terça-feira, novembro 02, 2010

MERVAL PEREIRA

Sinais para o futuro
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 02/11/10

O professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense Daniel Aarão Reis comentou comigo, na bancada do "Jornal das Dez" da Globo News do dia da eleição, que achou que os dois candidatos estavam muito tensos mesmo quando emitiram as protocolares mensagens de reconciliação política. Seria, segundo Aarão Reis, ainda consequência do clima agressivo que marcou a campanha eleitoral, principalmente no segundo turno.
De fato, a presidente eleita, Dilma Rousseff, fez um discurso frio, assumindo compromissos importantes, mas sem emoção — que surgiu por segundos quando falou em Lula, mas conteve-se —, enviando "aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nesta caminhada" uma mensagem da mão estendida, garantindo que não haverá "discriminação, privilégios ou compadrio".
Partiu do candidato derrotado, José Serra, o tom aparentemente mais inusitado, mas que não deveria provocar tanta surpresa aos petistas, mas sim aos tucanos.
Serra acenou com a intenção de sair da eleição como líder da oposição, e num tom muito acima do que imprimiu na própria campanha: "Nestes meses duríssimos, quando enfrentamos forças terríveis, vocês alcançaram uma vitória estratégica. Cavaram uma grande trincheira, construíram uma fortaleza, consolidaram um campo político em defesa da liberdade e da democracia no Brasil. Em defesa das grandes causas econômicas e sociais do país", disse, pintado para a guerra, dirigindo-se aos 44 milhões de eleitores que votaram nele neste segundo turno.
Quem deve ter ficado surpreso e preocupado é o senador eleito por Minas Aécio Neves, considerado pela maioria como o herdeiro natural das bandeiras do PSDB e candidato natural à Presidência da República em 2014.
Os petistas não têm direito de ficar espantados nem de reclamar da dureza das palavras num momento de festa pela eleição da nova presidente do país.
Em 1994, Lula saiu derrotado da campanha presidencial chamando o Plano Real de "estelionato eleitoral" e durante todos os oito anos de mandato do então presidente Fernando Henrique Cardoso o PT votou contra todas as propostas do governo, desde o Plano Real em si.
O PT foi contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Fundef, que mudou radicalmente o financiamento do ensino fundamental no país; contra a criação da CPMF; contra a reforma da Previdência; contra a privatização das telecomunicações, entre muitos outros temas.
Em janeiro de 1999, reeleito Fernando Henrique no primeiro turno, o PT lançou uma campanha "Fora FH", e o hoje governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, escreveu um artigo na "Folha de S. Paulo" pedindo o seu impeachment.
Portanto, o tom belicoso de Serra na sua fala à Nação nada mais é que uma proposta de postura à oposição derrotada mais uma vez pelo PT, uma tentativa de marcar posição desde o primeiro momento.
A oposição que saiu das urnas fortalecida, no comando de 11 estados — 8 governados pelo PSDB; dois, pelo DEM; e um, pelo PMDB dissidente — governará 56% da população e 60% do PIB, e teve mais votos do que nas duas últimas eleições em que foi derrotada, reduzindo em quase dez milhões de votos a diferença para o PT.
O PSDB sozinho governará a partir de janeiro cerca de 47% dos brasileiros, quase metade do eleitorado brasileiro.
Os 44% de votos válidos obtidos por José Serra neste segundo turno traduzem o melhor desempenho da legenda nas últimas três eleições presidenciais perdidas, e em termos de eleitores governados o partido só foi melhor em 1994, na primeira eleição de Fernando Henrique com o Plano Real, quando governou 52% dos eleitores.
A unidade demonstrada pelo partido durante a campanha eleitoral começou a se desvanecer a partir da fala de Serra, que deliberadamente não citou o ex-governador mineiro Aécio Neves nos seus agradecimentos, sinalizando naquele momento que endossava as críticas de alguns de seus assessores mais próximos que viram nos resultados do segundo turno em Minas, quando Dilma Rousseff aumentou a vantagem sobre Serra, sinal de que Aécio apenas simulou estar empenhado na campanha.
A diferença de 1,7 milhão de votos, porém, nada tem a ver com a falta de empenho do ex-governador, mas com condições específicas locais, como uma rejeição natural à hegemonia paulista na política nacional e à vontade de que Minas tenha um papel mais destacado no PSDB, além, evidentemente, das sequelas deixadas pela disputa entre Serra e Aécio pela indicação a candidato à Presidência da República.
Ziraldo, um mineiro ilustre, não se surpreendeu com a ineficácia da ação de Aécio. Uns 15 dias antes da eleição, quando havia indícios de que o ex-governador poderia virar os votos mineiros tal a intensidade de sua atuação, ele me disse que Dilma venceria em Minas por dois milhões de votos.
"Eu conheço minha gente, e não adianta fazer pesquisa em Minas. Mineiro não revela seu voto", explicava Ziraldo.
E também não entra em briga sem necessidade. Aécio Neves telefonou para cumprimentar Serra, deu uma nota oficial elogiando a campanha "excepcional" do candidato tucano e recolheu-se.
Prepara-se para assumir o comando da oposição já articulando no Congresso com partidos hoje na base do governo, como o PSB, que saiu fortalecido da eleição e terá mais força política para disputar com o PT espaço no novo governo Dilma.
Aécio propõe ao PSDB uma oposição que não seja radicalizada e que se conecte mais amplamente com outras forças políticas do país.

DORA KRAMER

Por que não?
DORA KRAMER
O ESTADO DE SÃO PAULO - 02/10/10


 O desafio de suceder a Luiz Inácio da Silva pode não ser tão difícil para Dilma Rousseff como parece de início. Isso se ela for mulher de levar ao pé da letra o que diz e, nesse aspecto, já começando por se contrapor no estilo ao criador.

