domingo, dezembro 07, 2008
COLUNA PAINEL
Sem dó nem piedade
Folha de S. Paulo - 07/12/2008 |
O Poder Judiciário será especialmente atingido pelos cortes que a crise vai impor ao Orçamento de 2009. Cerca de 80 obras espalhadas pelo país, em especial novas sedes para a Justiça Federal, estarão entre as primeiras a entrar na tesoura. Clareira Em 1962, concorriam a deputado estadual na Bahia os dois filhos do então governador, Juraci Magalhães: Jutahy e Juracy Júnior. Como demonstração de unidade, Juracy propôs ao irmão: |
ÉLIO GASPARI
Lulômetro
O Globo - 07/12/2008 |
Em setembro passado, o mago Warren Buffett botou US$10 bilhões no banco Goldman Sachs. Foi uma demonstração de confiança no sistema financeiro. O bilionário comprou a ação a US$121 e, na semana passada, ela valeu US$70. Em tese, Buffett perdeu US$4,2 bilhões. (Em 2002, o Goldman Sachs criou o Lulômetro, um derivativo de terrorismo eleitoral.) |
PARA...HIHIHIHI
-Hummm?!
-Acorda...
-Hummm?!
-Acoorda!!!!
- Desorientado e assustado, o sujeito se levanta e pergunta:
-O que aconteceu?!
-Estou com desejo...
-Desejo???
-É... de comer carne de urubu...
-Urubu??? Mas onde vou achar um bicho desses, agora???
-Vai no lixão...
-Tá louca!!! Eu não vou a lixão algum!!! Se quiser, pinte um frango de preto mate e coma!!!
-Puta da vida, ela fala:
-Nunca se arrependa se nosso filho nascer com carinha de urubu.
Nove meses se passam. Chega o dia do parto e, quando o Cara vai ver seu filho querido, vê que seu herdeiro é pretinho, pretinho. O Retardado cheio de remorso corre para a casa de sua mãe e diz:
-Mamãe, eu não quis dar carne de urubu para a minha esposa quando ela estava grávida e sentiu desejo. Agora meu filho nasceu preto como o bicho!!!
A mãe, bem humorada, consola o filho que está em prantos:
-Esquenta não, filho... quando eu estava grávida de você, tive desejo de comer carne de Touro, não consegui... você nasceu chifrudo, e nem percebeu!!!
ELIANE CANTANHÊDE
Bota tsunami nisso!
Folha de São Paulo
Pode ser? Tudo pode, mas há três fatores para contrariar a certeza.
O primeiro é que, aqui e alhures, considera-se que nenhum país escapa da crise, mas o Brasil tem indicadores macroeconômicos sólidos, bom colchão em dólares (ainda...) e mercado interno robusto.
O segundo é que a popularidade de Lula, faça chuva, faça sol, mensalão ou cuecão, fale ele o palavrão que falar, tem sido uma rocha.
E o terceiro é que o mesmo Datafolha que apurou os 70% de Lula completou a informação: 78% dos brasileiros estão otimistas e achando que a vida vai melhorar em 2009.
Mais: 58% acreditam que serão pouco afetados, e 10%, nada afetados. Crise? Que crise?
Os brasileiros, portanto, ainda acreditam em Papai Noel e que a crise é só uma marolinha, enquanto o tsunami devora 1,2 milhão de vagas em três meses e 533 mil num único mês nos EUA. E está vindo.
Isso demonstra má informação e confiança quase mística em Lula.
Com motivo. Nos anos de bonança externa, durante seu governo, a renda e o emprego aumentaram, a classe C virou metade da população, o PAC alimentou votos para cima e o Bolsa Família, para baixo.
Lula, portanto, tem que reduzir ao mínimo o efeito da crise no eleitor de carne e osso (baixando juros, por exemplo?) e fazer como no mensalão, no dossiê, na crise aérea, na guerra da Abin e da PF: fingir que não é com ele. O que der certo contra a crise, o mérito é dele; o que der errado, a culpa é do Bush, do mercado, do liberalismo, dos astros.
Para eleger Dilma, Lula tem que calibrar o equilíbrio entre o tamanho da crise e sua popularidade.
Um tsunami, para afetar seu projeto, tem que ser de bom tamanho.
Senão Lula fura 2009 e surge em 2010 na crista da onda.
