segunda-feira, junho 27, 2011

GUILHERME FIUZA - A ex-guerrilheira e o sigilo eterno


A ex-guerrilheira e o sigilo eterno
GUILHERME FIUZA
REVISTA ÉPOCA

O sigilo eterno de documentos oficiais cairá no dia em que o Brasil tiver, enfim, um governo de esquerda. Essa seria uma típica utopia dos anos de chumbo, quando a mão de ferro do governo permitia no máximo o exercício da esperança – de preferência, em voz baixa. "Vai passar", cantou Chico Buarque. E não é que passou? E de repente o Brasil é governado pela esquerda, por uma mulher, uma ex-guerrilheira contra a ditadura. Hora de acabar com o sigilo autoritário sobre informações de Estado? Talvez não.

Dilma Rousseff, a suposta encarnação das utopias libertadoras, ficou na dúvida. Uma coisa é panfletar anos a fio contra o despotismo governamental. Outra coisa é fazer no governo o que estava escrito no panfleto. Para muitos heróis da esquerda brasileira, a vida real só existe para estragar a utopia. Reclamar é muito mais emocionante do que fazer. E, no caso do sigilo de documentos oficiais, Dilma teve motivos fortes para puxar o freio de mão da abertura política.

Esses motivos fortes têm nome e sobrenome: Fernando Collor e José Sarney. A alma da ex-guerrilheira, quem diria, foi sensibilizada por dois herdeiros do regime militar. Dois ex-presidentes que serviram por anos a fio de alvo para a panfletagem do partido da atual governante – isto é, dois personagens muito úteis ao crescimento do PT e de suas bandeiras libertárias. Tão úteis que agora merecem toda a gratidão dos revolucionários de outrora: viraram os melhores amigos da "presidenta" de esquerda. E seus grandes conselheiros. Dilma fez seu cálculo de estadista: melhor do que abrir os documentos oficiais é fechar com Collor e Sarney.

A decisão não pegou muito bem, naturalmente. Até porque tem gente assistindo na TV à reprise de Anos rebeldes, a minissérie de Gilberto Braga, e acreditando naquela garotada que pegou em armas contra a ditadura para devolver o Brasil à democracia. A minissérie foi um sucesso e, em 1992, ajudou até a derrubar o então presidente Collor. Se o público soubesse que aquela brava guerrilha serviria também para devolver o Brasil ao Collor e ao Sarney, provavelmente teria mudado de canal.

Depois de ouvir seus eminentes conselheiros e defender o sigilo eterno dos documentos oficiais, Dilma foi acossada por seu passado. Foi lembrada por sua assessoria petista, que, sem o mito da revolucionária esquerdista, lhe sobra basicamente nada. Seria melhor, portanto, recuar. Mas se recuasse, Collor e Sarney poderiam ficar zangados. Tomou então mais uma decisão de estadista: ficou no meio do caminho.

Dilma fez seu cálculo de estadista: melhor do que abrir os documentos oficiais é fechar com Collor e Sarney

Esta vai se tornando, cada vez mais, a marca do governo Dilma: deixar estar para ver como é que fica. Nesse aspecto, sua grande aliada é a opinião pública – sempre pronta a esquecer dos assuntos quando eles somem das manchetes. A consultoria milionária de Palocci, por exemplo, já sumiu no retrovisor. Com uma plateia assim tão distraída e despreocupada, talvez nem seja preciso o tal do sigilo eterno. As informações desaparecem de morte natural.

Depois de Palocci, veio Gleisi Hoffmann, a gestora, a mulher na Casa Civil, símbolo da arrancada do governo Dilma etc. etc. E não é que Gleisi também já sumiu em pleno cargo? Em seu lugar na ribalta, ofuscando a tudo e a todos, se impôs a estrela de Ideli Salvatti – importada do Ministério da Pesca para coordenar a pescaria do PMDB e do PT por verbas e cargos. Só se fala em Ideli. Ela é a cara do governo Dilma.

E já providenciou a liberação de quase R$ 5 bilhões em emendas parlamentares. Os 55 cargos que o PMDB reclama no segundo escalão também já estão sendo distribuídos. Enquanto isso, a carga tributária nacional bate novo recorde em 2011, garantindo a irrigação geral. Collor, Sarney e demais sócios não terão por que se chatear.

O povo está nas ruas – pedindo pelos gays e pela maconha. Em Brasília, está tudo bem. Para que sigilo?

O sigilo eterno de documentos oficiais cairá no dia em que o Brasil tiver, enfim, um governo de esquerda. Essa seria uma típica utopia dos anos de chumbo, quando a mão de ferro do governo permitia no máximo o exercício da esperança – de preferência, em voz baixa. "Vai passar", cantou Chico Buarque. E não é que passou? E de repente o Brasil é governado pela esquerda, por uma mulher, uma ex-guerrilheira contra a ditadura. Hora de acabar com o sigilo autoritário sobre informações de Estado? Talvez não.

Dilma Rousseff, a suposta encarnação das utopias libertadoras, ficou na dúvida. Uma coisa é panfletar anos a fio contra o despotismo governamental. Outra coisa é fazer no governo o que estava escrito no panfleto. Para muitos heróis da esquerda brasileira, a vida real só existe para estragar a utopia. Reclamar é muito mais emocionante do que fazer. E, no caso do sigilo de documentos oficiais, Dilma teve motivos fortes para puxar o freio de mão da abertura política.

Esses motivos fortes têm nome e sobrenome: Fernando Collor e José Sarney. A alma da ex-guerrilheira, quem diria, foi sensibilizada por dois herdeiros do regime militar. Dois ex-presidentes que serviram por anos a fio de alvo para a panfletagem do partido da atual governante – isto é, dois personagens muito úteis ao crescimento do PT e de suas bandeiras libertárias. Tão úteis que agora merecem toda a gratidão dos revolucionários de outrora: viraram os melhores amigos da "presidenta" de esquerda. E seus grandes conselheiros. Dilma fez seu cálculo de estadista: melhor do que abrir os documentos oficiais é fechar com Collor e Sarney.

A decisão não pegou muito bem, naturalmente. Até porque tem gente assistindo na TV à reprise de Anos rebeldes, a minissérie de Gilberto Braga, e acreditando naquela garotada que pegou em armas contra a ditadura para devolver o Brasil à democracia. A minissérie foi um sucesso e, em 1992, ajudou até a derrubar o então presidente Collor. Se o público soubesse que aquela brava guerrilha serviria também para devolver o Brasil ao Collor e ao Sarney, provavelmente teria mudado de canal.

Depois de ouvir seus eminentes conselheiros e defender o sigilo eterno dos documentos oficiais, Dilma foi acossada por seu passado. Foi lembrada por sua assessoria petista, que, sem o mito da revolucionária esquerdista, lhe sobra basicamente nada. Seria melhor, portanto, recuar. Mas se recuasse, Collor e Sarney poderiam ficar zangados. Tomou então mais uma decisão de estadista: ficou no meio do caminho.

Dilma fez seu cálculo de estadista: melhor do que abrir os documentos oficiais é fechar com Collor e Sarney

Esta vai se tornando, cada vez mais, a marca do governo Dilma: deixar estar para ver como é que fica. Nesse aspecto, sua grande aliada é a opinião pública – sempre pronta a esquecer dos assuntos quando eles somem das manchetes. A consultoria milionária de Palocci, por exemplo, já sumiu no retrovisor. Com uma plateia assim tão distraída e despreocupada, talvez nem seja preciso o tal do sigilo eterno. As informações desaparecem de morte natural.

Depois de Palocci, veio Gleisi Hoffmann, a gestora, a mulher na Casa Civil, símbolo da arrancada do governo Dilma etc. etc. E não é que Gleisi também já sumiu em pleno cargo? Em seu lugar na ribalta, ofuscando a tudo e a todos, se impôs a estrela de Ideli Salvatti – importada do Ministério da Pesca para coordenar a pescaria do PMDB e do PT por verbas e cargos. Só se fala em Ideli. Ela é a cara do governo Dilma.

E já providenciou a liberação de quase R$ 5 bilhões em emendas parlamentares. Os 55 cargos que o PMDB reclama no segundo escalão também já estão sendo distribuídos. Enquanto isso, a carga tributária nacional bate novo recorde em 2011, garantindo a irrigação geral. Collor, Sarney e demais sócios não terão por que se chatear.

O povo está nas ruas – pedindo pelos gays e pela maconha. Em Brasília, está tudo bem. Para que sigilo?

