terça-feira, agosto 12, 2014

Saindo do Armário - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA


Nada mais cômodo para o racista politicamente correto, que quer praticar seu racismo na frente de todo mundo, mas não quer correr nenhum risco legal ou social com isso, do que uma tragédia como a que aconteceu durante o último mês nessa infeliz Faixa de Gaza. Foi uma grande oportunidade para o crime perfeito. Como o Exército de Israel despejou sobre Gaza foguetes que destroem tudo o que encontram pela frente, incluindo gente de carne e osso, contra um restinho de terra onde 1,7 milhão de pessoas se apertam num miserável espaço de 360 quilômetros quadrados, só poderia haver um resultado: sangue, lágrimas, crianças mortas e feridas, hospitais e escolas que viram entulho, ruínas e todas as desgraças da guerra. As cenas desse horror aparecem todos os dias. Quem pode aprovar as imagens de pais e mães em desespero, carregando nos braços seus filhos ensanguentados? Ninguém que tenha um grama de compaixão dentro da alma. Entra rapidamente em cena, a essa altura, o praticante do racismo seguro: enfia-se na armadura moral fornecida pelo sofrimento dos inocentes, e dentro dela, com toda a segurança e conforto, põe para fora suas secretas convicções raciais contra os judeus.

É claro que muitas pessoas bem-intencionadas podem manifestar sua indignação ética e política contra o bombardeio de Gaza e, ao mesmo tempo, não carregar dentro de si nenhum traço de antissemitismo; espera-se, até, que sejam a maioria dos que criticam Israel no momento. Mas também é 100% certo que o ódio contra os judeus, seja de altos teores, seja nas modalidades light, aproveitou o escudo oferecido pelos foguetes israelenses para mostrar a sua cara no Brasil e no mundo. Trata-se de sentimentos que estão aí há 2000 anos; podem estar anestesiados, mesmo porque não são aceitos nas sociedades democráticas, mas não vão embora. No caso, sua existência fica comprovada pela prática aberta do preconceito — antes de examinarem qualquer fato, ou admitirem que a tragédia de Gaza tem mais de um lado, os antissemitas escondidos no armário vêm para fora afirmando que Israel está empenhado em exterminar fisicamente a população palestina cm sua fronteira. Atribuem aos judeus, historicamente perseguidos, a conveniente posição de agressores cujo objetivo estratégico seria sobreviver à custa de um "genocídio".

Isso é simplesmente falso, a começar pelo fato de que genocídio é outra coisa. É possível, sem dúvida, ter simpatia pela gente eternamente sofrida da paupérrima Faixa de Gaza — mas quem se sente assim não tem o direito de ignorar a verdade dos fatos e das realidades. O problema começa com a recusa de pensar por cinco minutos numa evidência pouco mencionada, mas indiscutível: a tragédia de Gaza só existe porque se disputa ali uma guerra, atividade que exige no mínimo duas partes. Como se sabe perfeitamente, não há guerras boas, ou justas, ou éticas, ou criteriosas, ou "proporcionais", como gostaria a presidente Dilma Rousseff. De que jeito pensar em bons modos numa guerra, quando a sua meta principal é a prática do homicídio? Guerras exigem que os combatentes cometam assassinatos, por mais legais que sejam considerados; eles recebem ordens superiores para matar, e são obrigados a obedecê-las, sob pena de acabarem numa corte marcial. Aliás, quanto mais seres humanos matarem, melhor — vão receber medalhas, promoções e diploma de heróis da pátria. Que moralidade pode haver diante dessa insânia?

É excluído da discussão, também, o fato de que Israel está em guerra com os palestinos de Gaza porque responde aos ataques sistemáticos de foguetes lançados a esmo contra seu território. Não é sua culpa se, por defender-se com mais competência, mata 2 000 inimigos e suas baixas ficam limitadas a cinquenta ou sessenta pessoas. Qual a alternativa? Matar seus próprios cidadãos para equilibrar a conta, já que o comando palestino não consegue fazer isso? Recusar-se a responder à agressão também não é uma alternativa — nem evitar a morte de civis do outro lado, num território sessenta vezes menor que o de Sergipe e onde os chefes usam hospitais e escolas como arsenais, com o único propósito de transformá-los em alvos militares e gerar as imagens que chocam todo o mundo. Não se sabe, enfim, como os judeus poderiam esperar uma negociação, quando o outro lado exige a extinção do Estado de Israel para baixar as armas — aberração que muitos dos indignados com o desastre de Gaza insistem que os judeus deveriam aceitar para que se obtenha a paz.

Sabem que não pode dar certo nunca. É isso mesmo que esperam.

GOSTOSA


A lição da história - RODRIGO CONSTANTINO

REVISTA VEJA


Inflação não é algo novo. Existe desde que foram criadas as moedas. O estudo histórico mais completo que conheço sobre o assunto é Quarenta Séculos de Controles de Preços e Salários, livro de Robert Schuettinger e Eamonn Butler. Quarenta séculos! Os autores foram buscar no Código de Hamurabi, na Babilônia, os primeiros casos de controle de preços, que fracassaram. Inúmeros outros casos são analisados em seguida, como o edito de Diocleciano, que chegou a punir com a morte quem vendesse suas mercadorias por um preço acima do estabelecido. A medida desesperada era para conter a alta inflação proveniente da expansão descontrolada dos gastos públicos. Para financiá-los, o imperador foi gradativamente desvalorizando o denário de prata, a moeda romana. Foi um caos.

Não creio que a presidente Dilma chegue a condenar à morte alguém por subir preços. Mas bem que ela poderia extrair algumas lições de séculos de experiência e, assim, evitar repetir equívocos do passado, com forte expansão de gastos públicos financiados pela emissão de moeda ou crédito bancário.

Um estudo divulgado na semana passada mostra que os gastos do governo federal subiram de 14% do PIB em 1997 para 18,8% no ano passado. Segundo o especialista em contas públicas Raul Velloso, a chamada grande folha de pagamento cresce com os reajustes do mínimo e com o envelhecimento da população. O governo não controla o segundo, mas o primeiro, sim. O aumento de salários decretado por governos sem elo com as leis de mercado esteve entre as principais causas históricas da inflação. Os autores do livro afirmam: "As leis do salário mínimo também se destinam a "proteger" os trabalhadores, mas na realidade essas leis inflacionárias elevam os preços e reduzem o emprego". A presidente acusa a oposição de desejar um arrocho salarial, mas para os mais pobres não há arrocho pior do que a inflação.

O ministro Guido Mantega chegou a afirmar que a melhor correção para a política fiscal é o crescimento da economia. Só esqueceu de explicar de onde ele virá. Deu a entender que será da reversão das políticas monetárias mais restritivas, ou seja, por meio da queda da taxa de juros. Só ignorou o fato de que a inflação acumulada em doze meses está acima do teto da meta. Para Mantega, a inflação estará mais controlada em 2015. Por quê? Não se sabe. A equipe econômica parece crer no poder do pensamento, na magia dos desejos. Continua expandindo gastos e crédito públicos, "esterilizados" por um Banco Central politizado. Acha que a ajuda virá dos céus. Economia não funciona na base das esperanças.

Os autores concluem que, embora tenha havido alguns casos em que ao menos aparentemente os controles de preços abrandaram os efeitos da inflação por um breve período de tempo, eles sempre fracassaram a longo prazo. "A razão básica disso é que os controles de preços não atacaram a verdadeira causa da inflação, que é um aumento dos meios de pagamento superior ao aumento da produtividade", dizem. Em vez de conterem a inflação, eles acrescentam outras complicações, como o mercado negro, a escassez e a má alocação de recursos. O caos no setor elétrico é evidência disso. O país corre sério risco de apagão, mesmo sem crescer, e o rombo já passa de 50 bilhões de reais, a ser pago por todos nós. Responsabilidade do governo, que achou ser possível decretar redução de tarifas impunemente.

O Brasil caminha na mesma direção dos camaradas bolivarianos, e basta ver a tragédia dos casos venezuelano e argentino para perder o sono. São exemplos claros da máxima de que a única coisa que aprendemos com a história é que não aprendemos com a história. Erros antigos estão sendo repetidos por aqueles governos, sob os aplausos de boa parte da esquerda nacional. Não se regula a produtividade, a única variável que permite o aumento sustentável dos salários. O economista americano Pelatiah Webster foi preciso quando disse: "Tentar infundir a fé no coração de um incrédulo a ferro e fogo ou castigar sua amante com um chicote de couro para obrigá-la a gostar de você não é mais absurdo do que tentar atribuir valor ou confiabilidade à moeda por decreto". Até quando vão tentar tornar o Brasil um país desenvolvido por decreto?

"Nunca tinha visto tanto dinheiro" - REVISTA VEJA

REVISTA VEJA

Robson Bonin, de CuritibaCom reportagem de Adriano Ceoun e Hugo Marques


A contadora do doleiro Alberto Youssef revela como funcionava o esquema de pagamento de propina a políticos do Congresso — e dá o nome de parlamentares, de empreiteiras e dos partidos envolvidos


É um clássico. As organizações mafiosas caem com maior rapidez quando alguém de dentro decide contar tudo. O que se vai ler nesta reportagem é justamente a história de alguém que, tendo participado do núcleo duro da quadrilha que girava em torno do doleiro Alberto Youssef, pego na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, resolve contar tudo o que fez, viu e ouviu. Meire Bonfim Poza participou de algumas das maiores operações do grupo acusado de lavar 10 bilhões de reais de dinheiro sujo, parte desviada de obras públicas e destinada a enriquecer políticos corruptos e corromper outros com o pagamento de suborno. Meire Poza viu malas de dinheiro saindo da sede de grandes empreiteiras, sendo embarcadas em aviões e entregues às mãos de políticos. Durante três anos, Meire manuseou notas frias, assinou contratos de serviços inexistentes, montou empresas de fachada, organizou planilhas de pagamento. Ela deu ares de legalidade a um dos esquemas de corrupção mais grandiosos desde o mensalão. Meire sabe quem pagou, quem recebeu, quem é corrupto, quem é corruptor. Conheceu de perto as engrenagens que faziam girar a máquina que eterniza a mais perversa das más práticas da política brasileira. Meire Poza era a contadora do doleiro Alberto Youssef — e ela decidiu revelar tudo o que viu, ouviu e fez nos três anos em que trabalhou para o doleiro.

Nas últimas três semanas, a contadora prestou depoimentos à Polícia Federal. Ela está ajudando os agentes a entender o significado e a finalidade de documentos apreendidos com o doleiro e seus comparsas. Suas informações são consideradas importantíssimas para comprovar aquilo de que já se desconfiava: Youssef era um financista clandestino. Ele prospectava investimentos, emprestava dinheiro, cobrava taxas e promovia o encontro de interesses entre corruptos e corruptores. Em outras palavras, usava sua estrutura para recolher e distribuir dinheiro e apagar os rastros. Entre seus clientes, estão as maiores empreiteiras do país, parlamentares notórios e três dos principais partidos políticos. Os depoimentos da contadora foram decisivos para estabelecer o elo entre os dois lados do crime — principalmente no setor tido como o grande filão do grupo: a Petrobras. As empreiteiras que tinham negócios com a estatal forjavam a contratação de serviços para passar dinheiro ao doleiro. Nas últimas semanas, Meire Poza forneceu à polícia cópias de documentos e identificou um a um os contratos simulados e as notas frias, como no caso da empreiteira Mendes Júnior (veja o documento na página 54), que nega ter relacionamento com o doleiro. Os corruptores estão identificados. A identificação dos corruptos está apenas no início.

A polícia já sabe que, para garantirem contratos na Petrobras, as empresas contribuíam para o caixa eleitoral de partidos ou pagavam propina diretamente a políticos — os mesmos que controlam cargos na administração pública e indicam diretores de empresas estatais. Quem são eles? VEJA localizou a contadora Meire Poza. Em uma entrevista exclusiva, ela revela que tem gente do "PT, do PMDB e do PP" envolvida com os negócios clandestinos de Youssef. "Havia um fluxo constante de entrada e retirada de malas de dinheiro em pelo menos três grandes empreiteiras", disse a contadora. Segundo ela, além de buscar e entregar o dinheiro pessoalmente, Youssef se ocupava de fortunas vindas de paraísos fiscais e da sua distribuição aos integrantes da lista de "beneficiários". Meire relata que encabeçavam a lista cinco parlamentares. Eles recebiam pagamentos em dinheiro vivo, diretamente das mãos do doleiro ou por meio de depósitos bancários que a própria contadora fazia. "Fiz muitos pagamentos, não diretamente na conta dos políticos, mas para os familiares deles".

