O GLOBO - 17/02
Um país sério jamais deixaria passar impune esse escandaloso estelionato eleitoral em curso
Caro leitor, sei que hoje é terça de carnaval, e a última coisa que quero é azedar o seu clima de folião. Tampouco acho que a situação caótica de nossa economia deveria impedir sua diversão. O ser humano tem direito às fugas da dura realidade de vez em quando, e talvez elas fiquem mais prementes à medida que a situação piore. Mas gostaria de trocar dois dedos de prosa com você.
Só o fato de estar lendo esse texto num dia desses demonstra que faz parte da turma preocupada com os rumos de nosso país, buscando mais informação ou reflexão sobre política e economia. Infelizmente, sinto lhe informar que faz parte de uma minoria. Ao menos é o que percebo olhando em volta. A maioria parece estar tranquila, preocupada mais com a sua escola de samba do que com o futuro do Brasil.
Acha que exagero? Nem tanto, nem tanto. Senão, vejamos: nossa economia está prestes a entrar em recessão, a inflação passou de 7% ao ano e não deve cair tão cedo, corremos o risco de apagão mesmo com a conta de luz subindo sem parar, falta água, as empresas pararam de investir e começam a demitir, a gasolina sobe justo quando o petróleo desaba lá fora, os brasileiros estão muito endividados e a taxa de juros só sobe, o dólar se valorizou bastante e não há a menor perspectiva de melhora à frente. E isso foi apenas a parte econômica.
Peço sua vênia para passarmos para a política agora. O “petrolão” já fez o “mensalão” entrar para o rol de crimes de pequenas causas, com suas cifras bilionárias. Nunca antes na história deste país se viu tanta corrupção, e os militantes petistas ainda tentam nos convencer de que isso se deve ao governo que agora investiga mais, como se quem investigasse não fossem as instituições de estado, com o governo criando obstáculos (tentando impedir a CPI, por exemplo).
Uma quadrilha montou o maior esquema de desvio de recursos públicos de nossa história bem diante de nossos olhos, e o que a Operação Lava-Jato trouxe à tona até agora já seria o suficiente para derrubar o governo em qualquer país sério. Mas o PT diz que falar em impeachment é “golpismo”.
Aliás, parêntese: um país sério jamais deixaria passar impune esse escandaloso estelionato eleitoral em curso. Os americanos foram acusados de hipócritas quando quase derrubaram Clinton por conta de uma mentirinha sobre sexo oral, mas o que nossos “intelectuais” antiamericanos não entendem é que aquele povo não tolera a mentira escancarada dessa forma. Fecho o parêntese.
Volto ao “petrolão”: o PT, partido da presidente, está envolvido até o pescoço, e tudo que Dilma faz, quando não está sumida, é repetir que não vai transigir com os “malfeitores”. Enquanto isso, seu partido trata como herói seu tesoureiro, que teria desviado centenas de milhões para irrigar o caixa da campanha dos petistas.
Já o deprimi o bastante? Calma, estimado leitor. Tome um Prozac. Eu espero. Tomou? Então vamos lá: não são “apenas” a economia e a política que vão muito mal; a saúde, a educação, o transporte público e a segurança também. Ou seja, as funções precípuas do Estado, aquelas que supostamente estariam bem atendidas pelos 40% de impostos que pagamos. Que tal a prestação de serviço do governo?
A carga tributária não para de aumentar. O leitor percebeu alguma melhora nessas áreas? Nem eu. Aliás, as estatísticas mostram que pioraram mesmo. O Brasil caiu no ranking do Pisa por exemplo, que mede a qualidade do ensino. O governo importou como se fossem escravos milhares de “médicos” cubanos, mandando bilhões para o ditador Castro. Por acaso o leitor notou um salto de qualidade no SUS? De segurança é melhor nem falar. Começamos o ano com balas “perdidas” encontrando um alvo inocente por dia!
Agora que dei um panorama bem resumido do que vem acontecendo com nosso país nos últimos anos, pergunto: o povo está ou não está tranquilo, ignorando tudo isso? Afinal, milhares tomaram as ruas em junho de 2013, e o pretexto era o aumento de vinte centavos na passagem de ônibus. Hoje vemos a Petrobras dizer que uma firma independente encontrou mais de R$ 60 bilhões de excesso de valor lançado nos ativos da empresa, e fica por isso mesmo. Ou seja, o PT está destruindo a maior estatal do Brasil, e ninguém parece ligar muito. O petróleo é nosso?