Entrevista -CEZAR PELUZO - FOLHA DE S.PAULO

Há dados que podem pôr em risco segurança do país
Entrevista 
CEZAR PELUZO 
FOLHA DE S.PAULO - 27/06/11

AO FALAR DO SIGILO ETERNO DE DOCUMENTOS, PRESIDENTE DO SUPREMO DIZ QUE O PROBLEMA É QUE NÃO APENAS O POVO FICA SABENDO TUDO, MAS OS INIMIGOS DO PODER E DO PAÍS TAMBÉM


FELIPE SELIGMAN
DE BRASÍLIA

Em uma das poucas entrevistas concedidas desde que assumiu a presidência do STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro Cezar Peluso, 68, disse que o sigilo de determinados documentos é necessário para preservar a "segurança do Estado" e fez enfática defesa de reuniões fechadas entre os ministros antes das sessões públicas.
Ele recebeu a Folha em seu gabinete na última quarta-feira, quando afirmou que a chamada PEC dos Recursos- proposta de emenda constitucional de sua autoria que considera transitadas em julgado ações examinadas em segunda instância- é uma proposta "de caráter pessoal", e não do Supremo.
Peluso também avaliou que o mensalão é "o processo mais complexo que o STF já teve".

Folha - Outros ministros do Supremo ficaram desconfortáveis com sua proposta para que os recursos percam o efeito suspensivo após a segunda instância. O sr. chegou a consultá-los?
Cezar Peluso- Por escrito. Mandei o texto para eles, pedindo sugestão. O único que respondeu, embora discordando, foi o ministro Marco Aurélio. Jamais usei o nome do Supremo para defender essa PEC [Proposta de Emenda à Constituição], que é de caráter pessoal.

O que o sr. acha que aconteceria se, após aprovada, ela fosse questionada no STF?
Isso não sabemos. Mas não tenho nenhum receio.

O sr. acredita que os tribunais estão preparados para essa responsabilidade?
Os tribunais hoje têm potencialidade de responder a essa expectativa. A tarefa deles será facilitada pelo maior cuidado com que as partes vão cuidar de suas causas. A sociedade vai ficar de olho nos tribunais, mais que hoje.

O processo do mensalão no Supremo está célere?
É o processo mais complexo que o STF teve. São quase 40 réus, com advogados diferentes. Só para a sustentação oral, cada um deles pode gastar uma hora. Isso significa que, só de sustentação oral de advogados, teremos 40 horas no mínimo.

Há risco de alguém se livrar de uma eventual condenação por prescrição?
Acho que o ministro relator está muito atento a isso. Se ele tivesse vislumbrado algum risco, já teria antecipado alguma coisa. Ele está conduzindo com a tranquilidade de quem não está correndo risco de prescrição.

Mas advogados estão fazendo de tudo isso ocorrer, não?
Os advogados lançam mão de todos os expedientes e recursos permitidos.

E isso é válido?
Se o sistema permite, o advogado que não usa pode ser acusado de negligência.

Pouco antes de assumir a presidência, o sr. afirmou que defenderia a redução das férias dos juízes, de 60 para 30 dias. O que aconteceu?
Já fui ao Senado, já respondi em audiência pública sobre isso. Tem um projeto que está lá para ser analisado.

Sua posição continua igual?
A mesma. Eu acho que o juiz brasileiro trabalha muito. Acontece que a sociedade hoje é tal que soa como um privilégio [as férias de 60 dias] e isso não é bom para o prestígio da magistratura. Eu acho que férias de 30 dias é o ideal. Mas, pensando sobretudo nos advogados sugiro que haja 30 dias de férias para o juiz e, para todos, tem que haver um período de recesso onde os próprios advogados possam ter férias.

Quanto tempo de recesso?
De 20 dias seria ótimo, 20 de dezembro a 10 de janeiro.

Um juiz goiano anulou a união de um casal gay e criticou a decisão do STF. Como o sr. vê essa decisão?
Como tese, as decisões que pela Constituição são vinculantes têm que ser observadas pelo juiz. O que os juízes podem fazer é dizer: "Não concordo com a decisão do Supremo porque não acredito que foi a melhor interpretação, mas sou obrigado a cumprir, portanto aplico". A crítica intelectual é válida. As decisões de qualquer tribunal são sujeitas à crítica. Mas, no plano da obrigatoriedade, não pode haver discussão.

Sobre a marcha da maconha, o STF não entrou no mérito da discussão. O sr. acredita que a discussão deve ocorrer?
Sim, é uma discussão velha. Há mais de 20 anos, eu estive num simpósio onde vi acadêmicos sustentarem que a melhor maneira de combater o tráfico de entorpecente seria a liberação do seu uso.

O sr. concorda?
Não sou capaz de dizer se isso é uma coisa ruim ou boa. Precisa ser estudado com muito cuidado.

O sr. já teve contato com maconha?
Vou lhe contar uma experiência para te dizer que nunca tive. Uma vez na PUC me disseram: "Professor, o sr. passou ali no meio agora pouco, não viu dois caras fumando, lá?". Eu falei: "Vi dois caras fumando, sim". Aí disseram: "O sr. não sentiu cheiro de maconha?". E eu respondi: "Nem sei qual é o cheiro da maconha" [risos].

O ministro Celso de Mello defendeu a discussão sobre legalização da maconha para fim religioso. O sr. concorda?
Tenho minhas ressalvas, o uso religioso pode ser a aparência. Seria uma bela maneira de contornar lei.

O sr. propôs que haja reuniões fechadas entre os ministros do STF para discutir julgamentos. Por quê?
Essa possibilidade de discussões prévias, de trocas de ponto de vistas num ambiente mais informal, sem assistência, sem público, ajudaria muito. Uma coisa é eu estar conversando com você. Outra coisa é eu estar no Pacaembu e todo mundo ver o que estamos conversando. Seriam reuniões preparatórias, que não são incompatíveis com a Constituição.

O que precisa ser feito na prática para isso acontecer?
Simplesmente que a gente concorde em criar uma emenda regimental que permita sessões reservadas preparatórias de decisões administrativas e jurisdicionais. Nada se vai decidir ali. Serão apenas troca de ideias, preparar uma decisão futura.

Poderia ter evitado o impasse sobre a Lei do Ficha Limpa?
Poderia ter evitado um monte de coisa.

O que sr. pensa sobre o sigilo eterno de documentos?
É uma questão delicadíssima, que deve ser decidida pelo Legislativo e pelo Executivo. Mas há certos dados sigilosos que podem pôr em risco a segurança do Estado, que tem o direito de preservar sua segurança e não trocá-la pela pretensão da mera divulgação. O problema é que não apenas o povo fica sabendo tudo, mas os inimigos do Poder e do país também. Isto pode botar em risco a segurança. Tanto o Executivo quanto o Legislativo têm que lidar com tranquilidade, procurando compatibilizar a aspiração legítima da sociedade e a preservação daquilo que seja essencial para resguardar a segurança do Estado onde a sociedade vive.

RAIO-X
CEZAR PELUSO, 68

ORIGEM
Bragança Paulista (SP)

FORMAÇÃO
Faculdade Católica de Direito de Santos

ESPECIALIZAÇÃO
Direito civil e processo civil

CARREIRA
Tem origem na magistratura. Foi indicado pelo ex-presidente Lula para o Supremo em 2003. Assumiu a presidência da corte em março de 2010

Frases

"É uma questão [sigilo eterno] delicadíssima [...]. Mas há certos dados sigilosos que podem pôr em risco a segurança do Estado, que tem o direito de preservar sua segurança e não trocá-la pela pretensão da mera divulgação"

"São quase 40 réus [no mensalão], com advogados diferentes. Só para a sustentação oral, cada um deles pode gastar uma hora"

"Ele [o relator] está conduzindo com a tranquilidade de quem não está correndo risco de prescrição"

EDITORIAL - O ESTADÃO - Sinal vermelho na Petrobrás


Sinal vermelho na Petrobrás
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 27/06/11

O Conselho de Administração da Petrobrás rejeitou pela segunda vez, na semana passada, o Plano de Negócios para o período 2011-2015, que previa mais US$ 25 bilhões de investimentos, além do plano atualmente em execução (2010-2014), de US$ 224 bilhões. Outras propostas da diretoria da Petrobrás para viabilizar o aumento do volume de investimentos também foram recusadas, obrigando a empresa a reavaliar centenas de projetos em pauta, como mostrou reportagem de Irany Teresa e Sérgio Torres, no Estado (18/6, B1).

Dia 13 de maio, a diretoria da Petrobrás já havia apresentado o Plano 2011-2015, sem divulgar valores. O Conselho de Administração rejeitou o plano, pedindo à diretoria da empresa metas mais realistas de investimento, que, ademais, deveriam ter retorno assegurado.