Dois dos integrantes da lista de Youssef respondem a processo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados — o ex-petista André Vargas e Luiz Argôlo (ex-PP, hoje no Solidariedade). Ambos já tinham aparecido nas investigações como usuários dos serviços clandestinos do doleiro. A parceria, porém, é muito mais profunda. Em abril passado, VEJA revelou que Vargas havia formado uma sociedade com o doleiro para fraudar contratos no Ministério da Saúde. Um negócio que, segundo o próprio Youssef, representaria a "independência financeira" do deputado. O envolvimento de Vargas com Youssef ficou conhecido quando se soube que ele usou um jatinho pago pelo doleiro para fazer uma viagem de férias com a família — um inocente presente de amigo. O presente, descobre-se agora, não tinha nada de inocente. Meire conta que, em dezembro passado, André Vargas ajudou Youssef a lavar 2,4 milhões de reais por meio de uma empresa do Paraná. Como retribuição pelo serviço, o doleiro usou parte desse dinheiro, 115 000 reais, para fretar o jato que levou Vargas para as férias na Paraíba, em janeiro deste ano. O deputado destacou o irmão, Leon Vargas, para cuidar da operação. Lembra Meire: "Tenho várias mensagens trocadas com ele combinando o contrato. Depois que o dinheiro caiu na conta, o Beto (Youssef) mandou pagar o aluguel do jato e outras despesas do deputado".

Uma das figuras mais assíduas do escritório de Youssef era o deputado Argolo, que, segundo Meire, também era sócio do doleiro em negócios na área de construção. Antigo colega de partido de Argôlo, o ex-ministro Mário Negromonte era cliente do esquema: "O irmão dele, o Adarico, trabalhava com a gente transportando as malas, levando e buscando dinheiro nas construtoras". Meire confirma que Alberto Youssef depositou 50 000 reais na conta do senador Fernando Collor a pedido de Pedro Paulo Leoni Ramos, um ex-assessor do ex-presidente também envolvido com a quadrilha. "O Beto guardava esses recibos como troféu." Segundo ela, outro conviva era o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), que contou com a ajuda de Youssef para quitar dívidas de campanha: "Um assessor do Vaccarezza me procurou em 2011 para apresentar um negócio com fundos de pensão no Tocantins". Meire guarda uma relação de números de contas bancárias de parentes e assessores de políticos que receberam dinheiro do doleiro.

"O Beto era um banco de dinheiro ruim. As empreiteiras acertavam com os políticos e ele entrava para fazer o trabalho sujo, levando e trazendo dinheiro, sacando e depositando. Tinha a rede de empresas de fachada para conseguir notas e contratos forjados", diz. Um dos botes mais ousados de Youssef, segundo ela, tinha como alvo prefeituras comandadas pelo PT. O doleiro pagava propina de 10% a cada prefeito que topasse investir em um fundo de investimento criado por ele. "E era sempre nas prefeituras do PT. Ele falava que, onde tivesse PT, a gente conseguia colocar o fundo." André Vargas era considerado um parceiro fiel. O deputado estava empenhado em fazer com que dois fundos de pensão de estatais, o Postalis (dos Correios) e a Funcef (da Caixa Econômica Federal), injetassem 50 milhões de reais em um dos projetos do doleiro. Meire conta que Youssef chegou a viajar para Brasília para acertar o aval do PMDB ao negócio. Segundo ela, o doleiro teria tratado do assunto até com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Era do PP, porém, que Alberto Youssef tirava a maior parte de seus lucros, principalmente os oriundos das transações que envolviam a Petrobras. Velho conhecido dos parlamentares do PP, Youssef comandou no início deste ano uma operação milionária de interesse do partido. A contadora narra que, numa tarde de sexta-feira, foi chamada à sala do doleiro. " "Meire, entraram 5 milhões no partido. A gente precisa tirar 4,5 milhões lá de dentro. Eu preciso que você emita três notas de 1 milhão e meio". Eu falei: "Logo em ano de eleição você vem me pedir um troço desses?"" As empreiteiras prestadoras de serviço à Petrobras eram, segundo Meire, protagonistas dos negócios. "Uma parte dos recursos que chegavam da OAS era para caixa dois político. O dinheiro era todo entregue ao Beto, e só ele separava o que saía para os políticos e o que era negócio da empreiteira", diz Meire. A contadora lembra que, em janeiro deste ano, foi convidada pelo doleiro a fazer uma visita à sede da companhia. "Quando entrei no carro, ele me disse: "Vou ali na OAS para entregar isso aqui" — e apontou para o banco de trás do carro. Quando eu olhei para trás, tinha uma mala no banco. Eu tomei um susto, nunca tinha visto tanto dinheiro junto", relata Meire. Outra construtora que recorria aos serviços do doleiro era a Camargo Corrêa. A parceria tinha relação direta com a atividade do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. "A Camargo era um esquema exclusivo de dinheiro das comissões do Paulo Roberto Costa. O dinheiro que entrava nesse esquema de pedágio era uma coisa que não dava para controlar. Eram malas e malas de dinheiro", afirmou. Todos os envolvidos negaram a VEJA manter qualquer relação com o doleiro.

Por que razão Meire Poza decidiu contar tudo e se autoincriminar? Ela explica que demorou algum tempo para entender a natureza clandestina das operações de Youssef. A ficha só teria caído para ela quando recebeu ordens de Youssef para fazer um contrato pelo qual a empreiteira Mendes Júnior pagaria 2,6 milhões de reais à GFD Investimentos, de propriedade do doleiro, a título de consultoria sobre a viabilidade de plataformas de petróleo. "A GFD só tinha que fornecer os contratos." A contadora relata que tem sido procurada por pessoas que se dizem representantes das empreiteiras. Essas pessoas invariavelmente prometem ajuda financeira em troca de seu silêncio. De outros integrantes do esquema menos sutis ela recebeu o conselho de "sumir do mapa". Diz Meire: "Depois da operação, me ligou um advogado dizendo que iria cuidar de tudo. As empreiteiras queriam saber o que eu sei para ver até onde a água ia chegar nelas". Falharam todas as tentativas: "Tentei sair do esquema três vezes, e a reação deles não foi nada boa. Essa decisão foi muito pensada. Estou colaborando com a polícia para esclarecer tudo o que eu puder. Se tiver que responder pelo que fiz, eu vou responder". Com uma testemunha-chave tão vital e disposta a ajudar, será um mistério se a Operação Lava Jato não ajudar a limpar parte da corrupção no Brasil.


A farsa do media training - CARTA AO LEITOR

REVISTA VEJA


Os políticos envolvidos na fraude da CPI da Petrobras revelada por VEJA na última semana só conseguiram articular uma linha de defesa dias depois de a revista começar a circular.

Não puderam alegar, como é hábito, que VEJA publicou apenas transcrições. VEJA On-line colocou no ar na tarde de sábado passado, dia 2, um vídeo editado com imagens e sons de qualidade suficiente para que se entenda o teor da conversa e se identifiquem os participantes da reunião em que foram tramados detalhes da operação para enganar o Congresso e, por extensão, a opinião pública. A única saída encontrada pelos autores da fraude foi tentar vender a tese de que VEJA não revelou uma fraude, mas um trabalho "normal" de treinamento que as empresas dão a diretores a ser inquiridos em CPIs — o media training. O que se passou naquela sala da sede da Petrobras em Brasília não foi media training. Foi uma armação.

Uma reportagem desta edição demonstra isso com a análise minuto a minuto do vídeo feito por um dos participantes por meio de uma caneta dotada de microcâmera. Os investigados selecionaram as perguntas a que queriam responder na CPI e vetaram as mais incômodas. Ouvido por VEJA, o deputado e advogado Osmar Serraglio, relator da CPI dos Correios, que desvendou o mensalão, mostrou-se indignado com a tentativa dos envolvidos de dar ares de normalidade ao crime em cujo planejamento foram flagrados: "Uma investigação de verdade pressupõe pegar o investigado de surpresa".

O escândalo pode ser entendido por uma metáfora futebolística ao estilo do ex-presidente Lula — que, aliás, havia determinado aos parlamentares do PT que "tratorassem" a CPI da Petrobras, por temor de que ela fosse tão bem-sucedida quanto a dos Correios. Imagine um treinador que prepara o goleiro do time para uma eventual decisão por pênaltis e reúne vídeos com cobranças dos adversários. O goleiro terá, assim, informações sobre as características e peculiaridades de cada cobrador. Isso é normal. O que ocorreu na reunião revelada por VEJA, porém, equivale a combinar antes as cobranças com os batedores de pênalti adversários e, desse modo, desmoralizar o esporte, ludibriar o juiz, fazer de palhaços a plateia presente ao estádio e os telespectadores. Isso não é normal. É crime.


O PT E O POVO



Gente do mal - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 12/08


SÃO PAULO - Eles mandaram arrancar os clitóris das mulheres e agora enterram vivos membros de minorias religiosas. Estou falando do ISIS, a organização radical que quer implantar um califado no Iraque e na Síria. Não há dúvida de que o grupo pode ser descrito como "do mal".

Os milicianos do ISIS, porém, não acham que estejam barbarizando. Eles até apresentam "justificativas" para suas ações. No caso da mutilação, ela teria como objetivo evitar "a expansão da libertinagem e da imoralidade". Já as operações de limpeza étnica contra yazidis estariam amparadas no fato de os membros dessa etnia serem "adoradores do diabo" e se recusarem a converter-se ao islã.

Poucas pessoas dotadas de vestígios de bom senso e empatia corroboram essas "justificativas". Como, então, elas não só convenceram os integrantes do ISIS como ainda os levaram às vias de fato? Em suma, como ideias malucas geram violência?

Um corpo crescente de literatura, que inclui autores como Steven Pinker, Roy Baumeister e Jonathan Haidt, mostra que violência e crueldade têm poucas causas principais. Pinker identifica cinco, que respondem pela maior parte das agressões: predação (violência com vistas a atingir um fim), dominância (desejo de obter prestígio), vingança (propensão a reparar injustiças), sadismo (o mal pelo mal, mas este é um fenômeno bem raro) e a ideologia (criar a sociedade perfeita ou concretizar os desejos de Deus). Enquanto as quatro primeiras costumam definir casos de violência interpessoal, é a última que aparece nas grandes tragédias históricas, como nazismo, stalinismo e outros hemoclismos.

Mesmo não acreditando muito em bem e mal em estado puro, não resisto em lembrar uma provocação do físico Steven Weinberg. Para ele, "pessoas boas fazem coisas boas, e pessoas más fazem coisas más. Mas para pessoas boas fazerem coisas más é preciso a religião". Ou o fanatismo político, poderíamos acrescentar.

A boca que mudou o mundo - ARNALDO JABOR

O GLOBO - 12/08


Na minha opinião, quem deflagrou este tempo de tráfi Bush, nossa besta do apocalipse



Estamos vivendo um suspense histórico, numa situação de trágicos conflitos descentralizados no mundo todo, principalmente no Oriente Médio. Como isso começou? Alguma coisa ou alguém deflagrou este tempo. Na minha opinião foi o George W. Bush, nossa besta do apocalipse.

É impressionante como ninguém fala mais do Bush. Ele é culpado por tudo que acontece no mundo atual e ninguém fala nele. Devia estar preso, como o Mubarak. Bush está pintando quadros em sua fazenda do Texas enquanto o mundo que ele armou se destroça. Bush iniciou uma linha de erros em linha reta para um futuro apavorante.

