quarta-feira, janeiro 30, 2013

Empatia - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 30/01

As pessoas se preocupam em ser simpáticas, mas pouco se esforçam para ser empáticas, e algumas talvez nem saibam direito o que o termo significa. Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de compreendê-lo emocionalmente. Vai muito além da identificação. Podemos até não sintonizar com alguém, mas nada impede que entendamos as razões pelas quais ele se comporta de determinado jeito, o que o faz sofrer, os direitos que ele tem.

Nada impede?

Foi força de expressão. O narcisismo, por exemplo, impede a empatia. A pessoa é tão autofocada, que para ela só existem dois tipos de gente: os seus iguais e o resto, sendo que o resto não merece um segundo olhar. Narciso acha feio o que não é espelho.

Ele se retroalimenta de aplausos, elogios e concordâncias, e assim vai erguendo uma parede que o blinda contra qualquer sentimento que não lhe diga respeito. Se pisam no seu pé, reclama e exige que os holofotes se voltem para essa agressão gravíssima. Se pisarem no pé do outro, é porque o outro fez por merecer.

Afora o narcisismo, existe outro impedimento para a empatia: a ignorância. Pessoas que não circulam, não possuem amigos, não se informam, não leem, enfim, pessoas que não abrem seus horizontes tornam-se preconceituosas e mantêm-se na estreiteza da sua existência. Qualquer estranho que possua hábitos diferentes será criticado em vez de respeitado. Os ignorantes têm medo do desconhecido.

E afora o narcisismo e a ignorância, há o mau-caratismo daqueles que, mesmo tendo o dever de pensar no bem público, colocam seus próprios interesses acima do de todos, e aí os exemplos se empilham: políticos corruptos, empresários que só visam ao lucro sem respeitar a legislação, pessoas que “compram” vagas de emprego e de estudo que deveriam ser conquistadas através dos trâmites usuais, sem falar em atitudes prosaicas como furar fila, estacionar em vaga para deficientes, terminar namoros pelo Facebook, faltar compromissos sem avisar antes, enfim, aquelas “coisinhas” que se faz no automático sem pensar que há alguém do outro lado do balcão que irá se sentir prejudicado ou magoado.

É um assunto recorrente: precisamos de mais gentileza etc. e tal. Para muitos, puxar uma cadeira para a moça sentar ou juntar um pacote que alguém deixou cair, basta. Sim, somos todos gentis, mas colocar-se no lugar do outro vai muito além da polidez e é o que realmente pode melhorar o mundo em que vivemos. A cada pequeno gesto diário, a cada decisão que tomamos, estamos interferindo na vida alheia. Logo, sejamos mais empáticos do que simpáticos.

Ninguém espera que você e eu passemos a agir como heróis ou santos, apenas que tenhamos consciência de que só desenvolvendo a empatia é que se cria uma corrente de acertos e de responsabilidade – colocar-se no lugar do outro não é uma simples gentileza que se faz, é a solução para sairmos dessa barbárie disfarçada e sermos uma sociedade civilizada de fato.

Liga contra o futebol - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 30/01

Ainda sobre o interesse que a Copa no Brasil tem despertado no meio literário. A Bienal do Livro de 2013, que vai ocorrer de 29 de agosto a 8 de setembro, no Rio, terá, acredite, 15 mesas sobre literatura e futebol. O espaço Goleada Literária terá curadoria do coleguinha João Máximo.

Aliás...
Deve pegar fogo o debate sobre escritores como Graciliano Ramos e Lima Barreto, que repudiaram a chegada do futebol ao país. O autor de “Triste fim de Policarpo Quaresma” chegou a cogitar fundar uma liga contra o futebol. Lima, nacionalista, dizia que o futebol era um esporte aristocrático inglês. Fazia sentido.

Alegria, alegria
Cada um dos dez vice-presidentes da antiga gestão do Flamengo tinha direito a um camarote no Engenhão. Todos com bufê. A nova diretoria devolveu oito camarotes. Além disso, cortou 500 ingressos da torcida.

Lá e cá
Veja como nas empresas americanas há uma cultura de prevenção de acidentes. No fim dos anos 1980, funcionários da Esso, no Rio, eram proibidos de agendar eventos em casas de espetáculo que não preenchiam condições de segurança satisfatórias. Entre elas, o antigo Canecão.

No mais...
Ontem pela manhã, foras da lei motorizados, como de costume, fugiram do engarrafamento em São Conrado, em direção ao Túnel Zuzu Angel, usando o acostamento. O Brasil só será um país civilizado, capaz de evitar tragédias maiores como a da boate em Santa Maria, quando a gente parar de achar que o problema é sempre o outro.

O PAPEL MAIS DIFÍCIL DE DIECKMANN
Carolina Dieckmann, a atriz carioca de 34 anos que acaba de se despedir de sua personagem Jéssica, na novela “Salve Jorge”, posa para a nova edição da “Contigo!”. Com os cabelos longos, ela brinca com o tempo em que Jéssica ficou na trama da TV Globo: “Acho que nunca houve uma participação especial de tanto sucesso. E foi meu papel mais difícil, sem dúvida”

Rio é o Brasil na Copa
Apedido do Ministério do Esporte, a FSB Pesquisa ouviu cem jornalistas esportivos de dez países sobre a Copa do Mundo no Brasil. Perguntou qual cidade-sede eles gostariam de visitar.
A preferida foi... o Rio, disparada. 

Brasil no Oscar
Um filme brasileiro faturou o prêmio de “melhor série étnica” do AVN Awards, nos EUA, o Oscar do... cinema pornô.
Foi com o, digamos, longa “Show de...” deixa pra lá.

Quem vem
Burt Bacharach, maestro, compositor e arranjador americano, 84 anos, apresenta-se no Vivo Rio dia 18 de abril e, dia 20, no HSBC Brasil, em São Paulo. Ele teve sua música interpretada por cantores famosos como Dionne Warwick e Aretha Franklin, além de ter sido pianista e maestro de Marlene Dietrich.

Diário de Justiça
A 7ª Câmara Cível do Rio julga hoje o caso de uma filha que cobra pensão do pai. Maior de idade, a moça perdeu em primeira instância. Agora, a defesa dela tenta provar que o pai abusou sexualmente da filha.

A volta de Tim aos EUA
Finalmente os EUA se rendem ao talento de Tim Maia. Logo ele que, em vida, foi flagrado, na Flórida, num carro roubado, fumando maconha. Depois de cumprir cana de seis meses, foi deportado. Seu disco “Nobody can live forever”, lançado pela Luaka Bop, de David Byrne, foi bem aceito pelo “New York Times”.

Segue...
O Síndico virou matéria na “New Yorker”, que aborda a época em que Tim morou em Tarrytown, a 40 quilômetros de Nova York, entre 1959 e 1964. Lá, ficou conhecido como “Jimmy, the brazilian”. Aborda ainda o sucesso do musical sobre Tim Maia, baseado na biografia de Nelson Motta.

Zé Dirceu na ABI
A ABI afirma não ter ligação com o debate sobre o mensalão, hoje, com a presença de Zé Dirceu, na entidade. Diz que apenas alugou o espaço para o Sindipetro.

Zona Franca
O ministro Aldo Rebelo dará posse amanhã, às 12h, em Brasília, no cargo de Secretário Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor ao coleguinha Antonio José Carvalho do Nascimento Filho, o Toninho Nascimento.

Antonio Wanderley, após 14 anos como diretor de desenvolvimento de negócios internacionais do Ibope em Miami, assume a diretoria executiva de marketing do instituto no Brasil.

Marisa Manfredini é a diretora-geral da Grande Festa do Samba, hoje, no Imperator.

O Baile Glamurama será dia 15, no MAM, no Rio. 

Sérgio Valente festeja os 15 anos de seu restaurante Bon Grill, hoje.

Mauro Magalhães recebeu ontem do presidente da Amar, Luis Igrejas, medalha pelos 30 anos da Associação da Barra da Tijuca.


Ponto Final
Há quem diga que já tem banqueiro pensando em ir às ruas lançar a campanha “Volta, Lula!”

Pureza armada - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 30/01

Qualquer transgressão é apresentada como direito; se roubaram você, responda roubando também


A notícia, que saiu no UOL há algum tempo, tinha me deixado curioso. Alguém em Brasília encaminhou pedido ao Ministério Público para que "O Livro Maldito" (editora BestSeller) tivesse sua venda proibida no país.

Os motivos para essa interdição estariam até mesmo na contracapa do volume. O autor, Christopher Lee Barish, promete ensinar uma série de coisas proibidas.

"Assalte um banco." "Arrombe fechaduras." "Forje a própria morte." "Minta para um polígrafo."

E outras coisas, "muito, mas muito piores", promete a contracapa. Fui ver.

A maior parte das transgressões de "O Livro Maldito" tende para o café pequeno. "Como não limpar o cocô de seu cachorro", "como burlar máquinas de refrigerante" ou "como escapar de ser jurado num tribunal" não constituem objetivos tão diabólicos assim.

Uma seção especial, destinada "a criminosos", promete ensinar os incautos a falsificar dinheiro, a entrar para a máfia e a contrabandear drogas.

