O ESTADÃO - 20/12/11
Na entrevista publicada domingo pelo Estadão, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisou que o governo não deixaria a cotação do dólar deslizar de volta para os níveis de R$ 1,60, como esteve em agosto deste ano. Mas, em outras oportunidades, também revelou desconforto sempre que o câmbio passou de R$ 1,85.
Quando embicar para baixo, de modo a provocar excessiva desvalorização do real, o Banco Central estará disposto a comprar moeda estrangeira no mercado interno e, ao mesmo tempo, o Ministério da Fazenda tratará de usar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para intervir na formação dos preços no mercado de derivativos. E, sempre que a crise gerar demanda demais de moeda estrangeira, a ponto de puxar as cotações do câmbio para níveis que coloquem em risco o controle da inflação, o Banco Central empregará munição de seu arsenal. Ou seja, passará a vender agressivamente dólares no câmbio interno.
Mantega nega explicitamente que trabalha com uma espécie de banda cambial, com piso de R$ 1,60 e teto de R$ 1,85 por dólar. Mas não dá para negar que essa banda existe, embora não possa ser considerada fixa. Pode-se deduzir que, tal como acontece com o câmbio propriamente dito, essa banda também é flutuante. Varia de acordo com as conveniências das autoridades a cada momento.
O que o ministro está dizendo é que o governo está permanentemente disposto a intervir no mercado sempre que o comportamento do câmbio fugir dos seus propósitos imediatos. Resta saber se conseguirá fazer isso sempre que o quiser.
Para o momento, a resposta é positiva, porque as circunstâncias ajudam. O atual estoque de reservas é uma enormidade (US$ 351 bilhões) e permitirá a venda de moeda estrangeira se as cotações dispararem para acima do desejado. Também é pouco provável que ocorra nos próximos meses nova safra de valorização do real, porque os juros em queda desestimularão operações de arbitragem (entrada de moeda estrangeira para aplicação a juros mais altos no Brasil).
Além disso, ao menos por alguns meses, a própria gravidade da crise tende a criar surtos de perda de confiança e, portanto, puxadas nas cotações do dólar no câmbio interno. É o que deverá impedir forte valorização do real. Não está nas previsões de ninguém um retorno do dólar para R$ 1,60 ao longo de 2012.
Então, se é apropriado afirmar que o governo do Brasil opera agora um câmbio flutuante com bandas flutuantes (digamos assim), poderia ficar a impressão de que cresceu a incerteza das instituições que operam com moeda estrangeira no País. Mas não é verdade. Ainda que essa banda funcione com margens flexíveis, a mobilidade dessas margens não é tão grande a ponto de prejudicar a capacidade de previsão e o fechamento de mecanismos de hedge (seguro contra flutuações excessivas).
CONFIRA
Excelente desempenho. As exportações devem subir perto de 27% (para cerca de US$ 257 bilhões) neste ano; e as importações, quase 25% (para US$ 230 bilhões). Desempenho excelente do comércio exterior, num ano de crise global.
Dureza na volta. No domingo, o New York Times mostrou as dificuldades dos jovens veteranos das guerras do Iraque e do Afeganistão. Ou seja, práticas militares não preparam para problemas da vida civil, num ambiente de forte desemprego.
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