sexta-feira, março 06, 2009

GILBERTO DIMENSTEIN

O estupro e a excomunhão

FOLHA ONLINE

Não sou religioso --e, ainda por cima, sou judeu. Talvez não seja o indivíduo mais recomendado para comentar a decisão da Igreja Católica de excomungar a mãe da menina de nove anos em Pernambuco e os médicos que fizeram o aborto --a menina, de 9 anos, estava grávida do padrasto. A excomunhão me parece um segundo estupro.

Apesar de discordar, posso entender que a Igreja condene o aborto. Até, fazendo força, entendo que condenem um padre, parlamentar do PT, que defendeu o uso da camisinha. São posições arcaicas e, na minha visão, prejudiciais à saúde pública, mas se inserem em princípios.

O que não consigo entender é por que estão humilhando e fazendo sofrer ainda mais a mãe da menina grávida, já condenada a uma drama familiar --um sofrimento que se estende para a garota, que fica como filha de uma excomungada. Quem conhece a religiosidade do interior do Nordeste sabe o peso disso.

Faltou aí não só bom senso, mas humanidade. Duvido que essa seja a opinião da maioria dos católicos.

GOSTOSA

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LUIZ GARCIA

Banal festival


O Globo - 06/03/2009
 

Corrupção, sempre existiu na vida pública. O tema principal das denúncias do senador Jarbas Vasconcelos não é este ou aquele escândalo. Sua indignação, como deixou claro na tarde de terça-feira, é dedicada à banalização da desonestidade. 

Como disse, na imagem feliz, o senador Cristovam Buarque: a corrupção virou paisagem: "O povo passa, vê, e sente nojo. Mas nós fingimos que ela não existe." 

Se vale o retrospecto, fingir que ela não existe tem funcionado muito bem até hoje para os diretamente interessados. Fernando Collor saiu, corrido e correndo, do governo, e foi o que lhe bastou para escapar do processo penal. Fez-se de morto por alguns anos e está de volta ao cardume dos peixes graúdos com uma cadeira de senador, presente de desmemoriados eleitores alagoanos. 

É verdade que os réus do maior escândalo, até agora, do governo petista respondem a processo no Supremo Tribunal Federal. Uma ação judicial notável tanto pela quantidade de acusados como pelo exemplo raro que representa. 

Talvez pensando devido a essa raridade, Jarbas apresentou propostas antiladroagem, como um plano nacional anticorrupção e um movimento de combate à corrupção eleitoral. 

São belas ideias. O problema é que só podem sair do papel com adesão sólida e entusiasmada da classe política e do governo. Na opinião de muita gente boa, seria algo como pedir à raposa que ajude a reforçar a porta do galinheiro. É significativo, a propósito, que as sugestões do senador foram, como ele disse, pinçadas do programa de governo do PT - que as esqueceu logo depois das eleições de 2002. 

Entre os políticos atingidos, as acusações de Jarbas causaram uma variedade interessante de reações - de apelos e lamentações a grunhidos e rugidos. 

Para alguns, a melhor tática foi simplesmente tapar os ouvidos. Ou imitar José Sarney, presidente do Senado e um dos alvos das acusações de Jarbas. Ele simplesmente abandonou o plenário antes do discurso de terça-feira. Não por falta de coragem para enfrentar entreveros políticos - Sarney, com certeza, não tem esse tipo de fraqueza. Mas, e talvez pior, por confiar que não valia a pena, por desnecessário, brigar com tempestades, principalmente as verbais. Há precedentes que lhe dão razão. 

Quanto à opinião pública, desde o escândalo dos mensaleiros ela tem sido suficientemente informada sobre usos e abusos do poder na administração petista. E a popularidade de Lula não parece ser afetada em qualquer grau pela repercussão dos escândalos. 

Em parte, isso talvez tenha a ver com o fenômeno da banalização da corrupção. 

Pode estar aí uma das razões para se aplaudir a santa indignação de Jarbas Vasconcelos. O regime democrático nunca é absolutamente imune à ladroagem - mas, para evitar que os próprios cidadãos honestos comecem a vê-la como natural e inevitável, é sempre boa ideia algum graúdo gritar "pega ladrão!" de vez em quando. 

