terça-feira, janeiro 10, 2012

Carro olímpico - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 10/01/12


A Rio 2016 fechou contrato com a japonesa Nissan.
Será o carro oficial dos Jogos Olímpicos do Rio. Negócio acima de R$ 320 milhões.

Futebol S.A.
Sob a coordenação do professor Pedro Trengrouse, a FGV acaba de concluir um novo estudo sobre o futebol.
Diz que o esporte movimenta hoje R$ 11 bilhões por ano e gera 371.354 mil empregos. Mas conclui que estes números poderiam subir para R$ 62 bi e 2.143.932, respectivamente.

O que falta...
O estudo aponta problemas no comando nos clubes e no calendário do nosso futebol, que só oferece atividade o ano todo a 13% dos clubes pesquisados.
A maioria, 87%, só joga, em média, quatro meses do ano.

Calma, gente
O juiz Carlos Alfredo Flores, da 4ª Vara Cível da Barra, no Rio, marcou para 3 de abril a audiência para ouvir Nívea Stelmann e Elano no processo que o jogador do Santos move contra a atriz.
O atleta foi à Justiça pedir que fotos íntimas dele não fossem publicadas e acusou Nívea de ter enviado as imagens para sua mulher, Alexandra, de quem estava separado na época.

Pitu Futebol Clube
Enquanto se discute a venda de bebidas nos estádios, participa dessa Copa São Paulo de Futebol Júnior o Vitória, da cidade pernambucana de Santo Antão, patrocinado pelo Haras Pitu.
Na camisa do time, as letras e as cores lembram a famosa cachaça fabricada no município.

Alceu e Gonzagão
Alceu Valença, 65 anos, o querido cantor pernambucano, vai gravar em março um DVD em homenagem a seu conterrâneo Luiz Gonzaga, pelo centenário do Rei do Baião.
Será no palco do Marco Zero, em Recife.

Amor gay de Clarice
Outro brasileiro ilustre completaria 100 anos em 2012: o escritor Lúcio Cardoso (1912- 1968), autor de “Crônica da casa assassinada” e criador do Teatro Experimental do Negro.
O livro “Clarice”, do americano Benjamin Moser, conta que Cardoso era gay e foi uma grande paixão de Clarice Lispector.

Segue...
O centenário de Lúcio Cardoso será lembrado com uma série de livros do escritor mineiro, dois deles inéditos, organizados por Valéria Lamego, grande estudiosa de sua obra.

Aliás...
Mais centenários ilustres em 2012 ficaram fora da lista publicada aqui no domingo.
Entre eles, o comunista Apolônio de Carvalho (1912-2005), o ator Oswaldo Louzada (1912- 2008) e o advogado João Pedro Gouvêa Vieira (1912-2003).
Alô, Eduardo Paes
Caso não seja pago até hoje o IPTU de R$ 240 mil da casa da Rua Cosme Velho 353, no Rio, onde Candido Portinari viveu de 1943 a 1950 e pintou, por exemplo, toda a série “Retirantes”, a prefeitura ameaça com “penhora ou arresto do imóvel”.
Em 2002, a casa foi doada ao Projeto Portinari, que enfrenta dificuldades.

‘Down no soçaite’
O que se diz na alta roda é que um casal do soçaite carioca foi furtado, em Punta del Este, paraíso dos cassinos no Uruguai, em US$ 150 mil vivos que guardava no quarto do hotel.

Combate ao crack
O Rio será o primeiro estado do país a implementar o plano federal de combate ao crack.
Quem ficará à frente das ações é a delegada Valéria Sádio, que está trocando a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente pela de Combate às Drogas.

Por falar...
A Secretaria municipal de Assistência Social do Rio registrou, em 2011, aumento de 63% nas ações de atendimento à população de rua em relação a 2010. Ano passado, foram feitas 21.402 abordagens, contra 13.190 em 2010 e 12.650 em 2009.
O secretário Rodrigo Bethlem atribui o aumento às operações de combate ao crack.

Profecias para 2012 - ANTONIO DELFIM NETTO


Valor Econômico - 10/01/12


As "profecias" para 2012 estão dadas. As medianas das informações do Boletim Focus do Banco Central de 30 de dezembro de 2011, produzidas pelas opiniões de profissionais altamente qualificados, estão na tabela abaixo.

Duas circunstâncias são importantes: 1) há um viés informacional a favor dos "consultores financeiros", que pode ter alguma influência. O "valor" de mercado do consultor depende da qualidade da sua "consulta". Ele tem de se esforçar para ser o mais preciso possível, mas não pode se afastar muito da opinião dos outros. Se todos errarem juntos ninguém de fato errou. Apenas ignoraram alguma condicionalidade; 2) o número de condicionalidades não explicitadas que as previsões do Focus implicam não é enumerável.

Depois de terminar o ano, se as "profecias" diferirem da realidade, os "desvios" serão facilmente explicáveis, porque tudo o que poderia ter acontecido já aconteceu, não restará nenhuma condicionalidade. Como disse J. M. Keynes, em carta ao grande economista e historiador Jacob Viner, "a experiência mostra que o que acontece é sempre algo contra o qual nunca nos prevenimos".

Profecias feitas com modelos aparentemente simples, como é o caso, por exemplo, da "contabilidade do crescimento" (com a qual se calcula o "produto potencial") envolvem ligações internas que as tornam muito vulneráveis e têm consequências sobre toda a economia (por exemplo, a divertida teoria dos ciclos reais) e sobre a política econômica (por exemplo, a teoria das metas inflacionárias).

A "contabilidade do crescimento" é um exercício de cálculo diferencial, onde se supõe que as variáveis "trabalho" e "capital" são bem definidas e independentes, condicionadas por uma função de produção que revela o limite superior do PIB. Com a função de produção, bem educada, podemos calcular a contribuição, na margem, de um aumento do fator "trabalho" e de um aumento do fator "capital". Somados, eles informam o aumento do PIB que deveria resultar desses dois aumentos.

Acontece que esses incrementos, quando calculados empiricamente, são sempre muito menores do que o aumento empírico do PIB. A "solução" foi atribuir a essa diferença o pomposo nome de produtividade total dos fatores (o que falta para completar o aumento não "explicado" do PIB).

Há dois fatos notáveis sobre essa operação. Já nos anos 50 do século passado: 1) Herbert Simon mostrou que o sucesso empírico da função de produção usada (Cobb-Douglas) é o resultado de uma simples manipulação algébrica da identidade renda global = renda do trabalho + renda do capital; e 2) Moses Abramovitz, mostrou que as variáveis "trabalho" e "capital" estão longe de ser independentes e que o "resíduo" (a produtividade total dos fatores, PTF) era um "saco de caranguejos". Ele a chamou, com muita propriedade, de "medida da nossa ignorância", pois "explicava" 80% de variação do PIB, enquanto a soma dos "fatores" chegava a 20%.

Pois bem, nos últimos 60 anos fizemos muito progresso no refinamento das definições do "trabalho", a ponto de chamá-lo de "capital humano", e do "capital", mas avançamos pouco na compreensão da PTF. O recente "survey" sobre o assunto (Hsieh,C.T; Klenow,P.J. "Development Accounting", AEJ Macroeconomics, 2, 2010), que analisa as "causas" das diferenças de crescimento entre as nações, termina melancolicamente: "Aprendemos muita coisa nas últimas décadas sobre os determinantes dessas diferenças. Ainda que importantes questões não estejam resolvidas, particularmente o papel das diferenças do capital humano, existe um grande consenso que estas dão conta entre 10 a 30% delas; o capital físico talvez explique qualquer coisa como 10%. As diferenças entre a produtividade total dos fatores contam a maior parte da história: talvez entre 50 e 70%", praticamente o mesmo de 1950!

A verdade - continuam os autores - é "que entendemos muito mal, porque as PTFs diferem. Sugerimos que um aumento da PTF não tem um efeito apenas no crescimento do PIB, mas pode ter um importante aumento indireto (previsto por Abramovitz em 1955) no capital físico e humano pela redução do preço do capital e da educação com relação ao preço do PIB... Finalmente, sugerimos que a má alocação de fatores entre firmas e setores industriais pode ser um determinante importante das diferenças da PTF, mas resta saber quais as forças que levam a essa má alocação".

Como é possível, no início de 2012, que alguém ainda leve a sério a "previsão científica" apoiada numa função Cobb-Douglas e numa PTF "inventada", que o produto potencial do Brasil em 2012 é de 3,5%? E que qualquer "ameaça" da economia de superá-la deve exigir o aumento da taxa de juros real?

Voltamos a insistir: 2012 não está escrito nas estrelas! Ele será o que nós, governo e a sociedade, soubermos fazer dele, se tivermos a coragem e a inteligência necessárias para enfrentar a "má alocação" de nossos fatores (públicos e privados) e promover políticas que aumentem, simultaneamente, a oferta e a demanda globais, como é o caso, por exemplo, dos investimentos em infraestrutura que eliminem rapidamente gargalos produtivos.

A grande traição - FRANCISCO DAUDT


FOLHA DE SP - 10/01/12
Imagine um homem dedicado a criar um filho que não é seu -é a maior traição que ele pode sofrer
Quatro amigos se encontram num restaurante quieto: eu, um anestesista cristão, adorador da lógica (donde, em perene e lindo conflito), um advogado e economista, e um analista de sistemas que calha de ser meu cunhado (ó sorte, um cunhado de quem se gosta).