Naquela época, antes de os vândalos mascarados dos “black blocs” destruírem as manifestações espontâneas da população, muitos acreditaram que o gigante havia acordado. Não fui tão otimista. E detesto dizer que estava certo em meu ceticismo. O gigante, meu caro, pode até ter acordado, mas resolveu é cair no samba!
terça-feira, fevereiro 17, 2015
50 risos para Grey - JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 17/02
'Cinquenta Tons de Cinza' vale a pena. Mas somente se você, leitor, for a uma sala com adolescentes
Saio de casa para assistir a "Cinquenta Tons de Cinza", fenômeno na Inglaterra e, claro, no globo inteiro. E então imagino: uma sala lotada com centenas de senhoras de meia-idade, dispostas a conhecer o amado Grey que despertou nelas todos os sonhos esquecidos, reprimidos, adormecidos.
Primeiro choque: sábado à tarde e a sala está quase vazia. Segundo choque: o público presente é composto de adolescentes que vieram em grupo para provar a natureza transgressiva da história. Terceiro choque: eu sou provavelmente o espectador mais velho da sala.
A situação exige medidas drásticas. Sento-me junto a duas amigas, tiro o bloco de notas do bolso e depois, sorrindo, ofereço uma desculpa: "Trabalho". Elas sorriem de volta --e murmuram: "Pois, pois". Afundo na cadeira.
O filme vale a pena. Mas somente se você, leitor, for a uma sala com adolescentes. Eles são o coro perfeito para o que sucede na tela: por cada cena de sexo, por cada gemido, por cada açoite --e a gargalhada é geral.
Entendo. Essa é a geração que, na internet, encontra pornografia "hardcore" instantânea e grátis. As cenas "transgressivas" de "Cinquenta Tons de Cinza" são, para eles, brincadeira de crianças. Literalmente.
Uma das amigas, aliás, comentou com a outra: "Parece que estão brincando de médicos e pacientes". Anotei o comentário. O sadomasoquismo do filme é tão perverso que também eu descobri ter começado a praticá-lo ainda na infância. Quando a professora da escola primária usava a régua para corrigir os meus erros de matemática.
Mas de que trata "Cinquenta Tons de Cinza"? Não li o livro. Comprei-o. Dez páginas depois, reparei que passara as últimas cinco com pensamentos intrusivos ("cortar as unhas", "comprar leite", "marcar almoço com"¦"). Desisti.
De modo que: avancei para o filme no mesmo estado da protagonista Anastasia. Em estado virgem.
Esse é o primeiro momento surreal do filme: quando sabemos que Anastasia permanece ignorante em matéria de flores e abelhas. (O segundo momento é quando ela confessa uma paixão literária por Thomas Hardy.)
A inocência dura pouco: depois de conhecer Grey, o milionário propõe-lhe um contrato para que ela seja o seu brinquedo sexual. Não li o contrato, mas passei alguns minutos a fantasiar o que aconteceria se o dito cujo fosse parar no tribunal por não cumprir uma das partes.
Imaginei discussões legais ("segundo o artigo 2º da cláusula 5ª a sra. Anastasia comprometia-se a receber seis chibatadas, e não apenas quatro"¦"), tudo sob o olhar reprovador do juiz. Mas divago.
No fim, Anastasia está cansada das tareias porque ama Grey. E Grey, incapaz de amar, prefere continuar com as tareias. Um clássico: expectativas divergentes sempre foram um veneno nas relações.
De regresso a casa, consulto bibliografia secundária para compreender o apelo que "Cinquenta Tons de Cinza" teve na imaginação feminina. E descubro, em artigos que parecem cópias uns dos outros, que a história virou fenômeno porque incontáveis mulheres suspiravam por homens como Grey: alguém capaz de usar o cinto para muito mais do que simplesmente segurar as calças.
No fundo, a história seria uma denúncia dos machos "flácidos" (digamos assim) que a cultura feminista promoveu. "Dureza" e "firmeza", eis os quesitos básicos para as mulheres do século 21.
Nada a dizer, tudo a respeitar. Mas, se um pouco de violência é aquilo que falta em muitos lares, a única coisa que se lamenta é a falta de comunicação entre os casais. Se o livro contribuir para mais abertura e mais equimoses, substituindo pontos de ruptura por pontos de sutura, a autora E.L. James já terá dado seu contributo para o amor pós-moderno.
Infelizmente, o filme talvez não esteja à altura do livro. Porque olhando para a figura de Grey --para o seu patético embotamento afetivo-- é duvidoso acreditar que aquilo é príncipe que se apresente para qualquer donzela arfante.
Pelo contrário: as suas fragilidades são tão absolutamente efeminadas que nunca sabemos se ele vai entrar em cena de chicote --ou de fraldas.
