domingo, junho 08, 2014

A casaca - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 08/06

Ele, colorado fanático, era casado com uma também colorada, e tiveram dois filhos, dois meninos que obviamente torciam para o Internacional, herdando a paixão da família. Muitos pais têm uma vontade, às vezes secreta, de que os filhos sigam sua profissão, pratiquem a mesma religião, desenvolvam preferências idênticas, mas quando se trata do time de futebol, a vontade deixa de ser secreta para ser escancarada: os filhotes são induzidos abertamente a honrar a camiseta do time. Não raro, os pais colocam a escolha futebolística do bebê já declarada na porta da maternidade. Nasceu Matias, nasceu Luciana, e ao lado do nome o distintivo doFlamengo, do Vasco, do Atlético, do Corinthians ou de qualquer que seja o clube daquela criança que não ousará transgredir uma tradição sagrada.

Mas eu estava falando do Internacional, e de um colorado casado com uma colorada com quem teve dois coloradinhos. Pois ele se divorciou da colorada. E os meninos, de nove e sete anos, ficaram morando com ela, como quase sempre acontece. A separação não chegou a ser litigiosa, mas tampouco foi um passeio num jardim florido: as pendengas de sempre sobre valores de pensão, partilha de bens, sem falar no ciúme corrosivo em relação à nova namorada com quem papai já desfila - como são rápidos esses homens.

Pois ela, a mãe, ainda sem um namorado para distraí-la, e considerando-se levemente injustiçada com a situação toda, resolveu irritar o ex-marido (“para não perder a prática”, diz ele). Virou gremista. E, claro, está catequizando os dois moleques para que virem também.

O homem está fora de si. A ex-mulher está usando todos os recursos disponíveis: hinos, uniformes, influência de amiguinhos, idas ao estádio, histórias mal contadas, chantagem emocional e vasto repertório de doutrinação. Os meninos começam a vacilar. O plano está prestes a dar certo.

Eu disse a ele que duvido que os filhos mudem de lado: um pai torcedor costuma ser invencível como exemplo. Mas ele teme pela chegada de um padrasto que desequilibre essa balança de vez.

Que drama.

Virar a casaca é um direito, mas não deixa de ser uma traição. Quando escuto um brasileiro dizendo que vai torcer pela Argentina ou para qualquer outra Seleção que não a nossa, não consigo evitar o muxoxo. Sei que o futebol pode ser alienante, pode reforçar ou enfraquecer a imagem de governos, portanto é legítimo o protesto político em forma de torcida contra, mas sempre é incômodo ver a paixão perder para o racionalismo. Pô, de vez em quando é preciso parar de pensar e se entregar para a emoção - para não perder a prática, que seja.

Vale para adultos e mais ainda para crianças, cuja inocência não merece ficar órfã.

Dilma se engana sobre desigualdade - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 08/06

De novo, uma governante insiste na falsa tese de que desigualdade caiu no Brasil, ao contrário do mundo


A presidente Dilma Rousseff engana-se e, por extensão , engana o público ao afirmar que a desigualdade no Brasil está diminuindo, na "contracorrente" do que ocorre no resto do mundo.

Pena que essa suposta jabuticaba, fenômeno que só se dá no Brasil, seja lenda incentivada pela omissão ou covardia de uma parcela majoritária da intelectualidade.

No Brasil, pode ter diminuído a desigualdade entre salários --e, mesmo assim, tenho lá minhas dúvidas a respeito--, mas aumentou a desigualdade realmente importante, que é entre rendimentos do capital e rendimentos do trabalho.

Paul Krugman, Nobel de Economia, em recente artigo para o "New York Times", explica didaticamente como se fazem as medições:

"Temos duas fontes de evidências tanto sobre renda como sobre riqueza: pesquisas, nas quais as pessoas são perguntadas sobre suas finanças , e dados sobre impostos. Dados de pesquisa, embora úteis para acompanhar os pobres e a classe média, notoriamente subestimam a riqueza e o rendimento dos que estão no topo. (...) Assim, estudos do 1% ou 0,1% [os super-ricos] dependem principalmente de dados sobre impostos".

Vale para os EUA, vale para o Brasil. Com a grave diferença de que, aqui, os dados sobre impostos não estão disponíveis, o que impediu, por exemplo, o novo economista-estrela, Thomas Piketty, de incluir o Brasil no livro que é a sensação do momento, "Capital no Século 21".

Anos atrás, em um dos textos em que apontei a subestimação de dados em pesquisas sobre rendimentos, dois economistas do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) diziam o seguinte:

"A pesquisa do IBGE só capta 10% dos rendimentos das famílias com juros", afirmava Marcelo Medeiros. Completava Sergei Soares: "Esses rendimentos são muito mal medidos pela Pnad".

O IBGE, que faz a Pnad, é a única fonte de informação sobre a suposta queda da desigualdade. Logo, afirmar que ela vem caindo é uma falácia, no melhor dos casos, ou uma baita mentira, no pior.

Sergei Soares acaba de tomar posse como presidente do Ipea, o que me anima a acreditar que ele, fiel à sua própria constatação quando era apenas pesquisador, romperá a covardia acadêmica predominante e esclarecerá que não existe a tal queda da desigualdade, salvo, talvez, entre assalariados.

Para que se tenha uma ideia aproximada de a quanto pode chegar o aumento do patrimônio (riqueza) de quem o tem, cito dados dos EUA no primeiro trimestre: o valor dos bens imobiliários teve aumento de US$ 759 bilhões (R$ 1,7 trilhão).

Não sei se há dados a esse respeito no Brasil, mas todos sabem que os imóveis tiveram uma bela valorização ultimamente. Duvido que o pessoal que depende do Bolsa Família (e são um quinto dos brasileiros aproximadamente) tenha tido valorização patrimonial parecida, se é que patrimônio tem.

Portanto, a afirmação da presidente de que todos progrediram, mas os pobres progrediram mais que os mais ricos, não passa de chute sem nenhum parentesco com os fatos.

A barriga de Neymar - ARTUR XEXÉO

O GLOBO - 08/06

Dia desses, Neymar foi fotografado pelo coleguinha Alexandre Cassiano na Granja Comary, dando autógrafo para um menino que assistia ao treino da seleção. Até aí, nada demais. Como todo mundo sabe, entre os craques mais fotografados da seleção, Neymar só perde para Bruna Marquezine. Ela nem precisa entrar em campão. Basta ficar na arquibancada para todas as câmeras se voltarem para ela. Mas a foto de Neymar causou sensação na internet. Não pela simpatia do jogador ao atender o pedido de um fã. Mas pelo fato de que o flagrante revelava uma até agora desconhecida barriga do astro do time brasileiro.

O rebu _ a expressão voltará à moda com o remake da novela? _ não durou muito tempo. Foi um ângulo infeliz. Quer dizer, infeliz para o Neymar, mas feliz para o fotógrafo. De qualquer modo, em pouco tempo, leitores ávidos por informações sobre a Copa do Mundo já procuravam outro assunto para debater. Uma notícia nos dias de hoje na internet dura muito pouco tempo. Mas encontrar outra é difícil. Havia a notícia de que funcionários do hotel carioca em que está hospedada a seleção holandesa vestiram algumas peças de roupa de cor laranja. Empolgante, não? Leio ainda que, no voo para São Paulo, onde a seleção foi jogar contra Sérvia, o avião foi abastecido com a mistura que inclui bioquerosene. Todos os voos da seleção partindo do Galeão, durante os meses de junho e julho, utilizarão biocombustível. Relevante, não? Leio também que na chegada da seleção da Itália a Mangaratiba, o craque Balotelli estava sorridente. Surpreendente!

O problema da Copa do Mundo é que, no Brasil, ela começa cedo demais. Duas semanas antes de o primeiro jogo começar, já temos cadernos especiais nos jornais, programas especiais na TV, debates especiais nas estações de rádio. Todo mundo só fala em Copa do Mundo. Só não temos notícia. E aí passamos horas lendo sobre treinos secretos em reportagens que não revelam seus segredos. Ou sobre a condição dos gramados nos estádios, que nunca é boa até a véspera de qualquer jogo. Ou ainda sobre a barriga do Neymar, que, na verdade, era uma ilusão de ótica.

A Copa do Mundo que interessa só começa mesmo na próxima quinta-feira, com o Brasil enfrentando a Croácia no Itaquerão. Longe de mim ironizar o nome alheio. Quem se chama Xexéo não tem esse direito. Mas Itaquerão é puxado. Enfim, quinta-feira que vem, às 17h, no Itaquerão, as notícias começarão a aparecer. Até lá, tudo é perfumaria.

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Chegou a ser iniciado um movimento para que o Dia dos Namorados deste ano fosse antecipado de 12 para 11 de junho, assim a data não coincidiria com a do jogo de abertura da Copa do Mundo. Não sei se ideia pegou. Mas e as festas de comemoração do Corpus Christi? Alguém pensou em transferi-las para, sei lá, agosto? Ou vão ser celebradas no dia 20 de junho, quando está prevista a realização dos jogos entre Suíça e França, Honduras e Equador e Itália e Costa Rica? No quesito concorrência da Copa, só mais uma perguntinha: as festas juninas deste ano foram canceladas?

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Comentei aqui na quarta-feira sobre o cavalo que poderia completar a Tríplice Coroa nas corridas aqui dos Estados Unidos. Errei o nome do bicho. Como me corrige o leitor Pedro Carvalho Neto, o cavalo que pode cumprir o desafio máximo das corridas de cavalo daqui é o California Chrome. O I’ll Have Another, do qual eu falei, quase conseguiu a façanha dois anos atrás, mas se machucou antes da terceira corrida. O leitor Luiz Joselli amplia as informações a respeito. Se vencer, California Chrome, nascido na Califórnia e não no berço da criação americana de puro sangue, o Kentucky, filho de uma égua que custou apenas oito mil dólares, interromperá a série de 36 anos sem um vencedor da Tríplice Coroa americana. De qualquer forma, quando esta coluna estiver sendo lida _ esta coluna será lida? _, a terceira corrida já terá acontecido e já será de conhecimento de todo o mundo se o Califórnia Chrome chegou lá ou não. De minha parte, prometo que não falo mais de cavalos até o fim da Copa.