Não quero saber de psicanalistas, quero diversidade de conhecimento científico. Somos neoiluministas, apreciadores da razão. Hamilton, nosso advogado, desta vez estranhou a valorização da virgindade, como as sacerdotisas vestais em Roma, e a associação da virgindade com a pureza, até nossos dias.

Quando o assunto é teologia, ética, filosofia ou epistemologia, o advogado e o anestesista produzem dados que nós, psicanalista e analista de sistemas (eu digo que ele é muito mais generalista do que eu, já que eu analiso apenas um sistema, o psi, e ele analisa múltiplos) questionaremos, abriremos debate.

É muito divertido e enriquecedor. É como uma namorada minha reparou quando fomos de carro para Búzios (à paulista, dois homens na frente, duas mulheres atrás, nem sei se é a praxe paulistana, mas é assim que chamamos no Rio). Minha irmã dormia, minha namorada estava ouvindo minha conversa com o cunhado.

Comentou: "Vocês só falaram assuntos! Não falaram nada sobre os comportamentos das pessoas, discutiram sobre as vantagens do ciclo Otto sobre o ciclo Wenkel nos motores à explosão. Nós nunca falaríamos sobre isto!"

É coisa de homem, querida, assim são nossas conversas no restaurante quieto. É da natureza humana.
Pois então, colocado o assunto da virgindade, a bola estava comigo, aquele que, dentre outras, gosta da psicologia evolucionista.

A pior traição que um homem pode sofrer é criar o filho do cuco. O cuco é uma ave que põe seus ovos em ninhos de outros. O filhote do cuco costuma ser muito mais forte que seus "irmãos", e a primeira providência que toma é empurrá-los para a morte, comendo todo alimento que seus "pais" trazem.

Imagine agora um homem dedicado a criar um filho que não é seu, o bastardo. Anos de trabalho e de cuidados para alimentá-lo e educá-lo sem saber que é filho de outro homem. É completamente diferente da adoção, quando este cuidado é por escolha, amor e com plena consciência.

É a maior traição que um homem pode sofrer. A mãe tem certeza que o filho é seu, mas, e o pai? Não por acaso um judeu só o é se for filho de judia.

Eis porque a virgindade foi eleita como virtude: ela era o oposto da traição e da promiscuidade. O desvirginador era o pai, por certo. Isto antes dos exames de DNA. Mas essas modernidades levam tempo para entrar em nossa compreensão emocional.

A espécie tem que lidar com o cio oculto: a mulher pode ser fértil 30 dias por mês, com maiores probabilidades em torno do 14º dia do ciclo. Não há controle possível. Estupros, violências contra a mulher e adultério aceleram a ovulação. O homem que cuida de sua mulher e de sua cria tem a vantagem de fazê-los se dar bem. Pela fertilidade, o cafajeste sempre levará vantagem. Mas a cria bem cuidada estará sempre em vantagem.

Saúde e protecionismo - EDMAR BACHA


Valor Econômico - 10/01/12


Em entrevista ao Valor em 30 de dezembro, o ministro da Saúde anunciou que, em breve, o governo pretende instituir uma margem de proteção de 25% para os produtores nacionais de bens e serviços adquiridos pelo Ministério da Saúde. Ou seja, o governo se dispõe a pagar 25% a mais por esses bens, desde que sejam produzidos em território nacional e não importados. O argumento que o ministro apresenta é que o déficit comercial do setor de saúde é grande e está crescendo, ou seja, importamos mais do que exportamos equipamentos hospitalares, medicamentos e outros itens relacionados.

A matéria no Valor também revela que quem articula o lobby da indústria da saúde é o ministro da Saúde do governo anterior. Teria sido ele quem concebeu a política de proteção aos produtores locais, mas não a teria conseguido implantar devido ao pouco entusiasmo do presidente Lula. Pelo que se depreende da notícia, essa falta de entusiasmo não contagia a atual presidente da República.

A confirmar essa notícia, ficaria caracterizada uma situação extraordinária na área da saúde pública. O governo reclama que não tem recursos para melhorar o atendimento da população, apesar de o orçamento do Ministério da Saúde ser, em 2012, 16,2% superior ao de 2011 - o maior salto entre os principais ministérios. Infelizmente, entretanto, o governo parece estar disposto a gastar mais desse dinheiro para a "criação de musculatura na indústria brasileira", segundo os técnicos do governo ouvidos pelo Valor. Ou seja, vai gastar dinheiro para obter a mesma coisa, ou coisa pior ainda, pois nada garante que os similares nacionais terão a mesma qualidade dos produtos importados.

O argumento do déficit setorial entre importações e exportações não é cabível. Não estamos mais na década de 1950, quando a escassez de dólares tornou imperativa a substituição de importações. Nem na década de 1970, quando os choques do petróleo ameaçaram inviabilizar a economia brasileira.

Hoje em dia, não há falta de dólares. Ao contrário de tempos passados, o governo hoje é um credor internacional, tem mais reservas que dívida externa. Além disso, em 2011, produzimos um superávit comercial expressivo e o Banco Central intervém regularmente no mercado cambial, para impedir que a avalanche de dólares produza uma valorização excessiva do real. Por que, nessas condições, o item "medicamentos", ou o item "equipamento hospitalar", teria que ter superávit comercial?

O apoio governamental à indústria tem, pois, que se basear em outros critérios que não os de economia de divisas. Dentre esses critérios, a modicidade de preços e a qualidade dos produtos precisam ser priorizados, especialmente no setor saúde, tão crítico para a população.

Os instrumentos para desenvolver uma indústria competitiva de saúde no país estão à disposição de quem a eles quiser se candidatar: isenções tributárias para a importação de bens de capital e a instalação de novas unidades em diversos estados da federação; financiamentos generosos do BNDES; mercado local amplo e em crescimento. Se o governo quiser dar mais incentivos, basta garantir que, em igualdade de condições de preços e qualidade, dará preferência à indústria nacional. Mas não é aceitável que o país gaste recursos da arrecadação de impostos para pagar mais caro pela saúde que já tem, quando há tantas deficiências na área.

Diz a matéria do Valor que o déficit comercial do complexo da saúde alcançou US$ 11 bilhões em 2011. Digamos que o governo queira eliminar esse déficit, estando para isso disposto a pagar 25% a mais para substituir as importações. Trata-se de um gasto de US$ 2,75 bilhões, os quais, ao câmbio atual, somam R$ 5 bilhões. Em lugar de gastar esse dinheiro com substituição de importações, o Ministério da Saúde poderia usá-lo mais produtivamente para expandir o programa da saúde da família, cuja cobertura está estagnada em torno de 60%, deixando ao desabrigo uma parcela importante da população que não tem planos de saúde. Alternativamente, poderia dedicar-se a reduzir a mortalidade infantil no país, que ainda se situa num patamar excessivamente alto, de 15 por mil nascidos vivos, enquanto que no Chile, por exemplo, essa taxa é de 8 por mil nascidos vivos. Ou então, dedicar-se a reduzir a taxa de mortalidade materna que, de acordo com os próprios dados do Ministério, estão estacionados em níveis elevados desde 2002. Ou seja, prioridades relevantes não faltam. O que parece faltar é vontade política de enfrentar os problemas.

Recentemente, o lobby da saúde montou uma ampla campanha para tentar ressuscitar a CPMF na regulamentação da Emenda 29, que destina recursos à saúde. O argumento era que, com os recursos atuais, o SUS não consegue cumprir seu mandato constitucional, de prover saúde de qualidade para toda a população brasileira. Isso é verdade. Na letra da Lei, o Brasil tem o sistema de saúde mais estatizado do mundo. Na prática, entretanto, nosso sistema de saúde é ainda mais privatizado do que os EUA. E, como fica claro nas pesquisas de opinião pública sobre o assunto, o que a população mais anseia é ter um bom plano de saúde, para se livrar das filas do SUS.

Não há dúvida, pois, que o país precisa melhorar muito a saúde pública. Felizmente, entretanto, o Congresso resistiu às pressões para ressuscitar a CPMF. Pois é melhor manter a rédea curta do que ampliar os recursos, quando o que aparenta querer o ministro da Saúde é aumentar os custos e não melhorar a saúde pública no país.

GOSTOSA


Cerco à blogueira cubana testa presidente - EDITORIAL O GLOBO


O Globo - 10/01/12


Circula na internet um vídeo com um apelo dramático à presidente Dilma Rousseff: "Por favor, interceda por mim. Já fiz tudo o que está a meu alcance. (Mas) o muro do controle, o muro da censura, o muro que me impede de viajar livremente e retornar à minha ilha parece não se mover. Ajude-me, por favor." A jornalista e ativista Yoani Sánchez, uma das vozes mais críticas à ditadura cubana, pede ajuda para viajar ao Brasil. Ela foi convidada pelo ativista baiano Dado Galvão para o lançamento, dia 10 de fevereiro, de seu documentário Conexão Cuba Honduras, do qual é uma das personagens principais.