Tudo começou com a derrota de Al Gore, seu adversário em 2000. Bill Clinton tinha sido humilhado como poucos em 1997, quando teve um caso com Monica Lewinsky, aquela estagiária gorda que morava no edifício Watergate em Washington (agourento lugar, ainda com cheiro de Nixon). Monica fez-lhe um “blow job” na cozinha da Casa Branca, entre pizzas, enquanto a Hillary dormia. O procurador da república Ken Starr quase levou o Clinton as galés, obrigando-o a mentir na TV, declarando que nunca tinha tido relações sexuais com Monica, pois não considerava aquilo ato sexual. Mas Monica guardara um vestido marcado por esperma do presidente, cujo DNA provava sua atuação. Muito bem. Vexame total para Clinton e quase um impeachment, pois ele tinha mentido, crime inafiançável para americanos hipócritas.

Muito bem, de novo.

Aí, o Al Gore, democrata candidato contra o Bush, ficou com medo de defender o Clinton na campanha, porque podia ser considerado cúmplice de adultério diante até de sua esposa. Gore medrou. Aí, Bush deitou e rolou, além de ter tramado uma roubalheira na votação, principalmente na Flórida por seu irmão Jeb, apoiada pelo Tribunal Supremo, que ignorou a roubalheira. E Bush foi eleito.

Foi o pior presidente americano de todos os tempos, uma espécie de Forrest Gump no poder, ignorante, alcoólatra e mau estudante, coisa de que se orgulhava. Até que um dia, para seu azar e sorte, o Osama Bin Laden derrubou as torres gêmeas no evento mais espantoso do século 21 (até agora...) e deflorou os Estados Unidos, nunca atacados dentro de casa. Não me esqueço da cara do Bush quando lhe contaram no ouvido a tragédia, enquanto ele dava uma palestrinha para meninos de um colégio. A cara do Bush foi de gesso, paralisada, sem uma rala emoção, sob o olhar das criancinhas em volta. A partir daí, ele ganhou a sorte grande de ser chamado de Presidente de Guerra, o que é um título que justifica tudo, como foi o caso do Truman quando derreteu Hiroshima e Nagasaki às gargalhadas, no show de som e luz para espantar a União Soviética na Guerra Fria. A América queria vingança. E Bush invadiu o Afeganistão atrás do Osama. Em seguida, aconselhado por seu vice-papai Dick Cheney, resolveu mentir que o Iraque tinha que ser conquistado porque teria “armas de destruição em massa”. Qualquer ser pensante sabia que a invasão do Iraque seria um erro tão grave quanto atacar o México como retaliação ao Japão pelo bombardeio a Pearl Harbour. Assim como usou os aviões para derrubar o WTC, Osama usou o presidente dos USA contra os USA e o mundo. Bush cumpriu todos os desejos de Osama, como um lugar-tenente. Osama morreu, mas sua obra foi bem-sucedida. Ele semeou o terrorismo e Bush legitimou-o para sempre. Bush veio para acabar com todas as conquistas liberais dos anos 60. Só faltava um pretexto; Osama deu-o.

Aí derrubaram o Saddam Hussein, um ditador sunita filho da p*#a, que servia ao menos para segurar o Oriente Médio com sua intrincada geopolítica fanática, sectária e religiosa. Aí, todo o ódio ancestral contra os USA cresceu como nunca. Isso fortaleceu não só a al-Qaeda como seus filhotes, e os homens-bomba floresceram como papoulas, iniciando a série de atentados na Espanha, Inglaterra, Índia, Bali, Boston e outros que vieram e virão.

A América jogou no Iraque dois trilhões de dólares para uma guerra sem vitórias, porque os inimigos eram e são invisíveis e moram fora da História. Mataram milhares de americanos jovens e fortes e arrasaram um país que hoje já é dominado pelo tal do Califado Islâmico, o Isis, perto do qual a al-Qaeda é uma ONG beneficente. Somou-se a essa (perdão...) cagada a crise econômica de 2008, provocada pela desregulação total das finanças de Wall Street por Bush, precedido aliás burramente por Clinton.

Depois começou a era que chamávamos de Primavera Árabe, ridícula ilusão do Ocidente que achou que o mundo árabe estava obcecado pela democracia dos Estados Unidos. Rs rs rs...

Obama conseguiu então matar o Osama, o que o ajudou na reeleição, pela qual devemos agradecer a Deus, pois se fosse o “bushiano” Mitt Romney estaríamos “fucked up”. Mas a morte de Osama no Paquistão indispôs mais ainda o Oriente Médio contra nós e fragilizou muito a liderança dos Estados Unidos como potência. Daí, Irã e bombas atômicas, Egito, Líbia, guerra da Síria contra seu povo, apoiada claro, pela China e, oba!, pela Rússia da KGB. E hoje estamos nessa inana, nessa briga de foice em quarto escuro, estamos no massacre de Gaza por Israel, estamos na alvorada de novos horrores além do Hamas e suas criancinhas-escudo. Ambos querem mostrar ao mundo que são vítimas um do outro; um quer jogar Israel no mar e o outro manter Gaza como um gueto faminto de palestinos.

Se não tivessem invadido o Iraque, o mundo seria outro. A História encontrou em Bush o instrumento ideal para seu desejo de autodestruição (a História quer sossego). Mas o “se” não existe na História. Foi o que foi. A História é intempestiva e ilógica e as tentativas de dominá-la em geral dão em totalitarismo e ditaduras. Talvez eu esteja procurando uma “razão” para o caos atual. Pode ser. Mas creio, assim mesmo, que George W. Bush foi o principal responsável por tudo que nos acontece hoje.

E antes dele, mais atrás, na era Clinton, tivemos o mais devastador “boquete” da história humana. Um boquete que mudou o mundo. E que pode destruí-lo, um dia.

Mercosul Indígena - RUBENS BARBOSA

O ESTADÃO - 12/08


Política passiva e reativa em relação ao grupo regional tem de ser revista


Finalmente, depois de mais de um ano, os presidentes dos cinco países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela) conseguiram marcar reunião do Conselho Presidencial na Venezuela. Nos longos comunicados ao fim do encontro, poucas referências a avanços na área comercial. Em compensação, foram assinadas declarações, de apoio à Argentina sobre o pagamento de sua divida soberana, sobre o Banco do Sul, sobre os direitos nos EUA das crianças e adolescentes migrantes não acompanhados.

Além disso, Hugo Chávez e Néstor Kirchner foram declarados cidadãos ilustres do Mercosul. A proposta brasileira para antecipar a formação de área de livre comércio com a Colômbia e o Peru nem chegou a ser examinada.

Poucos notaram que na declaração do Mercosul sobre a situação de Gaza houve um significativo fato politico: o Paraguai recusou-se a assiná-la e quebrou a unidade do grupo em tema tão sensível. Uma das decisões mais curiosas, anunciada ao fim da reunião, foi a instituição do Mercosul Indígena, que certamente dará grande impulso às relações comerciais do grupo...

Alguns exemplos demonstram o estado em que se encontra o Mercosul.

— A Bolívia, membro associado desde 1997, assinou protocolo de adesão quase em segredo de Estado, sem discussão pública. Recentemente, os Congressos do Uruguai e da Venezuela ratificaram o protocolo. Até agora, o documento não foi submetido ao Congresso brasileiro, porque, se fosse, teria dificuldades para aprovação em virtude do asilo ao senador boliviano. A Bolívia ganhou o status de país-membro em processo de adesão, podendo participar plenamente de todas as reuniões, sem voto.

— A negociação do acordo Mercosul-União Europeia desapareceu dos radares por dificuldades com a Argentina (como sempre) e desinteresse por parte do governo brasileiro.

— A negociação entre Brasil e Argentina sobre o acordo automotriz terminou com novo retrocesso. Em vez de manter o livre comércio, o governo brasileiro cedeu mais uma vez à pressão argentina e aprovou uma trava à exportação do Brasil de até uma vez e meio do total comprado da Argentina (antes era 1,9).

— A grave situação econômica na Argentina e na Venezuela, com crescimento em baixa, inflação em alta e moeda depreciada, e total insegurança jurídica, prejudicam as empresas brasileiras pela redução do mercado e pelo não pagamento das exportações.

— O comércio do Brasil com a Argentina está afetado por toda essa situação, com queda de 20%, em especial dos produtos manufaturados.

Olhando apenas para o estrito interesse brasileiro, a política passiva e reativa em relação ao grupo regional tem de ser revista. A redução da influência ideológica nas decisões e a flexibilização de algumas regras estão entre as mudanças que o Brasil deveria buscar a partir de 2015, com o objetivo de facilitar as negociações comerciais com países que possam ampliar o mercado para as exportações do grupo e permitir acesso a tecnologias e inovações para as empresas brasileiras. O Brasil não pode continuar atrelado ao atraso.

Castidade cambial - CELSO MING

O ESTADÃO - 12/08


A política é manter o real valorizado (dólar relativamente barato) para evitar o encarecimento dos importados e, por esse canal, evitar mais pressão da inflação; Embora negado pelas autoridades, o câmbio hoje desempenha a função de âncora dos preços


“Dai-me a castidade, Senhor, mas não agora”, dizia Santo Agostinho, no seu tempo de mocidade (Confissões, capítulo VII).

É o que proclama, também, o Banco Central (BC), quando o assunto é câmbio. Está lá, na última Ata do Copom, que vai ser preciso alinhar preços internos e externos. Aí já vai admitido um desalinhamento a ser corrigido, se não por outra razão, pela necessidade de dar mais competitividade à indústria, que produz caro demais e enfrenta o jogo duro dos importados, baratos demais. O realinhamento dos preços internos e externos se dá, principalmente, por meio de um câmbio mais realista. Mas esse realinhamento não é para acontecer agora…

Nessa matéria, o BC não é sincero. A política oficial é a de que o câmbio flutua e, nessa flutuação, a intervenção do BC se limita a evitar volatilidade das cotações. Significa que, se as pressões do mercado são excessivas pela desvalorização do real (alta do dólar), a tarefa do BC consiste em vender moeda estrangeira, ou seja, em aumentar a oferta. Quando a pressão é no sentido contrário, de valorização do real, a operação é de compra de dólares ou de aumento da procura.

Esse jogo é mais complicado do que o admitido, porque a política é manter o real valorizado (dólar relativamente barato) para evitar o encarecimento dos importados e, por esse canal, evitar mais pressão da inflação. Embora negado pelas autoridades, o câmbio hoje desempenha a função de âncora dos preços.

Faz parte dessa política a decisão, tomada em junho, de zerar o IOF na entrada de moeda estrangeira destinada às aplicações de renda fixa. O fim do imposto torna mais rentáveis essas aplicações e, assim, ajuda a atrair dólares.

As pressões para a alta do dólar são cada vez maiores por causa do aumento das incertezas que vêm com as eleições e com a expectativa de que o realinhamento de preços internos e externos exigirá uma cotação do dólar mais alta.

Não dá para ignorar duas outras forças de redução da oferta de dólares no câmbio interno: (1) a decisão do Fed (banco central dos Estados Unidos) de parar de emitir dólares para a compra de títulos; e (2) o aumento das tensões geopolíticas na Ucrânia e no Oriente Médio.

A principal maneira de aumentar a oferta de dólares para evitar a alta indesejada no câmbio é o leilão de swaps. Essas operações não consistem na venda direta de dólares, mas na venda de títulos que asseguram a variação cambial. No vencimento do título, seu portador terá, como rendimento, a variação do câmbio no período. Assim, se quiser comprar dólares, terá a quantia em reais para isso.

O problema é que o BC já despejou US$ 91,5 bilhões de swaps (veja o gráfico) e, mais cedo ou mais tarde, terá de parar esse jogo, não só porque o volume de dívidas (correspondentes aos swaps) ficará pesado, mas também porque será preciso garantir o tal realinhamento.

É difícil de imaginar qual será a intensidade desse realinhamento porque vai depender de quem estará à frente do BC. As incertezas permanecerão mais alguns meses no câmbio, o que obrigará o BC a operar com mais intensidade, se mantiver a política. Enfim, a castidade cambial se vier, só virá depois das eleições.

CONFIRA:

Lei das Domésticas
Em depoimento sobre a Coluna publicada no domingo que tratou das leis que regulam o trabalho doméstico, o leitor Almir Azevedo expôs uma lista de exigências burocráticas que teve de enfrentar quando teve de demitir uma empregada doméstica. “Eu pagava o FGTS para ela, mesmo não havendo obrigação legal, mas na hora de dispensá-la e de encontrar a forma de pagar a multa rescisória foi um calvário”.


