terça-feira, dezembro 20, 2011

Um país se faz... - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 20/12/11


Dilma vai lançar em janeiro, depois das férias na Bahia, o Programa do Livro Popular.
A Biblioteca Nacional já trabalha no projeto. Até a semana passada, já havia catalogado no programa cerca de 4.700 livros com preços até R$10. Sexta, em audiência pública com editoras, livrarias e distribuidoras, apresentou os editais.

Dilma vai a Obama
Martelo batido. Dia 15 de março, Dilma desembarca em Washington para encontro oficial com Obama.

Cimento e tijolo
A Odebrecht superou em 2011 a marca de 160 mil funcionários de 63 nacionalidades diferentes. Saiu de 118 mil.
Ao longo do ano, a empresa contratou uma média de 3 mil trabalhadores por mês, impulsionada por seus negócios no Brasil e pelo crescimento de sua internacionalização.

Pirarucu de gringo
O ministro Luiz Sérgio, da Pesca, assina amanhã documento que legaliza a criação do pirarucu em cativeiro e possibilita, pela primeira vez, sua exportação.
Importadores de Japão, França e Alemanha esperavam há tempos autorização para comprar o peixão brasileiro, considerado o “bacalhau da Amazônia”.

Pancada na Rocinha
A Rocinha será ringue do Jungle Fight, maior evento de MMA da América Latina, que reunirá grandes nomes do esporte e amadores da comunidade interessados em apanhar, perdão, em lutar.
Será dia 21 de janeiro. 

A volta de Agnaldo
O MinC autorizou Agnaldo Rayol, 73 anos, o grande cantor de sucessos românticos como “A praia” e “A noiva”, a captar R$ 1,2 milhão pela Lei Rouanet.
Agnaldo, que trabalhou também como ator e apresentador, vai produzir um CD e um DVD.

O CÉU DO RIO tem dado espetáculo nestes dias de fim de primavera que alternam sol e chuva. Veja estes dois postais capturados pelos leitores Eduardo Franzotti (depois do temporal de sábado)e Ricardo Bins Livi (logo após a chuvarada de sexta). Eduardo estava em São Francisco, Niterói — — de onde (diz uma máxima) se tem a melhor vista do Rio. Ricardo fez sua foto do alto do Corte do Cantagalo 

Memórias de Cacá
Cacá Diegues, 71 anos, está escrevendo suas memórias “intelectuais, artísticas, políticas e pessoais”. O título provisório é “Romance do Cinema Novo”.
Sai em 2012 pela Objetiva. O cineasta centra o texto naquele movimento revolucionário do cinema brasileiro, em sua convivência com os colegas e no momento político dos anos 1960.

Memórias de Judt...
A Objetiva também vai lançar em 2012 “O refúgio da memória”, que o inglês Tony Judt concluiu três meses antes de morrer, em 2010, vítima de esclerose lateral amiotrófica (ELA).
No livro, o historiador lembra as revoltas estudantis de 1968, em Paris, e as divergentes políticas sexuais da Europa.

Quintana eterno...
Outra aposta para 2012, pelo selo Alfaguara, é o relançamento da obra de Mário Quintana:
Serão cinco títulos — um deles, uma compilação inédita.

Meu, seu, nosso
O MP do Rio entregou à Justiça ação em que pede a condenação de 12 agentes públicos de Magé, RJ, por “improbidade administrativa e abuso de poder político”.
Entre os acusados, o ex-prefeito Anderson Cozzolino, vereadores, secretários e servidores.

Encostas do Rio
Sai hoje no DO da prefeitura: a GeoRio abrirá licitação para obras de contenção de encostas no Parque Nacional da Tijuca e em 11 pontos da cidade nas zonas Norte e Oeste.
O investimento, de uns R$ 52 milhões, vem do PAC 2.

Pega ladrão
Stephen Bocskay, brasilianista americano, namorado da atriz Giulia Gam, desembarcou domingo no Galeão, às 10h05m, de um voo da Delta, e... surpresa.
Sua mala chegou cortada, provavelmente por faca, sem seu anel de formatura. Stephen vai cobrar o preju na Justiça.

As terras de Eike
Outro dia, Eike Sempre Ele Batista foi surpreendido por um grupo, em Campos, RJ, no restaurante Picadily.
Era uma turma de São João da Barra que chiava de desapropriações em favor de empreendimento do empresário.

Fugiro Nakombi
Um parceiro da coluna é testemunha ocular da história.
Dias atrás, o prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira, não conseguiu jantar num restaurante japonês da Região Oceânica de sua cidade. Muito vaiado, teve de sair para, digamos, não virar sushi.

FÃ DE XUXA desde, digamos, “baixinho”, Thiago Abravanel, o neto de Sílvio Santos que brilha como Tim Maia no teatro, recebe, cheio de emoção, a apresentadora nos bastidores do Casa Grande

JÚLIA LEMMERTZ e Sophie Charlotte, as queridas atrizes, posam num intervalo das gravações de “Fina estampa”, a novela da TV Globo, no Projac

PONTO FINAL
Gente malvada espalha na internet que nosso talentoso ator Pedro Cardoso e a francesa Christine Lagarde, diretora do FMI, são a mesma pessoa disfarçada de Agostinho, da “Grande família”. A coluna esclarece que é mentira. Com todo o respeito.

Entre a pirataria e a liberdade - PEDRO DORIA

O GLOBO - 20/12/11

A Câmara dos Deputados americana vota amanhã um projeto de lei que atende pela sigla SOPA. É o Ato para Encerrar Pirataria On-line; ao menos, aquela pirataria que ocorre dentro das fronteiras do país. Para seus críticos, é uma lei radical que ameaça transformar a internet nos EUA tão livre quanto a da China.

Se aprovada na Câmara e no Senado e o presidente Barack Obama sancionar, SOPA dará poderes sem precedentes à Justiça. Um mandado judicial simples pode bloquear por completo acesso a determinados sites. Os provedores de acesso à rede serão obrigados a fazer tal bloqueio, o Google será responsabilizado por retirar os links de sua busca, empresas de pagamento on-line como PayPal e mesmo tradicionais, como Visa, serão proibidas de transferir dinheiro para os acusados.

Um mandado com tanto poder assim não precisa de muito para ser emitido. Basta que pessoa ou empresa acuse um determinado site de distribuir conteúdo ilegal. Pode ser uma faixa de música, pode ser a venda de remédios estrangeiros.

Não é tão simples do ponto de vista técnico. Para que um site seja bloqueado, é preciso interferir nos DNSs, grandes servidores que servem de mapa da rede. Quando o leitor digita oglobo.com.br em seu browser, a internet consulta um DNS para saber a que endereço numérico corresponde o domínio. Alterar o DNS, bloquear domínios inteiros, é coisa que só países como a China faziam.

Talvez não baste. Como a lei aumenta o escrutínio sobre o download ilegal e obriga provedores de acesso a monitorarem esse tipo de tráfego, será preciso entender o que cada usuário americano está fazendo on-line. Só há um jeito: inspecionar a natureza dos pacotes sendo trocados. Sem tecniquês explica-se mais fácil. Ver o que cada um está baixando para seu computador. Não é só violar privacidade. É, tecnicamente, um esforço gigantesco. Talvez até impossível do ponto de vista prático. Nem todos os provedores de acesso têm a estrutura para essa vigília.

Não é a primeira vez que a indústria cultural se mobiliza para tentar bloquear a pirataria nos EUA, alterando como a rede funciona. Mas nunca chegaram tão perto. Nenhum analista político é capaz de dizer se SOPA passa ou não. Há deputados de ambos os partidos empenhados em sua aprovação. Assim como também há deputados republicanos e democratas horrorizados com a possibilidade. Os lobbies são fortes. De um lado está Hollywood, as gravadoras e as farmacêuticas. Do outro, toda a indústria da tecnologia. De Apple a Google, passando por Microsoft e Yahoo!, quem vive da internet luta contra.

As farmacêuticas entraram no pacote por causa da maneira como cobram por medicamentos. Nos EUA, remédio é muito mais caro que no Canadá. Sempre foi, mas o consumidor não sabia. Paga-se mais porque a indústria sabe que os seguros-saúde bancam o custo alto. É praxe adequar o preço ao país onde se vende (o mesmo ocorre com DVDs). Uma indústria paralela se formou on-line para exportar remédios do Canadá para os EUA, e um público de aposentados sem saúde pública usa o serviço. Às vezes, o remédio é original, fabricado pela mesma empresa. Mas a compra é ilegal. Também esses se interessam pelo pedaço da lei que proíbe repasses de dinheiro a sites piratas.

Se SOPA passar, os americanos que vivem na internet logo descobrirão que burlar não é difícil. Basta contratar um serviço chamado VPN, custa uns US$50 por ano. Ele é como um portal que transfere sua conexão de país. Faz parecer que seu computador está conectado à internet na Europa. Ou no Brasil. Um país onde não há restrição de uso à rede. É uma lei que altera por completo a maneira de a internet funcionar, é sujeita a abusos, complicada de se implementar tecnicamente e simples que só de burlar.

