O ESTADO DE S.PAULO - 28/12
Dólar em alta, crise na Rússia, estagnação na Europa, ajuste na China, preços de exportação em queda, tudo isso é fichinha, em comparação com a maior fonte de risco para o Brasil - o governo federal, chefiado formalmente pela presidente reeleita, subordinado à fome de poder do PT e com escalação incompleta a poucos dias da posse. A maior parte dos ministros confirmados até o Natal foi escolhida pelo critério do loteamento, com alguma alteração nas cotas partidárias. A noção de competência pode ter influído na seleção de alguns nomes para a área econômica, mas só aí. Os demais postos foram distribuídos para atender às ambições de partidos e de líderes aliados. Alguém terá pensado na competência de cada um para o cargo? Mas o serviço ficou incompleto. Devorados os perus natalinos, faltava preencher 22 postos do Ministério, uma tarefa aparentemente perigosa. Sem a cooperação do Ministério Público, seria difícil puxar a capivara - a folha de antecedentes, na velha linguagem policial - dos possíveis indicados.
A preocupação com a folha corrida dos ministeriáveis é explicável, e até justificável, pela multiplicação de denúncias ligadas ao escândalo da Petrobrás. Algumas pessoas poderão achar louvável esse cuidado. Mas a cautela seria tão importante, se o risco de escolha de algum implicado fosse muito baixo? Não bastaria a verificação rotineira, realizada pelo serviço de informação do gabinete presidencial? A presidente parece insegura em relação ao campo de escolha de colaboradores. Esse campo, no Brasil, tem sido muito restrito, porque o presidencialismo de coalizão foi convertido, na prática, numa partilha de butim.
A limitação do campo combina com uma peculiaridade notável da política e das finanças brasileiras. A economia nacional é uma das dez maiores do mundo. A soma de exportações e importações, a chamada corrente de comércio, supera US$ 450 bilhões. O Brasil capta cerca de US$ 60 bilhões de investimentos diretos e recebe um enorme fluxo de outros financiamentos. Apesar de tantos dólares movimentados, parece haver uma estranhíssima escassez de operadores de câmbio. Sem essa hipótese, como explicar a numerosa e luzida clientela servida por um único operador, Alberto Youssef?
Nesse estranho mundo, a escolha de ministros deve ser mesmo complicada. Com tantos aliados e companheiros listados entre os clientes de Youssef e mencionados pelos beneficiários da delação premiada, fica difícil dizer quem permanece fora da ilustre confraria.
Em outros tempos, a presidente poderia, sem grande risco aparente, nomear clientes do mesmo doleiro para postos importantes da administração direta e das grandes estatais. Estaria apenas seguindo o padrão nacional, consolidado especialmente nos últimos 12 anos, de partilha do poder. Ou, em linguagem mais precisa, estaria repartindo os benefícios proporcionados por um poder estatal convertido em ativo privado, negociável e transferível em arrendamento a partidos e políticos aliados. Esse estilo de administração continua em vigor, mas agora certos cuidados são necessários.
Para começar, alguns membros do serviço público - na Polícia Federal, na Procuradoria da República e no Judiciário - têm agido como funcionários do Estado, sem levar em conta, aparentemente, as conveniências do grupo governante. Isso pode ser chocante para muitos políticos brasileiros, principalmente para aqueles incapazes de distinguir partido e Estado.
Em segundo lugar, as pressões do mercado sobre o governo e as estatais têm ficado mais intensas. A rolagem de títulos públicos tornou-se mais custosa em 2014. As agências de classificação de risco têm intensificado a vigilância. Pouco antes do Natal a Moody's apontou, pela segunda vez em 20 dias, o risco de um novo rebaixamento da nota da Petrobrás. Sem a publicação de um balanço auditado, a empresa poderá ser forçada a antecipar o pagamento de US$ 17,6 bilhões de dívidas. Mas como conseguir o aval de uma auditoria, se o tamanho dos danos causados pelas bandalheiras é ignorado?
Nos Estados Unidos, na véspera do Natal, a cidade de Providence, capital do Estado de Rhode Island, iniciou processo contra a Petrobrás, sua administração, duas subsidiárias internacionais e 15 bancos envolvidos na distribuição de papéis da companhia. As acusações atingem a presidente da estatal, Graça Foster, e o diretor financeiro, Almir Barbassa. Em Nova York, três outras ações coletivas já haviam sido abertas em dezembro. Ninguém está reclamando de um fenômeno típico de mercado, a depreciação das ações, mas da corrupção, só denunciada recentemente, e das informações enganosas.
As investigações sobre a Petrobrás e sobre as pessoas envolvidas na pilhagem da empresa ainda poderão avançar muito mais do que até agora. A devassa realizada pela Polícia Federal e pela Promotoria manterá o caso em evidência mesmo depois de publicadas - ninguém sabe quando - as contas do terceiro trimestre.
O escândalo internacional evidencia mais uma vez a arrogância de quem se apropriou do Estado e se julgou capaz de mandar e desmandar sem consequências. Os promotores da bandalheira superestimaram sua influência dentro e fora do País. Nem todos os envolvidos, é verdade, foram denunciados. Mas ninguém pode seriamente duvidar da responsabilidade de quem exerceu o poder de aparelhar e lotear a administração e de reunir companheiros e aliados num grande saque. A investigação apenas começou.
Até agora, a presidente deu poucos sinais de haver ponderado esses fatos. Alguns ministros poderão esforçar-se para consertar as bases da economia e repô-la em crescimento. Será um trabalho desperdiçado, se a presidente for incapaz de romper com o estilo de governo consolidado na última década. O mau estado da economia é só mais uma consequência desse estilo autoritário, arrogante e irresponsável.
domingo, dezembro 28, 2014
O reatamento Cuba-EUA - SACHA CALMON
CORREIO BRAZILIENSE - 28/12
A boa notícia deste fim de ano - entre tantas coisas ruins no plano interno e externo, como um governo a iniciar-se envelhecido e a crescente tensão na Eurásia - foi, indubitavelmente, o reatamento das relações diplomáticas entre EUA e Cuba, processo iniciado há mais de um ano entre delegados dos dois países, com a intermediação do papa Francisco. Por isso, o anúncio do reatamento ocorreu no dia de aniversário do pontífice romano. Para as mentes estreitas, os EUA deveriam, em troca, exigir a democratização da ilha. Ora, a Arábia Saudita, o Egito, a China, países com os quais os EUA mantêm laços econômicos e até militares (os americanos dão dinheiro ao exército egípcio) são democráticos? A objeção é hipócrita!