A lei cubana obriga o cidadão que pretenda ir ao exterior a pedir permissão. Desde 2008, Yoani entrou com 18 pedidos para visitar diversos países, todos negados. Do total, quatro eram para o Brasil, o último em 2010, quando escreveu carta ao presidente Lula, também pedindo ajuda para vir ao Brasil.

O novo pleito de Yoani é um teste importante para o governo na área dos direitos humanos, que Dilma definiu como prioritária. Mas a coisa não caminha bem. A assessoria de imprensa do Palácio do Planalto informou ao GLOBO, na sexta, que não haveria comentário sobre o pedido porque ele não foi feito de maneira formal. Isso pode ter duas leituras. O Planalto pode estar dizendo que a Embaixada de Cuba em Brasília ainda não enviou às autoridades cubanas a carta-convite de Dado Galvão a Yoani, sem o que ela não pode pôr em marcha a parte formal de seu pedido para viajar ao Brasil. Quando essa exigência for cumprida, teoricamente a Embaixada do Brasil em Havana poderá ajudar a jornalista a formalizar seu pedido ao governo brasileiro.

Mas a resposta do Planalto pode também significar a disposição de usar o infinito arsenal de recursos diplomáticos para, mais uma vez, não tomar conhecimento do apelo de alguém incômodo. Pois, a despeito de todas as dificuldades impostas pelo governo cubano ao uso da internet e das mídias sociais, Yoani Sánchez se tornou conhecida em todo o mundo através de seu blog Generacion Y, no qual denuncia as agruras da vida cotidiana de seus concidadãos sob uma das últimas ditaduras comunistas do mundo, um decadente parque temático stalinista nos trópicos.

O regime castrista tem muitos aliados em Brasília. Em fevereiro de 2010, o presidente Lula chegou a Havana no dia em que o dissidente Orlando Zapata morreu após longa greve de fome. Lula criticou a forma de protesto. Os dissidentes cubanos não conseguiram entregar-lhe uma carta em que pediam sua intervenção junto ao presidente Raúl Castro pela libertação dos presos políticos.

O governo Dilma se distancia de alguns rumos da política externa lulopetista. O presidente do Irã, Ahmadinejad, não incluiu o Brasil entre os destinos de seu atual giro pela América Latina, reflexo do esfriamento das relações bilaterais. Dilma, que já disse preferir "o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras", poderia endossar o convite a Yoani, uma batalhadora da causa da liberdade em Cuba. Quanto mais não seja, para reafirmar a posição declarada de defensora dos direitos humanos, de cujo desrespeito ela já foi vítima, como Yoani é hoje em Cuba.

Casca de banana - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 10/01/12


O prefeito Gilberto Kassab não desistiu de fazer seu sucessor nem de uma aliança com o ex-governador José Serra. Seus aliados dizem que o aceno em direção ao PT teve duplo objetivo: pressionar o PSDB a escolher um candidato competitivo e amansar os petistas, críticos de sua gestão. Os tucanos não se mexeram. Mas os petistas se dividem. Uma ala quer a aliança com Kassab.

Tem jogo
A ala do PT ligada ao ex-ministro José Dirceu é entusiasta da aliança com o PSD. Esses petistas dizem que é preciso formar uma grande frente de apoio à candidatura de Fernando Haddad. E, de quebra, tirariam força do PSDB.

No foco
Ao se deparar com um fotógrafo, ontem, quando saía do prédio do ministério para uma reunião com a presidente Dilma, o ministro Fernando Haddad (Educação) se surpreendeu. “O que eu fiz dessa vez?”, brincou Haddad.

Prefeitos x Piso do magistério
A Marcha dos Prefeitos a Brasília está marcada para maio. Um dos temas será o piso nacional do magistério. Presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski afirma que, com o piso do magistério, mais o aumento do salário mínimo, pelo menos mil cidades vão ultrapassar o limite de gastos com pessoal estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. “Os estados colocam R$59 bi no Fundeb (Fundo de Manutenção da Educação Básica); os municípios, R$29 bi; e a União, R$8 bi. Ou seja, quem fica com 60% da arrecadação coloca só R$8 bi no Fundeb. Será que a educação é prioridade?”, questiona Ziulkoski.

"Há fortes indícios de que haja uma quadrilha internacional fazendo tráfico de pessoas entre o Haiti até a fronteira do Peru com o Brasil” — Jorge Viana, senador (PT-AC), criticando falta de ação do governo Dilma

A REBOQUE. A oposição criticou a criação de uma força nacional para prevenção de desastres naturais. Diz que a medida veio com atraso, a reboque de mortes causadas pelas chuvas. “Não temos política alguma de prevenção. É o governo dos puxadinhos e do improviso”, disse o deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP). A presidente Dilma também autorizou a liberação do FGTS para reconstrução de casas atingidas por enchente.

Neto e a fusão do DEM com o PMDB
O líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), diz que “não existe” uma fusão em curso com o PMDB. Ele afirma que seu partido está se aproximando dos peemedebistas nos estados onde estes têm contradições com os petistas. Acrescenta que seria muito difícil operar a unificação das cúpulas partidárias nos estados. “Quem ia ter o comando do partido na Bahia?”, pergunta. E acrescenta: “Desde que criamos o DEM, que falam em fusão. Esse não é o nosso projeto.”

Preparativos
O maestro João Carlos Martins está compondo a música tema de abertura da Rio+20. Ela será apresentada pela Orquestra Bachiana Filarmônica, acompanhada por um coral de crianças carentes das escolas municipais do Rio.

Teste
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) pediu, à Embaixada de Cuba, que a blogueira oposicionista Yoani Sánchez venha ao Brasil para o lançamento de um documentário. É o terceiro pedido, sem sucesso, desde 2009.

A CÚPULA do PSD jogou a toalha. O TSE não vai decidir sobre o fundo partidário antes da segunda quinzena de março.

PENSÃO. Há um movimento na Câmara, que tem o apoio do presidente do STF, Cezar Peluso, para acabar com a pena de prisão para quem não pagar pensão alimentícia.

O DEPUTADO Miro Teixeira (PDT-RJ) diz: “Prisão não resolve. É um regime de barbárie”. Ele propõe que a prisão ocorra só depois de três notificações, e mediante comprovação de que o réu tem dinheiro para pagar a pensão.

Descuidos bilionários - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S. Paulo - 10/01/12


O Brasil tem bilhões de reais investidos em obras sem possibilidade de uso por falta de um complemento. Outros bilhões serão desperdiçados neste e nos próximos anos, se o planejamento e a execução dos projetos continuarem tão ruins quanto têm sido há muitos anos. Um porto sem via de acesso é tão inútil quanto uma hidrelétrica sem linha de transmissão, uma termoelétrica sem combustível, uma eclusa sem rio navegável ou uma reserva de petróleo sem equipamento de perfuração. Exemplos como esses poderiam parecer casos de ficção em outros países, mas não no Brasil, onde o governo federal se mostra incapaz, há muito tempo, de entregar obras em condições de funcionamento. Em alguns Estados e municípios ainda resta competência administrativa, mas a maior parte do setor público vai muito mal nesse quesito. Isso foi comprovado, mais uma vez, em reportagem publicada no Estado desta segunda-feira.

As eclusas de Tucuruí, segundo a reportagem, custaram R$ 1,6 bilhão e foram inauguradas em 2010, mas só funcionam plenamente em épocas de cheias, porque faltam as obras complementares para tornar o rio navegável. A primeira turbina da Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, deverá estar em condições de gerar energia cerca de um ano antes da linha de transmissão estar pronta. O Porto de Itapoá, em Santa Catarina, é um dos mais modernos da América Latina, mas seu uso é limitado porque o governo estadual foi incapaz de concluir 23 quilômetros da Rodovia SC-415.

Todos esses casos - e muitos outros - indicam uma falha fundamental no planejamento e na execução de projetos. Os administradores descuidaram de condições críticas para a conclusão dos trabalhos e para o pleno aproveitamento das obras. Por despreparo, desleixo ou mera incompetência na execução das tarefas de supervisão e de coordenação, deixaram de respeitar a sequência das operações e perderam de vista o objetivo global do investimento.

O descuido ocorreu, em alguns casos, em relação a uma obra complementar - como a via de acesso a um porto ou a linha de transmissão entre a usina geradora e os consumidores da energia. Em outros, em relação ao fornecimento de um insumo, como o combustível necessário a uma termoelétrica. Mas o cardápio de falhas é mais amplo.

O governo federal poderia ter financiado um número muito maior de obras de saneamento básico, nos últimos anos, se mais municípios tivessem capacidade para elaborar projetos. Muito dinheiro ficou parado, por falta de uso, antes de se perceber a importância daquele detalhe: a maior parte das prefeituras simplesmente carece de condições para planejar o investimento. Esse item é um impedimento tão sério quanto o atraso na construção de uma rodovia de acesso ou de uma linha de transmissão.

No caso da exploração do pré-sal, um dos grandes problemas tem sido a incapacidade do governo de fixar prioridades. A Petrobrás tem sido forçada a combinar dois objetivos - a dificílima e custosa exploração do petróleo e do gás localizados em grandes profundidades e a compra de equipamentos com elevado grau de nacionalização. A exigência de 70% de conteúdo nacional tem criado problemas técnicos e de custos e isso tem prejudicado a licitação para compra de sondas de perfuração.