Mas há um risco. Os EUA servem de exemplo para o mundo quando o assunto é internet. Se uma lei assim passa lá, ela pode se espalhar. Com a intenção de proteger propriedade intelectual, fratura a espinha livre da internet.

PAPAI NOEL EM BRASÍLIA


"Educação Ambiental" é outra coisa - ROSELY SAYÃO


FOLHA DE SP - 20/12/11
Não são as crianças que devem cuidar da natureza e sim nós, adultos, para garantir a elas um bom futuro
As regras têm feito o maior sucesso neste nosso tempo, não é verdade?

Esse fato é mais uma evidência de que vivemos em um mundo infantilizado.

Criança pequena necessita de regras porque ainda não consegue compreender princípios. Mas, à medida que ela vai crescendo, precisa aprender os princípios que regem a vida, para que as regras se tornem desnecessárias ou sejam utilizadas com autonomia e liberdade.

Um bom exemplo são os cuidados com a saúde que precisamos ensinar aos menores, o que demonstra o amor à vida.

Inicialmente, os pais estabelecem regras: escovar os dentes após as refeições, tomar banho diariamente, lavar as mãos antes de se alimentar etc.

Entretanto, se essas regras iniciais não se transformarem em algum princípio -no caso, o autocuidado, que expressa respeito consigo mesmo-, logo elas podem ser descartadas.

Seguindo esse exemplo, temos várias pistas de que nós não estamos alcançando muito êxito com esses ensinamentos.

Na adolescência, época em que transgredir as regras é usual, não observamos muitos indícios de que os jovens aprenderam a amar a vida e a se respeitar, não é verdade?

Pois não podia ser diferente, portanto, com a educação ambiental.

Crianças precisam aprender desde cedo a amar a natureza e a entender o relacionamento do ser humano com ela. E a melhor maneira de começar esse processo é colocar a criança em contato com a natureza para que ela possa interagir, descobrir e reconstruir as relações entre natureza e cultura.

Com esse estilo de vida urbano que nós escolhemos, mesmo em cidades pequenas, é muito difícil haver espaço para que ocorra de verdade esse relacionamento entre criança e natureza.

As escolas de educação infantil, por exemplo, por pressão social e por convicção, são construídas para que o aluno fique muito tempo na sala e tenha pouco contato com a natureza.

E tem mais: como adoramos as regras, temos ensinado uma porção delas às crianças, na tentativa de praticar o que chamamos de "educação ambiental".

Não deixar a torneira aberta, não jogar lixo em local inadequado, separar o lixo, apagar as luzes quando elas não forem usadas etc.

Mas o que proporcionamos aos menores em relação a experiências que podem se transformar em conhecimento sobre a água, a eletricidade, a terra, o lixo etc.?

Quase nada.

O que resta às crianças, então, a não ser se apropriar das regras ensinadas?
E elas têm feito isso de uma maneira exemplar: invertendo a relação de autoridade com os adultos.
Transformaram-se em "fiscais da natureza" principalmente em casa, com pais e familiares, e em todos os lugares onde encontram espaço para tanto.

Isso não significa que as crianças estejam se apropriando dos princípios do respeito a si, ao outro e à vida. Não! Aprenderam algumas regras e as usam -apenas isso. Uma escuta atenta dessas crianças evidencia rapidamente isso.

O mais curioso é perceber quantos pais se orgulham do que os filhos fazem nesse sentido, tanto quanto escrever precocemente, por exemplo.

Não faz sentido achar bom a criança perder o seu lugar de criança e a sua infância.

Nós que devemos cuidar do ambiente para que nossas crianças tenham um bom futuro, não é verdade?
(Estarei em férias nas próximas edições. Desejo boas-festas e uma saudável convivência familiar neste fim de ano a você, leitor, e sua família. E agradeço a companhia durante todo este ano. Até breve!)

Lenço de pano - FABRÍCIO CARPINEJAR


ZERO HORA - 20/12/11
Minha infância já foi inteiramente de pano: as fraldas, os cueiros, os guardanapos, tudo se sujava e se lavava. Nada era descartável.

O uniforme escolar incluía um lenço branco, guardado no bolso do abrigo.

Mesmo quando a merendeira se transformou numa mochila de três quilos de cadernos e livros, permanecia transportando o paninho branco para prevenir espirros e coriza (o Kleenex custava caro, e seu uso se restringia a consultórios médicos).

O lenço representava um item obrigatório durante o dia. Formava um sinal de educação assim como repartir os cabelos ao meio com brilhantina e nunca cansar de dizer “por favor”, “com licença” e “obrigado”.

Antes de sair, a mãe me lembrava de levar o lenço mais do que o casaco. O objeto dividia a gaveta com as cuecas e as meias. Sem ele, ficaria nu socialmente.

Dobrei muita gripe em seus quadrados, livrei-me de vários constrangimentos em seus vincos.

Lenço não se emprestava a irmão ou ao colega. Poderia ser oferecido num ato de gentileza e socorro, mas nunca emprestado. Havia nele uma exclusividade de escova de dente. Participava do enxoval de amadurecimento, ao lado da toalha de banho e de rosto. Para não ser extraviado, trazia as iniciais do dono.

O simpático adereço com rendas nas bordas atravessava todas as idades. Atendia, ao mesmo tempo, à higiene das crianças e à aparência dos adultos. Dos fundilhos da calça subia o andar da roupa e se instalava no bolso do paletó como sinônimo de elegância.

Um autêntico cavalheiro não andaria na rua sem o buquê de linho na lapela. Ajudava a secar o suor do rosto, e consistia numa potente arma de sedução: sacado na hora H para conter as lágrimas das mulheres e evitar o borrão da pintura. Bastava ceder o lenço, que a dama suspirava. Em contrapartida, a mulher conservava um lenço de reserva na bolsa para limpar o sangramento masculino da boca, quando o sujeito se engalfinhava com concorrentes por amor a uma musa.

Fui procurar um lenço movido por nostalgia, para dar aos meus filhos. Devassei as lojas e feiras de artesanato e não achei o produto. Tinha que explicar ainda. Explicar nos envelhece.

– Tem lenço?

– Lenço?

– De pano, de nariz, de enxugar a testa?

– Ah, sim, isso é muito antigo, não tem não.

Não se vendem mais lenços em Porto Alegre.

Não verei de novo aquela cena portuária das pessoas se despedindo com as pequenas bandeiras brancas.

Lenço nos ensinava a acenar. Era o professor da despedida. O professor de nossa saudade.

Adeus, lenço!

Dinastias de tiranos - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 20/12/11
SÃO PAULO - Kim Jong-un, ao que tudo indica, sucederá ao pai, Kim Jong-il, que foi precedido por Kim Il-sung, avô do futuro ditador. Essa genealogia consagra a Coreia do Norte como única República comunista hereditária do planeta e oferece uma boa oportunidade para refletir sobre os motores da história.
Um pouco por culpa da tradição marxista, um pouco pela obsessão de nossos cérebros com a ideia de causalidade, gostamos de pensar que a história é determinada quase exclusivamente por forças impessoais e irresistíveis, como as relações econômicas e o desenvolvimento tecnológico. Essa visão dá pouco ou nenhum espaço para o acaso e para arroubos mais humanos, como a personalidade ou os gostos desse ou daquele líder.

Nesse esquema, manias e pendores de tiranos, como o canibalismo de Bokassa ou fraco de Kim Jong-il por sexo e conhaque, entram imediatamente para a galeria das excentricidades de déspotas, à qual não atribuímos grande valor explicativo.

O fato, contudo, é que na história, como em qualquer outro sistema complexo e caótico, detalhes que parecem menores ou até insignificantes podem fazer muita diferença.

Como observa Pinker, características psicológicas de apenas três pessoas -Hitler, Stálin e Mao- são parte da explicação para 120 milhões de mortes (excluídos os óbitos em batalhas) no século 20. Bem atrás deles vem um segundo pelotão de tiranos, que inclui os dois Kims mais velhos, Bokassa, Pol Pot, Saddam, Mobutu, Gaddafi, Idi Amin, Mugabe.

Em comum, todos tinham, além do fato de abraçarem de corpo e alma sua ideologia, um elevadíssimo senso de autoestima, que se traduz em grandiosidade, necessidade de ser admirados e pouca empatia, características de personalidades narcisísticas, psicopáticas ou "borderline", que são em boa parte hereditárias, o que ajuda a entender a saga dos Kims e outras dinastias tirânicas.

A sombra eterna do Exército paquistanês - ERIC SCHMITT & SALMAN MASOOD


O ESTADÃO - 20/12/11

Um tenso confronto entre o poderoso Exército do Paquistão e seu sitiado governo civil fez o presidente Asif Ali Zardari voltar às pressas ao Paquistão, após semanas de crescentes preocupações de que os militares estariam agindo para fortalecer seu papel na governança do país.

Fomentada pelo Exército,uma audiência da Suprema Corte paquistanesa marcada para começar na segunda- feira investigará se o governo de Zardari esteve por trás de um memorando não assinado que apareceu em outubro, supostamente pedindo ao governo de Barack Obama que ajudasse a conter a influência militar e evitar um possível golpe na esteira do ataque americano que matou Osama bin Laden em maio.