Durante todo o período como presidente, Lula não teve compromisso algum com as palavras por ele mesmo ditas, o que em pouco tempo minou a credibilidade de seus discursos.
De um lado foi excelente para seus propósitos de caráter popular, político e eleitorais porque como ninguém levava a ferro e fogo o que dizia podia dizer qualquer coisa diante de um microfone. E de qualquer maneira: agredindo o idioma, a gramática, a boa educação ou alguém, instituição ou situação que o desagradasse.
Pois se a presidente eleita começar por fazer de suas primeiras palavras uma profissão real de fé, já marcará uma diferença importante sem precisar trair nem renegar seu mentor. 
Coisa, aliás, que dificilmente ela faria mesmo a despeito de todos os exemplos já amplamente citados, nenhum deles semelhante em nada às circunstâncias que cercam Lula e Dilma.
Dilma disse que pretende governar sem privilégios ou compadrio. Terá querido dizer, por suposto, que dará tratamento impessoal à Presidência da República. Governando com aliados, sim, mas conferindo à oposição o respeito devido a uma força política antagônica que recebeu 43 milhões de votos. 
Isso do ponto de vista administrativo, óbvio, mas não só. Na política, sobretudo, a neutralidade exigida pela Constituição requer que o Poder Executivo não pretenda se sobrepor aos outros, notadamente ao Legislativo, usando dos instrumentos de poder para solapar prerrogativas do Congresso.
Que boa parte dos congressistas deixam docemente que sejam solapadas, diga-se.
Dilma afirmou que não aceitará irregularidades no governo. O histórico na Casa Civil não recomenda, é verdade. Mas, digamos que, imbuída da nova responsabilidade, ela venha a pôr um fim na longa temporada de afagos públicos em acusados de toda sorte e duros ataques a instrumentos de fiscalização da administração pública. 
Admitamos que a nova presidente seja diferente e não aceite se descompor moralmente apenas porque o descomposto de plantão pode vir a ser precioso numa eleição mais à frente ou em algum enrosco em que o governo ou algum de seus integrantes se envolva e que necessite de defesa ferrenha no Congresso.
Foi bem clara quanto à sua falta de compromisso “com o erro, o desvio o malfeito”. E como não pareceu disposta a abrir exceções, é de se acreditar que pessoas consideradas por Lula diferentes dos comuns como o presidente do Senado, José Sarney, estejam incluídas. 
Na visão da nova presidente “o povo não aceita que governos gastem acima do que seja sustentável”. Portanto, é de supor que não estejam nos seus planos elogios à gastança feita por Lula a partir da reeleição. 
Em seu pronunciamento Dilma Rousseff dedicou longo trecho a afirmar seu zelo pela democracia. Prometeu zelar pela liberdade de imprensa, de culto religioso, pela observação da preservação dos direitos humanos e assegurou também que zelará pela Constituição, “dever maior da Presidência da República”. 
Quer dizer, não dará abrigo a tentativas de discriminação religiosa; não manterá relações de amizade com ditadores; não emprestará seu apoio a iniciativas de se impor controles do Estado sobre meios de comunicação e, assim, se dispõe a se contrapor às propostas apresentadas por parlamentares e governantes de seu partido País afora.
Dilma prometeu também nomear “ministros de primeira qualidade”. Ou seja, não fará do ministério abrigo para derrotados nem para apaniguados desprovidos de competência. 
E o principal de tudo é que expressa seu respeito, apreço e reverência pela Constituição do Brasil, o que leva à conclusão de que não pensa em desrespeitar as leis sejam quais foram as circunstâncias. 
Se a tudo isso se juntar o respeito à verdade, ao patrimônio público e às regras de civilidade, a tarefa de suceder a Lula com sucesso pode ser bem mais fácil do que imagina Dilma.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Deixa estar
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/11/10

Os peemedebistas anotaram: Michel Temer não acompanhou nenhum minuto da apuração ao lado de Dilma Rousseff, só conseguiu cumprimentá-la junto com os demais aliados, pouco antes do pronunciamento da vitória, e, ontem, quando a petista fez a primeira reunião pós-eleitoral, não havia integrante do partido presente. Houve apenas um telefonema do presidente do PT, José Eduardo Dutra, ao vice.
Embora o comportamento tenha sido registrado, a cúpula do PMDB não pretende criar caso. Não agora. Se algo vier a aflorar, será quando da definição do que realmente importa: a formação do governo.
Na foto - O PMDB também reparou que seu desafeto Fernando Pimentel (PT-MG), exilado depois do episódio do dossiê, não saiu do lado de Dilma desde domingo.
Trinca - Decreto do início deste ano estabelecendo o ministro da Casa Civil como responsável pela transição pelo lado do governo será alterado para permitir que o interino Carlos Eduardo Esteves Lima divida a tarefa com Paulo Bernardo (Planejamento) e Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula.
Então tá - Indagado sobre a ausência de Ciro na festa da vitória, Cid Gomes (PSB-CE) explicou que o irmão sempre prefere acompanhar a apuração em casa, pois isso traria sorte a seus candidatos.
Wally - Outro que chamou a atenção por não comparecer ao evento foi o ministro da Defesa, Nelson Jobim.
Tô fora - Em conversas com aliados, Geraldo Alckmin desautorizou qualquer sinal hostil a Aécio Neves devido ao mau desempenho de José Serra em Minas.
Assimetria - Explicação de Rodrigo de Castro (PSDB-MG), membro destacado da tropa de Aécio, para o resultado no segundo colégio eleitoral: ‘Lula teve influência horizontal no processo, mas, verticalmente, amargou derrota acachapante’.
Emocional - Quem conhece Serra de longa data acha bobagem atribuir grande significado ao fato de o tucano ter caracterizado seu pronunciamento da noite de domingo como ‘até logo’ e não ‘adeus’. Ele não sabe ao certo o que fará nem mesmo no curto prazo. No longo, suas perspectivas eleitorais são bastante limitadas.
Cofre - O ex-secretário Yoshiaki Nakano se movimenta para voltar à Fazenda na futura gestão Alckmin. O atual titular, Mauro Ricardo, tem chances de permanecer. Embora muitos se queixem de seu estilo ‘trator’, o governador eleito admira seu empenho na arrecadação.
Numa nice 1 - Relator do Orça­mento de 2011, Gim Argello (PTB-DF) apresentará emenda destinando R$ 4 bilhões à compra de kits com material e uniforme para alunos da rede pública. O governo já sabe da articulação e tudo fará para abortá-la.
Numa nice 2 - O senador, vizinho e companheiro de caminhadas da presidente eleita, também pretende abrir negociação para o aumento do Judiciário, outro assunto tabu no governo. A proposta de Gim é escalonar o reajuste, com previsão de R$ 1 bilhão de gastos extras já em 2011.
Lacrado - Os computadores utilizados por Erenice Guerra quando ministra, agora sob perícia da PF no inquérito que apura tráfico de influência na Casa Civil, não eram os mesmos da sua antecessora, Dilma Rousseff. As máquinas dos chefes da Casa Civil são retiradas de uso quando estes deixam os cargos. Em outras pastas, apenas apagam-se os arquivos.
Tiroteio
Serra pode ter dito “até logo’, mas somente ao PSDB, no qual agora terá de se acomodar. Para a cadeira de presidente, os eleitores deram a ele um adeus definitivo.
DO DEPUTADO DR. ROSINHA (PT-PR), que não conseguiu se reeleger, sobre o discurso do candidato tucano depois de anunciada a vitória de Dilma Rousseff.
Contraponto
Só em 2058
Em entrevista concedida na noite de domingo, uma vez conhecido o resultado da eleição, Marina Silva foi inquirida sobre sua opção de voto no segundo turno. Para desconversar, a candidata do PV prometeu desfazer o mistério ao completar cem anos - ela tem 52.
- O benefício de revelar com cem anos é que o pessoal dirá: ‘Ih, ela nem lembra mais em quem votou...’.
Diante da decepção dos repórteres, Marina procurou mostrar que a perspectiva não era assim tão remota. Seu avô, contou ela, morreu aos 103 anos.

ANCELMO GÓIS

Palocci é o cara
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 02/11/10

Dilma, ao sair de casa, domingo, e embarcar no carro para fazer o discurso da vitória, olhou para trás, onde estava um monte de medalhão petista, e escolheu Palocci: "Vem comigo."

Fator Pimentel
Uma pedra no sapato de Dilma é o que fazer com seu amigo Fernando Pimentel, o ex-prefeito de Belo Horizonte, sem melindrar notáveis petistas que o responsabilizam pelas trapalhadas do núcleo de inteligência da campanha e pela aliança com Aécio na eleição de 2008.

Minas e Energia
Com o argumento de que o Rio é o maior produtor de petróleo do país, o PMDB do estado quer indicar Jorge Picciani para a pasta das Minas e Energia. Com Lula lá, o lugar era uma espécie de reserva de mercado do conglomerado Sarney.

Caixa negativoA campanha de Serra fechou com contas a pagar entre 20 e 25 milhões de reais.

Fraga na Educação...
Aliás, Serra confessou a um amigo, pouco antes da eleição, que, se ganhasse, iria convidar Armínio Fraga para o Ministério da... Educação.

No mais
Ontem, choveram mensagens na internet de gente lembrando que nem Dilma nem Serra incluíram Deus nos agradecimentos depois da eleição. Já na campanha, os dois usaram o santo nome do Senhor em vão.