Grave desfalque na seleção - JOÃO UBALDO RIBEIRO

O GLOBO - 08/06

É uma violação dos direitos humanos do torcedor marcar passeatas perto dos jogos da Copa



Há heróis anônimos, ignorados ou esquecidos, em toda parte. Não seria diferente em relação à Copa. Pelo país afora, tenho certeza de que muitos compatriotas estão tomando providências essenciais para ajudar a equipe brasileira a chegar ao hexa, que nunca serão reconhecidas e muito menos celebradas. Eu mesmo, modestamente, já contei aqui da oportunidade em que, na companhia de meu pai, colaborei com o sucesso do Brasil, na Copa de 58. Meu pai, que botava uma garrafa de uísque Cavalo Branco ao pé de nossa radiola Standard Electric de última geração, se perfilava na hora do Hino Nacional e usava o mesmo pijama que usou na vitória sobre a Áustria no primeiro jogo, ficou apreensivo porque, logo em seguida, não passamos de zero a zero com a Inglaterra. Mas, pouco depois, com os olhos acesos, me comunicou a descoberta sem a qual talvez aquela Copa não tivesse sido nossa.

— Você estava no banheiro, dando descarga, bem na hora em que Nílton Santos fez o gol, eu me lembro perfeitamente. Precisamente no instante em que a descarga disparou, ele fez o gol. Acho que não preciso dizer mais nada ao senhor.

De fato não precisou e ainda bem que, naquela época, não se falava em falta de água no planeta, do contrário eu carregaria culpa o resto da vida, porque o jogo que veio depois, contra o País de Gales, ficou num um a zero mirradinho, mas eu calculo por baixo que dei umas quarenta descargas. Era duro sincronizar a descarga com uma jogada de nosso ataque, só fui pegar um pouquinho de know-how quase no fim do jogo. Não sei qual seria meu destino, se Pelé não tivesse feito o nosso golzinho, porque meu pai não costumava ser muito compreensivo numa situação dessas. E houve diversas outras ocasiões semelhantes, tenho certeza, em que nossa contribuição foi muito importante, ou mesmo decisiva.

Claro que a ilha nunca esteve fora dessas atividades de suporte, mas este ano surgiram fortes dúvidas, até quanto à nossa torcida. Como sabe a meia dúzia de três ou quatro que me lê todo domingo, Zecamunista estava para, mais uma vez, pôr em ação seus talentos subversivos, e realizar passeatas de protesto, nos dias de jogos do Brasil. Mais tarde, ele próprio adaptou o horário das passeatas, a fim de dar tempo de o pessoal ver os jogos. Mas, na semana passada, para surpresa geral, anunciou que não haveria mais passeatas. Foi vencido num debate em que seu opositor, Geraldo Tuberculoso, mostrou com eloquência que o jogo de futebol não se resume aos noventa minutos de bola rolando. O jogo de futebol tem o antes, o durante e o depois, sendo que muitas vezes o que menos interessa é o durante, que passa ligeiro e não se compara a um bom depois de vários dias, com melhores momentos, replay, tira-teima, discussão e tudo. Desta forma, é uma violação dos direitos humanos do torcedor marcar passeatas perto dos jogos da Copa e possa ser até crime hediondo, pois privar o torcedor de seu depois, em alguns casos, mata.

Zeca cedeu à vontade da maioria, embora muitos tenham questionado seu patriotismo. Era chato acusar um membro da coletividade tão respeitado e de currículo tão invejável, mas a verdade é que parecia haver motivos para fazê-lo suspeito da prática de quinta-colunismo. Comentava-se abertamente que ele não torceria pelo Brasil. Ou, pior ainda, torceria contra o Brasil. Ora, vamos e venhamos, tudo tem limite neste mundo e torcer contra a pátria amada fica muito chato para um cidadão de Itaparica. E foi envolvido nesse clima de desconfiança e desaprovação que ele, melindrado, não falou nada e se recolheu a sua residência.

Como a Copa já se inicia na quinta-feira, a preocupação com ele deu lugar a providências urgentes para escorar a seleção por todos os lados. Com essa conversa de passeata, perdeu-se tempo precioso. As medidas de ordem pessoal eram da responsabilidade de cada um, mas a coletividade tinha que empreender alguma ação conjunta, algo que simbolizasse a união de todos em torno da vitória. Prontamente se chegou ao grande santo Santo Antônio, cujo dia é na próxima sexta e cujo mês é este. Sempre houve novenas de Santo Antônio na ilha e agora, mais do que nunca, cabia recorrer a ele. Dona Fabinha, grande devota dele e beata irretocável, de bom grado realizaria o trabalho de organização. E assim estavam deliberando, quando uma conhecida voz roufenha se vez ouvir à soleira do bar.

— Vocês me acusam de falta de patriotismo, mas são vocês que podem estar cavando uma derrota para o Brasil! — disse Zecamunista. — Eu não me contive e vim fazer um alerta! É meu dever!

— Deixe de ser doido, Zeca, nós estamos aqui acertando umas novenas de Santo Antônio, para ele ajudar a seleção.

— É isso mesmo! A bom santo vocês se encomendam!

— Você não vai falar mal de Santo Antônio, só faltava esta.

— Falar mal, não, eu vou aos fatos! Santo Antônio é português! Português! E até para os portugueses, andou aprontando, chegou a ser rebaixado no Exército, por fazer corpo mole contra os holandeses! Se o padre Vieira não reclama e chama ele às falas, ele tinha passado a guerra de férias! Ele deve estar com Cristiano Ronaldo e não abre!

Uma sombra enregelada abateu-se sobre o ambiente. Não se podia negar aquilo, Zeca sabia do que estava falando. E, mesmo que não se desconfiasse da lealdade do santo, é chato pô-lo numa batina justa, tendo que escolher entre sua terra de berço e outra onde é tão benquisto. A verdade inescapável é que não dá para contar com Santo Antônio nesta Copa, o mundo vai acabar.

A pilhagem do patrimônio público - SACHA CALMON

CORREIO BRAZILIENSE - 08/06

O governo faz tudo para impedir que as comissões parlamentares de inquérito não averiguem os ataques ao dinheiro público. As comissões são instrumentos de atuação parlamentar das minorias, aqui e alhures, onde regimes democráticos imperam sobranceiros e não menosprezados, amesquinhados, avacalhados por comissões chapa-branca, como ocorre entre nós. Tornou-se um mantra do PT - os primeiros a dizê-lo foram Lula e José Dirceu - que tudo dito pela imprensa ou falado pela oposição é da "luta política". Nunca há irregularidades. São invencionices discursos malévolos, impulsionados pela "luta política". O mensalão, por exemplo, "jamais existiu" (20% jurídico, 80% político).

Os roubos perpetrados na Petrobras e na Petros, sob os governos do PT, também inexistem! Até a prisão dos mensaleiros inexiste, foi só um pesadelo. Saindo Joaquim, estarão nas ruas. Tudo não passou de um mal-entendido.

Mas a mídia não nos dá trégua; se não, vejamos. O conselho de administração da Refinaria Abreu e Lima aprovou, em apenas 14 dias, dois contratos que somam quase R$ 250 milhões, sem passar por licitação ou mesmo pelo atalho dos "convites", que costuma ser trilhado pela Petrobras em suas contratações. As transações ocorreram às vésperas de o conselho ser encerrado pela estatal, no fim de 2013, conforme apurou o Valor. Apenas duas semanas depois, o conselho já sacramentava os contratos. Àquela altura, faltava menos de um mês para que o conselho da refinaria deixasse de existir, já que Abreu e Lima seria totalmente absorvida pela estatal.

Não basta saquear a Petrobras. "A Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, concedeu R$ 95 milhões em empréstimos a empresas ligadas aos controladores e ex-diretores do banco BVA, instituição que teve liquidação extrajudicial decretada em junho, segundo relatório final da comissão de inquérito do Banco Central (BC). (...) Para o BC, a Petros cometeu dois tipos de irregularidades. Uma delas é ter assumido o papel de banco, algo proibido pela regulação. A outra é que gestores da Petros atuaram num esquema com indícios de conluio, que tinha como objetivo transferir recursos para executivos do banco. (...) Não é a primeira vez que a Petros compra CCBs estruturadas por bancos liquidados. A fundação amargou perda de R$ 72 milhões por comprar papéis que tinham como lastro operações de crédito consignado geradas pelo Banco Morada." (Valor)

Nestes dias de Copa do Mundo, quando o futebol a tudo substitui, estão os petistas comemorando a saída do Sr. Joaquim Barbosa do Supremo tribunal Federal, com ódio no coração, mas aliviados pelo que ele representava: firmeza, imparcialidade, certeza de punição para os ladravazes. São tantos os políticos da base governista envolvidos em falcatruas, como o deputado Vargas, escondido nos esconsos do Brasil, depois de levantar o braço à moda comunista do Zé Genoino na cara do ministro, que a sensação não poderia ser outra se não de alívio e conforto.

Joaquim Barbosa, porém, é homem honrado. Entrará para a história como o juiz que escancarou, comprovadamente, a abominação petista de maneira didática e insofismável, seu maior galardão. Certo, é de temperamento explosivo e franco. Detesta as mesuras, as meias palavras, os "data vênia", a mentira, a incúria, o crime. Melhor ser assim do que conivente com a hipocrisia, a desfaçatez, o corporativismo, a leniência generalizada que infelicita a República. Uns 100 Joaquim Barbosa nos fariam um imenso bem.