Quanto mais não seja, só para ver quem sai correndo.

ANCELMO GOIS

Governo dodói I


O Globo - 06/03/2009
 

Dilma Rousseff apareceu ontem com o olho esquerdo irritado no Seminário Internacional do Conselho de Desenvolvimento Econômico. 

Governo dodói II 

O ministro Paulo 
Bernardo, do Planejamento, quebrou um dente e cancelou ontem dois compromissos. 

Governo dodói III 

Márcio Fortes, ministro das Cidades, mancava muito de uma perna ao descer ontem as escadas do Brasília Alvorada Hotel.

Charles na favela 

O príncipe Charles, que chega ao Rio dia 12, além de plantar uma árvore no Jardim Botânico, deve ir ao Complexo da Maré. 

Batido o martelo 

Lula será recebido por Obama dia 14 agora na Casa Branca. 

No mais 

É como diz o cordelista paraibano Miguezim de Princesa, rápido no gatilho, num cordel sobre a mansão de R$5 milhões de Agaciel Maia: 

- Por mais que a gente procure/Seja no ar ou no chão/Ninguém encontra a receita/De tostão virar milhão/Abençoado do céu/O famoso Agaciel/Adquiriu uma mansão...

Ponto Final

O PT perdeu no Senado, com Tião Viana, a eleição para a presidência da Casa. Agora, com Ideli Salvatti, perdeu a Comissão de Infraestrutura. Como nos dois casos os eleitos são também da base de Lula, pode-se dizer que o placar é: lulismo 2 x 0 petismo.

ILIMAR FRANCO

A corrida

Panorama Político 
O Globo - 06/03/2009
 

A educação entrou na agenda política. Ontem, em Cabo Frio, o presidente Lula inaugurou três escolas técnicas federais, enquanto em Santana da Parnaíba o governador José Serra inaugurava uma estadual. Serra já entregou 157 novas escolas técnicas, e o governo federal promete construir cem unidades até o fim do ano. Em 2010, em São Paulo, serão oferecidas 200 mil vagas, e nas escolas técnicas federais haverá 500 mil matrículas. 

PMDB 2 x 0 PT 

Quando era ministro do governo Fernando Henrique, o deputado Paulo Renato Souza (PSDB-SP) dizia que era só a popularidade do presidente estar em alta para que a base parlamentar aliada começasse a brigar. Com os aliados do presidente Lula acontece o mesmo. Antes do carnaval, Lula reuniu os líderes dos partidos governistas e pediu a eles que se entendessem e evitassem disputas no Congresso. Pregou no deserto. O PT e o PMDB não param de medir forças desde a eleição para a presidência do Senado, culminando com a disputa pela Comissão de Infraestrutura da Casa. Governos mudam e erros se repetem. 

Fazer oposição é fazer escolhas políticas, identificando o adversário principal, e não posar de elegante para as revistas de moda" - ex-prefeito do Rio Cesar Maia, sobre o apoio do PSDB ao PT no Senado

AUTOFAGIA. O líder do PSDB, deputado José Aníbal (SP), rebateu as reclamações dos dissidentes da bancada. Diz que, dos 18, nove responderam a seu ofício, e, desses, sete foram indicados para as comissões que queriam. "O Semeghini estava eternizado na Ciência e Tecnologia. É bom para reciclar", disse ele, sobre a indicação de Julio Semeghini (SP) para a Comissão de Finanças. E chamou Antonio Carlos Pannunzio (SP) de "ingrato" por não ter ficado satisfeito na Comissão de Constituição e Justiça. 

Pingue-pongue 

Ameaçado de perder o mandato por ter ido para o PMDB, o deputado Geraldo Resende (MS) quer voltar para o PPS. "O único pecado que cometi foi trocar de partido", disse ele. O presidente do PPS, Roberto Freire, não o aceita de volta.

Com carinho e... 

A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) foi só afeto ontem com os prefeitos Rosinha Garotinho (Campos) e Armando Carneiro (Quissamã). Ela garantiu que em 90 dias libera R$50 milhões para a dragagem do porto da Barra do Furado. 

