quarta-feira, agosto 03, 2011

MARCELO COELHO - O "jass", de A a ZZ

O "jass", de A a ZZ
MARCELO COELHO 
FOLHA DE SP - 03/08/11

A palavra "jass" teria origem no "jasmim", fragrância preferida das prostitutas de Nova Orleans


Está disponível nas bancas de jornal uma série de documentários sobre jazz, feita por Ken Burns, em 12 DVDs. Recomendo. Verdade que entendo pouquíssimo de jazz e por isso mesmo devo estar passando por cima daquele tipo de defeito que todo aficionado sabe apontar.
"Ah, esqueceram de Fulano, não deram importância à segunda fase de Beltrano no selo Verve..." etc. Também, o que fazer? Como em certa fase do cinema norte-americano, sempre que alguém é chamado de gênio, aparecem outros dez ou 20 nomes à sua volta mais geniais ainda. A mina de ouro parece nunca se esgotar.
Ou melhor, quem se esgota é o leigo no assunto, desconfiando de certo excesso de entusiasmo do interlocutor. No jazz, entretanto, isso pode ser mais verdade do que no cinema. Um músico termina estimulando o outro, e a possibilidade dos encontros e parcerias é obviamente maior do que entre diretores de cinema.
Comecei assistindo aos filmes sobre nomes e épocas que eu conhecia um pouco mais: Billie Holiday, Duke Ellington, os anos 30 e 40, como convém à minha caretice.
Uma surpresa foi ver as "big bands", do gênero Benny Goodman, terem para a época a mesma função que, décadas depois, seria exercida por Elvis Presley e Beatles.
O frenesi dos fãs e a agitação maluca dos salões de baile não têm nada em comum com a suavidade cheirando a brilhantina que pode ser associada a músicas tipo "Moonlight Serenade", de Glenn Miller.
Filmes de época, reproduzidos no documentário, mostram que muitos americanos, mesmo brancos, já sabiam chacoalhar-se bastante antes do rock. Em 1937, o desvairado baterista anão Chick Webb foi, segundo alguns dos entrevistados no documentário, o vencedor de um duelo histórico contra a banda rival de Benny Goodman.
Claro que as opiniões divergem.
Vendo as cenas daquele encontro, preservadas no DVD (sempre com ótima qualidade de imagem), a única coisa que se pode concluir é que estava em jogo, também, a resistência física dos participantes e dos ouvintes. A bateria de um e a clarineta do outro só faltaram explodir os pulmões, o coração e os músculos de todos, além das paredes do "dancing hall".
As fotos utilizadas no documentário -e Ken Burns é mestre em destacar detalhes significativos de cada imagem individual-- são tão boas quanto os filmes históricos. Cada grande músico parece ter tido um grande fotógrafo ao seu lado.
Cometi o erro de deixar para depois o primeiro volume, dedicado aos anos 1890-1917. Parecia antigo demais; e ponha antigo nisso. É o tempo em que escreviam "jass", em vez de jazz. A palavra, segundo dizem, teria origem no "jasmim", fragrância preferida das prostitutas de Nova Orleans.
Até pelo que conta da cidade (meio brasileira, com uma população mestiça recusando suas origens africanas), esse capítulo inicial é indispensável. Vê-se o autointitulado "criador do jazz" Nick La Rocca, um descendente de italianos, negar qualquer influência dos negros naquele estilo musical.
Tensões raciais (e a sua superação gradativa) estão presentes, claro, o tempo todo no documentário. O caminho do humorismo popular, com um pé no grotesco e na visão estereotipada do negro, até a erudição quase impenetrável do "free jazz" se percorre em cinco ou seis décadas.
Talvez a erudição não seja questão deste ou daquele traço estilístico particular, mas de mero acúmulo quantitativo. O número das referências, daquilo que cada artista sabe ser do conhecimento de seu público, vai aumentando.
E cultura não é apenas "expressão" de um sentimento ou uma forma específica de linguagem. Não é também só "o que você sabe". Tudo dá um salto, na verdade, quando "você sabe que o outro sabe". Esse salto, que acompanha a liberação dos costumes e também a ascensão política e social dos negros, talvez seja a verdadeira história do jazz.
Assim parece, ao menos, quando se vê o documentário de Ken Burns -e se ouvem os comentários e exemplos musicais (infelizmente poucos) de um de seus entrevistados.
Pela simpatia, pela emoção e pela clareza dos comentários, Wynton Marsalis (trompetista de jazz e de música clássica ao mesmo tempo) vale, sozinho, o preço (R$ 19,90) de cada fascículo.

MERVAL PEREIRA - A luta continua

A luta continua 
Merval Pereira 
O Globo - 03/08/2011

Tão logo o acordo para a elevação do teto da dívida dos Estados Unidos foi aprovado pelo Senado, o presidente Barack Obama marcou posição avisando que a luta continua. Derrotado pelo radicalismo do Tea Party, que levou o Partido Republicano a adotar uma posição suicida até próximo do prazo final, o presidente dos Estados Unidos tentou sair das cordas retomando a bandeira de fazer com que os muito ricos também ajudem a economia a sair do buraco: "Não podemos fazer com que os que sofrem mais paguem mais. Todos vão ter que pagar. E assim será justo."

O que Obama quis dizer é que insistirá no aumento de impostos para que o país tenha condições de tentar crescer e produzir empregos, o que será praticamente impossível se o plano aprovado não sofrer modificações.

O jornalista Paulo Sotero, diretor do Instituto Brasil do Woodrow Wilson International Center for Scholars, em Washington, resume assim a situação: "O acordo teve o mérito de evitar a calamidade do calote da dívida americana. Mas deixou todos insatisfeitos e a economia do país com pouco espaço para superar o problema fiscal pela via do crescimento."

Com o plano aprovado, e imediatamente sancionado por Obama, o governo poderá aumentar o teto da dívida em US$400 bilhões, evitando assim a moratória.

Com isso, e a perspectiva de novo aumento de US$500 bilhões já autorizado para fevereiro, o governo espera acalmar os mercados financeiros e evitar uma redução de sua avaliação pelas agências de risco.

Sotero lembra que, como o próprio Obama reconheceu, o pacto anunciado não foi o que ele batalhou para alcançar. A razão é que o acordo impõe a redução do gasto federal "numa economia anêmica e que precisa de mais infusão de dinheiro público para crescer de maneira vigorosa e começar a reduzir o desemprego de 9,2%".

Jamais um presidente americano foi reeleito com tal taxa de desemprego, ressalta Sotero. O segundo aumento depende da aprovação do Congresso, mas Obama tem poder de veto, o que torna a mudança garantida, embora não evite a crise política que viria em consequência desse novo embate entre a Casa Branca e a Câmara com maioria republicana e dominada pelos radicais de direita.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema, críticos democratas atacaram duramente o presidente, considerando que Obama poderia ter evitado esse desfecho se tivesse seguido o conselho do ex- presidente Bill Clinton e invocado a 14ª emenda da Constituição, que trata da "validade da dívida pública americana", aumentando unilateralmente o teto do endividamento.

Mas o jornalista Paulo Sotero considera que a consequência provável de uma atitude dessas "seria um processo de impeachment e uma crise constitucional que tampouco contribuiria para melhorar a confiança na economia americana".

Embora tenha sido claramente derrotado pelos republicanos, o presidente Barack Obama ainda tem uma possibilidade de retomar a tese do aumento de impostos, pois só US$917 bilhões de cortes nos próximos dez anos estão definidos inicialmente.

Até 23 de novembro, um comitê de 12 membros da Câmara e do Senado terá que identificar cortes adicionais ou aumento de receita no valor total de US$1,2 trilhão a US$1,5 trilhão.

Medidas fiscais que aumentem a receita da União, ou retiradas de isenções de impostos, poderão ser novamente estudadas, além de cortes na Defesa, o que deixa os republicanos histéricos e pode servir de barganha.

Se não houver acordo sobre um mínimo de US$1,2 trilhão em cortes, ou o Congresso rejeitar as sugestões da comissão, automaticamente começarão os cortes nesse valor a partir de 2013, a critério do Executivo.

Paulo Sotero destaca que os membros do Tea Party, que encurralaram a liderança republicana e os candidatos presidenciais do partido "com sua guerra santa contra o déficit", estão frustrados porque não conseguiram o corte de US$4 trilhões em dez anos do déficit federal e sabem que a comissão parlamentar bipartidária de 12 deputados incumbida de negociar os detalhes do acordo até novembro "cortará gastos militares, que eles querem proteger, e, direta ou indiretamente, aumentará impostos, o que é anátema para essa ala dos conservadores".

Além disso, lembra Sotero, no Congresso, os deputados dos dois partidos "estão furiosos com o esvaziamento de sua principal função, que é o exercício do chamado "power of the purse", ou seja, "poder da bolsa".

O acordo transferiu esse poder para a comissão de 12 deputados, que trabalhará sob a ameaça de cortes de programas militares e sociais, sobretudo do seguro médico para idosos medicare, se não chegar a um entendimento.

A conclusão de Sotero vai ao encontro das previsões mais pessimistas: "Num mundo em que as economias da Europa e do Japão já andam de lado, sem perspectiva de retomada, o desfecho da crise fiscal americana expõe a paralisia em Washington, diminui a confiança do mundo na capacidade política dos EUA de enfrentar os desequilíbrios de sua economia e introduz novas incertezas e, potencialmente, instabilidade no panorama da economia global. Isso, obviamente, não é bom para o Brasil e para ninguém."

ALON FEUERWERKE - O melhor remédio


O melhor remédio
ALON FEUERWERKE
Correio Braziliense - 03/08/2011


Talvez possamos aprender com os Estados Unidos. No pacote protecionista lançado ontem, o governo brasileiro beneficiou alguns e não outros. Por que não submeter a lista a um intenso debate no Congresso?

E o mundo não acabou. O sistema político dos Estados Unidos mostrou-se suficientemente flexível para encontrar uma solução e destravar o debate do aumento do teto da dívida.

Não havia saída fácil, dada a divisão no Congresso, que apenas reflete a divisão na sociedade.

Nossos alquimistas da reforma política quebram a cabeça para construir modelos em que dissonância social produza consonância congressual. Apresentam a restrição de representações como essencial para a eficiência política.

O exemplo americano mostra a possibilidade de caminho diverso.

Outro fenômeno aqui é o desejo íntimo de evitar que a política imponha limites às ideias absolutamente certas dos economistas sobre como enfrentar problemas.

Ainda que um problema resida em haver quase tantas ideias absolutamente certas e distintas quando a quantidade de economistas envolvidos no debate.