Cuba deixou de ser inimiga militar dos Estados Unidos por dois motivos. O primeiro foi o desaparecimento do socialismo na União Soviética e na China. A ilha quedou-se isolada no mar do Caribe, a 96 km dos EUA. O segundo motivo - até mesmo pelo fracasso do modelo econômico adotado - diz com o fomento outrora patrocinado por Cuba aos movimentos esquerdistas na América Latina. Nicarágua, Honduras, Colômbia, Bolívia foram alvos da influência cubana. Hoje, resta o aspecto icônico - prestes a desaparecer - do comandante Fidel Castro, cujo carisma acrisola os sonháticos movimentos filossocialistas do continente (anacronismo ideológico).
O reatamento diplomático e o afrouxamento de políticas restritivas foi um primeiro passo. O segundo processo, sem o qual não deslanchará, é a queda do embargo econômico, que só faz o povo cubano sofrer, sem nenhum ganho político para os EUA. A América Latina inteira quer o seu fim. Prejudica a política americana no continente, tanto é que os chefes de Estado declararam, há meses, que sem Cuba não haveria a cúpula das nações americanas em 2015. De resto, o mundo vê como covarde e mesquinho o embargo (sanções econômicas são detestáveis). São, como no passado, cercos que impedem a chegada à população de água, alimentos e remédios, para dobrar soberanias, uma forma cruel de atingir civis. Em Israel, por exemplo, até os impostos pagos pelos palestinos podem ser retidos, ao revés de repassados à Autoridade Palestina.
Com a proximidade das eleições presidenciais, o Congresso americano revogará a lei do embargo, ante a pressão do voto hispânico e da opinião mundial. Os republicanos não são idiotas. Mas esperar que Cuba se torne capitalista e democrática imediatamente é irrealístico. Primeiro virá a liberalização comercial, depois a de investimentos e, finalmente, a da produção, sob o controle férreo do Partido Comunista cubano, após a sucessão de Raul Castro, em andamento.
Aliás, a liberalização política antes da econômica, como aconteceu na Rússia, foi catastrófica, financeira e estrategicamente. A União Soviética se desfez e ocasionou o colapso da Rússia. A glasnost (transparência) e a perestroika (reestruturação) fracassaram. O Ocidente não ajudou; aprofundou a crise, e até hoje hostiliza a Rússia, como recentemente escreveu Gorbachev para o Financial Time, em sofrida mea-culpa. O processo cubano será, antes de tudo, econômico, como na China, sob o controle do Partido Comunista. Se os cubanos ricos de Miami pensam que vão exercitar o buyback (comprar suas antigas propriedades) e tomar a ilha economicamente, estão enganados. Como na China, o processo econômico será intenso, mas sob controle, à medida que novas instituições sejam construídas. Um Banco Central, para exemplificar, técnicas cambiais, sistema bancário etc.
Dado o primeiro passo, o processo seguirá normalmente. A China dará a consultoria necessária. Os EUA devem continuar nas mãos do partido democrata. Se Obama assinar um acordo com o Irã, absorver o plebiscito (87%) da Crimeia (que sempre foi russa, anexada à Ucrânia por Kruschev, nascido ucraniano) - e iniciar a reunificação da Coreia, fará por merecer o cognome de o pacificador, apanágio dos grandes estadistas. A vitória da democracia estará completa. A China, por si só, encontrará o seu destino de tolerância e igualdade. O Ocidente sempre foi um acidente recentíssimo na história da humanidade.
O mundo, daqui a 40 anos, será bem diferente. Quem diria que os EUA manteriam sem acusação gente presa em Guantamano? Que torturava sistematicamente pessoas? Que não indicia policiais brancos que assassinam negros? A Europa é cada vez mais xonofoba! Entre a Rússia e a China, um espaço político novo e decisivo está em formação, poucos se apercebam. De outro lado, os cubanos são os latino-americanos mais educados e possuem um bom sistema de saúde, eficaz e igualitário. Ainda será um grande país, após o comunismo cuja transformação teve início.
A boa notícia deste fim de ano - entre tantas coisas ruins no plano interno e externo, como um governo a iniciar-se envelhecido e a crescente tensão na Eurásia - foi, indubitavelmente, o reatamento das relações diplomáticas entre EUA e Cuba, processo iniciado há mais de um ano entre delegados dos dois países, com a intermediação do papa Francisco. Por isso, o anúncio do reatamento ocorreu no dia de aniversário do pontífice romano. Para as mentes estreitas, os EUA deveriam, em troca, exigir a democratização da ilha. Ora, a Arábia Saudita, o Egito, a China, países com os quais os EUA mantêm laços econômicos e até militares (os americanos dão dinheiro ao exército egípcio) são democráticos? A objeção é hipócrita!
Cuba deixou de ser inimiga militar dos Estados Unidos por dois motivos. O primeiro foi o desaparecimento do socialismo na União Soviética e na China. A ilha quedou-se isolada no mar do Caribe, a 96 km dos EUA. O segundo motivo - até mesmo pelo fracasso do modelo econômico adotado - diz com o fomento outrora patrocinado por Cuba aos movimentos esquerdistas na América Latina. Nicarágua, Honduras, Colômbia, Bolívia foram alvos da influência cubana. Hoje, resta o aspecto icônico - prestes a desaparecer - do comandante Fidel Castro, cujo carisma acrisola os sonháticos movimentos filossocialistas do continente (anacronismo ideológico).
O reatamento diplomático e o afrouxamento de políticas restritivas foi um primeiro passo. O segundo processo, sem o qual não deslanchará, é a queda do embargo econômico, que só faz o povo cubano sofrer, sem nenhum ganho político para os EUA. A América Latina inteira quer o seu fim. Prejudica a política americana no continente, tanto é que os chefes de Estado declararam, há meses, que sem Cuba não haveria a cúpula das nações americanas em 2015. De resto, o mundo vê como covarde e mesquinho o embargo (sanções econômicas são detestáveis). São, como no passado, cercos que impedem a chegada à população de água, alimentos e remédios, para dobrar soberanias, uma forma cruel de atingir civis. Em Israel, por exemplo, até os impostos pagos pelos palestinos podem ser retidos, ao revés de repassados à Autoridade Palestina.
Com a proximidade das eleições presidenciais, o Congresso americano revogará a lei do embargo, ante a pressão do voto hispânico e da opinião mundial. Os republicanos não são idiotas. Mas esperar que Cuba se torne capitalista e democrática imediatamente é irrealístico. Primeiro virá a liberalização comercial, depois a de investimentos e, finalmente, a da produção, sob o controle férreo do Partido Comunista cubano, após a sucessão de Raul Castro, em andamento.