Fosse eu o autor da história e teria salvado a relação entre Anastasia e Grey. Bastaria que a primeira conquistasse o coração do segundo oferecendo-lhe o conforto de uma chupeta --mas não é a chupeta que você está pensando.
'Cinquenta Tons de Cinza' vale a pena. Mas somente se você, leitor, for a uma sala com adolescentes
Saio de casa para assistir a "Cinquenta Tons de Cinza", fenômeno na Inglaterra e, claro, no globo inteiro. E então imagino: uma sala lotada com centenas de senhoras de meia-idade, dispostas a conhecer o amado Grey que despertou nelas todos os sonhos esquecidos, reprimidos, adormecidos.
Primeiro choque: sábado à tarde e a sala está quase vazia. Segundo choque: o público presente é composto de adolescentes que vieram em grupo para provar a natureza transgressiva da história. Terceiro choque: eu sou provavelmente o espectador mais velho da sala.
A situação exige medidas drásticas. Sento-me junto a duas amigas, tiro o bloco de notas do bolso e depois, sorrindo, ofereço uma desculpa: "Trabalho". Elas sorriem de volta --e murmuram: "Pois, pois". Afundo na cadeira.
O filme vale a pena. Mas somente se você, leitor, for a uma sala com adolescentes. Eles são o coro perfeito para o que sucede na tela: por cada cena de sexo, por cada gemido, por cada açoite --e a gargalhada é geral.
Entendo. Essa é a geração que, na internet, encontra pornografia "hardcore" instantânea e grátis. As cenas "transgressivas" de "Cinquenta Tons de Cinza" são, para eles, brincadeira de crianças. Literalmente.
Uma das amigas, aliás, comentou com a outra: "Parece que estão brincando de médicos e pacientes". Anotei o comentário. O sadomasoquismo do filme é tão perverso que também eu descobri ter começado a praticá-lo ainda na infância. Quando a professora da escola primária usava a régua para corrigir os meus erros de matemática.
Mas de que trata "Cinquenta Tons de Cinza"? Não li o livro. Comprei-o. Dez páginas depois, reparei que passara as últimas cinco com pensamentos intrusivos ("cortar as unhas", "comprar leite", "marcar almoço com"¦"). Desisti.
De modo que: avancei para o filme no mesmo estado da protagonista Anastasia. Em estado virgem.
Esse é o primeiro momento surreal do filme: quando sabemos que Anastasia permanece ignorante em matéria de flores e abelhas. (O segundo momento é quando ela confessa uma paixão literária por Thomas Hardy.)
A inocência dura pouco: depois de conhecer Grey, o milionário propõe-lhe um contrato para que ela seja o seu brinquedo sexual. Não li o contrato, mas passei alguns minutos a fantasiar o que aconteceria se o dito cujo fosse parar no tribunal por não cumprir uma das partes.
Imaginei discussões legais ("segundo o artigo 2º da cláusula 5ª a sra. Anastasia comprometia-se a receber seis chibatadas, e não apenas quatro"¦"), tudo sob o olhar reprovador do juiz. Mas divago.
No fim, Anastasia está cansada das tareias porque ama Grey. E Grey, incapaz de amar, prefere continuar com as tareias. Um clássico: expectativas divergentes sempre foram um veneno nas relações.
De regresso a casa, consulto bibliografia secundária para compreender o apelo que "Cinquenta Tons de Cinza" teve na imaginação feminina. E descubro, em artigos que parecem cópias uns dos outros, que a história virou fenômeno porque incontáveis mulheres suspiravam por homens como Grey: alguém capaz de usar o cinto para muito mais do que simplesmente segurar as calças.
No fundo, a história seria uma denúncia dos machos "flácidos" (digamos assim) que a cultura feminista promoveu. "Dureza" e "firmeza", eis os quesitos básicos para as mulheres do século 21.
Nada a dizer, tudo a respeitar. Mas, se um pouco de violência é aquilo que falta em muitos lares, a única coisa que se lamenta é a falta de comunicação entre os casais. Se o livro contribuir para mais abertura e mais equimoses, substituindo pontos de ruptura por pontos de sutura, a autora E.L. James já terá dado seu contributo para o amor pós-moderno.
Infelizmente, o filme talvez não esteja à altura do livro. Porque olhando para a figura de Grey --para o seu patético embotamento afetivo-- é duvidoso acreditar que aquilo é príncipe que se apresente para qualquer donzela arfante.
Pelo contrário: as suas fragilidades são tão absolutamente efeminadas que nunca sabemos se ele vai entrar em cena de chicote --ou de fraldas.
Fosse eu o autor da história e teria salvado a relação entre Anastasia e Grey. Bastaria que a primeira conquistasse o coração do segundo oferecendo-lhe o conforto de uma chupeta --mas não é a chupeta que você está pensando.