E a política costuma ser o meio de buscar a unidade na diversidade.

Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, achava que a melhor maneira de enfrentar esta crise era dar uma cartada decisiva a favor do livre comércio, na Rodada Doha.

Já Dilma Rousseff, como se viu ontem, embicou o governo para a defesa firme do protecionismo.

Que o governo brasileiro, uns anos atrás, acusava de ter criado as condições para a Segunda Guerra Mundial.

As ideias certas podem mudar com o tempo, vê-se.

A sociedade nos Estados Unidos divide-se quanto à melhor maneira de sair da crise. Uns dizem ser preciso mais dívida, mais investimento público. E também mais impostos. E que os ricos paguem a conta.

Outro pedaço defende o contrário. Deixar mais dinheiro em mãos privadas, para que na busca de reproduzir esse capital criem-se mais negócios, mais empregos. E a economia saia assim do buraco. É o que propõem.

Aliás, o pacote anunciado ontem por Dilma tem algo desse último vetor, nas agressivas desonerações, mesmo seletivas.

O estatismo ficou em alta na passagem de 2008 para 2009 e em tempos seguintes, quando a intervenção governamental salvou as economias do colapso.

Mas não apresentou o mesmo desempenho para alavancar a recuperação econômica nos países desenvolvidos, que patinam.

Uns dizem ser preciso mais do mesmo, que o remédio é bom, mas não veio na dosagem suficiente. Propõem dobrar a aposta.

Outros dizem que não, pois isso levaria à estagnação, pois o capitalista sabe investir melhor, com mais retorno para a economia e a sociedade. Especialmente na criação de empregos.

Havia duas possíveis rotas de fuga do incêndio.

Os republicanos têm posição sólida no Congresso. Barack Obama poderia dar um murro na mesa e aumentar unilateralmente o limite da dívida, como desejavam alguns de seu partido. Ou buscar um acordo. O melhor acordo possível.

Como rejeitavam os extremos do partido dele e também do partido adversário.

Os Estados Unidos não são, ainda, uma republiqueta. Vingou a alternativa b.

Mas para chegar à convergência era necessário o rito. Cada lado precisaria mostrar os músculos e dar sua própria satisfação ao respectivo eleitorado.

Cada chefe de facção precisaria provar liderança sobre a respectiva tropa, até para poder pedir depois que depusessem as armas.

Como aconteceu.

Talvez tenhamos algo a aprender com eles neste caso. No pacote protecionista lançado ontem, o governo brasileiro beneficiou alguns e não outros.

Deve ter sido uma negociação dura intramuros para definir o quem entra e quem sai.

Por que não submeter a lista dos beneficiados pelas bondades governamentais a um intenso debate no nosso Congresso Nacional? E à ampla negociação?

O governo deve ter tido razões para definir a lista como definiu, mas o Legislativo talvez seja a válvula para quem não teve, neste caso, livre trânsito nos melhores gabinetes da Esplanada e do Planalto.

Cá, como lá, a democracia é sempre o melhor remédio.

JOSÉ SERRA - Um país ensanduichado


Um país ensanduichado
JOSÉ SERRA
O Globo - 03/08/2011

O Big Mac é o sanduíche mais popular do mundo. Há um quarto de século, ano após ano, a revista "The Economist" faz comparações de preços entre diferentes países. Na edição desta semana, a tabela foi atualizada com base nos dados de 25 de julho, em dólares correntes. O resultado mostra que o Brasil tem o Big Mac mais caro do planeta depois da Suíça e da Suécia. Nessa matéria, somos, folgadamente, os campeões dos países emergentes: mais do dobro do que se cobra no México, o triplo do preço na Índia e 2,7 vezes o da China. Estamos à frente, inclusive, dos centros desenvolvidos: nosso sanduíche tem uma majoração de mais de 50% sobre o que se paga nos Estados Unidos, no Japão e na Inglaterra.

Procurando construir um índice que dê uma ideia mais realista da sobrevalorização ou da subvalorização das moedas locais, a revista inglesa deflacionou os preços do Big Mac nos países pesquisados segundo seu respectivo PIB per capita, concluindo que a moeda brasileira, o real, é hoje a mais sobrevalorizada do mundo. O gráfico da revista mostra com clareza: o Brasil é o ponto mais fora da curva.

Não é o caso de discutir aqui as limitações de um sanduíche como "cesta" que permite comparar países e desvios nas taxas de câmbio de suas moedas - vale dizer, as diferenças entre as taxas de câmbio nominal e real de cada um deles. Note-se, em todo caso, que comparações academicamente mais elaboradas, que utilizam índices mais completos, apontam na mesma direção dos índices do Big Mac.

Entre nós, hoje em dia, essa realidade permitiu pelo menos o reconhecimento da existência do problema, habitualmente negado durante ciclos anteriores de sobrevalorização. Da mesma forma, tem perdido força o argumento de que a apreciação permanente do real aumentaria a competitividade da nossa economia, ao baratear os insumos e os bens de capital importados.

Começa a haver, de fato, certo consenso a respeito dos prejuízos da sobrevalorização cambial para a economia brasileira: enfraquecimento das exportações de produtos industrializados e diminuição da competitividade da produção doméstica em relação aos produtos importados - dos automóveis aos biquínis. Estamos ensanduichados entre os juros e o câmbio.

Não é por menos, aliás, que o déficit da indústria de transformação com o exterior foi de US$21,2 bilhões no primeiro semestre de 2011, 50% mais do que no mesmo período do ano passado. Na metade inicial de 2005, havíamos chegado a um superávit de US$14,6 bilhões.

É no setor de turismo que a questão cambial se projeta de forma mais escandalosa. O (mal) chamado "real forte" tem sido um ventilador de alta potência a espantar os turistas estrangeiros e a acelerar o turismo brasileiro no exterior. Em 2010, o déficit do país nessa área foi de US$10,5 bilhões. No primeiro semestre deste ano, esse déficit aumentou em cerca de dois terços em relação à metade inicial de 2010!

Não tenho maiores reparos às medidas do governo que visam a diminuir a oferta de dólares no Brasil a fim de conter a valorização do real, mas sou cético quanto ao tamanho dos seus efeitos práticos. É o caso das providências da semana passada, com vistas a constranger a exuberância do mercado futuro de câmbio. São medidas que provavelmente serão contornadas pelos agentes econômicos, diante do brutal incentivo existente para trazer moeda estrangeira.

Para o governo, o problema se resume à abundância de dólares no mercado financeiro internacional, que tem levado a uma apreciação da moeda norte-americana em todo o mundo, não apenas no Brasil. Por certo, esse é um argumento eficiente para jogar nas costas da fatalidade os tropeços cambiais do Brasil, mas não para explicar o fato de que a apreciação da moeda brasileira foi e tem sido mais intensa do que nos outros países. Lembrem-se do Big Mac, vejam estudos acadêmicos e perguntem a qualquer turista brasileiro acostumado a percorrer o mundo.

O que tem exacerbado o vigor da sobrevalorização cambial no Brasil é um fator, digamos, endógeno: nossa taxa de juros é a maior do mundo em termos reais. Ela é cinco ou seis vezes maior do que a taxa média dos países emergentes, sem mencionar as dos centros desenvolvidos, onde é zero ou negativa. Esse é um poderoso motor de sucção de dólares: faz-se dinheiro fácil no paraíso financeiro brasileiro.

Querem um exemplo? Entre janeiro e maio deste ano, as filiais de multinacionais brasileiras emprestaram para suas matrizes US$16,5 bilhões, mais do que em todo o ano passado e cinco vezes o montante registrado em igual período de 2010. Já as matrizes das multinacionais estrangeiras mandaram para suas filiais no Brasil dez vezes mais do que o fizeram no ano passado, no mesmo período janeiro-maio. A troco de quê, senão para faturar com os juros mais altos do mundo? E como as autoridades econômicas vão controlar e impedir esses fluxos intercompanhias?

É preciso reconhecer que o problema dos juros não vem de hoje - mas tem sido agravado pelo fato de que o governo passado e o atual concentraram neles a responsabilidade exclusiva de deter a aceleração da inflação, via arrocho cambial. Enquanto isso, não se ocuparam de aplicar uma política fiscal consistente, de cuidar com mais rigor da desindexação, de ampliar mais rapidamente a infraestrutura. Falou-se muito; fez-se pouco.

Pesa, ainda, de forma decisiva o profundo equívoco da política econômica do governo anterior, que aumentou os juros na véspera da crise mundial anunciada, em setembro de 2008, e demorou quatro meses para rebaixá-los um pouquinho, apesar da verdadeira deflação de preços da economia brasileira, e na total contramão do que se fez no mundo. Tivesse atuado corretamente, as questões hoje seriam mais fáceis. Mas não se conta a história do que não aconteceu. E sempre se considere o fato de que os juros estelares e o nó cambial compõem a herança maldita recebida pelo governo Dilma do... governo Lula-Dilma.

ANCELMO GÓIS - Negócio da China


Negócio da China
ANCELMO GÓIS

O GLOBO - 03/08/11

Ontem, numa reunião com o pessoal da indústria para lançar o programa protecionista Brasil Maior, no Planalto, Dilma ficou passada ao saber, pelos empresários, que chineses tinham vencido uma licitação para fornecer fardas ao Ministério da Defesa: - Você está sabendo disso, Guido?!

Segue...
O ministro, um pouco sem jeito, ficou quieto. Dilma prosseguiu, na frente de todos: - Se a medida que nos permite pagar 25% a mais por produtos nacionais já estivesse em vigor desde que ficou pronta (em 2010), isso não aconteceria!

Aliás...
De um economista neoliberal ao saber da adoção desse sobrepreço de 25% para manufaturados e serviços nacionais, e ao ouvir Mantega dizer que “o mercado brasileiro deve ser usufruído pela indústria brasileira”: - Ué, pensei que a ideia era os brasileiros usufruírem da indústria nacional, e não serem usufruídos por ela...

Pendências fiscais
A compra da Schin pela japonesa Kirin surpreendeu muita gente boa. É que a cervejeira brasileira tem muitas pendências fiscais.

Gol contra
O “Le Figaro” de ontem dá um cacete no Brasil. Ao falar do fechamento do Santos Dumont sábado, por causa do sorteio da Copa, o jornalão francês disse que na terra de Dilma se dá mais valor a futebol do que a aeroporto. É. Pode ser.

Dólar barato
Com a invasão de brasileiros no exterior, foi-se o tempo em que artistas globais passavam despercebidos lá fora. Outro dia, Débora Falabella foi assediada por conterrâneos quando fazia compras na Apple na 5a- Avenida, em Nova York.