O ódio do PT pelo ministro que se despede, coberto de honra e respeito, tem razão de ser. Primeiro, imaginaram que um negro, só por sê-lo, indicado por Lula, ser-lhe-ia grato, subserviente, e se enganaram redondamente. Nos começos, quando lhe perguntaram se era grato a Lula pela nomeação, polidamente respondeu que fora ao Palácio agradecer a indicação e acrescentou: "Estamos quites". Vale dizer, ele, Lula, cumprira o seu dever indicando-o. Ele cumpriria o seu, com o rigor e a isenção exigidos pelo cargo.

Foi altivo como costumam ser os grandes de caráter. Depois disso, surpreendeu o país e os advogados criminalistas prontos a dilacerar o processo, semeando confusões em solenes declamações. Fez um relatório magnífico, minucioso, recheado de provas e - agora o principal - dividido por núcleos: o político, o financeiro, o publicitário, o operacional, e assim por diante. E foi unindo as partes lógicas e, cronologicamente, permitindo a mídia explicar aos brasileiros a trama criminosa conhecida por mensalão. Fosse nos EUA, já teríamos uns 10 livros e magnífico filme tipo Watargate - todos os homes do presidente. Desde então, para o PT, se tornou um amaldiçoado.

Um homem com dor nas costas dominou um processo com incontáveis volumes e fez história. Que o futuro lhe seja menos penoso, ministro Joaquim. Mas tome cuidados. Os tempos e os modos não são confiáveis.

O fantasma de Dilma em 2015 - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 08/06


País deve evitar crise, mas quase-estagnação vai causar problema político no próximo governo


NOS ANOS DILMA, a economia terá crescido pouco menos de 2% ao ano, sob uma inflação anualizada de 6%, em média, e uma taxa de desemprego decrescente, a menor em décadas. Trata-se de uma espécie exótica de estagflação moderada.

Quanto tempo pode durar essa discrepância entre baixa produção e baixo desemprego? Quais as consequências políticas dessa quase-estagnação no próximo governo?

Note-se ainda que, sob Dilma, o deficit público cresceu. O investimento do governo como proporção do PIB quase não se moveu. A massa do consumo das famílias terá crescido a mais do que o dobro do ritmo da alta do investimento "na produção". O deficit externo, nosso excesso de consumo bancado pelo exterior, aumentou bem.

Como diz o o clichê da hora, não obstante correto, é um quadro de excesso de consumo, manifesto na inflação relativamente alta e no deficit externo crescente e incômodo. Em outras eras, situação semelhante daria logo em crise. Agora, o Brasil é um país de fato mais resistente.

Tem reservas internacionais bastantes para evitar ou atenuar especulações sobre nosso deficit externo grande, sobre nossa capacidade de pagamentos externa. Apesar da piora das contas do governo, a dívida pública está sob controle, mesmo levando em conta maquiagens e esqueletos fora do armário tais quais as dívidas feitas para bancar a expansão do crédito na banca estatal. Restou certa ordem fiscal, herdada dos anos 2000-2007.

Não é de desprezar também o fato de termos um mercado doméstico de consumo grande e ampliado recentemente, além de protegido da concorrência, o que atrai uma quantidade ainda razoável, embora cadente, de investimento estrangeiro "na produção".

No entanto, o sonho da desrazão de tal "modelo" vai produzir monstros. Há inflação adicional incubada: 1) Preços represados de combustíveis, eletricidade, transportes públicos; 2) A derivada da desvalorização do real que virá em algum momento (pela mudança dos juros nos EUA, pelo nosso próprio excesso de deficit e inflação); 3) A derivada dos salários ainda crescentes, dado o desemprego baixíssimo.

Mesmo na hipótese "gradualista" do controle de tais danos (em termos de juros e corte de gastos públicos), não é possível imaginar aceleração do crescimento em 2015, a não ser na hipótese de colapso ainda em 2014. A alta do desemprego seria modesta, mas a quantidade de empregos cresceria cada vez mais devagar, assim como a renda, tendência desde a metade de 2013.

A alta anêmica do PIB deixará o governo sem caixa para aumento significativo de despesas sociais; vai conter por mais um tempo os aumentos do salário mínimo e dos benefícios previdenciários (vinculados à variação do PIB).

Na ausência de tumulto no exterior (EUA), talvez seja possível administrar a quase-estagnação por mais uns dois anos, supondo-se que não houvesse deterioração ainda pior da confiança econômica.

Mas como fica o humor "social", político? A redução do ritmo das melhorias sociais e de renda já não pegou bem, vê-se, dadas as expectativas aumentadas, dadas as melhoras da década recente. Como lidar com a frustração dessas expectativas no novo governo? Como atenuar as dores da mudança e criar uma conversa que a legitime?

Pacto da impunidade - SUELY CALDAS

O ESTADO DE S. PAULO - 08/06

Um pacto entre parlamentares da base governista e da oposição para livrar grandes empresas das investigações da CPI mista da Petrobrás foi revelado em reportagem de Débora Álvares, publicada domingo passado neste jornal. Não é a primeira vez que isso acontece nem será a última. A blindagem de proteção a essas empresas é garantida por parlamentares que delas recebem expressivas doações de dinheiro para financiar suas campanhas eleitorais. Aconteceu no passado em outras CPIs e nesta, às vésperas de uma eleição, os doadores podem ficar ainda mais tranquilos: PMDB, PT, PSDB, PSB, DEM, PP, PDT, etc., vão se esmerar para mantê-los bem longe da CPMI. E na disputa por doações levam vantagem PMDB e PT, que detêm a presidência e a relatoria.

A Comissão Parlamentar de Inquérito é um instrumento de fiscalização a que os partidos minoritários recorrem para investigar suspeitas de crimes, fraudes e outras irregularidades praticadas por agentes do poder público, sobretudo quando envolvem desvios de dinheiro. É um recurso absolutamente necessário para a democracia, quando levado a sério, investiga, produz resultados e os acusados são levados à Justiça e punidos. Mas no Brasil, com raras exceções, elas têm servido muito mais de palco, palanque para os políticos - da base governista e da oposição. Depois da ditadura militar as CPIs foram banalizadas e multiplicadas com o crescimento da corrupção. Só no governo Lula foram instaladas nada menos que 24. Acordos entre parlamentares que delas participam, como este da CPMI da Petrobrás, levam à frustração em resultados e engrossam a desilusão, frustração e descrença da população no Poder Legislativo.

Poucas delas produziram desdobramentos que chegassem à Justiça. As mais conhecidas foram a CPI do ex-presidente Fernando Collor, que resultou em impeachment e suspensão de seus direitos políticos por oito anos; e a CPI dos Correios, que investigou a prática do mensalão e condenou 24 réus, entre eles um ex-ministro de Lula, parlamentares do PT e banqueiros. Em compensação a CPI do bicheiro Carlinhos Cachoeira, que ficou conhecida como a "CPI do fim do mundo", pela pretensão de investigar um número expressivo de políticos, produziu tão somente a cassação do mandato do ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) e a breve prisão de nove meses de Cachoeira.

Já nem lembrança resta, mas em 2009 o Senado instalou uma CPI relâmpago da Petrobrás, que realizou apenas 13 sessões e seu relator, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), fez apaixonada defesa da empresa e inocentou todos os envolvidos. A oposição produziu um relatório paralelo apontando 18 irregularidades, entre elas a prática de superfaturamento na Refinaria Abreu e Lima (também investigada agora) e a venda de uma refinaria à Bolívia por preço inferior ao do mercado, exatamente o inverso do caso da Refinaria de Pasadena, que a Petrobrás teria comprado a preço acima do mercado. Parece até reprise de um filme - aliás, o presidente da CPI de 2009, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), é o mesmo desta CPMI que mal começou e já produziu um pacto de impunidade.

Se já não havia esperanças com uma CPMI no meio da Copa do Mundo, do recesso parlamentar e da campanha eleitoral e dominada por partidos aliados do governo, a desesperança é reforçada com esta farsa montada com a ajuda da oposição, que busca apontar corruptos, mas esconde corruptores.

Se real fosse a disposição de apurar, a investigação poderia começar por auditoria concluída pela própria Petrobrás, que encontrou ágio de até 1.654% em preços praticados pelo Grupo Odebrecht na execução de um contrato de prestação de serviços de segurança e meio ambiente em dez países. Na Argentina, por exemplo, a construtora teria pago R$ 7,2 milhões pelo aluguel de três máquinas fotocopiadoras e R$ 3,2 milhões pelo aluguel de um terreno próprio da Petrobrás. E ainda requisitar da Polícia Federal investigações que apuraram a prática de superfaturamento na Refinaria Abreu e Lima, de parte do consórcio liderado pela Construtora Camargo Correa. Mas para que investigar doadores de campanha?


O que caracteriza o futebol? - SAMUEL PESSÔA

FOLHA DE SP - 08/06

A facilidade para a prática e a flexibilidade devem ter facilitado a difusão do futebol pelo mundo


Com o início da Copa do Mundo na próxima semana, teremos uma boa oportunidade para tentar refletir sobre o que faz do futebol o futebol.

Podem-se imaginar duas narrativas para explicar por que, entre tantos esportes, o futebol acabou prevalecendo como o mais popular por larga margem.

A primeira narrativa enfatiza os fundamentos. Há algo de intrinsecamente melhor no futebol que justifique o fato de o esporte ter caído no gosto popular. A segunda assevera que pode simplesmente ter ocorrido uma sucessão de acasos que fez que várias pessoas gostassem do futebol. Uma vez tendo sido criada uma vantagem inicial, ela se realimenta automaticamente.

