domingo, dezembro 07, 2008

ELIANE CANTANHÊDE

Bota tsunami nisso!

Folha de São Paulo

BRASÍLIA - A oposição tem como líquido e certo que José Serra será presidente da República, crente que a crise econômica irá explodir empresas e empregos e, com eles, os 70% de popularidade de Lula e o palanque de Dilma Rousseff.
Pode ser? Tudo pode, mas há três fatores para contrariar a certeza.
O primeiro é que, aqui e alhures, considera-se que nenhum país escapa da crise, mas o Brasil tem indicadores macroeconômicos sólidos, bom colchão em dólares (ainda...) e mercado interno robusto.
O segundo é que a popularidade de Lula, faça chuva, faça sol, mensalão ou cuecão, fale ele o palavrão que falar, tem sido uma rocha.
E o terceiro é que o mesmo Datafolha que apurou os 70% de Lula completou a informação: 78% dos brasileiros estão otimistas e achando que a vida vai melhorar em 2009.
Mais: 58% acreditam que serão pouco afetados, e 10%, nada afetados. Crise? Que crise?
Os brasileiros, portanto, ainda acreditam em Papai Noel e que a crise é só uma marolinha, enquanto o tsunami devora 1,2 milhão de vagas em três meses e 533 mil num único mês nos EUA. E está vindo.
Isso demonstra má informação e confiança quase mística em Lula.
Com motivo. Nos anos de bonança externa, durante seu governo, a renda e o emprego aumentaram, a classe C virou metade da população, o PAC alimentou votos para cima e o Bolsa Família, para baixo.
Lula, portanto, tem que reduzir ao mínimo o efeito da crise no eleitor de carne e osso (baixando juros, por exemplo?) e fazer como no mensalão, no dossiê, na crise aérea, na guerra da Abin e da PF: fingir que não é com ele. O que der certo contra a crise, o mérito é dele; o que der errado, a culpa é do Bush, do mercado, do liberalismo, dos astros.
Para eleger Dilma, Lula tem que calibrar o equilíbrio entre o tamanho da crise e sua popularidade.
Um tsunami, para afetar seu projeto, tem que ser de bom tamanho.
Senão Lula fura 2009 e surge em 2010 na crista da onda.

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