Vaquinha virtual
O documentário “Dzi Croquetes”, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez, sobre a trupe que virou símbolo da contracultura no Brasil, usa a internet para viabilizar sua candidatura ao Oscar. Os produtores fazem, pelo site http://kck.st/rqkCBR, uma vaquinha para realizar o sonho. É que, para concorrer, o filme tem de ser exibido num cinema americano ainda em 2011. Exibilo em Nova York e Los Angeles custa US$ 23 mil (R$ 40 mil).

Mas...
Se não conseguirem reunir o dinheiro todo, os produtores prometem devolver cada quantia doada pelos internautas.

Professora Thalita
Thalita Rebouças, a escritora amada pelos adolescentes, dará um curso, via webcam, pela internet, sobre a arte de escrever. As inscrições estão abertas pelo site iedb.com.br.

Garçom monitorado
Os garçons do bar Devassa da Rua Mariz e Barros, na Tijuca, no Rio, estão sendo submetidos a uma pequena tortura em seu trabalho. A casa pôs no braço dos profissionais um transmissor que vibra quando um cliente aperta o botão na mesa.

Segue...
A inventora da rebimboca é uma empresa chamada... 5s Soluções Inteligentes.

Freud não explica
A 7a- Câmara Criminal do TJ do Rio negou habeas corpus para a falsa psicóloga Beatriz da Silva Cunha e seu marido, Nelson Antunes de Farias Jr. Beatriz, lembra?, foi presa dia 27 de abril por comandar, há 12 anos, uma clínica para crianças autistas, em Botafogo, embora só tenha cursado dois períodos de psicologia.

Silveirinha vai a nado
O TJ do Rio doou à faculdade de oceanografia da Uerj duas lanchas que pertenciam a integrantes da quadrilha do ex-fiscal Rodrigo Silveirinha.

Mais uma faixa
A Avenida Marechal Câmara, no Centro do Rio, vai ganhar mais uma faixa para facilitar o acesso ao Centro via Aterro do Flamengo e Leopoldina.

Cofrinho da Quitéria
Quitéria Chagas, a Mulata do Gois hors-concours, enche o cofrinho (ela merece). Gravou no Sambódromo do Rio com o ator suíço Erich Voch um comercial em alemão das balas suíças Ricola.

GOSTOSA


CELSO MING - Plano fraco

Plano fraco 
Celso Ming 
O Estado de S.Paulo - 03/08/2011

Não basta nome pomposo e um pacote embalado na bandeira nacional para garantir um bom projeto. Esse Brasil Maior, título da nova política industrial do governo Dilma, sob cuidados do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, poderia vir na direção certa, não fosse tão magro e tão menor.

A frequentemente anunciada desoneração da folha de pagamentos se restringiu a setores que correspondem a menos de 20% do PIB industrial: confecções, móveis, calçados e software. O governo defende-se dessa timidez com a alegação de que não tem recursos para mais ambições, uma vez que a queda a zero da alíquota de contribuição para o INSS será só parcialmente compensada por uma contribuição sobre o faturamento (1,5% a 2,5%). Daí a opção por um plano piloto. Mais setores serão agregados aos poucos - sabe-se lá em que ritmo.

Se não há recursos para fortalecer a indústria, também não estão sendo tomadas providências agora para que haja no futuro. Mas isso é uma questão de escolha. Há dinheiro para o trem bala, que vai custar R$ 100 milhões por quilômetro, mas não para fortalecer a indústria.

Tanto o governo como boa parte dos empresários fazem um diagnóstico equivocado sobre a gradual perda de competitividade do setor produtivo brasileiro (e não só da indústria). Atribuem a encrenca à guerra cambial ou à excessiva valorização do real, que deixam o produto nacional caro demais, incapaz de concorrer em igualdade de condições aqui e lá fora.

E, no entanto, o maior problema não é o câmbio adverso. É o altíssimo custo Brasil, formado por uma pilha de itens adversos. É a insuportável carga tributária - não só nos impostos altos, mas, também, na sua complexidade, que exige a manutenção de custosos departamentos jurídicos. São os juros escorchantes; os enormes custos da infraestrutura (portos, estradas, armazenagem...); os altos preços da energia elétrica - embora na matriz energética do País prepondere a energia hidrelétrica, a mais barata. É o custo da burocracia, das telecomunicações... e por aí vão.

Esse alto custo Brasil não começou anteontem. Vem lá de trás, dos tempos do milagre econômico brasileiro do final dos anos 60. E, de lá para cá, só vem aumentando. Até quando pôde, o governo vinha dando câmbio (moeda nacional desvalorizada ante o dólar) para compensar esses custos. Assim, o dólar encareceu o importado e barateou as produções com custos contabilizados em moeda nacional. A novidade é que esse jogo acabou, dados a forte desvalorização do dólar, a globalização dos mercados e o forte afluxo de moeda estrangeira sobre o câmbio brasileiro.

Alguns empresários não disfarçaram o desapontamento. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, por exemplo, dispensou panos quentes: "O plano é inócuo. Tem de mexer no câmbio; baixar os juros", disse, após tomar conhecimento do nanico Brasil Maior. O presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, também não aplaudiu. Queixou-se de que o programa é "insuficiente".

Nem eles nem a maioria dos líderes da indústria diriam - como não disseram - que esse pacote não tem expressão por outra razão: porque vai endereçado, ao menos numa primeira fase, a setores que têm grande experiência em driblar o INSS e a Receita Federal. Logo, para quem já opera com certa isenção prática, essas desonerações não significam grande coisa.

Confira
Nas últimas semanas, cresceu a procura por segurança e pelo ouro. É o que explica a cavalgada das cotações mostrada no gráfico.

O próximo solavanco
A aprovação do acordo pelo Congresso americano evitou o calote. Mas expôs a fragilidade fiscal dos Estados Unidos. Não está demonstrada a sustentabilidade da dívida americana, cujo piso agora pode ser elevado. O próximo ator a se pronunciar são as agências de classificação de risco. Se o título do Tesouro do país for rebaixado, um furacão passará pelo mercado financeiro global.

ILIMAR FRANCO - Que faxina é esta?

Que faxina é esta? 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 03/08/11

A presidente Dilma deu uma vassourada nos Transportes por causa dos exorbitantes aditivos em obras. Ontem, o ex-ministro Alfredo Nascimento relatou que os escandalosos aditivos ocorreram quando o ministro Paulo Sérgio Passos dirigia a pasta no ano passado. Senadores petistas e aliados consideram incômoda a situação de Passos, escalado para fazer a renovação no ministério.

Previsão do tempo: nuvens carregadas
A promessa feita ontem pela ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), de que o governo está disposto a pagar R$ 1 bilhão em emendas individuais, não agradou aos líderes aliados. Eles esperavam que Ideli apresentasse um cronograma de liquidação das emendas até o fim do ano. Os líderes relatam que nos últimos 15 anos, em média, o Executivo costuma pagar de 15% a 20% das emendas individuais até julho e terminar o ano liquidando de 75% a 80% delas. Mas que, neste ano, já estamos em agosto, e o Executivo não liberou nada. O valor total das emendas individuais ao Orçamento de 2011 é de R$ 2,7 bilhões.

"É um troço inexplicável. Estou atrás deles e dos líderes” — Romero Jucá, líder do governo e senador (PMDB-RR), sobre o apoio de membros da base à CPI

OPERAÇÃO CPI. Logo após a oposição anunciar que tinha as assinaturas para uma CPI dos Transportes no Senado, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), pediu para o deputado Sérgio Carneiro (PT-BA) convencer seu pai, o senador João Durval (PDT-BA), na foto, a retirar sua assinatura da CPI. Carneiro, que é candidato do PT a ministro do TCU, garantiu que o pai retiraria o apoio. Dito e feito, Durval mudou de posição.

DDI
 O presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), foi acionado em Londres para participar da operação do governo para derrubar a CPI. Ontem mesmo o senador Reditário Cassol (PP-RO) atendeu aos apelos para retirar sua assinatura.

Opinião pública
 Procurado pelo líder do PMDB, Renan Calheiros, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) disse que não tinha como retirar seu apoio à CPI. Isso porque supostas irregularidades na obra da BR- 101 tiveram grande repercussão no Espírito Santo.

Sobrou para o PT

 O PT do Senado, e seu projeto de fazer o sucessor do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), sai derrotado da crise nos Transportes, que resultou na saída do senador Alfredo Nascimento (PR-AM) do ministério. Ontem, os senadores do PR anunciaram que o partido vai abandonar o bloco liderado pelo PT. Os petistas só foram dar apoio a Nascimento depois de a oposição registrar a ausência deles no plenário.

Mesma tática

 A exemplo da Câmara, os senadores do PT vão apoiar os convites para os ministros irem explicar as denúncias no Senado. Alegam que, se a presidente Dilma está apostando na faxina, eles é que não vão botar a cara a tapa na opinião pública.

Brasil menor
 O governador Omar Aziz (AM) vai hoje à presidente Dilma para discutir a desoneração da folha para o setor de softwares, que integra o programa Brasil Maior. A preocupação é com o impacto na Zona Franca de Manaus.

rar a indústria do sufoco, porque persistem problemas a serem sanados, como o câmbio, os juros altos e a elevada carga tributária.”
 O MINISTRO Nelson Jobim (Defesa) participou ontem de uma reunião sobre o Plano Nacional de Fronteiras com o vice Michel Temer.
● O RELATÓRIO do deputado Henrique Fontana (PT-RS) sobre reforma política vai propor a extinção do cargo de suplente de senador, que seria substituído pelo deputado federal mais votado do mesmo partido.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Alívio
SONIA RACY
O ESTADÃO - 03/08/11

Ótima notícia para os homens. Médicos do HC desenvolveram técnica pioneira no mundo para tratar grave problema da próstata: a hiperplasia benigna, que pode levar ao fechamento da uretra. Hoje, o mal atinge cerca de 50% dos homens acima de 50 anos e é tratado com medicamentos ou cirurgia de desobstrução do canal - cuja internação dura, em média, três dias.

O novo procedimento ("embolização") é muito menos invasivo, sem anestesia geral, e o paciente pode receber alta no mesmo dia.

Alívio 2

Desde o começo da pesquisa, desenvolvido por Francisco Carnevale, do HC/USP, o sucesso foi de 91%.

Em setembro, pesquisadores da Europa e dos EUA vão conduzir o mesmo estudo, sob coordenação do grupo brasileiro - que conta com Alberto Antunes, do HC, e chancela de Miguel Srougi e Giovanni Cerri.

Pomo da discórdia

Palocci já se mudou para seu apartamento novo.