O caso elevou as tensões entre os militares do Paquistão e seus líderes civis ao nível mais alto desde que Zardari foi eleito, há três anos. E poderá complicar também os esforços dos EUA para tirar da crise suas relações com o Paquistão após a incursão contra Bin Laden e os bombardeios americanos que,no mês passado, deixaram 26 paquistaneses mortos na fronteira com o Afeganistão.

Esse período corrosivo de disputas também fortaleceu a influência dos militares nos assuntos do país.

"Os líderes militares e civis estão em rota de colisão", disse Talat Masood, um analista político e general reformado.

Pouco depois de o memorando vir a público, o Exército pediu ao governo que investigasse as alegações de que ele fora orquestrado por Husain Haqqani, então embaixador do Paquistão nos EUA e um aliado de Zardari - acusação que Haqqani negou quando foi chamado de seu posto.

Parlamentares de oposição juntaram- se ao coro que pedia ação, e registros de mensagens que pareciam implicar o embaixador foram vazados para a mídia.

O governo civil nega ter algo a ver comomemorando e advertiu que o Parlamento, a mídia, a sociedade civil e a comunidade internacional não tolerariam uma ditadura militar no Paquistão.

Mas, na semana passada, o general Ashfaq Parvez Kayani, comandante do Exército paquistanês,pediu à Suprema Corte que investigue o polêmico memorando e suas origens, dizendo que ele "tentou sem sucesso baixar o moral do Exército paquistanês".

Contribuiu para o drama político a ausência de Zardari, de 56 anos, que deixou o país inesperadamente no dia 6 para tratamento médico e estava se recuperando, em sua casa em Dubai, do que seu médico descreveu com o sintomas de um derrame leve. Associados de Zardari disseram que ele voltou a Karachi para enfrentar as alegações, mas isso seria uma medida politicamente perigosa, e alguns analistas paquistaneses questionaram se autoridades civis haviam concedido secretamente aos militares uma influência mais ampla sobre os assuntos do país, além da política de segurança nacional e externa.

Memogate. A Suprema Corte começou a ouvir os argumentos de advogados de ambos os lados e poderá decidir pelo engavetamento do casos e o considerar sem mérito. Mas é mais provável que o tribunal nomeie uma comissão especial para investigar o que a mídia noticiosa aqui apelidou de Memogate, um processo que poderá durar meses, infligindo mais sofrimentos políticos a Zardari.

A desgastada relação dos militares paquistaneses comos EUA também pode estar contribuindo para a mudança entre militares e governo civil aqui, dando aos generais uma maior liberdade para ampliar seu papel na gestão dos assuntos do Paquistão além da política de segurança nacional e externa, mesmo que por trás dos panos.

"Os militares veemos ataques aéreos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) como a oportunidade de um réplica depois da desmoralização no ataque a Bin Laden", disse Ali Dayan Hasan, diretor daHumanRights Watch no Paquistão.

"Mas eles também estão explorando o genuíno ódio e ressentimento público contra os americanos, e isso está restringindo a margem de manobra do governo Zardari e expandindo a influência que os militares já têm." As posições conflitantes levadas à Suprema Corte evidenciaram as profundas tensões entre civis e militares que cozinhavam desde que Zardari tomou posse, em setembro de 2008, uma ascensão acidental de um homem mais conhecido como embusteiro do que como um líder. Após o assassinato de sua mulher, Benazir Bhutto, em dezembro de 2007, o governo de George W. Bush deu seu apoio relutante a Zardari e sua promessa de ser um parceiro fiel no combate ao terrorismo.

Não demorou para Zardari desentender- se com os militares,conforme revelaram telegramas diplomáticos tornados públicos no ano passado pelo site do WikiLeaks, a organização que divulga documentos secretos.

Zardari, que passou 11 anos na prisão por acusações de corrupção ao final não comprovadas, temia por seu cargo e talvez por sua vida.Em um telegrama, o vice-presidente americano Joe Biden disse ao então premiê britânico, Gordon Brown, emmarçode2009,que Zardari lhe dissera que o "diretor da ISI e Kayani me destituirão". A ISI é a agência mais poderosa do serviço secreto paquistanês.

As suspeitas de Zardari não eram infundadas.

Em outro telegrama, Kayani disse à embaixadora americana na época, Anne Patterson, que ele "poderia, embora com relutância", pressionar Zardari a renunciar e sair do Paquistão.

Nos seus 64 anos de história, o Paquistão presenciou vários golpes do Exército e ingerência dos militares.

Mas a maioria dos analistas paquistaneses e diplomatas ocidentais considera improvável um golpe militar neste momento.

Os generais, por mais frustrados que estejam como que veem como um governo civil corrupto e incompetente, não têm nenhuma petite de assumir o controle do país numa época de economia em declínio, severa escassez de energia e extremismo crescente, segundo esses comentadores.

Desmentidos. Após uma incomum reunião de três horas, na sexta-feira à noite, com Kayani, o premiê paquistanês, Yousef Raza Gilani, desmentiu os relatos sobre um desentendimento com os generais. Mas analistas e algumas autoridades públicas disseram que a divisão entre os militares e o governo civil provavelmente se alargaria nos próximos dias.

Os militares já conseguiram destituir Haqqani, que foi obrigado a renunciar como embaixador em 22 de novembro após acusações de um empresário americano-paquistanês, Mansoor Ijaz, de que Haqqani havia idealizado o memorando, acusação que ele nega veementemente. O almirante Mike Muller, então comandante do Estado-maior Conjunto, admitiu ter recebido o memorando, mas disse que o ignorou por ser pouco crível.

Algumas autoridades paquistanesas e ocidentais disseram, na semana passada, que se Zardari retornasse, poderia ser somente para uma breve aparição no quarto aniversário da morte de Benazir. Na manhã de ontem,nem Zardari nem seus assessores indicaram quanto tempo ele permanecerá no país.
TRADUÇÃO DECELSO PACIORNIK

GOSTOSA


O pedaço ruim - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 20/12/11

A opinião pública , obviamente, repudia e pune episódios de desonestidade e safadeza em geral. E todo governo que se preza repudia e pune episódios de desonestidade e safadeza em geral. Não duvidem, existem aqueles que não se prezam, mas isso só acontece nas chamadas republiquetas, e o Brasil - que, pelo menos aos nossos olhos patrióticos, é uma republicona - vamos dizer que não está nesse caso.

Por aí pode parecer que nada teve de surpreendente na afirmação da presidente Dilma Rousseff de que em seu governo existe tolerância zero "com qualquer prática inadequada , de malfeito e de corrupção".

Governantes de nações como Noruega e Finlândia - países sem folha corrida de desonestidade governamental, possivelmente porque nas vizinhanças do Círculo Polar Ártico o frio inibe os esforços físicos indispensáveis à ladroagem - parecem imunes a escândalos nas altas esferas do poder político e administrativo. Não costumam perder tempo alegando "tolerâncias zero" a respeito. Nos trópicos, pelo visto e ouvido, é diferente: sem anúncios da tal tolerância, Dilma se considerava em risco de ter a sua administração comparada com, sei lá, para citar só um exemplo, o governo Collor.

Para quem chegou agora, o hoje respeitado senador Fernando Collor foi o primeiro e único presidente brasileiro a renunciar ao mandato para fugir a uma inevitável cassação por uma quantidade extraordinária de delitos. Hoje, finge que não tem folha corrida.

Depois de Collor, tornou-se mais evidente e importante para chefes do Governo parecerem honestos, tanto quanto serem honestos. Pode parecer redundante, mas pode-se desconfiar que não é.

Em seu último pronunciamento, Dilma afirmou que em seu governo há tolerância zero com bandidagens em geral. É boa notícia, em parte: o pedaço ruim é a necessidade de dizê-lo.

Reajustes do barulho - DENISE ROTHENBURG



Correio Braziliense - 20/12/11


Antes do envio do Orçamento, os chefes dos Três Poderes costumavam se sentar à mesa para discutir o que seria possível conceder em termos de planos de carreira e de reposições salariais. Mas, desta vez, não ocorreu. Falharam todos e agora ninguém quer ceder


Nos últimos anos, tem sido cada vez maior a participação do Poder Judiciário em questões antes restritas ao Poder Legislativo. Neste fim de 2011, chegou ao extremo de até o Orçamento da União entrar nessa roda. Começa a ocorrer o que o primeiro-secretário da Câmara, Eduardo Gomes, classificava ontem como "Judicialização do Orçamento". Primeiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) mandou avisar que a sua proposta orçamentária de R$ 614 milhões deveria ser incluída na íntegra do projeto da Lei Orçamentária do ano que vem. Ontem, houve o mandado de segurança preparado pelo Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público da União no Distrito Federal (Sindjus) pedindo a inclusão do reajuste de 14,79% no Orçamento de 2012.

Se o STF der razão ao Sindjus, estará criado um impasse, uma vez que o relator do Orçamento, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), preferiu ficar com a posição da presidente Dilma Rousseff e não ceder às pressões de reservar recursos para aumentos salariais num ano que promete ser de segurar o gasto público. E, como a pressa em votar o Orçamento é mais dos parlamentares do que do governo, é bem provável que os congressistas terminem seguindo o que pede a presidente Dilma, evitando, assim, atrasos na liberação das emendas individuais.