Mais simplicidade, gente
Como conta Azevedo, durante o processo de demissão, uma gerente da Caixa Econômica Federal chegou a sugerir que consultasse um contador, como se se tratasse de uma empresa e não de pessoa física. “Há poucas informações disponíveis para leigos. Se a intenção real é mesmo ajudar os empregados sem prejudicar os empregadores, as coisas deveriam ser mais simples”, observa Azevedo. Ele afirma que, por causa de tanta dificuldade, não pretende recolher mais FGTS de empregados domésticos até que seja obrigado por lei.

A força do sangue - JOSÉ CASADO

O GLOBO - 12/08


Dos deputados federais com menos de 30 anos, 79% são herdeiros (filhos ou netos) de clãs regionais e estão na disputa eleitoral para perpetuar o poder familiar



Eles somam 52 entre 81 senadores, e 228 dos 513 deputados federais. Juntos, representam 280 votos no plenário do Congresso Nacional. Constituem prova viva da força das relações de sangue na política brasileira.

O predomínio é claro: um de cada dois parlamentares federais eleitos em 2010 tem pais, filhos, irmãos, avôs, tios, primos, sobrinhos, cônjuges, genros, noras ou cunhados em cargos eletivos do Executivo ou dos Legislativos federal, estaduais e municipais.

Na prática, significa que o controle do Estado brasileiro depende do voto majoritário de um “clube” composto por pouco mais de duas centenas de famílias.

Uma das características desse condomínio é a perpetuação no poder. Exemplo: dos deputados federais eleitos há quatro anos, quando estavam com menos de 30 anos de idade, nada menos que 79% eram herdeiros (filhos ou netos) de clãs políticos regionais — quase todos estão nas ruas à caça de votos para a eleição de outubro.

“Entra e sai governo, os oligarcas e seus filhos, netos, cônjuges, irmãos e sobrinhos seguem dando as cartas", constata Lauren Schoenster, pesquisadora da Transparência, que acaba de mapear o poder dos clãs regionais. Um dos efeitos da perpetuação, ela acha, é a formação de uma base parlamentar avessa a mudanças significativas no país.

Sangue é capital político relevante nas urnas. Isso não é produto típico nacional — como demonstraram os Kennedy e seguem mostrando os Bush nos Estados Unidos. Mas o caso brasileiro ganha relevo pela dimensão alcançada na atual temporada eleitoral.

Há dois herdeiros entre os três mais destacados candidatos à Presidência. Aécio Neves (PSDB), com 54 anos, e Eduardo Campos (PSB), com 49, desde o berço aprenderam a cultivar a ambição pelo poder (para conhecê-los, assim como a sua adversária Dilma Rousseff, há um ótimo livro na rede, “Os candidatos", de Maria Cristina Fernandes).

O familismo se espraia pelos estados, onde o repórter Pedro Marcondes de Moura identificou 24 candidatos a governador oriundos de clãs com tradição na política local.

Há casos como o da Paraíba, com 93% da bancada parlamentar federal produzidos em meia dúzia de famílias, lembra Lauren Schoenster. No Rio Grande do Norte, onde 91% dos parlamentares também são herdeiros, há um candidato a governador, Henrique Eduardo Alves (PMDB), atual presidente da Câmara dos Deputados, cuja parentela inclui um ex-governador, um senador, o prefeito da capital, Natal, e o ministro da Previdência Social.

No Acre, a família Viana se reveza há 16 anos e tenta completar duas décadas no poder, com a reeleição do atual governador. Esse clã cresceu com o PT, desde a época em que o partido gritava nas ruas contra as oligarquias. A sedução do poder muda prioridades. O familismo pode e deve ser exaltado “com muito orgulho”, ensinou Lula a Hélder, filho do seu aliado Jader Barbalho, dias atrás, ao lançá-lo candidato a governador do Pará.

Dilma Rousseff ficou “indignada” com a espionagem de que brasileiros como ela foram vítimas recentemente. Aceitou o pedido de desculpas de Obama e fez as pazes com Washington. Agora, diz-se “indignada” com a violação dos direitos civis de jornalistas na guerrilha cibernética executada a partir do palácio que governa. Ao menos por elegância, Dilma deve um pedido de desculpas às vítimas do seu governo.

Tempo de desmonte - JOSÉ PAULO KUPFER

O ESTADÃO - 12/08


As projeções mais recentes, que apontam tanto menor crescimento quanto menor inflação para o fim de 2014, revelam agora, com mais nitidez, um quadro que começou a se delinear no segundo trimestre do ano. Era questão de tempo para que freios mais generalizados na atividade econômica produzissem efeitos nos índices de preços e também, apesar de uma certa resistência, nas taxas de emprego. Esse tempo parece ter chegado.

A economia vinha perdendo fôlego desde o início do ano e acentuou a trajetória de queda no segundo trimestre. É possível que junho registre o fundo do poço do atual ciclo, mas a recuperação, no segundo semestre, se houver, se dará em pequena magnitude e ritmo lento. As projeções para a expansão da economia neste ano continuam a ser cortadas e começam a convergir para uma variação de apenas 0,5% no ano. Também as previsões para 2015 estão em processo de revisão para baixo, não só, mas também pela própria desaceleração de 2014.

Com perspectiva de queda, está prevista para o fim de agosto a divulgação pelo IBGE da variação observada do PIB no segundo trimestre. Mas já se terá uma ideia desse provável recuo com a divulgação pelo Banco Central, ainda nesta semana, do IBC-Br de junho. O índice de atividade econômica do Banco Central, que funciona como aproximação antecipada e mensal do PIB trimestral, de acordo com a grande maioria das projeções, reforçará as indicações de que a economia sofreu uma freada no segundo trimestre do ano, tanto em relação ao mesmo período do ano passado quanto na comparação com o primeiro terço de 2014.

Ainda parece longínqua uma onda de desemprego, mas as incertezas no mercado de trabalho são crescentes. Os números da criação de novos postos de trabalho formal estão em forte desaceleração e em segmentos importantes, como a indústria e o comércio, as demissões, nos meses recentes, começaram a superar as contratações.

Essas incertezas reforçam as tendências de contenção da demanda por pelo menos dois vetores. Um deles remete ao da redução direta do consumo, sobretudo de bens duráveis, em razão do comprometimento da renda com dívidas e de dúvidas em relação ao futuro do emprego. O outro se vincula ao canal do crédito, agora menos procurado pelos consumidores, mas já de algum tempo passando por restrições da parte dos bancos emprestadores.

Assim como a atividade econômica pode ter chegado ao fundo do vale em junho, os índices de inflação, que recuam desde abril, devem ter batido no chão em julho. Do mês passado em diante, as projeções apontam para altas mensais até pelo menos o início de 2015. De uma taxa em torno de 0,25% em agosto, as previsões para a variação do IPCA, nos meses seguintes, indicam uma escalada gradual até perto de 0,8%, em dezembro. Mesmo assim, está em curso uma relativa descompressão dos índices de preços, que poderá levar a inflação, no acumulado em 12 meses, a bordejar, nos próximos meses, o teto da meta, mas com tendência declinante, quando observada em período mais longo.

O quadro de contenção da demanda abre espaço, ainda que estreito, para a correção controlada de distorções produzidas pelo represamento de preços dos últimos anos. Na linha de frente, a lista inclui gasolina, energia, transportes urbanos e controle cambial. Manter o real valorizado frente ao dólar, como forma de conter a inflação, pela via dos swaps cambiais, por exemplo, já consumiu perto de US$ 100 bilhões e a ação vai ficando mais custosa, à medida que ajuda a impulsionar os déficits em conta corrente, o que torna mais vulnerável o lado externo da economia.

Transformadas em bombas-relógio, cujo desmonte será inevitável em algum momento, essas ações se mostram cada vez menos eficazes e se aproximam do esgotamento. Está mais do que na hora de verificar se a oportunidade de começar a desarmá-las já não estaria superando os riscos de mantê-las.

Fora do compasso - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 12/08


A previsão de crescimento da economia brasileira feita pelo Focus caiu para 0,81%. Vem descendo devagar, porque a cada semana um grupo de instituições faz a revisão das projeções. Outros países da região estão com PIB sendo revisados para baixo, mas é bem diferente: a previsão do Chile caiu de 3,5% para 2,8%. No Peru, de 5,4% para 4%. Na Colômbia, a estimativa está subindo.

O ano na América Latina tem sido bem diferente. Não há como tratar os países como um bloco seguindo na mesma trilha. A Tendências Consultoria está dividindo em dois grupos principais: de um lado, Chile, Colômbia, México e Peru, com taxas mais altas de crescimento e mais confiança do investidor. De outro lado, Venezuela e Argentina. A consultoria põe o Brasil no segundo grupo, mas o mais exato, me parece, é considerar que os dois países estão juntos e isolados: Venezuela e Argentina têm problemas gravíssimos, inflação de dois dígitos, recessão, sem falar na crise da dívida argentina. Nós estamos sozinhos. Nem tão mal quanto a dupla do atraso; nem acompanhamos os países que estão crescendo com inflação baixa.

Houve momentos em que os países da região estavam todos indo mal; outros momentos estavam todos em recuperação. Este ano, cada um vive sua história. O Chile, por exemplo, enfrentou dúvidas sobre o programa de governo de Michelle Bachelet.

- A eleição de Bachelet, que prometia aumento de carga tributária para aumentar os gastos públicos, gerou uma certa paralisia nos investimentos, com aumento das incertezas. Isso fez o início do ano no país ser mais fraco do que o esperado - explicou Rodolfo Oliveira, da Tendências.

Outro fator que afetou o Chile foi a queda do preço do cobre, o que também atingiu o Peru, cuja previsão de crescimento foi de 5,4% para 4%.

O México teve o número revisado de 3% para 2,8%. A Colômbia teve a projeção de crescimento revista, mas para cima, de 4,4% para 4,7%. Mas pode ser mais. Nos últimos dados, ela tem crescido bastante. O PIB anualizado do país foi de 6,4% no primeiro trimestre, de acordo com o Departamento Administrativo Nacional de Estatística. O resultado surpreendeu o governo, que esperava 5,5%.

O Citibank calcula que o PIB da Colômbia vai terminar o ano em 4,6%, maior do que o do ano passado, e para 2015 o cálculo é que o país crescerá 5%. A inflação está baixa e o emprego crescendo. Ao repórter Marcelo Loureiro, do blog, a explicação do economista João Pedro Bumachar, que coordena a equipe de análises do Itaú para a América Latina, é de que algumas reformas têm induzido esse crescimento colombiano.

- O governo colocou em curso um pacote de concessões para destravar a infraestrutura do país. O crédito imobiliário também tem crescido forte. Isso fez com que o setor de construção puxasse o crescimento, que realmente surpreendeu - disse Bumachar.

Num relatório recente sobre o México, o Departamento de Economia do Itaú disse que "a indústria continua com um bom desempenho e vai puxar a economia mexicana." Eles esperam 2,4% de crescimento este ano e 3,8% no ano que vem. A inflação está projetada para 3,7%, em 2014, e 3,2%, em 2015.

Os números mostram a diferença e derrubam a tese do governo de que todos os países estão desacelerando. Alguns estão, mas para níveis de crescimento bem maiores do que os do Brasil, e com taxas de inflação mais baixas que as nossas. Na previsão do Focus, o crescimento do PIB deste ano fica em 0,81%, e do ano que vem, em 1,2%, com taxas de inflação acima de 6%.

Não há como fazer os números comparativos atenuarem o péssimo desempenho da economia brasileira. Ganhar, o Brasil só ganha de quem está fora do jogo. A previsão para a Venezuela é de recessão de 2,6%, e para a Argentina, queda de 1,6%. Nos dois países, a inflação está altíssima. Na Argentina, em torno de 40%. Na Venezuela, 75%, pela previsão do FMI.