Tempo de crescer

Terminado o tempo estabelecido vetando competição, consta que ex-sócios do Pactual, lotados no fundo Plural, estão interessados no Banco Modal.

Na costura

Alexandre Raposo, presidente da Record, tem dito a amigos que pretende mover ação de R$ 20 milhões contra Datena.

Por quebra de contrato.

Velhinhos

Ação da Subprefeitura da Vila Mariana, baseada na Lei do Zoneamento, atingiu a Associação dos Familiares e Amigos dos Idosos.

Exige o fechamento do seu Centro-Dia de Cuidados ao Idoso, localizado em zona residencial.

Carmen Marza, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos dos Idosos, entrou ontem com mandado de segurança. Argumenta que o estabelecimento é residência multifamiliar e não estabelecimento comercial.

Descarrego

Campanha Nacional do Desarmamento recolheu o dobro do que aPolícia Federal nos primeiros cinco meses do ano: 2,2 mil armas. Entre elas, 38 fuzis, 495 carabinas e 1.650 espingardas.

Rei

Roberto Carlos disse sim. Será protagonista da próxima campanha do Credicard.

Rei 2

Patriota recebeu carta da equipe do Rei elogiando o trabalho de duas embaixadoras. Maria Elisa Berenguer, de Israel, e Ligia Maria Scherer, da Palestina.

Elas ajudaram a viabilizar o show de RC em Jerusalém.

Quem vai

Fernando Meirelles parte para Londres. Finaliza, por lá, seu novo longa, 360. Por aqui, os efeitos visuais são da O2 Filmes.

Dólar em pé

Ainda confuso, o mercado de câmbio. Mas, como bem disse Nelson Barbosa a interlocutores semana passada, a Fazenda fez o que tinha de fazer sem maiores consultas, porque essa seria a única maneira de as medidas serem editadas.

E depois ajustá-las à realidade.

Na frente

Mais informações da Vox Populi sobre candidatos à Prefeitura de SP. Além de vencer em todos os cenários na pesquisa, Marta Suplicy ganha também entre os jovens de 16 a 24 anos. Tem 40% da preferência dos entrevistados. Serra tem 15%.

Em ação pró-Dia dos Pais, a Ermenegildo Zegna faz evento amanhã produzindo gravatas... à mão. No Lounge One, no Iguatemi.

A ocupação hoteleira em São Paulo bateu recorde em junho: 74,97%.

MÔNICA BERGAMO - EU VOU PARTIR

EU VOU PARTIR
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 03/08/11

Nova mudança na Fundação Nemirovsky: o advogado Arnoldo Wald, que depois de longa batalha jurídica substituiu o arquiteto Jorge Wilheim na presidência do conselho da instituição, em maio, acaba de renunciar. Em caráter "irretratável" e "irrevogável".

TEMPO
Ele enviou carta comunicando a decisão no dia 27. Diz que não tem tempo de se dedicar à Fundação, detentora de um dos mais importantes acervos modernistas do país, com quadros de Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral e Portinari. E afirma que seu afastamento nada tem a ver com a decisão da família Nemirovsky de nomear José Dirceu como patrono da coleção.

ENDEREÇO
Dirceu, por sinal, já enviou emissários para agendar encontro com Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca. É lá que a coleção está abrigada, em comodato. Quando foi escolhido patrono, o petista anunciou que pretendia encontrar imóvel para fundar um Museu Nemirovsky, levando para lá as obras de arte.

ELITE MÉDICA
O câncer de Hugo Chávez foi avaliado por dois -e não apenas um- grandes urologistas brasileiros. Além de Miguel Srougi, também o médico Sami Arap, do hospital Sírio-Libanês, foi procurado para analisar o caso.

Os dois são especialistas em câncer de próstata. Eles não comentam o assunto.

XADREZ
Chávez não revela o tipo de câncer que está combatendo. Só em casos excepcionais tumores na próstata são tratados também com quimioterapia, diz um terceiro médico brasileiro que teve contato com o caso. As informações que chegaram ao Brasil são inconclusivas.

TOGAS NO AR
A Agência Radioweb começará hoje a operar a Rádio Justiça, doSupremo Tribunal Federal.

Substitui a Fundação Padre Anchieta, que administra a TV Cultura e deixou há algum tempo de prestar serviços terceirizados.

EM MOVIMENTO
Marina Silva e Heloísa Helena (PSOL-AL) conversaram "rapidamente por telefone" sobre o "movimento pela nova forma de fazer política" que a ex-presidenciável do PV encabeça. "Ela disse que gostaria de participar, o que não significa que sairá do PSOL. O movimento é suprapartidário", diz Marina.

NEGROS DA GUANABARA
O secretário de Cultura do Rio, Emilio Kalil, vai fazer um Museu Afro na cidade. Conversou recentemente com Emanoel Araujo, diretor da sede paulista, após a "comoção" que sua exposição sobre a arte do Benin causou entre os cariocas. Kalil quer erguer o museu no edifício do Centro Cultural José Bonifácio, na Gamboa.

COMPASSO
O arquiteto Arthur Casas contratou um show de Angela Ro Ro para sua festa de 50 anos no dia 11, em SP, no Café Uranus. A noiva de Casas, Lígia Costa, também celebrará seu aniversário de 30 anos.

XORORÓ
'QUE PAI GOSTA DE LER AQUILO?'

Fotos Eduardo Anizelli/Folhapress

Sandy

Na gravação do DVD de 40 anos de carreira da dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó, anteontem, na Sala São Paulo, o assunto que dominou os bastidores foi a declaração de Sandy à próxima edição da revista "Playboy": "É possível sentir prazer anal".

No camarim, de smoking, Xororó, pai da cantora, ainda não leu a entrevista da filha -a revista chega às bancas na próxima semana e só divulgou a sua capa, em que a frase se destaca. "Que pai que gosta de ler aquilo?", diz ele. "Fiquei triste com a maneira como [a frase] foi colocada. Estou há dois meses focado no DVD, não tive tempo de acompanhar. Mas conheço minha filha e sei o que ela falou", afirma ele, endossando a versão de Sandy de que a declaração foi publicada fora de contexto.

O marido dela, Lucas Lima, minimiza. "Não é traumático. Nem para mim nem para ela. Eu jamais chamaria isso de crise. Foi uma piada, até entrou para os trending topics do Twitter." Ele acredita que o assunto logo estará encerrado. "Somos de uma geração que cresceu com a internet, então estamos acostumados e sabemos como acaba rápido. Já vai passar."

A cantora declarou não estar arrependida. "Do quê?! Não sou eu que faço o título da capa da revista." Sem entrar em detalhes, Sandy alega que a frase foi "tirada de contexto" e que a imprensa é "sensacionalista".

Na entrada do camarim da Sala São Paulo, Caetano Veloso cumprimenta a amiga e parceira de shows, Maria Gadú. "Eu tava gripadaço, mas agora a gripe foi embora e só ficou na garganta", disse o cantor. Gadú então elogiou a gravata de tricô que Caetano usava. "Gostou? É minha gravata porco-espinho", brincou ele. Na sequência, os dois ficaram chamando um ao outro de "elegante".

CASA DOS ARTISTAS
Os artistas Luciana Araújo, Stephan Doitschinoff e Tristan Rault circularam pelas mostras "Perturbo" e "MCD Lab #3" na abertura da galeria Logo, em Pinheiros. O espaço é comandado por Carmo Marchetti, Marcelo Secaf e Lucas Pexão.

CURTO-CIRCUITO

A atriz Cristina Mutarelli dirige os shows do compositor Luiz Millan, hoje e amanhã, às 20h30, no Sesc Pinheiros. Dez anos.

Emilio Orciollo Netto e Paula Cohen reestreiam a peça "Os Difamantes" na sexta, às 21h, no Teatro Gazeta. Classificação: 12 anos.

Anca Gavris faz hoje coquetel para comemorar o encerramento de sua mostra "Arte na Natureza e a Natureza da Arte", que acaba na sexta no Espaço Cultural Citi.

O Vínica Grand Tasting acontece no dia 9, às 15h30, no B4 Lounge.

Adda Di Guimarães está fazendo venda especial de discos raros em sua banca, A Cena Muda, no Rio.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

JAPA GOSTOSA

ANTONIO DELFIM NETTO - Distorções


Distorções
ANTONIO DELFIM NETTO
FOLHA DE SP - 03/08/11

Analistas que se pensam portadores da "verdadeira" teoria econômica fizeram duras críticas às medidas complementares que, em legítima defesa, foram anunciadas pelo ministro da Fazenda.
Ninguém discute que seu uso precisa de moderação, porque tem larga influência na economia. As críticas mais ferozes, entretanto, foram fundadas numa proposição absolutamente infundada: que a liberdade de movimento de capitais está implícita na natureza das coisas, como as "vantagens comparativas".
Por que infundada? Porque, em primeiro lugar, com relação ao comércio de bens, a teoria das vantagens comparativas é pouco mais do que uma relação aritmética engenhosa, verdadeira por definição. Em segundo lugar, porque a sua extensão ao movimento de capitais é apenas mais uma das analogias despropositadas com frequência negadas empiricamente.
Basta dizer que uma de suas conclusões é que elas fluiriam para seu uso mais produtivo, como investimento físico, para os países com maior taxa de retorno físico, maximizando, assim, a taxa de crescimento mundial! Trata-se de pura teologia com chance de tornar-se "ciência" somente num mundo habitado por anjos...
O que revela a ampla, geral e irrestrita liberdade de movimento dos capitais? Apenas que ela, devido à flutuação do comportamento dos intermediários financeiros internacionais e da sua tendência à imitação e ao comportamento de "manada", cria movimentos destrutivos de "euforia" e "depressão" que perturbam as economias que, por motivos reais ou imaginários, escolhe como "bolas da vez".
Compromete a sua política monetária e retira da taxa de câmbio o papel decisivo de "preço relativo" que mantém em equilíbrio o balanço em conta-corrente. Até o FMI reconheceu isso, surpreendido pela crise de 2007-09.
São fatos claramente confirmados pela crise asiática de 1997-98 e, agora, no Brasil e em outros emergentes. Estes tornaram-se refúgio de incansáveis e espertos capitais bucaneiros sempre à procura de maior lucro financeiro. Retorno de qualquer natureza, menos o produzido pelo efetivo investimento direto que aumenta a oferta de bens e produtos, os únicos que realmente interessam aos emergentes.
Há dois sistemas financeiros: 1) o que está a serviço do processo produtivo de bens e serviços e é indispensável para o desenvolvimento econômico e 2) o que é um fim em si mesmo, controla o poder político dos Estados nacionais e, mais dia, menos dia, interrompe o "circuito econômico".
Não deixa de ser curioso ouvir que as medidas tomadas "causam distorções". Distorções em relação a quê? Ao sistema financeiro das "inovações", que se transformou em arma de destruição em massa?

