FOLHA DE SP - 20/12/11
SÃO PAULO - Kim Jong-un, ao que tudo indica, sucederá ao pai, Kim Jong-il, que foi precedido por Kim Il-sung, avô do futuro ditador. Essa genealogia consagra a Coreia do Norte como única República comunista hereditária do planeta e oferece uma boa oportunidade para refletir sobre os motores da história.
Um pouco por culpa da tradição marxista, um pouco pela obsessão de nossos cérebros com a ideia de causalidade, gostamos de pensar que a história é determinada quase exclusivamente por forças impessoais e irresistíveis, como as relações econômicas e o desenvolvimento tecnológico. Essa visão dá pouco ou nenhum espaço para o acaso e para arroubos mais humanos, como a personalidade ou os gostos desse ou daquele líder.
Nesse esquema, manias e pendores de tiranos, como o canibalismo de Bokassa ou fraco de Kim Jong-il por sexo e conhaque, entram imediatamente para a galeria das excentricidades de déspotas, à qual não atribuímos grande valor explicativo.
O fato, contudo, é que na história, como em qualquer outro sistema complexo e caótico, detalhes que parecem menores ou até insignificantes podem fazer muita diferença.
Como observa Pinker, características psicológicas de apenas três pessoas -Hitler, Stálin e Mao- são parte da explicação para 120 milhões de mortes (excluídos os óbitos em batalhas) no século 20. Bem atrás deles vem um segundo pelotão de tiranos, que inclui os dois Kims mais velhos, Bokassa, Pol Pot, Saddam, Mobutu, Gaddafi, Idi Amin, Mugabe.
Em comum, todos tinham, além do fato de abraçarem de corpo e alma sua ideologia, um elevadíssimo senso de autoestima, que se traduz em grandiosidade, necessidade de ser admirados e pouca empatia, características de personalidades narcisísticas, psicopáticas ou "borderline", que são em boa parte hereditárias, o que ajuda a entender a saga dos Kims e outras dinastias tirânicas.
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