O que mais interessa aos deputados e senadores no Orçamento é atender as prefeituras antes de junho, quando é aberta oficialmente a temporada de campanhas municipais e ficam proibidas as assinaturas de convênios ou novos empenhos de recursos dentro das "transferências voluntárias" — no popular, aquelas que o Poder Executivo costuma fazer porque o deputado pediu. O Poder Executivo, por sua vez, não quer gastar. Portanto, o que se diz no governo é que, se houver um grande estremecimento, o Orçamento fica mesmo para ser aprovado em 2012, sem estresse da parte da presidente Dilma Rousseff, que aproveitará o início do ano para conter despesas.

Qualquer rusga nessa seara nos próximos dias será uma boa desculpa para não votar o Orçamento. E Dilma ainda sai como aquela que está protegendo o dinheiro público do aumento de salários, muitos dos quais já altos. Basta ver o que disse a ministra do Planejamento,Miriam Belchior, na semana passada, quando esteve no Congresso. Ela avisou que a prioridade do governo eram os programas destinados à redução das desigualdades sociais. O recado foi claro: O caixa da União é o mesmo para os Três Poderes, ou seja, os impostos do contribuinte. E, entre atender os mais pobres e dar aumento a quem já tem um bom salário, o governo ficará com a primeira opção.

Isso já havia sido dito na mensagem que Dilma enviou ao Congresso em agosto com a proposta orçamentária. Naquela época, os cálculos do governo indicaram que o reajuste custaria ao país R$ 7,7 bilhões. Ali, abriu-se as discussões que agora ganham maiores proporções e levaram à judicialização do Orçamento, com perspectivas de se criar um impasse sem muita chance de solução a curto prazo, uma vez que, da parte do Poder Executivo, diz-se que a bola está com o Congresso e o relator já manifestou a sua posição.


Por falar em perspectiva...

Geralmente, antes do envio do Orçamento, os chefes dos Três Poderes costumavam se sentar à mesa para discutir o que seria possível conceder em termos de planos de carreira e de reposições salariais. Mas, desta vez, não ocorreu. Falharam todos e agora ninguém quer ceder. Nos bastidores não só do Parlamento como do Poder Judiciário, diz-se que, no Executivo, não falta dinheiro para a criação de ministérios, preenchimento de cargos de confiança, o Programa de Aceleração do Crescimento e as obras da Copa. Mas há uma escassez para os outros Poderes.
Não será com essas reclamações de coxia que os chefes dos Três Poderes chegarão a um consenso para que cada um exerça o seu papel sem ferir os brios do outro. Por isso, espera-se que, em 2013, em nome da tal "harmonia e independência" entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, os principais protagonistas dessa história não a deixem chegar a esse ponto.

Por falar em protagonistas...

A nova ministra do STF, Rosa Maria Weber, será homenageada hoje com um jantar promovido pela senadora Marta Suplicy (PT-SP). Algumas ministras do Poder Executivo irão, mesmo cansadas da rotina diária. Não é hora de deixar Marta mais magoada do que já ficou com o fato de ter sido levada a desistir de concorrer à prefeitura de São Paulo.

Dilma pisa no freio - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 20/12/11


Líderes governistas no Congresso estão começando a criticar a condução da crise pela presidente Dilma. Alegam que ela está apertando demais e que isso pode ser fatal num país em que o governo tem grande peso na economia. Sustentam que isso se reflete no ritmo do PAC, o que levará a uma inibição do crescimento do PIB em 2012. Os mais céticos avaliam que a presidente está trilhando uma linha próxima à dos países europeus.

PCdoB lava a roupa suja
Há duas semanas, a direção nacional do PCdoB reuniu-se, em São Paulo, para avaliar os fatos que levaram às mudanças no Ministério do Esporte. Foram feitas duas abordagens. Uma delas entendia que o episódio se resumia a um ataque contra o PCdoB, em função da importância que a pasta teria com a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. A outra avaliação sustentou que era preciso fazer uma avaliação profunda dos erros cometidos na gestão da pasta, sobretudo no controle dos gastos públicos. O atual ministro, Aldo Rebelo, não disse "a" e esteve fora do plenário durante parte da discussão, cumprindo agenda da pasta.

"Os autos, há mais de quatro anos, estão integralmente digitalizados e disponíveis eletronicamente na base de dados do Supremo Tribunal Federal” — Joaquim Barbosa, ministro do STF, relator do processo do mensalão

NA ABA. Durante o Congresso da Juventude do PSDB, "A Turma do Chapéu", jovens mineiros que apoiam a candidatura a presidente do senador Aécio Neves (PSDB-MG), depois de ouvir a palestra do ex-governador paulista José Serra, o cercou e o presenteou com um chapéu. O paulista, que já disputou duas eleições presidenciais (2002 e 2010), é pré-candidato ao Planalto em 2014, pelo PSDB ou pelo PPS.

Fome zero lá fora
O ministro Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário) assina hoje com o Quênia o quinto convênio Mais Alimentos África. O Brasil vai investir US$ 334 mil lá e doar quatro mil máquinas e equipamentos agrícolas para cinco países africanos.

Arsenal
O governo Dilma já tem prontas medidas de desoneração tributária e de defesa da concorrência para serem anunciadas à medida que a crise recrudescer. O governo diz que a crise europeia é mais grave que a americana de 2009.

Revanche
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou, por 31 votos a 8, proposta de emenda constitucional que impede o Ministério Público de fazer investigações criminais. Em 2009, o STF reconheceu que o Ministério Público tem poder investigatório. "Repudiamos qualquer procedimento informal, conduzido por meio de instrumentos sem forma, sem controle e sem prazo, e contrário ao estado de direito vigente", escreveu o relator, deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP).

Turbinando
O ministro Gastão Vieira (Turismo) acertou com a Fifa que o portal da entidade terá um atalho chamado "Destinos". O objetivo é apresentar o Brasil de forma a superar a meta prevista de visitantes, que é de 600 mil estrangeiros.

Esperneando
O PSOL entrou no STF contra a decisão da Mesa da Câmara de criar 66 cargos para o PSD, sem reduzir dos partidos que ficaram menores. O deputado Chico Alencar (RJ) critica: "Casa da fartura, com o "chapéu" do dinheiro público!

COMEÇOU a temporada de queimação tendo em vista as mudanças ministeriais que vão ocorrer no governo Dilma nos primeiros três meses do ano que vem.

A ASSESSORIA do Ministério do Planejamento esclarece que a pasta não é responsável pela existência do cargo de secretario executivo adjunto da Casa Civil da Presidência, pois o mesmo foi criado pelo Decreto 5.420 de 13 de abril de 2005.

FALA o senador Aécio Neves (PSDB-MG) sobre o livro "Privataria tucana": "Nos últimos nove anos, o PT administrou o Brasil. Se houvesse alguma irregularidade, o PT não teria investigado?"

Retrocesso - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 20/12/11

A decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, de que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) não pode investigar juízes antes de a denúncia ser analisada pela corregedoria do tribunal onde se registra o caso, tem caráter meramente simbólico, já que o Judiciário entrou em recesso. Tudo indica que a liminar tem o objetivo de marcar uma posição enquanto o plenário do STF não julga o mérito da ação. Por coincidência, a decisão do ministro foi divulgada uma semana depois que o CNJ mandou investigar nada menos que 23 tribunais regionais.

Não há indicações de que a posição de Marco Aurélio seja majoritária, mas o fato de o STF não ter conseguido julgar o caso até hoje deixa na opinião pública uma insegurança quanto aos reais interesses de se alcançar um sistema judiciário que inspire confiança aos cidadãos. A defesa da corporação está com os que querem um CNJ mais ativo, refletindo os anseios da sociedade por mais justiça, mais rapidez nos processos. Foi justamente esse sentimento que fez com que a ideia de um controle externo da magistratura prosperasse e fosse vitoriosa, depois de anos de negociação.

Invertendo a judicialização da política, comum nos últimos tempos, o senador Demóstenes Torres (DEM) apresentou emenda constitucional que garante ao CNJ o direito de julgar e punir juízes. Na verdade, essa emenda remete ao espírito da lei que criou o CNJ e seria dispensável se não fosse a reação corporativa que levou a Associação dos Magistradosdo Brasil a entrar com ação no Supremo contra o conselho.

O CNJ não foi criado como um órgão revisor e tem amplos poderes para receber denúncias contra juízes, mesmo diretamente, sem a necessidade de que a reclamação passe pelos tribunais locais. Os poderes são tão amplos que ele pode agir por conta própria, e ele vinha investigando casos de corrupção na magistratura sem a necessidade de aguardar uma decisão do tribunal local.

Recebi do presidente do STF, Cezar Peluso, uma mensagem a respeito da coluna de sábado, “Pressão política”, onde criticava o que julgava ser mudança de posição do ministro quanto ao exercício do “voto de qualidade”, prerrogativa do presidente pelo regimento interno do STF que ele utilizou para desempatar o julgamento a favor de Jader Barbalho depois de ter se recusado a fazêlo em julgamento anterior, alegando que não tinha vocação para déspota. Embora Cezar Peluso não peça “desmentido ou retificação”, sinto-me na obrigação de registrar que fui injusto com ele, pois sugeri que a mudança se devesse a “pressões políticas” do PMDB, e ele demonstrou que ela se deveu a fatores meramente técnicos do julgamento.