JOÃO UBALDO RIBEIRO
A POPULARIDADE DO HOMEM
ESTADO DE SÃO PAULO
Mais velha que ela, talvez, só a janela atacada, cujo arrombamento deve ter sido feito com duas leves pressões do polegar e da qual não sobrou nada. Como não se fazem mais janelas no padrão dela, sua substituta teve que ser produzida de encomenda, o que, junto com o custo das grades, me saiu um pouco caro, mas nada de importante, só os olhos da cara mesmo.
E hoje estou contente, porque, como também disse antes, Itaparica não fica a dever a nenhuma grande capital e agora também todo mundo lá mora ou quer morar atrás de grades.
Isso mesmo tem se repetido em todos os círculos sociais da ilha. Já se pode ter medo de ficar sozinho em casa, já se pode contar como foi o assalto e assim por diante. Antigamente, vamos reconhecer, Itaparica era um atraso só, passavam-se anos e anos sem que ninguém matasse ou assaltasse ninguém. Nenhum carioca ou mesmo baiano de Salvador pode mais querer nos diminuir com os ares sofisticados de quem mora em cidades inseguras e está habituado a todo tipo de notícia policial.
Mas não é possível agradar a todos, principalmente quando há má vontade, como — ele há de me desculpar, mas o primeiro dever do jornalista é para com a verdade — no caso de Zecamunista. Não tem nada que o governo faça que ele não caia de pau em cima, em discursos tão ribombantes que até as prateleiras do bar de Espanha chegam a tremer. Isso mesmo, segundo eu soube, lhe foi dito por Lourenço Divino Beiço, na happy hour do bar de Espanha, onde o clima era pacífico e calmo até a chegada do incorrigível subversivo.
— Não se pode falar nada de Lula que você não esculhambe — disse Divino Beiço. — Também assim é demais.
— Não tem nada que Lula o quê? — perguntou Zecamunista, pondo a mão em concha atrás da orelha.
— Como é que é? Não tem nada que Lula o quê? — Não tem nada que Lula faça que você não esculhambe.
— Repita, que eu não estou percebendo bem, acho que estou ficando surdo depois de velho, repita aí, pelo amor do proletariado.
— Você já ouviu, não tem nada que Lula faça que você não esculhambe.
— Por aí se vê como você não tem razão, já começa com uma mentira.
— Mentira não, todo mundo aqui é testemunha.
— Prova testemunhal não quer dizer nada diante da lógica. E a lógica diz que eu nunca esculhambei nada que Lula fez pela simples razão de que ele nunca fez nada! Sacou, sacou? Como é que eu ia esculhambar nada? — Olhe aí você já esculhambando, dizendo que o homem não fez nada.
— E não fez mesmo! Desde o começo do governo dele que o Brasil só tem ido na embalagem, na banguela.
Agora que a barra está pesando, você vai ver. E não teve mudança nenhuma, a educação não melhorou, a saúde não melhorou, a segurança não melhorou, nada melhorou! Diga aí uma coisa que melhorou.
— Ah, digo várias. Eu digo, digo assim... É porque...
— É porque o que você vai me dizer é que Zoião já pegou três bolsas família, uma da legítima e mais duas com as raparigas dele, que todo mundo, inclusive você, que não precisa, pega cesta básica, que ele já deu emprego no governo a gatos e cachorros e outras besteiras alienadas, era isso o que você ia me dizer. Eu quero saber o que é que melhorou! Estrada está pior. Porto está pior. Trem não tem. Até aviação está pior, o que é que está melhor? — E o que é que você me diz da popularidade dele? Pronto, eu fico com essa, o que é que você me diz da popularidade dele? — Eu digo que vocês são burros e não sabem de nada do que estão falando.
— Certo, certo, nós todos somos burros, o inteligente é você. Eu vou lhe fazer uma pergunta, uma pergunta muito simples. O que é que o sujeito quer, quando entra na política? — Aqui é pra se fazer. O negócio é entrar, ir subindo e se fazendo pelo meio do caminho, sair pobre e magro é vergonha.
— Exatamente. Como em qualquer outra profissão. E aí eu lhe pergunto: Lula se fez ou não se fez? — Se ele se fez? Um cara que sai do nada e que nunca estudou nem trabalhou chega a presidente da República, cercado de todas as mordomias possíveis, com tudo do bom e do melhor, claro que ele se fez.
— E então? Ele se fez muito bem mesmo, mudou muito, perdeu até a cara de pobre. E você está por cima da carne-seca, que nem ele? — Eu? Que pergunta mais besta, eu?— Pois é. E o inteligente é você, o burro é ele. Morda aqui, Zeca, o brasileiro admira muito é quem soube se fazer na vida.