Nós não somos como os dois países que enfrentam problemas econômicos, políticos, e de relação com credores internacionais, mas estamos longe dos países que estão dando bons passos na América Latina. Portanto, a conversa de que estão todos os países da região - e até fora dela - numa fase de redução do ritmo, porque isso é fenômeno global, está errada. Até economias maduras, cuja tendência é de crescimento menor, estão em melhor situação do que o Brasil este ano.


A CLT e os presidenciáveis - JOSÉ PASTORE

O ESTADO DE S. PAULO - 12/08


N"ão é a primeira vez que isto acontece: em toda eleição, os candidatos têm verdadeiro calafrio quando os jornalistas indagam sobre seus planos para modernizar as relações trabalhistas. Temem perder votos dos eleitores que veem as mudanças como sinônimo de revogação dos direitos dos trabalhadores. Como saída, prometem a livre negociação entre as partes.

Essa promessa é vazia, porque a livre negociação já é garantida pela Constituição federal. O problema é que, volta e meia, a Justiça do Trabalho anula cláusulas que foram livremente pactuadas, jogando por terra o esforço das partes e criando grande incerteza. Sim, porque o que é negociado hoje pode não valer amanhã.

Num outro extremo, a Justiça do Trabalho decreta a morte do contrato ao estabelecer que cláusulas negociadas pelas partes com claro prazo de vigência passam a ter vida eterna (Súmula 277 ao TST). Como assegurar proteções permanentes numa economia que está em constante mutação? Isso destrói a previsibilidade, reduz o investimento e inibe ageração de empregos.

Não vi uma palavra dos presidenciáveis sobre a modernização da Justiça do Trabalho. Eles sabem que os juízes estão sobrecarregados, o que leva muitos deles a forçar acordos injustos e a entregar a redação das sentenças a seus assessores.

Segundo o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, José Renato Nalini, há quase 100 milhões de processos na Justiça do País. Dos 200 milhões de brasileiros, cerca de 100 milhões são menores - que não litigam o que sugere existir entre nós uma ação para cada habitante! Estimativas recentes dizem que as empresas brasileiras gastam cerca de RS 110 bilhões por ano com ações judiciais, R$ 25 bilhões só na área trabalhista. Por que não usar sistemas alternativos de resolução de conflitos para aliviar o Judiciário e aumentar a segurança jurídica, como a autocomposição, a mediação e a arbitragem, especialmente no campo trabalhista?

A insegurança jurídica vem de toda parte. A empresa que concede facilidades de transporte, alimentação e educação aos empregados e a seus filhos tem essas despesas transformadas em verbas salariais, com 102,43% de encargos sociais. A que pratica a promoção dos bons empregados pelo mérito corre o risco de ser punida por dano moral e de ser obrigada a estender o benefício isonomicamente a todos os funcionários. A fábrica de papel que contrata o corte de eucaliptos com terceiros é condenada a pagar pesadas multas e a incorporar trabalhadores rurais nos quadros industriais.

O atraso é imenso. Enquanto em todo o mundo as empresas são livres para praticar horários flexíveis e contratar reforço de pessoal em época de pico, como é o caso das feiras e convenções ou dos supermercados que atendem mais público nos fins de semana, nossa legislação impede esse expediente, mesmo quando amparado pela livre negociação. Os absurdos vão longe. Até hoje a CLT fixa a hora noturna em apenas 52 minutos, e ai de quem negociar fora disso!

Os conspiradores da livre negociação podem ser contados às dezenas, senão centenas. Dos presidenciáveis, esperavam-se propostas realistas, e não apenas a sugestão da livre negociante como bálsamo genérico para todos os problemas. Essa proposta é simplista, para não dizer simplória, e está longe das necessidades da Nação.

No campo das políticas públicas, os desafios são igualmente colossais. O Brasil gasta quase RS 50 bilhões por ano com seguro-desemprego em tempo de pleno-emprego. É inconcebível que até hoje o País não tenha aprovado um seguro-emprego, em lugar do seguro-desemprego, como fazem as nações avançadas.

Será que esses temas não são importantes para os presidenciáveis estudarem com atenção? Todos eles poderiam constar da sua lista de compromissos com seus eleitores. Afinal, eles nada têm que ver com a revogação de direitos dos cidadãos.

Os jihadistas tupiniquins - MARCO ANTONIO VILLA

O GLOBO - 12/08


O auge do jogo sujo será justamente na breve campanha do segundo turno, onde calúnia tem muito mais efeito eleitoral


Estamos a menos de dois meses das eleições. Mas não parece. Há um clima de desânimo, de desinteresse, de enfado. Acreditava-se que, após o fim da Copa do Mundo, as atenções estivessem concentradas no processo eleitoral. Ledo engano. A pasmaceira continua a mesma. Agora, o divisor de águas é o horário gratuito que começa dia 19. Para o PT, este é o clima ideal para a eleição presidencial. Quanto menor o interesse popular, maior a chance de permanecer mais um quadriênio no poder. O partido tem, inclusive, estimulado discretamente campanha pelo voto nulo ou branco. Sabe que muitos eleitores estão desanimados com a política, justamente com as mazelas produzidas pelo próprio petismo.

A desmoralização das instituições foi sistematicamente praticada pelo partido. A compra de maioria na Câmara dos Deputados, que deu origem ao processo do mensalão, foi apenas o primeiro passo. Tivemos a transformação do STF em um puxadinho do Palácio do Planalto. O Executivo virou um grande balcão de negócios e passou a ter controle dos outros dois poderes. Tudo isso foi realizado às claras, sem nenhum pudor.

Não há área do governo que nos últimos anos tenha permanecido ilesa frente à sanha petista. Todos os setores da administração pública foram tomados e aparelhados pelo partido. Os bancos, as empresas estatais e até as agências reguladoras se transformaram em correrias de transmissão dos seus interesses partidários.

Imaginava-se que, após a condenação dos mensaleiros, o ímpeto petista de usar a coisa pública ao seu bel-prazer pudesse, ao menos, diminuir. Nada disso. Os episódios envolvendo a Petrobras demonstram justamente o contrário. E mais: neste caso levaram ao descrédito total os trabalhos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito e desmoralizaram mais uma vez o Legislativo.

As ações seguem um plano de que o partido é o elemento central da política, nada pode ocorrer sem a sua anuência. Esta estrutura tentacular tem enorme dificuldade de conviver com a democracia, a alternância no governo e com o equilíbrio entre os poderes. A insistência em impor o projeto dos conselhos populares — uma espécie de sovietes dos trópicos — faz parte desta visão de mundo autoritária.

O maior obstáculo para o PT é a existência do Estado Democrático de Direito. O partido tem como objetivo estratégico miná-lo diuturnamente. Suas ações chocam-se com a “institucionalidade burguesa”.

O PT usará de todos os meios para se manter no poder. Manteve até aqui a campanha em banho-maria, como era do seu interesse. Mas com a permanência de Dilma em um patamar que vai levar a eleição para o segundo turno — isto hoje é líquido e certo —, o partido vai abrir a sua caixa de ferramentas, como o fez em 2006 e 2010.

O uso da internet para desqualificar seus opositores é realizado há um bom tempo. O PT tem um verdadeiro exército de jihadistas prontos para o ataque. O recente episódio de mudanças no perfil de jornalistas na Wikipedia é café pequeno frente ao que vem por aí. O auge do jogo sujo será justamente durante a breve campanha do segundo turno, onde uma calúnia tem muito mais efeito eleitoral, principalmente se divulgada às vésperas da eleição.

As modificações ocorridas no Tribunal Superior Eleitoral passaram em branco. É bom que a oposição fique atenta, pois quem vai presidir a eleição é um ex-funcionário do Partido dos Trabalhadores e ex-advogado de um sentenciado no processo do mensalão, José Dirceu. O presidente do TSE é o ministro Dias Toffolli.

Neste processo chama a atenção a ação de Lula, seu líder máximo — e único, na verdade. Tem se mantido — até o momento — discreto na campanha eleitoral. Visitou alguns estados e mesmo em São Paulo tem participado pouco das atividades. Pode ser que tenha sentido um cheiro de derrota no ar e está buscando preservar sua figura. No caso da eleição paulista, isto já é definitivo. Seu candidato já está derrotado. Esperto como é, pode já estar iniciando a campanha de 2018. E com o figurino de salvador da pátria.

Frente a este quadro é que a oposição precisa exercer o seu papel. Nesta eleição tem agido com mais consistência, buscando alianças regionais e um discurso mais simples e compreensível para o eleitor. Tem atuado melhor, mas distante do que se espera de uma oposição no grave momento histórico que vivemos.

Eduardo Campos tenta — mas tem muita dificuldade — de encarnar o figurino oposicionista. Afinal, permaneceu mais de um decênio apoiando o governo, inclusive exercendo função ministerial. Mas teve ousadia em se lançar candidato.

É Aécio Neves que tem de exercer o papel de opositor do petismo. Tem se esforçado, é verdade, porém a campanha ainda não empolgou. Conseguiu habilmente construir bons palanques estaduais. Diversamente de 2010 rachou o apoio petista no trio de ferro da política brasileira. Em Minas Gerais deve ter uma grande vitória. Em São Paulo, se conseguir colar a sua candidatura à de Geraldo Alckmin, pode ter a maior vitória do partido no estado desde o restabelecimento das eleições diretas. Conseguiu um raro feito no Rio de Janeiro, rachando o bloco de apoio à petista que foi importante em 2010. Deve surpreender no Nordeste tendo uma boa votação, rompendo com o domínio petista, como na Bahia. Mas ainda é pouco.

A máquina autoritária petista pode ser derrotada. Os dois próximos meses são decisivos. O PT vai usar todas as suas armas. Sabe que é uma batalha de vida ou morte, pois longe do aparelho de Estado não consegue mais sobreviver.

Em casa de enforcado - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 12/08


O que é um factoide? Um pseudofato criado para chamar atenção para alguma coisa ou alguém ou para amenizar o efeito de outros atos.

Nessa definição se enquadra a entrevista convocada pela presidente Dilma Rousseff, neste domingo, em que qualificou como "factoides políticos" as denúncias envolvendo negócios, diretores e ex-dirigentes da Petrobrás.

O pseudofato foi a entrevista da presidente, que nada tinha de importante a dizer. Emitiu juízo de valor sobre o que o Tribunal de Contas da União pode ou não pode fazer. Segundo Dilma, "não pode" submeter uma pessoa "íntegra, correta" como a presidente da Petrobrás, Graça Foster, "a esse tipo de julgamento".

Referia-se à decisão a ser tomada nesta semana sobre a inclusão ou não da executiva na lista dos diretores da estatal que tiveram os bens bloqueados devido ao prejuízo de quase US$ 800 milhões à Petrobrás, detectado pelo TCU no exame dos documentos sobre a compra da refinaria de Pasadena.

A declaração foi antes de qualquer coisa inadequada e irrelevante. Não cabe à presidente da República determinar o que deve ou o que não deve fazer o TCU, órgão ligado ao Poder Legislativo. Além disso, ficou parecendo que os outros 11 diretores que tiveram seus bens bloqueados não são íntegros nem corretos no entender da presidente.

Dilma Rousseff mostrou-se também convenientemente esquecida de que foi ela quem repôs a Petrobrás sob o foco da política. Não falemos sobre o aparelhamento nem sobre o manejo dos preços dos combustíveis.

Fiquemos no simples fato de que foi ela quem acusou a diretoria de induzi-la ao erro, a fim de ser excluída do rol dos atuais acusados pelos prejuízos. Um remendo levou à necessidade de outros cada vez maiores.

No domingo, o intuito dos conselheiros da presidente talvez tenha sido o de ocupar o noticiário de segunda-feira, para reduzir o espaço dedicado à repercussão da entrevista da ex-contadora do doleiro Alberto Youssef à revista Veja.

Esta, sim, mais consistente no que se refere a fatos. A moça, Meire Bonfim da Silva Poza, resolveu contar o que sabe à Polícia Federal. Não são boatos, portanto. Relatou operações feitas por ela durante três anos envolvendo malas de dinheiro repassadas a empreiteiras donas de contratos com a Petrobrás, intermediados pelo ex-diretor administrativo Paulo Roberto Costa, cuja destinação final desemboca em políticos de três partidos, PT, PMDB e PP.