Volta, Quitéria
De João Bosco, o músico que é Império Serrano roxo, triste com a saída da querida Quitéria Chagas da escola: "Império sem Quitéria é que nem Império sem agogôs. Não dá para imaginar. Quitéria é patrimônio nosso. Se a causa realmente for grana, é mais absurdo. O Império sempre foi uma escola modesta, mas com dignidade."

É que...
Quitéria renunciou, pressionada pela escola, que queria uma rainha com patrocínio. Foi trocada por Vânia Love, irmã do jogador Vagner Love.

Bença, Tia NastáciaDo pesquisador Ricardo Cravo Albin sobre o fato de o MEC proibir alguns livros de Monteiro Lobato nas escolas por suposto conteúdo "racista": "Vivo estivesse, Sérgio Porto diria: se Tia Nastácia é racista, o ?Samba do crioulo doido?, então, será um hino feito pelo Hitler em pessoa."

Violência no Rio
A conta é do professor Mauro Osório sobre números do Centro de Pesquisa em Violência da Universidade Candido Mendes. O Estado do Rio, na comparação com São Paulo, Minas, Paraná, Pernambuco e Bahia, é o único em que a taxa de homicídios da capital é menor que a do Estado.

Senão, vejamos...
A taxa de homicídios no Estado do Rio é de 40,1 por 100 mil habitantes/ano, contra 35,7 na capital. Em São Paulo, por exemplo, esta proporção é de 15 (Estado), contra 17,4 (capital).

Alô, Beltrame!
Domingo, no Rio, por volta de 23h30, dois passageiros de uma van Cascadura-Cosmos desceram em frente à favela Cavalo de Aço, carregando dois fuzis embrulhados num jornal. Deram R$ 100 para o motorista, que pegou o dinheiro e disse: "Não posso fazer isso todo dia, pode sujar para mim." Meu Deus...

Gambás no campus
O campus da Universidade Estácio de Sá da Barra, no Rio, está infestado de... gambás. É um tal de gambá caindo pelo teto no meio da sala de aula, roubando lanches etc. A universidade já chamou o Ibama.

Miau, miau
Após perder uma gatinha dada de presente por Vera Fischer num suposto acidente na American Pet, no Leblon, o cabeleireiro Glecciano Luz acaba de ganhar ação contra a petshop. O dinheiro, R$ 4 mil, será doado à Suipa.

Rescaldo
De Narcisa Tamborindeguy durante sua votação numa escola em Copacabana: "Vou votar 45. Mas... nossa... a foto dele e tão feia que penso até em mudar o voto".

Guerrilheira
A capa do jornal americano USA Today, de ontem, dizia assim: "Guerrilheira é eleita nova presidente do Brasil". Ex... ex...ex...

Faltou na foto
Teria sido melhor para a biografia de ambos que Aécio Neves estivesse ao lado de José Serra e do alto comando tucano na hora do discurso de reconhecimento da derrota.

CALADA

ARNALDO JABOR

O Rio de Janeiro é uma personagem
ARNALDO JABOR
O ESTADO DE SÃO PAULO - 02/11/10


Domingo, fui votar. Enquanto os votos caíam nas urnas, escolhendo uma grave mutação na vida nacional, meu filme estreava nos cinemas do país.

Desculpem a autorreferência, mas foi um domingo de muita emoção - "the end", fim de jogo, página virada no meu folhetim, ponto final do ônibus político.

Notei também que os cartazes de propaganda já eram retirados e isso me animou porque vi que "o vasto e incessante universo" (apud Borges in "Aleph") continuava sua marcha e entendi que, mesmo debaixo da avalanche política que nos soterrou de papéis, cartazes, falas falsas, mentiras e fracassos, há coisas que veremos intactas no futuro, e que o Rio continuará sendo uma personagem especial, tanto no meu filme como na vida social.

A cidade do Rio é uma pessoa poética e com desejos próprios. Há cidades que se movem sem rumo, mas o Rio resiste com suas esperanças e ilusões.

Não quero listar saudades, mas lembro do tempo em que as geladeiras eram brancas e os telefones eram pretos, como definiu Rubem Braga; lembro-me do bonde entrando na galeria Cruzeiro, sob a chuva, em um remoto Carnaval batido por ventos de lança-perfumes. Mas, não me interessa o tempo - apenas o "espaço" do Rio, as coisas que vejo desde criança como carioca do Meyer, da Urca e de Ipanema: cores, cheiros, ventos da terra e do mar, sal e peixes, súbitas luzes, súbitas brumas, súbitas "brahmas". Há no Rio coisas ínfimas que só o carioca vê: a púrpura que colore por instantes a Lagoa antes do crepúsculo nos dias em que a água é um espelho sem uma onda, sem um peixe saltando, quartetos de cigarras abrindo o verão, o esquilo atravessando a estrada das Canoas, a cotia do campo de Santana farejando perigo, a chuva quente que faz subir vapor nas calçadas, vejo as flores dos flamboyants caindo como gotas de sangue, vejo a garça magra e branca como um manequim desfilando no Jardim de Alá, sinto o calor, a energia pesada dos imensos granitos de 1 bilhão de anos, atrás de minha casa, onde os dinossauros se aqueciam, contemplo os urubus dormindo na perna do vento do Corcovado e um teco-teco vermelho passando entre eles, a cara do imperador assírio na Pedra da Gávea.

Essas coisas nem a política nem a truculência nem a estupidez vão apagar.

Apesar do tráfico e da violência, há nos morros a sabedoria calma de velhos sambistas, há nas ruas os poéticos caixotinhos dos apontadores de jogo do bicho, vendendo apostas nas esquinas em calmas conversas com aposentados, há as frutas, os legumes, as gargalhadas dos feirantes nas manhãs, há a malandragem, o tom debochado do carioca sabido, o arrastado sotaque em que ecoa a desconfiança nos poderes da capital que já fomos, ritmos e gestos nascidos nos balcões de secretarias desde os tempos do rei, o sotaque curvo como a paisagem arredondada, oscilando em negaças e volteios, a fala marcada por sambas, metáforas vivas condensando morte e amor, cachaça, empada, navalha, bilhares e futebol.

Entre a fórmica, os sujos grafites e os edifícios boçais, dá para ver ainda pedaços dos anos 40, restos de uma delicadeza perdida, as anedotas que se renovavam a cada semana, com papagaios e portugueses, piadas que giravam entre gagos, fanhos e gatos caindo do telhado. Há, sim, uma beleza em nossas fragilidades, no "samba, na prontidão (falta de grana) e outras bossas que são coisas nossas...", há a poética dos camelôs, objetinhos insignificantes nos tabuleiros, há também, apesar da decadência, uma satisfação cotidiana nos subúrbios, uma alegria desesperançada, uma aceitação das impossibilidades, diferente dos lamentos utópicos de inocentes do Leblon.

Há, sim, o jeito de andar das cariocas (olha o jeitinho dela andar), hoje com barrigas de fora e calças apertadas, sim, uma sexualidade forte não de celebridades de plantão, mas de gostosíssimas comerciárias e bancárias ao fim do expediente no centro, há o prazer de amar Ipanema e Leblon de novo, principalmente depois que o prefeito derrubou o muro da vergonha do César Maia no poético bar 20, onde o bonde fazia a curva desde o início dos tempos; há a tragédia da miséria em toda parte, sim, mas, entre os raios da tristeza, há os inúmeros grupos de choro e samba, tocando anônimos nos botequins e, sob sovacos de morro, há uma alegria soterrada que está reflorindo para além da excessiva euforia das escolas de samba, uma alegria mais discreta e verdadeira, há a alma de Nelson Rodrigues entre botequins e negões, há em minha cabeça a lembrança das últimas conversas com meu avô que me disse, já gagá, com os olhos úmidos: "É chato morrer, meu neto, porque eu nunca mais vou ver a avenida Rio Branco!..." Era na avenida que ele me levava para tomar "frapé" de côco na Casa Simpatia.