O preço do petróleo já não perdoa os pecados - JORGE OVIEDO
O GLOBO - 17/02
Contam que Hugo Chávez, com os preços do petróleo a US$ 20, após anos bem desvalorizados, prometia ser “o rei da América Latina” quando a cotação do barril chegasse a US$ 40. Ele quase conseguiu, porque sua companhia petrolífera estatal era uma máquina de obter dólares para o governo, quando o preço do petróleo chegou a quase US$ 150. Chávez faleceu e seu país desmorona devido a inúmeros equívocos acumulados. Do topo, o preço do petróleo cai. E nem mesmo o sistema de múltiplas taxas de câmbio, que permite qualquer tipo de manobras corruptas, incluindo os funcionários, é claro, suporta a pressão.
Agora, uma parte da cotação do câmbio estará liberada ao valor de mercado, esse mesmo mercado que o chavismo e todos seus adeptos venezuelanos e estrangeiros tanto odiaram. Em todo caso, o Estado venezuelano poderá obter mais moeda local por dólares que serão vendidos em leilões.
Para evitar uma explosão de preços e uma queda dramática da renda dos trabalhadores, manteve-se uma taxa de câmbio oficial mais que artificial, cotado a pouco mais de oito bolívares, que é acessível apenas a importadores de bens considerados como imprescindíveis. A Venezuela importa quase tudo. É outro fracasso brutal do chavismo, que estatizou a ferro e fogo inúmeras empresas, que hoje não conseguem abastecer a demanda interna.
Um segundo dólar será para o turismo, com quantidades mais que limitadas. Com um teto de US$ 3 mil por ano pode-se dizer que os venezuelanos estão tacitamente proibidos de ir ao exterior, a não ser que o façam como mochileiros.
A solução é de um mercado livre que presumivelmente continuará orbitando próximo aos preços do paralelo ou “ilegal”, e que na Venezuela não se pode nem mencionar na imprensa sem ser por meio de eufemismos. Mas não será um mercado totalmente livre porque haverá limitação de quantidades.
O que pensaria o falecido comandante se pudesse ver seus herdeiros aplicando receitas parecidas às que, na Argentina, são aconselhadas por Domingo Cavallo (ex-ministro de Economia de Carlos Menem e autor do plano de conversibilidade argentino) para sair do buraco? O ex-ministro argentino sugere uma transição em que haja um dólar comercial, mas igualmente um câmbio livre, cuja cotação venha do resultado da oferta e da demanda públicas e cujo preço, seria razoável especular, se pareceria inicialmente ao do dólar paralelo.
O auge dos preços das matérias-primas, que permitiu a heterodoxia dos que se imaginaram “líderes da Pátria Grande”, está chegando ao fim; e alguns acreditam que por causa do discurso, o relato, os caprichos, o populismo e os sonhos de reinados regionais perderam inúmeras oportunidades.
O equatoriano Rafael Correa não pode desvalorizar porque seu país tem o dólar como moeda.
O petróleo se desvaloriza e o dólar se valoriza frente às moedas dos países vizinhos. Trata-se de uma grande oportunidade para que Peru e Colômbia, após desvalorizarem suas moedas, exportem para o Equador. Aos governados por Correa comprar no exterior sai mais barato. Então, quem inventou o ato de rasgar jornais que publicam notícias que lhes desagradam, gesto logo imitado por Jorge Capitanich (chefe de Gabinete da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que rasgou uma edição do jornal “Clarín”), impôs taxações às importações, o que é proibido pela Comunidade Andina de Nações. Já foi exigido a Quito que retire as medidas e indenize os afetados. Correa, discípulo de Chávez, não cumpriu. Por enquanto ainda não rasgou nada.
Contam que Hugo Chávez, com os preços do petróleo a US$ 20, após anos bem desvalorizados, prometia ser “o rei da América Latina” quando a cotação do barril chegasse a US$ 40. Ele quase conseguiu, porque sua companhia petrolífera estatal era uma máquina de obter dólares para o governo, quando o preço do petróleo chegou a quase US$ 150. Chávez faleceu e seu país desmorona devido a inúmeros equívocos acumulados. Do topo, o preço do petróleo cai. E nem mesmo o sistema de múltiplas taxas de câmbio, que permite qualquer tipo de manobras corruptas, incluindo os funcionários, é claro, suporta a pressão.
Agora, uma parte da cotação do câmbio estará liberada ao valor de mercado, esse mesmo mercado que o chavismo e todos seus adeptos venezuelanos e estrangeiros tanto odiaram. Em todo caso, o Estado venezuelano poderá obter mais moeda local por dólares que serão vendidos em leilões.