Podem ser invencionices? Podem. Mas bastante verossímeis, pois guardam relação com o que até agora vem sendo apurado pela Polícia Federal. Não parecem fabulações de caráter eleitoral como quer fazer crer a presidente, até mesmo desqualificando um órgão sob sua jurisdição.

Não estivesse o instituto da CPI tão absolutamente desmoralizado, seria o caso de se instalar um inquérito parlamentar para investigar a participação dos congressistas nesse esquema. Mas, hoje, as comissões ganharam dos petistas um atestado de tradição de farsa "desde Pedro Álvares Cabral".

Falam disso com a ligeireza de quem está no poder, abstendo-se da prudência de pensar que um dia podem voltar à oposição.

Língua nos dentes. É concreta, embora não seja certa, a possibilidade de o ex-diretor administrativo da Petrobrás Paulo Roberto Costa fazer acordo de delação premiada.

Preso pela primeira vez em março deste ano na Operação Lava Jato da Polícia Federal, foi solto 59 dias depois e preso de novo em junho por ter omitido a existência de uma conta na Suíça e a posse de um passaporte português.

Quanto menores as possibilidades de defesa, maior a probabilidade de um e de outro (ou até dos dois) optarem por um acordo para contar o que sabem. O ex-diretor da Petrobrás estaria apenas aguardando o resultado de um pedido de relaxamento da prisão preventiva.

Da euforia ao desânimo - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 12/08


BRASÍLIA - A última cerimônia de apresentação de credenciais de embaixadores estrangeiros à presidente da República foi no final do ano passado. Desde então, lá se vão tantos meses, os novos embaixadores em Brasília estão num limbo.

São em torno de 20, de variados países e continentes, que vivem, trabalham e se movimentam no país sem terem apresentado oficialmente suas credenciais a Dilma.

O embaixador da Turquia disse a colegas que não consegue sequer viajar. Teme sair de Brasília num dia e a cerimônia ser convocada para o dia seguinte, sem tempo de voltar. Não é paranoia. Há relatos de embaixadores chamados pelo Planalto num fim de tarde para entregar credenciais na manhã seguinte.

Essa pequena história ilustra algo detectável em conversas informais com a comunidade diplomática em Brasília: o clima de euforia durante o governo Lula cedeu a um ambiente de surpresa e desânimo (também) entre diplomatas. Cá entre nós, não apenas entre os estrangeiros.

Dias depois de alugar uma casa no Lago Sul, o bairro mais sofisticado da capital da República, um europeu recebeu um telefonema desesperado: ladrões arrombaram a casa, onde estavam sua mulher e filhos. Ele, que já tinha servido no Brasil, questiona: "Por que as mortes em Gaza, na Síria e no Egito chocam tanto, se aqui morrem mais de 55 mil pessoas por ano vítimas da violência?" Alguém se anima a responder?

Uma asiática quer ir ao Nordeste, mas tem medo. Todos reclamam dos preços. Um diz que ficou muito animado para vir, quando o Brasil era o queridinho internacional. Chegou, se instalou e logo o entusiasmo --internacional e dele-- começou a murchar. Hoje, anda meio desanimado, principalmente com a economia.

Diplomatas são cautelosos por definição, mas os estrangeiros já admitem a frustração com o país, e os nacionais não escondem a mágoa com Dilma. Ela não gosta de diplomacia. E o Itamaraty anda bem apagado.

A banalização do crime - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 12/08

Sem ter como desmentir as recentes denúncias de manipulação criminosa, os governistas e sua vasta rede de militantes que atuam na internet passaram a uma bem orquestrada ação de banalização dessas atividades ilegais, como se fossem corriqueiras. É o caso da preparação dos ex-diretores da Petrobras para depoimentos na CPI que apura a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, acusada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) de prejudicial aos cofres da empresa.

A própria presidente Dilma abriu essa discussão ao acusar publicamente o ex-diretor Nestor Cerveró de ter produzido um relatório falho tecnicamente, que induziu o Conselho Administrativo da Petrobras, presidido por ela na ocasião, ao erro de aprovar uma transação que se mostrou equivocada. Pois bem, como é sabido a Petrobras demitiu Cerveró, que à época trabalhava na BR Distribuidora, e a própria presidente da estatal, Graça Foster, admitiu no Congresso que aquela não fora uma boa compra. Descobre-se agora que a Petrobras está pagando as multas com que os ex-diretores foram punidos pelo TCU, e que todos eles, inclusive o culpado pelo prejuízo, estavam recebendo orientações especiais e treinamento para o depoimento na CPI da Petrobras.

Não bastasse a estranheza de a estatal prejudicada bancar a defesa de ex-diretores acusados de malversação de dinheiro público, gravações de uma reunião na sede da Petrobras revelaram que a chegada de Cerveró à sede da empresa foi cercada de preocupações e cautelas para que sua presença não fosse notada. E que as perguntas que seriam feitas a ele e a outros diretores já estavam previamente preparadas pelos próprios membros da CPI da base aliada do governo.

ministro das Comunicações Paulo Bernardo, para justificar essa tramoia, deu uma declaração absolutamente absurda: segundo ele, desde Pedro Álvares Cabral, as CPIs são arranjadas. Esqueceu-se de que a CPI que derrubou o então presidente Collor foi liderada pelo PT, e que outras, como a dos Correios, acabaram levando à cadeia diversos líderes petistas envolvidos no mensalão.

Na verdade, as CPIs, um instrumento das minorias, sempre tiveram papel importante no desvendar de atos corruptos, e só quando a maioria resolve boicotá-la é que se transforma em uma farsa como a da Petrobras. Na própria gravação é possível ouvir os advogados da Petrobras procurando uma maneira segura de enviar as perguntas a José Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, o que não seria necessário se não fosse um ato escuso. Treinar os depoentes em CPIs é uma coisa, montar uma farsa com perguntas previamente combinadas é outra muito diferente. A mesma coisa acontece com o caso dos perfis da Wikipédia alterados por pessoas de dentro do Palácio do Planalto.

Que a Wikipédia é um ambiente aberto a todos, ninguém discute. Mas a inclusão de informações inverídicas e calúnias no perfil de alguém não pode ser considerada normal. Especialmente se essas ações são feitas no Palácio do Planalto, de onde saíram mais de 200 alterações em diversos perfis, muitas para incluir elogios a pessoas do governo, outras para atacar jornalistas independentes como Míriam Leitão ou Carlos Alberto Sardenberg.

A própria presidente Dilma, ao repudiar a ação, cometeu um ato falho ao dizer que nesse caso específico, é algo que quem quiser fazer individualmente que faça, mas não coloque o governo no meio. A fala da presidente é reveladora de uma maneira de pensar a luta política: distorcer informações sobre pessoas consideradas inimigas do governo pode ser uma atividade política que alguns utilizam, desde que não coloque embaraços para o governo.

Que a guerrilha virtual é uma atividade corriqueira dos petistas, já é sabido. A novidade, que agrava a situação, é que agora essa prática criminosa está sendo feita de dentro do Palácio do Planalto, numa demonstração de que não há mais um mínimo de separação entre o governo e a campanha eleitoral, até mesmo nas ações mais baixas. É uma ação de guerrilha de dentro do palácio do governo. Como a presidente pode lavar as mãos? Não há cadeia de comando? Nem dentro do Planalto? Como o Gilberto Carvalho pode dizer que foi uma bobagem e ficar tudo bem?

Nesse caso, pelo menos politicamente, o ônus da prova se inverte. É a Presidência que precisa entregar o culpado e provar que era um aloprado celerado agindo por conta própria. Caso contrário, é como se o Nixon dissesse que quem instalou aquelas escutas no prédio Watergate foram uns aloprados do Partido Republicano.

Cresce o escândalo de corrupção na Petrobras - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 12/08

Contadora de Youssef, ao confirmar montagem de esquema dentro da estatal, para subtrair dinheiro de empreiteiras, amplia a dimensão das suspeições sobre a empresa



Enquanto o escândalo do mensalão estourou de uma vez, na denúncia feita pelo mensaleiro acuado Roberto Jefferson, do PTB , à “Folha”, o caso da montagem de um o esquema de corrupção dentro da Petrobras tem emergido aos poucos. Na última edição de “Veja”, contornos desse esquema ficaram mais nítidos, com a entrevista de Meire Poza, contadora do doleiro Alberto Youssef, cumprindo prisão preventiva em Curitiba.

Youssef, acusa a Polícia Federal, é o principal gerente de uma bilionária lavanderia de dinheiro sujo remetido por empreiteiras, tendo como beneficiários finais políticos do “PT, PMDB e PP”, revela a contadora. Também como o doleiro, cumpre prisão preventiva em Curitiba, base de operação de Youssef, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa — tudo indica, o primeiro elo do sistema de bombeamento de cifras incalculáveis neste propinoduto. Os dois, apanhados na Operação Lava-Jato, da PF.

Paulo Roberto, mostram investigações e Meire Poza, fazia o clássico papel de criador de dificuldades para vender facilidades. Podia-se deduzir que o ex-diretor da estatal havia sido peça-chave na quadrilha, no tempo em que presidiu o conselho de administração da obra da refinaria Abreu e Lima, um monumento ao desvio de dinheiro público, como já atestam auditorias do TCU. Não é sempre que um projeto orçado em US$ 2 bilhões custa, ao final da obra, US$ 20 bilhões.

Com a decisão de Meire Poza de contribuir para as investigações da PF, as evidências de roubalheira na Petrobras e suposições de drenagem de dinheiro da estatal para financiar políticos do PT e aliados do governo passam a ter a sustentação de documentos e do testemunho de alguém que trabalhou nas armações. Pode-se dizer que o escândalo começa a ganhar dimensões de outro mensalão de petistas, este em sociedade com aliados próximos. É exemplar o pagamento de empreiteiras a empresas fantasmas de Youssef e a pelo menos uma “consultoria” de Paulo Roberto Costa. Ciosas, revelou O GLOBO, empreiteiras declararam à Receita Federal o que pagaram ao esquema de Youssef e Costa. Ou, pelo menos, parte.

A contadora pode contribuir para jogar luz na outra ponta desta lavanderia, a dos políticos. Até agora, haviam sido citados o Deputado André Vargas, sem partido, fora do PT devido às ligações com Youssef, e Luiz Argôlo (SDD-BA). Meire confirma um depósito para o senador Collor, já noticiado. O petista Cândido Vaccarezza, de São Paulo, também foi ajudado, para saldar dívida de campanha. E ela colocou na lista dos beneficiários Mário Negromonte (PP), ex-ministro das Cidades É certo que a contadora sabe mais, a considerar as “malas e malas” de dinheiro que ela diz ter visto passar à sua frente. A presidente Dilma diz que a Petrobras é alvo de “factoides políticos”. Não parece. Alvo ela foi de um aparelhamento que resultou em um escândalo formado por dois negócios desastrosos: as refinarias de Pasadena e Abreu e Lima. E ele começa a crescer.

Desfigurando a verdade - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 12/08


Contra fatos não há argumentos, mas em desespero de causa sempre se pode tentar desqualificá-los, na expectativa de que outro dito se confirme - o que diz que uma mentira repetida muitas vezes acaba virando verdade. O primeiro fato, no caso, foi a revelação sustentada em evidências irrefutáveis de que, não bastasse a presidente da Petrobrás, Graça Foster, o seu antecessor José Sérgio Gabrielli e o ex-diretor da empresa Nestor Cerveró conhecerem de antemão as perguntas que lhes seriam feitas na CPI no Senado que focaliza notadamente o escândalo da compra de Pasadena, elas foram escolhidas a dedo para produzir respostas convenientes - também elas, aliás, combinadas com os depoentes.

O segundo fato inconteste foi a identificação do coordenador da armação que mobilizou dirigentes da estatal, assessores parlamentares petistas e a liderança do Planalto no Congresso, cujo titular, o senador José Pimentel, do PT, é nada menos do que o relator da CPI. (Dez de seus 13 membros, por sinal, integram a base governista na Casa.) O principal operador da farsa - veio a se saber, como tudo o mais, pela imprensa - chama-se Luiz Azevedo e exerce a função de secretário executivo da Secretaria de Relações Institucionais, comandada pelo ministro Ricardo Berzoini, calejado quadro petista. As primeiras pistas não chegavam tão longe, fixando-se no assessor especial da Secretaria, Paulo Argenta. Ele havia sido citado numa comprometedora conversa cuja gravação um dos presentes passou adiante.