Não temos futuro?

Mas temos as calmas tardes do subúrbio passado, a precariedade de nossa vida antiga, de um mundo com menos gente louca e má. "Ah! Você por acaso quer a volta do atraso, da miséria terrível de antes?" - dirão alguns. Não, claro que não.

Mas acho que o Rio preserva algo muito precioso neste país, alguma coisa delicada que sumiu em outros lugares; há uma preguiça sábia, diferente da paranoia paulista, há uma moleza para além do ócio ou do desemprego, a malemolência das conversas, há o ritmo da "porrinha", um ritmo sem capitalismo, há restos de trilhos de bonde entrevistos nas falhas do asfalto, há a cidade desenhada sobre um corpo de mulher, tudo redondo, doce, há as montanhas da Barra que são mulher, há a linha infinita da restinga de Marambaia à Joatinga, linha frágil que divide o mar ao meio, e, finalmente, há a poética da sujeira, da zorra total, do baixo mundo, há a putaria poética em Copacabana entre veados, aloprados, "lunfas", "potrucas", michês, miquimbas e cafifas, todos num desabrigo corajoso e batalhador.

Não importa se vem aí, talvez, um "neojanguismo" tardio e ridículo.

Mas, o Rio é uma personagem que resistirá.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Vibração positiva
Sonia Racy 


O Estado de S.Paulo - 02/11/10

Como faz todas as segundas-feiras, Abilio Diniz enviou ontem uma mensagem para os 145 mil funcionários do Grupo. Tema? Não poderia ser outro: a eleição da primeira mulher presidente no Brasil. Antes dela, no comando do País, somente a princesa Isabel. 
Entre elogios ao governo Lula e a necessidade de correção de alguns erros cometidos no passado, o empresário reiterou sua fé no ajuste fiscal, na revisão dos gastos públicos e na reestruturação da máquina governamental em busca de maior eficiência e custos mais baixos.
E ao fim, o empresário dilmista afirma: "Dilma tem plena condição de administrar e superar as dificuldades para o Brasil continuar a crescer".
Calmaria
Os mercados financeiros operaram ontem tranquilos, em ritmo de feriado. Era dada como certa informação publicada pela coluna no domingo. A de que Guido Mantega e Henrique Meirelles permanecem em seus respectivos cargos por pelos menos seis meses. Bem como Paulo Bernardo, no Planejamento. 
Consequência de pedido de Lula para Dilma.
Guardião
Meirelles, no entanto, teria condicionado permanência temporária para um ministério que lhe desse visibilidade. 
Para dirigir o BC? Voltou-se a falar em nomes como o de Fábio Barbosa. Na formação do primeiro governo Lula, o executivo foi cogitado antes da escolha de Meirelles.
Peça chave
Grande incógnita, cuja definição é ansiosamente esperada por banqueiros e empresários, é o destino de Antônio Palocci.
Falou-se em Casa Civil. Depois, em esvaziamento da ex-pasta de Dilma com intuito de fortalecer a secretaria-geral da Presidência para abrigá-lo.
A aposta da vez ontem era a... Petrobrás.
Prêmio?
Para Aloizio Mercadante estaria sendo reservado o cargo de ministro da Ciência e Tecnologia.
Tipo exportação
Serra prepara-se para viajar e descansar. Escolhe lugar onde possa andar em paz e... Anônimo.
Acerto de contas
Após agradecer a Sérgio Guerra, Alckmin e Andrea Matarazzo, em pronunciamento anteontem, Serra teve que administrar os suspiros das militantes que pediam: "E o Indio, o Indio?".
Riu e emendou: "Quero agradecer ao meu vice, que é muito popular".
Acerto de contas 2
Alckmin afirma ter sido pego de surpresa por Serra, que não economizou agradecimentos por seu empenho na campanha. "É como se eu tivesse sido eleito pela segunda vez", contou Geraldo.
Barrados no baile
A segurança estava para lá de rígida na suíte reservada para Dilma receber cumprimentos, anteontem, no Naoum Plaza em Brasília. Eduardo Campos e Magno Malta foram barrados na porta e liberados só depois de muita reclamação.

Na frente
Lucas Di Grassi, piloto de Fórmula 1, será homenageado em jantar amanhã, na casa de Ronaldo Sampaio Ferreira. Comemoram o patrocínio da Bombril ao esportista.
Inês Pedrosa chega de Portugal para lançar seu novo livro Os Íntimos, sexta, na Livraria da Travessa, Rio. Com direito a Caetano Veloso lendo seus trechos preferidos.
Modesto Carvalhosa e Nelson Eizirik lançam Estudos de Direito Empresarial. No escritório da dupla que completa 50 anos de funcionamento. Dia 8. 
Maurício Pazz e Rodolfo Stocco estreiam a programação musical do Ponto do Livro. Quinta-feira.
Andrucha Waddington twittou e repercutiu no meio cultural. Quer Celso Amorim no Ministério da Cultura do governo Dilma. 
Na internet ontem: "Se o Serra tivesse levado o Ganso e o Neymar..."
Day after
Passadas as eleições e diante de uma abstenção que atingiu 21,5%, a coluna conversou com o jurista Miguel Reali Júnior sobre a adoção do voto facultativo e uma eventual mudança no sistema eleitoral.
A democracia brasileira está preparada para a adoção do voto facultativo?
Eu diria que não. Isso porque não adianta mudar de obrigatório para facultativo sem alterar o sistema eleitoral. Ou seja, é preciso fazer antes a reforma política. Mesmo porque, até certo ponto, o voto hoje é facultativo, pois a simples justificativa elimina qualquer tipo de sanção. Você não pode pensar num voto opcional analisando apenas uma eleição majoritária.
Qual seria a melhor saída?
Acho que a opção ideal seria a adoção do sistema distrital misto, aquele em que o eleitor vota no candidato do distrito e na lista de nomes indicados pelo partido. Isso evita a eleição dos Tiriricas, já que os partidos são obrigados a selecionar candidatos mais qualificados e identificados com os distritos que representam. Ou seja, autênticos líderes políticos.
Existem mais benefícios com a adoção desse sistema?
No sistema distrital misto, o trabalho do parlamentar é acompanhado de perto por quem o elegeu. Existe um comprometimento efetivo com o eleitor. Pesquisas mostram que 30% das pessoas já não se lembram mais em quem votaram em 3 de outubro. Quer exemplo melhor para que o parlamentar deixe de assumir 
compromissos com suas bases?
Acredita que a Dilma poderá fazer a reforma política necessária?
Ela precisará de força política para cacifar a reforma. E os deputados, por sua vez, devem aceitar a mudança no sistema pelo qual foram eleitos. O grande problema é que eles resistem a qualquer alteração que signifique eventual prejuízo no futuro.
GILBERTO DE ALMEIDA 

GOSTOSA

MÍRIAM LEITÃO

O futuro ou os "ismos"
Miriam Leitão
O GLOBO - 02/11/10



O momento é decisivo. O Brasil pode buscar o futuro, ou voltar a meados do século passado. A demonstração de força do presidente Lula ao eleger uma novata em eleições, sem os requisitos de carisma e capacidade de comunicação, pode ser o começo de um novo caudilhismo. O projeto de Lula voltar em 2014 lembra o lusitano sebastianismo; a saudade do rei que partiu.