Pelo plano analisado e rejeitado na semana passada, a Petrobrás pretendia que os preços dos combustíveis fossem aumentados em 10%, sem afetar o consumidor, pois haveria concomitante redução da Contribuição de Domínio Econômico (Cide). Ou seja, o Tesouro abriria mão de arrecadação para permitir que a Petrobrás dispusesse de mais recursos para aplicar. A recusa mostrou que a Fazenda não quer cortar as próprias receitas para favorecer a Petrobrás.

Outra proposta rejeitada foi a de transferir a frota de novos navios da subsidiária Transpetro para a empresa Sete Brasil, da qual a Petrobrás participa com apenas 10% do capital, sendo 90% divididos entre os fundos de pensão Previ, Petros, Valia e Funcef e os Bancos Bradesco e Santander. Segundo a reportagem citada, a presidente Dilma Rousseff teme o esvaziamento da Transpetro e do Programa de Modernização da Frota (Promef). A Sete Brasil passaria a controlar 49 embarcações, cuja construção já foi contratada ou será licitada no âmbito do Promef.

A imposição de limites aos planos da Petrobrás se deveria ao fato de a empresa estar atuando em muitas frentes ao mesmo tempo - a exploração do pré-sal, a construção de três novas refinarias, a compra ou aluguel de equipamentos de perfuração e produção em águas profundas, gasodutos, superpetroleiros, petroquímica, geração de eletricidade e transporte de etanol e biodiesel. "O staff técnico da Petrobrás estaria sobrecarregado no esforço para operar tantos projetos grandes e complexos", afirmou o jornalista Norman Gall, diretor do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, em artigo no Estado (B15, 19/6).

A Petrobrás não se aproveitou da alta do petróleo para mais de US$ 100 o barril, neste ano, e que gerou aumento do valor das áreas de exploração futura, como os campos do pré-sal. As ações ordinárias e preferenciais da empresa negociadas em bolsa no País e no exterior caíram entre 14% e 15%, neste ano, contrastando com os papéis de outras grandes companhias petrolíferas. Em 2010, a capitalização da Petrobrás já havia provocado a diluição do capital dos acionistas minoritários e redução dos dividendos.

A estatal tem metas ambiciosas para 2020: produzir 5,4 milhões de barris/dia do óleo bruto ou gás equivalente e 3,4 milhões de barris/dia de refinados. Mas, para cumpri-las, depende do resultado dos investimentos em curso nas áreas do pré-sal, pois já enfrenta o problema do esgotamento de grandes áreas de exploração.

É o caso dos campos gigantes de Marlim e Marlim Sul - este foi responsável, isoladamente, por 13% da produção da empresa no ano passado. Na Bacia de Campos, que responde por 44% da produção doméstica, o esgotamento se dá à taxa de 10% anuais, informou Gall.

A Petrobrás não deverá ter, como no ano passado, nem acesso a novos recursos de investidores privados nem à fartura de verbas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). E ainda terá de se sujeitar aos cortes de gastos - especialmente de investimentos - determinados pelo ajuste fiscal do primeiro ano do governo Dilma Rousseff.

O ministro da Fazenda e presidente do Conselho da Petrobrás mostrou o sinal vermelho. O governo quer mais eficiência da estatal, à qual caberá eleger os investimentos prioritários - e espera-se que sejam na produção.

ANCELMO GÓIS - Isto é Brasil

Isto é Brasil
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 27/06/11

Estudo da consultoria francesa Semiocast revelou que o português já era, em fevereiro, a terceira língua mais “falada” no Twitter.

Coisa civilizada 
Tem uma propaganda do MEC em que aparece no fundo a escola Ruth Cardoso, em Mogi das Cruzes. Agora, sim O filme “Lula, filho do Brasil”, de Fábio Barreto, estreia em Nova York, em setembro, em dois cinemas.

Filme no Brasil

O projeto de Woody Allen filmar no Rio, depois de Barcelona e Paris, continua andando.

Fator OAS

A OA S sonha em construir o Parque Olímpico, a ser erguido no lugar do antigo Autódromo, no Rio, para os Jogos de 2016.

Petrobras perdeu

No momento em que a seleção brasileira se prepara na Argentina para a Copa América, o River Plate foi rebaixado ontem para a Segundona do país vizinho, pela primeira vez em 110 anos.

Aliás

Quem também perdeu foram os dois patrocinadores do tradicional clube argentino, ambos brasileiros. Tramontina nas mangas e Petrobras na frente e nas costas.

Chamem o Zorro!
Dias atrás, na Rua Marquês de Valença, Tijuca, no Rio, por volta de 15h30m, sol a pino, três assaltantes roubaram um pedestre. Até aí morreu Neves. O inusitado é que um deles, acredite, dava cobertura aos outros montado num... cavalo!

Só dá Niterói

Semana passada, o IBGE revelou: Niterói tem a maior renda domiciliar per capita do país. Hoje, pesquisa da FGV sobre a “Nova Classe Média”, a ser lançada por Marcelo Neri, mostra que, de todos os 5.568 municípios, Niterói é o que tem o maior percentual de famílias classe A (30,7%).

Segue...
Depois vêm Florianópolis (27,7%); Vitória (26,9%); São Caetano (26,5%); Porto Alegre (25,3%); Brasília (24,3%); e Santos (24,1%).

Chico e Hydon 
Hydon, autor de “Na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê”, lembra? e parceiro de Tim Maia, lançará seu próximo CD, Soul Brasileiro Edição Extra”. Terá a participação de Chico Buarque tocando kalimba, instrumento africano. O lançamento será em agosto.

Teleférico do Alemão
Dilma e Cabral inauguram dia 8 o Teleférico do Alemão, no Rio. O bilhete individual custará R$ 1.

Mas...
Moradores do Complexo, que envolve 13 favelas, terão direito a uma passagem diária gratuita, de ida e volta, sempre que usarem os trens da Supervia.

Viva Jerry!
Jerry Adriani, ídolo da Jovem Guarda, lança o álbum “Pop Jerry & Rock”, dia 30, na Fnac da Barra, através do seu próprio selo, Jerry Art Records.

69
Gilberto Gil, nosso grande artista, comemorou, ontem, 69 anos na companhia de amigos.

O outro lado
A siderúrgica CSA reitera que “até o momento não há nenhum laudo conclusivo que aponte quaisquer danos à saúde dos moradores da região decorrentes de suas atividades”. Diz ainda que a Usiminas fez uma auditoria no processo industrial não relacionado à questão de saúde. A auditoria sobre saúde está sendo realizada pela Fundacentro, a pedido do MP.

No mais
É como diz Nelson Sargento, baluarte da Mangueira, sobre a chegada da UPP ao Morro:
— É hora de investir em educação. Só assim, entre os meninos da Mangueira, poderão surgir juristas, senadores, artistas e até presidente.

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO - Água no etanol


Água no etanol
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
O Estado de S.Paulo - 27/06/11

Má notícia para a presidente Dilma Rousseff: o canavial está feio no interior de São Paulo. Choveu muito no começo do ano e faltou luz para as plantas se desenvolverem. A cana cresceu pouco, vai perder produtividade. Entre si, usineiros falam em quebra de 10% da safra. Menos cana significa menos etanol e/ou menos açúcar. Ao mesmo tempo, cresce a frota de carros flex e a demanda por álcool combustível no Brasil. A combinação é inflamável.

O cenário para 2012 está sendo pintado com renovada pressão inflacionária, fermentada pelo preço dos combustíveis. No próximo ano há eleições municipais, essenciais para os partidos formarem seu cacife para o pleito presidencial (e de governadores mais Congresso) em 2014. Ano de eleição com inflação complica qualquer governante. Conter gastos e agradar o eleitor é como assobiar e chupar cana ao mesmo tempo.

O plano do governo para o setor, segundo reportagem do jornal O Globo, é usar a divisão de biocombustíveis da Petrobrás para aumentar a oferta de etanol, especialmente durante a entressafra (dezembro a março). Quer que a estatal petrolífera pule de 5% para 12% da produção de álcool combustível no País. Montar apresentação em PowerPoint é fácil, plantar dezenas de milhares de hectares de cana do jeito certo, nem tanto.

Basta recordar o caso da Brenco. Formada com capital de US$ 1 bilhão e comandada por um ex-presidente da Petrobrás, a empresa fez planos para construir uma dezena de usinas novas em regiões de terra mais barata, onde não havia experiência prévia com plantação de cana. Os dólares foram enterrados, mas nenhum saco de açúcar ou litro de álcool surgiu deles. Foi um dos maiores fiascos da história do agronegócio.

"Tomamos uma posição porque este ano houve elevação grande do preço do etanol. Não houve escassez do produto. Mas, se não agirmos agora, pode haver crise semelhante com o preço do álcool no próximo ano", disse o ministro Edison Lobão ao Globo. A frase revela que seu autor entende tanto de agricultura quanto de física quântica.