Aliás, a liberalização política antes da econômica, como aconteceu na Rússia, foi catastrófica, financeira e estrategicamente. A União Soviética se desfez e ocasionou o colapso da Rússia. A glasnost (transparência) e a perestroika (reestruturação) fracassaram. O Ocidente não ajudou; aprofundou a crise, e até hoje hostiliza a Rússia, como recentemente escreveu Gorbachev para o Financial Time, em sofrida mea-culpa. O processo cubano será, antes de tudo, econômico, como na China, sob o controle do Partido Comunista. Se os cubanos ricos de Miami pensam que vão exercitar o buyback (comprar suas antigas propriedades) e tomar a ilha economicamente, estão enganados. Como na China, o processo econômico será intenso, mas sob controle, à medida que novas instituições sejam construídas. Um Banco Central, para exemplificar, técnicas cambiais, sistema bancário etc.
Dado o primeiro passo, o processo seguirá normalmente. A China dará a consultoria necessária. Os EUA devem continuar nas mãos do partido democrata. Se Obama assinar um acordo com o Irã, absorver o plebiscito (87%) da Crimeia (que sempre foi russa, anexada à Ucrânia por Kruschev, nascido ucraniano) - e iniciar a reunificação da Coreia, fará por merecer o cognome de o pacificador, apanágio dos grandes estadistas. A vitória da democracia estará completa. A China, por si só, encontrará o seu destino de tolerância e igualdade. O Ocidente sempre foi um acidente recentíssimo na história da humanidade.
O mundo, daqui a 40 anos, será bem diferente. Quem diria que os EUA manteriam sem acusação gente presa em Guantamano? Que torturava sistematicamente pessoas? Que não indicia policiais brancos que assassinam negros? A Europa é cada vez mais xonofoba! Entre a Rússia e a China, um espaço político novo e decisivo está em formação, poucos se apercebam. De outro lado, os cubanos são os latino-americanos mais educados e possuem um bom sistema de saúde, eficaz e igualitário. Ainda será um grande país, após o comunismo cuja transformação teve início.
2015, um ano novo ou velho? - SUELY CALDAS
O ESTADO DE S.PAULO - 28/12
Ano novo, ministério novo. E governo? Novo ou velho? O que esperar de 2015? Há muitas dúvidas e poucas certezas do que vem por aí. No meio disso, o pêndulo chamado Dilma Rousseff vai oscilar na direção do novo e corrigir erros ou persistir no velho caminho errado? As dúvidas vêm daí.
O que precisa ser feito na economia já foi exaustivamente discutido e o diagnóstico é bem conhecido. Desconhecido é o que vai decidir Dilma Rousseff quando seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, avisá-la de que precisa cortar despesas aqui e ali, que vai aumentar impostos, que o Bolsa BNDES vai acabar, e as desonerações fiscais também, que as interferências políticas do governo nas estatais e nos bancos públicos chegaram ao fim, que as agências reguladoras ficarão livres de influências do governo e de favores aos políticos e que é preciso evoluir nas reformas - política, tributária e também a administrativa, eliminando metade dos 39 ministérios criados por ela e pelo ex-presidente Lula para abrigar partidos aliados.
As incertezas derivam do paradoxal papel de Dilma Rousseff: o de comandar a guinada de rumo corrigindo erros que foram gerados por ela mesma - e muitos por convicção ideológica, o que torna a tarefa ainda mais difícil - e que causaram mal ao País, atrasaram o desenvolvimento econômico, afugentaram investimentos e fizeram do primeiro mandato quatro anos desperdiçados.
O escândalo de corrupção na Petrobrás responde pela maior parte e agravou a pior e mais dramática crise vivida pela estatal em seus 60 anos, mas não a originou. A imagem da empresa já era ruim antes da Operação Lava Jato, em decorrência de seu exagerado e corriqueiro uso político pela presidente da República, ora na definição do preço de combustíveis, ora para viabilizar uma caolha e falsa política pseudonacionalista na região do pré-sal, que triplicou a dívida da Petrobrás e atrasou a exploração de óleo, deixando de gerar empregos, renda e riqueza para o País.
No cenário, um novo ministério. Mas será novo mesmo? Quem acreditou no discurso de Dilma ao jurar para os brasileiros que atos de corrupção seriam apurados e punidos ("doa a quem doer, custe o que custar, não restará pedra sobre pedra") esperava ver o discurso refletido na escolha dos ministros. Em outras palavras, esperava de Dilma um eficaz e preventivo freio de mão contra o escancarado e corriqueiro método de lotear cargos para capturar partidos políticos ávidos por assumir ministérios com orçamentos gordos e contratos milionários (de preferência com empreiteiras), como os da área de infraestrutura.
A "governabilidade" é sempre avocada por quem está no poder para justificar dividir a gestão com partidos que votam matérias do governo no Congresso Nacional. É legítimo e existe em países de regime democrático o governo partilhar a gestão com partidos que o apoiam e formam sua base de aliança no Parlamento. A escolha de nomes, porém, precisa ser feita com cuidado - o candidato indicado pelo partido deve trazer capacitação técnica para exercer a função e comprovar ficha limpa, ou seja, não ter sido processado por crimes contra o patrimônio público ou prática de corrupção.
Mas Lula inovou e acrescentou nociva permissividade à prática: o candidato fica dispensado de provar não ser criminoso e o loteamento ganha novo viés. A qualidade da gestão percebida pelo eleitor como força político-eleitoral para o partido é substituída por outra finalidade nada nobre: o candidato pode exercer o cargo de olho em tirar vantagens para o seu partido. É essa mudança de concepção que está na origem de tantos escândalos de corrupção dos últimos 12 anos. É o que precisa mudar.
Seis por meia dúzia. Tal mudança não foi contemplada na escolha do novo ministério. Com exceção do trio da economia (Joaquim Levy na Fazenda, Nelson Barbosa no Planejamento e Alexandre Tombini no Banco Central), Dilma Rousseff trocou seis por meia dúzia. Ela sabe que precisa mudar na área de infraestrutura, nomear ministros capacitados tecnicamente para ajudarem na difícil tarefa de recuperar a credibilidade ao governo, dinamizar investimentos e retomar o crescimento econômico. Não vai conseguir nada disso nomeando políticos derrotados nas eleições e sem nenhuma qualificação técnica para cargos-chave nessa área.