Para evitar uma explosão de preços e uma queda dramática da renda dos trabalhadores, manteve-se uma taxa de câmbio oficial mais que artificial, cotado a pouco mais de oito bolívares, que é acessível apenas a importadores de bens considerados como imprescindíveis. A Venezuela importa quase tudo. É outro fracasso brutal do chavismo, que estatizou a ferro e fogo inúmeras empresas, que hoje não conseguem abastecer a demanda interna.
Um segundo dólar será para o turismo, com quantidades mais que limitadas. Com um teto de US$ 3 mil por ano pode-se dizer que os venezuelanos estão tacitamente proibidos de ir ao exterior, a não ser que o façam como mochileiros.
A solução é de um mercado livre que presumivelmente continuará orbitando próximo aos preços do paralelo ou “ilegal”, e que na Venezuela não se pode nem mencionar na imprensa sem ser por meio de eufemismos. Mas não será um mercado totalmente livre porque haverá limitação de quantidades.
O que pensaria o falecido comandante se pudesse ver seus herdeiros aplicando receitas parecidas às que, na Argentina, são aconselhadas por Domingo Cavallo (ex-ministro de Economia de Carlos Menem e autor do plano de conversibilidade argentino) para sair do buraco? O ex-ministro argentino sugere uma transição em que haja um dólar comercial, mas igualmente um câmbio livre, cuja cotação venha do resultado da oferta e da demanda públicas e cujo preço, seria razoável especular, se pareceria inicialmente ao do dólar paralelo.
O auge dos preços das matérias-primas, que permitiu a heterodoxia dos que se imaginaram “líderes da Pátria Grande”, está chegando ao fim; e alguns acreditam que por causa do discurso, o relato, os caprichos, o populismo e os sonhos de reinados regionais perderam inúmeras oportunidades.
O equatoriano Rafael Correa não pode desvalorizar porque seu país tem o dólar como moeda.
O petróleo se desvaloriza e o dólar se valoriza frente às moedas dos países vizinhos. Trata-se de uma grande oportunidade para que Peru e Colômbia, após desvalorizarem suas moedas, exportem para o Equador. Aos governados por Correa comprar no exterior sai mais barato. Então, quem inventou o ato de rasgar jornais que publicam notícias que lhes desagradam, gesto logo imitado por Jorge Capitanich (chefe de Gabinete da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que rasgou uma edição do jornal “Clarín”), impôs taxações às importações, o que é proibido pela Comunidade Andina de Nações. Já foi exigido a Quito que retire as medidas e indenize os afetados. Correa, discípulo de Chávez, não cumpriu. Por enquanto ainda não rasgou nada.
Efeitos da demarcação - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 17/02
Em março de 2009, o Supremo Tribunal Federal (STF) pôs fim a uma longa batalha judicial a respeito da demarcação da reserva Raposa-Serra do Sol, em Roraima. A mais alta Corte do País determinou que a demarcação da reserva deveria ser contínua e que os não índios deveriam desocupar imediatamente o local. Quase seis anos depois, os efeitos da decisão do STF no Estado de Roraima são notórios. Conforme reportagem do Estado, a produção agrícola caiu, aumentou o funcionalismo público e cresceram os repasses federais. Ou seja, a região enfraqueceu-se economicamente e está mais dependente da União, trilhando o caminho inverso do que era de esperar.
Alvo de disputa desde os anos 70, a terra indígena Raposa-Serra do Sol foi declarada em 1998 de posse permanente indígena por meio de portaria do Ministério da Justiça, o que desencadeou diversos processos judiciais questionando a decisão. Em 2005, o presidente Lula homologou novamente a reserva, mas a contenda jurídica não cessou. Seria finalizada pelo STF apenas em 2009, quando se estabeleceu que a reserva deveria ser contínua, determinando a saída imediata dos agricultores não indígenas. Ficava assim definido que a população indígena da área - em torno de 20 mil pessoas, na época - teria direito ao usufruto exclusivo das riquezas naturais e das utilidades existentes na reserva, uma área com aproximadamente 1,7 milhão de hectares e perímetro de mil km.
Como era previsível, o Estado de Roraima, que atualmente tem metade da sua área destinada a reservas indígenas, vem sofrendo as consequências da demarcação da Reserva Raposa-Serra do Sol. Com a expulsão dos agricultores, a exportação agrícola do Estado caiu pela metade. Em 2006, a produção agrícola totalizava US$ 16,4 milhões. Em 2013, o valor já não ultrapassava US$ 8 milhões. Essa queda não deixa de ser um reflexo da diminuição da área dedicada à agricultura. Por exemplo, em 2009, 22 mil hectares de terra eram utilizados para a plantação de arroz. Em 2010, eram apenas 9 mil hectares.