A safra de 2011 está parcialmente colhida. A de 2012 já está em grande parte plantada. Nada que o governo decidir agora terá efeito relevante sobre elas. Se Lobão e companhia quiserem evitar que a falta de etanol provoque alta dos preços dos combustíveis em 2012, precisarão importar gasolina ou álcool dos EUA. E torcer para que a crise econômica norte-americana continue, ou os EUA podem não ter excedente para exportar. Ou seja, o que é bom para Barack Obama pode não ser bom para Dilma, e vice-versa.

O presidente norte-americano disputa sua reeleição no próximo ano e depende de a economia do seu país se recuperar para ele ganhar de volta a popularidade perdida. Até agora Obama não tem tido sucesso em seus estímulos econômicos. O carro continua parado, mas isso não quer dizer que o motor não acabe pegando no tranco após um dos muitos empurrões do governo.

Estado de alerta. A mais recente pesquisa Datafolha sobre o governo Dilma e a visão dos brasileiros sobre a economia acendeu uma luz amarela. A popularidade da presidente não caiu, mas as pessoas estão ficando pessimistas, acham que os preços vão continuar a subir e têm mais medo de perderem o emprego. Expectativas desse tipo são autorrealizáveis (consumidores desconfiados consomem menos). Some-se escassez de algo que tem impacto profundo na economia, como combustíveis, e o que era ruim pode ficar pior.

Como a história recente de EUA e Brasil confirmam, o bolso é a parte mais sensível do eleitor. A oposição tem mais chances de ganhar quando a economia não vai bem.

No caso de Dilma, inflação com baixo crescimento pode implicar não apenas dificuldades para os candidatos petistas a prefeito. Significa mais problemas com o PMDB. Os aliados estão atentos a qualquer sinal de fraqueza da presidente para aumentar o preço da sua fatura. Comportam-se como vírus oportunista à espreita do enfraquecimento do sistema imunológico do hospedeiro.

Mas pode ser que os investimentos de empresas como ETH e Petrobrás em regiões menos castigadas por São Pedro frutifiquem dentro do cronograma previsto e acima do volume esperado, pode ser que o ministro Lobão se mostre um novo Einstein e pode ser que o mercado seja inundado de etanol barato. Afinal, quase toda semana um sortudo ganha na Mega Sena.

GOSTOSA

MARCELO DE PAIVA ABREU - Gastar menos e gastar melhor


Gastar menos e gastar melhor
MARCELO DE PAIVA ABREU
O Estado de S. Paulo - 27/06/2011

As notícias das últimas semanas sugerem que o governo está ilhado e paralisado. Em política, a natureza também detesta o vácuo. Sucessivas crises políticas que põem em risco a brancaleônica coalizão governamental emergem em meio a marchas e contramarchas envolvendo temas em muitos casos de importância secundária. Enquanto isso, o governo mostra carecer de plano de voo em relação a decisões que são vitais para que o País cresça de forma rápida e sustentada nas próximas décadas.

Em meio às controvérsias sobre o caso Battisti, regras sobre o prazo de sigilo de documentos e o fantástico auxílio-refeição dos juízes, o debate sobre os assuntos econômicos continua atolado na cantilena habitual sobre o quanto a taxa cambial está sobrevalorizada e como o Brasil é recordista mundial no quesito taxas de juros reais positivas. Sempre omitindo o espetacular desempenho brasileiro no ranking mundial de distribuição de crédito público subsidiado.

É cansativo insistir: a alta taxa de juros reais resulta da necessidade de conter (ou tentar conter) a inflação nos limites determinados pelo regime de metas, dada a política fiscal. Alterações significativas da política de juros requereriam ou a "flexibilização" do regime de metas, permitindo inflação maior, ou a mudança de postura quanto à política fiscal, deixando de acomodar aumento de despesas com aumentos da carga tributária. O banzo com relação a políticas de intervenção com foco em juros e câmbio deve ser exorcizado.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo encomendou ao Instituto Ipsus pesquisa sobre "o que faria você perder o sono?". A resposta de 26% dos entrevistados identificou a inflação (e 7%, o aumento de taxas e impostos). Entre os mais velhos, que têm memória inflacionária direta, a proporção sobe a quase 40%. Algo para ser digerido antes de declarações precedendo a próxima reunião do Copom...

Se o regime de metas deve pelo menos manter as metas inflacionárias atuais, o caminho que resta ao governo, ao engajar-se em esforço coerente de redução das taxas de juros reais, tem que ver com as contas públicas, de tal forma que a poupança pública volte a ser significativa e cumpra o seu papel de catalisadora da poupança privada.

É natural que o ritmo de crescimento da economia concentre as preocupações do governo. Aumentar a taxa de crescimento desejada para algo em torno de 5% ao ano requer investimentos como proporção do PIB da ordem de 23%. Prioridade no aumento da poupança pública faz parte essencial de um processo de aumento gradual da poupança doméstica e consequente redução da necessidade de poupança externa.

As preocupações governamentais não se devem centrar exclusivamente nos níveis de investimento, mas também devem levar em conta em que medida aumentos na relação investimento/PIB refletem aumentos efetivos de capacidade produtiva. Se os gastos de investimento estiverem concentrados na aquisição de máquinas e equipamentos ou contratação de serviços de construção a preços elevados, a criação de efetiva capacidade produtiva será consequentemente reduzida. Manter o custo do investimento sob controle deve fazer parte da estratégia do governo quanto à manutenção do crescimento econômico. Isso significa pôr o foco sobre os custos de máquinas e equipamentos (cerca de 50% da formação bruta de capital) e da construção civil (cerca de um terço).

Embora as estatísticas brasileiras sobre investimentos no longo prazo sejam notoriamente deficientes, não há dúvida de que, em diversos momentos, as altas taxas de formação bruta de capital fixo em parte refletiram o aumento de preços relativos de máquinas e equipamentos, bem como de construção, num mercado fechado à concorrência internacional e desprovido de disciplinas efetivas de regulação da concorrência. A inflação alta também teve o seu papel.

Embora seja importante preservar a capacidade doméstica de produzir bens de capital, é preciso ter em mente que a manutenção de tarifa de importação sobre bens de capital relativamente alta (mesmo levando em conta as reduções referentes aos ex-tarifários) tem implicações relevantes sobre o custo do investimento. A política de compras da Petrobrás ilustra o argumento. Ao optar por um produtor nacional até o limite de preços de 35% acima dos preços praticados por produtores internacionais, revela a grande importância que atribui à criação de capacidade produtiva doméstica de equipamentos para a indústria petrolífera, mas onera significativamente seus custos de investimento, sem preocupações de definir a redução das margens de proteção no decorrer do tempo. Da mesma forma, há espaço para a adoção de políticas que estimulem a concorrência na provisão de serviços de construção civil com impacto significativo no custo do investimento.

A estratégia econômica do governo deveria ter como mote: "gastar menos e gastar melhor". Remanejamentos recentes da equipe governamental sugerem grande preocupação com a eficácia gerencial. Mesmo que se aceite que essa eficácia foi comprovada - algo que poderia ser questionado -, o que se pergunta é: de que adianta talento gerencial, se o projeto do governo não tem rumo?

CARLOS ALBERTO DI FRANCO - Segredo de Estado e corrupção


Segredo de Estado e corrupção
CARLOS ALBERTO DI FRANCO
O Estado de S. Paulo - 27/06/2011

O presidente do Senado, José Sarney, que defende sigilo eterno para documentos secretos, sugeriu que sua divulgação pode causar atritos com nossos vizinhos. "Não podemos fazer o WikiLeaks da História do Brasil", sublinhou o senador, certamente preocupado com as graves consequências da divulgação dos segredos da Guerra do Paraguai ou das negociações do barão do Rio Branco que fixaram as nossas fronteiras.

Sob argumentos nada claros, e alguns francamente cômicos, o governo federal deu marcha à ré em seu anunciado projeto de transparência. Como salientou editorial deste jornal, a mesma presidente Dilma Rousseff que escolheu a data de 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, para sancionar a lei que acabaria com o sigilo eterno de documentos oficiais brasileiros - e por isso instou o Senado a aprovar com rapidez a matéria - simplesmente aceitou que se retirasse o caráter de urgência do projeto.

Pela legislação atual, os documentos de caráter "ultrassecreto" permanecem por 30 anos inacessíveis ao público, e esse prazo pode ser renovado indefinidamente. A Câmara dos Deputados decidiu, no ano passado, em acordo com o governo, diminuir para 25 anos o tempo do sigilo, autorizando a sua renovação uma vez apenas: total de 50 anos. Mudou para melhor. Estaria de bom tamanho.