A exploração do pré-sal pode gerar recursos muito importantes para o desenvolvimento do País, mas esse é um empreendimento muito caro e tecnicamente complicado. O governo comete um erro gravíssimo de estratégia, ao torná-lo mais caro e mais complicado para atender a objetivos de política industrial. O correto seria realizar essa política por outros meios, desonerando a produção e procurando tornar as indústrias mais eficientes e mais competitivas. A mistura de objetivos, especialmente quando envolve um empreendimento do porte do pré-sal, é uma inequívoca demonstração de incompetência na fixação de prioridades e na gestão de programas públicos. Essa mesma incompetência se revela também nos investimentos custeados pelo Tesouro, com realização sempre muito inferior à programada e sempre com a transferência de grande volume de restos a pagar de um ano para outro.

AL sem Brasil - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 10/01/12

Apesar de ter uma viagem marcada para o Brasil durante a campanha presidencial, quem tiver curiosidade de saber a opinião de Mitt Romney sobre o país não terá nenhuma pista no principal documento divulgado até agora sobre a estratégia de política externa do mais provável candidato republicano à presidência dos Estados Unidos.

Intitulado "Um Século americano - Uma estratégia para garantir os interesses e ideais permanentes americanos", quando aborda a América Latina, não tem uma referência sequer ao Brasil. Mas tem muitos pontos que certamente entrarão em choque com a posição do governo brasileiro.

O documento anuncia que o governo de Mitt Romney terá "um papel ativo na América Latina, apoiando aliados democráticos e relacionamentos baseados em economia de mercado, contendo forças internas desestabilizadoras como gangues criminais e terroristas, e se opondo a influências externas desestabilizadoras como o Irã".

O ponto mais importante do documento é o anúncio de que nos primeiros cem dias o novo governo republicano lançará "uma vigorosa promoção pública de diplomacia e comércio", denominada Campanha para Oportunidade Econômica na América Latina, Ceola em inglês, sigla que aparentemente pretende substituir a Alca.

O propósito seria ressaltar "as virtudes da democracia e do livre comércio", seguindo a linha dos acordos em vigor ou prestes a serem aprovados pelo Congresso com países da região como Panamá, Colômbia, Chile, México, Peru, e os membros do acordo de livre comércio da América Central.

O eventual governo Romney tentará usar o programa para contrastar os benefícios da livre iniciativa e o modelo de autoritarismo socialista oferecido por Cuba e Venezuela, que são, na verdade, as grandes preocupações na região.

Na visão de Romney, "décadas de notável progresso na América Latina baseado na segurança, democracia e crescente laços econômicos com a América estão atualmente sob ameaça".

Venezuela e Cuba estariam liderando "uma virulenta campanha antiamericana" num movimento "bolivariano" por meio da América Latina com a intenção de sabotar instituições de governança democrática e oportunidades econômicas.

Esse "movimento bolivariano", segundo o documento, ameaça aliados dos Estados Unidos como a Colômbia, interfere na cooperação regional para o combate às drogas e em ações de contraterrorismo, tem fornecido proteção para traficantes de drogas e encorajado organizações terroristas regionais, além de ter convidado o Irã e organizações terroristas estrangeiras como o Hezbollah.

O documento destaca também o que chama de "epidemia de violência de gangues criminais e cartéis da droga" que leva a morte ao México e diversos países da América Central e Caribe.

A proposta de Mitt Romney é juntar as iniciativas de combate às drogas e ao terrorismo para criar a Força Tarefa Hemisférica para Crime e Terrorismo, com o objetivo de coordenar as ações de inteligência e repressão entre os aliados regionais.

No plano mais geral, o documento adverte que quem assumir a presidência em 2013 terá pela frente uma série de "ameaças e oportunidades".

O papel de "países poderosos" como China e Rússia pode levar à valorização do sucesso econômico, reforçando a importância de um sistema construído à base da liberdade econômica e política.

Mas pode também, adverte o documento de Romney, ameaçar tal sistema pelo autoritarismo característico desses países, que já estaria colocando em perigo a segurança internacional.

O documento chama a atenção para o surgimento de atores relativamente novos na cena global, como os grupos terroristas transnacionais.

Os grupos islâmicos radicais são apontados pelo documento como "um perigo onipresente" para os Estados Unidos, apesar das vitórias obtidas nos últimos anos no combate ao terrorismo.

Mitt Romney utiliza-se do documento das "armas de destruição em massa" para chamar a atenção para os perigos de elas caírem "em mãos erradas".

A região que vai do Paquistão à Líbia, envolta em "profunda turbulência", tem uma importância geoestratégica que não pode ser menosprezada: "É o primeiro ponto para a proliferação nuclear", ressalta o documento, um constante risco de uma "guerra catastrófica" que poderia colocar a economia mundial no caos.

A política externa de Mitt Romney se preocupa com "países fracos demais para se defender sozinhos" e também com "países falidos ou em falência", como Somália, Yemen, Afeganistão e Paquistão, "e num grau alarmante, nosso vizinho México".

Esses são países com "governança fraca, tomados pela pobreza, doenças, refugiados, drogas e crime organizado", que são ou podem vir a ser lugares seguros para terroristas, piratas e outros tipos de redes criminosas.

Romney retoma também a expressão "Estados bandidos" muito utilizada no governo de George W. Bush, para definir Irã, Coreia do Norte, Venezuela e Cuba, que têm "interesses e valores diametralmente opostos aos nossos" e colocam a segurança internacional em perigo, especialmente nos casos da Coreia do Norte e do Irã, que buscam obter armas nucleares.

O professor de estudos estratégicos da Universidade Johns Hopkins Eliot Cohen, conselheiro especial do governador Romney, descreve no prefácio do livro quais são os objetivos que movem a sua candidatura: a tese do mundo multipolar, onde o poder de influência dos Estados Unidos seria decrescente, seria "falaciosa e perigosa".

"Os Estados Unidos não podem retirar-se dos problemas mundiais sem provocar perigo para si mesmo e para os outros. (?) Queiramos ou não, nossos valores, nossas políticas e nosso exemplo importam a todos os que valorizam a liberdade".

GOSTOSA


A velha nova direita - VLADIMIR SAFATLE

FOLHA DE SP - 10/01/12

Quando Sebastián Piñera ganhou a Presidência chilena, não foram poucos os que saudaram a sua vitória como a prova maior da vitalidade da democracia no país andino.

Empresário de sucesso, com imagem de homem eficaz e sem grande envolvimento visível com a ditadura de Pinochet, Piñera parecia uma reversão da onda esquerdista que domina a América Latina desde o início do século. Ele era o homem indicado para mostrar, à política latino-americana, a via da modernização conservadora.

No entanto nada deu certo. Depois de dois anos de governo, Piñera protagoniza a maior catástrofe da história da política chilena recente. Com níveis recordes de baixa popularidade, o presidente parece ter servido para mostrar como a direita latino-americana perdeu sua hora.

Desde o movimento dos estudantes chilenos que pediam educação pública de qualidade para todos -revolta esta apoiada por mais de 70% da população-, ficou visível como havia um grande descompasso entre o que o povo queria e o que o governo estava disposto a oferecer.

O povo pediu claramente serviços públicos de qualidade e disponíveis a todos. O governo, com seu ideário neoliberal envelhecido e ineficaz, continuou recusando-se a desenvolver as condições econômicas para o fortalecimento da função pública e para a liberação de largas parcelas da população pobre das garras dos financiamentos bancários contraídos para pagar a educação dos filhos.

Depois, diante da firmeza da revolta estudantil, só passou pela cabeça de Piñera reforçar o aparato de segurança e repressão, isso na esperança de quebrar as demandas sociais.

Discursos contra "nossos jovens que não foram bem-educados pelos pais e que agora querem tudo na boca" ou "os estudantes arruaceiros" e outras pérolas da mentalidade pré-histórica foram ouvidos. Prova maior da incapacidade de responder de forma política a problemas políticos.

Agora, como se não bastasse, seu governo teve de voltar atrás em uma tentativa bisonha de retraduzir a "ditadura militar" chilena em uma novilíngua onde ela se chama "regime militar". Prova indelével de que a direita latino-americana nunca conseguiu fazer a crítica e se desvencilhar de vez de seu apoio às ditaduras.

Quando o assunto volta à baila, eles agem com um estranho espírito de solidariedade, como vimos na votação feita pela Câmara Municipal de Porto Alegre para a modificação do nome de uma avenida que se chamava "Castello Branco". O pedido de modificação, feito bravamente pelo PSOL, foi arquivado.

Nesse vínculo ao passado e nessa inabilidade diante do presente, evidencia-se claramente como a nova direita latino-americana não conseguiu renovar seu guarda-roupa.

Heveicultura - XICO GRAZIANO


O Estado de S.Paulo - 10/01/12


É muito interessante a história da borracha no Brasil. Descoberta nas árvores da Amazônia, sua exploração originou, há cerca de 150 anos, um extraordinário ciclo de riqueza no Norte do País. Ganhou o mundo, mas, curiosamente, abandonou seu passado. Hoje a borracha ostenta sua glória na Ásia.

Tailândia, Indonésia e Malásia, somadas, produzem 72% da borracha explorada mundialmente, ranking em que o Brasil ocupa o distante 9.º lugar. Por incrível que pareça, a terra natal da Hevea brasiliensis compra do estrangeiro dois terços da borracha natural que consome, utilizada nos pneus e demais bens fabricados com a utilíssima seiva.