Um show de "habilidade" 

Os economistas e as agências de risco foram espetados ontem pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social: "Antigamente, os economistas traçavam três cenários: bom, ruim e regular. Hoje, com a crise, os cenários são ruim, péssimo e catastrófico". Ele registrou a presença de João Paulo dos Reis Velloso e Maria da Conceição Tavares: "Através deles cumprimento os poucos economistas que ainda restam no país". 

Desburocratização 
Os estados estão com dificuldade de liberar dinheiro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), carro-chefe do segundo mandato do presidente Lula, devido ao excesso de burocracia. São exigidas 13 certidões com validade que varia de 30 dias a um ano. "O PAC nos estados não está funcionando. O remédio para isso é Hélio Beltrão", disse o senador Francisco Dornelles (PP-RJ), referindo-se ao Programa Nacional de Desburocratização, implantado em 1980.

O PMDB vai convocar um congresso nacional, em junho, para aprovar uma proposta de programa de governo do partido para as eleições de 2010. 

DEPOIS dos arrufos, o ministro José Múcio e o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), conversaram ontem para afinar o discurso. 

DOIS suplentes foram eleitos presidentes de comissão no Senado: Flexa Ribeiro (PSDB-PA), para Ciência e Tecnologia, Valter Pereira (PMDB-MS), para Agricultura. O Senado é o paraíso dos sem-voto.

ELIANE CANTANHÊDE

Alianças espúrias

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/03/09

BRASÍLIA - O petista Tião Viana levou uma rasteira e perdeu a presidência do Senado para o peemedebista José Sarney, e a petista Ideli Salvatti agora leva outra e perde a presidência da Comissão de Infraestrutura para o petebista Fernando Collor. Sim, esse mesmo. Tião e Ideli, bem-vindos ao clube dos petistas que "caíram", uns mais, outros menos, por motivos variados: Dirceu, Palocci, Genoino, Mercadante, Jorge Viana, Marina Silva, Marta, João Paulo Cunha, além de operadores como Delúbio Soares.
A diferença é que Tião e Ideli foram detonados pela "base aliada", hoje sinônimo de Sarney-Renan no Senado e de "grupo dos 8" na Câmara: Temer, Geddel (emprestado a um ministério), Jader Barbalho, Henrique Eduardo Alves, Fernando Diniz, Eliseu Padilha, Eunício Oliveira e Eduardo Cunha, a estrela em ascensão.
A verdade, nua e crua, é que o PT não manda mais nada, e o PMDB manda cada vez mais. E essa gangorra coincide com os interesses e expectativas de Lula. Para o presidente, que terá o apoio do PT, chova ou faça sol, apresente Dilma, José ou João para 2010, um petista magoado ou humilhado a mais ou a menos não faz diferença. Mas qualquer peemedebista descontente ou desatendido faz muita diferença.
E começa a contaminação em outros aliados, como ficou evidente na reestreia de Ciro Gomes na cena nacional. Ele marretar o ex-correligionário José Serra não é nenhuma novidade. Mas, quando marreta o governo e o apoio a Dilma, aí, sim, há uma novidade. Ciro fala por boa parte do PSB e repete o discurso e o rumo do PC do B e do PDT.
Todos somados, ainda não são tão abrasivos quanto um só Aécio para a candidatura Serra, mas mostram que a guerra de 2010 será sangrenta e pulverizada dos dois lados. Quando Mercadante chia da "aliança espúria" entre Renan e Collor, comete um grave erro. Esquece que o PT é tão parte quanto vítima dela. Como, aliás, é ele próprio.