Com a diminuição da sua capacidade produtiva, o Estado de Roraima ficou ainda mais dependente do governo federal, necessitando de maiores repasses. Em 2009, os repasses da União foram de R$ 1,8 bilhão. Em 2013, totalizaram R$ 2,4 bilhões.
Com a demarcação, a situação econômica e social de muitas pessoas - índias e não índias - se tornou precária. Não poucos índios se tornaram mendigos. Para alguns comerciantes, a solução foi migrar para a Guiana, como forma de escapar de entraves burocráticos em Roraima. Segundo comerciantes brasileiros instalados na Guiana, ouvidos pela reportagem do Estado, a demarcação da reserva aumentou as exigências burocráticas; por exemplo, a apresentação de documentos de posse de terras para obter crédito e empréstimos no banco. Um servidor público relata também que, "com a saída dos arrozeiros, a cidade perdeu economia. E o contrabando (de gasolina, oriunda da Venezuela) virou meio de vida aqui".
Algumas ONGs internacionais, que tiveram participação expressiva no processo judicial da demarcação de terras contínuas da Raposa-Serra do Sol, continuam atuantes na área e batalhando pela não integração dos índios, já que entendem ser a integração um processo radicalmente desigual. No entanto, para o antropólogo Edward Luz, ex-consultor da Funai, a proposta de muitas das ONGs é um retorno ao passado e, com isso, "povos indígenas brasileiros são impedidos de produzir, explorar as riquezas de suas terras, e passam a viver na miséria. (...) Isso sem falarmos das mulheres, que são submetidas a abusos de toda ordem sem que os homens sejam punidos".
Os desafios da reserva indígena Raposa-Serra do Sol são inúmeros. E levantam sérias dúvidas a respeito da capacidade do Estado, seja em qual esfera for, para resolvê-los. O respeito aos índios vai muito além da demarcação de terras exclusivas, e não necessariamente passa por demarcá-las sempre. Casos complexos dificilmente são resolvidos com soluções únicas predefinidas.
Em março de 2009, o Supremo Tribunal Federal (STF) pôs fim a uma longa batalha judicial a respeito da demarcação da reserva Raposa-Serra do Sol, em Roraima. A mais alta Corte do País determinou que a demarcação da reserva deveria ser contínua e que os não índios deveriam desocupar imediatamente o local. Quase seis anos depois, os efeitos da decisão do STF no Estado de Roraima são notórios. Conforme reportagem do Estado, a produção agrícola caiu, aumentou o funcionalismo público e cresceram os repasses federais. Ou seja, a região enfraqueceu-se economicamente e está mais dependente da União, trilhando o caminho inverso do que era de esperar.
Alvo de disputa desde os anos 70, a terra indígena Raposa-Serra do Sol foi declarada em 1998 de posse permanente indígena por meio de portaria do Ministério da Justiça, o que desencadeou diversos processos judiciais questionando a decisão. Em 2005, o presidente Lula homologou novamente a reserva, mas a contenda jurídica não cessou. Seria finalizada pelo STF apenas em 2009, quando se estabeleceu que a reserva deveria ser contínua, determinando a saída imediata dos agricultores não indígenas. Ficava assim definido que a população indígena da área - em torno de 20 mil pessoas, na época - teria direito ao usufruto exclusivo das riquezas naturais e das utilidades existentes na reserva, uma área com aproximadamente 1,7 milhão de hectares e perímetro de mil km.
Como era previsível, o Estado de Roraima, que atualmente tem metade da sua área destinada a reservas indígenas, vem sofrendo as consequências da demarcação da Reserva Raposa-Serra do Sol. Com a expulsão dos agricultores, a exportação agrícola do Estado caiu pela metade. Em 2006, a produção agrícola totalizava US$ 16,4 milhões. Em 2013, o valor já não ultrapassava US$ 8 milhões. Essa queda não deixa de ser um reflexo da diminuição da área dedicada à agricultura. Por exemplo, em 2009, 22 mil hectares de terra eram utilizados para a plantação de arroz. Em 2010, eram apenas 9 mil hectares.
Com a diminuição da sua capacidade produtiva, o Estado de Roraima ficou ainda mais dependente do governo federal, necessitando de maiores repasses. Em 2009, os repasses da União foram de R$ 1,8 bilhão. Em 2013, totalizaram R$ 2,4 bilhões.