O que acrescenta, por exemplo, trocar Edison Lobão (PMDB-MA) por Eduardo Braga (PMDB-AM) no Ministério de Minas e Energia, onde os erros cometidos foram os mais graves e onde há urgência em restabelecer investimentos? Não acrescenta em nada, a não ser trocar o padrinho do ministro: sai José Sarney e entra Michel Temer. No currículo de Eduardo Braga não há absolutamente nada que comprove experiência em petróleo e energia elétrica. Ele se graduou em Engenharia Elétrica, mas virou empresário no setor de revenda de automóveis e toda a vida atuou como político profissional filiado ao PMDB (vereador, deputado, prefeito de Manaus, governador, senador). Nomeado ministro, deixa no Senado a mulher, Sandra Braga, sua suplente.
Eduardo Braga responde, ainda, a processo no Supremo Tribunal Federal (STF) acusado de fraude, peculato e formação de quadrilha em licitação. Segundo a acusação, em abril de 2003 a empresa Colúmbia Engenharia pagou R$ 400 mil pela compra de um terreno. Dois meses depois, na função de governador, Braga desapropriou o mesmo terreno para construir casas populares pagando à Colúmbia Engenharia R$ 13 milhões, ou 3.100% a mais. O inquérito foi aberto pelo ministro do STF Gilmar Mendes, em março de 2013.
Há, hoje, duas distribuidoras de energia elétrica do Amazonas transferidas para a Eletrobrás em decorrência de históricos prejuízos causados pela gestão política e ruinosa de sucessivos governadores do Estado. Delas a Eletrobrás quer se livrar, privatizando-as. E o futuro ministro de Minas e Energia vai facilitar ou dificultar a privatização?
Ainda na delicada área de infraestrutura, que precisa ser reerguida, Dilma entregou o Ministério da Aviação Civil para o peemedebista gaúcho Eliseu Padilha, também acusado pela Polícia Federal de fraude na construção de duas barragens no Rio Grande do Sul. E, para a Secretaria de Portos, outro político, o deputado Edinho Araujo (PMDB-SP). O que esperar em 2015?
Um feliz ano-novo aos queridos leitores!
Ano novo, ministério novo. E governo? Novo ou velho? O que esperar de 2015? Há muitas dúvidas e poucas certezas do que vem por aí. No meio disso, o pêndulo chamado Dilma Rousseff vai oscilar na direção do novo e corrigir erros ou persistir no velho caminho errado? As dúvidas vêm daí.
O que precisa ser feito na economia já foi exaustivamente discutido e o diagnóstico é bem conhecido. Desconhecido é o que vai decidir Dilma Rousseff quando seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, avisá-la de que precisa cortar despesas aqui e ali, que vai aumentar impostos, que o Bolsa BNDES vai acabar, e as desonerações fiscais também, que as interferências políticas do governo nas estatais e nos bancos públicos chegaram ao fim, que as agências reguladoras ficarão livres de influências do governo e de favores aos políticos e que é preciso evoluir nas reformas - política, tributária e também a administrativa, eliminando metade dos 39 ministérios criados por ela e pelo ex-presidente Lula para abrigar partidos aliados.
As incertezas derivam do paradoxal papel de Dilma Rousseff: o de comandar a guinada de rumo corrigindo erros que foram gerados por ela mesma - e muitos por convicção ideológica, o que torna a tarefa ainda mais difícil - e que causaram mal ao País, atrasaram o desenvolvimento econômico, afugentaram investimentos e fizeram do primeiro mandato quatro anos desperdiçados.
O escândalo de corrupção na Petrobrás responde pela maior parte e agravou a pior e mais dramática crise vivida pela estatal em seus 60 anos, mas não a originou. A imagem da empresa já era ruim antes da Operação Lava Jato, em decorrência de seu exagerado e corriqueiro uso político pela presidente da República, ora na definição do preço de combustíveis, ora para viabilizar uma caolha e falsa política pseudonacionalista na região do pré-sal, que triplicou a dívida da Petrobrás e atrasou a exploração de óleo, deixando de gerar empregos, renda e riqueza para o País.
No cenário, um novo ministério. Mas será novo mesmo? Quem acreditou no discurso de Dilma ao jurar para os brasileiros que atos de corrupção seriam apurados e punidos ("doa a quem doer, custe o que custar, não restará pedra sobre pedra") esperava ver o discurso refletido na escolha dos ministros. Em outras palavras, esperava de Dilma um eficaz e preventivo freio de mão contra o escancarado e corriqueiro método de lotear cargos para capturar partidos políticos ávidos por assumir ministérios com orçamentos gordos e contratos milionários (de preferência com empreiteiras), como os da área de infraestrutura.
A "governabilidade" é sempre avocada por quem está no poder para justificar dividir a gestão com partidos que votam matérias do governo no Congresso Nacional. É legítimo e existe em países de regime democrático o governo partilhar a gestão com partidos que o apoiam e formam sua base de aliança no Parlamento. A escolha de nomes, porém, precisa ser feita com cuidado - o candidato indicado pelo partido deve trazer capacitação técnica para exercer a função e comprovar ficha limpa, ou seja, não ter sido processado por crimes contra o patrimônio público ou prática de corrupção.
Mas Lula inovou e acrescentou nociva permissividade à prática: o candidato fica dispensado de provar não ser criminoso e o loteamento ganha novo viés. A qualidade da gestão percebida pelo eleitor como força político-eleitoral para o partido é substituída por outra finalidade nada nobre: o candidato pode exercer o cargo de olho em tirar vantagens para o seu partido. É essa mudança de concepção que está na origem de tantos escândalos de corrupção dos últimos 12 anos. É o que precisa mudar.
Seis por meia dúzia. Tal mudança não foi contemplada na escolha do novo ministério. Com exceção do trio da economia (Joaquim Levy na Fazenda, Nelson Barbosa no Planejamento e Alexandre Tombini no Banco Central), Dilma Rousseff trocou seis por meia dúzia. Ela sabe que precisa mudar na área de infraestrutura, nomear ministros capacitados tecnicamente para ajudarem na difícil tarefa de recuperar a credibilidade ao governo, dinamizar investimentos e retomar o crescimento econômico. Não vai conseguir nada disso nomeando políticos derrotados nas eleições e sem nenhuma qualificação técnica para cargos-chave nessa área.