Na política econômica, o país voltou a se equilibrar sobre um velho tripé: a ideia de que o excessivo gasto público não produz inflação; prática no BNDES de escolha de empresas vencedoras para as quais destinar dinheiro subsidiado; grandes projetos conduzidos por empresas estatais. Isso é setentismo, o modelo dos militares nos anos 70 que nos levou ao inflacionismo e a esqueletos nos armários. Qual é o ideário da presidente Dilma? Os sinais que deu são de que aposta nesse velho tripé do regime que, por ironia, combateu; e desconfia do tripé do novo Brasil que saiu do Plano Real e da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Uma mulher no mais alto cargo da República é um grande avanço. E esse progresso ficou bem definido pela presidente eleita em seu primeiro discurso. Ela disse que é o fim de uma barreira, o entendimento de que esse mesmo movimento precisa ser feito em todos os campos, organizações, empresas. O Brasil está atrasado no esforço por igualdade de gênero. O risco, no entanto, é a confirmação dos estereótipos. Ela chegou lá pela força política de um homem, que a escolheu e a defendeu contra tudo e contra todos, passando por cima dos mais elementares limites institucionais da Presidência da República. Dilma tem méritos e terá que mostrá-los agora. Se ela se comportar como a segunda em seu próprio governo, por gratidão ou reverência ao seu criador, ela confirmará a ideia do papel subalterno da mulher. As mulheres que estão na política não entraram todas pela mesma porta: algumas constroem sua própria trajetória; outras são usadas para ampliarem o poder patriarcal de algum chefe político ou de um clã no poder. Está aí a família Roriz que não me deixa mentir. Como Dilma tem conteúdo e força própria, ela pode se afastar do modelo paternalista com que foi ungida e deixar sua marca na História.

Que assim seja. De retrocessos as mulheres não precisam mais. O país pode estar quebrando o monopólio da presidência para os homens e no início da era em que será "natural", como disse a presidente, uma mulher no cargo; ou pode ser mais um caso de paternalismo.

A popularidade do presidente Lula também tem duas facetas. Uma moderna e outra velha. Em que vertente ela vai se consolidar é a grande questão.

Um líder ser querido e ter alto índice de aprovação é bom. O estilo de Lula, de líder de mobilização, ajudou a leválo ao patamar em que se encontra, mas a aprovação vem também do aumento da capacidade de consumo da população que se deve a inúmeros fatores, alguns remontando às decisões tomadas no governo de FHC, que ele tanto critica. O risco é Lula usar essa popularidade para reconstruir no Brasil o ultrapassado modelo do caciquismo populista em voga em meados dos anos 50 na América Latina. Aí, o lulismo seria um evento da categoria do getulismo e do peronismo.

A presidente eleita tem dito que vai erradicar a pobreza no país. Estudiosos têm dito há anos que está no horizonte das nossas possibilidades erradicar a pobreza extrema.

Como isso será feito é que definirá se estamos indo em direção ao futuro ou rumo ao passado. As políticas de transferência de renda têm que ser uma ponte para que o Estado chegue às famílias e, através de outras políticas, de educação, emprego e renda promova a emancipação dos pobres. Se for consolidada a atual forma de apresentar o Bolsa Família, como se fosse uma doação de um pai ou mãe dos pobres, o país estará confirmando velhos defeitos históricos como o messianismo e o clientelismo.

O culto à personalidade a que Lula e o PT se entregam tem como objetivo manter viva sua mística para 2014. Se for isso, o país viverá os próximos quatro anos no ambiente com o qual se manipulou a população portuguesa no século XVI, embalado pelo sonho de volta do rei D. Sebastião, "o Desejado".

Lula conheceu vales e picos, mas por alguma mágica até os analistas independentes falam apenas dos picos como se ele tivesse sempre sido imbatível. Derrotado três vezes para a Presidência, só conseguiu vitória no segundo turno nas eleições que disputou, e chegou a ter popularidade baixíssima em 2005 após o estouro do caso do mensalão. Se ele se sentir posto de lado, como reagirá o seu enorme ego? Se ele permanecer como uma sombra pairando sobre a sua sucessora e aguardado como um Dom Sebastião, o país estará em pleno retrocesso.

O nacionalismo foi manipulado como arma de campanha eleitoral. Ele pode ser bom, se for confiança na força do país com visão estratégica do seu futuro. Ou pode ser retrocesso se for a defesa do modelo autárquico, com estatais se agigantando em nome de um falso patriotismo. O futuro do Brasil tem que incluir um forte setor privado, e integração com o mundo.

O país está numa encruzilhada.

Pode ser moderno, com uma classe média pujante, que busca a igualdade de gênero e promove os pobres através de rede de proteção e educação; ou pode ser de novo um país dos velhos "ismos" que nos apequenaram no passado e ainda estão presentes.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

A eleição de Dilma Rousseff
Editorial
O Estado de S.Paulo


Sem o presidente Lula, a ministra Dilma Rousseff nem candidata teria sido. Com ele, acaba de entrar para a história como a primeira mulher eleita para governar o Brasil e a segunda pessoa a chegar à Presidência sem nunca antes ter disputado uma eleição. A primeira foi o marechal Eurico Dutra, em 1945, com o apoio, aliás, do recém-deposto ditador Getúlio Vargas. E Lula se consagra como o primeiro presidente brasileiro a fazer o sucessor na plenitude democrática, pinçando uma figura de quem a grande maioria do eleitorado não tinha ouvido falar. O que o obrigou a levá-la consigo para cima e para baixo, afrontando a lei, antes do início da campanha.

À época, políticos e comentaristas se perguntavam se a popularidade única do presidente bastaria para eleger "um poste", na expressão clássica que parecia feita sob medida para Dilma. Jejuna em disputas eleitorais, com empatia zero e imagem de tecnocrata de fala pedregosa, incapaz de expor uma ideia sem a muleta do PowerPoint, Dilma era a carga que, em circunstâncias normais, nem o mais desesperado dos marqueteiros aceitaria transportar de bom grado. Mas, transformada num estranho híbrido de si mesma com a versão para consumo eleitoral, sob adversidades que poderiam perfeitamente bem desestabilizá-la (Erenice, aborto, um inesperado segundo turno), ela deu conta do recado.

O seu mérito próprio - sem o qual o fator Lula talvez não fosse suficiente - foi o de inspirar confiança na sua aptidão para dar continuidade às políticas que levaram legiões de seus beneficiários a endeusar o presidente. Isso ajudou a neutralizar os seus problemáticos traços de personalidade e o fato de não ser, diferentemente do patrono, "uma de nós", nem ter um grama que seja do carisma dele. Se, de acordo com as estimativas, 20% dos que acham Lula o máximo votaram no tucano José Serra, assim como a metade dos que consideram bom o seu governo, sabe-se lá qual teria sido o desfecho do pleito se a maioria concluísse que Dilma não era bem aquilo que Lula dizia.

Embora esta tenha sido a vitória mais apertada de um candidato ao Planalto desde 1989, a vencedora pode se gabar de que não fez feio na comparação com a última disputa do padrinho, considerando o abismo que os separa como caçadores de votos. No segundo turno contra Geraldo Alckmin, em 2006, Lula colheu 58,4 milhões de sufrágios. Dilma, agora, obteve 55,7 milhões. A julgar pelas urnas de anteontem, pelo menos, não será descabido prognosticar que há base para o surgimento de um lulo-dilmismo. É óbvio que não se pode prever qual será o grau de dependência da criatura em relação ao criador quando ela ocupar a cadeira que ele vagará a contragosto em 1.º de janeiro de 2011.