No primeiro caso, temos um único equilíbrio de longo prazo, e qualquer processo evolutivo teria "descoberto" algo com formato muito próximo ao do futebol. No segun- do, há múltiplas (quiçá infinitas) possibilidades e o processo histó- rico específico teria selecionado o esporte. A escolha teria sido quase por acaso.

Não tenho condição de responder à questão anterior, mas certamente a facilidade do esporte --demandar poucos recursos para sua prática-- e a flexibilidade --poder ser jogado em diversos locais com grupos diversos de pessoas-- devem ter facilitado a difusão.

Além da praticidade e da flexibilidade, parece-me que o espor- te apresenta seis características únicas que talvez sejam, de alguma forma, os fundamentos da sua superioridade.

A primeira é que se trata de um esporte com um erro de design. O pé é muito menos habilidoso do que as mãos. É perfeitamente natural que houvesse pressão para per- mitir o uso das mãos. Ela de fato existiu e gerou o rúgbi como variação do futebol.

A segunda é que é um esporte no qual não há um tipo físico óbvio. Há jogadores altos e baixos, mais ou menos robustos, rápidos e mais lentos etc. O jogo tem tal complexidade de movimentos e possibilidades de funções que acomoda grande diversidade de tipos físicos.

Evidentemente há que ser talentoso. E nesse aspecto é possível que seja tão injusto como qualquer outro esporte. Friso somente que o talento no futebol não se vincula a um tipo físico.

A terceira é que é um esporte de placar baixo, no qual o empate é um resultado perfeitamente natural. Para os aficionados do futebol, uma vitória de 100 a 102 do basquete não faz sentido. O problema é que placares muito elevados tornam muitas vezes a distância entre vitória, empate e derrota muito pequena.

A quarta característica é que é muito difícil descrever a situação do jogo por meio de estatísticas. Com alguma frequência ocorre de um time jogar melhor do que outro, todos que assistem ao jogo reconhecem este fato, mas qualquer estatística --tempo de domínio de bola, chutes ao gol, escanteios conquistados, desarmes etc.-- sugere o contrário. Teria que haver um critério relativamente transparente de caracterizar jogada perigosa, o que é possível, mas nada fácil.

A quinta característica é que às vezes --bem menos do que se imagina-- os fundamentos não prevalecem e o time que está jogando pior vence. Trata-se de uma consequência de ser jogo de placar baixo.

Finalmente, por ser um esporte de contato jogado com o pouco habilidoso pé, a falta é natural do jogo. Se houver vedação muito estrita à falta, o jogo ficará muito chato. A maneira de solucionar esse dilema foi adotar regras de punição não muito lineares. Há uma dimensão temporal e outra espacial na não linearidade.

Ao reincidir nas faltas, o jogador constrói (ou melhor, destrói) sua reputação. Da conversa e do cartão amarelo para o vermelho há for- te descontinuidade na punição. Essa é dimensão temporal da não linearidade.

Por ser praticado com o pé, a defesa tem vantagem sobre o ataque. É difícil construir e fácil destruir. Se o time conseguiu construir uma jogada e levar a bola até a área adversária, já fez demais. Prati- camente marcou um gol. A falta na área é punida com o pênalti. Essa é a dimensão espacial da não linearidade.

Parece-me que somente o fute- bol tem esse conjunto singular de características. É possível que a popularidade seja fruto dos fundamentos.

Os campos da Copa - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 08/06

A copa econômica se ganha em vários campos, e estamos perdendo. Ela deveria aumentar o ritmo de crescimento e elevar o ânimo. Ocorre o oposto. Não estamos eliminados ainda, mas há pouca chance de se aproveitar o momento para retocar a imagem de país do improviso. A bola começará a rolar esta semana e estaremos diante dos olhos do mundo. Ainda há esperança.

Ficar no foco do planeta não serve apenas para aparecer bonito na foto. A hora é de atrair capitais e turistas para além do tempo dos jogos. Os aeroportos não estão terminados, ainda batem o martelo no estádio da estreia, a rede de comunicação celular no país parece perto do colapso, os provedores de wi-fi não entregam o que prometem e a mobilidade urbana travou. Imagina a amplificação da mensagem adversa sobre o país que pode ser enviada pelos formadores de opinião?

O desconforto nos aeroportos pode ser reduzido com boa informação aos visitantes, a mobilidade urbana tem chance de melhorar com os feriados, a última martelada pode ser dada no Itaquerão minutos antes da cerimônia de abertura. Mas se os visitantes não conseguirem se comunicar por falhas na tecnologia de informação será um desastre. Não há hoje em dia um atestado de subdesenvolvimento maior do que não ter uma boa estrutura de comunicação.

Na economia interna, os tempos de Copa não garantiram o aumento do ritmo de atividade econômica que sempre houve. Pelo contrário, o risco maior é de ter um segundo trimestre de encolhimento do Produto Interno Bruto. A confiança do empresário e do consumidor caiu nos últimos meses. O consumidor restringiu suas compras ao essencial e só a produção de televisores aumentou. O empresário engavetou os planos de investimento. O que neutralizou o efeito copa foi a crise avassaladora na área energética. Ninguém investe se não souber responder à pergunta: quanto vai
custar a energia? Essa falta de resposta azedou o clima nas empresas, mais do que qualquer outro problema.

Consultadas pela Fundação Getúlio Vargas, apenas 1,9% das empresas de serviços e 3%, da área do comércio, disseram que vão aumentar as contratações para a Copa. E 10,6% e 7,8%, nos dois setores, falaram em contratar trabalhadores temporários. Emprego não é nosso maior problema, mas se esperava maior dinamismo.

Em qualquer democracia há manifestações e greves. Isso costuma demonstrar a solidez das instituições democráticas. Melhor do que trancafiar os dissidentes como fazem os governos totalitários nas vésperas de eventos internacionais. A China fez isso, mas não conseguiu afastar o fantasma da poluição do ar que apagou o céu e sufocou os visitantes das Olimpíadas de Pequim. O problema dos protestos no Brasil é que eles estão tumultuando a vida de milhões de brasileiros. Esqueça-se a Copa, o Brasil tem que usar os metrôs, ônibus e trens para exercer o direito de ir e vir. É esse direito fundamental dos brasileiros que está sendo atingido nas greves seriais que paralisam as maiores cidades.

O grande legado de qualquer evento internacional é a mudança permanente que fica para a sua população. Exemplo disso foi a esperança de que as Olimpíadas de 2016 ajudassem no caminho do sonho de ser feita uma limpeza na Baía de Guanabara. Chegamos a pensar que ocorreria aqui o que houve em Sidney. Dois anos antes, os cariocas, em particular, e os brasileiros, em geral, já arquivaram esse sonho dourado que existia antes de o país ser escolhido e continuará conosco após 2016. Nas visitas precursoras, estamos passando vergonha diante dos velejadores. Mas eles depois irão para outras águas. Nós ficaremos aqui, e a limpeza era principalmente para os brasileiros. As Olimpíadas eram o pretexto para fazer a coisa certa.

Na Copa, havia também o sonho de que pelo menos alguns dos problemas das cidades-sede iriam ser resolvidos e as soluções ficariam conosco como legado. Já demos um grande abatimento nessa esperança. Agora estamos concentrados em evitar o pior.

Alguns bancos montaram modelos com variáveis e antecedentes do futebol. Avaliaram a qualidade do time, a tradição do país e o fato de jogar em casa. Rodado o modelo, antes de a bola rolar no gramado, ficou constatado que a seleção com maiores chances é a do Brasil. Se os economistas e suas contas estiverem certos, restará essa chance de alegria..

Estagflação no radar - CELSO MING

O ESTADÃO - 08/06

Até há algumas semanas, o desalento de empresários e de boa parte da população era visto pelo governo como episódio inconsistente sem justificativa no comportamento real da economia. Tenderia a se dissipar à medida que os pessimistas também fossem desmentidos pelos fatos.

Agora, o governo já começa a tomá-lo como dado de natureza econômica e, por suposto, também política. Na última Ata do Copom, por exemplo, o Banco Central avisou que contava com o alastramento do pessimismo como fator de eficácia da política de combate à inflação. Está no final do parágrafo 26: "É plausível afirmar que, na presença de níveis de confiança relativamente modestos, os efeitos das ações de política monetária (política de juros) sobre a inflação tendem a ser potencializados". O presidente Lula, por sua vez, se mostrou visivelmente preocupado com o impacto da nova onda negativa. Lá do jeito dele, retomou os temas econômicos em suas manifestações públicas e sexta-feira, em Porto Alegre, sugeriu a aplicação de "um remédio já" para reverter a escalada de preços.

Nos próximos meses, deve espraiar-se a noção de que a economia está desarrumada. A inflação medida em 12 meses saltará para acima do teto da meta (6,5%), fator que, por si só, acirrará a percepção de que o trabalhador está perdendo poder aquisitivo. Os próximos indicadores da atividade produtiva também deverão apontar para um quadro de recessão que poderá ser comprovado estatisticamente no dia 29 de agosto, quando o IBGE divulgar mais um desempenho chinfrim do PIB, desta vez do segundo trimestre do ano.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já se queixou de que a inflação tem culpa na derrubada da produção e do consumo, como se o governo de que faz parte não tivesse nenhuma responsabilidade nisso.

Mais ainda, a percepção de que a economia está desandando deverá se acentuar algumas semanas antes das eleições. O quadro de desânimo vai sendo catapultado pelas greves e pelas manifestações que criam o caos nas grandes cidades. O governo sabe que isso não é bom para quem espera um resultado consagrador das urnas. Mas, afinal, de que maneira se pode esperar que a recomendação do presidente Lula venha a ser acatada e que a presidente Dilma se mostre disposta a fazer alguma coisa?