A descoberta de um Pasadenagate envolvendo diretamente o braço direito do ministro responsável por fazer a ponte entre a Presidência da República e o Poder Legislativo eliminou quaisquer dúvidas que ainda pudessem subsistir sobre a razão de ser da escabrosa articulação - muito mais do que defender a elite dirigente da Petrobrás, blindar a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição. Desde que ela confessou a este jornal, em março último, ter aprovado em 2006 a aquisição de metade da refinaria então em posse de um grupo belga, a história que parecia ter sido abandonada no freezer em seguida aos depoimentos de Gabrielli e de Graça Foster nas duas Casas do Congresso, ano passado, ressurgiu no micro-ondas.

Afinal, foi na condição de presidente da mais alta instância decisória da Petrobrás, o seu Conselho de Administração, que Dilma - fundamentando-se apenas em um resumo "técnica e juridicamente falho", do negócio em preparo, como diria ao Estado - abriu caminho para o maior vexame da petroleira em seus 61 anos de existência. Uma sucessão de erros primários - como o de recorrer, por decisão de Dilma, de uma sólida sentença judicial americana que dava ganho de causa à parceira da Petrobrás, depois que se desavieram - abriu na estatal um rombo histórico de US$ 792,3 milhões, segundo os cálculos do Tribunal de Contas da União (TCU). Não será surpresa se um dia a cifra for revisada para cima. Ou se for constatado que, além de equívocos, grossas falcatruas contribuíram para a catástrofe financeira.

A primeira tentativa da presidente de brigar com os fatos da manipulação da CPI consistiu em se distanciar deles. "É uma questão que deve ser respondida pelo Congresso", lavou as mãos. Desmoralizado o "incluam-me fora disso" ao se comprovar na semana passada que a farsa havia sido concebida dentro do Palácio, esperou o que seria o melhor momento para desfigurar a verdade. Para aparecer na televisão no domingo à noite, convocou pouco antes uma entrevista no Alvorada, a residência oficial dos presidentes, a pretexto de mandar uma saudação pelo Dia dos Pais. E esperou o momento de ser perguntada sobre a armação na CPI para dizer que não é correto "misturar eleição com a maior empresa de petróleo do País".

Foi essa rota alegação que o governo invocou ao tentar de tudo - em sociedade com o dilmista Renan Calheiros, presidente do Senado - para impedir que a oposição abrisse na Casa uma CPI sobre os presumíveis malfeitos na Petrobrás. Barrado na Justiça o rolo compressor, o Planalto apropriou-se da investigação chegando aos extremos denunciados - para Dilma, apenas "um factoide político". Fez lembrar o seu mestre Lula negando o mensalão.

Fragilidades econômicas - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 12/08


Os números da economia divulgados pelo governo apresentam indicadores que em qualquer lugar do mundo seriam tomados como preocupantes



Governo e oposição travam uma batalha verbal que deve se intensificar com a proximidade do horário eleitoral gratuito. A presidente Dilma, candidata à reeleição, gosta de usar os discursos públicos para dizer que a oposição é pessimista, parte da imprensa é injusta com o governo, há muita gente torcendo contra o Brasil e que sua gestão é eficiente. O embate entre governo e oposição é normal, necessário e saudável. O período eleitoral, por ter a presidente como candidata, vai exacerbar a polêmica e as acusações de parte a parte, e isso é bom, pois a democracia tem como essência a discussão e a liberdade de expressão.

Porém, a despeito de quem possa ter razão, alguns dados mostram que a economia brasileira está com vários furos, alguns bastante perigosos. Dívida pública bruta equivalente a 60% do Produto Interno Bruto (PIB), carga tributária em seu limite máximo (38% do PIB), superávit primário (receitas menos despesas antes do pagamento de juros) de 1,17% do PIB, déficit público nominal (superávit primário menos os juros da dívida) de 3,61% do PIB, crescimento econômico de 1% em 2014 diante de um aumento populacional de 1%, inflação de 6,5% (mesmo com vários preços represados) e déficit em transações correntes em torno de US$ 80 bilhões/ano. Somente esses números são suficientes para revelar um conjunto de fragilidades a serem combatidas.

Tanto a presidente quanto o ministro da Fazenda reclamam dos críticos internos e dos analistas internacionais que, nos últimos tempos, vêm mostrando pessimismo em relação ao Brasil. Se aos números citados for acrescentado que o país está com retração industrial, queda no índice de confiança dos empresários e descrença do investidor internacional, fica evidente que a situação econômica é preocupante. Os números referidos, inclusive os baixos índices de confiança no país e no governo, são retirados de pesquisas de órgãos confiáveis, alguns deles pertencentes ao próprio governo, como o Banco Central (BC).

O ministro Mantega resolveu questionar as análises do Fundo Monetário Internacional (FMI), criticou o órgão e negou que a situação esteja se deteriorando, como se tudo fosse má vontade com o Brasil. Mas não é apenas o FMI que vem alertando para os problemas atuais da economia brasileira. Vários bancos internacionais estão dizendo a mesma coisa em seus relatórios. O caso do banco Santander, que teve um informe feito por um consultor interno de investimentos alertando os clientes sobre os problemas e as consequências de um segundo mandato da presidente Dilma, é sintomático da desconfiança do mercado financeiro. Esse caso tornou-se rumoroso graças a autoridades e ex-autoridades, como o ex-presidente Lula, que tiveram atitude agressiva contra o banco, praticamente obrigando-o a retirar as críticas e a demitir o técnico responsável pelo informe.

A presidente declarou que a economia vive também de expectativas e que as decisões de investimentos dependem da confiança dos empresários e dos investidores, razão por que o governo teria questionado a posição publicada por um banco tão importante. A afirmação da presidente é verdadeira. Entretanto, o que está em jogo não é isso, mas a liberdade de expressão e o direito de qualquer um de externar suas opiniões. Afinal, vários políticos, incluindo a própria presidente, apregoam o tempo todo que lutaram contra a ditadura e a favor da liberdade. É estranho, portanto, que, quando estão no poder, queiram calar quem pensa diferente deles.

Incoerências políticas à parte, o fato é que os números da economia divulgados pelo governo apresentam indicadores que em qualquer lugar do mundo seriam tomados como preocupantes. Não é uma situação falimentar nem desesperadora. Mas a economia vive também de tendências, e é lícito imaginar que uma variável econômica em franca deterioração nos últimos seguirá piorando caso o rumo das políticas públicas não seja modificado. No fundo, é isso que vem sendo dito por analistas conhecedores da realidade brasileira. O mínimo que se espera de autoridades responsáveis é que, diante de informes e análises feitas por agentes de mercado, disponham-se a ouvir e debater as afirmações, em especial aquelas vindas de quem critica o governo. Na vida, aprende-se mais com quem pensa diferente do que com quem existe apenas para aplaudir e concordar.

Falhas mostram que SUS padece de má gestão - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 12/08


Ineficiência na administração de remédios evidencia que problemas não se resolvem com mais verbas, o que equivaleria a desperdiçar dinheiro público com estrutura podre



Criado em 1988, no bojo da promulgação da Constituição, o Sistema Único de Saúde é uma das maiores redes públicas de saúde do mundo, abrangendo um universo de serviços que vão do simples atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos. Em tese, garante acesso integral e gratuito a todos os brasileiros. Mas, na prática, padece de uma série de problemas, de tal modo que está ainda longe de assegurar, com eficiência, rapidez e qualidade, oferta universal à população. O SUS patina em deficiências em que há problemas estruturais, mas, em boa dose, em decorrência de ineficiência de gestão.

Neste caso, encontra-se a distribuição de remédios no sistema público. A assistência farmacêutica é um aspecto tão vital para o SUS que o percentual do orçamento do Ministério da Saúde para atender a área passou de 5,8% em 2002 para 14% em 2013, quando foram gastos R$ 11,8 bilhões. Este ano, estima-se que a conta chegue a 12,4 bilhões. Como se vê, uma rubrica que movimenta verbas bilionárias — mas que, a despeito disso, não tem como contrapartida a eficiência gerencial.

A série de reportagens que O GLOBO começou a publicar anteontem dá uma boa medida do desperdício que sangra verbas de um setor essencial para complementar o atendimento, não poucas vezes já precário, nos ambulatórios e hospitais com serviços do SUS ou por ele garantidos. Com base em relatórios de auditorias e fiscalizações do Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus), pinta-se um quadro sombrio, no qual juntam-se, para prejudicar o usuário, malefícios como superfaturamento, direcionamento de licitações, sobrepreço de até 10.000%, estoques sem monitoramento, “empréstimo” de medicamentos entre hospitais e até mesmo venda de remédios a mortos. No Piauí, registrou-se o controle inadequado de talidomida (cujo uso como sedativo foi interrompido no país após se detectar que, em grávidas, causa má formação do feto).

Boa parte dessas deficiências pode ser atribuída a irregularidades, abrigo seguro para a corrupção, um mal crônico no serviço público do país. O sistema — que, numa ponta, engole polpudos orçamentos e, na outra, deixa as verbas descerem o ralo — padece de graves problemas de gestão. Este é um diagnóstico que se forma não só pela análise das auditorias do Denasus, mas também em levantamentos do TCU e do Ministério Público. A ineficiência administrativa e as irregularidades, irmãs gêmeas da má gestão, contaminam os serviços do SUS em 23 das 27 capitais do país.

Responsável por boa parte do problema, a má gestão do sistema derruba a batida tese de que a saúde no Brasil tem anemia orçamentária. Não é bem assim. Dinheiro para rubricas sociais é bem-vindo, e as provisões têm sido crescentemente generosas com o setor. Mas neste caso despejar mais dinheiro público numa estrutura podre é puro desperdício. O remédio para o SUS passa, necessariamente, pelo aperfeiçoamento gerencial.

Segurança maior - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 12/08


Se candidatos a senador debatem endurecimento de leis penais, quem disputa o governo deve dizer como melhorar eficiência policial


Seria melhor, não há dúvida, que nenhum candidato precisasse reservar parte de sua campanha às discussões sobre segurança pública. Feliz o país onde esse tema tem lugar remoto na lista de preocupações dos eleitores.

Estando o Brasil longe desse ideal, não deixa de ser positivo que os principais aspirantes a senador por São Paulo mostrem disposição para tratar do assunto enquanto buscam conquistar votos.

Muito já se criticou o Congresso Nacional pelo hábito oportunista de se dedicar à questão somente na esteira de crimes monstruosos. Nessas circunstâncias, o clamor social tende a impulsionar não as respostas adequadas que todos desejam, mas distorções no ordenamento jurídico.

Mesmo fora da atmosfera emocional, contudo, persiste algum populismo legislativo. Decerto provocados pela crescente sensação de insegurança no Estado de São Paulo, José Serra (PSDB), Eduardo Suplicy (PT) e Gilberto Kassab (PSD) advogam, com diferenças de grau, o endurecimento das penas aplicáveis a menores infratores.

Candidatos ao Senado, os três sabem que é esmagador o apoio dos paulistanos à redução da maioridade penal, passando-a de 18 anos para 16. Em pesquisa feita pelo Datafolha em abril do ano passado, 93% dos entrevistados na capital paulista endossavam a medida --o que Kassab também faz.

Serra, desde 2007, e Suplicy, numa novidade, preferem soluções menos drásticas e de tramitação simplificada no Legislativo, como a ampliação do prazo possível de internação do adolescente que tenha cometido crime gravíssimo --posição que estaFolha tem defendido há muitos anos.

Iniciativas dessa natureza poderiam diminuir o fosso que hoje separa a sociedade de seus representantes no Congresso, mas pouco fariam para reduzir a violência no país. Menos de 2% dos crimes que envolvem mortes têm a participação de adolescentes.