Com a demarcação, a situação econômica e social de muitas pessoas - índias e não índias - se tornou precária. Não poucos índios se tornaram mendigos. Para alguns comerciantes, a solução foi migrar para a Guiana, como forma de escapar de entraves burocráticos em Roraima. Segundo comerciantes brasileiros instalados na Guiana, ouvidos pela reportagem do Estado, a demarcação da reserva aumentou as exigências burocráticas; por exemplo, a apresentação de documentos de posse de terras para obter crédito e empréstimos no banco. Um servidor público relata também que, "com a saída dos arrozeiros, a cidade perdeu economia. E o contrabando (de gasolina, oriunda da Venezuela) virou meio de vida aqui".
Algumas ONGs internacionais, que tiveram participação expressiva no processo judicial da demarcação de terras contínuas da Raposa-Serra do Sol, continuam atuantes na área e batalhando pela não integração dos índios, já que entendem ser a integração um processo radicalmente desigual. No entanto, para o antropólogo Edward Luz, ex-consultor da Funai, a proposta de muitas das ONGs é um retorno ao passado e, com isso, "povos indígenas brasileiros são impedidos de produzir, explorar as riquezas de suas terras, e passam a viver na miséria. (...) Isso sem falarmos das mulheres, que são submetidas a abusos de toda ordem sem que os homens sejam punidos".
Os desafios da reserva indígena Raposa-Serra do Sol são inúmeros. E levantam sérias dúvidas a respeito da capacidade do Estado, seja em qual esfera for, para resolvê-los. O respeito aos índios vai muito além da demarcação de terras exclusivas, e não necessariamente passa por demarcá-las sempre. Casos complexos dificilmente são resolvidos com soluções únicas predefinidas.
Carga pesada - VERA MAGALHÃES
FOLHA DE SP - 17/02
O ministro Joaquim Levy (Fazenda) acertou com Luiza Trajano, vice-presidente do IDV (Instituto de Defesa do Varejo), a criação de um grupo de trabalho, que começará a funcionar já na semana que vem, para propor uma fórmula que reduza a cumulatividade do PIS e da Cofins, apontada por empresários do varejo como responsável por onerar os produtos. Levy concordou com o estudo, desde que a proposta não acarrete a redução da arrecadação final dos dois tributos.
Tripartite
O ministro Joaquim Levy (Fazenda) acertou com Luiza Trajano, vice-presidente do IDV (Instituto de Defesa do Varejo), a criação de um grupo de trabalho, que começará a funcionar já na semana que vem, para propor uma fórmula que reduza a cumulatividade do PIS e da Cofins, apontada por empresários do varejo como responsável por onerar os produtos. Levy concordou com o estudo, desde que a proposta não acarrete a redução da arrecadação final dos dois tributos.
Tripartite
A comissão que vai estudar as mudanças na incidência do PIS e da Cofins sobre o varejo será composta por técnicos do IDV, um grupo de empresários do setor e representantes do Ministério da Fazenda.
Uma mão...
Uma mão...
O senador Fernando Bezerra Coelho acertou com o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) que o PSB vai ajudar o governo no Senado. O primeiro gesto está sendo a recusa do partido em assinar o requerimento para a criação de uma CPI mista da Petrobras.
... lava a outra
... lava a outra
Em contrapartida, Bezerra Coelho, uma voz contrária à permanência do PSB na oposição, negocia que o governo federal ajude financeiramente os governos de Pernambuco e do Distrito Federal e a Prefeitura do Recife, principais administrações do partido.
Dossiê
Dossiê
Aliados do ministro Vinicius Lages (Turismo) levantaram dados da Operação Voucher, que desbaratou esquema de corrupção na pasta e atingiu um aliado político do ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
Histórico
Histórico
Alves é cotado para assumir o Turismo, caso não seja incluído no rol de políticos implicados na Operação Lava Jato. Sua indicação seria uma forma de o governo recompor relações com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Mudança...
Mudança...
As altas constantes no nível de água do sistema Cantareira animaram aliados de Geraldo Alckmin. Antes preocupados com a necessidade do uso do terceiro volume morto, eles passaram a mostrar esperança de recuperação da segunda cota.
... de foco
... de foco
Nesta segunda, as represas do Cantareira chegaram a 7,8% da capacidade. Com 10,7% (2,9 pontos a mais), voltariam a operar no primeiro volume morto.
Chamada
Chamada
O PPS pretende apresentar nesta quarta-feira um questionamento à Comissão de Ética da Presidência da República sobre os encontros do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) com advogados de investigados na Operação Lava Jato.
Às claras
Às claras
"Precisamos saber a serviço de quem ele recebeu esses advogados. E por que decidiu omitir os encontros da sociedade?", questiona o deputado Rubens Bueno (PR), líder da bancada.