JOSÉ SIMÃO - Ueba! Obama! Yes, We Cano!

Ueba! Obama! Yes, We Cano!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 03/08/11

Avisa o Obama que "fiado, só amanhã!". A Dilma vai vender o PAC pra ele: Program to Avoid Calote

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Predestinado Urgente: novo técnico do América de Minas Gerais, Milagres! Sai Antônio Lopes e entra o Milagres. Pra salvar o América. Esse Milagres tinha que salvar a América do Norte!
Avisa o Obama que "fiado, só amanhã!". Se Obama voltasse pro Brasil, este seria o telão na Cinelândia: "Fiado, só amanhã!" E diz que a Dilma vai vender o PAC pra ele: Program to Avoid Calote!
E se a gente tiver que pagar a dívida por eles, favor mandar o boleto com pelo menos dez dias de antecedência. E o novo e bombástico slogan do Obama: "Yes, We Cano". E adorei a charge do Aroeira com a placa no portão da Casa Branca: "Vende-se! Porteira fechada. Tratar aqui". É por isso que a Michele tava fazendo campanha contra obesidade. Vão ter que apertar os cintos. Rarará!
E a manchete do Piauí Herald: "Governo chinês aceita rolar dívida americana, mas exige Angelina Jolie como garantia". Rarará! Em Hortolândia tem uma loja em homenagem ao Obama: "Barato Obama! Tudo por menos de R$ 10".
E tem também o Buraco Obama. O Obama foi pro buraco! Rarará! E já reparou que todo republicano tem cara de caubói velho? E todo democrata tem cara de amendoim? Carter, Clinton, Obama!
E a Valesca Popozuda? Um amigo me disse que o traseiro da Valesca Popozuda é usado como abrigo antiaéreo. E que a bunda da Popozuda parece extensão de pista de porta-aviões americanos.
E esta: "Saudita quer construir torre mais alta do mundo com ajuda do Grupo Bin Laden". Pra quê? Pra ele derrubar de novo? Rarará! E a gente esqueceu que domingo foi Dia Mundial do Orgasmo! E como você passou o Dia Mundial do Orgasmo? Tendo-os!
E os diferentes tipos de orgasmo. Orgasmo da desinformada: "Ai, meu Deus, o que é iiiiiissso, o que é iiiiisso?!". Orgasmo da suicida: "Vou morrer! Vou morrer!". Orgasmo da homicida: "Se você parar, eu te mato, eu te mato!". Orgasmo da mulher casada há dez anos: "A empregada esqueceu de limpar o lustre, o teto tá manchado". E o mais infame, o orgasmo da sorveteira: "Ai kibon, ai kibon". Por isso que eu sempre digo: nóis sofre, mas nóis goza. E gostoso!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

RUY CASTRO - Eterno e moderno


Eterno e moderno
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 03/08/11

RIO DE JANEIRO - Até 1960, toda enquete sobre os "maiores filmes do cinema" teria pelo menos um título de Charlie Chaplin entre os dez finais -"Em Busca do Ouro" (1925), "Luzes da Cidade" (1931) ou "Tempos Modernos" (1936). Havia quem votasse nos três. Num espectro de, digamos, cem filmes, "O Garoto", de 1921, "O Grande Ditador", de 1940, e mesmo "Monsieur Verdoux" (1947) também costumavam aparecer. Sem contar suas obras-primas em curta e média-metragem, que não eram votadas.
Mas, desde então, mudou a maneira de enxergar o cinema. Alguns cineastas perderam prestígio (Vittorio De Sica, René Clair, Erich von Stroheim), outros ganharam (Hitchcock, Jean Vigo, Billy Wilder). Filmes como "Casablanca" e "Cantando na Chuva" passaram a estrelar listas para as quais nunca tinham sido convidados. Com a ascensão de novos nomes (Fellini, Godard, Bergman), Chaplin desapareceu de muitas listas. Chocante para quem, nos anos 20 e 30, era tido como o maior artista do mundo.
Uma exposição dedicada a Chaplin chegará a SP em outubro, trazida pelo Instituto Tomie Ohtake. Conterá fotogramas, fotos, storyboards e cartazes, abrangendo sua vida e obra. Ótimo. Tal mostra seria mais bem aproveitada se seus frequentadores conhecessem bem os filmes a que se refere. Mas eles não serão exibidos. Se o leitor já viu "Luzes da Cidade", levante o dedo.
Todo o melhor Chaplin foi feito sob a égide do cinema mudo. Mesmo quando os filmes começaram a falar, em 1927, Chaplin manteve Carlitos em silêncio. Daí, acusaram-no de conservador. Hoje, com a tecnologia que permite desmembrar uma imagem, descobre-se que, ao contrário, Chaplin adotava os recursos mais modernos.
O DVD de "Tempos Modernos", de 2010, pela americana Criterion, revela a riqueza de efeitos especiais neste filme -invisíveis a olho nu e, até por isso, ainda mais geniais.

BRAZIU: O PUTEIRO

ELIO GASPARI - Os EUA iam acabar em 1861


Os EUA iam acabar em 1861
ELIO GASPARI 
FOLHA DE SP - 03/08/11

Há mais de 200 anos, quem acaba são seus adversários, como a escravidão, o fascismo e o comunismo


Os Estados Unidos iam acabar. Não nesta semana, mas há exatos 150 anos, depois que as tropas do Sul venceram em Manassas a primeira grande batalha da Guerra Civil. Grandes políticos ingleses, bem como "The Economist" e "The Times" (pré-Murdoch), achavam que o presidente Lincoln forçara a mão com o Sul. Quatro anos e 620 mil mortos depois, a União foi preservada e acabou-se a escravidão.
Passou pouco mais de meio século e, de novo, os Estados Unidos iam acabar. A Depressão desempregou 25% de sua mão de obra e contraiu a produção do país em 47%. A crise transformou fascismo e nazismo em poderosas utopias reacionárias. De Henry Ford a Cole Porter, muita gente se encantou com o ditador italiano Benito Mussolini. Dezesseis anos depois, as tropas americanas entraram em Roma, Berlim e Tóquio.
Em 1961, quando os soviéticos mostraram Yuri Gagarin voando em órbita sobre a Terra, voltou-se a pensar que os Estados Unidos iam se acabar. Em 1989, acabou-se o comunismo.
A decadência americana foi decretada novamente em 1971, quando Richard Nixon desvalorizou o dólar, ou em 1975, quando suas tropas deixaram o Vietnã. O dólar continua sendo a moeda do mundo, inclusive para os vietnamitas.
A última agonia, provocada pela exigência constitucional da aprovação, pelo Congresso, do teto da dívida do país, foi uma crise séria, porém apenas uma crise parlamentar. Para o bem de todos e felicidade geral das nações, não só os Estados Unidos não se acabam, mas o que se acaba são os modelos que se opõem ao seu sistema de organização social e política.
No cenário de hoje, o ocaso americano coincidiria com a alvorada de progresso e eficácia da China. Lá, o teto da dívida jamais será um problema. Basta que o governo decida. Como lá quem decide é o governo, nos últimos cem anos o Império do Meio passou por dois períodos de fome que geraram episódios de antropofagia. Hoje a China não tem os problemas dos Estados Unidos, afinal, nem desastre de trem pode ser discutido pela população.
Guardadas as proporções, o sistema político brasileiro seria melhor que o americano, porque não haveria aqui a crise parlamentar provocada pelo teto da dívida. Se houvesse, o Brasil não teria quebrado nos anos 80 por ter tomado empréstimos dos banqueiros que ajudaram a criar a encrenca que hoje atormenta Washington.
Aquilo que parece uma crise da decadência é uma simples e saudável manifestação do regime democrático. Quando os negros americanos foram para as ruas, marchando em paz ou queimando quarteirões, também temeu-se pelo futuro do país. O que acabou foi a segregação racial.
Se hoje há uma crise nos Estados Unidos, ela não está nas bancadas republicanas ou mesmo na influência parlamentar do movimento Tea Party. Eles defendem o que julgam ser o melhor caminho para o país. A crise está em outro lugar, na negação, por um tipo de conservadorismo extremado, dos valores que fizeram da nação americana o que ela é. Quando o governo Bush sequestrou suspeitos pelo mundo afora, levando-os para centros de tortura, e viu-se obrigado a soltar alguns deles porque não eram o que se pensava, aí sim, os Estados Unidos estavam em perigo.

MARCIA PELTIER - Extras rotineiros

Extras rotineiros 
MARCIA PELTIER
JORNAL DO COMMÉRCIO - 03/08/11

Na boa fase do mercado de trabalho brasileiro, reter talentos se tornou o maior desafio para as empresas. Levantamento feito pela Hays, consultoria especializada em recrutar executivos para média e alta gerências, apontou que 63% das empresas consultadas oferecem com o objetivo de fidelizar os funcionários e evitar os pedidos de demissões.

No pacote
Quando comparadas a alguns países europeus, as empresas brasileiras são as que mais oferecem benefícios: cerca de 92,6% disponibilizam itens como seguro de vida, telefone celular e carro extra. Na Itália, 90% dos grupos oferecem esses adicionais, enquanto que em Portugal a média é de 85%. Já na Espanha, apenas 69% dos colaboradores recebem regalias extras das companhias.

Sem conciliação

O advogado Cristiano Martins, do escritório Teixeira, Martins e Advogados, confirma que os irmãos Daniela, José Augusto e Gilberto Schincariol Junior vão contestar judicialmente a venda de 50,45% da Schincariol para a japonesa Kirin. “Houve uma violação do estatuto social da companhia e não foi garantido aos meus clientes o direito de preferência”, afirma. Adriano e Alexandre Schincariol, segundo ele, deveriam ter comunicado a intenção de venda aos primos e só depois de um mês poderiam ter ido ao mercado. Além disso, eram obrigados a informar todas as ofertas feitas, na eventualidade do trio querer cobri-las. Mas nada disso foi feito.

Descaso

Miles Davis merecia herdeiros mais à altura da importância do seu legado musical. Seus filhos Cheryl e Erin, que viriam abrir a exposição do gênio do jazz, segunda, no CCBB do Rio, não conseguiram deixar o aeroporto de Los Angeles. Apesar de avisados pela produção, não providenciaram vistos para os seus passaportes. Cheryl, aliás, nem levou o seu para o aeroporto.