O projeto da Câmara foi encaminhado ao Senado. Dilma comprometera-se a apoiar a sua votação tal como o texto se encontrava. Rendendo-se ao titular do Senado, José Sarney, e ao ex-presidente Fernando Collor, que dirige a Comissão de Relações Exteriores da Casa, Dilma concordou com a interdição perpétua dos documentos ultrassecretos. Como bem salientou Merval Pereira, colunista do jornal O Globo, chegamos a um ponto em que uma legislação moderna, que poderia ser conhecida como a "lei da transparência", acabará chamada de "lei do sigilo eterno".

Mas o mesmo governo que defende a perpetuação do silêncio tenta fechar um acordo para que o projeto de lei que cria a Comissão da Verdade seja aprovado no Senado e na Câmara o mais rápido possível. A ideia é que, logo que os termos do acordo com governo e oposição sejam fechados, o projeto - que estabelece uma comissão para investigar e fazer a narrativa das violações dos direitos humanos durante a ditadura militar - seja aprovado nas duas Casas. O governo, que, aparentemente, quer uma narrativa transparente de um período da nossa História deseja manter a maior parte dela nos porões do sigilo perpétuo. Afinal, a que verdade a presidente da República aspira? Como conjugar a Comissão da Verdade com o sigilo eterno? A quem interessa o silêncio? A resposta, caro leitor, é simples e está articulada com outra iniciativa que, sorrateiramente, transita no Congresso Nacional: a Lei da Mordaça.

De autoria do deputado Sandro Mabel (PR-GO), o texto foi modificado pelo relator na Comissão de Constituição e Justiça, Maurício Quintella Lessa (PR-AL). A proposta original classificava como crime a divulgação e o vazamento de qualquer tipo de informação que fosse objeto de investigação oficial. Maurício Quintella restringiu o crime às apurações criminais, mas deixou claro que a nova tipificação será aplicada não só ao servidor que fizer vazar a informação, mas também a quem a divulgar na imprensa. Quer dizer, denunciar corrupção pode dar cadeia.

A cereja que faltava ao bolo da ilegalidade e da falta de ética chegou antes do que se imaginava. A Medida Provisória 527, aprovada na Câmara, prevê a manutenção em segredo de orçamentos prévios para as obras da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. O procurador-geral de República, Roberto Gurgel, afirmou que é "escandalosamente absurda" a decisão da Câmara. Estamos, pois, na antessala de um provável megaescândalo patrocinado pelo sigilo protetor da impunidade.

A sociedade brasileira assiste, atônita, ao nascimento de um nefasto contubérnio. Deram-se as mãos a corrupção e o autoritarismo. Em recente entrevista à revista Veja, o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, deixou clara a sua preocupação com as barreiras criadas pela legislação brasileira com o objetivo, segundo ele, de tornar inviável a punição de políticos corruptos. O foro privilegiado, como o nome já diz, acentua bem essa situação. É uma "distinção cruel que não deveria existir".

Lembrou Joaquim Barbosa, como exemplo emblemático, que Bill Clinton foi inquirido pelo Grande Júri: "O que é um Gran Jury nos Estados Unidos? Nada mais que um órgão de primeira instância, composto de pessoas do povo. Era o presidente dos Estados Unidos comparecendo perante esse júri, falando sob juramento, sem privilégio algum. O homem mais poderoso do planeta submetendo-se às mesmas leis que punem o cidadão comum. O foro privilegiado é a racionalização da impunidade". E eu acrescentaria: o sigilo eterno e a censura, aberta ou disfarçada, são a consagração da bandidagem.

O secretismo de Estado é um perigo para a democracia. O princípio da presunção da inocência deve ser garantido, mas não à custa da falta de transparência. O princípio constitucional da publicidade, pelo qual qualquer cidadão tem direito a obter das autoridades públicas informações de interesse pessoal e geral, está sob fogo cruzado.

O combate à corrupção reclama uma imprensa livre e sem amarras. Não se pode admitir que o governo oculte informações de interesse público. A Lei da Mordaça é uma bofetada na democracia. Por outro lado, o sigilo eterno é uma forma perversa de supressão da História. Se o governo insistir no anacronismo, autoritário e obscurantista, acabará nascendo o WikiLeaks da cidadania.

LUIZ FELIPE PONDÉ - Não existe almoço de graça


Não existe almoço de graça
LUIZ FELIPE PONDÉ
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/06/11

A EUROPA ESTÁ em chamas pelo medo da dissolução da União Europeia. No Brasil, os defensores dos direitos dos imigrantes ilegais na Europa ainda se aferram à imagem adolescente de que o continente deve receber "todo mundo", numa conta infinita a ser paga pela colonização.

Não existe almoço de graça, mas tem muita gente, que normalmente não paga o almoço, que não sabe disso ou finge que não sabe.

A atitude é adolescente porque essa gente que grita contra a "direita" europeia (que cresce à medida que os países vão falindo) não pagaria um sanduíche para um estranho, mas acha que os europeus devem pagar comida, casa, hospital e escola até para os ilegais. A recusa em entender isso só piora as coisas.

O que me assusta é como gente grande pode ter sido contaminada por tamanha infantilidade em termos de análise política e social. O filósofo da vaidade, Rousseau (século 18), assim chamado por Burke (também do século 18), crítico dele e da revolução francesa, é muito responsável por esse absurdo, além do velho Marx.

"Bleeding hearts" é como são chamados pelos conservadores americanos esses teenagers da política.

O problema de países como Portugal, Espanha e Grécia é que não se pode ganhar como eles e gastar como franceses e alemães. Uma hora a casa cai.

Recentemente, conversando com um médico brasileiro que ficou um mês trabalhando num hospital importante em Bruxelas, especializado em câncer, fiquei sabendo dos absurdos do sistema de saúde da Bélgica.

A Bélgica deverá acabar em breve por conta do impasse de ser um país que reúne flamengos (etnicamente próximos dos holandeses) e belgas franceses e por isso não consegue formar um governo decente.

Lá, estrangeiros ilegais recebem mais direitos a tratamento médico do que cidadãos belgas. Funcionários belgas do hospital em questão falam disso com grande rancor. Quem aguenta isso?

Tudo bem que a Bélgica, dizem, foi o colonizador mais cruel da África (Joseph Conrad imortalizou a violência da colonização belga do Congo em seu monumental "Coração das Trevas"), mas até onde se pode pagar uma "conta" dessas?

Semelhante é o caso brasileiro e o absurdo do país ficar "sustentando" o Paraguai via Itaipu. Quando o governo brasileiro, por afinidade ideológica com o governo paraguaio, decide que deve aumentar a "contribuição" dada ao Paraguai por Itaipu, quem paga a conta é você através de seu trabalho e de suas agonias cotidianas. Legal, não? Você paga imposto para doar dinheiro para o Fernando Lugo, presidente do Paraguai, posar de "defensor de su pueblo".

Quando acordar de manhã, pense: "Opa, hoje tenho que correr de um lado para o outro pra mandar dinheiro para o Paraguai".

Claro que tem gente que diz que devemos muito ao Paraguai pelo que fizemos lá durante a Guerra do Paraguai, mas até onde essa história é verdadeira?

Aconselho a leitura do "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" do Leandro Narloch (Ed. LeYa), para aprender um pouco mais sobre esse mito que destruímos uma nação que marchava para ser um país perfeito sob a batuta de seu ditador Solano Lopez.

Calma, não se trata de ser insensível com o sofrimento dos mais fracos. Sei que o coro dos humilhados e ofendidos gritará, mas não o temo. Trata-se sim de perceber que o mundo não é o que um centro acadêmico pensa que é.

Pensemos numa situação hipotética. Imagine que tivéssemos um número gigantesco de imigrantes de países pobres entre nós. Agora imagine que eles tivessem mais direitos a saúde pública que você, que trabalha como um cão e que paga impostos extorsivos, como é o caso no Brasil e na Europa.

O que você pensaria disso? Você aceitaria sustentar pessoas que se mudam para a sua casa a fim de lá viver às suas custas?

Alguém sempre paga a conta e quando se tenta fechar os olhos à sangria que é bancar o crescimento de imigrantes (ilegais ou não) na Europa, a tendência inevitável é que radicais de direita sejam eleitos.

Quando você se "revoltar" contra isso, doe uma parte da sua grana para a África.