BRUNA TALARICO
O jeitinho brasileiro, quem diria, faz 200 anos
Com a vinda da família real para a colônia começou a troca de favores
JORNAL DO BRASIL
O jeitinho brasileiro é onipresente e seu significado, categórico na construção da identidade nacional. Todo mundo sabe o que é e todo mundo sabe que tem. Mas o que ninguém sabe é que o mulato inzoneiro pode ter nascido bem aqui, sobre a Guanabara e sob o abraço do Cristo Redentor. E há 200 anos.
A troca de favores, base do jeitinho que consagrou o povo da terra do pau brasil – e da cachaça, do bumbum e do samba, pra exaltar o lado bom – começou de maneira literária. Com a vinda da família real para o Brasil, em 1808, a publicação de impressos passou a ser permitida a partir da aprovação prévia da Imprensa Régia. E, com a legalização das impressões, surgiu, no mesmo ano, o sistema das dedicatórias: tanto uma afirmação pública de lealdade e submissão ao soberano quanto uma demonstração da crença na concessão em troca de benefícios.
– O objetivo era abrir caminhos e mantê-los abertos. Oferecer uma obra era esperar receber um cargo público, por exemplo – ilustra Ana Carolina Delmas, mestre em história pela Uerj, traçando um paralelo com a permanência de cargos públicos dentro de algumas famílias e grupos de amigos. – O que são esses políticos todos que têm cargos importantes e empregam a família inteira? É uma troca de favores, a essência da dedicatória no século 19 você vê hoje como conhecimento e troca de favor.
Nesse contexto, incluem-se os cargos de confiança que, para a historiadora, já ilustram semanticamente a permanência das relações de privilégio na sociedade.
– Não é cargo de meritocracia, é cargo de confiança. A pessoa não é escolhida em uma entrevista, e sim pelo conhecimento com alguém de dentro – enfatiza. – A gente ainda tem muito dessas relações de favor, mesmo não impressas em dedicatórias. Dá para entender muito bem a essência do que somos hoje.
A prática, que se concentrava no Rio de Janeiro por conta da proximidade com a corte portuguesa, ilustra o início do século 19 no Brasil e mostra que o carioca já tinha, desde então, noções de sociabilidade às vezes não atribuídas à época.
– É um problema. Ainda estamos muito apegados às instituições. Somos assim: envolvidos na pessoalidade, por mais que queiramos dizer que não – argumenta, ressaltando que, no entanto, o caráter específico das dedicatórias é outro. – A gente nunca parou de fazer. Agora é mais afetiva que o sistema de interesses, dedicamos os livros aos amigos, à família, e a quem a gente gosta.
Para a psicanalista Alice Bittencourt, o brasileiro ainda usa e abusa do jeitinho para compensar a insegurança de pertencer a um país onde as leis não são respeitadas. E um ciclo vicioso é iniciado quando, por não acreditar nas regras, não as cumpre, nem exige seu cumprimento.
– O brasileiro se sente inferiorizado e, de certa forma, acha que não tem capacidade para fazer valerem seus direitos. A partir daí, vai dando seu jeitinho: não cumpre a lei porque não se sente capaz nem de cumpri-las e nem de fazê-las cumprir – critica. – A gente tem a cultura um pouco nesse sentido, para tudo a gente dá um jeito.
AUGUSTO NUNES
Sete Dias
JORNAL DO BRASIL
Otimismo na tempestade – Lula acha que doente em estado grave não deve ouvir más notícias
"Você é feliz?", perguntou o jornalista a Tonia Carrero. "Sou", fez uma ligeiríssima pausa a grande atriz. "Várias vezes ao dia". Bela, talentosa, vencedora, rica, bem-sucedida – o que estaria faltando a essa rainha dos palcos? Nada. Ocorre que Tonia pensa. Quem tem a cabeça em bom estado, e não concede férias ao cérebro, sabe que não existe a dor que nunca passa, mas não se pode ser feliz o tempo inteiro. É assim com as pessoas. É assim, por conseqüência, com os países.
Não no Brasil, ressalvam os resultados da pesquisa divulgada na quinta-feira pelo Datafolha. O governo Lula é considerado ótimo ou bom por 70% dos entrevistados – o maior índice obtido por um presidente desde o fim da ditadura. O levantamento também garante que 61% estão plenamente satisfeitos com a situação econômica e 78% acreditam que a vida vai ficar ainda melhor em 2009.