O ministro ressalta que na primeira sessão de julgamento sobre a chamada “Ficha Limpa”, quando se recusou a desempatar o julgamento, fez isso “simplesmente porque, apaixonada pela discussão, a maioria dos ministros presentes não concordou com a aplicação da regra regimental!”.

“Se a maioria decide — e esse é o verbo juridicamente correto — que não pode ser aplicada certa norma, eu só poderia aplicá-la por ato de força, em verdadeiro despotismo e mediante pronúncia contestável de todos os pontos de vista, senão também ineficaz. O respeito aos colegas e à própria instituição, que também me anima a estes esclarecimentos, não me pedia outra coisa”, ressalta Peluso.

No caso de Jader Barbalho, porém, “todos os ministros presentes, todos, inclusive os que tinham votado em sentido contrário, decidiram aplicar a regra regimental, permitindo fosse ultimado o julgamento segundo o teor do voto de qualidade do presidente, e concordaram, alto e bom som, com a proposta de deferir o requerimento formal do interessado”.

E fizeram-no, frisa Peluso, “não porque eu, como presidente, tivesse o dom de mudar, drástica e rapidamente, o convencimento
dos meus pares, induzidos pela suposta ‘consultoria’ a parlamentares, mas — e a verdade é, deveras, quase sempre, muito mais simples do que a julgam as pessoas — porque já estavam de todo convencidos da legitimidade e da justiça da decisão adotada, como, aliás, V. Sa. bem observou no artigo de hoje”.

“Eles já haviam percebido, tal como o percebeu e escreveu V. Sa., que não seria justo que ‘a lei deva valer mais para uns do que para outros’. Simples e verdadeiro, não é? Nada por estranhar, pois.”

Quanto às pressões políticas sugeridas por mim na coluna, Peluso destaca que, em 44 anos de “magistratura impoluta”,amais cedeu à “pressão de quem quer que seja, pela boa razão de que jamais alguém ousou fazer-me, de modo direto ou indireto, pressão em julgamento, nem sequer o presidente da República que me nomeou, como ficou claríssimo no julgamento do famoso caso ‘Battisti’. Por que iriam fazê-lo parlamentares com os quais não tenho intimidade alguma, e num caso em que já nem era preciso tentar convencer os ministros?”.

Após lembrar que também recebeu em seu gabinete representantes do PSB do senador João Capiberibe, Peluso explica que “todos os presidentes e ministros recebem advogados e parlamentares a respeito de causas pendentes, em prática tradicional e equânime, que, embora não me agrade, como já assentei em entrevista à ‘Veja’, não consigo mudar. Mas daí a supor que cedam a pressões, vai, desculpe-me, uma distância intransponível de boa-fé”.

Se não pelo aspecto moral, até mesmo na parte jurídica é imprópria a fala da presidente Dilma quando ela insiste em que Fernando Pimentel não era ministro por ocasião dos fatos denunciados na imprensa.

A circunstância de o atual ministro do Desenvolvimento ter dado as “palestras” e prestado “assessoria” antes de sua nomeação no cargo de ministro não afasta, em tese, o crime de corrupção passiva, previsto no artigo 317, caput, do Código Penal, redigido nos seguintes termos:

“Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas, em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem.”

O inimigo da moral - VLADIMIR SAFATLE


Folha de SP - 20/12/11

O maior inimigo da moralidade não é a imoralidade, mas a parcialidade

O primeiro atributo dos julgamentos morais é a universalidade. Pois espera-se de tais julgamentos que sejam simétricos, que tratem casos semelhantes de forma equivalente. Quando tal simetria se quebra, então os gritos moralizadores começam a soar como astúcia estratégica submetida à lógica do "para os amigos, tudo, para os inimigos, a lei".

Devemos ter isso em mente quando a questão é pensar as relações entre moral e política no Brasil. Muitas vezes, a imprensa desempenhou um papel importante na revelação de práticas de corrupção arraigadas em vários estratos dos governos. No entanto houve momentos em que seu silêncio foi inaceitável.

Por exemplo, no auge do dito caso do mensalão, descobriu-se que o esquema de corrupção que gerou o escândalo fora montado pelo presidente do maior partido de oposição. Esquema criado não só para financiar sua campanha como senador mas (como o próprio afirmou em entrevista à Folha) também para arrecadar fundos para a campanha presidencial de seu candidato.

Em qualquer lugar do mundo, uma informação dessa natureza seria uma notícia espetacular. No Brasil, alguns importantes veículos da imprensa simplesmente omitiram essa informação a seus leitores durante meses.

Outro exemplo ilustrativo acontece com o metrô de São Paulo. Não bastasse ser uma obra construída a passos inacreditavelmente lentos, marcada por adiamentos reiterados, com direito a acidentes mortais resultantes de parcerias público-privadas lesivas aos interesses públicos, temos um histórico de denúncias de corrupção (caso Alstom), licitações forjadas e afastamento de seu presidente pela Justiça, que justificariam que nossos melhores jornalistas investigativos se voltassem ao subsolo de São Paulo.

Agora volta a discussão sobre o processo de privatização do governo FHC. Na época, as denúncias de malversações se avolumaram, algumas apresentadas por esta Folha. Mas vimos um festival de "engavetamento" de pedidos de investigação pela Procuradoria-Geral da União, assim como CPIs abortadas por manobras regimentais ou sufocadas em seu nascedouro. Ou seja, nada foi, de fato, investigado.

O povo brasileiro tem o direito de saber o que realmente aconteceu na venda de algumas de suas empresas mais importantes. Não é mais possível vermos essa situação na qual uma exigência de investigação concreta de corrupção é imediatamente vista por alguns como expressão de interesses partidários. O Brasil será melhor quando o ímpeto investigativo atingir a todos de maneira simétrica. 

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 20/12/11
Estudo avalia efeito de doação eleitoral em firmas

Os setores de eletroeletrônicos e têxteis são os que mais "acertam" os candidatos vencedores quando fazem doação a campanhas.

O índice de acerto de ambos é de 65%, segundo estudo dos professores Rodrigo Bandeira-de-Mello, da FGV, e Rosilene Marcon, da Univali/SC, que avaliou empresas de capital aberto listadas em Bolsa em períodos pós-eleitorais entre 1998 e 2006.

A capacidade de doar a campanhas vencedoras é pertinente pois está ligada ao grau de conexão política de cada companhia, que pode ter efeitos positivos sobre o desempenho empresarial.

"Cerca de 70% do financiamento dos candidatos, das fontes primárias, vem de pessoas jurídicas. Isso mostra que a relação é importante para empresas e políticos", diz Bandeira-de-Mello, professor da FGV.

O montante doado, entretanto, não tem impacto diretamente perceptível no valor das ações. "A doação é publicada pelo tribunal eleitoral, mas inferimos que não é uma informação que acaba sendo usada pelo mercado para avaliar valor de ação", diz.

A taxa de acerto, sim, tem efeitos positivos sobre outros indicadores. As mais conectadas têm maior acesso a financiamentos públicos.

O trabalho conclui também que as multinacionais brasileiras mais eficientes na escolha das doações registram maior grau de internacionalização.

"A troca não é direta. Pode ser por meio de apoio de BNDES ou BNDESPar em processos de aquisições no exterior, por exemplo."

Quando grandes grupos econômicos nacionais se conectam politicamente, conseguem maior redução em seu custo de dívida do que empresas isoladas.

Empresas endividadas diversificam as doações

A cada eleição, as companhias listadas na BM&FBovespa doam em média para 17 candidatos, segundo pesquisa sobre conexões empresariais e políticas.

Algumas podem superar os cem candidatos.

A média de acerto gira em torno de 58%, segundo o professor Rodrigo Bandeira-de-Mello, da FGV. "Se consideramos esse número, trata-se de um investimento de risco porque a empresa não tem controle do que vai acontecer. Eleição é sempre uma surpresa", afirma.

Para reduzir o risco, as companhias mais endividadas são as que mais diversificam os alvos de seus recursos. A tendência é doar para mais candidatos e partidos.

"Elas tendem a cercar as possibilidades, procurar um seguro", afirma.

O efeito das doações, segundo Bandeira-de-Mello, não costuma ser estudado como um fator estratégico para melhorar o desempenho empresarial. "É um processo legal. Por isso precisa ser estudado. O estudo não entra no mérito de conexões escusas."

LABORATÓRIO

A América Latina está entre as regiões em que as empresas menos investirão em pesquisa e desenvolvimento nos próximos três anos, segundo estudo da EIU (Economist Intelligence Unit).

Dos 214 executivos ouvidos, apenas 33% disseram que vão aumentar os aportes para pesquisa na região.

Na parte oriental da Ásia, esse número chega a 59%. No Oriente Médio e no Norte da África, a 57%.