Durou pouco, meio século, o ciclo econômico da borracha no Brasil, com apogeu em 1910. Nesse ano, 40% da receita cambial brasileira teve origem no látex embarcado, o mesmo patamar das exportações de café. Incrível. Daí em diante, todavia, entrou em cena a produção asiática, derrubando o monopólio dos preços internacionais. Chegou o declínio. Passada uma década, as vendas brasileiras significavam apenas 15% da oferta mundial.

Essa queda carrega um exemplo daquilo que se denomina modernamente biopirataria. Começou em 1876, quando os ingleses, capitaneados por Henry Wickman, levaram milhares de sementes de seringueira para o Jardim Botânico de Londres. Ali receberam a atenção do melhoramento genético, gerando variedades mais produtivas, levadas posteriormente para as colônias inglesas na Ásia, inicialmente Ceilão e Cingapura.

Ninguém esperava o golpe. Na febre da exploração dos seringais nativos do Amazonas, enquanto a Cia. Lírica Italiana encenava, em 7 de janeiro de 1897, a avant-première de La Gioconda, ópera de Amilcare Ponchielli, inaugurando a sala de espetáculos do magnífico teatro de Manaus, o maior patrimônio cultural e arquitetônico do ciclo nacional da borracha, os espertos ingleses avançavam no desenvolvimento da heveicultura, baseada em plantios racionais da nobre árvore. Um show de competência agronômica.

Décadas depois, possivelmente inspirado nesse sucesso inglês, um ambicioso empresário norte-americano protagonizou, ao contrário, um redundante fracasso. Henry Ford, líder na fabricação de automóveis, imaginou produzir, sozinho, metade da borracha consumida no mundo da época. Comprou 1 milhão de hectares de terras no Pará e mandou construir, no final da década de 1920, uma cidade - a Fordlândia - para comandar seu empreendimento. Deu tudo errado.

Uma doença, chamada mal-das-folhas, se esconde por trás do infortúnio da Fordlândia na Amazônia e, ao mesmo tempo, explica a vantagem da heveicultura asiática. Existente somente na umidade da Amazônia, o fungo Microcyclus ulei ataca as folhas jovens da seringueira, derrubando-as, reduzindo a capacidade fotossintética da árvore. Chega a matar a planta.

Na floresta nativa, o mal-das-folhas se controla pelo equilíbrio natural das espécies, facilitado pela rala dispersão das grandes árvores no território. Nas lavouras homogêneas, entretanto, sua fácil disseminação se mostrou devastadora. Isso mesmo. Um fungo derrotou o magnata da Ford. Por outro lado, distantes do terrível inimigo que povoa a Hileia, os plantios asiáticos prosperaram.

A troca do ecossistema de produção explica também a supremacia paulista na heveicultura nacional. Com quase 80 mil hectares plantados, São Paulo ultrapassa metade da produção interna de borracha. Poucos sabem disso. Nas lavouras da região de São José do Rio Preto, onde se concentra a produção paulista, a produtividade média supera em até 40 vezes os projetos extrativistas da Amazônia. Resultado: dos seringais que imortalizaram Chico Mendes chega ao mercado abaixo de 3% das 130 mil toneladas de borracha produzidas no Brasil. Vitória da moderna agronomia sobre a coleta florestal.

Muita coisa se transformou desde que o inglês Joseph Priestley descobriu, em 1770, que aquela goma utilizada pelos indígenas amazônicos servia para limpar a escrita a lápis, apelidando-a de "borracha" (rubber). Mas foi Charles Goodyear, em 1838, que descobriu a vulcanização, processo que acrescenta enxofre ao látex, fazendo-o trocar a viscosidade pela elasticidade. Nascia o pneu.

Uma curiosa disputa permeia essa história. Na 2.ª Guerra, após o ataque aos norte-americanos em Pearl Harbor, os japoneses tomaram a Malásia e as Índias Orientais holandesas, passando a controlar o suprimento mundial de borracha. Virou uma "guerra da borracha" entre as duas potências. Os norte-americanos, visando a reduzir o desgaste dos pneus e economizar borracha, inventaram uma lei que limitava a velocidade dos carros nas estradas a 35 milhas (56,3 km) por hora. Pouco funcionou. Surgiu, assim, a borracha sintética, derivada do petróleo, que ocupa hoje 56% do mercado.

Os produtores brasileiros de borracha iniciam 2012 satisfeitos. O ano passado apresentou-lhes ótimos preços. A forte demanda fez recuarem os estoques mundiais. E na economia de baixo carbono a borracha sintética perde moral para o látex natural.

Crescem as florestas plantadas com seringueira, expandindo-se também para Mato Grosso do Sul e, menos, Minas Gerais. Típica de pequenos produtores, geradora de bons empregos e garantida renda, a moderna heveicultura em nada se assemelha àquela época em que as óperas encantavam a burguesia na Amazônia, levando o governo brasileiro a comprar o Acre (1903) e delirar com a construção de uma ferrovia - a Madeira-Mamoré - cujo malogro se tornou um vexame escondido da engenharia nacional.

Moral da história: a opulência espanta o progresso sustentável. E a tecnologia chama a virtude. Na borracha se encontra boa prova disso.

Em círculos - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 10/01/12

O ano é novo e a confusão na Europa é a mesma de sempre. Esta semana tudo voltou a se agitar depois de breve pausa. No encontro de Angela Merkel e Nicolas Sarkozy apareceram temas requentados e uma tentativa de agenda positiva para ajudar o francês na sua luta pela reeleição. Da Grécia vieram novas ameaças de calote, o que torna a situação deles mesmos mais grave.

Sarkozy reapresentou a proposta de um imposto sobre transações financeiras, e Angela Merkel disse novamente que aceita, claro, desde que seja para toda a União Europeia, porque sabe que o Reino Unido não aprovará. A posição inglesa é que o imposto só dará certo se for global. Essa é a mesma conversa que circula há anos na região.

Os dois governantes disseram que houve progresso em torno do pacto fiscal da União Europeia. Nesse caso, houve avanço no fim do ano passado, quando Sarkozy e Merkel concordaram sobre os parâmetros do acordo fiscal, mas eles sabem que ainda há muito caminho pela frente. Os outros 15 países da Zona do Euro precisam aprovar as bases desse acordo e depois ele terá que ser estendido para os demais países da Europa, menos o Reino Unido, que já disse que não aceitará. Esse é o ponto sobre o qual há mais esperança. A proposta lembra em parte o que foi feito no Brasil no saneamento dos estados, a partir de 1995. O problema é que lá são países, cujos eleitores podem não querer abrir mão da soberania em favor de uma lei de responsabilidade fiscal. Eles dizem que assinarão esse novo pacto fiscal em março. Se o fizerem, pode ser um passo importante para o começo do fim da crise.

Os dois governantes tentaram mudar o tom das declarações. Em vez de falarem na necessidade de ajuste, incluíram o tema "criação de empregos", principalmente para jovens, nas propostas que dizem que estão estudando. Isso é claramente um problema na Europa. Na Espanha, é dramática a falta de emprego para jovens. Para Sarkozy, a entrada desse assunto em pauta é mais do que conveniente, é fundamental. Nas pesquisas de opinião, ele está atrás do candidato socialista para as eleições de maio, nas quais tenta um segundo mandato.

Merkel marcou para esta segunda semana do ano outras reuniões para tratar da crise, como a com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, em Berlim, nesta terça-feira, e com o presidente do Banco Central Europeu, Mario Monti. O que tanto ela quanto o presidente francês querem é garantir algum resultado positivo na reunião de cúpula em 30 de janeiro.

Para Merkel, não apenas as afinidades ideológicas a fazem torcer por Sarkozy. É que a eleição de um socialista e o começo de um novo governo poderiam fazer as negociações retrocederem várias casas. Sarkozy tenta fazer uso político eleitoral disso também. Disse que sem acordo entre Alemanha e França a Europa unida não tem futuro.

Na Grécia, também a Europa continua andando em círculos. Os países mais fortes dizem que querem que a Grécia permaneça no grupo, mas insistem no acordo entre o governo e seus credores privados. Os bancos, por sua vez, sabem que terão que conceder um desconto maior do que concederam até agora - em outras palavras, a perda que terão com a Grécia vai ser mais pesada. O novo governo de Lucas Papademos está repetindo nos últimos dias a ameaça de calote. Primeiro, o porta-voz do governo disse que o país poderia sair da Zona do Euro se os bancos não reduzirem mais o valor da dívida; depois, o próprio primeiro-ministro afirmou que se o desconto não for maior o país pode simplesmente não pagar. A Grécia deve 150% do PIB e seu acordo com a União Europeia tem exigências difíceis, como a de que haja corte de salários dos trabalhadores. Um quinto da população economicamente ativa trabalha para o governo. Se nada der certo, o calote virá mesmo e já tem data: é março. Isso aumenta o risco de agravamento da crise financeira porque os bancos podem não conseguir assimilar as perdas.