Mas basta ler um pouquinho para perceber que o propósito de "O Livro Maldito" é humorístico e que nenhuma das suas informações seria capaz de garantir por mais de meia hora a sobrevivência do leitor no mundo do crime.

O interessante, na verdade, está em ver que tipo de humorismo é esse.

Veja-se como começa o capítulo sobre como enganar uma máquina de refrigerantes.

"Quantas vezes, ao longo da vida, você já foi roubado por uma dessas máquinas?" Elas "passaram a perna em você -e agora está na hora de dar o troco", diz o autor.

Segue-se uma impraticável explicação de como colar uma fita adesiva dos dois lados de uma cédula de dinheiro, deixando um rabicho para puxá-la de volta.

O essencial -e tão tipicamente americano, aliás, quanto o uso cotidiano dessas máquinas- está no gênero de argumentos utilizado pelo autor.

Em resumo, qualquer transgressão é apresentada como um direito legítimo. Se roubaram você, responda roubando também.

Outro exemplo. Se um guarda de trânsito pretende multá-lo por excesso de velocidade, "pergunte sobre o radar dele", recomenda o livro. Isso porque em muitos lugares dos Estados Unidos é lícito exigir do guarda o certificado de aferição do aparelho.

O autor também oferece muitas razões "legítimas" para nos instruir a roubar no jogo de dados. O cassino vive de arrancar nosso dinheiro; "a única maneira boa de se vingar é tomando o dinheiro dele".

As dicas do livro a esse respeito são obviamente delirantes: "pratique jogar dados colocando para cima os números que você quer", e "lance-os de tal maneira que não haja muita rotação".

Ah, bom. Muito obrigado. Agora estou pronto para a desforra.

Tantas reparações imaginárias contra "os verdadeiros ladrões" têm, na verdade, um pressuposto até ingênuo.

A ideia, especialmente estranha para nós brasileiros, é a de que o cidadão é em sua essência honesto e, sobretudo, detentor de direitos. É em defesa desses direitos que ele encontra justificativa para quebrar a lei; a boa notícia está no fato de que, em última análise -como no caso das multas de trânsito-, o próprio sistema judiciário facilita esse tipo de comportamento.

No Brasil, tudo teria de ser escrito ao inverso. Estamos culturalmente preparados para um estado de culpa, e não de inocência. Se apanhados em alguma transgressão, nossa tendência será dizer que todo mundo faz o mesmo.

Nos Estados Unidos, pelo menos através das lentes satíricas de "O Livro Maldito", a atitude é outra: que autoridade tem o guarda para me acusar de alguma coisa?

Sem ser especialmente engraçado, muito menos útil, e menos ainda pernicioso, o livro de Christopher Barish ajuda a entender um pouco dos aspectos mais misteriosos da psique americana.

A partir desse pressuposto da inocência e do recurso à ilegalidade como um direito dos cidadãos, fica mais clara, por exemplo, a estranha atitude de tantos americanos com relação à posse de armas de fogo.

Eles se batem por um direito que, em qualquer outro país, passa por um evidente e patológico desejo homicida. Liberar a compra de metralhadoras? No Brasil ou no Canadá, um "princípio" desses constitui o mais rematado absurdo.

É preciso acreditar muito na própria inocência, sem dúvida, para fazer tanta questão de possuir um arsenal dentro de casa. Dizer-se roubado, fazer-se de vítima, ver o crime nas intenções dos outros -eis, na verdade, um bom caminho para se tornar criminoso também.

O nome da culpa - ZUENIR VENTURA

O Globo - 30/01

No Brasil, as tragédias anunciadas ou previsíveis ocasionadas por descaso e imprevidência recebem todas o mesmo nome: fatalidade. Assim são classificados as chuvas e os desabamentos que matam centenas de pessoas a cada verão, assim também foi qualificado o incêndio da boate de Santa Maria por seus donos. Em nota, eles afirmam "a bem da verdade" que a empresa estava em "situação regular", com o "sistema de proteção e combate contra incêndio aprovado pelo Corpo de Bombeiros". Se estava tudo bem, nada fora de ordem, se as normas de segurança eram rigorosamente cumpridas, é fácil atribuir a responsabilidade à "fatalidade". Portanto, a conclusão cínica é que ao destino deve ser debitado tudo o que contribuiu para a morte de 230 pessoas e ferimentos em mais de 100: superlotação, plano de prevenção vencido, inexistência de saída de emergência, artefatos pirotécnicos com fogos de artifício, uso de revestimento acústico altamente inflamável, falta de fiscalização. Em suma, como disse o delegado logo após as primeiras investigações, "a boate Kiss não podia estar funcionando".

A bem da verdade mesmo, o nome para a culpa por esse e outros episódios trágicos não é fatalidade, mas impunidade, uma espécie de mãe de todos os vícios nacionais, não apenas da corrupção. Aqui se faz e aqui em geral não se paga. Pode-se alegar que incêndios em boates acontecem em toda parte - no Japão, na China, na Europa, na Argentina. De fato. Mas a diferença é que em Buenos Aires, por exemplo, tragédia semelhante ocorrida em 2004, com 194 mortos, levou o dono à prisão por anos e provocou mudanças drásticas no sistema de segurança das casas noturnas. Aqui, há 52 anos houve o incêndio do circo de Niterói, o maior da história. A comoção geral, a repercussão internacional, a mobilização das autoridades (o então presidente Jango visitou as vítimas, o Papa enviou mensagem de solidariedade, houve jogo com Pelé e Garrincha), a indignação e o clamor popular foram parecidos com a reação de agora. Acreditava-se que a morte de mais de 500 pessoas iria pelo menos servir de lição, pois as autoridades prometeram logo "rigorosa apuração da culpa" e medidas enérgicas de segurança.

Mais ou menos como naquela época, as inúmeras promessas de providências estão disputando espaço no noticiário com o relato da dor dos que ficaram. Governadores e prefeitos anunciam varreduras e em algumas cidades estabelecimentos já foram interditados por falta de segurança. Por que só agora? De qualquer maneira, vamos esquecer que as providências já deveriam ter sido tomadas muito antes, pois mais do que legislação o que falta é aplicação da lei e fiscalização, e vamos torcer para que dessa vez a tragédia sirva realmente de lição.

Ueba! O Lincoln era mensaleiro! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 30/01

E sair pra balada virou trauma: ou você tem problemas com a segurança ou com os seguranças!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Piada pronta direto de Uberlândia: "Bandidos tentam explodir caixa eletrônico no bairro Granada". E esta: "Pastor abusava de fiéis dizendo que tinha pênis abençoado". E sabe como é o nome do pastor? PICANTO! Valdei Picanto. Além de abençoado, canta. Rarará!

E o pensamento do dia: "Justin Bieber parece um chocalho -faz um barulho irritante, mas as crianças adoram". E aquela Val Marchiori parece uma pomba gira: se veste de preto e vermelho e só bebe!

E sair pra balada virou trauma: ou você tem problemas com a segurança ou com os seguranças! A segurança é uma tragédia e ainda apanha dos seguranças! É verdade! Eu já vi 300 mil vídeos de cliente apanhando de seguranças na calçada! Ou na pista mesmo!

E a manchete do Piauí Herald: "PSDB quer processar Lincoln como pioneiro do mensalão". Eu assisti "Lincoln" e rolou um "mensalation" mesmo! O inventor do mensalão não foram nem os tucanos mineiros nem os petistas, foi Lincoln!

E socuerro! Me bate uma vitamina de abacate com Red Bull. Chegou a Globelesma! A Globeleza parece a estátua do Oscar sambando! Aliás, a estatueta do Oscar é mais sexy. Aliás, a estatueta do Oscar é gay: dourada, marombada e com uma espada na mão!

O Carnaval chegou! Já recebi a música daquele bloco carioca Já Comi Pior Pagando! Isso não é um bloco, é uma verdade insofismável. Rarará! E aquele bloco de Belém, Filhos de Glande, anunciou que o tema deste ano é Tim Maia: Ereção Racional. Sendo que a coisa mais irracional do mundo é uma ereção!

E sabe o que eu vi ontem na televisão? Uma escola de samba mineira: as passistas são de fora, o mestre-sala dança no Municipal e o mestre de bateria dá aula no conservatório! Só faltou o leque e o chá! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Olha esta promoção de gasolina em Barbacena, Minas: "Acumulando R$ 300 em abastecimento, ganhe um pão com linguiça". Aí você enche os dois tanques. Rarará!

E esta placa no banheiro dum estacionamento em São Vicente: "Super-homem, favor mirar o valente dentro do vaso sanitário. Obrigado!!!". Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Duas grandes mentiras - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 30/01

Continuam as discussões sobre as vantagens e as desvantagens de sediar a Copa do Mundo no Brasil


Os otimistas e a turma do oba-oba, que, às vezes, se confundem, falam que 498 dias são mais que suficientes para se formar uma grande seleção, que Felipão e Parreira são os únicos capazes de suportar a pressão de comandar uma Copa no Brasil, que, em casa, o Brasil é o principal favorito, e que a seleção possui Neymar e vários outros grandes craques.