O problema é que agora sobra pouco tempo e pouco espaço para mudanças relevantes. Cortar despesas públicas ou aumentar a arrecadação com mais impostos não é o tipo de iniciativa que este governo queira colocar em marcha às vésperas das eleições. Proclamar que tudo mudará, "quando novembro vier", como já disse a presidente Dilma, graças à adoção de políticas redentoras, também cola pouco, até mesmo porque implica reconhecimento dos erros cometidos até agora.

O mais provável é que o governo tente seguir seu curso, empurrando as coisas do jeito que dá, contando mais com discursos e imagens de TV, do que com compromissos firmes de conserto.


O mau humor da inflação - HENRIQUE MEIRELLES

FOLHA DE SP - 08/06

O instituto de pesquisas Pew, com experiência consolidada na sondagem da opinião pública em mais de 80 países, divulgou dados sobre o nível de satisfação da população brasileira com duas revelações importantes:

1) A piora da avaliação da situação econômica aqui só se compara a ocorrida em países com guerra civil ou conflito agudo, como o Egito.

2) 85% da população considera a inflação um dos maiores problemas do Brasil.

A segunda constatação tem significado histórico. Por muito tempo, a maior dificuldade no trabalho de combate à inflação foi a postura de setores do pensamento econômico e da política de que um pouco de inflação é bom para o crescimento e que os custos de enfrentá-la com rigor para mantê-la na meta não compensam e são impopulares.

Dizíamos que, na medida em que a população sentisse os efeitos da manutenção do seu poder de compra com a inflação mais baixa, ela não aceitaria a volta de índices mais elevados. E que isso seria uma conquista institucional histórica, pois a experiência brasileira e de diversos países mostra que inflação baixa é fundamental não só para a manutenção do poder de compra das pessoas, mas também para maior crescimento econômico.

A inflação controlada dá mais previsibilidade e retorno ao investimento e, mais importante, eleva a confiança da população, pois sabe que no próximo mês o poder aquisitivo de seu salário será mantido.

Ponto fundamental e muitas vezes esquecido é que o maior prejudicado com a inflação um pouco mais alta são os assalariados. Eles têm aumento uma vez ao ano, enquanto os preços sobem a qualquer momento.

Importante notar também que é ilusão achar que o governo ganha com a inflação já que a arrecadação de impostos cresce com os preços e as despesas de governo só crescem mais tarde. A desorganização econômica e o baixo crescimento causados pela inflação acabam inexoravelmente prejudicando os que ganham com ela, inclusive o governo.

Portanto, devemos encarar a insatisfação popular com a inflação alta, apontada recorrentemente pelo Datafolha, como positiva. Ela consolida no Brasil o valor da inflação baixa e estável. E o pessimismo agudo revelado pelas pesquisas reflete a percepção de uma inflação maior do que a dos índices oficias, pois a população lida com preços livres não controlados pelo governo.

Com a inflação controlada e a expectativa para os anos seguintes na meta, os custos do controle da inflação serão muito baixos ou inexistentes.

Quanto maior a expectativa de inflação, maior é o custo de trazê-la para a meta e maior é o custo da desorganização inflacionária na economia como um todo.

E o pior aconteceu - JOÃO BOSCO RABELLO

O ESTADÃO - 08/06

Dois dados na pesquisa DataFolha a elegeram, entre os políticos, como a pior de todas para a presidente Dilma Rousseff: o crescimento do pessimismo com a economia e a redução para 8% da diferença entre ela e o senador Aécio Neves, do PSDB, num segundo turno - a essa altura dado como favas contadas.

O pessimismo com a economia, que cresceu oito pontos em relação à pesquisa anterior, de maio, se assenta na percepção da inflação, com a qual estabelece uma relação de causa e efeito. Como diagnosticou o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, "o longo prazo chegou".

A alta de preços, que afeta o cotidiano do cidadão, puxa o desencanto com o governo, cujo índice de aprovação caiu a 33% - tecnicamente o mesmo índice de intenção de votos na presidente (34%), três pontos a menos em comparação com a consulta anterior.

Uma subconta da pesquisa permite que a perspectiva negativa em relação à economia seja ainda agravada: aos 36% que estimam a piora nesse campo, é válido acrescentar outros 32% que acham que tudo vai ficar como está hoje. Ou seja, não piora o que já está ruim, o que não ajuda a vida da presidente.

Não por outra razão, o ex-presidente Lula reage a esse aspecto da pesquisa criticando as restrições impostas pela alta da inflação e pressionando por mais crédito para um contribuinte que vê o dinheiro acabar antes do mês e ainda paga as dívidas da farra consumista estimulada pelo governo.

A cobrança de Lula é pela renovação da anestesia e expõe a visão manipuladora do PT na economia. Para o ex-presidente, fiel ao método simplório de abordagem de temas complexos, tudo se prende à decisão de eliminar a "mentalidade de tesoureiro" do secretário do Tesouro Arno Augustin, "para gastar mais um pouco".

É a inflação como causa que retira da pesquisa de agora seu caráter de fotografia do momento para projetá-la como uma planilha de dados consistente, de difícil reversão em um ambiente já contaminado pela insatisfação geral com a precariedade dos serviços públicos. O que ainda não faltava, o dinheiro fácil do crédito farto, agora falta.

Nesse contexto, a angústia do PT aumenta com o crescimento de Aécio Neves entre os eleitores que consideram o governo Dilma ruim ou péssimo (de 27 para 31%), quesito em que Campos caiu de 15% para 10%, indicando a consolidação do tucano como o candidato da oposição.

O que põe em xeque a aposta de Campos na votação de Marina Silva em 2010, um ativo que parece intransferível e que começa a merecer a releitura de sua natureza, mais para voto de protesto do que de adesão a uma proposta reformista.

Triângulo das Bermudas - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 08/06

BRASÍLIA - Dilma cai nas pesquisas, Lula sobe nos palanques e o PT e a campanha quebram a cabeça -- ou batem cabeça?-- buscando caminhos para garantir a vitória.

Enquanto isso, Aécio Neves, apesar de ter oscilado de 20% para 19%, vai se afirmando como virtual adversário no segundo turno e avança pelos três maiores colégios eleitorais: Rio, São Paulo e Minas, que reúnem em torno de 40% dos votos.

Um dos principais fatos políticos da semana passada, além das greves paulistanas e do Datafolha, foi a demonstração de força de Aécio no Rio, onde a chapa "Aezão" (Aécio para presidente, e o pemedebista Pezão para o governo) pegou.

Ele estrelou um evento organizado pela cúpula do PMDB estadual, com 1.600 lideranças e gente de 17 partidos. Demonstra tanto o potencial da campanha tucana quanto as incertezas da candidatura petista.

Em São Paulo, surpreende a capacidade de resistência do governador Alckmin, que sobrevive a greves, manifestações, violência e até falta de água (?!), com 44 % das intenções de votos. Talvez por isso --e pela baixa aprovação do prefeito Fernando Haddad (PT)-- Aécio já esteja empatado com Dilma na capital. Os dois mineiros têm ali os mesmos 21%.

Os intrincados arranjos de Alckmin com o PSB de Campos e com o PSD de Kassab podem descolar Aécio de Dilma e levá-lo à liderança no Estado. Especialmente, claro, se uma chapa Alckmin-Kassab esgarçar o já frágil apoio do PSD a Dilma.

Em Minas? Aécio deixou o governo com alta aprovação e esta é a grande chance de um mineiro "de verdade" (Dilma é meio gaúcha) subir a rampa depois de Itamar, que chegou pela porta lateral e era baiano. Dificilmente Aécio perderá em Minas.

Um fator relevante é que todos esses arranjos ocorrem num momento em que Dilma não convence, Aécio precisa crescer e todos disputam um eleitor irascível e forte: o sr. Voto Nulo Branco Indeciso da Silva.

Ah! E o Pastor Everaldo vem aí.

Devagar e sempre - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 08/06

Para efeito externo o discurso ainda é o de que a queda da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas não assusta porque os adversários não cresceram. Internamente, os números divulgados pelo Instituto Datafolha na sexta-feira bateram no PT como um prenúncio quase certo de derrota se alguma providência não for tomada. E por “providência” entenda-se a troca da candidatura do partido. Aquele sentimento temporariamente arrefecido reacendeu e deve jogar o PT de novo na discussão do “volta, Lula” nessas duas semanas que faltam para a convenção marcada para o próximo dia 21.

A inquietação nos telefonemas trocados entre petistas na sexta-feira de manhã era com a possibilidade de “entregar (o governo) para o Aécio”. Hipótese, de acordo com essas avaliações, perigosamente desenhada em duas situações da pesquisa: na simulação de segundo turno e na indicação da pessoa com mais capacidade de promover as mudanças desejadas por 74% por consultados. Em fevereiro, Dilma tinha o dobro das intenções de voto do tucano Aécio Neves em disputa na fase final: 54% contra 27%. Agora ela caiu para 46% e ele subiu para 38%. No quesito capacitação para promover mudanças, o ex-presidente Lula aparece em primeiro lugar com 35%, Aécio em segundo com 21% e Dilma em terceiro com 16%.

Nas intenções de votos, a presidente ainda está em primeiro lugar com 34%, mas perdeu 10 pontos porcentuais de fevereiro para cá. Vem caindo devagar e constantemente. O mesmo movimento ocorre com seu índice de rejeição: era de 30% em fevereiro e agora é de 35%. São números que vão se consolidando, firmes e, portanto, aparentemente difíceis de tomarem o rumo inverso.

O mesmo acontece com a avaliação de governo, que já foi de 65% no quesito ótimo e bom há pouco mais de um ano, caiu para 25% em junho de 2013, deu uma boa recuperada em fevereiro (41%) e nos últimos meses voltou a cair gradativamente até atingir os atuais 33%. Dizem os estudiosos de estatísticas eleitorais que governantes com avaliações positivas abaixo de 35% não conseguem se reeleger.