FERNANDO DE BARROS E SILVA - Gays, evangélicos e política


Gays, evangélicos e política 
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/06/11

Uma "parada" e uma "marcha". A primeira, "Gay"; a segunda, "para Jesus". Ambas ocorreram num intervalo de três dias, em São Paulo, e contam seus participantes na casa dos milhões. São os dois maiores eventos de massa do país, manifestações de força e de organização coletiva numa sociedade com baixa capacidade de mobilização popular e muito pouco interesse pela política.
A Parada Gay e a Marcha para Jesus têm mais ou menos a mesma idade. Ganharam visibilidade no país em meados dos anos 1990. Embora sejam eventos globais, com inserção em várias cidades, é em São Paulo que elas de fato acontecem.
São o sagrado e o profano, a expressão ritualística ou carnavalizada da afirmação de valores e de direitos de grupos sociais. Neste ano, mais do que nunca, evangélicos e gays & simpatizantes disputaram um cabo de guerra, uma peleja entre o atraso e a vanguarda em matéria de costumes. Ambos, porém, são fenômenos contemporâneos. O embate entre eles desenha uma dialética entre regressão e avanço social no Brasil.
Conservadores e intolerantes, os adeptos de Jesus investiram contra a decisão recente do STF, que reconheceu a união civil de casais gays. "O verdadeiro Supremo é Deus", dizia na marcha um senador da República. Os homossexuais, por sua vez, usaram ontem um mandamento cristão -"Amai-vos uns aos outros"- como bordão para combater essa mesma intolerância.
Ontem, em artigo na Folha, o diplomata Alexandre Vidal Porto dizia que, em respeito às vítimas da homofobia (e para combatê-la), o "peso do discurso político" na parada devia ser maior que "a vontade de dançar". Pedia uma descarnavalização do ato em benefício de uma visão menos estereotipada e caricata dos homossexuais. Faz sentido. É sintomático do conservadorismo brasileiro que a politização dessa questão tenha sido pautada por uma decisão do STF, à revelia do Congresso e do Executivo.

MÔNICA BERGAMO - ACIMA DA MÉDIA

ACIMA DA MÉDIA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/06/11

Pesquisa feita pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) com empreendedores individuais -aqueles que ganham até R$ 36 mil por ano e que hoje, pagando R$ 27 para a Previdência, podem formalizar seu pequeno negócio -revelou que, diferentemente do que imaginava o governo, 17% têm ensino superior e 47% têm ensino médio. Só 36% têm apenas o fundamental, contra 60% do total da população. As ambições são grandes: 87% desejam se transformar em microempresários.

NO ESCURO
A pesquisa mostrou também que a maior parte dos empreendedores individuais tem receio ou dificuldade de bater à porta dos bancos para pedir empréstimos, uma das vantagens de se formalizar: 88% nunca buscaram crédito. Dos 12% que fizeram isso, 57% não conseguiram nada.

LÂMPADA
Os bancos públicos -Banco do Brasil, CEF e Banco do Nordeste- devem lançar em breve linhas de crédito voltadas para este público, com juros mais baixos que os de mercado. E o Sebrae lança o SEI, programa de treinamento para o mesmo alvo.

ALÔ?
Ainda a pesquisa: a atividade mais frequente entre os 11 mil entrevistados é a de vendedor de roupas (10%), seguida da de cabeleireiros (7,6%). E 4% recebem o Bolsa Família. Detalhe: as entrevistas foram feitas por telefone. A maior parte dos empreendedores tem celular.

LUZ, CÂMERA, AÇÃO
A atriz Fernanda Montenegro deve ser a mestre de cerimônias da homenagem aos 80 anos de Fernando Henrique Cardoso no Senado. O evento será na quinta.

EU VOLTAREI
O Procon deve intensificar as diligências nos locais fechados onde famosos fumaram nas últimas semanas. Além do restaurante 3p4, onde Ashton Kutcher deu suas baforadas, o hotel Tivoli e o cinema Reserva Cultural, onde as atrizes francesas Catherine Deneuve e Audrey Tautou acenderam cigarros, também estão na mira. O 3p4 já foi visitado mais cinco vezes pelo órgão. Em nenhuma foram constatadas outras irregularidades.

FAZ SEU NÚMERO

O cantor Guilherme Arantes, que está em turnê para comemorar seus 35 anos de carreira, chegará a São Paulo no dia 12 de agosto. Fará show no Citibank Hall.

NINHO
O ex-governador de São Paulo Luiz Antonio Fleury Filho está de volta à política. Convidado por Michel Temer, ele se prepara para regressar ao PMDB.

LEMBRANÇAS

Fleury, por sinal, já foi chefe de Temer: o agora vice-presidente foi secretário de Segurança em seu governo.

PAPO - CABEÇA
O neurocientista Miguel Nicolelis, que mora nos Estados Unidos, veio ao Brasil para fazer palestra na Sala São Paulo, anteontem. Sua fala faz parte do seminário Fronteiras do Pensamento. Após a conferência, ele lançou a obra "Muito Além do Nosso Eu" (Companhia das Letras). Na plateia, estavam Candida Boemeke e Alice Penna, entre outros.

ASAS DO DESEJO
Erica Felipo e Carola Montoro

Marcele Becker
A modelo Marcele Becker e o empresário José Camargo Junior tiveram que alugar até um avião para driblar o congestionamento nos aeroportos e trazer a família dela do Sul para o casamento dos dois na fazenda Remadejo, em Caucaia do Alto (SP); ele recebeu a bênção de seu pai, José Camargo, e do filho, Rafael, e votos de felicidades de amigos como Ricardo e Michella Cruz Bruno e da modelo Renata Kuerten.

CURTO - CIRCUITO

A jornalista e escritora Eliane Brum lança amanhã, às 18h30, o livro "Uma Duas" (editora LeYa) na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

Reynaldo Gianecchini, Maria Manoella e Erik Marmo estreiam a peça "Cruel" hoje, com direção de Elias Andreato. No Teatro Faap, às 21h. Classificação: 14 anos.

O artista plástico Quim Alcantara expõe pinturas sobre tecidos hoje, a partir das 20h, na Mercearia São Roque do Jardim Europa.

A apresentadora Ana Furtado e o ator Victor Fasano serão os mestres de cerimônia do jantar promovido pelo Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer) amanhã no clube Hebraica.

Teresa e Tomas Perez lançam hoje guia de viagem da Espanha, às 19h30, no restaurante Eñe.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

RENATA LO PRETE - PAINEL

Ela não
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/06/11

À diferença de Aloizio Mercadante, estimulado a vir a público tratar da ressurreição do caso dos aloprados, o Planalto quer manter Ideli Salvatti, recém-nomeada chefe da articulação política do governo, o mais distante possível da linha de frente do episódio.
A colegas de Esplanada com quem tratou do caso no fim de semana a ministra reconheceu ter conversado com Mercadante, Expedito Veloso e Osvaldo Bargas em 2006 em Brasília. Segundo ela, tratou-se na reunião da conveniência de Mercadante fazer um discurso no plenário do Senado com acusações contra José Serra, ideia que não prosperou.
Para entender Em sua defesa, Ideli lembrou ainda a colegas que não tinha nenhum envolvimento nas eleições daquele ano em São Paulo. À época, ela era líder do PT no Senado.

Isonomia 1 

Ao fim de recente reunião de peemedebistas com Ideli, Henrique Eduardo Alves (RN) fez questão de dizer que o partido dará a Mercadante, a ser questionado amanhã no Senado, o mesmo apoio conferido a Antonio Palocci. "Afinal, ele é um ministro do nosso governo", arrematou.

Isonomia 2 
Presentes ao encontro, os senadores Romero Jucá (RR) e Renan Calheiros (AL), que não se bicam com Mercadante, permaneceram mudos.

Balança 
Em jantar recente, ao comentar os inúmeros convites que recebe desde a posse no cargo de articuladora política, Ideli disse que precisava resistir às tentações, sob pena de ter de "afrouxar os vestidos".

Não rola 

Marco Maia (PT-RS) afirma que "morrerá na praia" a ideia de os deputados repassarem mensalmente parte de suas verbas indenizatórias às lideranças das siglas. Segundo o presidente da Câmara, a mudança só seria feita com a concordância de todos líderes.

Afinado
Acompanhado de seus assessores mais próximos, o ministro Antonio Patriota soltou a voz no restaurante Clemente, em Roma, em comemoração à vitória de José Graziano para a direção-geral da FAO.

Pré-produção 

Em conversa recente, os presidentes do PT, Rui Falcão, e do PMDB, Valdir Raupp, procuraram aplainar o terreno para as eleições municipais. Raupp deixou claro que sua tropa trabalhará para ter candidato próprio em praticamente todas as capitais - Porto Alegre e Goiânia são hoje as maiores dúvidas.

Lençóis 

São Luís poderá abrigar uma "guerra turística" em 2012, quando completa 400 anos. A família Sarney prepara o lançamento de Tadeu Palácio (PMDB), secretário estadual dessa área, à prefeitura da capital maranhense. E o principal adversário do clã deverá ser Flávio Dino (PC do B), que nesta quarta-feira assume a presidência da Embratur.