Os realistas, críticos, também chamados de pessimistas, dizem que não haverá nenhum legado técnico após a Copa de 2014, mesmo se o Brasil for campeão, que o futebol brasileiro, fora raras exceções, como o Corinthians, desaprendeu a jogar coletivamente, que o Brasil só tem um grande craque, Neymar, e que há outras seleções melhores.

Os otimistas e a turma do oba-oba falam que o dinheiro do BNDES não é público, que é comum os estádios ficarem mais caros que o previsto, que nenhum se tornará elefante branco, porque são arenas multiúso, que os novos estádios e gramados vão melhorar a qualidade do futebol e que o desalojamento de famílias e a desapropriação de bens públicos foram exigências da Fifa.

Os realistas e críticos dizem que quase todos os estádios são construídos com dinheiro público (financiamento do BNDES, diminuição de impostos e outras vantagens), que os estádios de Brasília, Cuiabá e Manaus serão elefantes brancos, que os estádios existem para se jogar futebol e, depois, serem sedes de outros eventos, e não o contrário, que quase todos estão superfaturados, com enorme variação de preços, e que, por ser caríssima a manutenção, não serão rentáveis, a não ser que os ingressos sejam muito caros.

Os otimistas e a turma do oba-oba falam que haverá um grande legado à população, que o turismo será beneficiado, que não haverá confusão em aeroportos, no período da Copa, porque diminuirá bastante o número de passageiros habituais.

Os realistas e críticos falam que os aeroportos continuarão tumultuados, desorganizados, superlotados, que a maioria das obras perto e ao lado dos estádios, o tão falado legado da mobilidade urbana, não ficará pronta ou já está cancelada e que o dinheiro público para outras obras urgentes e importantes, para os setores de saúde, transporte, saneamento básico e infraestrutura, foi transferido para o Mundial.

Não tenho dúvidas de que os estádios estarão prontos e lindos, que temos condições de fazer uma Copa tão ou mais organizada que a da África do Sul, que o torcedor vai curtir uma grande festa, ainda mais se o Brasil avançar na competição e for campeão, mas não podemos fechar os olhos a tantos absurdos, a tanto gasto desnecessário e excessivo e a duas grandes mentiras, a de que não haveria dinheiro público e a de que a Copa deixará um grande legado social e urbano à população.

Posição delicada do Brasil no mercado do petróleo - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADÃO - 30/01

O relatório do mercado de petróleo divulgado em 18 de janeiro pela Agência Internacional de Energia (IEA) mostrou que a demanda global da commodity superou as expectativas e deverá atingir a média de 90,8 milhões de barris/dia neste ano, 240 mil acima do que foi previsto em novembro e 930 mil barris/dia acima da média de 2012. "Os mercados estão mais apertados do que esperávamos", segundo os especialistas em petróleo da IEA.

O aumento da demanda é um ligeiro sinal de reativação da economia global. Não há sinais de desequilíbrio entre a demanda e a oferta (média de 91,2 milhões de barris/dia, em dezembro). Mas, com a queda das exportações de petróleo da Arábia Saudita e do Iraque, os preços tenderam à alta. Entre 28/12 e 28/1, de fato, houve uma elevação média de 3,4% nas cotações do petróleo tipo Brent, de US$ 110,84 para US$ 114,69. O maior responsável pela demanda é a China, cuja economia dá sinais de retomada.

O Brasil não está em situação favorável, no curto prazo. A IEA estima que a produção média do País, neste ano, será de 2,27 milhões de barris/dia. Mas, apesar do início da produção de novos campos, três fatores limitarão a oferta: parada para manutenção da plataforma P-53, do Campo de Roncador, em fevereiro, e da P-40, no Campo de Marlim, em abril; a expectativa de que o programa de eficiência da Petrobrás (Proef), que pretende sustentar a produção no médio prazo, resulte em diminuição da extração, no primeiro semestre; e, enfim, o atraso já previsto da retomada da produção do Campo de Frade e do início da operação do Campo Papa Terra - para o primeiro trimestre de 2014. O efeito líquido negativo sobre a produção deste ano é estimado em 80 mil barris/dia.

Ao mesmo tempo, o Brasil vem se destacando entre os maiores consumidores de petróleo do mundo, com elevação da demanda de 155 mil barris/dia no quarto trimestre do ano passado, em relação a igual período de 2011. O aumento do consumo no País só foi inferior ao da China, e semelhante ao dos Estados Unidos. O Brasil é, agora, o 6.º maior consumidor mundial de petróleo, ocupando o lugar que era da Arábia Saudita.

Não há o que comemorar, pois, segundo notícia do jornal Valor, a área de abastecimento da Petrobrás perde mensalmente R$ 1,8 bilhão (foram R$ 21,7 bilhões, em 12 meses, até setembro de 2012), porque o País importa gasolina e óleo diesel por preço superior ao que vende, subsidiando o consumo. A continuação desse prejuízo torna provável que a estatal tenha de adiar os investimentos no pré-sal.

Aguardando a pedida - ROSÂNGELA BITTAR

Valor Econômico - 30/01

Definida mesmo para 2014, até o momento, só a candidatura de Dilma Rousseff à reeleição. O que não significa que não poderá desistir a favor de Luiz Inácio Lula da Silva, que haverá uma candidatura única no campo governista, que o governador Eduardo Campos está fora do páreo para ceder ao PT, que uma vez iniciada a campanha de Dilma, como já está, todo mundo vai correr atrás. Podem todos ficar parados olhando, enquanto se preparam. Significa, apenas, que Dilma está em campanha, acelerada e marquetada. Ela entrou em ebulição a uma distância do pleito semelhante àquela que Lula estabeleceu para iniciar a corrida efetiva da sua primeira eleição, em 2010: dois anos antes.

Lula e Eduardo Campos, na aliança de governo, Aécio Neves e Marina Silva, na oposição, encontram-se na situação, como no pôquer, de aguardar as pedidas. Medem-se de corpo inteiro.

Um interlocutor assíduo do ex-presidente Lula acha risível a conclusão dos apressados de que ele desistiu mesmo a favor de Dilma, prova disso seria seu silêncio e discrição, no momento, depois de orientá-la a correr o país e aproximar-se mais do PT. O ex-presidente mergulhou, sim, mas foi após o seu mais recente revés, o da revelação de suas ligações com protagonista do esquema de corrupção montado no escritório da Presidência da República em São Paulo. Que, por sua vez, surgiu logo depois de um depoimento do publicitário Marcos Valério tê-lo colocado no centro do mensalão. Até para Lula foi demais, ficou mudo e discreto.

Não significados da embolada governista

Mas logo que pôde botar a cara na janela, embora ainda em silêncio, no modelo da candidatura Renan à presidência do Senado, o fez. Reuniu-se com a presidente Dilma e tratou do esquema eleitoral.

A campanha de Dilma será intensificada a partir de agora, embora já tenha começado em decibéis elevados e no Brasil inteiro.

Lula, porém, está no jogo, e o PT está tranquilo porque foi convencido disso. A avaliação corrente é que está cedo para Lula se expor e que a discrição do momento, em que começa uma campanha pelo exterior para restabelecer sua imagem interna e não obscurecer a campanha de Dilma e evitar cobranças, não significa que tenha se conformado à posição de ex. "Está cedo para a candidatura dele ser posta, mas ele está no jogo", diz um amigo e frequentador do Instituto.

Também não é uma divisão de espaço formal, feita de forma combinada com Dilma. Pode parecer, mas não é, garante o interlocutor. Tudo é subentendido e cada passo é dado naturalmente, ditado pelo bom senso, sob orientação de Lula.

Também o governador de Pernambuco está na mesma situação: aguarda as pedidas. Só que ele, ao contrário de Lula, não diz objetivamente que não será candidato. Deixa a especulação rolar com evidente cupidez, estimula as candidatura do seu campo político à presidência da Câmara, não desestimula ninguém e deixa-se vislumbrar numa possível candidatura de reconhecimento em 2014, deixando a aliança com o governo para o segundo turno. Visita Lula, visita Dilma, não diz que é candidato nem que não é. E não precisa dizer, mas é candidatíssimo.

O melhor a fazer, para as candidaturas que se opõem a essa embolada governista, é se dedicarem a uma preparação não amadora para o embate real mais à frente. Marina Silva está dando os primeiros passos, quer criar um partido. Mas e Aécio?

A; campanha do senador Renan Calheiros para ser eleito presidente do Senado e, como consequência, do Congresso Nacional, transformando-se em chefe supremo do Poder Legislativo, depois de renunciar ao cargo para evitar perda de mandato por falta de decoro, só atua às claras junto ao baixo clero. Calheiros tem recebido senadores suplentes com suas mulheres em casa, na praia de Barra de São Miguel, em Alagoas. Para o alto clero ele nem admite candidatura, para não se expor. Por recomendação de especialistas, só emergirá, talvez, na sessão de votação. Os senadores descontentes com este destino estavam entregues ao desconforto da má sorte, sem condições de reagir, quando, nos dois últimos dias, líderes consagrados começaram a fazer um apelo candente ao candidato, só ele capaz de resolver o problema da coletividade retirando sua candidatura. Eduardo Suplicy (PT) implorou anteontem ao senador que não se candidate; Aécio Neves (PSDB) fez o mesmo, ontem, um apelo à desistência. Os dois partidos estavam, até agora, recomendando voto em Renan. Portanto, um problema que se resolve facilmente: é só retirar a recomendação e votar contra.

