quarta-feira, janeiro 30, 2013

Duas grandes mentiras - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 30/01

Continuam as discussões sobre as vantagens e as desvantagens de sediar a Copa do Mundo no Brasil


Os otimistas e a turma do oba-oba, que, às vezes, se confundem, falam que 498 dias são mais que suficientes para se formar uma grande seleção, que Felipão e Parreira são os únicos capazes de suportar a pressão de comandar uma Copa no Brasil, que, em casa, o Brasil é o principal favorito, e que a seleção possui Neymar e vários outros grandes craques.

Os realistas, críticos, também chamados de pessimistas, dizem que não haverá nenhum legado técnico após a Copa de 2014, mesmo se o Brasil for campeão, que o futebol brasileiro, fora raras exceções, como o Corinthians, desaprendeu a jogar coletivamente, que o Brasil só tem um grande craque, Neymar, e que há outras seleções melhores.

Os otimistas e a turma do oba-oba falam que o dinheiro do BNDES não é público, que é comum os estádios ficarem mais caros que o previsto, que nenhum se tornará elefante branco, porque são arenas multiúso, que os novos estádios e gramados vão melhorar a qualidade do futebol e que o desalojamento de famílias e a desapropriação de bens públicos foram exigências da Fifa.

Os realistas e críticos dizem que quase todos os estádios são construídos com dinheiro público (financiamento do BNDES, diminuição de impostos e outras vantagens), que os estádios de Brasília, Cuiabá e Manaus serão elefantes brancos, que os estádios existem para se jogar futebol e, depois, serem sedes de outros eventos, e não o contrário, que quase todos estão superfaturados, com enorme variação de preços, e que, por ser caríssima a manutenção, não serão rentáveis, a não ser que os ingressos sejam muito caros.

Os otimistas e a turma do oba-oba falam que haverá um grande legado à população, que o turismo será beneficiado, que não haverá confusão em aeroportos, no período da Copa, porque diminuirá bastante o número de passageiros habituais.

Os realistas e críticos falam que os aeroportos continuarão tumultuados, desorganizados, superlotados, que a maioria das obras perto e ao lado dos estádios, o tão falado legado da mobilidade urbana, não ficará pronta ou já está cancelada e que o dinheiro público para outras obras urgentes e importantes, para os setores de saúde, transporte, saneamento básico e infraestrutura, foi transferido para o Mundial.

Não tenho dúvidas de que os estádios estarão prontos e lindos, que temos condições de fazer uma Copa tão ou mais organizada que a da África do Sul, que o torcedor vai curtir uma grande festa, ainda mais se o Brasil avançar na competição e for campeão, mas não podemos fechar os olhos a tantos absurdos, a tanto gasto desnecessário e excessivo e a duas grandes mentiras, a de que não haveria dinheiro público e a de que a Copa deixará um grande legado social e urbano à população.

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