O levantamento aponta que a disponibilidade de engenheiros e de cientistas e o tamanho do mercado local são os principais fatores que fazem as empresas decidirem onde farão suas pesquisas.

O interesse no Oriente Médio, segundo o estudo, aumentou por causa da localização privilegiada da região e da necessidade de diversificar as economias locais, focadas no setor de óleo e gás.

Todas as empresas ouvidas já haviam investido nessa região anteriormente.

FROTA

A montadora de ônibus Comil deve anunciar nas próximas semanas a construção de uma fábrica no interior do Estado de São Paulo.

A companhia estudava opções na região Sudeste.

O orçamento total do empreendimento, que deve ficar pronto até o final de 2012, é de cerca de R$ 90 milhões.

"Será uma fábrica especializada em ônibus urbanos, então precisávamos estar perto dos principais mercados", diz o diretor-geral da companhia, Silvio Calegaro.

O terreno da planta terá cerca de 400 mil metros quadrados e a fábrica contará com 25 mil metros quadrados de área construída.

PARA AS FÉRIAS

O Itaú acaba de lançar novos serviços para seus clientes que pretendem viajar nas férias de fim de ano.

Os usuários de cartão pré-pago internacional da bandeira American Express, comercializado pelo banco desde o começo de 2011, podem recarregá-lo pela internet, pelo celular ou por tablets.

O valor máximo para recarga na internet é de US$ 3 mil.

Em outros bancos, como o Bradesco, a recarga é feita em unidades de câmbio no Brasil ou em agências bancárias.

Os clientes do Itaú também poderão comprar seguro viagem pela internet. No Bradesco, o serviço é feito por telefone ou pessoalmente.

Sacola cheia As vendas do comércio atacadista de tecidos da região da rua 25 de Março, em São Paulo, registraram crescimento de 7% na primeira quinzena de dezembro, na comparação com novembro, de acordo com o Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos de São Paulo.

Sociedade A partir de janeiro de 2012, o escritório Tauil & Chequer Advogados terá quatro novos sócios em seu quadro: Roberta Caneca, da área tributária, Leonardo Costa, com foco no setor de óleo e gás, Guilherme Vieira da Silva, da parte de fusões e aquisições, e Salim Saud, que cuidará de projetos.

MERCADO DE TRABALHO

O Brasil ficou atrás apenas da Índia entre os mais otimistas em relação à criação de empregos no primeiro trimestre de 2012, segundo levantamento da ManpowerGroup.

Em 31 dos 41 países analisados, foram registrados números positivos, que indicam otimismo. Apesar disso, o índice reduziu em 30 países ante mesmo período de 2011.

No Brasil, os executivos dos setores de serviços e transportes são os que preveem mais contratações. Os da indústria projetam estagnação em decorrência da queda das encomendas e da alta nas importações.

Foram ouvidos 65 mil empregadores.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

Surfando na onda do relatório - LUIZ EDUARDO ROCHA PAIVA


O Estado de S.Paulo - 20/12/11

As vulnerabilidades da defesa nacional apontadas em relatório do Ministério da Defesa, recém-divulgadas pelo Estadão, merecem uma análise, ainda que sucinta, do cenário político-militar mundial e seus reflexos para o Brasil.

Os conflitos não têm mais limites geográficos, distinguindo-se apenas em amplitude e intensidade. Do Oriente Médio e da Ásia Central se expandem para o entorno chinês, a África e espaços oceânicos adjacentes e chegarão à América do Sul. O progresso diminuiu as distâncias e facilitou a projeção das potências para acessar e manter a presença em regiões de recursos vitais. Para isso exercem pressões político-econômicas e empregam poder militar de forma indireta (cooperação e dissuasão) ou direta (dissuasão, coação e ato de força), a fim de se imporem a oponentes mais fracos e limitarem a influência de potências rivais.

Existe um eixo de poder, que conduz os destinos do mundo, onde estão China, Rússia, EUA, União Europeia (UE) e Japão. Por estarem em constantes disputas, mantêm poder militar capaz de apoiar o Estado na satisfação de interesses em âmbito global. A queda da URSS permitiu a expansão norte-americana e da UE no Leste Europeu e na Ásia Central, e a dos EUA no Oriente Médio. Porém a ascensão da China, a recuperação da Rússia, decisões estratégicas equivocadas no Oriente Médio e na Ásia Central e a crise econômica limitaram a liberdade de ação mundial dos EUA e da UE.

A Rússia tenta reverter o processo de encolhimento sofrido na Europa Oriental e na Ásia Central. Na vazia Sibéria, a ameaça vem de 100 milhões de chineses na fronteira e do expansionismo econômico amarelo. A aproximação com os EUA e aliados poderá ser necessária para preservar aquela região, cuja exploração será mais viável e rendosa com o aquecimento global. Trata-se de uma aliança decisiva para os EUA fecharem o cerco estratégico à China com a presença da aliança ocidental na Ásia Central e a dos aliados Coreia do Sul, Japão, Taiwan, Austrália, Filipinas e Índia, no Pacífico e no Índico. Daí o esforço chinês para ampliar e projetar seu poder naval no Oriente Médio e nos Oceanos Índico e Pacífico, incluindo o Mar da China, rotas vitais para suas riquezas e importações, particularmente do petróleo da África e do Oriente Médio.

Na Ásia Central a China leva vantagem por afinidades históricas, pela projeção cooperativa, e não impositiva, como é a dos EUA, e por não estar envolvida em conflito armado. A aliança ocidental está num atoleiro no Afeganistão e no Paquistão, tendo poucas chances de vitória total. Terá de limitar seus objetivos, contentando-se em dividir a presença e a influência com potências rivais e apenas reduzir o poder do Taleban naqueles países.

A Ásia Central e o Oriente Médio são áreas de certa forma interdependentes e onde estão os conflitos de mais difícil solução. No Oriente Médio os EUA, que chegaram a ter a Arábia Saudita, o Iraque e o Irã como aliados, estavam reduzidos nos anos 1990 à Arábia Saudita, então ameaçada por Saddam Hussein e pelo fundamentalismo islâmico. Um sucesso no Iraque em 2003 reverteria a situação, mas ele não veio como almejado. O novo Iraque não é inimigo, mas a retirada militar dos EUA ensejará a possibilidade de ascensão do Irã como potência regional dominante, o que contraria um objetivo fundamental da política externa norte-americana em todos os continentes. Por outro lado, a transferência do esforço de guerra para o Afeganistão não evoluiu como desejado, pois a vitória parece impossível e já foi decidida a retirada militar. Embora a maior ameaça aos interesses dos EUA ainda seja o Irã, o futuro do mundo árabe ficou mais difícil de determinar com os movimentos contra regimes até há pouco tempo estáveis.

Quais os reflexos político-militares para o Brasil se os EUA e aliados perderem espaços nessas áreas para seus rivais regionais e globais?

Entre as prioridades de nossa diplomacia e de nossa defesa estão o Atlântico Sul e a África, onde a influência crescente da China levou os EUA a criarem o Comando da África e a reativarem a 4.ª Frota. A propósito, um documento oficial dos EUA sobre mobilidade estratégica destaca a importância de uma base no saliente nordestino brasileiro. Os conflitos chegaram ao nosso entorno. O insucesso ou êxito limitado dos EUA e aliados em áreas distantes resultarão em pressões para impor condições que assegurem o acesso privilegiado às riquezas da América do Sul e do Atlântico Sul. A região é a maior reserva mundial de recursos naturais, tem um mercado promissor, a China investe forte na área e alguns vizinhos atraem a Rússia, a China e o Irã no campo militar. Os EUA reagirão à penetração de rivais em sua área de influência e tudo isso afeta a liderança do Brasil no processo de integração regional e na defesa de seu patrimônio e de sua soberania. A Unasul não garantirá os nossos interesses, portanto, temos de ser uma potência autônoma.

Não são os vizinhos a razão para reforçar o poder militar do País, e sim sua ascensão como potência econômica global, a participação destacada no comércio mundial e a cobiça por nossos recursos e posição geoestratégica. Tudo isso tirou o Brasil da posição periférica e o colocou em rotas de cooperação e conflito com o eixo do poder em áreas regionais e extrarregionais, na disputa por recursos, interesses e direitos, pois ao eixo não interessam novos sócios. Como na China, no século 21, em vez de entrarem em conflitos desgastantes, as potências rivais poderão unir-se para pressionar e ameaçar o País.

O tempo estratégico não se mede por anos, mas por décadas. Decisões tomadas hoje têm consequências no futuro e, quando erradas, trazem perdas desastrosas, pois a correção só produz resultados em médio ou longo prazo. Os governos brasileiros, desde os anos 90, trocaram a opção de Brasil potência pela de global trader, confundiram nação com mercado, aceitaram limitações ao desenvolvimento científico-tecnológico militar, negociaram a soberania na Amazônia e tornaram o País um indigente militar.