No discurso da vitória, por sinal no único trecho em que ela se emocionou abertamente, contendo as lágrimas, Dilma avisou que baterá "muito" à porta desse homem "de tamanha grandeza e generosidade". Mas várias de suas declarações chamaram a atenção por se referir a questões em relação às quais Lula fez má figura. Sobre corrupção, por exemplo, ela prometeu que "não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito". Em contraste com o governante de um país democrático que se permitiu investir contra a imprensa do alto dos palanques, ela agradeceu à mídia e disse que não carregará "nenhum ressentimento" pelas críticas recebidas porque prefere "o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras".

Tão ou mais importante do que isso, a eleita devotada a um líder que fez praça de dividir os brasileiros em "nós e eles" - por classe social, renda e região -, afirmou que "agora é hora de união" e que será "presidenta de todos, respeitando as diferenças de crença e de orientação política". Por fim, exortou os políticos, "independente de cor partidária" a somar esforços pelo País. Dir-se-á que seria espantoso se ela dissesse algo diferente ou calasse sobre qualquer desses temas. Dir-se-á também que a distância entre intenções e atos é irremediavelmente imensa. Mas não há como negar que Dilma começou bem o percurso entre as urnas e o poder e que a sua primeira fala desperta esperanças que não apareciam no horizonte da campanha.

GUERRA

HÉLIO ZYLBERSTAJ

Um Sistema Único na Previdência Social
Hélio Zylberstajn 
O Estado de S.Paulo 02/11/10


Em termos de aposentadorias o Brasil é muito desigual. É como se tivéssemos dois tipos de cidadãos. Os de primeira classe seriam os que trabalham no setor público: contribuem pouco e se aposentam com muito. Os demais, que trabalham nas empresas privadas, seriam os de segunda classe: contribuem muito e se aposentam com pouco. De cada 100 aposentados, 86 são do segundo grupo. Mas na divisão do "bolo" das aposentadorias a conta se inverte: apenas 62% vão para o segundo grupo e nada menos que 38% ficam para o pequeno clube do primeiro grupo.

Além de injusto, o sistema custa muito para os cofres públicos. O Brasil gasta hoje aproximadamente 11% do seu PIB com aposentadorias e pensões. É muito, sob pelo menos dois critérios. Primeiro, é um gasto elevado, pois representa aproximadamente 1/3 de toda a arrecadação com impostos e contribuições sociais. Segundo, é muito para um país com só 7% de idosos na população. A França, por exemplo, que tem 16% de idosos, gasta 14% do seu PIB com aposentadorias, apenas 3 pontos porcentuais a mais que o Brasil. Como ficaremos quando a proporção de idosos chegar aos dois dígitos? Isso não vai demorar muito, pois a expectativa de vida está crescendo rapidamente.

Em suma: o Brasil gasta muito com aposentadorias e pensões e, além de gastar muito, gasta mal, porque discrimina a favor de um segmento, em detrimento da maioria dos cidadãos. Para promover a equidade e a responsabilidade na gestão dos recursos públicos e para preservar as gerações futuras do fardo de um sistema insustentável, é preciso rever o modelo de aposentadorias do País.

Mas, apesar de necessária, a reforma é impopular. Para obter o apoio geral, ela teria de se basear em alguns princípios justos e fáceis de explicar. O primeiro seria o de fazer a reforma para a frente. O novo sistema valeria só para os brasileiros que tivessem nascido a partir de 1995, por exemplo. Ninguém que já estivesse no mercado de trabalho seria afetado. O novo sistema começaria a existir à medida que os nascidos no ano escolhido entrassem no mercado de trabalho. Para estes, e apenas para estes, haveria uma idade mínima de aposentadoria.

O segundo princípio seria a universalidade. O novo sistema seria único e as mesmas regras valeriam para todos, funcionários públicos, celetistas e trabalhadores autônomos. As contribuições seriam bem menores que as atuais e o novo sistema teria diversos pilares. Um seria não contributivo, para que todos tivessem uma cobertura mínima quando se aposentassem. O novo sistema se criaria ainda sob os princípios da transparência e da equidade. Todos saberiam quais as fontes do financiamento de cada tipo de benefício. O benefício não contributivo viria da contribuição de todos e teria caráter explicitamente redistributivo, para assistir os que não pudessem contribuir durante sua vida ativa. Os demais pilares teriam caráter contributivo e complementariam o pilar inicial. Com esses princípios, seria possível estabelecer condições políticas para negociar e implementar o novo modelo.

O apelo da universalidade e da equidade seria muito forte e angariaria apoio de todos os que não se beneficiam do modelo atual. A ideia de fazer a reforma para a frente eliminaria a resistência dos que estão hoje a caminho da aposentadoria e dos que já estão aposentados. Não violaria direitos adquiridos e não interferiria nas expectativas de direitos.

Mas o que dizer da viabilidade financeira da reforma? Sabe-se que, hoje, grande parte do financiamento da Previdência vem das contribuições dos ativos. Com a implantação do novo sistema, os novos trabalhadores estariam contribuindo para a sua própria aposentadoria e suas contribuições teriam de ser separadas para utilizar no futuro. Haveria uma ruptura na cadeia de financiamento entre as gerações. Para enfrentar essa dificuldade, poderia ser criado um fundo de financiamento da transição, alimentado por diversas fontes. Uma delas poderia ser uma contribuição transitória e decrescente sobre os rendimentos dos novos trabalhadores. Outra poderia ser formada com aportes do Tesouro Nacional, previstas no Orçamento. Finalmente, o País poderia aproveitar a oportunidade criada com o pré-sal e destinar ao fundo de transição a receita excedente proporcionada pela extração do petróleo da nossa costa.

A reforma da Previdência produziria impactos no longo prazo, mas teria um efeito imediato não desprezível. Emitiria o sinal de que o País estaria enfim superando seu estrangulamento fiscal e, assim, eliminando a principal fonte dos desequilíbrios que ainda permanecem no cenário macroeconômico.

PROFESSOR DA FEA/USP E PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE RELAÇÕES DE EMPREGO E TRABALHO

RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA

Ética para um futuro melhor
Ruy Martins Altenfelder Silva 
O Estado de S.Paulo


Os princípios éticos são fundamentos importantes para nortear as ações das pessoas num país que se pretenda verdadeiramente democrático e justo. Não se trata de uma sociedade utópica, como a construída por Thomas Morus, mas de práticas perceptíveis e necessárias, porém vergonhosamente "esquecidas" nos dias atuais.

Ao acompanhar diariamente o noticiário veiculado por este tradicional periódico, não são raras as vezes em que o leitor se depara com relatos de denúncias de corrupção, desmandos e abusos de autoridades em diferentes níveis e de mau uso do dinheiro público - ações essas que remetem claramente a questões de desvios éticos e morais. E, como uma praga que se dissemina, tais práticas atraem seguidores em velocidade e reverberação tão impressionantes quanto a propagação de um novo vírus pela internet ou de um vídeo cômico no YouTube.

Um dos antídotos mais eficazes para essa ameaça letal à liberdade, à democracia e à civilidade é a educação. Tanto aquela que aprendemos dentro de casa, desde os primeiros anos de vida, com os pais, como também - e principalmente - aquela transmitida na escola por mestres na melhor acepção da palavra. As instituições de ensino - que todos devem frequentar, ao menos, pelos nove anos iniciais - precisam assumir o compromisso de educar os seus alunos dentro dos princípios da ética e da democracia.