De nada adianta, ademais, dispor de leis rigorosas se elas serão aplicadas apenas a uma parcela ínfima dos bandidos. A sentença judicial representa a última etapa de um processo que se inicia com a atuação da polícia. O esclarecimento de delitos no Estado de São Paulo, entretanto, é ridículo. Tomem-se os roubos: apenas 5,1% deles são resolvidos.

Cansados da situação, moradores da Vila Madalena, na zona oeste paulistana, decidiram criar um programa de prevenção. Por conta própria, instalarão 185 câmeras de vigilância no bairro, entre outras ações, com vistas a frear a disparada de assaltos na região.

Mais que os candidatos ao Senado, os postulantes ao Palácio dos Bandeirantes, a começar pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), deveriam listar suas propostas para que o contribuinte não precise pagar, além dos impostos, pela própria segurança.

O 'sacudón' de Maduro - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 12/08


Foi-se o tempo da jactância chavista em Caracas, quando o caudilho Hugo Chávez e sua feroz militância posavam de libertadores da América, como se o "socialismo do século 21" tivesse vindo para ficar. O dinheiro da revolução acabou - foi desperdiçado em loucuras estatistas e engordou o bolso dos "boligarcas", como são chamados os oportunistas que enriqueceram na esteira do bolivarianismo. O populismo cobrou seu preço, e ao sucessor de Chávez, Nicolás Maduro, parece não ter restado alternativa senão recorrer a um pouco de racionalidade econômica para tentar, literalmente, salvar a pátria. A esse choque Maduro deu o apropriado nome de "sacudón".

Ainda não se sabe exatamente do que se trata o pacote de medidas drásticas prometido por Maduro, mas elas devem incluir a demissão de ministros, o reajuste de impostos e o corte de subsídios, que têm sido o esteio das políticas sociais chavistas. No caso da energia elétrica, por exemplo, o auxílio estatal cobre até 80% da tarifa, o que se tornou insustentável diante do quadro de colapso do país.

A medida mais significativa, porém, deverá ser o reajuste dos preços dos combustíveis - tema que é tabu na Venezuela. Graças ao pesado subsídio, a gasolina do país é a mais barata do mundo - menos de R$ 0,04 por litro. Ao preço de uma garrafa de água mineral, na Venezuela se compram 120 litros de gasolina. Os venezuelanos orgulham-se de encher o tanque praticamente de graça.

Foi justamente o reajuste dos combustíveis, também como parte de um plano de austeridade, que deflagrou uma das maiores convulsões sociais da história da Venezuela, o "Caracazo", movimento espontâneo de protesto ocorrido no governo de Carlos Andrés Pérez, em 1989, que resultou em forte repressão e centenas de mortos. Graças a esse episódio, o movimento golpista liderado por Chávez ganhou força.

Isso basta para perceber a gravidade dos passos que Maduro está prestes a dar, razão pela qual ele está cercando sua decisão de muito mistério - disse que "não há pressa" para promover o reajuste e que o país ainda tem recursos para continuar subsidiando a gasolina. No entanto, Maduro deixou claro que a medida será tomada de qualquer maneira: "Estamos dando gasolina de presente, estamos pagando para que se consuma gasolina. É preciso corrigir isso, sem que haja perturbações econômicas e políticas". Especula-se que o preço da gasolina pode subir entre 22 e 63 vezes. Ainda que Maduro diga que o dinheiro obtido com o reajuste será usado em projetos sociais, será uma pancada e tanto.

Até o passarinho que se faz passar por Chávez sabe que não será fácil para o presidente impor sua vontade. Recém-eleito presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), cargo que estava vago desde a morte de Chávez, em 2013, Maduro detém, ao menos em teoria, poder para implementar as medidas. No entanto, enfrenta graves divisões internas no governo e no PSUV quanto à direção que o país tomará após o "sacudón".

Maduro vem mantendo suspense sobre as medidas em parte justamente porque precisa superar a resistência em suas próprias fileiras. Foi por esse motivo que o presidente advertiu os descontentes: "Vou exigir máxima lealdade e disciplina". Ele acrescentou que não tolerará críticas da "esquerda antiquada" que, segundo ele, pretende tutelá-lo.

No congresso do PSUV, Maduro disse que "há problemas sérios no desenvolvimento do nosso modelo" - e um deles é o controle cambial, que destruiu o que restara de indústria e de agricultura e prejudicou a PDVSA, gigante estatal de petróleo que é o esteio da "revolução bolivariana" e que poderá se desfazer de suas refinarias e distribuidoras nos Estados Unidos para obter divisas. Se quiser mesmo fazer com que o bolívar atinja uma cotação mais realista ante o dólar, no entanto, Maduro terá de enfrentar os radicais do PSUV, que veem na manipulação do câmbio uma forma de controlar as importações. Como se vê, a "transição para o socialismo produtivo (sic)", prometida por Maduro, será turbulenta.

O pesadelo nacional - EDITORIAL ZERO HORA

ZERO HORA - 12/08


Toda a vez que o tema segurança pública surge nos debates de candidatos à presidência da República, os pretendentes ao cargo lembram que se trata de uma atribuição constitucional dos Estados _ e o máximo que o governo federal pode fazer é liberar recursos para programas de construção de presídios, treinamentos de forças policiais e controle do tráfico de armas. Como os governos estaduais nunca têm recursos suficientes para tudo o que necessitam fazer, o cidadão brasileiro sofre a condenação perpétua de viver e morrer exposto a uma variada gama de crimes. Essa é uma questão que não pode mais continuar como está. A campanha eleitoral precisa ser aproveitada como oportunidade de uma ampla revisão do que deve ser feito nesta área.
Apenas no período entre 2008 e 2012, a taxa de homicídios no Brasil aumentou 7%: passou de 24,2 para 25,8 por 100 mil habitantes. Mais de 10 assassinatos por 100 mil habitantes já é considerado um quadro de violência epidêmica. Não é difícil entender por que todas as pesquisas de opinião incluem a preocupação com a segurança como uma das predominantes entre os brasileiros, junto com saúde pública. Num levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas em seis regiões metropolitanas, nada menos do que 80% dos entrevistados se disseram insatisfeitos com o combate à violência.
O enfrentamento da criminalidade exige recursos que os Estados, aos quais compete a missão, não têm. Por isso, precisa haver um envolvimento financeiro mais consistente da União. Lançado há sete anos, o Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci) chegou a acenar com a perspectiva de liberar R$ 7 bilhões para o setor, qualificando-se como uma espécie de PAC da Segurança. Na prática, porém, faltaram programas estaduais adequados para justificar a liberação das verbas. Mais à frente, faltaram também recursos orçamentários.
Enquanto isso, do pouco disponível para segurança nos Estados, uma parte considerável é consumida por custeio e pagamento de salários de profissionais, em sua maioria insatisfeitos com o que ganham. Sob o ponto de vista preventivo e repressivo, a segurança precisa se atualizar, o que exige maior cooperação entre instâncias federativas como forma de garantir os recursos necessários para pôr fim a esse verdadeiro pesadelo chamado insegurança.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Quem quiser colher com a separação dos dois, vai quebrar a cara”
Ministro Gilberto Carvalho, negando novamente qualquer discórdia entre Lula e Dilma



HELICÓPTERO DE DOLEIRO FICAVA NA BAHIA COM ARGÔLO

O helicóptero azul, prefixo PP-PRL, do doleiro Alberto Youssef, ficava estacionado em Salvador, em um heliporto do empresário Jorge Cirne, dono do Motel Del Rey. Segundo políticos da Bahia, a aeronave foi usada pelo deputado Luiz Argôlo (BA), do Solidariedade (SD), por cerca de um ano, e também ficava estacionada em Alagoinhas e Entre Rios, onde o deputado e o pai, Manoelito Argôlo, têm propriedade rural.

DONO OFICIAL

A aeronave usada por Argôlo está registrada na Anac em nome da Cardiomedica Comércio e Representações de Materiais Médicos Ltda.

ESTRANHO

A empresa proprietária do helicóptero, nome de fantasia Multimédica, de Salvador, tem capital de R$ 500 mil e aeronave de R$ 1 milhão.

LICITAÇÕES

Aberta em 2004, a Multimédica ganhou licitações para fornecer próteses à Universidade Federal da Bahia em 2006, 2008 e 2009.

ESTACIONAMENTO

Jorge Cirne confirmou que a aeronave ficava em seu heliporto, mas não informou o dono, nem o cliente: ”Não tenho autorização”.

ADVERSÁRIOS QUESTIONAM PATRIMÔNIO DE REGUFFE

Quase imbatível na disputa para o Senado, o deputado José Antonio Reguffe (PDT-DF) corre o risco de uma tentativa de “desconstrução” de sua reputação de honestidade. As campanhas de Geraldo Magela (PT) e de Gim Argello (PTB), seus adversários, vasculharam suas finanças e pretendem questionar, por exemplo, a evolução do patrimônio de Reguffe, que saltou de R$ 900 mil em 2010 para R$ 2,8 milhões, hoje.

UM FINANCISTA

Os adversários também planejam provocar Reguffe pelo fato de evoluir de zero para R$ 1,8 milhão em aplicações financeiras líquidas.

CORRUPTOS NÃO DECLARAM

Reguffe disse que declara tudo o que tem e ganha, lembrando que, ao contrário dele, são os corruptos os que mentem à Receita Federal.

LIVRANDO-SE DO SOFÁ

O prefeito paulistano Fernando Haddad (PT) vai mudar toda área de comunicação, como se fosse culpa dos profissionais sua má avaliação.

BALANÇO DO NADA

De 638 requerimentos, a CPMI da Petrobras aprovou cerca de 320, até agora. Destes, 128 são para depoimentos e 156 para requisitar documentos, além de 15 quebras de sigilo de pessoas físicas e 12 de empresas.

CHAMANDO PRA BRIGA

O líder do SD, Fernando Francischini (PR), rejeita os “recados” ameaçadores do senador Delcídio Amaral (PT-MS): “O último que fez isso foi Agnelo Queiroz, e acabou com seis processos no STJ”.

JOAQUIM FORA

Ricardo Lewandowski toma posse na presidência do Supremo Tribunal Federal em 10 de setembro. Joaquim Barbosa, que o detesta, não deve atender ao convite, como é habitual entre ministros aposentados.

UM VELHO GAROTO

Apontado com expoente da nova geração, o prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), revela-se um político tão à antiga quanto Benedito de Lira (PP), que ele escolheu apoiar para o governo de Alagoas.

MAU COMO PICA-PAU

Confirmando a sentença de Ulysses Guimarães de que em política o mais bobo dá nó em pingo d’água usando luvas de boxe, o marqueteiro João Santana sabe que agrada Dilma brigando com a dupla que ela detesta: o ex-ministro Franklin Martins e Rui Falcão, presidente do PT.

MULHER-BOMBA

O relator do processo de cassação de Luiz Argôlo (SD-BA), deputado Marcos Rogério (PDT-RO), quer ouvir no Conselho de Ética, já na quarta (13), Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef.

EQUIPARAÇÃO

A Caoa Hyundai sustenta que outras montadoras do Centro-Oeste, como a Mitsubishi, serão beneficiadas com a pretendida “equiparação” aos privilégios tributários concedidas àquelas instaladas no Nordeste.

TIRO NO PÉ

O deputado João Paulo (PT-PE) diz que não atacou o Supremo. Apenas opinou que José Dirceu não deveria ter sido julgado no STF por haver renunciado ao mandato, como o tucano Eduardo Azeredo.

HOMEM-BOMBA DE FESTIM

O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, amigão do senador Delcídio Amaral (PT-MS), depõe na CPMI da Petrobras amanhã. Combinado?


PODER SEM PUDOR

CORDA EM CASA DE ENFORCADO

O editor e escritor Luiz Fernando Emediato, da Geração Editorial, visitava o então ministro da Cultura de FHC, Francisco Weffort. Brincalhão, antes de entrar no assunto que o levava ao ministro, Emediato foi logo dizendo, bem alto:

- Ministro, estou fazendo um filme!

Atormentado com os escândalos envolvendo os filmes Guarani e Chatô, que quase viraram caso de polícia, Weffort reagiu alarmado:

- Pelo amor de Deus! Cuidado na prestação de contas!