GOSTOSA


A roda e o arado - BENJAMIN STEINBRUCH


FOLHA DE SP 20/12/11
A inovação é responsável por saltos na economia mundial; incentivá-la deve ser prioridade de todo país
O arado puxado por cavalo e a plantação em fileira, instrumentos clássicos de eficiência na produção agrícola, somente passaram a ser utilizados na Europa no século 18. Os chineses já os usavam desde o ano 600 a.C.
Não por acaso, portanto, a China teve o crescimento demográfico que a levou a ser a nação mais populosa da Terra, com 1,3 bilhão de habitantes hoje. O arado, as fileiras de plantação e outras tecnologias agrícolas milenares, como o semeador múltiplo, inovações geniais só adotadas na Europa quase 2.000 anos depois, permitiram grande aumento de produção para alimentar uma população chinesa cada vez maior.
As invenções milenares chinesas estão descritas no livro "China - Origens da Humanidade", escrito pelo jornalista Carlos Tavares de Oliveira. Além dessas inovações na área da agricultura, o autor apresenta, com base em pesquisas, várias invenções chinesas na indústria, na navegação, na medicina e na astronomia, como a enxada, o carrinho de mão, o relógio, a bússola, a pólvora, o papel e a impressão. Muitos desses inventos, segundo Oliveira, acabaram sendo apropriados, centenas e até milhares de anos depois, por inventores do Ocidente.
Não é objetivo deste artigo discutir autoria de invenções. A leitura dos relatos de Oliveira, porém, desperta atenção para a importância da inovação no avanço dos povos. Foi assim na China milenar, com suas tecnologias da agricultura.
Foi assim na Inglaterra do século 18, com o início da mecanização dos meios de produção, no que se chamou de Revolução Industrial.
Foi assim nos Estados Unidos do século 20, com a adoção pioneira da linha de montagem por Henry Ford, que adicionou grande produtividade às indústrias e permitiu a produção em massa de automóveis e de bens de consumo.
Foi assim no fim do século 20, com a revolução da tecnologia da informação na qual se encaixa a internet, avanço talvez mais significativo do que muitos precedentes, porque democratiza o conhecimento, base para novas descobertas.
Essas reflexões são oportunas porque, no andar rápido da carruagem durante o ano, em geral nos fixamos demasiadamente na aridez dos problemas conjunturais. Olhamos dia após dia para as crises da Europa e dos EUA, por exemplo, como se isso fosse a única preocupação relevante para o nosso futuro.
À medida que o Brasil vai superando suas enormes deficiências, com a agregação de milhões de brasileiros ao mercado de consumo, já passa da hora de pensar com mais seriedade na educação e na formação profissional das pessoas.
É hora de investir pesado em instrumentos de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico em todas as áreas.
Com grata surpresa, vimos na semana passada números que mostram o aumento da procura de financiamento para inovação da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), agência do BNDES.
Neste ano, a demanda de crédito foi multiplicada por cinco, atingindo R$ 9 bilhões, sinal de que as empresas e a sociedade brasileira em geral passaram a olhar para o futuro com ênfase no desenvolvimento de projetos inovadores.
A inovação é responsável por saltos na economia mundial, que se deram com a locomotiva, a luz elétrica, o automóvel e muitas outras invenções. Há 20 anos, ninguém poderia prever a importância que teria a internet e o intenso uso dos engenhosos equipamentos eletrônicos móveis de hoje, como tablets e smartphones. Mas isso tudo já é uma realidade que fez nascer centenas de empresas bilionárias e criou milhões de empregos em todo o mundo.
O incentivo à inovação, portanto, deve ser uma preocupação recorrente em qualquer país, cada um colocando foco em suas vocações.
O Brasil, por exemplo, poderia investir preferencialmente em energias renováveis -muitos "profetas" acham que o novo salto da economia mundial será nessa área- e em matérias-primas. Mas isso é apenas palpite.
Depende de todos os brasileiros, estejam no governo ou na iniciativa privada, a construção desse país inovador, capaz de reinventar a roda ou o arado que os chineses criaram há 2.600 anos.

Diário de Londres - JOÃO PEREIRA COUTINHO


FOLHA DE SP - 20/12/11

Christopher Hitchens (1949-2011) esteve em Lisboa dois anos atrás para uma palestra na Casa Fernando Pessoa. Um amigo que trabalha na instituição lançou-me o desafio: viajar com Hitchens até Évora e escrever a respeito.

Infelizmente, compromissos acadêmicos impediram-me de fazer a entrevista-reportagem nessa cidade alentejana que lhe deixara gratas memórias do tempo da Revolução dos Cravos (1974). "Fica para uma próxima", disse eu.

Não haverá próxima: chego a Londres, e as notícias estão por todo lado. Hitchens morreu.

A doença grave do colunista, um câncer no esôfago, não era surpresa para ninguém: o próprio, em textos magistrais para a "Vanity Fair", foi desenhando essa cartografia da morte. Mas toda gente está surpresa na mesma.

Hitchens tinha aquela qualidade bigger than life que não se ajusta à mera mortalidade humana. Uma qualidade que foi crescendo na medida dos seus objetos de desafeto: a princesa Diana; madre Teresa de Calcutá; Henry Kissinger; o encantador casal Clinton. Era inevitável que Deus fosse o último da fila.

Na hora da morte, os comentários batem todos no mesmo ponto: apesar de não se concordar com tudo, Hitchens vai fazer falta.

Eu, pelo contrário, concordava com tudo, mesmo quando não concordava com nada. Hitchens, que Gore Vidal designou como seu herdeiro (para se arrepender depois, com o apoio de Hitchens à Guerra do Iraque), tinha a qualidade raríssima em qualquer colunista de juntar inteligência, elegância estilística, gosto pela polêmica e humor.

No mundo anglo-saxônico, conheço poucos: Vidal, sim; H.L. Mencken (1880-1956), certamente; Auberon Waugh (1939-2001), sem dúvida alguma. Mas Mencken e Waugh estão mortos; Vidal, quase.

Livros? Em todas as livrarias está a sua última coleção de jornalismo, "Arguably", onde encontramos o Hitchens refinado dos ensaios "literários" sobre Evelyn Waugh (1903-66), P.G. Wodehouse (1881-1975) e, em parricídio freudiano, Vidal.

Mas, olhando para a obra completa, o meu Hitchens preferido continua a ser um pequeno tratado sobre George Orwell ("A Vitória de Orwell"). Não necessariamente por oferecer grandes revelações sobre o escritor; mas porque é a autobiografia intelectual de Hitchens, bastante superior à autobiografia propriamente dita.

Hitchens encontrou em Orwell as qualidades que admirava e praticava: bravura moral e insubmissão a qualquer poder autoritário.

Uma combinação que, repito, transcende as divisões clássicas entre esquerda e direita, recentrando o debate na única questão que interessa: a defesa da liberdade individual face aos seus inimigos.

Um brinde a ele -com Johnnie Walker (o Black Label, claro).

BALANÇO OFICIAL - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 20/12/11
Os investimentos do governo de SP vão mesmo ficar abaixo do previsto: R$ 12 bilhões, contra programação inicial de R$ 16 bilhões neste ano. O secretário da Fazenda, Andrea Calabi, diz que um dos motivos é a suspensão de licenciamentos de obras importantes, como a da linha lilás do metrô. "Ainda não pegamos no breu."

PRIMEIRA PARTE

Aliados criticam Geraldo Alckmin por investir menos neste ano do que o antecessor, José Serra, em 2010. Calabi diz que, comparando-se os primeiros anos das respectivas gestões, Alckmin está investindo mais. "Início de governo sempre é mais difícil. É preciso fazer um reposicionamento natural."

BRINDE
E a gorjeta paga a garçons é agora isenta de ICMS. A reivindicação, de restaurantes como Ráscal, Varanda e Jun Sakamoto, foi encaminhada ao governo de SP. Que ajudou a aprovar a ideia no Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária).

SER...

O deputado Protógenes Queiroz (PC do B-SP) diz que estranhou a notícia de que o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), vai arquivar o pedido de abertura da CPI das Privatizações. "Almoçamos na semana passada. E ele me garantiu que, se eu conseguisse as assinaturas, instalaria a comissão."

...OU NÃO SER
A CPI tem por objetivo investigar denúncias do livro "A Privataria Tucana", que acusa familiares de José Serra de se beneficiarem da venda das empresas estatais (Serra diz que o livro é "um lixo"). Os documentos centrais da obra são quase todos da CPI do Banestado -enterrada, há alguns anos, com a ajuda do PT de Maia.

DOMINGUEIRA
Ana Paula Araújo, âncora do "RJTV", telejornal do Rio, da TV Globo, está cotada para ir para o "Fantástico". Além de fazer reportagens, ela seria a apresentadora substituta de Renata Ceribelli. Araújo se destacou pela cobertura da ocupação do morro do Alemão.

NÃO VÁ SE MOLHAR

A estilista Lenny Niemeyer aparece brincando com uma piteira e com uma boia plástica em ensaio para a revista "T Magazine", que circula a partir de hoje. O fotógrafo Angelo Pastorello sugeriu que Lenny entrasse de roupa na piscina do hotel Tivoli para um clique ainda mais descontraído, mas ela recusou, porque teria uma reunião 15 minutos depois da sessão. À publicação, a empresária afirma que pretende abrir seis novas lojas e uma Lenny Home, com artigos para casa.