Quando se imaginava que não era mais possível piorar a imagem do Senado Federal, há anos ao rés do chão, seu presidente, José Sarney, nas últimas horas de seu mandato, decidiu jogar a pá de cal. O impasse na regulação das transferências do Fundo de Participação dos Estados (FPE) só tem um responsável, o Congresso Nacional, a quem foi dado um tempo amplo, geral e excessivo para fazer nova norma antes que a antiga, prorrogada até 31 de dezembro de 2012, expirasse. Não o fez, a regulação findou e o governo começou a repassar recursos sem regras até que o Supremo Tribunal Federal analisasse o pedido de mais uma prorrogação do esquema provisório de repasses. Para atender aos Estados, o ministro Ricardo Lewandowski (STF), no exercício da presidência, durante o recesso judiciário, prorrogou por mais 150 dias a tolerância para a ausência de regulação da transferência. Como reagiu Sarney?

Disse que não está obrigado a cumprir a decisão de Lewandowski e não se submeterá à "pressão" do Supremo. E ainda fingiu-se de desentendido, como está na moda, dizendo que o Supremo estava mesmo era determinando prazo para o Executivo, "responsável pelos repasses", e não para o Congresso, responsável pela nova norma de partilha. "Ele não dá prazo ao Congresso. Ele apenas mantem a decisão de um nova regulamentação do fundo e diz que durante cinco meses serão mantidas as mesmas regras. É mais dirigido ao Poder Executivo, de manter a transferência de acordo com os índices da antiga distribuição", diz, levando o contorcionismo ao sofisma máximo.


O câmbio no centro da política econômica - CRISTIANO ROMERO

Valor Econômico - 30/01

Tudo indica que o governo começa a reconhecer que não é possível atingir todos os objetivos ao mesmo tempo - juro baixo, câmbio desvalorizado, gasto público crescente, economia acelerada e inflação cadente. Nos últimos dias, a presidente Dilma Rousseff deixou claro, em vários discursos, que as principais metas de seu governo agora são manter os juros baixos e reduzir custos de produção (corte da tarifa de energia à frente).

Dois aspectos da política econômica recente sumiram da fala presidencial: a promessa de crescimento elevado do Produto Interno Bruto (PIB) e a defesa de uma taxa de câmbio desvalorizada em relação ao dólar. Não se trata de abrir mão de uma expansão mais rápida da economia, mas de admitir que essa batalha está, pelo menos por ora, perdida. Depois de crescer 2,7% em 2011, o PIB pode ter avançado menos de 1% em 2012 e caminha, pelo jeito, para mais um resultado frustrante em 2013.

No caso do câmbio, trata-se de uma mudança de rumo, sinalizada em dois documentos cruciais do Banco Central (BC) - o Relatório de Inflação de dezembro e a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) - e confirmada por ações recentes da autoridade monetária. Sem poder recorrer ao aumento da taxa de juros (Selic) e sem contar com o esforço fiscal necessário para controlar a demanda agregada, o BC vai usar o câmbio para segurar a inflação nos próximos meses.

Atuação do BC no câmbio tem aval da Fazenda e de Dilma

Depois de sofrer depreciação de 30% entre setembro de 2011 e setembro de 2012, a taxa de câmbio voltou a apreciar. Desde o pico de depreciação mais recente (no início de dezembro, foi a quase R$ 2,12), teve valorização de 6,07%, segundo cálculo do Valor Data. Não se deve esperar um retorno aos níveis anteriores à grande depreciação de 2011/2012, mas é possível que a taxa caminhe para um valor mais baixo, o suficiente para melhorar as expectativas de inflação, que seguem em franca deterioração.

Ontem, o câmbio caiu abaixo do piso simbólico de R$ 2,00, fixado, no ano passado, pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. A atuação do BC na segunda-feira não deixou muitas dúvidas sobre seu propósito neste momento - a instituição antecipou, em alguns dias, uma operação de swap que funciona como uma venda de dólares no mercado futuro, e fez isso num dia em que moedas de vários países estavam se depreciando em relação ao dólar.

O movimento do BC não é um voo solo. Ele é coordenado com o restante da equipe econômica e tem o aval do Palácio do Planalto. "As coisas são conversadas. Esta equipe econômica funciona como equipe, ao contrário do que ocorria no governo anterior. Existe uma coordenação e a preocupação de todos neste momento é com os índices recentes [de inflação]", informou uma fonte graduada.

Para o Ministério da Fazenda, é difícil admitir que a política deliberada de desvalorização do real foi abandonada. Quando o dólar estava cotado a R$ 2,05, o ministro Guido Mantega chegou a afirmar publicamente que a moeda brasileira ainda estava 19% apreciada. Ao mesmo tempo, não se deve esperar que a diretoria do BC confirme oficialmente a política de apreciação do real para combater as pressões inflacionárias deste início de ano.

No regime de câmbio flutuante, a atuação do BC no mercado depende menos de preço e mais de liquidez. Suas intervenções visam tornar o mercado funcional, diminuir a volatilidade (que prejudica o comércio exterior) e acumular reservas. Dificilmente o BC será visto assumindo o uso da taxa de câmbio como instrumento de combate à inflação, mesmo que isso tenha sido feito em vários momentos desde o lançamento do Plano Real.

O câmbio é uma variável de ajuste da inflação que não derruba a economia, ao contrário do que ocorreria se o BC recorresse aos juros. A apreciação cambial ajuda a segurar os preços domésticos e, portanto, a aumentar o poder de compra da moeda nacional, elevando a sensação de bem-estar da população. Além disso, dá um ganho de capital às empresas, à medida que barateia a importação de máquinas e equipamentos.

Reside nesse ponto um aspecto crucial do debate. Uma corrente de economistas, identificada com os desenvolvimentistas e com grande influência sobre o governo Dilma, acredita que a desvalorização do real é crucial para salvar a indústria brasileira, acossada por ineficiências domésticas e pelas chamadas "guerras cambiais" em curso no mundo. Outros fatores podem ter contribuído para a situação atual, mas o fato é que a perda de valor do real entre 2011 e 2012 não ajudou o PIB brasileiro a acelerar o passo.

Uma outra corrente de economistas - o professor Afonso Celso Pastore foi pioneiro em defender essa tese - acredita que a apreciação do real, ao diminuir o custo de bens de capital importados, estimula o investimento privado. Quando o câmbio desvaloriza, o investimento cai (ver gráfico, que mostra essa relação desde o primeiro trimestre de 2003). Ambos (câmbio e investimento) dependem de confiança e refletem o valor dos ativos brasileiros. Quando o valor dos ativos cai, o câmbio deprecia e o ânimo para investir vai embora (ademais, porque os bens de capital ficam mais caros).

Estatais - despolitização e meritocracia - CLAUDIO J. D. SALES

O ESTADÃO - 30/01

Empresas estatais - como bem diz o nome - pertencem ao Estado, e não ao governo, partidos, bancadas ou políticos individuais.

Por causa das paixões que desperta, é sempre desafiador tratar da atuação de empresas estatais sem se deixar influenciar por referências ideológicas. A única forma adequada de abordar o desafio é por meio de constatações factuais e numéricas, a partir das quais se pode construir a base para os testes das hipóteses a respeito da maior ou menor eficiência estatal.

Isso foi feito e o cálculo de um conjunto de indicadores permitiu constatar o baixo desempenho médio das empresas estatais em relação às privadas, tanto em termos econômico-financeiros quanto em termos operacionais (estudo disponível em www.acendebrasil.com.br/estudos, White Paper n.º 10 - Gestão Estatal (Parte 1): Despolitização e Meritocracia).

Com base nos resultados obtidos, foram mapeadas as causas das diferenças de desempenho entre a atuação estatal e a privada.

Os principais entraves à eficiência das empresas estatais são: 1) objetivo indefinido: estatais tipicamente carecem de foco e seus objetivos são muito amplos, dando margem a múltiplas interpretações, às vezes contraditórias; 2) falta de disciplina orçamentária: por terem como acionista majoritário o governo, estatais tendem a carecer de disciplina orçamentária, pois eventuais déficits serão necessariamente cobertos por aportes governamentais (soft budgets); 3) uso político: as estatais sofrem de interferências políticas, ocasionando descontinuidade nas orientações da empresa de governo a governo; e 4) administração inepta: seus dirigentes são, muitas vezes, nomeados pela sua proximidade e lealdade aos governantes, desconsiderando as qualificações requeridas para o cargo.

Com o diagnóstico acima, fica evidente a necessidade urgente de promover a despolitização na gestão das estatais. Afinal, o baixo desempenho e a ineficiência estatal prejudicam a sociedade como um todo, seja pela elevação dos custos dos bens e serviços, seja pela redução dos rendimentos financeiros (de fundos de previdência, fundos de pensão e aplicações financeiras), seja pelo prejuízo às contas públicas governamentais.

