O GLOBO - 08/06
A copa econômica se ganha em vários campos, e estamos perdendo. Ela deveria aumentar o ritmo de crescimento e elevar o ânimo. Ocorre o oposto. Não estamos eliminados ainda, mas há pouca chance de se aproveitar o momento para retocar a imagem de país do improviso. A bola começará a rolar esta semana e estaremos diante dos olhos do mundo. Ainda há esperança.
Ficar no foco do planeta não serve apenas para aparecer bonito na foto. A hora é de atrair capitais e turistas para além do tempo dos jogos. Os aeroportos não estão terminados, ainda batem o martelo no estádio da estreia, a rede de comunicação celular no país parece perto do colapso, os provedores de wi-fi não entregam o que prometem e a mobilidade urbana travou. Imagina a amplificação da mensagem adversa sobre o país que pode ser enviada pelos formadores de opinião?
O desconforto nos aeroportos pode ser reduzido com boa informação aos visitantes, a mobilidade urbana tem chance de melhorar com os feriados, a última martelada pode ser dada no Itaquerão minutos antes da cerimônia de abertura. Mas se os visitantes não conseguirem se comunicar por falhas na tecnologia de informação será um desastre. Não há hoje em dia um atestado de subdesenvolvimento maior do que não ter uma boa estrutura de comunicação.
Na economia interna, os tempos de Copa não garantiram o aumento do ritmo de atividade econômica que sempre houve. Pelo contrário, o risco maior é de ter um segundo trimestre de encolhimento do Produto Interno Bruto. A confiança do empresário e do consumidor caiu nos últimos meses. O consumidor restringiu suas compras ao essencial e só a produção de televisores aumentou. O empresário engavetou os planos de investimento. O que neutralizou o efeito copa foi a crise avassaladora na área energética. Ninguém investe se não souber responder à pergunta: quanto vai
custar a energia? Essa falta de resposta azedou o clima nas empresas, mais do que qualquer outro problema.
Consultadas pela Fundação Getúlio Vargas, apenas 1,9% das empresas de serviços e 3%, da área do comércio, disseram que vão aumentar as contratações para a Copa. E 10,6% e 7,8%, nos dois setores, falaram em contratar trabalhadores temporários. Emprego não é nosso maior problema, mas se esperava maior dinamismo.
Em qualquer democracia há manifestações e greves. Isso costuma demonstrar a solidez das instituições democráticas. Melhor do que trancafiar os dissidentes como fazem os governos totalitários nas vésperas de eventos internacionais. A China fez isso, mas não conseguiu afastar o fantasma da poluição do ar que apagou o céu e sufocou os visitantes das Olimpíadas de Pequim. O problema dos protestos no Brasil é que eles estão tumultuando a vida de milhões de brasileiros. Esqueça-se a Copa, o Brasil tem que usar os metrôs, ônibus e trens para exercer o direito de ir e vir. É esse direito fundamental dos brasileiros que está sendo atingido nas greves seriais que paralisam as maiores cidades.
O grande legado de qualquer evento internacional é a mudança permanente que fica para a sua população. Exemplo disso foi a esperança de que as Olimpíadas de 2016 ajudassem no caminho do sonho de ser feita uma limpeza na Baía de Guanabara. Chegamos a pensar que ocorreria aqui o que houve em Sidney. Dois anos antes, os cariocas, em particular, e os brasileiros, em geral, já arquivaram esse sonho dourado que existia antes de o país ser escolhido e continuará conosco após 2016. Nas visitas precursoras, estamos passando vergonha diante dos velejadores. Mas eles depois irão para outras águas. Nós ficaremos aqui, e a limpeza era principalmente para os brasileiros. As Olimpíadas eram o pretexto para fazer a coisa certa.
Na Copa, havia também o sonho de que pelo menos alguns dos problemas das cidades-sede iriam ser resolvidos e as soluções ficariam conosco como legado. Já demos um grande abatimento nessa esperança. Agora estamos concentrados em evitar o pior.
Alguns bancos montaram modelos com variáveis e antecedentes do futebol. Avaliaram a qualidade do time, a tradição do país e o fato de jogar em casa. Rodado o modelo, antes de a bola rolar no gramado, ficou constatado que a seleção com maiores chances é a do Brasil. Se os economistas e suas contas estiverem certos, restará essa chance de alegria..
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