Permitam-me, o senhor e a senhora, lembrar um detalhe: a análise aqui é basea­da na percepção recolhida entre petistas que sob a condição do anonimato puderam dar uma visão mais realista que a versão oficial. São eles os primeiros a apontar a irrelevância dos índices dos adversários neste momento, considerando mais importante o grau de conhecimento e de exposição de cada um. Muitos não duvidam de que Dilma estaria atrás do segundo colocado se ele fosse tão conhecido e tivesse tanto espaço nos meios de comunicação quanto ela.

Esses dados fazem baixar, não diria o pânico, mas o sentido de urgência nas hostes do PT. Note-se: não disse governistas, pois os demais partidos da “base” se arranjam em qualquer governo. O “Volta Lula”, por isso, é hoje uma preo­cupação exclusivamente petista. Na avaliação do partido, difícil de resolver. Porque, com todo poder de mando do ex-presidente sobre o partido e sua criatura, ele preservaria um sentido de delicadeza que o impediria de impor uma desistência a Dilma. Pela qual há uma evidente torcida.

Barco a vagar. Segundo o ex-presidente Lula, a culpa do ínfimo crescimento da economia é do pessimismo dos empresários. Mas, de acordo com o Banco Central, o pessimismo dos brasileiros em geral é muito bom porque vai ajudar a reduzir a inflação que, na avaliação do ministro da Fazenda, foi a responsável pelo mau desempenho da economia. Inflação esta que, até outro dia mesmo, era um problema existente só na cabeça dos pessimistas que, se agora são tidos pelo BC como aliados na luta contra a inflação, antes eram apontados como soldados da “guerra psicológica” contra o governo. Deve ser por essa confusão que a presidente Dilma, quando perguntada sobre o porquê de o Brasil crescer tão pouco, agora diz que não sabe a razão.


Desconstruindo a representação - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 08/06

1. Dilma cedeu aos radicais do PT para tentar animar os militantes do partido: aceitou discutir uma regulação econômica da atividade, uma das facetas do controle social da mídia, e assinou na surdina um decreto instituindo conselhos populares nos diversos níveis de atuação do governo.

2. Para o filósofo Roberto Romano, o aspecto institucional mais desastroso é justamente o predomínio do Executivo sobre os demais poderes.

3. Já o cientista político Bolívar Lamounier está convencido de que Dilma sabe, com certeza, que seus "conselhos populares" outra coisa não são que a velha mistificação corporativista, sindicalista e fascistoide.

Diante da realidade eleitoral que lhe é adversa neste momento, com uma tendência de queda detectada pelas pesquisas, a presidente Dilma cedeu aos radicais do PT para tentar animar os militantes do partido: aceitou discutir uma regulação econômica da atividade, uma das facetas do controle social da mídia, e assinou na surdina um decreto instituindo conselhos populares nos diversos níveis de atuação do governo, passando por cima do Congresso, sobretudo na representação da população nas decisões de governo.
Numa democracia representativa como a que (ainda) temos, esse papel caberia aos parlamentares eleitos pelo voto direto do cidadão, e não a movimentos "institucionais" e mesmo "não institucionalizados", como previsto no decreto presidencial que está sendo contestado no Congresso.

Em troca de não colocar em votação um decreto legislativo que anularia o decreto presidencial, o presidente da Câmara, Henrique Alves, está pedindo que o governo cancele o decreto e submeta a proposta ao Congresso através de um Projeto de Lei.

Esta parece ser a única maneira viável de aprovar a criação desses conselhos, que ficariam, porém, circunscritos a certas instâncias definidas pelo Congresso, o que retiraria de sua criação o aspecto de "democracia direta", que é o centro da proposta do governo.

Para o filósofo Roberto Romano, o aspecto institucional mais desastroso é justamente o predomínio do Executivo sobre os demais poderes. "Pela enésima vez a Presidência tenta legislar, atropelando o Congresso e as instâncias jurídicas apropriadas", ressalta Romano.

Diante da leniência do Congresso, que troca seu poder por favores pessoais aos congressistas, "já temos uma ditadura do Executivo, se bolivariana, o futuro próximo (muito ligado à eleição ou à reeleição do cargo presidencial) dirá".

Roberto Romano ressalta que "uma coisa é a participação popular, como audiências públicas obrigatórias e outros instrumentos; algo bem diferente é a tese, contida no decreto, segundo a qual mesmo movimentos "não institucionais" podem ter influência direta nas decisões de ordem pública.

"Com o decreto, o que se faz é gerar um Estado na periferia do Estado. Só que ninguém, naqueles movimentos, assumirá responsabilidade oficial pelos erros e possíveis acertos das decisões perante a população como um todo".

O cientista político Bolívar Lamounier chama também a atenção para a questão da responsabilização das decisões e da necessidade de dar explicações aos cidadãos, características da democracia representativa.

Parafraseando Sobral Pinto, ele diz que o decreto dos conselhos "tem catinga de fascismo" na sua "flagrante inconstitucionalidade", pela "indigência intelectual que exala" e por sua "mal disfarçada sonoridade ideológica populo-esquerdoide- fascistoide", calculada para agradar a um certo público interno do PT e a setores externos que não digerem a democracia "burguesa".

Ele ressalta que no regime democrático, "a participação não é induzida - não se confunde com a arregimentação promovida por regimes populistas, autoritários e totalitários -, mas é sempre bem-vinda".

O problema, diz Bolívar, é que os setores que demandam a inclusão raramente oferecem ideias úteis sobre como efetivá-la. "Martelam as teclas populo-esquerdoides da "sociedade civil", dos "movimentos sociais", dos "plebiscitos", do "aprofundamento da democracia" e etc, mas sempre ferindo acordes bem conhecidos".

Simplesmente porque considera que a presidente "não pode ser assim tão jejuna em História e teoria política", Bolívar está convencido de que Dilma "sabe, com certeza, que seus 'conselhos populares' outra coisa não são que a velha mistificação corporativista, sindicalista e fascistoide; a ideia de que a 'verdadeira' consciência cívica se plasma no convívio com a companheirada; o corolário é o de que o voto, essa 'velharia liberal', é individualista, fragmentador, atomístico etc".

Tudo faz crer, diz ele, que se trata de um pré-pagamento "que a doutora Dilma se dispôs a fazer aos setores mais arredios do PT para mantê-los dentro do barco eleitoral, ainda mais com o 'Volta Lula' ciscando por aí". 


Ser conservador não é “conservar” tudo como está - FLÁVIO MORGENSTERN

GAZETA DO POVO - PR - 08/06


Quando Ferdinand de Saussure criou a linguística, partiu de um pressuposto quase autoevidente: o signo é arbitrário, ou seja, a palavra “mesa” não tem nada a ver com o objeto “mesa”. Se é uma obviedade e poucos seriam capazes de confundir nomes com coisas concretas, no terreno das abstrações seu pensamento ainda precisa ser melhor compreendido. Defender que pobres tenham casas de concreto não é o mesmo que concretismo, sugerir que prédios tenham estrutura rígida não é estruturalismo.

No terreno político, com paixões e ideologias rivais terçando armas pelo espaço do outro, a confusão se torna perniciosa. Num país em que a esquerda hoje é praticamente hegemônica, alguns discutem o que querem os tais “conservadores”, mas não perguntando às suas obras: tentam extrair o sentido de sua filosofia do próprio nome que deram a ela.

Formulada modernamente por Edmund Burke, a política conservadora remonta a Montesquieu, Cícero e à Bíblia, passa por escritores como Coleridge, Maistre, Hawthorne e Conrad, é o cerne do cuidado econômico de Mises e Sowell, é advogada por historiadores como Guizot e Johnson, é a filosofia de Voegelin e Scruton, é a resistência antitotalitária de Soljenitsyn ou Leddihn, a verve da sátira de Mencken, Kraus e Muggeridge, é o norte de estadistas admiradíssimos como Lech Walesa, Václav Havel, George Washington, Lincoln, Roosevelt, Piñera ou Merkel.

Foi brilhantemente definida por Russell Kirk como a política da prudência, relembrando Aristóteles: o cuidado com a coisa pública, a aversão à centralização de poder em prol de “bens maiores”, a desconfiança de soluções fáceis e “reformas sociais” irreversíveis e de consequências imprevistas.

Essa filosofia política não tem um Das Kapital para chamar de seu, sendo quase um descrédito na política – e quem é menos confiável no mundo do que um político?

Historicamente, o termo escolhido no calor da Revolução Francesa (que matou 40 mil em um ano) foi “conservador”, atentando a uma de diversas características desse pensamento. Poderia ser “moralizantismo”, ou “ceticismo político”.

O problema não é nem desconhecer uma filosofia ainda alheia ao país – o nefasto é acreditar que se pode descobrir o que é o conservadorismo apenas pelo expediente pedestre de se afirmar “conservador é quem conserva”. O desconhecimento de uma filosofia política é tratado como prova de que ela não existe além de uma conclusão apressada – o famoso ad ignorantiam dos retóricos.

Essa visão de que existe uma filosofia de esquerda e todos os conservadores são apenas ignorantes que querem manter tudo como está geraria efeitos bizarros se fosse levada a sério: um conservador que subisse ao poder após um revolucionário deveria deixar tudo como está, querendo sempre manter o tempo presente intacto – qualquer presente.

Assim se supõe que o conservador é ruim por querer manter intactas todas as injustiças atuais – quando é preciso mudar muito mais a política sendo de direita do que mantendo o estatismo inchado, o coitadismo penal, o Estado assistencialista centralizador, intervencionista e gastador do Brasil.

É óbvio que ser conservador é algo incrivelmente mais complexo do que supõe a esquerda – e ainda mais óbvio que não é possível compreender tal filosofia apenas através do que seus inimigos afirmam que ela é.

