A previsão de crescimento da economia brasileira feita pelo Focus caiu para 0,81%. Vem descendo devagar, porque a cada semana um grupo de instituições faz a revisão das projeções. Outros países da região estão com PIB sendo revisados para baixo, mas é bem diferente: a previsão do Chile caiu de 3,5% para 2,8%. No Peru, de 5,4% para 4%. Na Colômbia, a estimativa está subindo.
O ano na América Latina tem sido bem diferente. Não há como tratar os países como um bloco seguindo na mesma trilha. A Tendências Consultoria está dividindo em dois grupos principais: de um lado, Chile, Colômbia, México e Peru, com taxas mais altas de crescimento e mais confiança do investidor. De outro lado, Venezuela e Argentina. A consultoria põe o Brasil no segundo grupo, mas o mais exato, me parece, é considerar que os dois países estão juntos e isolados: Venezuela e Argentina têm problemas gravíssimos, inflação de dois dígitos, recessão, sem falar na crise da dívida argentina. Nós estamos sozinhos. Nem tão mal quanto a dupla do atraso; nem acompanhamos os países que estão crescendo com inflação baixa.
Houve momentos em que os países da região estavam todos indo mal; outros momentos estavam todos em recuperação. Este ano, cada um vive sua história. O Chile, por exemplo, enfrentou dúvidas sobre o programa de governo de Michelle Bachelet.
- A eleição de Bachelet, que prometia aumento de carga tributária para aumentar os gastos públicos, gerou uma certa paralisia nos investimentos, com aumento das incertezas. Isso fez o início do ano no país ser mais fraco do que o esperado - explicou Rodolfo Oliveira, da Tendências.
Outro fator que afetou o Chile foi a queda do preço do cobre, o que também atingiu o Peru, cuja previsão de crescimento foi de 5,4% para 4%.
O México teve o número revisado de 3% para 2,8%. A Colômbia teve a projeção de crescimento revista, mas para cima, de 4,4% para 4,7%. Mas pode ser mais. Nos últimos dados, ela tem crescido bastante. O PIB anualizado do país foi de 6,4% no primeiro trimestre, de acordo com o Departamento Administrativo Nacional de Estatística. O resultado surpreendeu o governo, que esperava 5,5%.
O Citibank calcula que o PIB da Colômbia vai terminar o ano em 4,6%, maior do que o do ano passado, e para 2015 o cálculo é que o país crescerá 5%. A inflação está baixa e o emprego crescendo. Ao repórter Marcelo Loureiro, do blog, a explicação do economista João Pedro Bumachar, que coordena a equipe de análises do Itaú para a América Latina, é de que algumas reformas têm induzido esse crescimento colombiano.
- O governo colocou em curso um pacote de concessões para destravar a infraestrutura do país. O crédito imobiliário também tem crescido forte. Isso fez com que o setor de construção puxasse o crescimento, que realmente surpreendeu - disse Bumachar.
Num relatório recente sobre o México, o Departamento de Economia do Itaú disse que "a indústria continua com um bom desempenho e vai puxar a economia mexicana." Eles esperam 2,4% de crescimento este ano e 3,8% no ano que vem. A inflação está projetada para 3,7%, em 2014, e 3,2%, em 2015.
Os números mostram a diferença e derrubam a tese do governo de que todos os países estão desacelerando. Alguns estão, mas para níveis de crescimento bem maiores do que os do Brasil, e com taxas de inflação mais baixas que as nossas. Na previsão do Focus, o crescimento do PIB deste ano fica em 0,81%, e do ano que vem, em 1,2%, com taxas de inflação acima de 6%.
Não há como fazer os números comparativos atenuarem o péssimo desempenho da economia brasileira. Ganhar, o Brasil só ganha de quem está fora do jogo. A previsão para a Venezuela é de recessão de 2,6%, e para a Argentina, queda de 1,6%. Nos dois países, a inflação está altíssima. Na Argentina, em torno de 40%. Na Venezuela, 75%, pela previsão do FMI.
Nós não somos como os dois países que enfrentam problemas econômicos, políticos, e de relação com credores internacionais, mas estamos longe dos países que estão dando bons passos na América Latina. Portanto, a conversa de que estão todos os países da região - e até fora dela - numa fase de redução do ritmo, porque isso é fenômeno global, está errada. Até economias maduras, cuja tendência é de crescimento menor, estão em melhor situação do que o Brasil este ano.
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