O que acrescenta, por exemplo, trocar Edison Lobão (PMDB-MA) por Eduardo Braga (PMDB-AM) no Ministério de Minas e Energia, onde os erros cometidos foram os mais graves e onde há urgência em restabelecer investimentos? Não acrescenta em nada, a não ser trocar o padrinho do ministro: sai José Sarney e entra Michel Temer. No currículo de Eduardo Braga não há absolutamente nada que comprove experiência em petróleo e energia elétrica. Ele se graduou em Engenharia Elétrica, mas virou empresário no setor de revenda de automóveis e toda a vida atuou como político profissional filiado ao PMDB (vereador, deputado, prefeito de Manaus, governador, senador). Nomeado ministro, deixa no Senado a mulher, Sandra Braga, sua suplente.
Eduardo Braga responde, ainda, a processo no Supremo Tribunal Federal (STF) acusado de fraude, peculato e formação de quadrilha em licitação. Segundo a acusação, em abril de 2003 a empresa Colúmbia Engenharia pagou R$ 400 mil pela compra de um terreno. Dois meses depois, na função de governador, Braga desapropriou o mesmo terreno para construir casas populares pagando à Colúmbia Engenharia R$ 13 milhões, ou 3.100% a mais. O inquérito foi aberto pelo ministro do STF Gilmar Mendes, em março de 2013.
Há, hoje, duas distribuidoras de energia elétrica do Amazonas transferidas para a Eletrobrás em decorrência de históricos prejuízos causados pela gestão política e ruinosa de sucessivos governadores do Estado. Delas a Eletrobrás quer se livrar, privatizando-as. E o futuro ministro de Minas e Energia vai facilitar ou dificultar a privatização?
Ainda na delicada área de infraestrutura, que precisa ser reerguida, Dilma entregou o Ministério da Aviação Civil para o peemedebista gaúcho Eliseu Padilha, também acusado pela Polícia Federal de fraude na construção de duas barragens no Rio Grande do Sul. E, para a Secretaria de Portos, outro político, o deputado Edinho Araujo (PMDB-SP). O que esperar em 2015?
Um feliz ano-novo aos queridos leitores!
O choro de Dilma - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 28/12
Como se previa, o nome da presidente Dilma Rousseff apareceu, finalmente, num dos processos contra a Petrobras, o movido pela cidade de Providence, capital do estado americano de Rhode Island, que alega ter tido prejuízos na compra de ações da Petrobras devido ao esquema de corrupção na estatal brasileira.
Como uma das "pessoas de interesse da ação" ela ainda não é ré no processo, mas poderá vir a ser se no decorrer das apurações ficar provado que ela sabia do que estava acontecendo na estatal quando assinou folhetos de propaganda para vender ações no mercado internacional, ou se tiver sido negligente.
Ela e mais algumas autoridades brasileiras e membros do Conselho de Administração da Petrobras que presidiu estão arrolados no processo, e mesmo que tenha imunidades que a impeçam de depor no processo, a presidente Dilma ficará, no mínimo, sujeita às pressões de escritórios de advocacia americanos em busca de um bom acordo.
É mais um percalço político para uma presidente que, em vez de estar em lua de mel com seu eleitorado e os partidos que apoiaram sua reeleição, passa por maus momentos especialmente dentro de seu próprio partido, o PT. Já aparecem relatos de que a presidente Dilma estaria deprimida, e que teria até mesmo chorado recentemente, depressão atribuída, por pessoas próximas, às dificuldades por que vem passando na montagem de seu novo Ministério. A presidente confessou depois que se sentia muito sozinha.
Diante da intenção de dar novos ares a um segundo mandato, fazendo um governo mais com a sua cara do que a de Lula ou do PT, a presidente teria sucumbido diante das pressões partidárias, e ela própria não estaria satisfeita com o resultado até aqui. Não combina com a imagem de Dilma esse choro quase público, mas a humanizaria e daria, pelo menos, a sensação de que a presidente, pelo menos, estaria tentando fazer algo de novo.
Porque é estarrecedor ver-se o resultado final da parte já definida do Ministério, fruto da mesma prática deletéria de escolher um partido para cada ministério, sem levar em conta a capacidade do escolhido ou sua especialização na área que comandará.
A situação é tão trágica que um partido como o PRB, da Igreja Universal, se sente em condições de ameaçar ir para a oposição caso o Ministério do Esporte não vá mesmo para o pastor George Hilton, um completo ignorante na área, tão ou mais que seu padrinho o pastor Marcelo Crivella, que confessou não saber nem mesmo reconhecer uma minhoca quando foi indicado para a pasta da Pesca.
O maior problema para Dilma parece ser mesmo o ex-presidente Lula, que não estaria nada satisfeito com a liberdade que ela ensaia na escolha do Ministério, depois de ter conseguido convencê-la de que teria que colocar na Fazenda um economista ortodoxo e fiscalista para tentar se aproximar do mercado financeiro e dar segurança aos eventuais investidores.
A verdade é que Dilma jamais seria presidente da República se não tivesse passado na cabeça de Lula essa ideia magistral de lançar uma mulher, ainda por cima apresentá-la ao eleitorado como grande gestora. Os fatos o desmentiram, mas o imaginário popular ainda está dominado pela fantasia de que o PT é o partido que cuida melhor dos pobres e desemparados, o que bastou para uma vitória apertada. Uma vitória eleitoral que trouxe uma derrota política para o PT, pois os fatos teimam em continuar desmentindo o que foi dito na campanha eleitoral, tendo como carro-chefe o escândalo da Petrobras que está destruindo a estatal por dentro, sem que se tome uma providência para reverter o quadro.
Todos os aumentos de preços negados estão sendo anunciados dia após dia, e até mesmo a abertura de capital da Caixa Econômica já foi admitida pela presidente, que acusava seus adversários de querer acabar com os bancos públicos.
Para cúmulo de seus azares, a própria presidente Dilma, dias atrás, foi traída por um reflexo freudiano e anunciou que tomará "medidas drásticas" na economia, o mesmo que acusou seu adversário de tramar caso fosse eleito. A ponto de tê-lo inquirido no primeiro debate entre os dois: "Quais são as medidas impopulares que o senhor vai tomar se for eleito?"
Só mesmo chorando.
Como se previa, o nome da presidente Dilma Rousseff apareceu, finalmente, num dos processos contra a Petrobras, o movido pela cidade de Providence, capital do estado americano de Rhode Island, que alega ter tido prejuízos na compra de ações da Petrobras devido ao esquema de corrupção na estatal brasileira.
Como uma das "pessoas de interesse da ação" ela ainda não é ré no processo, mas poderá vir a ser se no decorrer das apurações ficar provado que ela sabia do que estava acontecendo na estatal quando assinou folhetos de propaganda para vender ações no mercado internacional, ou se tiver sido negligente.