Desejos letivos - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 08/06

Plano Nacional de Educação traz bem-vinda lista de metas a serem cumpridas até 2024, mas alguns obstáculos não são removidos


É difícil discordar das metas do Plano Nacional de Educação, o PNE, aprovado na semana passada pelo Congresso. Tão difícil quanto imaginar que essa longa carta de intenções possa ser implementada em todas as suas frentes.

Trata-se de uma lei de metas, para não dizer "Constituição dos desejos", que, infelizmente, não cuida de alguns dos principais empecilhos à melhoria da educação e aos próprios objetivos do PNE.

Primeiro obstáculo, o sistema de ensino no Brasil é notoriamente ineficiente, da escola pública à elite do ensino privado: reprova, exclui, atrasa os estudantes, sai-se mal nos exames comparativos.

Segundo, não há instituições capazes de melhorar o essencial --a qualidade das aulas e da formação-- nem regras e incentivos para o progresso e para o talento.

O PNE é um plano de expansão de tudo, em todos os níveis de ensino, em termos de matrículas, extensão do dia letivo, salários, qualificação de professores e financiamento. As metas estabelecidas devem ser cumpridas em prazos que expiram de 2016 a 2024.

Estipula-se, por exemplo, que a despesa pública nacional com educação passe dos atuais 6% do PIB para 7% em 2019 --um objetivo razoável-- e para 10% em 2024.

Não há, a rigor, exigência do cumprimento de metas, mas elas serão medidas pelo Ministério da Educação a cada biênio. Inexistem, no mais, definições de fontes de recursos ou divisão de responsabilidades financeiras entre União, Estados e municípios.

Dada a escassez de recursos financeiros, administrativos, técnicos e humanos, além de medidas de eficiência, são questionáveis a viabilidade, a racionalidade e o sentido social de tentar implementar as vastas ambições do PNE.

O sistema atual apresenta precariedades primordiais, como administração educacional nula ou politizada, de secretarias a diretorias de escola, em diversas cidades e Estados do país.

Tampouco há currículos e metas de aprendizado claramente definidos para todo o Brasil, sem o que mal se pode aferir a eficácia do ensino. As avaliações existentes têm poucas consequências; se por mais não fosse, porque não há uma carreira nacional de professores e gestores, que assim não podem ser promovidos por mérito.

Verdade que o documento trata da necessidade dessa carreira e, de modo vago, da melhora da administração do ensino. Mas essas reformas são uma prioridade, uma condição prévia de sucesso de qualquer plano de metas. O PNE, contudo, não escalona prioridades.

Sem dúvida é preciso avançar num piso de salários para professores de modo a atrair vocações mais qualificadas e, tão importante, promovê-las na carreira. Uma reforma (a salarial) não pode vir sem a outra (a da promoção por mérito, incluindo bônus variável por desempenho), ou as verbas adicionais serão um desperdício.

Elevar a remuneração de milhões de professores do ensino básico, atrair uma nova geração docente e engajar a antiga na reforma é tarefa árdua.

Criar condições para que as crianças mais pobres cheguem ao ensino fundamental em condições assemelhadas às das classes mais ricas é imperativo pedagógico e de equidade social.

Evitar que mais da metade das crianças do terceiro ano não saiba ler a contento, como se verifica hoje, é missão imediata.

Enfim, formar adequadamente no ensino fundamental é condição para levar metade dos jovens de 15 a 17 anos ao ensino médio, no qual hoje não estão.

O trabalho para reformar a base da educação, como se vê, é imenso. Não será surpresa se revelar-se contraproducente a tentativa de executá-lo ao mesmo tempo em que se procura pós-graduar metade dos professores do ensino básico (que, aliás, são poucos para tantas disciplinas e antes precisariam, em muitos casos, de requalificação) ou ampliar de modo ambicioso o ensino superior.

As inépcias visíveis --da simples incapacidade de organização de provas nacionais à desordem na gestão de universidades, da lenta melhora das notas em testes de desempenho ao absenteísmo-- levantam no mínimo a suspeita de que faltam meios para implementar os desejos do PNE. Falta uma reforma institucional.

De resto, no que diz respeito a recursos materiais, as metas finais do Plano Nacional de Educação se mostram descoladas da realidade.

Dadas as evidentes carências em outras áreas, a alta compulsória de gastos previdenciários e a penúria fiscal prevista para o próximo governo, um aumento das despesas em educação para além dos 7% do PIB vai se tornar um entrave ao próprio crescimento do país --e, sem isso, não serão criados recursos para nenhum programa social.

Treino é treino, jogo é jogo - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 08/06
Se havia dúvida quanto aos riscos de caos na Copa do Mundo, ela foi extinta na última sexta-feira, a seis dias da abertura do evento, justamente na cidade sede que abrigará a grande festa na próxima quinta-feira. Com metroviários em greve, rodízio de veículos suspenso e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MSTS) interrompendo o fluxo do trânsito em ruas e avenidas da zona sul, São Paulo parou. Antes mesmo que tivesse início o deslocamento dos torcedores para o Morumbi, onde, à tarde, a Seleção Brasileira faria seu último jogo treino, a manhã foi de congestionamento histórico, um recorde na megalópole cuja digital traz impressa a marca dos engarrafamentos.
Na quarta-feira, Belo Horizonte já havia sido isolada do Aeroporto de Confins, por onde desembarcarão, além de torcedores e autoridades, três seleções que vão ficar instaladas em Minas Gerais (Argentina, Chile e Uruguai). Isso, porque professores da rede estadual de ensino decidiram bloquear a rodovia de ligação com a cidade. E o bloqueio durou cerca de quatro horas. Quem ia, perdia voo; quem vinha, perdia compromissos. Nos dois sentidos, muitos se perguntavam: "E se fosse na Copa?". É o fantasma da tragédia anunciada materializando-se como funesto aviso aos governantes para que acertem o passo. Mas o alerta vem sendo dado há tempos, como na própria capital da República, uma semana antes, quando o acesso ao Estádio Mané Garrincha foi repentinamente cortado por um grupo de manifestantes.

Parece esquecida no tempo a lição de um dos maiores jogadores de todos os tempos: "Treino é treino, jogo é jogo". A pérola foi criada para o futebol, mas cabe como uma luva na situação atual dos preparativos para a Copa do Mundo no Brasil. O autor da frase é o bicampeão mundial (1958 e 1962) Didi, Bola de Ouro da Fifa, criador da "folha seca" - chute com efeito que muda a trajetória da bola - e cuja elegância em campo fez dele o Princípe Etíope, nas famosas crônicas esportivas do jornalista e escritor Nelson Rodrigues. A verdade dessa máxima do grande craque, tratado pela imprensa europeia por "Mr. Football", é que a hora do treino passou.

Delegações já chegam ao país e pelo menos 11 presidentes e primeiros-ministros têm presença confirmada na festa de abertura. Ou seja, o jogo começou. Mas se o Estado nem sequer consegue garantir o ir e vir das pessoas, o que esperar do resto? Vale lembrar outra frase de Didi, morto de câncer 13 anos atrás. Em 1958, quando a Suécia, então anfitriã, abriu o placar na final, ele decretou: "Vamos lá, acabou a moleza, vamos encher esses gringos de gols". Resultado: 5 x 2 e o primeiro título mundial para o Brasil.

Mas agora os anfitriões somos nós, o placar é mais desfavorável, bolas fora se acumulam com as obras inacabadas, cartões vermelhos se sucedem com chutes na canela do planejamento e estamos praticamente na prorrogação, a quatro dias do apito final. Em vez de se deixar dominar pelo desespero, a tática recomenda pôr em campo um mínimo de organização. Quem sabe ainda não seja possível, ao menos, salvar a pátria de chuteiras de passar por humilhação capaz de nos fazer esquecer, por vias transversas, o trágico maracanazo? Ali, em 1950, francos favoritos, deixamos o Uruguai levar a taça em pleno Maracanã, e de virada: 2 x 1.

O vergonhoso caso Molina - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 08/06

Somente a total falta de traquejo no trato dos negócios exteriores, revelada pela presidente Dilma Rousseff, além de sua submissão a compromissos ideológicos que nada têm a ver com os interesses nacionais, explica a notícia de que a diplomacia brasileira pressionou um perseguido político, o ex-senador boliviano Roger Pinto Molina, a abrir mão do asilo que a própria Dilma lhe concedeu.

O caso de Molina tem se revelado, desde o seu início, uma coleção de equívocos constrangedores e atitudes indignas por parte de um Itamaraty cada vez mais manietado pelo terceiro-mundismo bolivariano. A cada novo desdobramento, porém, parece que um novo limite é superado.

Molina pediu asilo ao Brasil em maio de 2012, alegando estar sendo perseguido pelo presidente Evo Morales. O então parlamentar havia acusado integrantes do governo boliviano de corrupção e participação no narcotráfico. Ato contínuo, tornou-se alvo de diversas ações na Justiça da Bolívia, entre as quais uma que o acusa de conspiração para derrubar Morales. Como se sabe, é comum nos países ditos bolivarianos que se forjem provas e processos para criminalizar os opositores, vinculando-os a planos golpistas. Sem nenhuma chance de se defender, já que a Justiça boliviana está submetida ao Executivo, Molina achou mais prudente pedir asilo na Embaixada do Brasil em La Paz.

Em poucos dias, Dilma concedeu o asilo - como não poderia deixar de fazer. No entanto, como era previsível, em se tratando de um presidente que já demonstrou ter pouco respeito pelo direito internacional e nenhum pelo Brasil, Morales negou-se a conceder o salvo-conduto necessário para que Molina pudesse deixar o prédio da embaixada e vir em segurança para o Brasil.

O senador ficou 454 dias confinado numa sala da embaixada, num espaço de apenas 4 metros quadrados, sem banheiro nem luz solar. Só pôde receber visitas de seu advogado ou de algum parente.