O loteamento político precisa ser atacado com rigor porque, no melhor dos casos, as indicações políticas sujeitam a gestão das estatais a interferências visando a interesses partidários e interesses de curto prazo com vista ao calendário eleitoral. No pior dos casos, resultam em ineficiência, superfaturamento e concessão de benesses a amigos, com prejuízo aos contribuintes e acionistas dessas empresas. Resulta, ainda, no que talvez seja o pior legado do sistema de indicações: a falta de competência dos indicados para os cargos, que acarreta perdas substanciais para a sociedade na forma de ineficiência.

Os políticos deveriam limitar a sua interferência nas estatais à delimitação de diretrizes a serem perseguidas por elas. Tais diretrizes deveriam ser explicitadas na forma de metas para as quais deve ser dada publicidade com o objetivo de proporcionar transparência. Somente dessa forma pode-se assegurar que as estatais serão geridas de forma a prestar adequadamente o serviço público, sem desvios de finalidade.

O ponto de partida para bloquear o uso político das estatais deve ser o recrutamento profissional dos seus dirigentes, com ampla divulgação para os cargos buscados. Se a ênfase na ocupação dos cargos que definem os destinos das estatais passar a ser meritocrática e concentrada nas qualificações acadêmicas e profissionais dos candidatos, o espaço para o jogo político e de apadrinhamento será drasticamente reduzido.

Se profissionais qualificados tomarem as rédeas das estatais, os políticos passarão a olhar as estatais não mais como uma ferramenta para seus objetivos pessoais e político-eleitorais, mas como patrimônio público que requer profissionalismo e competência.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 30/01

Mercado de cerveja espera novo impulso no Carnaval
Apesar de a venda de bebidas alcoólicas ter se mantido estável no ano passado, o mercado de cervejas volta a esperar impulso no Carnaval, data que tradicionalmente aquece o setor.

Estimativas do Makro Atacadista em relação à venda neste Carnaval apontam que a expectativa do mercado é de um crescimento pequeno em volume, em torno de 4% em relação ao ano passado.

O avanço modesto considera o aumento mais significativo do preço médio da cerveja pilsen popular. A empresa projeta uma demanda maior do produto premium, principalmente nas embalagens long neck.

Atualmente, o Makro já vende cerca de 15% a mais em volume deste tipo de cerveja, que, como já tinha um preço mais elevado, permanece no mesmo patamar de valor.

"O consumo de premium, de fato, tem crescido, principalmente, entre os jovens", afirma Rodrigo Bandeira-de-Mello, professor da FGV-SP.

"Mas, por serem produtos mais artesanais, muitas vezes importados ou regionais, têm melhor distribuição por outros canais, como quiosques menores, que facilitam a degustação", diz.

No varejo, o Walmart espera alta de 15% no país ante o ano passado, devido ao impulso provocado pela data.

O Extra e o Pão de Açúcar calculam que venderão mais de 70 milhões de unidades, entre latas, long necks, barris e pacotes especiais.

A cerveja tipo pilsen deve responder por 85% do total. Os números representam alta de 20% na comercialização, ante igual período de 2012.

SUCO ORGÂNICO
A General Brands, produtora de suco em pó e de néctares, acaba de adquirir uma fazenda na cidade de Jaguaruana, no Ceará. Com 3.000 hectares, a plantação será voltada para a produção de sucos orgânicos.

O valor não foi revelado e a aquisição vai abastecer a futura unidade fabril da empresa em Mossoró, também no Ceará. O carro-chefe do plantio será a acerola, conforme Isael Pinto, presidente da General Brands.

"A indústria farmacêutica, principalmente dos Estados Unidos e da Europa, está consumindo muita acerola para usar na produção de medicamentos. Exportamos 150 toneladas de acerola verde por mês para este segmento", disse.

A intenção da companhia é chegar a mil hectares da fruta plantada em dois anos -hoje são 300 hectares. A ampliação demandará aporte de R$ 10 milhões.

Além da exportação, o executivo informou que a companhia irá focar também na linha premium de sucos orgânicos.

BOLSO VAZIO
A inadimplência das empresas voltou a crescer em 2012 e fechou o ano com alta de 6,9%, conforme dados da Boa Vista Serviços. Em 2011, o índice havia sido de 16,8%, após queda de 4,6% em 2010.

"O crescimento esperado da economia não chegou, as empresas investiram, mas não tiveram retorno. Houve aumento, mas também uma desaceleração na inadimplência de pouco mais de 40% em relação aos 12 meses de 2011", disse Fernando Cosenza, diretor da área de indicadores da empresa.

A redução no ritmo de crescimento da econômia e o aumento do endividamento e da inadimplência de consumidores foram os responsáveis pelo avanço do índice pelo segundo ano consecutivo.

A elevação da restrição dos bancos à concessão de crédito em geral também contribui para o cenário negativo.

"A tendência para este ano é que a inadimplência se estabilize, pois são boas as chances de um aquecimento da economia com as medidas tomadas pelo governo", concluiu Cosenza.

BRASIL COM 'S'
O braço farmacêutico do BTG Pactual, Brazil Pharma, dono das redes de farmácias Sant'ana, Rosário, Big Ben, Mais Econômica e Farmais, vai mudar sua marca.

A partir de fevereiro, passa a assinar Brasil Pharma, com "s".

O novo nome passará a ser assinado junto com a marca de cada bandeira nas fachadas das 708 unidades da rede no país.

A estratégia é posicionar a companhia como uma rede de abrangência nacional.

Outras iniciativas, como o plano de um novo modelo de arquitetura e design, também serão implementadas ao longo do projeto.

Almoço de negócios? Michael Klein esteve ontem no shopping Iguatemi, em São Paulo, no horário de almoço, na companhia de pessoas de um fundo de investimentos.

Casa nova A ADP, de soluções de RH, abrirá uma filial em Belo Horizonte. A empresa tem unidades em São Paulo, Rio, Campinas, Porto Alegre, Curitiba e Ribeirão Preto.

CANA COSMÉTICA
A L'Occitane en Provence é a nova marca que vai utilizar o plástico verde da Braskem na produção de suas embalagens de cosméticos para o corpo, de acordo com a companhia.

Uma de suas linhas de produtos terá os frascos fabricados a partir do etanol de cana-de-açúcar.

Os itens devem chegar às lojas em fevereiro.

A nova embalagem já começou a ser usada na França e será exportada para mais de 85 países, informa a Braskem.

O objetivo da substituição do polietileno convencional é elevar o uso de matérias-primas renováveis pela multinacional, segundo a Braskem.

ENTRAVE BRASILEIRO
Os impostos continuam sendo apontados como um dos principais entraves para o ganho de competitividade das empresas brasileiras, segundo pesquisa da Fundação Nacional da Qualidade.

O levantamento também mostra que 71% dos entrevistados pela entidade não acreditam que o governo tem trabalhado para reduzir os custos sistêmicos do país.

Quase 30% das empresas já deixaram de receber algum investimento estrangeiro devido à ausência de ações para aumentar a competitividade.


FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 30/01

INVESTIMENTO DE ESTATAIS FOI RECORDE EM 2012
Ministério do Planejamento diz que empresas federais gastaram R$ 97,9 bilhões, 92,7% do orçamento previsto
Foi recorde o total de investimentos das estatais em 2012, informa o Ministério do Planejamento. As empresas federais aplicaram R$ 97,9 bilhões (veja o gráfico) dos R$ 105,6 bi previstos no orçamento. Foram 92,7% de execução orçamentária, a maior proporção registrada desde o ano 2000, sublinha Murilo Barella, diretor do Departamento de Estatais do ministério (Dest). De 2011 para o ano passado, os aportes das estatais saltaram nominalmente 18,7%. A Petrobras, como em anos anteriores, foi a responsável pelo maior volume de desembolsos. Em 2012, a companhia concentrou 88% dos investimentos, contra 60% em 2000. A Eletrobras, no mesmo período, perdeu participação: saiu de 22% para 6%. Este ano, a previsão orçamentária das estatais é de R$ 110 bi em investimentos. Barella prevê que, de novo, a execução passará de 90%, graças principalmente a Petrobras, Infraero e bancos públicos.

Ocupação
Está em 87,81% a taxa de ocupação dos hotéis do Rio para o carnaval. A ABIH-RJ terminou ontem a segunda prévia. Semana passada, o índice estava em 80%. Fora da capital, Paraty está com a rede de hospedagem lotada. Na Região dos Lagos, a taxa varia de 80%, em Búzios, a 95%, em Cabo Frio e Arraial.

Em tempo
Alfredo Lopes, da ABIH-RJ, prevê que os hotéis cariocas terão 99% de ocupação, contra 95% no carnaval 2012.

Interior
A Verd Hotéis, dona de unidades em Rio, São Paulo e Belo Horizonte, inicia expansão para o interior paulista. Investirá R$ 155 milhões em quatro unidades em Fernadópolis, Limeira, Tatuí e Cruzeiro. Todas terão a bandeira Ramada Encore, do segmento econômico.