A agência de classificação de risco Moody"s disse que o ajuste da Espanha tem que ser 40% maior em 2012 do que foi o esforço fiscal somado de 2010 e 2011. Ou seja, impossível. Todos andam em círculos. As agências ameaçam e rebaixam países, empresas e bancos. Os bancos precisarão ser recapitalizados. Os países terão que ajustar suas contas. O Fundo Europeu de Estabilidade Financeira e o Mecanismo Europeu de Estabilidade precisam ser capitalizados, nos novos valores que França e Alemanha já concordaram em fazê-lo, mas ainda não receberam os recursos.

A Europa entrou em 2012, ano em que os governantes da Alemanha e França disseram que será pior do que o anterior, sem ter um enredo novo. As declarações, ameaças, propostas parecem coisa já vista. O cansaço da crise e o ceticismo são outros dos temores que pesam sobre o continente. Todos sabem que a saída da crise não será fácil. A única esperança que se tem no governo brasileiro é que o segundo semestre na Europa seja melhor do que o primeiro. Até março, haverá o medo do calote da Grécia, a pressão para que os bancos cumpram novos patamares de capital, as dúvidas sobre se haverá o acordo fiscal fechado entre os países; até maio, permanecerá a incerteza política na França. O primeiro semestre será todo de dúvidas sobre a crise europeia.

Os EUA são descolados? - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 10/01/12


AGORA VAI. É o que se diz da economia americana neste momento de alta do ciclo maníaco e trimestral de opiniões sobre o fim (ou recomeço) "certo" da crise naquele país.

Não dá para negar que os Estados Unidos despioram. As notícias ficam ainda melhores quando se lembra que, lá por setembro de 2011, o opinionismo econômico ciclotímico estava na onda de baixa e se disseminava o medo de recessão.

Convém ainda recordar de outras variações de humor de economistas e dos povos dos mercados.

Alguém ainda lembra da temporada dos "green shots" (brotos, a primavera econômica), de abril de 2009? Quando Barack Obama dizia que "cintila a esperança" e o pessoal da finança dizia que a recessão acabava? E do otimismo bobo do primeiro trimestre do ano passado?

Por fim, nem os melhores economistas americanos se entendem sobre o que está acontecendo na economia do país deles, no curto ou no longo prazo. Não apenas discordam por vezes diametralmente, mas insultam abertamente o diagnóstico e o prognóstico dos colegas.

Se eles, que são brancos de olhos azuis (como dizia Lula), não se entendem, é muito arriscado nós daqui dizermos qualquer coisa. No máximo, pode-se contribuir para a confusão e para o ceticismo menos desinformado sobre o assunto.

Considere-se, por exemplo, a situação do trabalho.

Causou alguma sensação o balanço do desemprego de dezembro. Sim, o desemprego está menor e caindo continuamente. Mas a taxa de desemprego, sozinha, é uma estatística que não faz um verão, nem uma primavera econômica.

Para começar pelo desemprego mesmo, lembre-se de que, em dezembro de 2006 (e ainda em maio de 2007), a taxa era de 4,4% (chegou a 10% em 2009 e está em 8,5%). Os dados são dessazonalizados.

O salário semanal médio real do conjunto dos empregados caiu 1,2% de novembro de 2010 para novembro de 2011 (é o número mais recente disponível; as informações sobre dezembro, que foi melhorzinho, saem no próximo dia 19). Excluídos os salários do pessoal com cargos de gerência, a queda foi de 1,8%.

A parcela de empregados em relação ao total da população ficou em 58,5%. Era quase igual, de 58,3%, um ano antes. Na verdade, estagnou desde outubro de 2009. No pico anterior à crise, em dezembro de 2006, era de 63,4%.

O desemprego de longa duração ainda é uma doença ruim. O tempo médio de desemprego baixou apenas para 42,5 semanas, ante 44,3 em dezembro de 2010. No final de 2008, ano de explosão da crise, mas antes das demissões em massa, essa média era de 23 semanas.

Sim, a confiança do consumidor sobe; faz-se mais crediário. A indústria cresce um pouquinho. Mas o setor de serviços está rateando. O setor imobiliário continua em depressão (nos preços; o desemprego diminuiu na construção).

O ano será de recessão ou, no melhor dos casos, de estagnação na Europa do euro. A China deve crescer menos. Haverá cortes de gasto público e (talvez) aumento de impostos nos EUA, afora outras loucuras que os republicanos podem aprontar para derrubar Obama.

Para o bem deles e também o nosso, é melhor que os EUA acelerem. Mas os dados de agora e os riscos adiante não permitem cravar nada.

Efeito efêmero - DORA KRAMER

 O Estado de S.Paulo - 10/01/12


A eleição de um número significativo de prefeitos este ano é importante para os partidos, disso ninguém tem dúvida e nisso apostam as legendas ao investir no crescimento com vista à eleição de presidente, governadores, deputados e senadores em 2014.

Mas, cresce entre os políticos a percepção de que o efeito de uma vitória substancial agora não significa necessariamente que as estruturas municipais lhes garantirão uma colheita de votos tão boa quanto, daqui a dois anos.

Isso porque os partidos vêm notando que os prefeitos já não são indutores de voto - principalmente o majoritário - como foram em outras épocas. Perdem relevância eleitoral.

E por vários motivos: o primeiro é que nas grandes e médias cidades o eleitor forma sua opinião independentemente da posição política do chefe do Poder Executivo local, com base nas informações dos meios de comunicação e, não raro, na conjuntura nacional.

Nesses casos o mais comum é ocorrer o oposto: o prefeito é quem embarca na tendência da maioria e se deixa conduzir por ela.

Outro fator é a mudança de posição, ou mesmo de partido, do prefeito que, aliado a um determinado grupo na eleição, muitas vezes se transfere com a máquina municipal para outra ala que lhe pareça mais forte, politicamente vantajosa, alegam as famosas razões de governabilidade e um abraço.

O aliado de hoje pode ficar a ver navios no meio do caminho e aquela vitória se transforma numa derrota.

Há que se levar em conta também o desgaste do eleito durante o mandato, que pode fazer do vitorioso um estorvo dois anos depois se nesse período tiver, por exemplo, aumentado muito a sua rejeição entre o eleitorado.

Isso não quer dizer que a eleição de prefeitos seja irrelevante para os partidos. É muito importante para marcarem posições, para formar "torcida" no processo de disputa, para serem vistos no palanque (eletrônico), para mostrarem força e, quando bem-sucedidos, serem apontados no dia seguinte pela imprensa como vitoriosos.

O efeito, porém, é efêmero. À exceção dos chamados grotões, onde o chefe político ainda é uma figura de influência determinante, nas grandes e médias a vitória ou a derrota nos municípios não são agentes definidores do desempenho estadual, muito menos nacional no futuro.

A tese não tem (ainda) comprovação, digamos, científica. A não ser um dado: o PMDB é o partido com o maior número de prefeitos - cerca de 1.300 - e, no entanto, não é competitivo no âmbito nacional.

Trata-se, isso sim, de um sentimento forte entre políticos que, naturalmente, não andam por aí a propagar a irrelevância eleitoral dos prefeitos.

Até porque eles têm, sim, a sua influência: na eleição proporcional, no domínio da máquina pública e sua repercussão na obtenção de recursos para as campanhas e são eles também que organizam as visitas dos candidatos às cidades e mobilizam gente para recepcioná-los nos aeroportos.

Perceba o leitor que são todos fatores relacionados com a eleição em curso. Não guardam relação de causa e efeito com o pleito seguinte.

Margem de manobra. Por enquanto vale o que tem afirmado o vice-presidente Michel Temer: Gabriel Chalita manterá a candidatura a prefeito de São Paulo.

Mas há quem diga no PMDB que é melhor esperar um pouco antes de apostar que essa seja a última forma.

Indefensável. O governador Eduardo Campos organizou ativa contraofensiva em defesa do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, na questão da liberação de recursos antienchentes para Pernambuco. Tem sido bem-sucedido.

Só não conseguiu ainda demonstrar que Bezerra agiu corretamente ao liberar 100% das emendas do filho deputado federal, concentrar repasses em Petrolina (tradicional reduto da família) e manter por um ano o irmão (Clementino) na presidência da Codevasf - estatal subordinada ao ministério -, burlando a proibição da prática de nepotismo na administração pública.

GOSTOSA


Cristina, realismo e magia - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 10/01/12

O caso Cristina Kirchner poderia se transformar em mais uma história de realismo mágico de que a América Latina é prenhe.

Cronologia: uma presidente popular, que acaba de receber uma votação espetacular, mal tomou posse (de novo), tem detectado um câncer na tireoide, com o todo o caráter fantasmagórico que a palavra câncer desperta até hoje.

A presidente se opera, em meio a uma vigília de seus seguidores, pertencentes ao multifacetado peronismo, carregado de misticismo e uma estranha relação com a doença/morte de seus ícones.

Lembro-me de uma visita, em 1975, salvo erro de memória, à quinta presidencial de Olivos, para ver o corpo embalsamado de Evita Perón, ao lado do caixão fechado do marido, o general Juan Domingo Perón, morto no ano anterior. Era impressionante ver do alto a linda mulher loira em seu vestido branco e um penteado que parecia ter sido feito minutos antes, embora ela tivesse morrido já fazia então 23 anos.