‘Green business’

A Johnson & Johnson vai entrar na onda verde. A empresa começa a produzir plástico a partir da cana-de-açúcar para o verão de 2012. Vai lançar embalagens recicladas e ecológicas dos protetores solares Sundown.

Amigo do rei

Carlos Colla, um dos compositores mais gravados por Roberto Carlos – exatas 44 canções no repertório do Rei, dentre as quais Sonho lindo e Falando sério – lança, nesta sexta, na Travessa do Leblon, seu primeiro romance, A namorada. Aos 67 anos, Colla está numa fase de grande criatividade. Finaliza um musical, Copacabana, que aborda um triângulo amoroso entre o dono de moral discutível de uma casa noturna, que será vivido por Elymar Santos, a bailarina da boite e o barman, personagem que será entregue a Ricky Vallen.

Boas lembranças

Em paralelo, ele também trabalha num CD que se chamará, claro, As canções que eu fiz para o Rei. Hoje, após 40 anos de amizade, Colla admite com certa nostalgia que já foi mais próximo de Roberto, com quem conversava longamente por telefone. Os dois ainda se encontravam muito no Iate Clube, onde RC brincava com o tamanho do barco de Colla. “Vende essa cuia para mim, vou transformar em salva-vidas do Lady Laura”, Roberto costumava dizer para ele.

Princesa e médica

Será neste sábado o casamento da princesa Maria Elizabeth de Orleans e Bragança, filha de Claudia e dom Francisco de Orleans e Bragança, no Outeiro da Glória. A pediatra, que se divide entre o Fernandes Figueira e o Hospital da Mulher, em São João de Meriti, se casará com o cirurgião plástico Pablo Trindade de Sousa. A festa será no Alto da Boa Vista, onde a bateria da Mangueira está sendo aguardada. É que o avô da noiva, Eurico Godinho, foi dono do Café Paulista, que funcionava na vizinhança da verde e rosa e costumava abrir, com sua contribuição, o livro de ouro do carnaval da escola.

Close no telão

Os bem-vestidos que forem ao Grande Prêmio Brasil do próximo domingo, além de concorrem ao prêmio de mais elegante do evento, ainda poderão contar com a sorte de aparecer com destaque para o público do Jockey Club. É que será instalado um telão de LED de 6m por 4m que não só mostrará imagens da corrida, como, também, takes das tribunas e das celebridades.

Livre Acesso

A coleção primavera 2011 da Bobstore, inspirada em Yves Saint-Laurent, terá desfile, hoje, na loja do Rio Design Barra, comentado por Iesa Rodrigues.

Roberto Nicolsky, diretor geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica, assume, amanhã, a pró-reitoria de extensão do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste.

A Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro realiza, de amanhã a sábado, a 28ª edição do seu congresso de cardiologia. Os principais cardiologistas do país vão se reunir no Hotel Intercontinental Rio, em São Conrado, para debater temas que envolvem tecnologia e inovação na prática clínica diária.

Com três anos em cartaz e mais de 200 mil espectadores, a peça Casar Pra Quê?, acaba de ter sua temporada prorrogada até o dia 28, no Teatro Fashion Mall. As sessões às sextas e sábados são às 21h30 e, aos domingos, às 20h.

Daniel Novick e a banda Minha Terra participam, hoje, de concurso no Multifoco, na Lapa.

André Ramos e Bruno Chateaubriand abrem a casa na Gávea, nesta sexta, para festejarem o aniversário da amiga Fran Hochmuller.

Gilberto Amaral teve os seus 55 anos de tevê comemorados com jantar oferecido por Marco Aurélio Costa no Piantella, em Brasília

Com Marcia Bahia, Cristiane Rodrigues, Marcia Arbache e Gabriela Brito

DORA KRAMER - A esmo no lodaçal


A esmo no lodaçal
DORA KRAMER

 O Estado de S.Paulo - 03/08/11

Pode ser que seja apenas choro de perdedor. Mas pode ser também que tenham fundamento as denúncias de Oscar Jucá, o irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá, demitido na diretoria financeira da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) por autorizar irregularmente o pagamento de dívida de R$ 8 milhões a empresa registrada em nome de dois "laranjas".

Ele acusa o próprio ministro na Agricultura, Wagner Rossi, de comandar um esquema de corrupção "pior" do que aquele que levou o governo a promover 27 demissões no Ministério dos Transportes.

Rossi é do PMDB - partido que ocupa três das cinco diretorias da Conab - e foi indicação direta do vice-presidente Michel Temer. A acusação, se verdadeira, atingiria o partido que na semana passada chegou a redigir uma nota oficial exortando os "órgãos de controle" a cumprirem seu dever de fiscalizar sem dó nem piedade todas as suspeitas irregularidades na administração federal, envolvendo o PMDB ou qualquer outro partido da coalizão governamental.

Os pemedebistas estavam especialmente desconfortáveis com versões de que seriam poupados da ofensiva ética para evitar retaliações ao governo no Congresso. Da nota não se teve mais notícia - pelo visto achou-se por bem não oficializar por escrito a defesa da transparência.

O governo, de seu lado, rechaçou desconfianças de que a limpeza poderia ser seletiva, limitando-se ao mal-afamado e combalido PR. "Vai continuar", repetiu várias vezes a presidente Dilma Rousseff sempre que lhe perguntaram sobre sua disposição de mudar o escopo da obra do fisiologismo.

"Nenhum ato (de corrupção) será tolerado", começou a semana dizendo Gilberto Carvalho, garantindo que o governo iria "para cima" quando houvesse denúncias.

Pois bem, surgiu uma com nome e sobrenome do denunciante, que aponta a existência de um balcão de negócios no Ministério da Agricultura.

Do partido até outro dia indignado com ilações ao seu respeito o que se ouviu foi um pedido de desculpas feito pelo irmão do acusador à presidente.

Célere no caso dos Transportes, o Palácio do Planalto quedou-se inerte diante do PMDB, a quem atribuiu a tarefa de "resolver" o problema. Da parte de quem transmitiu à sociedade a impressão de que o rigor seria a palavra de ordem de agora em diante, seria de se esperar alguma atitude.

Ao menos o anúncio da determinação de apurar se o que disse Oscar Jucá é passível de investigação ou se as acusações, na visão da presidente, são denúncias vazias.

A falta de clareza e de firmeza no trato do episódio que põe na berlinda o PMDB elide a credibilidade da presidente da República. Mais: levanta a suspeita de que o PR pode ter sido escolhido a esmo no meio do lodaçal para fazer o papel de contraponto numa investida meramente promocional da imagem de Dilma Rousseff.

Bom entendedor. O senador Alfredo Nascimento, ex-ministro dos Transportes, disse ontem no Senado que todos os aumentos de preços em obras do PAC foram feitos enquanto Dilma e ele estavam afastados para concorrer à Presidência e ao Senado, respectivamente.

Ou seja, durante a campanha eleitoral sobre cujas arrecadações se lançam suspeitas recorrentes.

Em andamento. A propósito de artigo sobre a ausência de ação da Polícia Federal nos casos dos demitidos do Ministério dos Transportes, o Ministério da Justiça informa que a PF está analisando cada um deles para verificar se há necessidade de abertura de novas investigações ou se podem ser enquadrados nos mais de 80 inquéritos já abertos envolvendo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Valec, empresa encarregada das ferrovias.

Parada técnica. A partir de amanhã e pelos próximos dez dias. Até a volta em 15 de agosto.

JOSÉ NÊUMANNE - Travessuras bilionárias de Juquinha e Jucazinho


Travessuras bilionárias de Juquinha e Jucazinho
JOSÉ NÊUMANNE
O Estado de S.Paulo - 03/08/11

Suas endiabradas traquinagens, muitas das quais impublicáveis, fizeram do travesso Juquinha o protagonista-mor de piadas de botequim. Mas o simples acréscimo do epíteto "da Valec" faz corar nosso assunto habitual de mesas de bar como se fosse um inocente coroinha carola. A Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S. A. está longe de ser um chiste: no ano passado, a empresa foi aquinhoada no Orçamento da União com R$ 5,1 bilhões, menos de um terço dos mais de R$ 17 bilhões de que ora dispõe para construção ou concessão de obras ferroviárias. A joia mais cara da coroa é a Ferrovia Norte-Sul, que ligará a Amazônia ao Sudeste por trilhos, com mais de 3 mil quilômetros de extensão. Conforme a IstoÉ, o Ministério Público, baseado em perícia da Polícia Federal, acusou Juquinha e outros diretores da estatal e empreiteiros de terem desviado R$ 71 milhões num trecho de 105 quilômetros.

Jucazinho não tem um apelido tão popular como o de Juquinha, mas esse simpático substantivo próprio no diminutivo lhe garantiu sombra e água fresca ao longo dos governos federais recentes. Juquinha não mais usufrui as vantagens de pertencer à Corte e Jucazinho também caiu em desgraça: foi demitido da direção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), acusado de ter autorizado - sem permissão e com verba que não poderia ser usada para o fim a que foi destinado - um pagamento para suposta empresa de fachada. Oscar Jucá Neto foi derrubado após denúncia de outra revista semanal, a Veja, sucumbindo, enfim, a pesado bombardeio com fogo concentrado em sua cadeira partindo de canhões poderosos da República. A começar do próprio chefe, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, aliado notório do chefão do PMDB nacional, o vice-presidente Michel Temer. Confirmando a lógica implacável do governo Dilma, rola pelo menos uma cabeça coroada depois de uma denúncia - a conta no Ministério dos Transportes chega a 27.

Guindado do anonimato pelo ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto (PMDB), Juquinha tem origem política em Goiás e reclama que seu envolvimento no escândalo lhe frustrou o sonho de governar ou ser senador por seu Estado de origem. Não é uma gracinha?

Jucazinho, ao contrário, não tem carreira nem pretensões políticas. Irmão mais novo de Romero Jucá - pernambucano que fez fortuna em Roraima, elegendo-se para o Senado e se tornando figurão de administrações federais teoricamente adversárias, de Fernando Henrique e Lula da Silva -, sempre atuou sob a vasta e confortável sombra fraterna. Não teve de fazer como Juquinha, forçado a mudar de legenda para ficar no comando da locomotiva burocrática: do PMDB, pelo qual se elegeu deputado federal em Goiás em 1995, para o PSDB de Henrique Meirelles e para o PL, que virou PR, tornando-se correligionário de Alfredo Nascimento e de toda a cúpula do Ministério dos Transportes. Para manter a "boquinha", Jucazinho só continuou sendo irmão do "Jucazão".