Balanço
A média de ocupação dos hotéis da rede Othon no Rio passou de 90% no réveillon 2012/2013. Foi o caso do Rio Othon Palace, com 96%. No Savoy, em Copacabana, a taxa foi recorde: saiu de 94% para 99% de um ano para outro. Brasileiros foram maioria entre os hóspedes, com 83%. Argentinos são 2º.

Musa
A atriz Alinne Moraes será garota-propaganda da linha TRE-Semmé, de produtos para cabelos. Assinou com a Unilever. A primeira ação será no carnaval.

Quem muda
Claudio Lampert deixou a diretoria jurídica da LLX, do grupo de Eike Batista. Será sócio no Rio do Lefosse Advogados. A banca paulista é a 3ª do país em fusões e aquisições. Abrirá escritório na capital fluminense.

Refino
A Radix, de engenharia e TI, vai planejar e acompanhar toda a carteira de projetos executados na Repar, no Paraná. O contrato, de R$ 1,5 milhão, valerá por um ano. É o segundo negócio da empresa com a refinaria da Petrobras.

Vida longa
Bateu 65 mil toneladas o volume de embalagens recicladas da Tetra Pak em 2012. Foi alta de quase 10% sobre 2011. Em 2015, 35% do total produzido serão reaproveitados. Hoje, são 29%. Em 2012, 33 indústrias que fabricam itens usando as caixinhas longa vida geraram R$ 80 milhões em negócios.

Iogurte
A Yogoberry terá torta, salada de frutas, picolés e brownie no cardápio. A rede, pioneira no segmento de frozen yogurt, investiu R$ 500 mil para diversificar o mix. O iogurte terá 80% de participação.

Por esporte
A rede Applebee’s terá áreas dedicadas aos esportes nos três restaurantes no Rio e em BH. Parceria com a ESPN, o projeto começa domingo, de olho na transmissão do Super Bowl. É aporte de R$ 110 mil. A meta é faturar 16% mais.

NO CÉU
A Nicobaldo, grife para meninos, lança catálogo da coleção de inverno na segunda quinzena de fevereiro.

A coleção “No céu” tem peças com estampas de raios, planetas, foguetes e do Zeppelin. Vendida em showroom no Rio eem15 multimarcas no país, a marca espera alta de 20% nas receitas.

Multiplicação de aplicativos
A explosão das vendas de smartphones e tablets empurra o mercado de desenvolvedores de softwares A consultoria GfK estima que, em 2012, foram vendidos 2,6 milhões de iPads e seus pares no Brasil. Este ano, serão 5,4 milhões. De smartphones, foram 16 milhões só no ano passado, calcula o IDC Brasil. A quantidade de aparelhos estimula a criação de aplicativos. É o caso do Taxibeat, ferramenta para chamar táxis disponível no Rio e em São Paulo. Lançado há seis meses, já bateu 50 mil downloads e ganha cerca de 200 novos usuários por dia. Está com dois mil taxistas cadastrados nas duas capitais. “Diante da frota de quase 60 mil veículos, temos muito a crescer”, diz o diretor Duffy Sardo. Para dar conta da demanda, o serviço receberá aporte de R$ 3 milhões este ano. Nesta 6ª, sai a versão 3.0. A carioca Gaudium surfa a mesma onda. Em 2012, faturou o triplo de 2011. Este ano, prevê R$ 3 milhões em receitas. A empresa se prepara para abrir escritório em SP. Está de olho em contratos com grandes corporações.

O ClickSeguro, da PSafe, conseguiu três milhões de usuários em dois meses.

O aplicativo identifica sites confiáveis. Mais da metade (55%) dos donos de smartphones baixam aplicativos gratuitos, segundo a Nielsen. E os aparelhos representam apenas 14% do total de celulares do país.

ACESSO GRÁTIS
Daniele Suzuki volta a estrelar campanha da TIM. Dessa vez, trata da parceria com o Facebook. Clientes pré-pagos do plano Infinity Web Modem poderão acessar a rede social sem desconto nos cartões de carga. O comercial estreia hoje na TV. A agência WMcCann assina.

Garfada
Passa de 40% a carga tributária média de produtos típicos do carnaval. O dado está em pesquisa da consultoria BDO.

Cornetas
a gás pagam 42,2% de impostos; balões, 47,25%. Na cerveja em lata, os tributos levam 78,15% do preço.

Sapucaí 1
Patrocinador da Liesa, o Guanabara terá camarote para mil pessoas na Sapucaí. Contratou Naldo e Arlindo Cruz para apresentações.

A L’Oréal será parceira. Vai maquiar convidados. 

Sapucaí 2
A Avianca vai patrocinar a União da Ilha no carnaval 2013. É a primeira ação da companha aérea na folia.

Muito amor
Os motéis Corinto (Vila Isabel) e Panda (Botafogo) se preparam para lucrar com a folia. Esperam faturar 20% mais no carnaval. No mês do Natal, a alta foi de 14%.

Livre Mercado
A Bagaggio investiu R$100 mil na linha de produtos do BBB13 e da novela Salve Jorge. Prevê alta de 10% nas vendas. Amanhã abre a primeira loja em Campo Grande.

O Império Serrano, que desfila na Série A da Sapucaí ainda busca patrocínio. Negocia a exibição de marca corporativa na roupa dos empurradores de alegorias.

A Via Mia lança hoje kits para o carnaval. Incluem cílios postiços e arco com plumas. Investiu R$ 25 mil e prevê vender 20% mais.

A grife M. AP terá linha de tops para a folia. Aporte de R$10 mil, deve elevar as vendas em 20%.

O arquiteto Orleans de Sá assina o o camarote da Global Marketing. Vai reunir executivos na Sapucaí.

A Frances Doces & Chocolates criou brigadeiros com chocolate belga e confeitos coloridos. Quer aumentar as vendas em até 20%.

A Pró -Tênis Barra faz liquidação progressiva. Quanto mais itens, mais desconto. A meta é elevar as vendas em 10% no período.

UM CLIQUE DE FOTO... - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 30/01

Os fotógrafos Adi Leite, Luiza Sigulem e Roberto Linsker foram à Doc Galeria no fim de semana para a abertura da Mostra SP Samsung de Fotografia. A psicóloga Clariana Cardin esteve na Vila Madalena para ver chapas de Hildegard Rosenthal (1913-1990), uma das retratistas pioneiras do país.

...OUTRO DE MODA
Fernanda Calfat lançou anteontem seu blog. A produtora Graça Borges, cofundadora da São Paulo Fashion Week, a consultora de imagem Fê Bastos e a publicitária Patrícia Leite foram ao restaurante Maremonti, para a comemoração.

PRA LÁ DE ISTAMBUL
O número de brasileiros que vão à Turquia aumentou desde que "Salve Jorge", que tem parte da trama no país, estreou, em outubro. O fluxo cresceu 45,88% em dezembro de 2012, comparado ao mesmo mês do ano anterior. De 2010 para 2011, o crescimento no mesmo mês tinha sido de 1,85%. Os dados são do ministério turco do Turismo.

VIRANDO O JOGO
O aumento vem depois de um ano fraco. Oito dos dez primeiros meses de 2012 registraram queda no fluxo turístico do Brasil à Turquia (menos 17% em outubro) ou índices baixos de crescimento, como 1% em agosto. A virada começa com acréscimo de 10% em novembro, mês seguinte à estreia do folhetim.

CAVALO DADO
Enquanto isso, turcos comentam em fóruns de discussão na internet a semelhança de um comercial feito em 2010 pelo governo para promover o turismo em Istambul e a abertura da novela da Globo. Em ambos, um homem montado num cavalo gigante percorre pontos turísticos da cidade. Há nos dois vídeos uma cena em que o ginete galopa sobre água.

A Globo diz que a abertura não foi inspirada no comercial, e sim na série "Game of Thrones", sucesso na HBO.

ACELERA
A Prefeitura de SP deve abrir licitação neste ano para a construção de novos e maiores boxes no autódromo de Interlagos. A empresa municipal SPObras está contratando o projeto que calculará tamanho e valor da reforma -considerada vital para que a cidade renove o contrato da Fórmula 1 até 2020, o Grande Prêmio de 2014 incluso.

PARA GRINGO VER
O longa "Som ao Redor", de Kleber Mendonça Filho, foi comprado pelo MoMA de Nova York para seu acervo.

FORÇA-TAREFA
São Paulo ganhará reforço de 153 agentes de saúde para cadastrar novos beneficiários do Bolsa Família. Eles atuarão nas zonas leste, norte e sul e se juntarão aos 189 servidores que já exercem a função na cidade. O prefeito Fernando Haddad pediu à secretária da Assistência Social, Luciana Temer, que dobrasse o número de cadastrados no programa -de 225 mil para 450 mil.

Cada registro demora cerca de uma hora para ser feito.

OS PRODUTORES
O ator Leonardo Miggiorin, no ar em "Malhação", está produzindo a comédia "La Mamma", de André Russin, com direção de Carlos Thiré. Ele também integrará o elenco, ao lado de Rosi Campos, Debora Gomez e Carlos Briani. A estreia está prevista para o segundo semestre.