Peso pesado 
O ex-governador Newton Cardoso promove um racha no PMDB de Minas Gerais na tentativa de influir na definição das candidaturas do partido em 2012. A queda de braço com o presidente local, Antonio Andrade, levou Michel Temer e Valdir Raupp a chamarem os dois para reunião em Brasília, na quarta.

Romaria

Cotado e logo depois preterido na disputa pela liderança do governo no Congresso, o deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS) ainda se esforça pela indicação. Na semana passada, procurou o chefe de gabinete de Dilma, Gilles Azevedo.
com LETÍCIA SANDER e RANIER BRAGON

tiroteio

"O sistema é tão frágil que, depois dos hackers, nem o PT vai poder continuar a se valer da máxima do 'eu não sabia'."
DO SENADOR DEMÓSTENES TORRES (DEM-GO), sobre a precariedade de sites de órgãos federais que, desde quarta passada, foram derrubados ou invadidos por hackers.

contraponto

Melhor que o paraíso

Durante recente visita de governadores do Norte e do Nordeste a José Sarney, o deputado Júlio César (DEM-PI) entrou em cena para distribuir sua proposta de partilha dos royalties do petróleo.
Na pressa de entregar cópias do texto a todos os presentes, ele acabou esbarrando em Marcelo Déda (PT-SE), que perdeu o equilíbrio e se estatelou numa das históricas cadeiras do gabinete da presidência do Senado. Diante do pedido de desculpas, Déda rebateu:
-Que nada! Deus lhe pague! Você realizou o sonho de todo governador: sentar na cadeira de senador!

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

HSBC recomenda cautela com países emergentes
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/06/11

Estudo do HSBC recomenda cautela nos mercados emergentes, mas aposta no Brasil por causa do forte mercado interno.
O relatório lembra que o ambiente global se deteriorou nas últimas semanas e afirma que o banco tornou-se mais conservador no investimento em ativos de países emergentes.
Pablo Goldberg, diretor de pesquisa em Nova York, no entanto, afirma "preferir aqueles com mais fortes histórias cíclicas domésticas, como China e Brasil".
Mercados emergentes têm sido prejudicados pelo crescimento mais fraco, mas devem se beneficiar da redução do ritmo da inflação.
Para Goldberg, os dados sugerem enfraquecimento da inflação no mundo todo. "Vemos essa tendência na Ásia, exceto Japão, e também em um grupo de grandes emergentes: Brasil, Rússia e Turquia."
Além do enfraquecimento da atividade nos EUA, os temores de calote na Grécia aumentaram, o que provoca receio de redução de liquidez, no caso de um choque de aversão a risco.
"Apesar de os balanços de países emergentes serem fortes o suficiente para aguentar ventos ainda mais vigorosos, consideramos que a liquidez poderá encolher se houver maior deterioração [global]", afirma.
"Não estou me tornando "bearish" [que acredita que cotação de títulos ou de ações vá cair] em emergentes. Mas no curto prazo, estou mais cauteloso".

ADEGA MENOS IMPORTADA
A importação brasileira de vinhos acumula queda de 5,5% neste ano até abril.
O Brasil comprou 14,6 milhões de litros da bebida este ano, segundo o Ministério do Desenvolvimento e o Ibravin.
As maiores quedas foram dos principais exportadores da bebida para o Brasil: Chile (-16%) e Argentina (-18%).
Por outro lado, a venda de vinhos tintos nacionais cresceu 7,7% neste ano até abril. O volume de 2,9 milhões de litros é recorde para a época.

DOCE PRESENÇA
A rede de doces Amor aos Pedaços pretende ter uma loja em cada cidade brasileira com mais de 400 mil habitantes até o final de 2013.
A companhia abrirá 20 lojas no segundo semestre e outras 120 filiais nos próximos dois anos.
O projeto de expansão foi retomado em 2010, depois do fechamento das fábricas de Curitiba e do Rio de Janeiro, segundo a fundadora da empresa, Ivani Calarezi.
"Decidimos centralizar a produção em São Paulo e deu certo. Nunca imaginei ter loja no Maranhão, mas hoje isso é possível", diz.
A abertura de unidades no Rio de Janeiro tem sido uma das principais dificuldades na expansão da rede.
"Não há bons pontos disponíveis", afirma Calarezi.
As principais concorrentes da rede, que possui hoje 56 unidades no Brasil, são Cristallo e Ofner.

Etanol é mais vantajoso que a gasolina em 16 Estados do paísO etanol voltou a ser mais vantajoso na maior parte dos Estados brasileiros durante a primeira quinzena de junho, segundo o IPTC (Índice de Preços Ticket Car).
O combustível é mais econômico do que a gasolina em 16 dos 26 Estados do Brasil.
Nos demais Estados e no Distrito Federal, a gasolina ainda é mais vantajosa.
"Para saber qual opção é mais econômica, divida o preço do etanol pelo da gasolina. Resultados de até 0,7 significam rendimento melhor do etanol", diz Eduardo Lopes, do Ticket Car.
O preço médio do etanol no país é de R$ 2,771, enquanto o da gasolina é R$ 1,898, de acordo com o mesmo levantamento.
Na cidade de São Paulo, houve retração de 0,68% no valor médio cobrado por litro de etanol, na comparação com o final do mês de maio.

R$ 2 BILHÕES PARA ÁGUA
A Sabesp reúne os integrantes de sua administração na próxima semana.
Durante dois dias, será traçado o planejamento estratégico da empresa para os próximos anos.
O objetivo é assegurar a universalização dos serviços de saneamento em 363 municípios até 2018.
Para concluir a meta, serão necessários investimentos de R$ 2 bilhões ao ano.

INOVAÇÃO DE HOJE E AMANHÃ
Cerca de 30% das vendas da 3M do Brasil são de produtos que não existiam há cinco anos. Em 2016, essa taxa chegará a 40%, de acordo com o presidente da empresa, Michael Vale.
No Brasil, a companhia, que possui sete fábricas no país e é de origem norte-americana, vende para o mercado interno cerca de 75% da sua produção.

ENSINO FRANQUEADO

A Easycomp Plus, empresa de ensino profissionalizante, planeja abrir 20 franquias no país este ano.
Até agora, ela trabalhava apenas com licenciamento de seu método de ensino. Seu material de educação é utilizado em 800 escolas do país e em três de Portugal.
"Com o sistema de licenciamento, quem adotava o método não precisava usar a marca Easycomp", diz o sócio da empresa, Fernando Costa.
Isso mudará entre as escolas que decidirem ser franqueadas. Três novas unidades já foram abertas em SP pelo novo sistema.
A empresa ainda abrirá franquias em Moçambique, Angola e África do Sul.

Transporte 
As federações das indústrias do PR, de SC e do RS farão um estudo para melhorar a integração de transporte com os países do Mercosul por portos, aeroportos e ferrovias. A interligação deve reduzir custos .

Mineiro 
A Progen, de engenharia, abre escritório em Belo Horizonte. Os 450 funcionários desenvolverão projetos para mineração e metalurgia. Em 2011, a empresa projeta faturamento de R$ 350 milhões, 30% mais que o de 2010.

Mar agitado 
A Magna Estaleiros, de barcos de esporte e lazer, abre em julho, em Brasília, sua segunda loja própria no país. A primeira está localizada em Recife. A expectativa da empresa é aumentar o faturamento em 30%.

com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

RICARDO NOBLAT - Diga aí, Cabral!

Diga aí, Cabral! 
RICARDO NOBLAT
O GLOBO - 27/06/11

Governador Sérgio Cabral: minha solidariedade. Fora a perda de um filho, nada mais dói do que ver um filho sofrer. Tenho um que perdeu a namorada em acidente de carro. E foi ele quem encontrou o corpo. O senhor fez bem em licenciar-se do cargo para ficar ao lado do seu filho. Pezão, o vice, dá conta do recado. É eficiente. Está acostumado.

Só não escale Pezão para responder a perguntas que apenas ao senhor cabe responder. Não são poucas. E estão na boca das pessoas que ainda se preocupam com as parcerias públicas privadas entre os políticos, seus amigos e benfeitores. Sou do tempo em que os políticos escondiam amantes, tesoureiros de campanha e empresários do peito.

Amantes ainda 
são mantidas à sombra — embora algumas delas, de um tempo para cá, tenham protagonizado barulhentos scândalos. Outras morrem sem abrir o bico. Tesoureiros? Esses se expõem ao sol. São reconhecidos em toda parte. E fingem que abdicaram de cometer antigos pecados. Quanto a empresários do peito... Liberou geral.