CLÓVIS ROSSI

A farinha cresceu, o saco é o mesmo

Folha de São Paulo - 06/03/09

SÃO PAULO - Cheguei, por uns dois segundos, a ficar com imensa peninha do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) ao ler a defesa que o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, fez da eleição de Collor para presidir a Comissão de Infraestrutura do Senado: "Depois de todos os episódios que ele viveu e sofreu, passando muitos anos sem ter uma posição de destaque, acho que a eleição chega em boa hora".
Coitadinho, não? Algum desavisado pode até pensar que ficou "sem uma posição de destaque" por algum expurgo, perseguição da ditadura (que, aliás, ele apoiou até o fim) ou algo parecido. Mas a peninha durou o tempo suficiente para lembrar que José Múcio é do mesmo time de Collor (o PTB), além de ter o mesmo DNA político, o velho coronelismo. É até usineiro, a categoria que foi a principal financiadora das aventuras de Collor.
Logo em seguida, me lembrei de que usineiro, agora, é "herói", segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pode até haver heróis entre eles, não sei. Mas boa parte não passa de uma das mais reacionárias forças políticas e empresariais, ávida permanentemente pelas benesses do poder. Mas, se são "heróis" para o chefão, como seu ministro deixaria passar a ocasião de festejar a eleição de tão nobre correligionário? Aí vem o senador Aloizio Mercadante com a "aliança espúria" [com Renan Calheiros] que teria sido responsável pela eleição de Collor. Ué, não são ambos, como Mercadante, da base aliada?
Espúria foi a formação dessa base, nos termos que constam dos autos de processo em andamento no STF. Mas Mercadante calou-se a esse respeito. São, portanto, farinha do mesmo saco, como o PT adorava chamar os demais partidos antes de mergulhar -e lambuzar-se- nesse mesmo saco.

MÍRIAM LEITÃO

Campo em queda

O Globo - 06/03/09

Este ano vai ser de queda na receita agrícola brasileira. A safra 2008/2009 de quase todos os grãos deve ser menor no país. A boa notícia pode vir do açúcar, que deve ficar com o preço quase estável lá fora. A soja, o carro-chefe, deve colher menos. A exportação de carne só cresce num cenário de recuperação. As boas notícias: a alta do dólar e a queda dos insumos.

A falta de crédito, a queda do preço das commodities e o aumento nos custos fizeram com que a plantação fosse menor para esta safra. Além disso, a seca que atingiu estados como Paraná e Mato Grosso do Sul prejudicou a safra de soja precoce e fez com que agricultores colhessem de 8 a 11 sacas por hectare, quando a média é colher 46 sacas. A Agroconsult estima uma safra total de grãos de 132,4 milhões toneladas em 2009, queda de 7,7% em relação à safra passada. A RC Consultores prevê 135,7 milhões de toneladas. Para a soja, a Agroconsult espera uma safra de 55,5 milhões de toneladas, 7,4% menos que a última safra. A RC diz que o volume de soja será de 57,8 milhões de toneladas, abaixo das 59,9 milhões de toneladas de 2008, e a queda no milho será ainda maior, de 58,7 milhões de toneladas em 2008 para 50,8 milhões de toneladas em 2009.

Se há queda no volume, há queda no valor das commodities. Para Fábio Meneghin, analista da Agroconsult, o bushel (a medida específica do produto) da soja deve ficar entre US$ 8 e US$ 8,50 lá fora. Já segundo Fábio Silveira, economista da RC, o preço da soja neste ano deve oscilar em US$ 9, queda de 23% para 2008. Já o milho deve cair 28%, ficando a US$ 3,80 o bushel, e o açúcar deve perder pouco, 2%, ficando a US$ 0,12 a libra.

“A receita agrícola vai ter uma variação negativa em relação a 2008. A situação só não vai ficar dramática porque os preços dos insumos estão caindo. Isso diminui o peso, mas não traz fartura para o setor”, diz Silveira.

Ele diz que suas projeções levam em conta uma queda do PIB americano de 1,5%. Se a economia americana cair mais e se a China crescer menos do que o previsto, os preços caem ainda mais. “Há espaço para os preços agrícolas caírem. Isso porque eles estão acima da média histórica, que para a soja é US$ 5,50, para o milho é de US$ 2,20 e para o açúcar é US$ 0,09.”

Para a safra 2008/2009, a rentabilidade vai ser menor que na safra passada. Em Mato Grosso, a previsão da Agroconsult é de uma rentabilidade de R$ 150 por hectare, um valor baixo, já que no último ano ela ficou em R$ 480/ha. Em Goiás, que tem logística melhor, a rentabilidade esperada é de R$ 300/ha, mas ela ficou em R$ 513 na última safra. No Paraná estará a maior queda, segundo a consultoria, de R$ 770/ha no ano passado para R$ 150/ha nesta safra.