A TARA
A personagem Mara Tara, do cartunista Angeli, chegará ao cinema no ano que vem. Criada nos anos 80, ela é uma cientista transformada em assassina ninfomaníaca. O projeto da Kinoosfera Filmes, orçado em R$ 5,2 milhões, foi aprovado pela Agência Nacional do Cinema. O roteiro é de Christiane Tricerri, e Francisco Garcia será o diretor.

TOP BONECA, UAI!
A estilista mineira Patricia Bonaldi, que faz desfile amanhã no MuBE, em São Paulo, levará para a passarela três bonecas Barbies vestidas com réplicas dos modelos da coleção.

Curto - circuito
O Museu da Diversidade abre hoje a mostra "O T da Questão", comemorando o Dia da Visibilidade Trans.

O Prêmio Governador do Estado para Cultura será no dia 4 de fevereiro, no Theatro São Pedro, em SP.

Sabrina Parlatore faz pocket show na Mixed na Vila Nova Conceição, às 17h.

Claudia Werneck participa da primeira Conferência Internacional de Viva Trust, na Costa Rica, que vai de hoje a domingo.

Juliana D'Agostini lança álbum com Emanuelle Baldini às 19h30, no MuBE.

A Top Night acontece hoje, na Casa Fasano, com presença do VP da Mercedes-Benz Philipp Shiemer.

Cristiano Piquet é o novo presidente do Lide USA.

Quanto mais diferentes os preços, melhor - ALEXANDRE BARROS

O ESTADÃO - 30/01

Várias vezes por ano, do tipo época de início de aulas, carnaval, Dias das Mães, Dia dos Pais e outros mais, a imprensa publica diversas matérias chamando a atenção (geralmente em tom de "vejam que absurdo") para as diferenças de preços entre produtos muito procurados nessas ocasiões. A tendência das pessoas é se indignarem com as diferenças, ao invés de se alegrarem.

Poucos veem as vantagens das grandes diferenças de preços e de como tirar proveito disso. O clamor costuma ser contra este milagre do mercado, a livre concorrência, que mais beneficia os pobres do que os prejudica. Quando a imprensa publica essa "denúncia", atira no que viu e acerta no que não viu.

Graças a essas diferenças, mais pessoas com rendas mais diferenciadas podem ter acesso a bens aos quais não teriam se eles fossem tabelados. A engambelação dos consumidores ocorre porque as pessoas creem que, quando algum produto é tabelado (seja por um órgão governamental ou por associações profissionais - as várias ordens e os conselhos profissionais, etc.), esse tabelamento é a favor do consumidor, quando, na realidade, o que se verifica é o contrário. Os tabelamentos são sempre a favor dos produtores. É a eles que interessa tabelar pelo preço que mais lhes convém e vender a imagem de que isso foi feito em prol dos consumidores.

Recentemente tomei uma perua no Aeroporto Internacional de Washington e quando chegamos a uma esquina na qual havia quatro postos de gasolina com preços diferentes, um senhor da Califórnia esbravejou: "Que absurdo, afinal, vem tudo da mesma refinaria! Achei a África do Sul uma maravilha, lá todos os postos têm todos o mesmo preço". Perguntei-lhe se ele já havia vivido em algum país com os preços tabelados. Respondeu-me que não. Como já estava chegando ao meu destino, resolvi encerrar a conversa e apenas observei: "Por favor, procure informar-se melhor sobre o assunto". Despedimo-nos cordialmente, mas ele não entendeu do que eu estava falando.

Recordei-me de um episódio de quando vivíamos com muito mais monopólios e oligopólios com preços tabelados (1994 - telefones, combustível, energia elétrica, etc.). Uma grande casa de investimentos inglesa (já falida, graças a um trambique de um operador de mercado) promoveu uma reunião de investidores institucionais em Miami. Pediu-me que convidasse o então candidato Lula da Silva para falar para eles. Apesar de ter perdido aquela eleição presidencial, Lula, sensatamente, resolveu que não iria desperdiçar tempo com 300 ou 400 gerentes de fortunas que não lhe renderiam nenhum voto. Mas designou um deputado do PT para representá-lo.

Como consultor, coube-me ciceronear o deputado petista por Miami. Numa esquina com os quatro tradicionais postos de gasolina - para quem não sabe, eles são concentrados em áreas distantes de residências e de outros estabelecimentos comerciais, pois, em caso de incêndio, assim se evitam tragédias parecidas com a da boate de Santa Maria (RS) na madrugada de domingo -, levantei a questão da diferença dos preços. Reação do parlamentar: "Mas que absurdo, isso não pode!".

Retruquei-lhe com uma pergunta: "O senhor acha justo que um rico dono de um Cadillac e um estudante que tem um fusquinha 67 paguem o mesmo preço pela gasolina? Não acha mais justo que o estudante possa escolher circular com seu fusquinha usando uma gasolina mais barata, do posto que fica do outro lado da rua?". Sua expressão foi de total surpresa e me respondeu francamente: "Mas eu nunca havia pensado nisso".

Este é o ponto: de lá para cá, a sociedade brasileira mudou. As políticas de Fernando Henrique Cardoso e de Lula deram um basta à inflação e vários desses oligopólios foram quebrados. O efeito mais dramaticamente visível, apesar de continuar a ser um oligopólio parcial, foi na telefonia.

Os políticos favoráveis ao sistema estatal enchiam a boca para dizer que o Brasil tinha a tarifa telefônica mais barata do mundo. Verdade parcial. O que eles não computavam nesse cálculo era o custo da compra da linha. Em certas áreas de São Paulo uma linha chegou a custar US$ 20 mil, no tempo em que o dólar era moeda forte.

Hoje não tem telefone quem não quer. As operadoras já nem fazem propaganda das linhas físicas. Tentam vender planos de celulares, mais lucrativos, em razão da forte concorrência. O pré-pago abriu o mercado, de forma espetacular, para profissionais que prestam serviços necessários, mas quase sempre de maneira informal. Furou um cano na sua casa, você liga para o Zé das Couves, ele atende e pergunta se o problema é sério. Você diz que a família está toda tentando vedar o cano e em uma hora o Zé chega e estanca o jorro d'água. Você paga a ele e ficam todos satisfeitos: ele, com o dinheiro que ganhou e você e sua família, com o problema resolvido.

Antes da privatização, era muito raro ter telefone. Quando você ligava para o número que o Zé lhe tinha dado, era, por exemplo, da sogra, que respondia simpaticamente: "Moço, hoje é terça e o Zé só vem aqui aos sábados". Conclusão: ficavam você com a casa inundada e o Zé, sem ganhar dinheiro.

Talvez seja a hora de o governo federal se dar conta de que tabelar preços, não importa do quê, só prejudica os pobres, em nome de quem ele tanto fala. E tabelá-los para esconder inflação é pior ainda, porque os custos se vão acumulado e quando chega a hora do aumento autorizado pelo governo a paulada é sempre mais forte - e quem sofre mais são... os pobres!

Protecionismo é a mesma coisa. O governo "protege" alguns setores, dando-lhes vantagens. Com isso, o que o governo está fazendo é apenas "proteger" os consumidores contra preços mais baixos.

Enquanto a sociedade brasileira não entender que a livre concorrência beneficia a todos, teremos mal-entendidos, comprando gato por lebre.

Non sequitur - ALEXANDRE SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 30/01

Sem capacidade ociosa, não faz sentido tentar estimular o crescimento por meio de incentivos à demanda


O Banco Central finalmente reconheceu que o baixo crescimento do Brasil não resulta da fraqueza do consumo, mas de limites à expansão da capacidade produtiva do país.

Trata-se de uma mudança importante na atitude da autoridade monetária, que, até a semana passada, parecia comungar com o restante do governo a noção de que o desenvolvimento do país viria na esteira do juro baixo e do dólar caro.

Na verdade, há uma importante suposição implícita nessa noção,

a saber, que a economia disporia de suficiente capacidade ociosa para que o impulso do lado da demanda (consumo e investimento, pelas

taxas de juros, e exportações, pelo efeito da taxa de câmbio) possa

se transformar em aumento da produção.

"Capacidade ociosa" nesse contexto tem um significado amplo, abrangendo -além da capacidade instalada na indústria- também a disponibilidade e a qualificação de mão de obra e os serviços de infraestrutura, assim como todas as regras de organização da produção no país que se traduzem no nível de produtividade.

Ocorre que, se há ainda algum excesso de capacidade no setor industrial, nos demais as indicações são no sentido oposto. Não apenas as taxas de desemprego vêm em queda persistente, mas também os salários têm subido bem acima de qualquer estimativa honesta do aumento da produtividade.

Em particular os sinais de falta de mão de obra são ainda mais pronunciados no caso do pessoal qualificado.

A infraestrutura, por fim, está esgarçada, como sabe qualquer um que tenha usado estradas, portos ou aeroportos, culminando, mais recentemente, em elevações expressivas dos preços de energia no mercado à vista.

E, ao contrário do que ocorre no setor industrial, onde investimentos tendem a se materializar em capacidade adicional em prazos relativamente curtos (em torno de 18 meses), esses gargalos são de correção bem mais complicada. É risível acreditar, como andei lendo por aí, que imigração possa resolver o problema geral de falta de mão de obra (qualificada inclusive) num país das dimensões do Brasil, onde, de acordo com o mais recente dado disponível (2009), o total de pessoas empregadas atingia pouco menos de 97 milhões.