VOVÔ JONAS
O ator Jonas Bloch, que viverá um vilão na próxima novela da Record, "Máscaras", se prepara para fazer um curta-metragem. A diretora do filme é sua neta Julia Anquier, 18, filha de Débora Bloch e Olivier Anquier.

BANDEIRADA
Os turistas que vieram a SP assistir ao GP Brasil de F-1, em novembro, ficaram em média 2,8 dias na cidade e gastaram R$ 2.214,45 no período. Eles representam 26,5% do público da corrida e vieram, em sua maioria, de outras cidades brasileiras. Os estrangeiros são apenas 4,1% do total de visitantes, segundo levantamento do Observatório de Turismo de São Paulo.

VIM VER AS MÁQUINAS
Perguntados sobre o que os atraiu a Interlagos, 80,1% disseram estar lá "pela corrida". No corte por sexo, as demais respostas espontâneas variaram. Homens: "Ver as belas mulheres" e "paixão pela Ferrari". Mulheres: "Ver Fernando Alonso", "acompanhar o marido" e "ver Sebastian Vettel".

CORRIDA DE TREM
Um dos dados deve reforçar a propaganda do governo sobre a estação Autódromo da CPTM. Desde a inauguração da parada, em 2007, o número dos que vão de trem à corrida subiu de 11,1% para 20,1%. E diminuíram os que chegam de carro (de 54,3% para 49,5%), de táxi (10,3% para 2,3%) e de ônibus fretado (14,7% para 10,3%).

FESTA DE CINEMA
Os sócios da O2 Filmes, Fernando Meirelles, Paulo Morelli e Andréa Barata Ribeiro, fizeram festa para comemorar os 20 anos da produtora. Os diretores Tata Amaral, Alain Fresnot e Paulinho Caruso, a atriz Cecília Homem de Mello e Patrizia Fanganiello circularam pelo evento, na sede da empresa, em SP.

CURTO-CIRCUITO


O cantor Roberto Carlos foi eleito a Personalidade Nacional do Ano pela revista "Shalom".

A banda Vanguart se apresenta hoje, às 23h, no Studio SP da rua Augusta. Classificação: 18 anos.

P
aula Cohen e Helena Cerello apresentam o show "Cabareteras", amanhã, às 23h, no Container Club. Classificação: 18 anos.

O Ritz 
oferece hoje, em seu cardápio, o tradicional peru de Natal nas unidades dos Jardins e do Itaim.

A exposição
 "Bíblias do Mundo - Testemunhos de Arte e Fé" fica em cartaz até 31 de janeiro na Biblioteca Nacional, no Rio.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

Buemba! O Kim Jong bombou! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 20/12/11

E eu gosto quando morre gente do mal porque você pode fazer humor negro à vontade que ninguém liga

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Gente, como morreu gente esse fim de semana. Morreu até o Kim Jong. Morreu até o Santos.
O Santos não morreu, foi atropelado, é diferente! Morreu o Kim Jong! Morreu o amigo da Hillary! Rarará! Kim Jong, o ditador da Coreia do Norte! Vulgo Kim Jongou a Bomba!
Misto de Chico César com Marlene Mattos. Com aquele cogumelo atômico na cabeça! Ele enfiou o dedo na tomada pra ter todo aquele topete?
Já imaginou ele com o dedo na tomada? "O que você tá fazendo?" "Tô me penteando!" Rarará!
Ele parecia um TOY ART! E adorei o nome da televisão oficial: KCTV! Transmitiu o que não devia? Cacetevê neles! Rarará!
E aí fui pra padaria logo cedo pra fazer uma Datapadaria: "Você tinha medo do Kim Jong?". 1) Não, eu tenho medo da Miriam Leitão. 2) Não, eu tenho medo de estar no Jardim Ângela, às duas da madrugada, numa rua mal iluminada, quando o último ônibus acabou de passar. 3) Eu tenho medo de dormir brasileiro e acordar argentino!
E um amigo me disse que tem medo mesmo de se encontrar com a Monique Evans no cio. E um amigo artista me disse que tem medo de perder o patrocínio da Petrobras.
E esse Kim Jong ia ficar jogando míssil até acabar o estoque? E eu gosto quando morre gente do mal porque você pode fazer humor negro à vontade que ninguém liga. Rarará! E assume o filho, Kim Jong Un.
Deve ter o Kim Jong Dois, King Jong Tres, Kim Jong Vai, Kim Jong Fui! E o Messi? E o que a gente faz com aquele Messi, hein? Arremessi longe!
Aquilo não foi um jogo, foi um atropelamento! Quem se deu bem foi o Piqué: comeu o peixe e depois comeu a Shakira. Rarará!
Piadas de domingo: O Peixe virou sushi. O Barcelona ganhou por WO! O gandula teve mais posse de bola que o Santos! BMG quer dizer Barcelona Me Goleou! E os santistas achavam que o Santos ia jogar contra o Guaratinguetá?!
E o melhor comentário de um santista no site Futurinhas: "devia ter ido à missa!". Mais emocionante! E o Kibeloco publicou o diálogo de dois caminhoneiros: "Bom dia, amigão, o que fez os santistas acharem que iam ganhar do Barcelona, hein?". "Rapaz isso eu não sei, não. Melhor você ir perguntar lá no Posto Ipiranga." Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Na curva - DORA KRAMER


O Estado de S. Paulo - 20/12/11


O tom com que a presidente Dilma Rousseff rechaçou a interferência de partidos em seu governo na entrevista de balanço do ano dada na sexta-feira passada, não foi bem visto entre seus parceiros de aliança.

Dilma não disse nada demais quando se anunciou disposta a exigir "cada vez mais critérios de governança" para o preenchimento de cargos nem sinalizou concretamente mudança de rumo no funcionamento da coalizão ao afirmar que não permitirá a interferência de "nenhum partido político" em seu governo.

Os integrantes da aliança não se consideraram enquadrados, pois se escoram na distância existente entre o querer e o poder, o falar e o fazer. Portanto, a contrariedade não foi exatamente com as palavras, mas com o modo e o objetivo com que foram ditas.

Excetuado o PT, os partidos aliados enxergaram na atitude de Dilma um jogo para a plateia. Respondeu a perguntas dizendo apenas o que se esperava que dissesse.

Tal seria se resolvesse afirmar o contrário. Fosse Lula, até diria algo parecido em defesa de seu direito de fazer e acontecer, mas Dilma não pode tanto quanto o antecessor e, além do mais, faz publicamente outro tipo.

Até aí, zero problema. A questão dos aliados é o tom de menosprezo, é a ideia de que a presidente posa de Tiradentes com o pescoço alheio. Marca uma boa imagem acentuando a má receptividade dos políticos, construída, diga-se, pelas próprias mãos de suas excelências.

Uma ressalva: se culpa a presidente tem nesse cartório, é apenas de tirar proveito de uma rejeição real, e fundamentada, mas ao mesmo tempo nada fazer para alterar a atual lógica das relações com os aliados e ainda recorrer a eles quando é do interesse do governo.

É nesse ponto que se concentram as reclamações. Em público ninguém se queixa nem vai se queixar enquanto a popularidade da presidente estiver em alta.

Em particular, porém, o pote vai se enchendo de mágoa. O dito é que lá na frente, quando a eleição presidencial vier, e se porventura a maré de aprovação virar, o governo vai precisar da ajuda de todos os partidos. Nesse momento, pode não encontrá-los mais tão amáveis e disponíveis.

Tudo vai depender, dizem, de dois fatores: o rumo da economia e a influência de Lula na armação político-partidária para a eleição de 2014.

Os políticos - aí incluídos petistas - não se cansam de lembrar que são devedores de Lula, mas de Dilma são credores. Pela eleição de 2010.

O raciocínio é o seguinte: todos nadaram nas águas da popularidade do ex-presidente, beneficiaram-se dela. Mas Dilma foi quem se beneficiou da ampla aliança que lhe assegurou vantagens, como tempo de televisão, e impediu que a oposição pudesse contar com elas.

Como precisou deles lá, pode vir a precisar adiante quando, então, sempre poderão dizer que conheceram Dilma no poder e não gostaram.

Algo se move. O PSDB apanha dia sim outro também por causa de seu modo de fazer auto-oposição enquanto deixa de lado a tarefa de se opor ao governo que lhe foi delegada pelos 44 milhões de votos dados ao partido na eleição presidencial.

A crítica é, como algumas obras, baseada em fatos reais. Imprensa, eleitores, correligionários e até dirigentes tucanos concordam que o PSDB é um barco a vagar.

Mas, alguma coisa começa a se mexer dentro do partido. Há sinais de vida.

São eles o avanço da proposta de realização das prévias para escolha do candidato à Prefeitura de São Paulo e a mobilização da ala jovem tucana, em encontro nacional, a exigir prévias também para as próximas presidenciais e cobrar da cúpula que só seja dada legenda para candidatos ficha-limpa.

Foi ali. O presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, Olavo Machado, sexta-feira pediu para "pensar um pouquinho" antes de responder sobre as palestras que o ministro Fernando Pimentel alega ter feito para a Fiemg, das quais não há registro.

Pelo jeito, o alegado contratante pensou e achou melhor nada falar.

GOSTOSA