Mas tantas Jucazinho fez que nem o extraordinário talento de prestidigitador do mano mais velho logrou evitar sua degola. Só que o moço tombou de metralhadora em punho e atirando nas páginas da mesma Veja que o desgraçou. À revista que o delatou ele denunciou a existência de um esquema de corrupção e desvio de recursos na Conab ainda maior que o do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). À cabeça do esquema estaria, segundo garantiu, o próprio ministro Wagner Rossi, do PMDB do inimigo. Como sói ocorrer em denúncias do gênero, a verrina não foi acompanhada de uma provinha qualquer. Nada, nada, nada! Diante disso, o ministro veio a público e acusou o irmão do líder de querer transformar a própria queda em caso político, "apenas uma retaliação".

É no que dá o Brasil estar entregue a um regime de governo híbrido tocado na base da "governabilidade": isso implica o loteamento de cargos importantes da administração federal (até mesmo Ministérios) entre os grupos que controlam os partidos de apoio ao governo, que os coopta com cargos para votarem a favor das próprias pretensões. Juquinha e Jucazinho protagonizam a tragédia da corrupção tolerada. No primeiro caso, a Procuradoria da República, cuja função é zelar pelo bom uso do patrimônio público, valeu-se de laudo da Polícia Federal, subordinada ao Ministério da Justiça, para acusar o burocrata que comandou o destino de um enorme quinhão da poupança nacional de a estar dilapidando - acusação que ele tratou com desdém: "No Brasil é um remando pra frente e dez remando pra trás".

Ao se defender da delação do ex-subordinado, o ministro da Agricultura apelou para a lógica aristotélica elementar: se na Conab só "tem bandido", conforme disse o irmão do líder do governo, por que ele ficou lá um ano e pouco e então só tinha elogios a fazer? Como escreveria Nelson Rodrigues, "batata!"

Restam, contudo, outras dúvidas a levantar sobre Juquinha, Jucazinho e todos os demitidos do Ministério dos Transportes. Que condições tem Alfredo Nascimento de reassumir sua cadeira no Senado se ele teve de abandonar a pasta acusado de participar de fraudes? Se Romero Jucá se "solidarizou" com Wagner Rossi contra a investida de Jucazinho, por que pediu ao ministro que mantivesse o maninho no cargo de assessor? Que punição administrativa mais rigorosa espera os demitidos por corrupção? Que ações moverá a presidente Dilma contra funcionários que traíram sua confiança?

O PR, dizem, está em pé de guerra contra Dilma, mas a guerra é congelada: não se ouviu um único disparo verbal. E o PMDB garante que toda essa confusão em torno da Conab não passa de tentativa para desalojar "Jucazão" da liderança do governo no Senado, pretendida pelo PT. Que coisa, hein?! E o cidadão, que, nesta democracia, só tem o direito de pagar e o dever de calar? Ora, o cidadão que se dane!

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Duplo embaraço
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 03/08/11

O discurso de Alfredo Nascimento saiu pior do que a encomenda para Dilma Rousseff de duas maneiras. Na primeira parte, diante do silêncio de petistas e aliados, o ministro demitido envolveu a presidente na crise dos Transportes -entre outros constrangimentos, disse que a alertou sobre o descontrole no orçamento da pasta, sem ser incomodado por isso.
Na segunda parte, quando os governistas acordaram e se puseram a defender Nascimento, fizeram-no com tantos elogios -"gestor eficiente", "figura pública exemplar", "injustiçado"- que ficou no ar a pergunta: por que então Dilma o dispensou?

Vem cá Pouco antes de Romero Jucá (PMDB-RR) pegar o microfone para dar a primeira palavra governista em defesa de Nascimento, o deputado Lincoln Portela (PR-MG) tratou de lembrá-lo, ao pé do ouvido: "Só estão batendo na gente e não tem ninguém solidário?".

Eu avisei Cobrados pelo fato de a oposição ter obtido assinaturas necessárias para criar a CPI da Corrupção, aliados se queixam de não terem sido ouvidos quando tentaram mostrar ao Planalto que a relação de Dilma-Congresso vai de mal a pior.

Climão Anteontem, incomodou o PR o sem número de perguntas feitas por Ideli Salvatti (Relações Institucionais) na tentativa de descobrir o que Nascimento falaria. "Queremos saber o que o governo tem a nos dizer", cobrou Portela. "Nada", respondeu a ministra.

Conta outra Ideli ontem, em almoço com parlamentares: "Depois de muita luta, consegui R$ 1 bilhão com o Mantega para as emendas!". Alguém tratou de ponderar que, sem um cronograma de liberação, a promessa pouco valia. Foi então sugerido à ministra que segurasse o anúncio.

#prontofalei Ao final do lançamento da política industrial, Eduardo Campos (PSB-PE) foi cumprimentado pelo presidente da Abimaq, Luiz Neto, e o vice, José Velloso. Este último aproveitou para se queixar da cobrança de impostos em Pernambuco, o que tirou o governador do sério: "Vem sentar na minha cadeira! Eu não vou ficar assistindo aos outros fazerem e eu sem fazer nada!".

A conferir Sem prejuízo de seu apoio à eventual candidatura de Fernando Haddad (PT) a prefeito em 2012, Dilma já avisou: não aceitará que o cargo de ministro da Educação seja usado para acomodar petistas ou aliados convencidos a abandonar a disputa paulistana.

Infiltrado Reunidos em almoço na casa de Michel Temer, peemedebistas comentavam, em tom de piada, que era preciso ter cuidado com a presença do correligionário Nelson Jobim (Defesa): "Afinal, ele votou no Serra".

Gabriela No almoço, Jobim recebeu repetidos elogios pela atuação no "Roda Viva" da véspera. Sobre a declaração de voto que tanto barulho causou, o ministro dizia apenas: "Eu sou assim, aquele é meu jeito".

Visita à Folha Paulo Pereira da Silva (PDT), deputado federal e presidente da Força Sindical, Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de SP e Mogi das Cruzes e presidente em exercício da Força, Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), Ubiraci de Oliveira, presidente da CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil), e Nivaldo Santana, vice-presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), visitaram ontem a Folha.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"Daqui a pouco vai ser mais fácil entrar para a maçonaria do que se filiar ao PT."
DO DEPUTADO PETISTA JILMAR TATTO (SP), sobre o anteprojeto de reforma do estatuto do partido. O texto, em discussão na cúpula nacional, torna obrigatória para novos filiados a participação em cursos e palestras.

contraponto

Neymar do futuro


Durante sessão solene da Assembleia paulista em homenagem ao Santos, anteontem, deputados comentavam o êxito das divisões de base do clube.
O petista Marco Aurélio de Souza interveio, exibindo foto do filho Marcos Vinícius, nascido há uma semana e já vestindo a camisa alvinegra:
-Como o time é um formador de talentos, quero apresentar a vocês o mais novo santista...
O dirigente Luís Álvaro de Oliveira aprovou:
-Este já tem vaga garantida na nossa escolinha!

MARCO ANTONIO VILLA - Dilma e seus governos


Dilma e seus governos
MARCO ANTONIO VILLA
O Estado de S.Paulo - 03/08/11

Dilma Rousseff é caso único na História do Brasil. Já iniciou, em apenas sete meses, três vezes o seu governo. Em janeiro assumiu a Presidência. Parecia que a sua gestão iria começar. Ledo engano. Veio a crise em maio - caso Palocci - e ela rearranjou o núcleo duro do poder. Seus entusiastas saudaram a mudança e espalharam aos quatro ventos que, naquele momento, iria efetivamente dar início ao seu governo. Mera ilusão. Veio nova crise em junho, esta no Ministério dos Transportes. Seguiram-se demissões de altos funcionários - ontem já chegaram a 27. Em seguida, foi anunciado que agora - agora mesmo - é que iria começar a sua Presidência. Será?

No país das Polianas, sempre encontramos justificativas para o injustificável. Os defensores, meio que envergonhados da presidente, argumentam que ela recebeu uma herança maldita. Mas não foi essa "herança" que a elegeu presidente? Não permaneceu cinco anos na Casa Civil participando e organizando essa "herança"? Herança, como é sabido, é algo recebido de outrem. Não é o caso. A então ministra da Casa Civil foi uma participante ativa na organização da base partidária que sustenta o governo no Congresso Nacional. Tinha e tem absoluta ciência do que representam essas alianças para o erário.

Fingir indignação, falar em limpeza - quando o vocabulário doméstico invade a política, é sinal de pobreza ideológica -, dizer que agora, sempre agora, só vai aceitar indicações que tenham a ficha limpa, isso é um engodo. Quer dizer que no momento em que formou o Ministério a ficha limpa era irrelevante? Ficha limpa é para coagir aliados? E que aliados são esses que são constrangidos pelo currículo?

Os sucessivos reinícios de governo são demonstrações de falta de rumo e de liderança. O PAC não é um plano de governo. É uma junção aleatória de obras realizadas principalmente pelo governo e por empresas estatais. É um todo sem unidade alguma. Não há uma concepção de projeto nacional, nada disso. Além da falta de organicidade, os cronogramas de todas as obras estão atrasados. O governo não consegue realizar, de forma eficaz, nenhum empreendimento. Quando algo chama a atenção, não é por seu efeito para o desenvolvimento do País. Muito ao contrário. É por gasto excessivo, desvio de recursos, inutilidade da obra ou atraso no prazo de entrega. E, algumas vezes, é uma cruel somatória desses quatro fatores.

O País está sem rumo. Mantém indicadores razoáveis no campo econômico, contudo muito abaixo das nossas potencialidades. Basta lembrar que neste ano a taxa de crescimento será a mais baixa entre os países da América do Sul (não estamos falando de China, Índia ou Coreia do Sul, mas de Paraguai, Equador e Peru). A economia ainda é movida pelo que foi estruturado durante os primeiros anos do Plano Real e por medidas adotadas em 2009, ante a crise internacional.

A falta de liderança é evidente. Os últimos quatro meses foram de abalos permanentes. E nos primeiros cem dias a presidente teve uma trégua. Foi elogiada até pelo que não fez. Politicamente, o ano começou em abril e, de lá para cá, o governo toda semana foi tendo algum tipo de problema. Ora no relacionamento com a base, ora no cotidiano administrativo. O problema central é que Dilma não se conseguiu firmar como liderança com vida própria. É vista pelos líderes da base como alguém que deve ser suportada até o retorno de Lula. A questão - para eles - é aguentar a destemperança presidencial. Claro que o preço compensa. Porém a rispidez e os gritos da presidente revelam que ela própria sabe que não é levada a sério. Vez por outra, o passado deve rondar os pensamentos da presidente. Ela, em alguns momentos, exige uma obediência ao estilo do velho "centralismo democrático" leninista. Sonha com Trotsky, Bukharin e Kamenev, mas convive com Collor, Sarney e Renan.