“Isso é resultado da quebra da safra da soja precoce, por causa da seca, o que deve reduzir a produção do Paraná em 22%. Além disso, o estado sofre com a alta dos custos da produção. Já em estados sem quebra de safra, a redução é por causa da alta nos custos”, explica Meneghin.

Para a safra 2009/2010, são grandes as chances de a produção agrícola brasileira ficar estável ou ter um crescimento baixo. Isso porque, sem crédito, muitos produtores não terão condições de aumentar a área de plantio.

“Muito produtor de soja vendeu a preços mais altos. Quem conseguiu fechar contratos a US$ 10 o bushel, em fevereiro, deu-se melhor. Eles estão usando esse dinheiro para comprar insumos à vista, porque estão mais baratos”, conta Meneghin.

Para Silveira, a situação atual deveria fazer com que o modelo agrícola brasileiro fosse redesenhado, para que em momentos de bonança os agricultores fizessem um colchão. “O produtor tem o vício de depender do governo. E o governo fica refém do produtor e arca com o prejuízo se a produção não for vendida.”

Na verdade, esse é um velho problema brasileiro. Não interessa quantos anos bons aconteçam na agricultura. Um ano ruim é o suficiente para que os produtores corram a Brasília pedindo ajuda. Aliás, eles renegociam a dívida até em ano bom.

No setor bovino, há incerteza sobre a demanda. Segundo Gabriela Tonini, da Scot Consultoria, a produção brasileira deve ser de aproximadamente 9,5 milhões de toneladas, bem próximo do ano passado, e cerca de 20% devem ser exportados.

“Muita coisa ainda está incerta no mercado de carne bovina, dependendo da situação econômica dos EUA e da Europa. A exportação para a União Europeia está crescendo, mas o volume ainda é pequeno.”

Em janeiro, a exportação de carne bovina foi de 133 mil toneladas, queda de 34% para setembro de 2008, começo da crise. O preço também caiu. Em janeiro, ficou, em média, US$ 1.840 por tonelada, contra US$ 2.700 de setembro. Gabriela diz que, no mercado local, já houve queda de consumo e que o setor teme o desemprego.

“O setor está muito apreensivo. O mercado de boi gordo, na bolsa, tem hoje metade dos contratos que tinha no mesmo período do ano passado.”

Os produtores já começaram a buscar a renegociação das dívidas. Mas a desvalorização do real torna o preço em dólar das commodities mais atrativo. De qualquer maneira, será ano de vacas magras, depois de anos de vacas gordas: preços e vendas recordes.

DORA KRAMER

Um dia a casa cai


O Estado de São Paulo - 06/03/09


A avaliação é do Palácio do Planalto: para bom andamento dos projetos do PAC no Senado é ótimo ter Fernando Collor na presidência da Comissão de Infraestrutura; trabalhará mais afinado com a ministra Dilma Rousseff, que a líder do PT na Casa, Ideli Salvatti, derrotada na disputa.

Para o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, a escolha de Collor “veio em boa hora”. Resta esclarecer “boa” para quê. Tirando a clara descortesia para com a fidelíssima Ideli – cuja eleição, depreende-se, teria vindo em mau momento – tudo o mais é obscuro naquela declaração.

Sob a ótica da harmonia na base governista, a comemoração do ministro Múcio alimenta o dissenso; do ponto de vista do respeito às formalidades, revela apreço pelo atropelo do regimento e avaliza o critério de distribuição de sesmarias; sob o aspecto das relações com o Executivo, os vários exemplos do uso pragmático que o PMDB faz de cargos estratégicos não justificam celebrações no Planalto, presa fácil da chantagem.

Fernando Collor é do PTB, partido do ministro Múcio (eis!), mas foi feito presidente da comissão por Renan Calheiros, líder do PMDB, que assim não apenas pagou o voto em José Sarney para a presidência do Senado como assegurou a presença de um preposto na comissão das obras que são também o slogan da sucessão presidencial.