Ela e mais algumas autoridades brasileiras e membros do Conselho de Administração da Petrobras que presidiu estão arrolados no processo, e mesmo que tenha imunidades que a impeçam de depor no processo, a presidente Dilma ficará, no mínimo, sujeita às pressões de escritórios de advocacia americanos em busca de um bom acordo.
É mais um percalço político para uma presidente que, em vez de estar em lua de mel com seu eleitorado e os partidos que apoiaram sua reeleição, passa por maus momentos especialmente dentro de seu próprio partido, o PT. Já aparecem relatos de que a presidente Dilma estaria deprimida, e que teria até mesmo chorado recentemente, depressão atribuída, por pessoas próximas, às dificuldades por que vem passando na montagem de seu novo Ministério. A presidente confessou depois que se sentia muito sozinha.
Diante da intenção de dar novos ares a um segundo mandato, fazendo um governo mais com a sua cara do que a de Lula ou do PT, a presidente teria sucumbido diante das pressões partidárias, e ela própria não estaria satisfeita com o resultado até aqui. Não combina com a imagem de Dilma esse choro quase público, mas a humanizaria e daria, pelo menos, a sensação de que a presidente, pelo menos, estaria tentando fazer algo de novo.
Porque é estarrecedor ver-se o resultado final da parte já definida do Ministério, fruto da mesma prática deletéria de escolher um partido para cada ministério, sem levar em conta a capacidade do escolhido ou sua especialização na área que comandará.
A situação é tão trágica que um partido como o PRB, da Igreja Universal, se sente em condições de ameaçar ir para a oposição caso o Ministério do Esporte não vá mesmo para o pastor George Hilton, um completo ignorante na área, tão ou mais que seu padrinho o pastor Marcelo Crivella, que confessou não saber nem mesmo reconhecer uma minhoca quando foi indicado para a pasta da Pesca.
O maior problema para Dilma parece ser mesmo o ex-presidente Lula, que não estaria nada satisfeito com a liberdade que ela ensaia na escolha do Ministério, depois de ter conseguido convencê-la de que teria que colocar na Fazenda um economista ortodoxo e fiscalista para tentar se aproximar do mercado financeiro e dar segurança aos eventuais investidores.
A verdade é que Dilma jamais seria presidente da República se não tivesse passado na cabeça de Lula essa ideia magistral de lançar uma mulher, ainda por cima apresentá-la ao eleitorado como grande gestora. Os fatos o desmentiram, mas o imaginário popular ainda está dominado pela fantasia de que o PT é o partido que cuida melhor dos pobres e desemparados, o que bastou para uma vitória apertada. Uma vitória eleitoral que trouxe uma derrota política para o PT, pois os fatos teimam em continuar desmentindo o que foi dito na campanha eleitoral, tendo como carro-chefe o escândalo da Petrobras que está destruindo a estatal por dentro, sem que se tome uma providência para reverter o quadro.
Todos os aumentos de preços negados estão sendo anunciados dia após dia, e até mesmo a abertura de capital da Caixa Econômica já foi admitida pela presidente, que acusava seus adversários de querer acabar com os bancos públicos.
Para cúmulo de seus azares, a própria presidente Dilma, dias atrás, foi traída por um reflexo freudiano e anunciou que tomará "medidas drásticas" na economia, o mesmo que acusou seu adversário de tramar caso fosse eleito. A ponto de tê-lo inquirido no primeiro debate entre os dois: "Quais são as medidas impopulares que o senhor vai tomar se for eleito?"
Só mesmo chorando.
Rever a relação - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 28/12
Devido à realidade da geopolítica, nada reduzirá a importância para o Brasil do continente sul-americano. Daí a entender-se que os acordos que sustentam o Mercosul são intocáveis, não podem ser adaptados a novas conjunturas, vai grande distância.
O Cone Sul, em particular, é especialmente estratégico. Constitui-se fato histórico de peso o lançamento do Mercosul, em meados dos anos 1980, pelos presidentes Sarney e Alfonsín, e, não por coincidência, num momento em que Brasil e Argentina encerravam um dramático ciclo ditatorial.
A oficialização do processo de integração regional, já em curso àquela época, impulsionada por forças do mercado — principalmente de veículos —, colocou uma pedra sobre um profundo poço de desconfianças históricas entre Argentina e Brasil, agravadas pelos militares de ambos os lados.
Esta conquista, para todo o continente, não tem preço. A região do Mercosul, com os quatro sócios-fundadores — além de Brasil e Argentina, Paraguai e Uruguai —, se favoreceu bastante da eliminação de fronteiras para efeito do comércio no bloco. Com o passar do tempo, o Mercosul passou a ser um dos mais importantes mercados importadores de produtos brasileiros, principalmente manufaturados.
O bloco passou a permitir a acumulação de importantes superávits comerciais pelo Brasil,e muito devido à incapacidade de a economia argentina competir com a brasileira. A chegada ao poder do clã Kirchner, Néstor e Cristina, em 2002, agravaria, a médio e longo prazos, os problemas do vizinho. Néstor, populista, adotou uma estratégia econômica para gerar emprego e renda a curto prazo. Com Cristina ocorreu o mesmo, e, com isso, os dois rifaram o futuro da Argentina, já há algum tempo com inflação alta e ascendente (rumo aos 50%), com inexoráveis reflexos deletérios na produção e no consumo.
Foi assim que o kirchnerismo passou a erguer barreiras protecionistas, rasgando, na prática, o acordo de união aduaneira. Por companheirismo ideológico, Brasília nada faz para denunciar a infração. E o país paga alto preço ao ficar atrelado ao bloco em crise, agravada com a entrada da Venezuela chavista. Chavistas e kirchneristas, aparentados, têm uma visão autárquica da economia, e por isso boicotam qualquer acordo bilateral do Mercosul com algum outro grande mercado. Caso da União Europeia, com a qual as negociações se arrastam há longo tempo.
Está posto que o Brasil, com a necessidade de reativar seu comércio exterior, em retrocesso, precisa negociar acordos com outros mercados, sem desprezar o Mercosul. Se, para isso, a união aduaneira — de fantasia — precisa ser transformada em área de livre comércio, deve-se discutir. A questão crucial é o Brasil — passado o ciclo de altos preços de commodities, de que o país se beneficiou bastante — já não acumula superávits como no passado, e precisa reciclar, com urgência, sua política comercial monofásica. Por isso, necessita rever o relacionamento com o Mercosul. Até para fortalecê-lo.