"Os brasileiros ainda não sentiram os efeitos da crise econômica", acha Mauro Paulino, diretor do Datafolha. Segundo a pesquisa, 72% sabem, bem ou mal, que problemas financeiros andam tirando o sono de muita gente. Longe daqui.
Já faz algum tempo, Lula deu por resolvidos problemas acumulados em cinco séculos de incompetência, avisou que logo cuidaria do pouco que restava, comunicou que nunca antes neste país houve um governante tão formidável e ordenou ao Brasil que fosse feliz todos os dias.
Quem tem motivos para viver em estado de graça no paraíso que Deus poupou de catástrofes naturais e Lula blindou contra desastres econômicos? Só os napoleões de hospício, os que babam na gravata e os que acordam e dormem torcendo pelo insucesso do ex-operário genial.
A seqüência de pesquisas avisa que a tribo hoje não passa de 7% e caminha para a extinção. Em contrapartida, a grande maioria acatou a decretação da felicidade permanente e resolveu ficar mais feliz sempre que se conjugam um claro sinal de perigo e uma maluquice do Grande Pastor.
A marca dos 70% foi alcançada ao fim dos três dias em que Lula jurou que haverá emprego para todos e a Vale demitiu 1.300. Lula explicou que a crise vai fortalecer o Brasil, embora a inflação tenha ficado mais musculosa. Deve-se presumir que, graças à medonha conjunção dos astros ocorrida na quinta-feira, a próxima pesquisa acusará outro salto no índice de popularidade. Excitado com a cavalgada do dólar, uma das muitas evidências de que a marolinha quer ser tsunami quando crescer, Lula fundiu a indigência intelectual com o apreço pela vulgaridade e foi à luta.
"Quando o mercado tem uma dor de barriga, e nesse caso foi uma diarréia braba, quem é chamado? O Estado", berrou no meio do improviso. Em seguida, incorporou um médico examinando o doente em estado grave para justificar o otimismo inabalável. "O que você fala? Dos avanços da medicina ou olha pra ele e diz: meu, sifu?". Sabe-se agora que o doutor Lula acha que o Brasil sifu. Só não conta para não apavorar o doente.
Esse secretariado é de meter medo
Abalados pela nomeação de Jandira Feghali para secretária das Culturas, milhares de cariocas quase foram a nocaute com as duas pancadas desferidas por Eduardo Paes. Levou-os às cordas a criação de uma Secretaria do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida chefiada por Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson e mãe de idéias de alta periculosidade. E continuam grogues com a promoção de Chiquinho da Mangueira a secretário de Esportes. Falta só um Babu para que, concluída a formação do secretariado, o prefeito eleito do Rio seja obrigado a lidar com algum processo por formação de quadrilha ou bando.
Três cardeais e um milagreiro
O silêncio dos cardeais Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Aécio Neves sugere que a sereníssima trindade tucana não decifrou por inteiro o mistério da Paraíba, protagonizado pelo irmão Cássio Cunha Lima. Sempre mais ansiosos, os representantes do baixo clero do PSDB decidiram que o erro do bispo nordestino foi fechar os olhos à trama forjada por outras igrejas. Se a trinca avalizar a absolvição do suspeito, ficará estabelecido que ocorreu na diocese de João Pessoa não uma compra de votos no atacado, mas o milagre da multiplicação dos cheques. Nesse caso, o suposto pecador é mais que um inocente. É meio santo.
Natal do perdão esquece ministro
Líder do movimento Impunidade para Todos, fundado para lutar pela uniformização do tratamento dispensado aos fora-da-lei engravatados, o escritor Wilson Gordon Parker não entende por que o Natal do perdão esqueceu Paulo Medina, ministro do Superior Tribunal de Justiça reduzido a réu pelo STF. Em uma semana, Paulinho da Força foi resgatado pelo bando multipartidário de comparsas, Daniel Dantas soube que não cumprirá uma pena bem mais branda que a merecida, Cássio Cunha Lima conseguiu ficar no velho esconderijo. Por que Medina ainda não foi premiado com o habeas corpus preventivo?
DOMINGO NOS JORNAIS
- Globo: Desemprego no Brasil pode ir a 9% em 2009
- Folha: Crise reduz investimentos em R$ 40 bi
- Estadão: Governo prepara medidas para baixar custo do dinheiro
- JB: Rio lidera rota do tráfico de animais
- Correio: Crack, a droga que assombra Brasília