Quando se incutem na criança e no jovem tais conceitos, quase certamente eles os seguirão na idade adulta - pautando desde os pequenos atos do dia a dia até os grandes momentos do exercício da cidadania. Não haverá a surpresa, por exemplo, se o cliente avisar ao caixa do supermercado que recebeu troco a mais. Ou se a esmagadora maioria dos cidadãos decidir votar movida pelo interesse maior do País, e não por anseios pessoais ou corporativistas. E nem se espantará se os ocupantes do governo elegerem prioridades que beneficiem efetivamente as suas comunidades, e não persigam apenas ganhos eleiçoeiros ou atração de apoios espúrios.

Este quase fim de ano, às vésperas da posse de novos governantes e legisladores, é momento mais do que propício para pôr em debate e cobrar uma postura clara, geral e irrestrita em favor da ética. Postura que deverá ter início com o apoio de todas as instâncias do poder público e da sociedade organizada a um projeto educacional destinado a formar cidadãos dotados de capacidade crítica e de saberes que os tornem aptos a atuar, nas mais variadas esferas sociais, com competência, responsabilidade e consciência cívica.

Não se trata, aqui, apenas de uma questão de moral nem restrita à educação. A ética está acima da moralidade; é, na verdade, um valor inerente aos direitos e deveres dos cidadãos. Mas não um valor que nasce por geração espontânea; ao contrário, ele resulta de decisão individual refletida e seguida de uma prática vigilante e diuturna. Aristóteles, com toda a sua sabedoria, já dizia na Antiguidade clássica que "nenhuma das virtudes morais surge em nós por natureza, adquirimo-las por exercício". Porém, atualmente, nas escolas predomina a quase obsessão pelo sucesso nos vestibulares (a bem da verdade, isso também ocorre na maioria das famílias) ou por modismos didático-pedagógicos, permeados de vieses ideológicos que desvirtuam a transmissão de conhecimentos e mandam para escanteio a construção dos valores éticos nos alunos. Isso sem falar nos prejuízos causados ao aprendizado pela sucessão de tais mudanças, que acabam por constituir pseudorreformas do ensino, visto que resultam em crescente evasão e deficiência do desempenho dos alunos.

Não é descabido associar a esse cenário a crescente onda de violência que marca as ruas, vem invadindo os muros escolares e estimula a formação das verdadeiras gangues de bairro ou de torcidas organizadas. Os frutos? Ações e ilícitos que configuram desrespeito contínuo à lei e à ordem jurídica, denotando a rarefação dos parâmetros de convivência civilizada em sociedade.

Os professores têm um papel fundamental na formação dessa juventude que dirigirá a economia e conduzirá o desenvolvimento do País nos próximos anos. Com exemplo e coragem, devem mostrar a seus alunos a importância da aceitação de limites, dos valores - solidariedade, compromisso, honestidade, estudo, trabalho - e do respeito às normas e aos princípios que deles decorrem. Isso vale tanto para o relacionamento entre chefia e subordinados no mundo corporativo ou entre professores e alunos em sala de aula, quanto, por exemplo, para os pais e filhos na convivência familiar, para os moradores de um condomínio ou para os músicos que formam uma filarmônica. E o professor - esse profissional pouco valorizado pela sociedade, negligenciado pelo poder público e desrespeitado por pais de alunos, sem formação adequada e com remuneração quase tão baixa quanto a sua autoestima - é um pilar importante para propagar esses conceitos.

Por tudo isso, merece ter o seu papel resgatado por todos e cada um em particular - afinal, esse processo se enquadra nos caso em que, pelo valor da emulação, o total poderá ser maior do que a soma das partes.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) estabelece que a escola deve ser um local de formação de cidadãos e difusão de valores que expirem cidadania e ética. Mas para que ela realize a missão de formadora das novas gerações é necessário que governo e sociedade também a consagrem como espaço da ética, resgatando a autoridade dos mestres e colaborando para o aprimoramento de suas relações com a comunidade, os pais e os alunos. Até porque disseminar os princípios éticos na escola é, antes de tudo, garantir uma sociedade mais justa e mais humana para as novas gerações.

PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS JURÍDICAS 

GOSTOSA

ILAN GOLDFAJN

Renovar o compromisso
Ilan Goldfajn 
O Estado de S.Paulo - 02/11/10


Um novo mandato presidencial se inicia. Renovam-se as esperanças de que o Brasil continue na trilha da estabilidade e do crescimento. É o momento de alavancar a credibilidade adquirida na última década e meia para mudar o patamar de desenvolvimento do País, afastando o risco de mais um ciclo de boom and bust (euforia seguida de crise), tão típico da América Latina e do Brasil. É o momento de saber se a tendência de deterioração das contas fiscais, com consequências relevantes sobre o arcabouço macroeconômico, foi um desvio temporário ou é a manifestação de uma tendência que deve seguir adiante. Se foi temporário, é importante reafirmar o compromisso com o arcabouço macroeconômico e abrir o caminho para lidar com os entraves remanescentes ao crescimento sustentado no Brasil. Se a deterioração não é temporária, mas reflete a convicção num regime macroeconômico distinto, vale um debate transparente com a sociedade.

Há sinais para os dois lados. Por um lado, há a promessa de continuar reduzindo a dívida pública ao longo dos próximos anos. Isso abriria espaço para juros menores e mais investimento. Mas a promessa precisa estar calcada em medidas concretas, como ajuste na trajetória crescente dos gastos correntes, e não somente em hipóteses otimistas quanto ao crescimento do PIB e à queda nos juros reais no Brasil, mesmo na ausência de mudanças. Por outro lado, há sinais vindos do atual Ministério da Fazenda de uma nova "ideologia", muito diferente da que norteou o estabelecimento do atual regime macroeconômico. Argumenta-se que o crescimento ininterrupto (e insustentável) dos gastos correntes não tem nenhuma relação com a capacidade de a economia experimentar juros menores (ou seja, gastos maiores não geram mais demanda nem inflação) nem com a resultante pressão que os juros maiores exercem sobre o câmbio.

Nessa linha de raciocínio, mais gastos correntes não geram nenhum custo para a sociedade, já que os juros altos e o câmbio apreciado, freios naturais da economia, são consequência de outras forças. Nessa lógica, empregar mais e dar mais benefícios a grupos da sociedade é ganho para todos. E serve para todas as estações. Quando da crise recente, argumentou-se que foi a expansão dos gastos que nos "salvou", garantiu a demanda, evitou a recessão. Mas o inverso parece que não vale. Agora que a economia cresce forte, a demanda avança mais que a produção interna, as expectativas de inflação estão em alta e o déficit externo aumenta rapidamente, argumenta-se que os gastos não teriam o papel simétrico para aliviar a pressão sobre a demanda. A política fiscal continua na mesma direção expansionista. O que mudou foi o discurso. Na crise gasta-se mais por razões anticíclicas. Com a economia aquecida desvinculam-se os gastos dos seus impactos na demanda e no resto da economia.

Não é de surpreender que essa crença leve a tratar a meta fiscal apenas como um número contábil a ser alcançado. Manobras fiscais são instrumentos úteis para alcançar a meta no papel. Não o seriam para alcançar uma meta fiscal real, a que influencia a economia, reduzindo a pressão sobre os juros e o câmbio. Mas se a crença é que os gastos fiscais não têm influência sobre a economia, por que não se contentar com esforços puramente contábeis?