Por que o senhor viajou a Porto Seguro, acompanhado de parentes, em jatinho cedido por Eike Batista, dono de muitos negócios que dependem do interesse ou da boa vontade do governo do Rio de Janeiro? Foi o senhor que pediu o jatinho emprestado? Foi Eike que ofereceu? Se ele ofereceu, como soube que o senhor precisava de um?

Há voos comerciais diários para Porto Seguro. Por que não embarcou em um deles pagando do próprio bolso a sua e as passagens de familiares? O jato de Eike decolou com o senhor do Aeroporto Santos Dumont às 17h da sexta-feira, dia 17. O voo 3917 da TAM decolou antes — às 10h15m. Nele, o senhor teria chegado ao seu destino às 14h16m.

Não considera indecoroso viajar à custa de um empresário que em 2010 doou para sua campanha R$ 750 mil? Um empresário beneficiado por isenções concedidas por seu governo? Foi por isso que sua assessoria, no primeiro momento, negou que o senhor tivesse voado para Porto Seguro? Foi por isso que o senhor voltou em jatinho alugado?

Se a autoridade máxima de um estado pede ou aceita favores de empresários, não será compreensível que seus secretários também aceitem, igualmente os subsecretários, chefes de gabinetes, chefes de repartições — e assim por diante? Que diferença existe entre um agrado feito com dinheiro e outro com gasolina e conforto?

O que o levou a Porto Seguro foi a comemoração de mais um aniversário do empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta Construções, cujos contratos abocanhados para obras durante seu governo valem em torno de R$ 1 bilhão. Somente no ano passado, a Delta ganhou 18 contratos — 13 deles sem licitação. Em momento algum o senhor imaginou que não pegaria bem comparecer a um evento promovido por quem tanto lhe deve? Um homem público não deveria saber distinguir entre prestadores de serviços ao Estado e amigos pessoais? A mistura do público com o privado não acabaria por causar sérios danos à sua imagem?

Quem acreditará que Cabral, amigo de Cavendish, nada tem a ver com Cabral, governador do Rio e cliente de Cavendish? E onde mesmo seria a festa de aniversário do empresário? No Jacumã Ocean Resort, de propriedade do piloto Marcelo Mattoso de Almeida — um ex-doleiro acusado de fraude cambial há 15 anos.

Marcelo foi 
dono da empresa First Class, acusada de ter cometido crime ambiental na Praia do Iguaçu, na Ilha Grande, em Angra dos Reis. Sinto muito, governador, mas é com esse tipo de gente que o senhor anda? É a esse tipo de gente que o senhor não se constrange de ficar devendo favores?

Eike Batista disse que cedeu seu jatinho ao senhor com “satisfação” e “orgulho”. E que é livre para selecionar suas amizades. Se quiser ser levado a sério, o homem público que deve seu mandato ao povo está proibido de desfrutar do mesmo grau de liberdade. Reflita com calma a respeito, Cabral. E não deixe uma só pergunta sem resposta.

MELCHIADES FILHO - Segredos de liquidificador

Segredos de liquidificador

MELCHIADES FILHO
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/06/11
BRASÍLIA - No afã de aprovar a medida provisória que torna sigilosos os orçamentos da Copa e da Olimpíada, o governo Dilma acaba por fazer a defesa de uma brecha para a corrupção existente no texto.
O Planalto quer flexibilizar as licitações. Diz que, além de sanar o atraso da infraestrutura dos eventos, é preciso corrigir uma falha no modelo atual, que anuncia previamente o custo máximo das obras.
A alegação é que as empresas, cientes do montante que o governo está disposto a desembolsar, podem combinar os lances entre si e determinar descontos pequenos.
De fato há esse risco. Vários projetos do PAC foram assim lesados por cartéis de construtoras.
Só que o regime proposto, que oculta o orçamento prévio das obras, tampouco é imune à fraude. Nada impede as empreiteiras de continuar se acertando e, perigo maior, elevar o preço acima do patamar justo (graças a sorte, cálculo ou informação privilegiada).
Diante dessas situações, nas quais os lances extrapolem o teto projetado, o governo terá de escolher entre reiniciar a concorrência do zero ou aceitar o valor exorbitante -bastará prorrogar o sigilo do orçamento prévio ou "ajustá-lo".
Empresas poderão tentar tirar proveito da pressão do calendário para conseguir a segunda opção. Mas haveria meio de inibir a manobra: manter informada uma terceira parte, não envolvida na licitação.
Foi justamente essa salvaguarda, porém, que, na última hora, sumiu da medida provisória -estranhamente, a única mexida de conteúdo no catatau. A nova redação do artigo 6º suprimiu a garantia de acesso "permanente" dos órgãos de fiscalização aos orçamentos.
Dilma até agora não justificou a alteração. Pede que confiem em sua palavra de que nada será sonegado aos tribunais de contas.
Mas, até porque as obras da Copa e da Olimpíada serão licitadas também por municípios e Estados, é caso de deixar tudo explícito na lei.

CLAUDIO HUMBERTO


Ex-senador faz lobby por ficha-suja no TSE
 
O ex-senador Efraim Morais (DEM) atua contra o próprio partido. Visitou a ministra do TSE Nancy Andrighi dia 21 de junho e fez lobby para acelerar o julgamento do processo que impugnou a candidatura do amigo Dinaldo Wanderly à Assembleia da Paraíba. Dinaldo foi condenado pelo TCU por suspeita de superfaturamento em licitações. Ele quer ocupar o lugar do eleito José Domiciano Cabral (DEM).


Silêncio

Até o fechamento da coluna, Efraim não deu notícias. Está no interior paraibano participando de festas juninas com quadrilhas.


Operação PEC 300

Ex-sargento, o deputado Otoniel Lima (PRB-SP) apadrinha a operação tartaruga das PMs para dia 5 de julho, pela votação da PEC 300.


Pacato Cidadão

Otoniel não parece preocupado com quem paga a conta. Ironiza: "O cidadão vai passar o dia inteiro na DP para fazer um BO..."


Restaurante do dragão

Inflação na cozinha do restaurante da Câmara dos Deputados: da noite para o dia, o quilo passou de R$ 20 para R$ 30, aumento de 50%.


Embaixada em Washington

Em vez de cuidar de grandes temas, nossa embaixada em Washington ajuda a convocar, por carta, as empresas americanas que investem no Brasil a participarem de um incompreensível projeto para "aumentar as relações empresariais e governamentais" entre os países, em nebuloso "diário" da embaixada. A carta é assinada pelo chefe do setor comercial da embaixada, o brasileiríssimo Mr. Philip Fox-Drummond Gough.


That's ok!

Segundo o Itamaraty, trata-se de empresa que fornece agendas com temas do Brasil. A Embaixada não tem custo, mas apoia o projeto.


Chances menores

A atuação contra o governo da líder do PSB, Ana Arraes (PE), na votação do Código Florestal, pode tirá-la da disputa por vaga no TCU.



Listão nacional
O deputado Roberto Santiago (PV-SP), da Comissão de Defesa do Consumidor, divulgará ranking das empresas top de reclamações.


Fã especial

Feliz com a revelação de Luiz Fux, que na juventude tocava guitarra com suas músicas na banda Five Thunders, Lulu Santos fez uma surpresa: mandou um CD autografado para o ministro, com os cumprimentos por sua posse no Supremo Tribunal Federal.

No brejo

O jornal venezuelano El Universal mostrou o mato crescendo nas obras do metrô de Caracas, atrasadas desde 2007 por falta de pagamento à Odebrecht, que ainda perdoou outras e emprestou mais US$ 4 bilhões.


FRASE DO DIA


"A gente se reúne, tranca a porta e se atraca lá dentro"
Ex-presidente Lula, sobre como trata desavenças no PT

PODER SEM PUDOR

Bancada do holofote
Mal terminou uma reunião de líderes partidários, no gabinete do então presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, alguns deputados saíram em disparada.
- O que é isso? - indagou Severino, com espanto.
- São os holofotes, presidente - explicou um experiente líder.
Lá fora, diante dos holofotes, três esbaforidos outros líderes contavam a repórteres de tevê tudo o que acontecera na reunião.

SEGUNDA NOS JORNAIS


Globo: PT e PSDB se unem na defesa de avaliações na educação

Folha: Sob pressão, seguradoras reembolsam mais o SUS

Estadão: PSD busca se viabilizar com caciques de outros partidos

Correio: O alto escalão das mordomias

Valor: Vale dará impulso à siderurgia para defender mercado

Estado de Minas: Brasileiros esnobam férias no país

Jornal do Commercio: Pernambuco lidera entrega de armas

Zero Hora: Especialistas apontam brechas na legislação para obras da Copa