FOLHA DE SP - 12/08
SÃO PAULO - Eles mandaram arrancar os clitóris das mulheres e agora enterram vivos membros de minorias religiosas. Estou falando do ISIS, a organização radical que quer implantar um califado no Iraque e na Síria. Não há dúvida de que o grupo pode ser descrito como "do mal".
Os milicianos do ISIS, porém, não acham que estejam barbarizando. Eles até apresentam "justificativas" para suas ações. No caso da mutilação, ela teria como objetivo evitar "a expansão da libertinagem e da imoralidade". Já as operações de limpeza étnica contra yazidis estariam amparadas no fato de os membros dessa etnia serem "adoradores do diabo" e se recusarem a converter-se ao islã.
Poucas pessoas dotadas de vestígios de bom senso e empatia corroboram essas "justificativas". Como, então, elas não só convenceram os integrantes do ISIS como ainda os levaram às vias de fato? Em suma, como ideias malucas geram violência?
Um corpo crescente de literatura, que inclui autores como Steven Pinker, Roy Baumeister e Jonathan Haidt, mostra que violência e crueldade têm poucas causas principais. Pinker identifica cinco, que respondem pela maior parte das agressões: predação (violência com vistas a atingir um fim), dominância (desejo de obter prestígio), vingança (propensão a reparar injustiças), sadismo (o mal pelo mal, mas este é um fenômeno bem raro) e a ideologia (criar a sociedade perfeita ou concretizar os desejos de Deus). Enquanto as quatro primeiras costumam definir casos de violência interpessoal, é a última que aparece nas grandes tragédias históricas, como nazismo, stalinismo e outros hemoclismos.
Mesmo não acreditando muito em bem e mal em estado puro, não resisto em lembrar uma provocação do físico Steven Weinberg. Para ele, "pessoas boas fazem coisas boas, e pessoas más fazem coisas más. Mas para pessoas boas fazerem coisas más é preciso a religião". Ou o fanatismo político, poderíamos acrescentar.
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