Tal situação desumana não encontra respaldo em nenhum manual de diplomacia, mas se deu com plena ciência do Itamaraty, pois o então encarregado de negócios da embaixada, Eduardo Saboia, cansou de denunciá-la a seus colegas em Brasília - ele advertiu que Molina sofria forte deterioração física e mental e que ameaçava se suicidar.

Nenhuma providência foi tomada para reduzir as agruras do parlamentar boliviano, enquanto diplomatas do Brasil e da Bolívia tentavam encontrar uma saída para o impasse - preferencialmente que fosse do agrado de Morales, a despeito do que prevê a Convenção de Caracas sobre Asilo Diplomático, de 1954, que determina que a concessão de salvo-conduto tem de ser imediata.

Uma das soluções aventadas, agora se sabe, incluía a necessidade de que Molina abrisse mão do asilo, para que então pudesse ser transferido para um terceiro país. Conforme documentos obtidos pelo jornal Folha de S.Paulo, a proposta - inédita na história do Itamaraty - foi feita ao parlamentar em maio de 2013, quando o impasse completou um ano. O plano era enviá-lo à Venezuela ou à Nicarágua. Molina rejeitou a ideia, dizendo que preferia "cortar os pulsos".

Três meses depois, diante das evidências de que as negociações diplomáticas sobre o destino de Molina não passavam de logro, Saboia, responsável pela embaixada em La Paz, decidiu fazer a coisa certa: em dois carros com placas diplomáticas e protegidos por dois fuzileiros navais, ele transportou o senador boliviano em segredo para o Brasil.

A ousadia de Saboia, que nada mais fez do que seguir a tradição humanitária da diplomacia brasileira, custou o emprego do chanceler Antonio Patriota. O Itamaraty abriu uma sindicância, que deveria ser concluída em 30 dias, para apurar a atuação de Saboia - e lá se vão nove meses sem que nada se conclua, como tem sido rotineiro nesse caso.

Sejam quais forem a punição a Saboia e o destino de Molina, o único a sair perdendo neste episódio será o governo brasileiro, estranhamente submisso aos caprichos de Morales.

Expansão do crime organizado pressiona o Estado - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 08/06

Quadrilha paulista estende seus tentáculos a grande parte do território e alia-se a grupos de outros países para ampliar o tráfico a níveis internacionais


Impressiona a radiografia da maior facção do crime organizado do país, exposta em recente série de reportagens do “Extra” sobre a rede, chamada pelo jornal de “Narcosul”, que grandes quadrilhas de Brasil, Bolívia, Peru e Paraguai montaram para explorar o tráfico de drogas em escala internacional a partir daquela região. A estrutura e as conexões desse condomínio, por si só, merecem a atenção das autoridades brasileiras, por suas óbvias implicações no comércio criminoso interno de entorpecentes. Mas, para além disso, fica evidente que o paulista Primeiro Comando da Capital, PCC, deixou de ser um bando regional para se transformar em organização com ramificações em praticamente todo o território nacional.

Esse novo e muito preocupante patamar do crime organizado remete a algo como a criação de uma máfia verde e amarelo. Seus números são superlativos, seu alcance, abrangente, e seus métodos, intimidadores. Na última década, o PCC deixou para trás os rivais cariocas — em especial o até então criminoso mais poderoso do país, Fernandinho Beira-Mar —, com uma estrutura tentacular que, segundo estimativas do MP de São Paulo, reúne quase 12 mil integrantes. Com procedimentos mafiosos, o grupo implantou regras como a cobrança de mensalidades e arregimenta presos em cadeias de diversos estados.

A relação do PCC com o sistema penitenciário, por sinal, vai muito além do mero recolhimento à prisão de bandidos ligados ao grupo. Ela se processa de uma forma que transgride a própria finalidade das cadeias — por definição, espaços de punição e, em tese, de correição de criminosos. Foi num presídio paulista, em Taubaté, que surgiu a primeira célula da organização e é de dentro de uma cela que seu chefão, o bandido Marcola, comanda as ações criminosas da quadrilha.

Essas duas características — a nacionalização das ações do PCC e a transformação de presídios em escritórios do crime organizado —, que dão a dimensão dos seus tentáculos, são o aspecto mais preocupante do crescimento do bando para fora das fronteiras de São Paulo (e agora também, sob a “bandeira” do “Narcosul”, do próprio país). A estrutura ramificada, a diversificação de atividades, a multiplicação de mercados (tanto para o abastecimento da quadrilha como para a venda de drogas) aumentam as já significativas dificuldades para combater a organização.

Se esses aspectos já são suficientemente preocupantes, renitentes demandas no âmbito da estrutura institucional de combate ao crime tornam ainda mais sombrio o problema da nacionalização do crime organizado. Caso, por exemplo, da falida política penitenciária do país (com déficit de vagas nas prisões), de falhas na execução penal (por exemplo, os altos índices de presos que cumprem pena sem terem sido formalmente condenados pela Justiça) etc. A questão é grave e precisa ser enfrentada com ações à altura do desafio e um envolvimento firme do Executivo federal.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

Não pretendemos que este tema se sobreponha aos demais”
Pré-candidato a presidente do Partido Verde, Eduardo Jorge, sobre a “natureza”


GOVERNO PAGOU (SEM SABER)PROTESTO DOS ÍNDIOS

A manifestação de um grupo de índios, em 27 de maio, que ficou conhecida pelas flechas atiradas contra policiais e motoristas, foi bancada com recursos federais. E sem que o governo soubesse. Acionada para investigar o caso, a Polícia Federal identificou servidores e antropólogos ligados ao governo federal ou financiados com recursos públicos, por trás do protesto.

COMO GADO

Recursos também foram usados pelos antropólogos ligados à Funai e Funasa, ilegalmente, para levar índios a Brasília como gado.

CAUSA PRÓPRIA

ONGs fizeram os índios protestar contra o projeto de transferir a demarcação de terras ao Congresso – retirando poder das ONGs.

BUCHA DE CANHÃO

Exibindo cocares que lembravam filmes de faroeste americano, índios foram conduzidos à passeata que acabou em pancadaria e flechadas.

HESITAÇÃO

O Planalto avalia a oportunidade de a PF indiciar e entregar à Justiça servidores e antropólogos que estavam por trás da baderna indígena.

MAUS-TRATOS DE DILMA NA TV

A oposição trabalha para levar à TV, na campanha, testemunhos de funcionários dos palácios do Planalto e da Alvorada supostamente ofendidos pela presidente Dilma. Como o caso da camareira que teria tomado uma bordoada, após pegar um colar diferente do solicitado pela patroa. Ou os médicos e militares, ajudantes de ordem, que, maltratados, passaram a enfrentar até problemas emocionais.

INSUPORTÁVEL

Entre as histórias marcantes de bullying de Dilma: levou uma oficial da Marinha, indignada, a abandonar sua ajudância de ordens.

EU AVISEI...

Ex-ministro muito ligado a Dilma, hoje em campanha no seu Estado, chegou a adverti-la para possível denúncia de serviçais maltratados.

EXCESSOS

Impaciente e intolerante a falhas, Dilma dá broncas consideradas desproporcionais sem olhar a quem, de ministros a camareiras.

BOCA MALDITA

Nelson Bocaranda, o blogueiro do jornal El Universal (Venezuela), que primeiro anunciou o câncer de Hugo Chávez, diz que a doença de Lula voltou, obrigando visitas de madrugada ao hospital Sírio Libanês.

TEMER FAZ OFENSIVA

Às vésperas da convenção do PMDB, nesta terça (10), o vice Michel Temer passa o fim de semana em Brasília ao telefone, em busca de votos favoráveis à reedição da aliança com Dilma.

VIÉS DE BAIXA

Eduardo Campos (PSB) perdeu 4 pontos percentuais e Dilma (PT) 3, na disputa presidencial, segundo o Datafolha. Ambos fora da margem de erro. Aécio Neves (PSDB), mais estável, oscilou apenas 1%.

NOVA SENSAÇÃO

O presidenciável Pastor Everaldo (PSC) caminha para se transformar na sensação da campanha. Sua ligação a Marcos Feliciano (PSC-RJ), terror do mundo gay, não parece atrapalhar seu desempenho.

PP DE VOLTA

Filho do senador Benedito de Lyra (PP-AL) e enrolado com o doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal, o deputado Arthur Lira apareceu na última reunião do blocão, que se rebelou contra o Dilma.

SANSÃO

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), neo-cabeludo após implante, tenta descobrir quem o apelidou de “Sansão”, após a valentia contra servidores. A brincadeira é dos amigos da “governança” do Senado.

AREIA MOVEDIÇA

O PT-SC, que lançou Cláudio Vignatti ao governo, está uma arara com a presidente Dilma, que rasgou seda na última sexta ao governador Raimundo Colombo, do PSD, que está longe de apoiá-la no Estado.

CIRCULANDO

De nada resolveu a carteirada de Marcio Lacerda (PSB), prefeito de Belo Horizonte, na tentativa de receber a seleção chilena no aeroporto. Foi barrado por militares da Aeronáutica para não “atrasar o desembarque”.

PENSANDO BEM...

...teremos Copa com faturamento Fifa, estádios padrão Lula, transportes estilo Cuba e preços nível Noruega.



PODER SEM PUDOR

BISTURI RÁPIDO

Após uma homenagem ao Dia da Mulher, na Assembleia Legislativa da Paraíba, uma loura estonteante de "magníficos e exuberantes seios", como relatou Hélder Moura no Correio da Paraíba, passou pelo médico e deputado Antônio Ivo. Boquiaberto, cutucou o deputado Inaldo Leitão:

- Eu em cima de uns peitos desses...

Só então Ivo notou que sua própria mulher ouvira o gracejo. E o desafiou:

- O que é que você fazia, Antônio Ivo?!...

Ele, em cima da bucha:

- ...eu pegava o meu bisturi e fazia uma plástica de torar!