Lembro-me também do susto que tomaram meus filhos, ainda crianças, quando os levei para ver o túmulo de Evita, no cemitério da Recoleta, justo em um dos muitos dias de culto à memória de "María Eva de los Desamparados". O grupo de peronistas em volta do túmulo cantava: "Se siente, se siente, Evita está presente" -e meus filhos, ignorantes então da mística que acompanha o peronismo, acharam que de fato Evita estava presente.

Quando saiu a notícia de que Cristina não tinha o câncer oficialmente anunciado, até entendi, por esse passado todo, que Ricardo Roa, editor-adjunto do "Clarín", gritasse que ela "se operou de um câncer que não tinha" e, ainda por cima, "sofreu uma mutilação desnecessária".

Mas, para quem prefere fatos, ainda que pouco espetaculares, ao realismo mágico, repasso então informações do médico em quem mais confio, por acaso chamado Cláudio Rossi, meu irmão. A confiança não vem só do sangue, mas das abundantes provas de competência extrema que já deu, além do fato de ser especialista em diagnóstico por imagem, o que no mínimo o aproxima do caso Cristina.

Informação 1 - É absolutamente comum que apareçam células não tão perfeitas no tipo de punção a que a presidente foi submetida. Ou seja, é perfeitamente possível que o exame patológico detectasse "falso positivo", como dizem os médicos.

Informação 2 - A cirurgia é o procedimento indicado para ver se o "positivo" é ou não falso. "E, quando você está com a paciente aberta à mesa, só vai saber se o positivo é falso ou não depois de tirar o pedaço afetado", diz Cláudio.

Informação 3 - Meu irmão, há alguns anos, teve detectados nódulos no pulmão. Só quando abriram e tiraram um segmento é que se comprovou que não era câncer. Fica claro, pois, que, não houve uma "mutilação desnecessária", mas inevitável (em ambos os casos).

Tudo somado, "o que aconteceu com Cristina Kirchner poderia ter acontecido com a Cristina Rossi", minha sobrinha (e filha dele), conclui meu irmão.

É melhor que seja assim: já é tempo de a América Latina conviver mais com o realismo do que com a magia, principalmente quando esta envolve misticismo.

Presente francês - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 10/01/12


A dupla se refez ontem. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, foi ver a chanceler alemã, Angela Merkel, em Berlim, já que o francês e a alemã decidiram, há alguns meses, assumir o comando da Europa.

Qual era a ordem do dia? Salvar a Europa, como sempre, mas Sarkozy dessa vez apresentou uma maneira de sair do buraco. Um remédio milagroso: a taxa Tobin. Essa taxa não é nenhuma novidade. Ela foi imaginada pelo Prêmio Nobel de Economia James Tobin, em 1972, e está parada há 40 anos, apesar de ser defendida por um economista da estatura de Joseph Stiglitz. Os partidários mais entusiastas dessa taxa são evidentemente os integrantes do movimento Attac, e os altermundialistas, que veem nela uma maneira de limitar a voracidade da economia financeira.

Esse é o presente que Sarkozy quer dar à Europa. Mais uma vez esse curioso homem de Estado pega todo o mundo no contrapé: líder da direita e há muito um adepto forçado do liberalismo ao estilo de Margareth Thatcher, antes de se ligar a práticas mais "dirigistas", hoje ele brande bruscamente um ovo que roubou do ninho da ultraesquerda, dos altermundialistas, e propõe que a Europa choque esse ovo.

Atacados por Sarkozy, todos os chefes europeus olham para o outro lado. Os ingleses, cuja economia já não é constituída por fábricas ou pastagens, mas por finanças, são ferozmente contra; os outros países dizem que essa taxa Tobin é estupenda, mas que é preciso estudar o assunto. Sarkozy está impaciente. Dentro de quatro meses ele concorrerá a um segundo mandato presidencial. Ele quer que a taxa Tobin seja criada à toda velocidade, antes das eleições.

Merkel fez careta. O que mais o "pequeno francês" vai tirar da cartola, esse tipo parecido com o ator Louis de Funès (É um dos grandes números de Merkel, quando está entre seus íntimos, ela imita Sarkozy emprestando-lhe os tiques e gestos de Louis de Funès.)? A Itália diz que é interessante, mas que essa Tobin deve ser criada no mesmo momento em toda a Europa. Os gregos não dizem nada: estão muito ocupados se afogando. Esse afogamento é em tempo integral. Em breve, por toda parte, a "magia" de Sarkozy será saudada como mirabolante e rejeitada por todos mais adiante.

Sarkozy, porém, não se acalma. Ele, que cobria essa taxa de opróbrio há dez anos, e que nunca fez nada para impô-la durante cinco anos de governo, eis que, à véspera de encerrar seu mandato, é tomado por uma necessidade premente: criar a taxa Tobin. E tanto pior se a França ficar de cavaleira solitária. Os outros países serão obrigados a seguir.

Na França, Sarkozy pegou todo mundo de surpresa. Os socialistas se mostraram prudentes. Somente a ultraesquerda achou a iniciativa sábia. Mas os empresários e o pessoal da bolsa e dos bancos, que sempre foram os queridinhos de Sarkozy, não sabem o que fazer. A muito liberal "patroa dos patrões", Laurence Parisot, disse secamente: "Seríamos todos perdedores". Os financistas são contra. Eles dizem que, se Paris se lançar sozinha nessa aventura, haverá o risco de "deslocalizações".

Como as operações são feitas eletronicamente, eles dizem que será muito fácil não fazer nada com base em Paris. As transações financeiras podem ser facilmente expatriadas para lugares onde os encargos serão mais leves, por exemplo, a City (distrito financeiro) de Londres.

Como explicar a estratégia de Sarkozy? Ele terá sido convertido subitamente às teses altermundialistas e decidido atacar o setor financeiro? Estará apenas fazendo fanfarronada? Ou será uma operação para se livrar de sua imagem de direita dura e de amigos ricos? "Estão vendo", ele dirá quando sua taxa Tobin capotar, "eu luto para moralizar o mercado, para fazer os especuladores devolverem o que ganharam indevidamente, e ninguém, nem mesmo os socialistas, quis me seguir".

Um blefe para seduzir uma parte da esquerda? Difícil ver claro nessa fumaceira generalizada. Com um outro, se poderia adivinhar, sob essa iniciativa astuta, uma tática, um artifício, uma tramoia. Mas com Sarkozy é difícil decifrar os meandros de sua ação. Hiperativo, meio sábio e meio louco, a um só tempo exasperante e comovente, Sarkozy é um espírito por demais barroco para se poder decidir se a sua taxa Tobin é uma manobra ou o efeito de uma convicção sincera.

Merkel nos esclarecerá, quem sabe. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Linha cruzada - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 10/01/12


FÁBIO ZAMBELI (interino) 

Em atrito com o governo paulista no monitoramento da operação policial na Cracolândia, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos decidiu colocar seu serviço "Disque 100" em linha permanente para receber denúncias de abusos na ação da PM no centro de SP. Protocolo de emergência criado ontem permitirá que as queixas de violação sejam avaliadas em tempo real. Atendentes foram treinadas para dar prioridade aos relatos, que terão preservado o anonimato.
Além das reclamações de maus-tratos, chamou a atenção da pasta o uso de bombas de efeito moral e de tiros de balas de borracha para dispersar os viciados.

No limite O Bandeirantes, que destacou a Secretaria de Justiça para acompanhar o cerco à área central da capital, sustenta que até agora não foi acionado pela Defensoria Pública sobre eventuais excessos na intervenção dos policiais contra o tráfico.

Dois tempos A operação na Cracolândia expôs divisão no primeiro escalão de Gilberto Kassab. O secretário Januário Montone (Saúde) defende a internação compulsória de dependentes em clínicas. A vice-prefeita Alda Marco Antonio (Assistência Social) prefere o atendimento nas tendas de acolhimento.

É ela Na conversa com Lula na semana passada, Kassab mencionou o nome de Alda, ex-PMDB, para compor eventual chapa como vice de Fernando Haddad (PT).

Viés de baixa Correligionários do prefeito paulistano enxergam no gesto uma resposta a Geraldo Alckmin, com quem o PSD busca acordo. "O governador emitiu sinais de que montará sua coalizão. Foi um duro golpe à perspectiva de aliança", afirma um kassabista que trabalha pela composição.

Longo prazo Alckmin convidou o neoaliado Paulo Maluf para solenidade do governo paulista ontem em Campos do Jordão. Durante o evento, o deputado, instalado na CDHU e disposto a jogar o PP no colo do PSDB da capital, lançou o tucano à Presidência em 2018.

Espera aí Haddad saiu ontem da conversa com Dilma Rousseff sem definir a data de seu desligamento do MEC. A transição seria feita dia 16, mas pode ser adiada.

Tête-à-tête Dilma e Fernando Bezerra conversaram a sós por quase meia hora ontem. O ministro apresentou explicações pontuais sobre acusações levantadas contra ele. Por fim, disse que não queria criar qualquer constrangimento ao governo. "Não sou apegado ao cargo."

Terceira via Rival de Eduardo Campos, o prefeito de Petrolina, Julio Lossio (PMDB), recorre com frequência a Michel Temer na tentativa de ver seus pleitos atendidos no Planalto.

