. Lula chegou a marcar um fracassado ato público em frente à sede da empresa. A casa começou a cair em agosto, quando o "amigo Paulinho" passou a colaborar com as investigações. Num de seus depoimentos, ele mencionou uma propina de US$ 23 milhões da empreiteira Odebrecht. Foi rebatido pelo presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, que classificou a afirmação como "denúncia vazia de um criminoso confesso". O ano terminou com pelo menos nove "criminosos confessos" entre os quais, pela primeira vez, havia uma empreiteira, a Toyo Setal.
Documentos apreendidos pela polícia revelaram a estratégia de defesa dos envolvidos. Tratava-se de conseguir um acordo com o Ministério Público e de tirar o processo das mãos do juiz Sergio Moro. Afinal, mexer com as empreiteiras significaria "parar o país". Um escritório fixou seus honorários em R$ 2 milhões, mais R$ 1,5 milhão caso o estratagema fosse bem-sucedido. Como no fatídico jogo do Brasil contra a Alemanha, deu tudo errado.
A doutora Dilma disse que a Petrobras "já vinha passando por um aprimoramento de gestão". Cadê? Durante todo esse tempo o governo e a Petrobras foram agentes passivos da crise. Paulinho, Youssef e Pedro Barusco, um felizardo do segundo escalão que entesourara R$ 252 milhões, eram velhos conhecidos da rede petista, mas fazia-se de conta que eram marcianos. Durante quase um ano as poucas iniciativas tomadas pela Petrobras foram provocadas por fatores externos, sobretudo depois da abertura da investigações e processos nos Estados Unidos.
A decisão de Graça Foster ao final do ano passado pode significar uma mudança de comportamento. Em vez de jogar com uma defesa bichada, a empresa partiria para o ataque contra as roubalheiras. A entrada do fundo Petros no elenco pode ser um sinal disso, desde que se coloque mercadoria na vitrine. A doutora Dilma disse que vai "investigar a fundo, doa a quem doer". Dor mesmo, seu governo só deu aos acionistas da empresa, que perderam uma parte de seus investimentos. Ela assumiu seu segundo mandato dizendo que é preciso defender a Petrobras dos "inimigos externos". Doze anos de poder petista mostraram que Lula e ela cevaram "predadores internos".
LEI DA ANISTIA
Foram para o fundo do mar as possibilidades de qualquer revisão da Lei da Anistia.
As chances de que o Supremo Tribunal Federal mexesse na questão eram quase nulas, mas uma discreta movimentação dos comandantes militares, somada ao desinteresse do Planalto, tornaram-nas inexistentes.
O EFEITO MARTA
Quando a doutora Dilma resolveu colocar Juca Ferreira no Ministério da Cultura sabia exatamente o tamanho da encrenca que compraria com a senadora Marta Suplicy.
É enorme.
TUCANOS PRUDENTES
Um pedaço do PSDB já fez saber ao PT que não gosta da ideia de apoiar o deputado Eduardo Cunha para a presidência da Câmara.
Se as coisas continuarem como estão, Cunha deverá sua eventual escolha ao comando político do Planalto, ou à falta de comando político no Planalto.
PAPA FRANCISCO
O papa Francisco anunciou que em fevereiro sagrará novos cardeais e a qualquer momento, a partir de hoje, o Vaticano poderá divulgar seus nomes. Bergoglio é argentino, mas, se Deus é brasileiro, preencherá as sés cardinalícias de Salvador e de Brasília.
SYLVESTER STALIN
O filme "A Entrevista", que causou uma crise entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, não chega a ser uma esquadra inglesa, mas é divertido. Tem uma ótima piada, sinal dos tempos.
Quando o ditador Kim Jong-un diz ao jornalista David Skylark que o tanque de guerra guardado na sua coleção de automóveis foi "um presente de Stalin" ao seu pai, o americano corrige:
"Nós pronunciamos Stallone."
O ÚLTIMO PALANQUE DA DOUTORA
Tomara que os dois discursos de Dilma Rousseff durante as cerimônias de sua posse tenham sido os últimos lances de uma campanha eleitoral que acabou no ano passado. Se não fossem tão longos e defensivos, poderiam ser atribuídos ao marqueteiro João Santana. Prova da sua falta de assunto foi a enésima defesa de uma reforma política. (Há um projeto no Congresso, cuja discussão é obstruída pelo PT.) "Pátria Educadora" é um slogan, ruim, que parece ter saído dos versos oitocentistas do Hino Nacional.
O comissariado acusa a oposição de não ter saído do palanque. Viu-se em Brasília que quem não quer deixá-lo é o governo. Repetindo o Lula de 2003, apropriou-se da agenda econômica dos tucanos, no que pode ter feito bem. Quem falou aos brasileiros como presidente da República foi a representante de uma facção, porta voz dos "nossos governos" (o dela e o de Lula).
Tudo bem, mas a partir de amanhã ela e seus 39 ministros terão um serviço para tocar.
Assinar:
Postagens (Atom)