Devido à realidade da geopolítica, nada reduzirá a importância para o Brasil do continente sul-americano. Daí a entender-se que os acordos que sustentam o Mercosul são intocáveis, não podem ser adaptados a novas conjunturas, vai grande distância.
O Cone Sul, em particular, é especialmente estratégico. Constitui-se fato histórico de peso o lançamento do Mercosul, em meados dos anos 1980, pelos presidentes Sarney e Alfonsín, e, não por coincidência, num momento em que Brasil e Argentina encerravam um dramático ciclo ditatorial.
A oficialização do processo de integração regional, já em curso àquela época, impulsionada por forças do mercado — principalmente de veículos —, colocou uma pedra sobre um profundo poço de desconfianças históricas entre Argentina e Brasil, agravadas pelos militares de ambos os lados.
Esta conquista, para todo o continente, não tem preço. A região do Mercosul, com os quatro sócios-fundadores — além de Brasil e Argentina, Paraguai e Uruguai —, se favoreceu bastante da eliminação de fronteiras para efeito do comércio no bloco. Com o passar do tempo, o Mercosul passou a ser um dos mais importantes mercados importadores de produtos brasileiros, principalmente manufaturados.
O bloco passou a permitir a acumulação de importantes superávits comerciais pelo Brasil,e muito devido à incapacidade de a economia argentina competir com a brasileira. A chegada ao poder do clã Kirchner, Néstor e Cristina, em 2002, agravaria, a médio e longo prazos, os problemas do vizinho. Néstor, populista, adotou uma estratégia econômica para gerar emprego e renda a curto prazo. Com Cristina ocorreu o mesmo, e, com isso, os dois rifaram o futuro da Argentina, já há algum tempo com inflação alta e ascendente (rumo aos 50%), com inexoráveis reflexos deletérios na produção e no consumo.
Foi assim que o kirchnerismo passou a erguer barreiras protecionistas, rasgando, na prática, o acordo de união aduaneira. Por companheirismo ideológico, Brasília nada faz para denunciar a infração. E o país paga alto preço ao ficar atrelado ao bloco em crise, agravada com a entrada da Venezuela chavista. Chavistas e kirchneristas, aparentados, têm uma visão autárquica da economia, e por isso boicotam qualquer acordo bilateral do Mercosul com algum outro grande mercado. Caso da União Europeia, com a qual as negociações se arrastam há longo tempo.
Está posto que o Brasil, com a necessidade de reativar seu comércio exterior, em retrocesso, precisa negociar acordos com outros mercados, sem desprezar o Mercosul. Se, para isso, a união aduaneira — de fantasia — precisa ser transformada em área de livre comércio, deve-se discutir. A questão crucial é o Brasil — passado o ciclo de altos preços de commodities, de que o país se beneficiou bastante — já não acumula superávits como no passado, e precisa reciclar, com urgência, sua política comercial monofásica. Por isso, necessita rever o relacionamento com o Mercosul. Até para fortalecê-lo.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“Não vamos permitir”
Ivan Valente (PSOL-SP), sobre o escâdalo do Petrolão ‘forçar’ a privatização da Petrobras
MANTEGA ESCAPA DE FININHO DA OPERAÇÃO LAVA JATO
Apesar de ser o presidente do Conselho de Administração da Petrobras desde abril de 2010, quando substituiu a então ministra Dilma Rousseff, o ministro pré-demitido da Fazenda, Guido Mantega, foi esquecido na Operação Lava Jato. Todos contratos da Petrobras nos últimos quatro anos passaram pela mesa de Mantega, que é membro do Conselho desde 2006 e também é membro do Conselho da BR Distribuidora.
‘JETON’ DOBRA
Presidente do Conselho da BR e membro na BR Distribuidora, Guido recebe R$ 19,7 mil/mês para “compor” seu salário de R$ 26,7 mil.
CONSELHO DO GOVERNO
O Conselho de Administração da Petrobras tem dez membros, sete dos quais são indicados pelo governo, o acionista majoritário.
COUTINHO TAMBÉM
Outro esquecido no Petrolão é Luciano Coutinho, presidente do BNDES desde 2007 e membro do Conselho da Petrobras desde 2008.
SEM SURPRESA
Em 2014, o Produto Interno Bruto congelado, inflação acima da meta, crise na Petrobras, reeleição e “7x1” resumem as retrospectivas do ano
AGU ‘ARRECADOU’ 3.500% A MAIS QUE O PREVISTO
Em meio a alegações de falta de dinheiro que fizeram o governo rasgar a Lei de Responsabilidade Fiscal, a Advocacia-Geral da União (AGU) conseguiu arrecadar mais de R$ 80 milhões pelas representações da União, judicial e extrajudicialmente, em 2014. O valor é 3.487% maior do que os R$ 2,3 milhões previstos em operação de crédito externo após contrato com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
FENÔMENO
O desempenho financeiro da AGU é ainda mais expressivo: o contrato com o BID não foi assinado “devido às restrições orçamentárias”.
OH, COITADOS
A AGU explica que a grana é integralmente recolhida ao Tesouro, pois como integrante do orçamento fiscal, o órgão não possui receita própria
TROCADOS
De todo montante arrecadado, a AGU ficou com pouco mais de R$ 367 mil proveniente de taxas de inscrição de concurso realizado este ano.
QUEM MANDA
Sem moral com a presidenta Dilma, o ministro Luiz Figueiredo (MRE) despacha mesmo é com Aloizio Mercadante, com quem teve sete encontros em 2014, conforme revela a agenda oficial da Casa Civil.
NA PISTA
Cotado no PT para substituir Izabella Teixeira no Ministério do Meio Ambiente, o deputado Alessandro Molon (RJ) já se reuniu duas vezes neste mês com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
ENGABELADOS
Deputados do PMDB reclamam que a indicação de Edinho Araújo (SP) e Eliseu Padilha (RS) para Portos e Aviação Civil foi colocada na conta da bancada, mas os dois são fiéis escudeiros do vice Michel Temer.
PATINHO FEIO
O Ministério dos Transportes teve o orçamento 2015 reduzido em 10%, mas é um dos poucos que ajudam na arrecadação do governo federal: em 2014 conseguiu arrecadar mais de 108% do previsto
GUERRA À VISTA
A bancada do PT está inconformada com a perda de espaços no segundo governo de Dilma. Deputados preveem fase difícil do governo com a militância, que está bombardeando as redes sociais de críticas.