Já no que diz respeito à educação, o tempo necessário para promover a mudança requerida se mede em anos, se não gerações, e isso na suposição de que, de repente, fizéssemos todas as coisas certas, as mesmas que passamos as últimas décadas cuidadosamente evitando.

Adicionalmente, embora a iniciativa de conceder ao setor privado a responsabilidade por segmentos da infraestrutura seja louvável, os resultados obtidos pelas concessões anteriores não permitem nenhum otimismo quanto a uma solução de curto prazo. Trata-se de um caso exemplar de "muito pouco, muito tarde", ao que poderia acrescentar: "E errado também"...

Por fim, o crescimento da produtividade tem sido pífio, e o padrão errático da política econômica contribui para enfraquecê-lo ainda mais.

Desde meados da década passada não há uma agenda de reformas que busque acelerá-la, e, mesmo que uma milagrosamente surgisse (literalmente) do nada, a experiência sugere que seus efeitos só se manifestariam depois de alguns anos.

Assim, sem capacidade ociosa e sem que haja possibilidade de surgimento de nova capacidade no futuro imediato, não faz sentido tentar estimular o crescimento por meio de incentivos à demanda, como admitido pelo BC.

Sob essas circunstâncias, o impulso monetário se transmite principalmente aos preços, ou seja, a divergência da inflação com relação à meta é apenas a outra face do esgotamento da capacidade de crescimento da oferta.

Mas, se isso é verdade, segue-se que a política monetária tem sido (e ainda é) inadequada para trazer a inflação à meta.

Como, porém, o BC demorou quase ano e meio para entender o que estava ocorrendo, deve ainda encontrar dificuldades para atingir as conclusões lógicas de seu próprio argumento.

Mudança de rumo - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 30/01

Depois de vir à praça com um diagnóstico escancaradamente oposto ao das autoridades do Ministério da Fazenda - de que o problema da economia não é de consumo, mas de oferta -, o Banco Central contraria, na prática, outro discurso também recorrente dos homens da Fazenda.

Ao deixar que as cotações do dólar recuem para abaixo dos R$ 2 (veja gráfico), o Banco Central desconhece o ponto de vista oficial de que há uma mudança estrutural em marcha que tem como uma de suas pilastras a desvalorização cambial (alta do dólar).

Os 20% de desvalorização induzidos pelo Banco Central a partir de março de 2012 já vinham sendo carcomidos pela alta de preços. O Banco Central começa a permitir movimento oposto (o de valorização do real), aparentemente como único instrumento que lhe resta para coibir a inflação - já que não há hipótese de volta à alta dos juros.

O Banco Central havia concordado em reduzir os juros básicos em 5,25 pontos porcentuais, para os atuais 7,25% ao ano, e em desvalorizar o real para a altura dos R$ 2,10 por dólar, desde que a área da Fazenda garantisse o superávit primário (sobra de receita para pagamento da dívida) da ordem de 3,1% do PIB. Mas o Banco Central foi traído pela Fazenda, sobretudo pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin, que furou o acordo. Depois de permitir que a disparada das despesas públicas provocasse a erosão das condições fiscais, Augustin montou ampla operação de contabilidade criativa que tentou esconder os estouros do Orçamento.

Na Ata do Copom editada na quinta-feira, o Banco Central já avisara que a dobradinha de insucesso (sequência de pibinhos com aceleração da inflação) se baseava no diagnóstico errado de que o problema é falta de demanda. Não é, deixou claro o Banco Central. É de oferta, cuja reversão cabe a outras áreas do governo.

Quanto ao Banco Central, sobra-lhe a tarefa de combater a inflação com o instrumento disponível. Mas o câmbio não é a melhor opção para isso. A baixa do dólar só gera efeito deflacionário num pedaço limitado da demanda - o dos importados. Não alcança os segmentos da cesta de consumo mais atacados no momento, como o dos produtos hortigranjeiros e o dos serviços. E, no curto prazo, não baixa em reais os custos hoje em expansão da mão de obra. Mas, nas circunstâncias, manejar o câmbio é o que dá para fazer para impedir que a inflação salte para acima do teto da meta, de 6,5% ao ano.

A aceitação do novo diagnóstico exige mais do que esta guinada na política cambial. Requer mudanças em toda a política econômica - mesmo que o Banco Central não volte a subir os juros. Torna-se necessário, por exemplo, dar prioridade ao investimento (e à poupança) e não ao consumo; não esticar o crédito - como o governo pretendia; garantir mais austeridade das contas públicas - e não reduzir o superávit primário, como o secretário Augustin vinha pedindo; e garantir, de outra forma, a competitividade da indústria, que não pode ser mais dada pelo câmbio.

A nova política de permitir a baixa do dólar esvazia o discurso da necessidade de operar o câmbio em reação ao "tsunami monetário", identificado pela presidente Dilma Rousseff, e à "guerra cambial", denunciada pelo ministro Mantega.

Fusão de passivos - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 30/01

Se for confirmada a operação em que a CSN compra a CSA com a sociedade e o dinheiro do BNDES, haverá a junção de dois passivos ambientais complicados. Depois de uma auditoria feita pela consultoria internacional Conestoga Rovers, a CSA está cumprindo 134 ações reparadoras. Pior do que ela, só mesmo a CSN, que tem um passivo ambiental de R$ 400 milhões.

A CSA não tem ainda licença de operação, afirma o secretário de Meio Ambiente do estado do Rio, Carlos Minc. As duas licenças ambientais iniciais, dadas ainda no governo Rosinha Garotinho, têm permitido a operação da empresa, mas é provisória. A companhia não pagou ainda as três multas que recebeu. As duas primeiras somaram R$ 3,6 milhões e a última pulou para R$ 10,5 milhões, pela reincidência nos episódios de chuvas de prata que sua operação provocou. Já cumpriu, segundo Minc, 60% das medidas estabelecidas no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), estimado ao todo em R$ 100 milhões.

A empresa enviou nota para a coluna dizendo que a instalação é uma das mais modernas do mundo e que instalou na fábrica de Santa Cruz alguns dos mais modernos equipamentos do setor. Disse que é autossuficiente em energia e reaproveita 96% da sua água.

Com tudo isso, tem tido seguidos problemas. O pior deles foi a emissão de uma nuvem poluente de particulados, conhecida como chuva de prata, que vai à grande distância na área onde ela está instalada e afeta pesadamente a saúde dos moradores. Agora, a empresa vem implantando as ações estabelecidas pela consultoria internacional, contratada pelo governo do estado, necessárias para a sua operação. Uma delas, a mais difícil, foi o enclausuramento do poço de emergência, origem dos três episódios de chuva de prata.

O secretário de Meio Ambiente Carlos Minc disse que há várias ações para serem cumpridas, como obras de saneamento em povoados próximos que foram afetados pela operação da empresa. Ele admite que a companhia está cumprindo o prometido e que muito pior que a CSA é o passivo ambiental da CSN, a compradora.

A empresa, do grupo alemão ThyssenKrupp, que a siderúrgica brasileira pretende comprar, segundo operação que vem sendo divulgada na imprensa, pelo valor de R$ 4 bilhões, tem também problemas técnicos. O lingotamento nunca funcionou. O material está indo para a aciaria e para o poço de emergência, e isso é a origem de alguns problemas ambientais.

É exatamente esse casamento de passivos ambientais, de R$ 400 milhões de um lado e de R$ 100 milhões de outro, que o BNDES pretende chancelar, tornando-se sócio em 30%. A notícia foi dada pelo GLOBO, recentemente, e ontem reafirmada pela manchete do "Valor Econômico".

O BNDES, através do BNDESPar, colocaria R$ 4 bilhões no negócio de duas siderúrgicas com enormes passivos ambientais. A CSA tem dívidas com o BNDES de R$ 2,5 bilhões. Se não for quitada na operação, o BNDES ficará devedor de si mesmo. A CSN é também autora de uma ação contra o BNDES, quando a empresa discordou dos critérios do banco no descruzamento das ações com a Vale.

Segundo a reportagem do "Valor" de ontem, o governo vê o negócio com bons olhos porque isso "nacionalizaria" um ativo siderúrgico que está sob o controle do capital estrangeiro. Bom, ela já se instalou aqui como empresa estrangeira, convencida talvez de que os padrões ambientais que tem que respeitar em sua terra natal não seriam obedecidos aqui. Desde o começo, vem acumulando esses passivos. Agora, pode sair da operação de uma empresa que tem dado prejuízo e assim também nacionaliza a dívida ambiental.

Antes de entrar num negócio com o argumento de que assim o capital nacional será controlador, o banco estatal deveria ver algumas conveniências, como a lucratividade do negócio, os passivos que o grupo a ser nacionalizado carrega e o passivo ambiental também do comprador, do qual terá que ser sócio.

O mais sensato também seria o governo mostrar ao contribuinte que é um negócio bom para o país e não uma ação entre amigos. Porque o argumento de que a siderúrgica será controlada por capital nacional é fraco demais para que não se veja a sucessão de inconveniências que esse projeto carrega, dos passivos ambientais aos operacionais.