Tal cenário pode por ser considerado como algo próximo de uma “boa hora” para o governo? Depende de quem analisa; se aliado, adversário ou usuário. A situação, na percepção de um correligionário, o senador Aloízio Mercadante, é resumida em duas palavras: “aliança espúria”. Um espanto. Não que o PT se assuste com essas coisas. Já viu, e participou, de piores.

A própria Ideli Salvatti transitou com bastante desenvoltura na área quando integrou a tropa em defesa do direito de Renan Calheiros ter despesas pessoais pagas por um lobista, afrontar o decoro para se manter na presidência do Senado e apresentar documentos fraudulentos aos seus pares.

Em matéria de alianças espúrias, atropelo de regras, malversação da boa-fé pública e espertezas ignominiosas não há querubins no Parlamento.

Mas, nunca antes desde a opção preferencial do presidente Luiz Inácio da Silva pelo PMDB ao molde do cheque em branco para uso ilimitado, se ouvira uma desqualificação tão explícita do PT ao fiador da governabilidade petista.

Contrariando posições do presidente da República, que, pelo jeito desabrido de seu ministro das Relações Institucionais, vê tudo com muita naturalidade, inclusive o retorno da República de Alagoas ao topo. Renan Calheiros sempre mereceu dele a presunção da inocência contra todas as evidências e Fernando Collor, recebido em palácio, ganhou de Lula a certeza de que faria um “mandato extraordinário”.

O presidente segue no papel de equilibrista, mas seus dois sustentáculos partidários se afastam já sem pejo de disfarçar. Na Bahia, quase vão aos tapas; em São Paulo é certo que brincarão o carnaval de 2010 separados; no Rio Grande do Sul são como água e óleo; no Rio de Janeiro o governador Sérgio Cabral ri e o PT local não acha a menor graça.

Engalfinharam-se pela presidência do Senado e agora brigam por causa de Fernando Collor de Mello, cuja presença em cena fala por si. Tanto quanto a imagem do ex-diretor-geral Agaciel Maia sendo carregado em triunfo na despedida, depois de revelada a posse de patrimônio incompatível com sua renda.

Abstraindo-se as manobras para elegê-lo, nada há de especial no fato de Collor presidir uma comissão. É senador, foi recebido com homenagens por seus pares, em tese pode até presidir a Casa. Ele não é causa, é consequência da degradação geral dos costumes

Quando Lula justifica a escolha de Collor por ser fruto do acordo que elegeu Sarney, usa a própria régua. Se é normal escancarar o aparelho de Estado em troca de votos no Congresso, natural que se distribuam o comando de comissões de trabalho no Parlamento pelo mesmo critério.

Quem pode o mais, pode o menos.

Fogo inimigo

O governador de Minas, Aécio Neves, obviamente não é fiador da ladina ofensiva deflagrada por gente que se diz sua aliada, contra posições críticas ou meramente não engajadas à sua candidatura a presidente.

Certamente Aécio não avaliza a voz corrente da difamação contra quem se dispõe a analisar criticamente seus movimentos políticos Movido por provincianismo, sabujice, amizade pessoal ou afinidade de resultados, esse pessoal causa mais dano ao governador que qualquer disputa partidária ou noticiário severo.

Aécio notabiliza-se pela habilidade e fidalguia no trato. É por isso reconhecido. Mas se não desautorizá-los o quanto antes, seus áulicos terminarão por construir dele uma imagem negativa, obrigando-o a pagar publicamente a conta de urdidas executadas, por ora, sob a proteção do anonimato.

O IDIOTA CORRUPTO



SEXTA NOS JORNAIS

Globo: Dilma, Fazenda e governadores não se entendem sobre pacote

 

Folha: Empresas ampliam pedidos de renegociação de dívidas

 

Estadão: Lula descarta corte de gastos para evitar crise

 

Correio: A rinha de ouro de Ortiz

 

Valor: Teles resistem à crise e lucram mais em 2009

 

Gazeta Mercantil: Seguradoras disputam apólice de US$ 50 bilhões da Petrobras

 

Estado de Minas: Festa no céu e você é quem paga

 

Jornal do Commercio: Ciência e fé