Outro lado Sobre os inquéritos da PF contra a Codevasf, a estatal diz ter colaborado com as investigações da Operação João de Barro, em 2008, quando Clementino Coelho, irmão de Bezerra, era diretor executivo. A empresa diz desconhecer outras apurações em curso.

Alta pressão Do líder do PMDB, Henrique Alves (RN), preocupado com o retorno dos trabalhos do Congresso, em fevereiro: "Se confirmado o corte de R$ 60 bi no Orçamento, e a isso somarmos royalties e Código Florestal, temos de ter cuidado para não explodir a panela".

Vacina Na mira do CNJ, o TJ-SP mapeará preventivamente a produtividade de juízes. A corregedoria se antecipará a denúncias onde houver acúmulo de processos.

com LETÍCIA SANDER e FLÁVIO FERREIRA

tiroteio

"Querer ocupar a prefeitura de forma vitalícia, além de ser um cacoete antidemocrático, só se explica pelos 'prazeres' que o cargo deve estar proporcionando ao seu titular."
DO EX-PREFEITO DO RIO CESAR MAIA (DEM), sobre o adversário peemedebista Eduardo Paes ter dito, em entrevista, que gostaria de se manter no Palácio da Cidade caso houvesse a função de prefeito vitalício do Rio.

contraponto

Que rei sou eu?

Em audiência na 2ª Vara Criminal Federal de São Paulo, na década de 70, o então juiz substituto Paulo Pimentel Portugal teve pela frente um réu peculiar. Logo após o início dos trabalhos, o magistrado fez a pergunta rotineira sobre os antecedentes criminais do acusado.
-O senhor já foi preso ou processado alguma vez?
O réu, então, estufou o peito. Pensou alguns segundos e disse, para surpresa dos presentes ao Fórum:
-Sim, eu já tive a honra, inclusive, de ter sido condenado por Vossa Majestade...

Andar, conviver e dormir - SONINHA FRANCINE


FOLHA DE SP - 10/01/12

Quando a população torra seis horas por dia se deslocando, fazer obras na periferia não basta; é necessário trazer as pessoas para perto do trabalho

Para chegar ao serviço às 8h, ela sai de casa às 4h -e não estará de volta antes das 20h ou das 21h.

Uma população de milhões de pessoas torra seis horas ou mais por dia em deslocamentos. É quase um dia de trabalho.

Assim, estudar, fazer atividade física, comer com calma, conversar com os filhos, ajudá-los na lição de casa, frequentar equipamentos culturais, criar laços de amizade com a vizinhança e todas as outras recomendações para uma vida saudável e equilibrada caem no ridículo.

Segundo pesquisa do Instituto AGP, dois terços dos paulistanos sequer dormem o mínimo necessário para se recompor de tão dura jornada e ter energia para a próxima. Como esperar deles disposição para a convivência pacífica e solidária? Pense no seu mau humor depois de uma noite mal dormida. Multiplique por "todas".

Idas e vindas são tão penosas por duas razões. Uma é suficientemente amaldiçoada: o congestionamento. A outra ainda não é tão considerada: as imensas distâncias entre as casas e o trabalho, causadas principalmente pelo desequilíbrio na ocupação do espaço urbano.

Onde há muita atividade econômica -ou seja, postos de trabalho na indústria, no comércio e no setor de serviços-, mora pouca gente. Onde a população incha (como na periferia da capital e nos municípios vizinhos), os empregos são escassos. A escandalosa desigualdade na oferta de serviços públicos e de infraestrutura urbana dispensa maiores comentários.

A solução proposta costuma ser tratar o sintoma: mais creches na periferia, por exemplo. Mas jamais teremos estrutura suficiente para crianças de quem a mãe se despede antes das 4h. É esse o mundo que queremos, com crianças sob cuidados profissionais por 13 horas?

Essa multidão que dorme na cidade B e tem de vir todo dia para a cidade A sabe que um sinônimo para insustentável é insuportável.

São Paulo pode ter uma boa nota naqueles testes antigos de QI, mas hoje se admite que não adianta ter bom desempenho intelectual e ser fraco em equilíbrio emocional e em capacidade de manter relacionamentos sãos.

Se até tecidos podem ser "inteligentes", uma cidade tem de ser. Ela deve aproveitar melhor o que já tem, não desperdiçar energia (começando pela das pessoas), dispor da tecnologia para cruzar informações e incentivar a criação de empregos conforme a necessidade, vocação e os recursos de cada lugar.

Tem também de olhar para um imóvel com o discernimento de um empreendedor e o interesse pelo conjunto da sociedade, assegurando o melhor uso possível.

Isso significa erguer um prédio para pessoas de menor poder aquisitivo no lugar de um estacionamento no centro, em vez de fazê-lo na casa do chapéu e deixar a região central só para o mercado de apartamentos de alto padrão.

Com mais gente morando perto do trabalho, há mais tempo para lazer, estudo, esporte, cultura, convivência, repouso. Com menos deslocamentos, há menos consumo de combustível, barulho e poluição. E mais espaço, mais gente a pé se conhecendo e se encontrando, mais saúde física e mental, maior possibilidade de bem estar.

Porque cidade inteligente é cidade feliz. Se as pessoas estão exaustas e não são felizes, de que adianta o resto?

HAKUNA MATATA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 10/01/12


O musical infantil "O Rei Leão - O Reino de Simba", estreou no sábado, no Teatro Folha. O produtor do espetáculo é o ator Cássio Reis. Sua cunhada Fernanda Reis levou a filha Pietra para assistir. As atrizes Arieta Corrêa e Mariana Kupfer e a apresentadora Patricia Maldonado também foram com os filhos, Gael, Victoria e Nina.

DE VOLTA PRA CASA
O Brasil devolverá aos EUA, no dia 20, dois contêineres com lixo hospitalar importado por empresas brasileiras. São 60 toneladas de lençóis e fronhas de hospitais públicos, privados e até militares que seriam revendidos no país.

FOGO
Os EUA pediram que o material fosse incinerado. Uma comissão da Câmara dos Deputados negociou para que o material fosse devolvido.

FOGO 2
O embarque, no porto de Suape, em Pernambuco, será acompanhado pelo relator do caso, deputado Protógenes Queiroz (PC do B-SP). "Quando material semelhante chegou à Inglaterra, o procedimento naquele país foi esse. Não tinha porque ser diferente no Brasil", diz.

ATAQUE
A Acrimesp (Associação dos Advogados Criminalistas de SP) notificou judicialmente a OAB-SP para que faça segundo turno nas eleições da entidade, caso o vencedor não receba metade mais um dos votos. A associação diz que o expediente é obrigatório pela legislação eleitoral em entidades com mais de 200 mil eleitores.

DEFESA
O presidente da OAB nacional, Ophir Cavalcante, diz que o pedido "não procede". "A interpretação que tem sido feita é que não é a chapa [vencedora] que tem que ter metade mais um dos votos. Mas, sim, que a maioria simples do eleitorado tenha participado do pleito. E não se pode mudar as regras eleitorais no ano da eleição."

SHOW DO BILHÃO
O Ministério da Cultura fechou 2011 com execução orçamentária de R$ 1,07 bilhão, 99% do limite autorizado pelo Planejamento. A pasta espera chegar a R$ 2 bilhões neste ano. O programa Praças do Esporte e da Cultura (as chamadas "praças do PAC") terá R$ 500 milhões, e o Fundo Setorial do Audiovisual, R$ 400 milhões.

COMPASSO DE ESPERA
O orçamento do MinC para 2012, aprovado pelo Congresso, é de R$ 2,38 bilhões. Mas o valor final ainda pode diminuir após análise do Ministério do Planejamento.

RESSACA
A Secretaria Estadual da Saúde aplicou 58 multas por infrações à Lei Antiálcool em uma semana de fiscalização no litoral paulista. Foram autuados 50 estabelecimentos na Praia Grande, seis em São Sebastião, um em Ubatuba e um em Santos. As principais irregularidades foram bebidas vendidas ao lado de sucos e refrigerantes e a ausência de placas da lei, que proíbe a venda para menores.

PASSARELA VIP
A modelo Carol Trentini foi convidada pelo estilista da Givenchy, Riccardo Tisci, para apresentar a prévia da nova coleção da grife para Anna Wintour, editora de moda da "Vogue" americana. O microdesfile aconteceu ontem, em Nova York.

MAIOR DE IDADE
O restaurante Spot comemorou 18 anos na sexta, Dia de Reis. Passaram por lá o ator Tato Gabus Mendes com a mulher, a estilista Mariana da Silva Telles, o administrador Conrado Malzoni, a editora de moda Vanda Jacintho, o apresentador Theodoro Cochrane, a modelo Luisa Moraes e o empresário Luis Gelpi com a mulher, Carola Diniz.

CURTO-CIRCUITO
A festa Rogue Vogue acontece hoje, a partir das 23h, no clube Tapas. Classificação: 18 anos.

Rodrigo Fonseca lança o livro "Como Era Triste a Chinesa de Godard" hoje, às 19h, na Casa do Saber do Rio de Janeiro.

A peça "Credores", dirigida por Eduardo Tolentino de Araújo, reestreia na quinta, às 21h30, no Viga Espaço Cênico. Classificação etária: 14 anos.

Paulo von Poser abre a exposição "Trajetória" no MuBE, na quinta, às 19h.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY