quarta-feira, abril 07, 2010

TERRORISTA CARA DE PAU

"Um atraso histórico"
"A homenagem de Dilma Rousseff a Tancredo Neves chega com 25 anos de atraso e sem explicações devidas e nunca apresentadas todo esse tempo.
O PT, partido ao qual Dilma Rousseff aderiu recentemente, mas que hoje representa no nível mais alto, negou apoio a Tancredo Neves e ao pacto de transição democrática que sua candidatura presidencial possibilitou.
Intransigente no erro, o PT expulsou seus deputados que entenderam a importância desse pacto para o Brasil e votaram em Tancredo no colégio eleitoral.
Luis Inácio Lula da Silva, numa de suas lamentáveis bravatas oposicionistas, desprezou a proposta de diálogo entre trabalhadores e empresários formulada por Tancredo em sua pregação.
Com a arrogância habitual, nem o PT, nem Dilma Rousseff, nem Lula da Silva jamais se retrataram por suas posições equivocadas e mesquinhas nesse passo decisivo da caminha do Brasil rumo à democracia.
Da mesma forma, jamais se retrataram da negativa de apoio a outro mineiro ilustre, Itamar Franco, quando lhe coube a missão de resgatar a democracia brasileiras dos descaminhos de Collor de Mello - hoje aliado dileto do governo Lula e da candidatura de Dilma Rousseff.
Tardia e mal explicada, a homenagem a Tancredo Neves se reduz a uma encenação com as marcas inconfundíveis da impostura e do oportunismo, presentes em outras passagens da carreira da neo-petista Dilma Rousseff."
Senador Sérgio Guerra (PE) - Presidente Nacional do PSDB 
Deputado Rodrigo Mais (RJ) – Presidente Nacional do DEM 
Roberto Freire – Presidente Nacional do PPS

O ESGOTO DO BRASIL

O FILHO DA PUTA CARA DE PAU

Após multas, Lula critica uso da máquina

Folha de S. Paulo - 07/04/2010
 
Punido duas vezes por campanha antecipada, presidente diz que é possível ajudar um candidato sem auxílio da administração 

No Rio, Lula afirma discordar das penalidades recebidas; presidente diz que não vai deixar o governo de lado por causa da campanha eleitoral 

Acusado pela oposição de usar a força de sua administração em favor da pré-candidata Dilma Rousseff (PT), o presidente Lula afirmou ser "possível" fazer campanha eleitoral sem utilizar a máquina pública.
"É preciso que a gente seja definitivamente republicano neste país, que a gente passe para a sociedade a ideia de que é possível você ajudar um candidato, você participar de um processo eleitoral, sem utilizar a máquina como sempre se usou neste país para beneficiar um ou outro candidato", disse.
Em entrevista a duas emissoras de rádio, Lula afirmou discordar da multa que recebeu do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por campanha antecipada e disse que recorrerá da decisão.
A penalidade, de R$ 10 mil, foi determinada pela participação na inauguração do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados de São Paulo, no dia 22 de janeiro. Outra multa imposta a Lula, de R$ 5 mil, foi confirmada ontem pelo TSE (leia texto ao lado).
"Era uma entidade particular, não havia obras públicas ali. E me parece que eu fui multado porque eu falei que nós íamos ganhar as eleições, e a câmera de TV mostrou a cara da Dilma, que estava no palanque."
O presidente, porém, evitou ontem entrar em confronto com o Judiciário. "Se ele [o Judiciário] entender que eu sou culpado, eu, como qualquer ser humano comum, tenho que pagar pelo erro que cometi."
Lula comentou ainda que não vai deixar o governo para se dedicar à campanha de Dilma. "Tenho que governar o Brasil. Não posso deixar o governo para fazer campanha", disse.
Ele também falou sobre a reunião ministerial de anteontem, na qual foram apresentados dez novos ministros, que entraram na vaga daqueles que se desincompatibilizaram para disputar as eleições de outubro. "A palavra de ordem era a seguinte: nós temos nove meses para trabalhar mais do que trabalhamos nestes três anos."
O presidente lembrou a Copa de 1962, no Chile, quando o Brasil foi bicampeão mundial mesmo sem Pelé, lesionado.

MÔNICA BERGAMO

"Ninguém quer ser negro no Brasil" 

Folha de S.Paulo - 07/04/2010

No papel de Ernesto Dantas, presidente da República no filme "Segurança Nacional", de Roberto Carminati, que estreia em maio, o ator Milton Gonçalves participou de café da manhã na Base Aérea de São Paulo, para divulgar o trabalho. No longa, ele comanda as Forças Armadas numa guerra ao terrorismo nas fronteiras do país. Milton falou à coluna:

FOLHA - O Brasil ainda vai ter um presidente negro?
MILTON GONÇALVES - Se aparecer um, trabalho para ele de graça. Mas vai demorar um pouco, sabia? O país tem uma série de preconceitos, dentre eles o racial, que é muito incômodo. Todo mundo diz que tem um avô negro, mas na hora "H"... Nas pesquisas, por exemplo, quem declara [a cor] é o depoente. Um sobrinho meu trabalhou no IBGE e foi num cara que era azul. Perto dele, eu sou loiro. E quando perguntou a cor, o cara disse que era "moreno". Ninguém quer ser negro no Brasil, esse é o problema.

FOLHA - O Brasil é racista?
GONÇALVES - É. O presidente da República não se declara negro. Não sei se ele [Lula] é, mas com aquele cabelo e com aquela "napa", é o quê?
FOLHA - O jogador Ronaldo já se declarou branco. GONÇALVES - O Ronaldo gorducho? Ele é um bobão. É um cara safo, inteligente. Foi para a Holanda e saiu falando holandês. E o resto ele não falou mais, entendeu? Essa questão é profunda. Está na alma escravista brasileira, na disputa de pedacinho de pão, de coisas mínimas. A única salvação, e isso vai demorar, é e-du-ca-ção para todos.

FOLHA - O que pensa sobre a adoção de política de cotas para negros?
GONÇALVES - Se alguém achar a política de cotas boa, que faça uso. Mas eu não acredito que vá resolver alguma coisa. Se eu estabeleço cota de 20% para "x", que não tiraram nota suficiente para passar [no vestibular], eu vou ser injusto com 80% de "y".

FOLHA - Ainda é filiado ao PMDB?
GONÇALVES - Eu sou MDB, presta atenção na sutileza. Sou das antigas. E não vou concorrer a nenhum cargo. Nem declaro meu voto porque os poucos que gostam de mim vão ser influenciados e eu não quero.

FOLHA - Inspirou-se em algum presidente para o personagem?
GONÇALVES - Não, mas na minha infância, evidentemente, fui seduzido por Getúlio Vargas, que encantou várias gerações. Não tenho nada contra [Lula], mas não está no meu panteão. Getúlio estaria, pelo carisma, o JK era carismático, o Jânio Quadros, se não tivesse feito aquela cagada federal, teria sido um bom presidente. Esses têm a minha admiração.

Tô verde!

Fracassou de forma retumbante, até agora, uma das mais badaladas iniciativas que tentavam juntar eleições e internet. Dois meses depois de lançar campanha pioneira de arrecadação de recursos pela rede, o PV de Marina Silva arrecadou míseros R$ 2.500. O dinheiro não cobre sequer o salário de um dos seis funcionários que cuidam das páginas do partido e da pré-candidata à Presidência da República na web.

VERDE DE FOME
"A internet ainda não deu muito resultado para nós. É difícil conseguir contribuições", constata o vereador Alfredo Sirkis (PV-RJ), coordenador da campanha presidencial de Marina, sobre os R$ 2.500 que ele diz terem pingado na conta do PV. "Acredito que, quando a campanha eleitoral pegar fogo e as contribuições forem diretamente para a candidata, e não para o partido, vamos arrecadar mais." Ainda assim, afirma, "a internet não terá aqui o peso que teve [na eleição de Barack Obama] nos EUA".

VIRTUAL
O público de Marina Silva na internet também deixa a desejar: até ontem, ela tinha pouco mais que 14 mil seguidores em sua página no Twitter, ou menos que 10% de José Serra, pré-candidato do PSDB.

DANÇA DAS CADEIRAS
O jornalista Eugênio Bucci, ex-presidente da Radiobrás e atualmente no conselho da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura de São Paulo, não apresentou seu nome para a renovação do colegiado, segundo a emissora. A eleição para o conselho, com oito vagas em disputa, acontece na segunda-feira.

TUCANOS E PALMEIRAS
Entre os novos candidatos ao conselho estão o tucano Andrea Matarazzo, o ex-embaixador Rubens Barbosa, o diretor regional do Sesc, Danilo Santos de Miranda, e Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-conselheiro da TV Brasil, do governo federal, e presidente do Palmeiras.

TERCEIRA VIA
E o Verdão não pretende aderir nem à reeleição de Fábio Koff para o Clube dos 13 nem ao candidato de oposição, Kleber Leite, que rachou os cartolas e é apoiado pela CBF. "Essa disputa, do jeito que está, é perigosa. Pode dar uma cizânia no futebol", diz Belluzzo. Ele afirma que pretende trabalhar pelo consenso. "O Palmeiras quer encontrar uma solução melhor junto aos clubes, na busca de um desfecho mais tranquilo."

BROADWAY
O promotor Francisco Cembranelli, do caso Isabella, retorna ao Tribunal do Júri na próxima segunda. Ele foi descansar do julgamento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá em Nova York com a mulher, Daniela. No roteiro, visitas a museus e sessões de musicais da Broadway, como "Mamma Mia" e "Chicago".

BIS
Maria Bethânia bateu o martelo: volta ao palco do Citibank Hall, em SP, nos dias 16 e 17 para apresentações extras de seu show "Amor, Festa, Devoção".

SINAL VERMELHO
E o produtor e DJ americano Moby fez uma lista de vetos para o seu camarim, no Credicard Hall, nas apresentações que faz no país no fim do mês. Estão proibidos chás, café, refrigerantes e bebidas alcoólicas. Vegetariano, ele pediu cenoura, maçã, gengibre, geleia de morango, homus e espinafre.

CURTO-CIRCUITO
O LIVRO "Memórias e Cinzas - Vozes do Silêncio" será lançado hoje, às 19h, com debate com a participação de Sylvio Band, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.
ANA ESTELA DE SOUSA PINTO, editora de Treinamento da Folha, autografa o livro "Jornalismo Diário" amanhã, às 20h, na livraria Leitura do BH Shopping, em Belo Horizonte.
A PEÇA "Flechas do Anjo do Esquecimento" tem reestreia hoje, às 21h, no Espaço Parlapatões. Classificação: 12 anos.
A EXPOSIÇÃO "Acessibilidade", com curadoria de João Kulcsar, será aberta hoje, às 14h, no Senac de Santo Amaro.
A JOALHERIA Talento promove coquetel de lançamento da coleção Eterno hoje, a partir das 14h, na loja da Bela Cintra.

ANTONIO DELFIM NETTO

Desperdício da credibilidade

Folha de S. Paulo - 07/04/2010
 
 TODAS AS SEITAS têm necessidade de criar códigos de linguagem para proteger a comunicação entre seus adeptos. Assim suas mensagens serão entendidas apenas por seu praticante.
Os Bancos Centrais sempre foram considerados "templos de segredos" controlados por membros de uma seita universal de economistas que se creem portadores da verdadeira ciência monetária. Os seus conhecimentos transcenderiam à capacidade de compreensão dos governantes eleitos e, com maior razão, ao rudimentar entendimento do homem comum que despreocupadamente os elege.
Não é de surpreender, portanto, que ao longo dos anos eles tenham inventado o "bancentralês". Trata-se de linguagem para "esconder" o pensamento. Este deve ser formulado com complexidade para parecer coisa profunda e séria. A última reunião do Copom nos brindou com uma ata que contém esta enigmática joia do bancentralês tupiniquim: "Note-se, adicionalmente, que também houve consenso entre os membros do Comitê quanto à necessidade de se adequar o ritmo do ajuste da taxa básica de juros à evolução do inflacionário prospectivo, bem como ao correspondente balanço de riscos, de forma a limitar os impactos causados pelo comportamento da inflação corrente sobre a dinâmica subjacente dos preços".
Qual foi o "consenso" inicial a que haviam chegado os membros do Copom? Aparentemente que, no cenário de referência usado por eles, que pressupõe a manutenção do atual patamar de juros e a taxa de câmbio de R$ 1,80, a projeção para a inflação de 2010 encontra-se "sensivelmente" acima da meta de inflação anual de 4,5%. Mas, então, por que o "consenso" não votou o aumento da taxa, como é sua obrigação? Talvez a lógica "dialética" explique.
Para os humildes seguidores da velha lógica aristotélica, só algum segredo conhecido apenas pelos sacerdotes do "templo" impediu o Copom de cumprir a sua missão. O melhor é que, talvez errando, tenha acertado!
Mesmo com reservas sobre seu comportamento, ninguém podia negar o esforço "científico" (mesmo quando equivocado) do Banco Central. Agora as dúvidas são de outra natureza: a única explicação plausível para a decisão do Copom foi de ordem político-oportunista.
Para evitar confusão, é preciso dizer que a crítica não se dirige à autonomia operacional do Banco Central. Foi ela que lhe deu a credibilidade agora seriamente abalada.
Para tentar recuperá-la, provavelmente vai aumentar a Selic na próxima reunião em 0.75.

ROLF KUNTZ

Os dois mundos de Lula

O Estado de S. Paulo - 07/04/2010
 


O presidente Lula ouviu ontem o relato de mais um fracasso. Nenhuma das grandes metas fixadas para 2010 na impropriamente chamada Política de Desenvolvimento Produtivo será alcançada: o investimento não chegará a 21% do PIB; o Brasil não aumentará sua participação no comércio internacional; o gasto privado com inovação tecnológica ficará abaixo do projetado em 2008; não haverá, na exportação, o desejado aumento da presença das pequenas empresas. O quadro foi a atração principal de um almoço no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio. Um dia antes, ele havia cobrado, em reunião ministerial, medidas urgentes para expansão do financiamento às exportações. Segundo ele, os chineses vêm conquistando mercados nas barbas dos brasileiros e é preciso reagir.

Se o presidente precisasse de números para reforçar a cobrança, poderia ter citado um relatório divulgado no mesmo dia pela Cepal, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe. O documento contém um balanço da competição entre China e Brasil em 11 mercados ou blocos. Na disputa pela venda de produtos similares, o Brasil teve um ganho de US$ 13,6 bilhões entre 1995 e 2008. A China, um aumento de US$ 512,5 bilhões.

O presidente Lula exigiu financiamentos. Isso é pouco. Os países mais eficientes no comércio têm políticas de competitividade. O Brasil tem um arremedo de política industrial. Nos últimos dez anos a maior taxa de investimento em máquinas, equipamentos e construções ocorreu em 2008: 18,7% do Produto Interno Bruto. Todos os competidores importantes investem mais de 30% em capital físico. Os chineses, mais de 40%. Os brasileiros poderiam ser bem mais competitivos do que hoje mesmo sem chegar perto desse nível.

Mas o investimento físico é só uma parte da diferença. Os países mais dinâmicos no comércio têm políticas educacionais muito mais sérias e produtivas. No Brasil, os números mais animadores indicam o esforço de universalização. Houve um empenho, acentuado a partir dos anos 90, para eliminar o analfabetismo. Mas a baixa eficiência do sistema é evidenciada por fatos bem conhecidos.

Cerca de 20% dos brasileiros com idade igual ou superior a 15 anos são analfabetos funcionais. Empresários de vários setores queixam-se da escassez de mão de obra. Há muita gente em busca de trabalho, mas falta pessoal com um mínimo de qualificação. É desastrosa a formação básica em linguagem, matemática e ciências. No Brasil, o governo tem cuidado principalmente da multiplicação de vagas e de jovens diplomados, mesmo que os diplomas sejam obtidos em cursos de baixo nível e não abram perspectivas profissionais. Nos países com políticas sérias, procurou-se, nos últimos 30 anos, formar pessoal para participar efetivamente da produção e do crescimento econômico.

Na semana passada, o presidente disse ter feito uma revolução na educação. Deve ter sido um revolução com resultados comparáveis aos do PAC, o emperrado Programa de Aceleração do Crescimento. Essa é uma das características interessantes do presidente Lula: ele cobra resultados concretos de seus auxiliares, mas seu discurso político trata quase sempre de um mundo de fantasia. Tem sido assim com a imaginária política industrial, com a política educacional e com a diplomacia Sul-Sul.

Essa diplomacia atribui prioridade a parcerias com latino-americanos e outros emergentes. Mas são prioridades unilaterais. O governo brasileiro trabalhou contra as negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Mas outros países da região não deixaram de buscar acordos com os Estados Unidos.

Com ou sem acordo, vários desses países têm tido acesso preferencial do mercado dos Estados Unidos. O Brasil não tem. Ao mesmo tempo, países latino-americanos têm concedido facilidades comerciais tanto aos Estados Unidos quanto aos chineses, enquanto o Brasil, nos acordos com os parceiros da região, sempre concede muito mais do que recebe.

O avanço chinês mais ameaçador para os brasileiros ocorreu na América Latina. Segundo a Cepal, a China teve um ganho de US$ 36,5 bilhões nas vendas ao mercado latino-americano, entre 1995 e 2008, nas áreas de competição com o Brasil. O Brasil perdeu US$ 698 milhões. A China avançou até na Argentina, sócia do Mercosul, onde as exportações brasileiras são sujeitas a barreiras protecionistas. Com um pouco mais de realismo, Lula cobraria não só financiamentos à exportação, mas também uma política industrial efetiva, uma reforma tributária para valer e uma diplomacia econômica sem fantasia. Mas para isso seria necessária uma iluminação como a de São Paulo, ao cair do cavalo na Estrada de Damasco.

JAPA GOSTOSA

RUY CASTRO

Dívida cruel

Folha de S. Paulo - 07/04/2010
 
"O que teremos de pagar por tanta beleza?", perguntou o poeta Ezra Pound a respeito de Veneza. Pound, que morou e morreu por lá, sabia a resposta: há "acqua alta", a água que sobe um pouco todo ano, há séculos, e, um dia -até 2100, dizem os apocalípticos-, acabará por submergir a cidade. Nesse caso, Veneza estará pagando pela ousadia de seus arquitetos de construir uma cidade que, na sua imodéstia, podia competir com a inspiração divina.
Mas, no caso do Rio, a beleza se originou dessa própria inspiração dita divina. Ou terão sido os homens os responsáveis pelo recorte da baía, o gigante de pedra, o traçado das areias, a onipresença do verde? E, sendo assim, por que teríamos de pagar? A não ser que fosse por isso mesmo -porque, embora não soubéssemos, previa-se uma espécie de pedágio pelos séculos em que tivemos o Rio para nós.
Pode ser também que nosso crime seja o de não termos cuidado dessa beleza como deveríamos. Fomos soberbos com suas matas e imprevidentes com suas encostas, impermeabilizamos seu chão e aprisionamos suas águas. Por que o Rio, que, nos séculos 17 e 18, tomou brejos, pântanos e alagadiços, não consegue conter a água que cai do céu? Mas, também nesse caso, por que a culpa acumulada durante várias gerações teria de ser expiada justamente na nossa vez?
Há cem anos se sabe que inundações são inexoráveis na zona do Maracanã, na lagoa Rodrigo de Freitas, no Jardim Botânico. Em jovem, eu próprio já atravessei a praça da Bandeira e os largos da Lapa e do Machado com água pela cintura. E a cidade, que começou a subir os morros em 1565, não se preparou para quando os morros resolvessem deslizar em direção à ela.
Apenas no último meio século, tivemos 1966, 1967, 1988, 1996 e, agora, 2010. Chega de pagar.

MERVAL PEREIRA

Lula republicano

O GLOBO - 07/04/10 


Dois políticos que não estão diretamente envolvidos com a disputa eleitoral para a Presidência são fundamentais para o resultado da eleição: o presidente Lula e o ex-governador mineiro Aécio Neves. A campanha da ex-ministra Dilma Rousseff gravita em torno da figura de seu padrinho político, e ela não tenta esconder o que está sendo conhecido como "lulodependência", assim como o presidente não pretende disfarçar seu papel, a tal ponto que alardeia que a vitória da candidata petista será a sua vitória, e só ela o fará plenamente realizado no governo. 

Já o ex-governador paulista José Serra depende do também ex-governador Aécio Neves para manter a liderança que ostenta há anos nas pesquisas de opinião. Se o eleitorado mineiro chegar em outubro convencido de que a vitória de Serra é a vitória de Aécio, o PSDB estará consolidando sua hegemonia nos dois maiores colégios eleitorais do país, com amplas chances de partir dos dois estados para vencer a eleição presidencial. 

Ao usar a metáfora "lobo em pele de cordeiro" para identificar a postura do oposicionista José Serra de não atacar Lula, garantindo que não haverá descontinuidade nos programas sociais assistencialistas, a candidata oficial, Dilma Rousseff, utilizou uma imagem que pode facilmente se transformar em arma contra ela. 

É ela quem está sendo acusada de não ser uma democrata convicta, e, a cada vez que homenageia seu passado de lutas contra a ditadura, há quem veja nesse gesto a reafirmação de que existe por trás da "pele de cordeiro" o velho lobo guerrilheiro. 

Um outro ponto sensível, pelo menos para um eleitorado identificado com valores da classe média tradicional, é o mote da campanha oposicionista de atacar a complacência petista com a corrupção. 

Como o assunto é suprapartidário e atinge tanto o PSDB quanto o DEM, em escalas diversas, mas no mesmo calcanhar, a campanha tucana está baseada aparentemente mais na proteção dos companheiros, no compadrio, do que nas acusações de corrupção. 

Aécio Neves vem batendo com rara objetividade na falta de compromisso do PT com o bem comum, lembrando várias situações em que o partido hoje no poder recusou-se a aderir a movimentos políticos que uniam a maioria, desde a Constituinte, que seus representantes não assinaram, até a recusa de participar de um governo de união nacional após o impedimento de Collor. 

E também a ineficiência da máquina pública, devido ao seu aparelhamento político e ao descaso com a meritocracia, substituída pelo apadrinhamento de companheiros. 

Dando demonstrações claras de que se empenhará por uma vitória do PSDB mesmo que não aceite ser o vice oficial, Aécio coloca sua aprovação popular em Minas em contraponto com a do presidente Lula, como uma demonstração de que não é preciso ser "messiânico" para ser popular. 

Já o pré- candidato José Serra tem feito referências diretas à "roubalheira", uma maneira popular de falar em corrupção. 

Disse ele, em uma frase de seu discurso de despedida que já ficou emblemática do que será sua campanha: "Eu estou convencido de que o governo, como as pessoas, tem de ter honra. E assim falo não apenas porque aqui não se cultivam escândalos, malfeitos, roubalheira, mas também porque nunca incentivamos o silêncio da cumplicidade e da conivência com o malfeito." 

Lula segue sendo o principal ativo político da candidata Dilma e, camaleônico, muda de tática à medida que as reações se sucedem. 

Depois de multado duas vezes, e de menosprezar a Justiça Eleitoral com gracejos em comícios, Lula deve ter-se dado conta de que é contraproducente cutucar os juízes eleitorais desse jeito. 

Passou a posar de "republicano" e agora promete fazer campanha apenas "fora do expediente", como se fosse presidente apenas das 9 às 17h. 

Na sua nova fase, que combina cinismo com ironia, Lula condenou, em entrevista à Rádio Tupi, no Rio, o uso da máquina pública durante o processo eleitoral. E ainda por cima criticou seus antecessores, que nunca foram multados pelo TSE por fazerem campanha antecipada. 

Lula, dizem que sem ficar vermelho, disse que seria "um teste importante para a democracia" participar da campanha sem usar a máquina pública "como sempre se usou neste país". 

Assim como em São Paulo nos primeiros meses do ano, que teve o maior índice pluviométrico em 70 anos, o volume de chuva que caiu no Estado do Rio nas últimas 48 horas superou tudo o que havia sido registrado nos últimos 40 anos. 

Não é possível atribuir-se a uma só administração os transtornos da cidade e as mortes por todo o estado, mas é possível, sim, constatar a incapacidade dos três níveis de governo de montar um esquema de emergência para orientar e dar uma sensação de menos insegurança aos cidadãos. 

Desde os guardas nas ruas, que desaparecem ao sinal das primeiras chuvas, até os táxis, que também somem, não existe um esquema de emergência montado para situações extremas. 

Os aeroportos, que já são caóticos normalmente, tornam-se inviáveis em dias de crise como a de segunda-feira. 

Com os atrasos dos vôos por falta de teto, e os aviões desviados do Santos Dummont para o Galeão, não há organização suficiente para reordenar o fluxo de malas, nem pessoal para dar informações aos passageiros que se aglomeram nos aeroportos sem informações. 

A Infraero não tem capacidade para organizar os serviços de apoio, e as companhias aéreas não se consideram responsáveis pelos passageiros que despejam pelos aeroportos do país. 

Mas pelo menos foi equiparada a ineficiência administrativa de governadores da oposição e governistas, impedindo que se tire vantagens políticas de situações climáticas extremas, como fizeram os petistas nos primeiros momentos da crise paulista. 

Os bueiros entupidos não têm partido político. A falta de investimento em infraestrutura é generalizada.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Venda de sobra de energia avança no governo 

Folha de S.Paulo - 07/04/2010

O consumidor livre -aquele que consome grande volume de energia elétrica e que é livre para escolher o seu fornecedor- poderá em breve ter o direito de negociar livremente o excedente de energia que contratou mas não conseguiu usar.

O senador Renato Casagrande (PSB-ES), autor do projeto de lei 402/09 -que libera consumidores livres a negociarem a energia ociosa dos contratos fechados no mercado livre-, prevê que até junho o projeto seja aprovado no Senado.

Em fevereiro, a Comissão de Assuntos Econômicos aprovou o parecer sobre o projeto, que agora está em trâmite na Comissão de Infraestrutura.

Atualmente, o consumidor livre não pode vender a energia não consumida a um terceiro agente. A parcela não utilizada é liquidada pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) e valorada segundo o PLD (Preço de Liquidação das Diferenças) vigente na semana.
"No PLD, os preços tendem a ser mais baixos e imprevisíveis. O consumidor não tem como prever a receita com a venda no mercado "spot'", diz Paulo Pedrosa, presidente da Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia).

A aprovação do projeto, segundo Pedrosa, irá aumentar a eficiência do setor elétrico, contribuindo para ampliar a oferta futura de energia, com contratos de longo prazo.

A liberação é reivindicação antiga do setor, que foi agravada nos piores meses da crise, quando os excedentes de energia alcançaram o pico de 1.024 MW em dezembro de 2008, devido à redução natural do consumo por conta da queda da atividade econômica.

Além do projeto de lei, uma portaria do Ministério de Minas e Energia que regulamenta a venda do excedente foi a consulta pública e pode sair antes do projeto, dizem agentes do mercado. O ministério informa que trabalha atualmente na regulamentação das diretrizes.

"A iniciativa da portaria é correta, mas há alguns pontos, como a vinculação ao prazo do contrato, que poderiam ser ajustados", diz Paulo Mayon, da Compass Comercializadora.

Presidente da Continental vem ao Brasil

Jeff Smisek, o novo presidente da Continental Airlines, vem ao Brasil em maio para a cerimônia que marcará a entrada da TAM na Star Alliance, rede da qual a Continental faz parte.

Smisek assumiu o posto em janeiro e ganhou fama ao anunciar que não receberia remuneração alguma até que a companhia voltasse ao azul. "Viramos especialistas em perder dinheiro. Isso vai acabar", disse Smisek à Folha, em Houston, no início deste ano.

Uma das principais estratégias de Smisek, para reverter mais de US$ 1 bilhão em prejuízo acumulado desde 2001, é aumentar o número de serviços pagos.

Desde que assumiu, a companhia já aumentou tarifas para o transporte de uma segunda bagagem e também a cobrança por comida à bordo. Nas salas vips, bebida alcoólica de segunda linha é gratuita, mas quem quiser uísque ou vinho de qualidade tem de pagar..

Quarta maior companhia dos EUA, a Continental afirma que a mudança da rede de alianças Sky Team para a Star Alliance também vai aumentar o tráfego e ajudar a alcançar a rentabilidade.

TUDO NOVO DE NOVO

Nascida nos Estados Unidos, a TerraCycle está à procura de parceiros no Brasil para dar um destino a embalagens que não são facilmente recicláveis, como aquelas de petiscos, salgadinhos e chocolates. "Esse é um grande problema no mundo todo", diz Guilherme Brammer, presidente da empresa no Brasil. As atividades no país começaram, há cerca de seis meses, com a PepsiCo -a empresa financia o trabalho.

A coleta do lixo é realizada por voluntários, que se cadastram no site da TerraCycle e formam equipes nos seus locais de trabalho e condomínios.

As embalagens são enviadas pelo correio, com porte pago. Separadas, pesadas, rendem R$ 0,02 cada uma para uma entidade social que a equipe queira ajudar. Esse dinheiro fica acumulado na "conta" dos voluntários, os quais de seis em seis meses pedem que o cheque seja enviado à instituição. "Existe uma auditoria para saber como os recursos são empregados", afirma o presidente da empresa.

RECEITA
Um dos grandes alvos do movimento de consolidação por que tem passado o varejo brasileiro, as redes de farmácias no Brasil apresentaram um reajuste ainda pequeno em seu ranking de 2009. A cearense Pague Menos foi líder em faturamento pelo segundo ano consecutivo, seguida por Drogasil (SP), Drogaria São Paulo (SP), Pacheco (RJ) e Droga Raia (SP), de acordo com a lista que será divulgada hoje pela Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias). No ranking que considera o número de lojas das associadas, a fluminense Pacheco foi a primeira colocada, à frente de Pague Menos, Droga Raia, Drogasil e Panvel (RS).

NA LINHA
Está na mesa do conselho da Nextel a proposta da subsidiária brasileira contendo o preço máximo que ela pretende pagar para levar as últimas frequências 3G (telefonia de terceira geração) no país. A venda será feita pela Anatel no final deste mês e deve contar com a participação de pelo menos três operadoras que hoje não atuam nesse segmento. A confirmação da Nextel é do presidente da companhia no Brasil, Sérgio Chaia. Ele não revela os valores, mas afirma que a companhia será agressiva nesse leilão.

TONELADA
A venda de ovos nesta Páscoa alcançou mais de 100 milhões de unidades, o equivalente a 25.500 toneladas de chocolate e 15% mais do que no mesmo período do ano passado, segundo a Apas (Associação Paulista de Supermercados).

ENXURRADA
A Petrobras dispensou os funcionários do prédio administrativo do Maracanã ontem, devido à dificuldade de acesso ao bairro por conta das chuvas no Rio. Não foram alterados a operação na refinaria e o abastecimento dos postos, diz a empresa.

EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO


Chega de saudade

FOLHA DE SÃO PAULO - 07/04/10

A candidata oficial erra ao voltar-se para o passado com o intuito de forjar uma revanche na disputa particular de FHC e Lula 

EM SEU PRIMEIRO discurso depois de deixar a Casa Civil, a candidata Dilma Rousseff insistiu na tentativa de comparar o atual governo com o anterior.
Não se sabe o que pesa mais nessa estratégia enviesada, se a obsessão íntima do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de se medir com o antecessor Fernando Henrique Cardoso ou a percepção de que é mais vantajoso para a representante da situação transformar eleições que decidem o futuro do país em avaliação de fatos passados.
Não é demais lembrar que um brasileiro com 18 anos completados em 2010 comemorava 10 ao término do governo FHC -e era uma criança de dois anos quando o sociólogo tucano assumiu.
Esse hipotético cidadão não terá idade para lembrar em que país se vivia no início da década de 90. Mas, se procurar informações, saberá que coube a FHC, na sequência do impeachment de Fernando Collor, e ainda no governo de Itamar Franco, lançar um plano -depois de várias tentativas frustradas- capaz de superar o perverso ciclo hiperinflacionário que havia anos dilapidava a economia popular e impedia o desenvolvimento do país.
Se pretende incursionar pelo passado, poderia a candidata lembrar a seus potenciais eleitores que o Partido dos Trabalhadores negou sustentação ao presidente Itamar Franco e bombardeou o Plano Real. Ou seja, opôs-se de maneira pueril e ideológica a uma das mais notáveis conquistas econômicas da história moderna do país, que propiciou aos brasileiros pobres benefícios inestimáveis, sob a forma de imediato aumento do poder aquisitivo e inédito acesso ao sistema bancário.
Sabe bem a ex-ministra que se alguém nesses anos mudou de pele foi antes o PT do que o PSDB. O que terá sido a famosa "Carta aos Brasileiros" senão uma providencial e pública troca de vestimenta ideológica do candidato Lula -que, eleito, sob aplausos do mundo financeiro, indicou um tucano para o Banco Central (agora no PMDB) e um ex-trotskista com plumagem neoliberal para a Fazenda?
É um exercício vão buscar comparações e escolhas plebiscitárias entre gestões que se encadeiam no tempo. Os avanços e problemas de uma transformam-se em acúmulo ou em fatos acabados na outra. Ou será que faz sentido questionar como teria sido a gestão lulista se tivesse de formular um plano para vencer a hiperinflação, precisasse sanear instituições financeiras públicas e se visse obrigada a estancar uma crise sistêmica dos bancos privados nacionais?
O Brasil precisa pensar e agir com olhos no futuro. Nada tem a ganhar com a tentativa da candidatura governista de forjar uma revanche de disputas pretéritas. Se o presidente Lula não venceu a contenda com Fernando Henrique Cardoso em 1994 não será agora que o fará -pelo simples motivo de que nenhum dos dois é candidato. O governo que se encerra neste ano teve méritos inegáveis, mas muitos deles, é forçoso reconhecer, nasceram de sementes plantadas no passado.

O ESGOTO DO BRASIL

FERNANDO RODRIGUES


Lulocentrismo e dilmismo

FOLHA DE SÃO PAULO - 07/04/10

BRASÍLIA - Pouco se faz ou se decide na campanha de Dilma Rousseff sem a bênção de Lula. A centralização dos debates relevantes é completa. Seria prematuro apontar o mandonismo lulista como algo líquido e certo num eventual governo Dilma em 2011. Mas, por enquanto, os sinais emitidos são exatamente nesse sentido.
Tome-se o caso curioso da agenda da petista no dia 10 de abril, sábado, quando José Serra (PSDB) lançará de maneira oficial sua pré-candidatura a presidente. O evento será em Brasília, numa anunciada grande festa tucana. Os petistas passaram dez dias pensando no que fazer com Dilma nessa data.
Só ontem no fim do dia Lula bateu o martelo e optou-se por uma visita à região do Grande ABC. Antes, a ideia inicial havia sido levar Dilma e Lula ao Rio para um evento público no momento em que Serra estivesse lançando sua candidatura em Brasília. Houve divergência dentro da coordenação petista.
Alguns mais radicais sonharam em promover um convescote de Dilma por locais que ficaram alagadas em São Paulo no início do ano.
Ou uma passagem rápida pelo notório buraco do metrô paulistano.
Tudo ficou suspenso até Lula ter dado ontem sua palavra final.
Some-se ao lulocentrismo a atitude também centralizadora de Dilma Rousseff. A petista até hoje não tem página oficial na internet nem perfis próprios nas redes de relacionamento social. Está tudo pronto, mas só nesta semana a candidata reservou um pouco de tempo para aprovar os layouts preparados. Por enquanto, não fala de maneira direta com os mais de 60 milhões de brasileiros com acesso à web.
Se a ex-ministra deslanchar nas pesquisas e ganhar em outubro, essas idiossincrasias ficarão para trás.
No caso de a campanha fazer água, o lulocentrismo e o dilmismo ocuparão papel de destaque como fatores responsáveis pelo eventual descarrilamento da candidatura.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Tá sobrando?  

O Estado de S.Paulo - 07/04/2010

Aproveitando o troca-troca nos ministérios e nos Estados, o governo Lula editou silenciosamente, no último dia 30, a MP 484. Ela distribui nada menos que R$ 1,6 bilhão assim divididos: metade para as regiões Norte e Nordeste e metade pulverizada nos conformes do Fundo de Participação dos Estados.

Segundo a exposição de motivos, o dinheiro, a fundo perdido, saiu para compensar a crise financeira de 2009 e reforçar o ensino médio.

Do total, São Paulo foi agraciado com 0,5% - algo como R$ 80 milhões.
Dissintonia

O Idec volta ao ataque contra a Anatel: diz que a agência está descumprindo suas próprias normas. É que ela divulgou, em março, uma nova uma regra sobre o aluguel do decodificador para o ponto extra da TV a cabo.

Na contramão da Justiça paulista, que já havia decidido pela ilegalidade da cobrança desses novos pontos.
O céu pode esperar

Com atraso de cinco horas, avião da Ocean Air se preparava para decolar do Rio para São Paulo, anteontem, quando se descobriu um passageiro a mais. Para felicidade geral, uma mulher propõe levar a filha de sete anos no colo, cedendo o assento do lado.

"A senhora merece ir para o céu...", agradece a aeromoça.

"Não", interrompe logo a passageira. "Eu quero é ficar na terra mesmo..."

Gogó

O Metropolitan Opera de NY convidou e Paulo Szot disse OK. Participará da opereta O Morcego. Também no Met, o barítono brasileiro foi confirmado para Carmen, na temporada do ano que vem.

Sobrevida

As Vidas de Chico Xavier, biografia base do filme de Daniel Filho, ganha nova versão. Sai em junho, pela Leya.

Amor de filha

Maria Bethânia faz homenagem a Dona Canô na temporada de shows que começa sexta, no Citibank Hall. Incluiu a canção Curare, de Bororó, que dedicará à mãe.

Precedendo a música, a declaração de amor: "Meu canto é teu, minha senhora".

Batom

Acaba de acontecer uma revolução feminina... em alto-mar. Havia apenas uma mulher, em maio de 2009, na plataforma São Vicente de Tupi - primeiro campo do pré-sal.

Hoje são 11, em áreas que vão desde operadora de rádio a fiscal e oficial de máquinas.


Em terra

Quem foi ontem ao encontro com o elenco do filme Segurança Nacional, na Base Aérea de Guarulhos, viu um hangar transformado em sala de visitas. Com direito a poltronas e sofás de couro e presença de Thiago Lacerda e Milton Gonçalves.
Expostos, equipamentos usados nas filmagens, como o avião Hércules, o Super-Tucano, o Caça F-5. A equipe acompanhou treinamentos da Aeronáutica durante um ano.

Em terra 2

Roberto Carminati, diretor, teve inúmeras reuniões com a Abin, que o assessorou nos diálogos. Lacerda, por sua vez, conviveu com agentes secretos.

Gonçalves agradeceu a Lula por ter liberado o uso da infraestrutura necessária, como o Palácio do Planalto. O filme custou R$ 5 milhões e sai dia 7 de maio.

Cinderelas

Alexandre Birman abre hoje a sua primeira loja homônima.. Em lugar de festa, recebe convidadas com hora marcada.

Elas ganham de presente, forma sob medida arquivada no ateliê.

Panela nova

O Seraphina -um dos restaurantes preferidos dos brasileiros em Manhattan- vem para São Paulo.
Em treinamento em Nova York, está um chef brasileiro.


Na frente

A Praça Dom José Gaspar volta aos anos 80: o Paribar, símbolo da área, acaba de reabrir suas portas. No comando, Luiz Campiglia.

Cat Power, que participa da Virada Cultural, topou. Fará show extra, dia 26 de maio, no Bourbon Street.
Abre sábado, na Pinacoteca, a exposição Portinari na Coleção Castro Maya.

Fábio Júnior sobe ao palco do Credicard Hall nos dias 18 e 19 de junho.

João Alves das Neves lança o livro 400 Anos - Padre Vieira - Imperador da Língua Portuguesa. O evento acontece no Consulado Geral de Portugal em SP. Dia 16.

Nos seus 20 anos, o Bando de Teatro Olodum chega ao Sesc Vila Mariana com três espetáculos. A partir de amanhã.
Tó Brandileone convida compositores amigos para show de música brasileira A Grama do Vizinho. Dia 13, na Casa da Francisca.
João Maurício Galindo, Paulo Caruso e Baixo Ribeiro estão entre os debatedores do Simpósio Traço, Forma e Psicanálise. Sexta, na Sociedade Brasileira de Psicanálise.

Desavisado membro da equipe do próximo filme Harry Potter esqueceu o roteiro do longa ... no bar. Com 118 páginas, ele foi enviado ao The Sun que - milagre! - devolveu-o à Warner.

ALMIR PAZZIANOTTO PINTO

Tancredo Neves, a CUT e o PT
 O Estado de S.Paulo - 07/04/10

No dia 21 de abril completam-se 25 anos da morte do presidente Tancredo Neves. Após longo sofrimento, o dr. Tancredo sucumbiu à doença que o perseguira ao longo da campanha presidencial e na viagem ao exterior, depois da vitória no Colégio Eleitoral, em 5 de janeiro de 1985, reunido na forma do artigo 74 da Constituição de 1967. O dr. Tancredo obteve 480 votos; Paulo Maluf, 180; registrando-se 17 abstenções, 5 do PT, e 9 ausências.

Em 14 de março, à noite, preparando-se para a posse, o dr. Tancredo Neves, que comemorara 75 anos no dia 4, participou da missa no Santuário Dom Bosco, oficiada por Dom João de Rezende Costa, arcebispo de Belo Horizonte.

Momentos depois, vítima de fortes dores, o dr. Tancredo foi levado ao Hospital de Base para ser operado de complicações no divertículo. Desde esse instante a população brasileira passou a aguardar o restabelecimento do seu líder, expectativa que, desgraçadamente, não se concretizou.

Exemplo do estilo mineiro de fazer política, o dr. Tancredo sabia como ninguém combinar energia, coragem e firmeza nos momentos críticos, como por ocasião do suicídio do presidente Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954, com a lhaneza, paciência e diplomacia que lhe permitiram encaminhar, em nome da oposição, a sucessão do presidente João Figueiredo e obter dos comandantes militares o compromisso de que respeitariam os resultados da eleição indireta.

Raras vezes estive com o dr. Tancredo. À época, era secretário do Trabalho do governo Franco Montoro.

O primeiro encontro ocorreu no Palácio das Mangabeiras, sede do governo de Minas Gerais, em almoço do qual participaram líderes do PMDB. Em determinado momento, o governador me pediu informações sobre a estrutura sindical. Disse-lhe o que pensava, destaquei o problema do peleguismo e declarei que a solução consistia na ratificação da Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata da autonomia de organização e garante liberdade de sindicalização.

Com o dr. Tancredo eleito, soube pelo dr. Roberto Gusmão, secretário de Governo, de reunião com o dr. Francisco Dornelles, futuro ministro da Fazenda. O encontro se deu em São Paulo, ocasião na qual fui informado de que assumiria o Ministério do Trabalho, cabendo ao dr. Gusmão o Ministério da Indústria e Comércio.

Nos últimos dias de fevereiro compareci à Granja do Torto, onde o dr. Tancredo disse-me que era convocado para "sofrer com ele durante quatro anos".

O decreto designando-me ministro acha-se assinado pelo dr. Tancredo na qualidade de presidente da República e é datado de 15 de março de 1985. Quem me entregou a cópia foi o ministro-chefe da Casa Civil, José Hugo Castelo Branco, acompanhada de mensagem pessoal. O documento de posse contém o autógrafo do vice-presidente José Sarney.

Antes mesmo da nomeação, fora incumbido da tarefa de negociar entendimento entre governo, patrões e trabalhadores.

O dr. Tancredo julgava indispensável, para a recuperação econômica e o sucesso do período de transição, que se fizesse algo semelhante aos pactos celebrados na Espanha após a morte de Francisco Franco, em 1975, com a instituição do regime monárquico democrático.

Seis importantes acordos, o primeiro conhecido como Pacto de Moncloa, haviam sido firmados, entre 1977 e 1984, pelo ministro Adolfo Suarez com a Confederação Espanhola de Organizações Empresariais (CEOE) e a União Geral dos Trabalhadores (UGT), para tornar possível, em clima de tranquilidade sindical, a estabilidade da moeda, a retomada do desenvolvimento e a criação de empregos.

A revista Senhor de 9 de janeiro de 1985 publica entrevista do dr. Tancredo Neves a Mino Carta, em que ele revela desejar "uma trégua para organizar o pacto social que poderá remeter o País a um novo patamar de crescimento".

As reações ao pacto foram divergentes. Enquanto Joaquim dos Santos Andrade, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e da Conclat, reconhecia a gravidade da crise e se revelava disposto a colaborar, a associação CUT-PT abria hostilidades contra o dr. Tancredo, sem mesmo tentar saber o que se pretendia.

Em vez de aceitar o diálogo, um desvairado Jair Meneguelli panfletava fábricas com a seguinte mensagem: "Metalúrgicos vão à greve contra o pacto."

O Jornal da Tarde, na edição de 11 de fevereiro, estampava as manchetes: "A CUT e o PT declaram guerra a Tancredo" e "Os trabalhadores metalúrgicos do ABC vão à luta já, contra o pacto."

Os fatos revelariam que PT e CUT não blefavam. Em abril a CUT ocupou as instalações da GM, em São José dos Campos, e submeteu a cárcere privado 370 funcionários, vítimas de violências e humilhações.

Na manifestação de 1.º de maio, realizada na Praça da Sé, Meneguelli esbravejava: "Vamos parar o Brasil de norte a sul." De fato, o Brasil via-se atacado por milhares de greves políticas e selvagens.

Em 24 de junho de 1985, o presidente José Sarney convidou as lideranças sindicais, sem exceção, para reunião na Granja do Torto, a fim de discutir como deter a inflação, retomar o crescimento e aumentar salários. Compareceram todos, à exceção da CUT, empenhada no boicote do governo.

Jamais saberemos como seria o Brasil se o dr. Tancredo houvesse governado. A História, porém, é implacável e registra que o PT e a CUT foram responsáveis por 20 anos de atraso, até que o País recuperasse a estabilidade e o desenvolvimento, graças ao Plano Real.

ADVOGADO, FOI MINISTRO DO TRABALHO (1985-1988) E MINISTRO DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO (1988-2002)

PAINEL DA FOLHA

Faz de conta
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 07/04/10

A reação dos deputados contra o projeto de iniciativa popular que exige "ficha limpa" dos candidatos, da maneira como está redigido atualmente, fez surgir na Câmara uma articulação para postergar a votação, inicialmente prevista para hoje.
Segundo script desenhado ontem, o presidente Michel Temer (PMDB-SP) colocará o projeto em pauta, de modo a evitar desgaste com a opinião pública. Mas, por questão regimental, os deputados podem devolvê-lo à CCJ, o que protelaria a votação. Isso porque são esperadas várias emendas ao texto original. Para que elas pudessem ser apreciadas diretamente em plenário, seria necessário colocar o projeto em regime de urgência. E não há a menor disposição para isso.


DDD. Tanto José Serra (PSDB) quanto Dilma Rousseff (PT) telefonaram ao governador Sérgio Cabral (PMDB) e ao prefeito Eduardo Paes (PMDB) para manifestar solidariedade e pedir informações sobre os estragos causados pela chuva no Rio.
Devagar. Embora Dilma tenha feito ontem uma defesa "de leve" da candidatura única da base em Minas, e Hélio Costa (PMDB) tenha mais uma vez apelado aos petistas para que o apoiem, ninguém deve esperar por recuo de Fernando Pimentel ou de Patrus Ananias antes de maio. A ideia do PT local é postergar ao máximo uma decisão. Se mais não for, para conter outras exigências do PMDB.
Consultoria. Entre um e outro evento, Dilma conversou com a funcionária de uma pousada que a ajudou a relembrar expressões mineiras.
Mesa para quatro. No famoso encontro em que Lula explicou a Henrique Meirelles que não tinha como lhe ajudar a ser vice de Dilma, o presidente se fez acompanhar da própria candidata e de Franklin Martins.
Na lata. Coube ao ministro da Comunicação Social a fala mais direta da reunião: diante de Meirelles, Franklin disse que a simples especulação em torno da possibilidade de o presidente do BC tomar o lugar de Michel Temer na vice punha em risco a aliança PT-PMDB, considerada essencial para a candidatura de Dilma.
No paralelo. Enquanto o mundo apostava no diretor de Normas, Alexandre Tombini, para substituir Meirelles, o ministro Guido Mantega (Fazenda) trabalhava para instalar o secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa, na presidência do BC.
Alma do negócio. Franklin Martins apresentou consulta ao Tribunal Superior Eleitoral sobre a possibilidade de utilizar "o nome ou a marca de programas", além da expressão "governo federal", em "fachadas, locais de atendimento, placas de identificação, uniformes e materiais" durante o período de campanha. Também pergunta se "nomes de órgãos ou entidades responsáveis pela comunicação" poderão ser usados em peças publicitárias.
Em cascata. Técnicos do tribunal esperam uma chuva de processos pedindo a liberação do uso de logomarcas do governo na campanha. A Anvisa foi a primeira. A relatora é a ministra Cármen Lúcia.
Rei. Indagado sobre suas preferências musicais durante entrevista a duas emissoras de rádio ontem no Rio, Lula afirmou ser fã de "Detalhes", de Roberto Carlos.
A postos. Tudo caminha para chapa pura do PSDB no Paraná, com o senador Flávio Arns como vice de Beto Richa.
Visita à Folha. Oded Grajew, presidente do instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, visitou ontem a Folha. Estava com Paulo Itacarambi, vice-presidente-executivo, Gladis Eboli, gerente-executiva, Luanda Nera, coordenadora de comunicação, e Cristina Spera, assessora de imprensa.

com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER
Tiroteio 
"Eduardo Paes e Sérgio Cabral agora procuram desculpas para a redução de investimentos em conservação e limpeza. As imagens da tragédia no Rio revelam o resultado dessa união." 

Do deputado ÍNDIO DA COSTA (DEM-RJ), sobre as declarações do prefeito, que, ao comentar as mortes e os estragos causados pelas chuvas no Rio, disse que "o que aconteceu foi totalmente atípico".
Contraponto 
Sem dono Os deputados petistas José Eduardo Cardozo e Cândido Vaccarezza, este líder do governo, encontraram-se ontem num almoço em Brasília e combinaram de ir embora juntos para colocar a conversa em dia. Na saída do edifício em que estavam, havia um carro parado na porta. Sem pestanejar, os dois entraram no veículo, surpreendendo o motorista que ali aguardava.
-Este carro é seu, não é?- perguntou Cardozo a Vaccarezza em tom de simples confirmação.
-Meu, não! Não é seu?- devolveu o outro.
Diante da negativa, os dois se desculparam e saíram de fininho. Simplesmente, haviam "invadido" o carro errado!