GERDAU NA BR
O empresário Jorge Gerdau Johannpeter representava os acionistas minoritários preferencialistas no Conselho de Administração da Petrobras desde 2001. Foi substituído em abril deste ano, pela primeira vez, por João Guimarães Monforte, presidente do Conselho da Claro.
APROVADO EM COTA
O deputado Geraldo Resende (PMDB-MS) é alvo de críticas nas redes sociais após divulgar que passou na Universidade Federal da Grande Dourados. Ele foi aprovado na cota destinada a alunos da rede pública.
JOGANDO A TOALHA
Amigos do presidente da Câmara Henrique Alves (PMDB-RN) acham que ele declinará da humilhação do “nada consta” da Operação Lava Jato para só então virar ministro do segundo mandato de Dilma.
PENSANDO BEM…
… brasileiros já sabem o que desejar para 2015: 2014 nunca mais!
PODER SEM PUDOR
VELHO CONHECIDO
O então presidente do Senado, José Sarney, conversava com amigos, dia antes de sua internação no Hospital Sírio Libanês, quando alguém mencionou a tese de que a cirurgia bariátrica que emagreceu Demóstenes Torres mexeu com sua cabeça, alterou o comportamento do senador goiano. Sarney discordou, lembrando que Demóstenes, antes da cirurgia, foi um opositor duríssimo do líder do PMDB, Renan Calheiros, e, já magro, também foi implacável contra ele próprio. Exibindo seu melhor sorriso mona lisa, Sarney sacramentou:
- Renan e eu conhecemos o Demóstenes gordo e o Demóstenes magro...
Ivan Valente (PSOL-SP), sobre o escâdalo do Petrolão ‘forçar’ a privatização da Petrobras
MANTEGA ESCAPA DE FININHO DA OPERAÇÃO LAVA JATO
Apesar de ser o presidente do Conselho de Administração da Petrobras desde abril de 2010, quando substituiu a então ministra Dilma Rousseff, o ministro pré-demitido da Fazenda, Guido Mantega, foi esquecido na Operação Lava Jato. Todos contratos da Petrobras nos últimos quatro anos passaram pela mesa de Mantega, que é membro do Conselho desde 2006 e também é membro do Conselho da BR Distribuidora.
‘JETON’ DOBRA
Presidente do Conselho da BR e membro na BR Distribuidora, Guido recebe R$ 19,7 mil/mês para “compor” seu salário de R$ 26,7 mil.
CONSELHO DO GOVERNO
O Conselho de Administração da Petrobras tem dez membros, sete dos quais são indicados pelo governo, o acionista majoritário.
COUTINHO TAMBÉM
Outro esquecido no Petrolão é Luciano Coutinho, presidente do BNDES desde 2007 e membro do Conselho da Petrobras desde 2008.
SEM SURPRESA
Em 2014, o Produto Interno Bruto congelado, inflação acima da meta, crise na Petrobras, reeleição e “7x1” resumem as retrospectivas do ano
AGU ‘ARRECADOU’ 3.500% A MAIS QUE O PREVISTO
Em meio a alegações de falta de dinheiro que fizeram o governo rasgar a Lei de Responsabilidade Fiscal, a Advocacia-Geral da União (AGU) conseguiu arrecadar mais de R$ 80 milhões pelas representações da União, judicial e extrajudicialmente, em 2014. O valor é 3.487% maior do que os R$ 2,3 milhões previstos em operação de crédito externo após contrato com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
FENÔMENO
O desempenho financeiro da AGU é ainda mais expressivo: o contrato com o BID não foi assinado “devido às restrições orçamentárias”.
OH, COITADOS
A AGU explica que a grana é integralmente recolhida ao Tesouro, pois como integrante do orçamento fiscal, o órgão não possui receita própria
TROCADOS
De todo montante arrecadado, a AGU ficou com pouco mais de R$ 367 mil proveniente de taxas de inscrição de concurso realizado este ano.
QUEM MANDA
Sem moral com a presidenta Dilma, o ministro Luiz Figueiredo (MRE) despacha mesmo é com Aloizio Mercadante, com quem teve sete encontros em 2014, conforme revela a agenda oficial da Casa Civil.
NA PISTA
Cotado no PT para substituir Izabella Teixeira no Ministério do Meio Ambiente, o deputado Alessandro Molon (RJ) já se reuniu duas vezes neste mês com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
ENGABELADOS
Deputados do PMDB reclamam que a indicação de Edinho Araújo (SP) e Eliseu Padilha (RS) para Portos e Aviação Civil foi colocada na conta da bancada, mas os dois são fiéis escudeiros do vice Michel Temer.
PATINHO FEIO
O Ministério dos Transportes teve o orçamento 2015 reduzido em 10%, mas é um dos poucos que ajudam na arrecadação do governo federal: em 2014 conseguiu arrecadar mais de 108% do previsto
GUERRA À VISTA
A bancada do PT está inconformada com a perda de espaços no segundo governo de Dilma. Deputados preveem fase difícil do governo com a militância, que está bombardeando as redes sociais de críticas.
GERDAU NA BR
O empresário Jorge Gerdau Johannpeter representava os acionistas minoritários preferencialistas no Conselho de Administração da Petrobras desde 2001. Foi substituído em abril deste ano, pela primeira vez, por João Guimarães Monforte, presidente do Conselho da Claro.
APROVADO EM COTA
O deputado Geraldo Resende (PMDB-MS) é alvo de críticas nas redes sociais após divulgar que passou na Universidade Federal da Grande Dourados. Ele foi aprovado na cota destinada a alunos da rede pública.
JOGANDO A TOALHA
Amigos do presidente da Câmara Henrique Alves (PMDB-RN) acham que ele declinará da humilhação do “nada consta” da Operação Lava Jato para só então virar ministro do segundo mandato de Dilma.
PENSANDO BEM…
… brasileiros já sabem o que desejar para 2015: 2014 nunca mais!
PODER SEM PUDOR
VELHO CONHECIDO
O então presidente do Senado, José Sarney, conversava com amigos, dia antes de sua internação no Hospital Sírio Libanês, quando alguém mencionou a tese de que a cirurgia bariátrica que emagreceu Demóstenes Torres mexeu com sua cabeça, alterou o comportamento do senador goiano. Sarney discordou, lembrando que Demóstenes, antes da cirurgia, foi um opositor duríssimo do líder do PMDB, Renan Calheiros, e, já magro, também foi implacável contra ele próprio. Exibindo seu melhor sorriso mona lisa, Sarney sacramentou:
- Renan e eu conhecemos o Demóstenes gordo e o Demóstenes magro...
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