De fato, manobras contábeis têm ocorrido seguidamente. O governo tem vendido créditos que tem a receber de estatais ao BNDES, que compra com recursos que vêm do próprio Tesouro Nacional. Foi o caso da venda de créditos da Eletrobrás e, principalmente, da recente operação de capitalização da Petrobrás. Neste último, o governo vendeu o direito de explorar o futuro petróleo do pré-sal à Petrobrás, que pagou esse direito parcialmente com recursos originários do próprio Tesouro, via BNDES. A mágica que permite criar superávit dessa transação é que os recursos da venda são contabilizados como receita para o governo, enquanto as despesas do BNDES para a compra não o são (mesmo que financiadas com recursos do próprio Tesouro).

Não é coincidência que a deterioração fiscal coincida com o surgimento dessa nova "ideologia". O problema é que o novo discurso vai de encontro ao arcabouço macroeconômico idealizado nos últimos anos. O tripé macroeconômico - câmbio flutuante, responsabilidade fiscal e metas de inflação - tem de funcionar com todas as suas três pernas para poder gerar estabilidade e germinarem as bases do crescimento sustentado. Sem uma das pernas, o tripé desaba. Os juros necessários para combater a inflação acabam sendo mais altos e o câmbio torna-se mais apreciado para poder deslocar recursos escassos das exportações para os gastos do governo. Por isso é importante saber se o novo governo sancionará esse discurso de duas pernas.

Mesmo que o tripé macroeconômico e o atual arcabouço sejam mantidos, isso não significa a resolução de todos os males na economia. A apreciação cambial, por exemplo, é também consequência do atual contexto internacional particular, que requer uma depreciação do dólar em relação às outras moedas no mundo. E para os juros convergirem para níveis internacionais também é necessário preencher outras condições básicas, lidando com outras distorções na economia.

Em suma, tem sido uma longa trilha para a economia brasileira chegar até o ponto atual. A estabilidade é dada como certa e há confiança no crescimento futuro. Mas o fantasma dos ciclos de prosperidade seguidos de crise ainda ronda o Brasil. Enquanto estivermos voltando a discutir as bases do arcabouço macroeconômico (com o qual foi possível chegar ao ponto atual), retardaremos o debate sobre os avanços necessários que possibilitem sustentar e, se possível, aumentar as atuais taxas de crescimento da economia.


ECONOMISTA-CHEFE DO ITAÚ UNIBANCO 

CLÁUDIO HUMBERTO

“Quero continuar viajando, ajudando o Brasil e a política”
PRESIDENTE LUIZ INÁCIO VIAJANDO LULA DA SILVA E SEU PROJETO APÓS DEIXAR O GOVERNO 

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PALOCCI ‘DESCOBRIU’ DILMA, DAÍ A INFLUÊNCIA DELE 
É a gratidão que faz o ex-ministro Antonio Palocci ter ascendência sobre a presidenta eleita Dilma Rousseff: foi ele quem a recrutou no Rio Grande do Sul para trabalhar na transição entre o governo FHC e Lula, logo após a eleição de 2002. Foi também dele a sugestão para que Lula a convidasse a assumir o Ministério de Minas e Energia. Esse histórico faz de Palocci o mais influente dos assessores de Dilma.

APOSTOU NA BAIXA 
Lula conhecia Dilma, mas foi Palocci quem percebeu na ex-secretária de Energia do governo gaúcho um bom quadro para o ministério.

PECADO 
Dilma, que após a polêmica do aborto sempre dava “graças a Deus”, esqueceu Dele no discurso da vitória. Merece uma boa penitência. 

MORTOS QUE CAMINHAM 
Neste Dia de Finados, mortos-vivos rondam o novo governo Dilma: Francenildo, Erenice, Lina Vieira, mensaleiros e o “chefe da quadrilha”.

PEDRA NO CAMINHO 
Mahmoud Ahmadinejad, presidente maluco do Irã, diz querer colaborar com Dilma. Desde que não venha com sete pedras na mão...

‘CERCO’ A DILMA ATRAPALHA ROTINA DOS VIZINHOS 
Virou um inferno a vida dos vizinhos de Dilma Rousseff, no conjunto 2 da QI 7, em Brasília. São tantos os repórteres e curiosos que os vizinhos ficam até impedidos de entrar e sair de casa. A exemplo de FHC, quando presidente eleito em 1994, a Polícia Federal deveria fechar a rua, restringindo o acesso de visitantes indesejados – como Eduardo Suplicy (PT-SP), que ontem foi barrado ao tentar entregar-lhe orquídeas – e fixando uma rotina de entrevistas ao comitê eleitoral.

TÁ LIMPO 
O Senado estará “limpeza” quando retomar os trabalhos, em março: vai trocar todas as válvulas de descarga elétrica dos banheiros masculinos. 

EVITA-ME 
Foi bom enquanto durou: Dilma se livrou, no discurso da vitória, do retrógrado epíteto “mãe dos brasileiros” de seu mentor. Ainda bem. 

‘BELO ANTÔNIO’ 
Há anos no estaleiro, o porta-aviões São Paulo não esteve no factoide de Lula, às vésperas da eleição, no campo de pré-sal de Tupi.

DE OLHO NO FUTURO 
Governadores do PSB, Eduardo Campos (PE) e – creia – Cid Gomes (CE) sonham com o Planalto para 2014. Mas, só entram na briga se Lula não for candidato. Eduardo sempre foi a opção de Lula a Dilma.

REGRESSO 
Inocentado por sindicância do Ministério da Justiça e pela Comissão de Ética da Presidência da República da suspeita de envolvimento com a “máfia chinesa” de contrabando, o delegado Romeu Tuma Jr está retornando à Polícia Civil de SP para preparar sua aposentadoria.

INTIMIDAÇÃO 
A Associação dos Servidores Efetivos do Senado virou alvo de “investigação” em represália a mensagens aos associados criticando o diretor da Casa, Haroldo Tarjas. A entidade vê tentativa de intimidação.

FRUSTRAÇÃO 
É grande a frustração dos franqueados dos Correios com a solução de não prorrogar as outorgas e colocá-las em licitação, por ordem do Tribunal de Contas da União. Os atuais contratos vencem no dia 11.

TUDO VERDADE 
Lula, Dilma e o PT esbravejaram, disseram que tudo era mentira, mas uma a uma, a Polícia Federal vai confirmando as revelações da Imprensa “ruim” sobre maracutaias na Casa Civil de Erenice Guerra.

FLAMENGO X FLAMENGO 
A Associação dos Moradores do reduto chique no Flamengo está em pé de guerra com a presidente do clube e vereadora Patrícia Amorim (PSDB), que quer transformar em hotel a sede no Morro da Viúva. É parte do “pacotão olímpico” de hotéis e do saneamento das dívidas. 
A PRIMEIRA ‘REFORMA’ A Câmara dos Deputados vai reformar por R$ 27,9 milhões – incluindo o sistema de ar condicionado – quatro blocos de apartamentos de deputados. É um aditivo ao processo nº 130.529/09.
COROA Barack Obama telefonou ontem à tarde para Dilma, cumprimentando-a pela “histórica vitória” e dizendo-se “ansioso para encontrá-la”. O comunicado oficial da Casa Branca chegou só às 17h, horas depois de a brasileira receber os parabéns do ditador maluco do Irã.
O PIADISTA A única certeza no governo Dilma será a escassez de piadas de Lula. 

O PODER SEM PUDOR
JUIZ SEM GINGA 
Certa vez, em palestra para centenas de magistrados, incluindo a então deputada e ex-juíza Denise Frossard (RJ), na Costa do Sauípe, a ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça, atual corregedora nacional de Justiça, disse ser contra juiz se meter em política:
– Quando nos metemos a ser políticos é horrível: ficamos parecendo a falsa baiana, que entra na roda do samba, mas não sabe sambar.
O auditório veio abaixo.