Nas crises que enfrentou, não conseguiu encontrar solução razoável. Ao contrário, desarrumou a articulação existente e foi incapaz de substituí-la por algo mais eficiente. Deixou rastros de insatisfação e desejos de vingança. A trapalhada com o PR e a demora em resolver de vez as denúncias são mais evidências da falta de capacidade política. Criou na Esplanada dos Ministérios a versão petista do "onde está Wally?". Agora o jogo é adivinhar, entre mais de três dúzias de ministros, quem será o próximo a cair em desgraça. Algo meio stalinista (é o passado novamente?). Com tanto estardalhaço, Dilma nem acabou com a corrupção nem conseguiu fazer a máquina governamental funcionar. E quem perde é o País.

A cada fracasso de Dilma, mais cresce o clamor da base (e do PT, principalmente) para o retorno de Lula. Difícil acreditar que o criador não imaginasse como seria o governo da sua criatura. Pode ter sido uma jogada de mestre. Respeitou a Constituição (não patrocinando o terceiro mandato), impôs uma candidatura-poste, venceu com o seu prestígio a eleição e será chamado cada vez mais para apagar incêndios. Ou seja, a possibilidade de ser passado para trás é nula. Dessa forma, transformou-se no personagem fundamental para manter a estabilidade da aliança do grande capital nacional e estrangeiro, fundos de pensão das estatais, políticos corruptos e oportunistas de toda ordem. É também o único que consegue fazer a articulação com o andar de baixo, dando legitimidade ao projeto antinacional. Sem ele, tudo desmorona.

Dilma vai administrando (e mal) o cotidiano. A fantasia de excelente gestora, envergada no governo Lula e na campanha presidencial, revelou-se um figurino de péssima qualidade. Como nos velhos sambas, a quarta-feira já chegou. Um pouco cedo, é verdade. O carnaval mal começou. E dos quatro dias de folia, nem acabou o primeiro.

HISTORIADOR, É PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCAR)

GOSTOSA

VINÍCIUS TORRES FREIRE - Política de guerra cambial

Política de guerra cambial
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 03/08/11
Política industrial de Dilma é um programa de defesa comercial disfarçado e um analgésico para o real forte
O TELHADO da casa está cheio de rombos. Chove. Em vez de trocar as telhas etc., o dono do imóvel adquire guarda-chuvas e os distribui para os moradores da casa.
Com perdão para algum exagero irônico, isso é o que parece o programa "Brasil Maior", o plano de política industrial lançado ontem pelo governo de Dilma Rousseff.
Nem se pode chamar o imenso e díspar conjunto de medidas de "política industrial", pois há de tudo ali -menos linhas-mestras de um plano sobre o que fazer da indústria nacional no médio prazo.
O grosso do pacote é um conjunto de medidas de defesa comercial.
Entre elas, há boas iniciativas explicitamente dirigidas ao combate de dumping (importações barateadas demais) e outras dedicadas a barrar importações fraudulentas e "competição desleal". Boas no papel, ao menos. Há pessoal capacitado para cuidar disso? Hoje, não.
As providências mais importantes, porém, são aquelas que procuram defender setores da indústria prejudicados pelo real forte (e outros nem tanto) por meio de redução de imposto e juros subsidiados.
A bem da justiça, diga-se que há pedaços do plano de Dilma que parecem algo mais com uma política industrial. Por exemplo, o dinheiro bom e extra para financiar pesquisas e inovação na Finep (orgão federal de apoio à inovação tecnológica). Ou o programa que vai obrigar o governo a dar preferência a compras de bens nacionais.
Mas o "Brasil Maior" é um remendaço do "Brasil Menor", o país que tem uma política econômica (macro e micro) muito disfuncional.
O governo tributa mal e demais, gasta demais, tem dívida alta demais e, por isso, tem juros altos demais, o que ajuda a valorizar o real, que avaria a indústria. O "Brasil Menor" causa feridas tratadas com esparadrapos pelo "Brasil Maior".
Os exportadores de manufaturados levarão grandes descontos de impostos, por meio do Reintegra etc. Pequenas empresas levarão juros subsidiados para capital de giro.
Setores agraciados na crise de 2008/09 com redução de IPI continuam sob esse guarda-chuva.
Alguns dos setores industriais que mais apanham desde a crise de 2008 (calçados, têxteis, móveis) vão pagar menos contribuição ao INSS. Mas algumas indústrias também avariadas ficaram de fora (máquinas, máquinas e equipamentos elétricos, eletrônicos, metalurgia, equipamento hospitalar).
Há um mal explicado programa de incentivo à nacionalização e à inovação na indústria automobilística, que exigiria supostas contrapartidas -a ver. As montadoras são craques em cavar privilégios.
A "desoneração da folha de pagamento" (redução da contribuição para o INSS) ficou para depois do apocalipse maia de 2012. Como previsto, o governo não tem dinheiro.
Enfim, como se dizia aqui nesta coluna, sobre o "pacote anticrise" de 2009, tio-avô do "Brasil Maior" (que aliás lembra "Brasil Grande", o que pega mal): o governo lança outro plano de "guerra comercial":
"Na falta de meios técnicos e/ou políticos para alterar a taxa de câmbio, os subsídios e as reduções de impostos localizadas fazem o papel de minorar a perda de competitividade das empresas num ambiente de guerra comercial planetária (de resto fazendo amizades políticas)."

MÍRIAM LEITÃO - Volta ao passado


Volta ao passado
MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 03/08/11

Financiar inovação faz sentido; ter incentivo fiscal para a indústria automobilística não faz sentido. Reduzir a contribuição trabalhista de setores que empregam muito pode ser interessante; dar dinheiro na mão de exportador no programa "Reintegra" lembra o malfadado crédito-prêmio dos anos 1970. Há velhas e novas medidas na política industrial, mas a conversa é antiga.

O cheiro do novo e do velho, da mesmice e do avanço se misturou nas medidas anunciadas ontem pelo governo e nos discursos feitos pelos ministros e pela presidente Dilma. O ar do protecionismo e da velha política de benefícios setoriais estava tão evidente que arrancou aplausos para o ministro Guido Mantega quando ele falou que "o mercado brasileiro deve ser usufruído pela indústria brasileira e não por aventureiros que vêm de fora."

Não se sabe quem são os aventureiros, mas a indústria automobilística, que terá benefícios, é toda controlada por capitais estrangeiros e terá inexplicáveis incentivos. O setor está com crescimento de vendas e produção. Deu uma arrancada de 9,8% no ano passado e nos últimos 12 meses está com um crescimento de 4,7%. Reclama do câmbio, mas tem se beneficiado dele na importação de autopeças e matérias-primas.

O governo decidiu que nas compras governamentais vai preferir a indústria local. Muitos governos fazem isso. Mas ele estabeleceu que se a indústria local produzir com uma diferença de preço de até 25% a mais ela será escolhida. É um incentivo a ineficiência e ao sobrepreço. A indústria nacional precisará competir pelo aumento da eficiência. Essa decisão foi tomada para lavar os brios nacionais porque as Forças Armadas estão envergando uniformes chineses.

Em vez de analisar os fatores que estão drenando a competitividade dos fabricantes de fardas nacionais, o governo estabelece que aceita que o produtor local cobre um quarto a mais no preço de cada uniforme e qualquer outro bem que o governo for adquirir. A China virou álibi para qualquer política. A ideia de que o mercado nacional pertence à indústria nacional já fez muito mal ao Brasil. Foi na reserva de mercado que o Brasil ficou atrasado duas décadas em informática e não criou a indústria competitiva que pensava criar. O Brasil teve barreiras tarifárias e não tarifárias contra o produto estrangeiro, mas só ficou mais eficiente quando enfrentou a concorrência do produto importado.

Formar especialistas em defesa comercial e aumentar a equipe que cuida desse assunto é uma boa ideia. Foi com processos antidumping e contra subsídios que o Brasil venceu os EUA em alguns casos famosos, como o do algodão. Não se pode ser ingênuo na relação com a China. Os chineses têm investido em infraestrutura e em todos os fatores de produtividade e isso é o correto. Mas usam também o câmbio e outras artimanhas na corrida do comércio internacional. Por isso é preciso ser ágil e eficiente na luta contra a fraude comercial. Essa parte da política anunciada ontem é boa.

Mas há ideias anacrônicas como a do "Reintegra". O governo dará 3% do total do valor exportado na mão do exportador. Não é desoneração tributária. É uma política que lembra o crédito-prêmio que o Brasil foi obrigado a suspender porque foi considerado ilegal pela OMC. É um espanto que seja reapresentada tal política. O cálculo dos empresários é que no mínimo R$ 2,5 bilhões serão entregues aos exportadores. Ao todo, a renúncia fiscal será de R$ 25 bilhões segundo cálculos do próprio Ministério da Fazenda.

A indústria acha que merece e que ainda é pouco porque os industriais estariam sendo punidos pela taxa de câmbio baixa. Eles se aproveitam da taxa de câmbio em compras e importações, mas só reclamam do lado da moeda que os prejudica. O importante não é o câmbio nominal, mas real. Se a taxa de câmbio, por hipótese, subir muito, mas produzir inflação, isso reduzirá o câmbio real e vai dar no mesmo. O lobby do protecionismo simplifica o que é complexo. E há uma velha lei da selva da proteção à indústria: quem paga a conta é sempre o consumidor.

A indústria automobilística terá a prorrogação da redução do IPI por mais um ano se investir em inovação e comprar no mercado local. Bom, as montadoras sempre compram parte das peças aqui e qualquer mudança de modelo, ainda que não tenha avanço tecnológico importante, será apresentado como inovação para pagar imposto menor.

A tentativa de levar a zero a cobrança da contribuição previdenciária de têxteis, calçados, software e móveis pode ser uma boa ideia. Essas empresas, que empregam muito, passariam a pagar um porcentual de 1,5% sobre o faturamento. Haverá um custo que o Tesouro vai cobrir. Ou seja, elas serão subsidiadas. Mas pode ser o começo de uma desoneração da folha e migração para um novo imposto. Apesar de essa experiência permitir que as empresas desses setores paguem menos impostos e de essa diferença ser paga pelo Tesouro - ou seja, pelo meu, seu, nosso - a indústria têxtil saiu reclamando porque acha que não foi contemplada na sua perda de competitividade. As bondades de ontem serão pagas por todos nós, mas os industriais estão animados porque acham que isso é só o começo.