Uma ova
Uma ova
O PT divulga em seu site e nas redes sociais o meme #ImpitimanMeuZovo, surgido depois que manifestantes apareceram numa reportagem da Rede Globo sobre Carnaval erguendo cartazes com a frase, contrária às manifestações pró-impeachment de Dilma Rousseff.
Progressão...
Progressão...
Dilma vem demorando mais tempo a cada indicação de ministros do STF. A presidente começou rápido: levou um mês depois de eleita para nomear Luiz Fux para uma vaga já aberta desde o governo Lula.
... geométrica
... geométrica
Depois, levou 3 meses para indicar Rosa Weber, 5 meses para escolher Teori Zavascki e 6 meses para apontar Luís Roberto Barroso. A vaga de Joaquim Barbosa já está aberta há quase sete meses.
Em bloco
Em bloco
Um dos articuladores da escolha do deputado Fernando Capez como nome do PSDB para disputar a presidência da Assembleia paulista, Carlão Pignatari tem sido apontado por tucanos como favorito da bancada à liderança do partido.
com BRUNO BOGHOSSIAN e PAULO GAMA
TIROTEIO
"Sugiro ao prefeito criar a Secretaria da Verdade. Assim, poderá sonhar que é popular, grande administrador e brilhante debatedor."
DE MARCO ANTONIO VILLA, historiador, sobre Fernando Haddad ter se gabado de ter reagido quando "apertado" por ele em entrevista à rádio Jovem Pan.
CONTRAPONTO
Trem das onze
No final do ano passado, o IDS --instituto ligado a Marina Silva-- promoveu um evento para lançar a plataforma Brasil Democrático e Sustentável, conjunto de propostas elaborado pela ex-senadora e por colaboradores.
O ambientalista Sérgio Leitão, um dos convidados do debate, apontou descaso de governos com o transporte público em grandes cidades. Lembrou que, em 1964, Adoniran Barbosa dizia que precisaria abandonar a namorada às 23h para não perder o último trem --e que hoje as estações em São Paulo fecham à meia-noite.
--Cinquenta anos depois, o máximo que o poder conseguiu oferecer aos pobres foi uma hora a mais de amor!
com BRUNO BOGHOSSIAN e PAULO GAMA
TIROTEIO
"Sugiro ao prefeito criar a Secretaria da Verdade. Assim, poderá sonhar que é popular, grande administrador e brilhante debatedor."
DE MARCO ANTONIO VILLA, historiador, sobre Fernando Haddad ter se gabado de ter reagido quando "apertado" por ele em entrevista à rádio Jovem Pan.
CONTRAPONTO
Trem das onze
No final do ano passado, o IDS --instituto ligado a Marina Silva-- promoveu um evento para lançar a plataforma Brasil Democrático e Sustentável, conjunto de propostas elaborado pela ex-senadora e por colaboradores.
O ambientalista Sérgio Leitão, um dos convidados do debate, apontou descaso de governos com o transporte público em grandes cidades. Lembrou que, em 1964, Adoniran Barbosa dizia que precisaria abandonar a namorada às 23h para não perder o último trem --e que hoje as estações em São Paulo fecham à meia-noite.
--Cinquenta anos depois, o máximo que o poder conseguiu oferecer aos pobres foi uma hora a mais de amor!
Teorias da conspiração - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 17/02
Mais do que nunca, a direção do Partido dos Trabalhadores (PT), acuada por sucessivos escândalos de corrupção, resolveu que o ataque é a melhor defesa - mesmo que isso signifique distribuir caneladas toscas. O partido decidiu atribuir suas agruras, agora oficialmente, a uma trama liderada por seus adversários da "direita". A teoria da conspiração consta da última resolução publicada pelo Diretório Nacional do PT.
Confundindo-se com o próprio Estado, o PT considera que todas as acusações contra o partido visam, na verdade, a desestabilizar o País - e os petistas então convocam a militância a "defender a democracia e as conquistas do povo". Para isso, conforme se lê na mesma frase da resolução, é preciso "denunciar as tentativas de desqualificar a atividade política e de criminalizar o PT".
Não é a primeira vez que o partido se diz vítima de uma campanha que, segundo seu discurso, tem como verdadeiro alvo a classe política em geral. Nem parece o mesmo partido cujo principal líder, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já se referiu ao Congresso, nos idos de 1993, como o abrigo de "300 picaretas". Mas aqueles eram tempos em que o PT era oposição - orgulhosamente raivosa e sem nenhuma dificuldade para boicotar as verdadeiras conquistas dos brasileiros, como o controle da inflação proporcionado pelo Plano Real.
Agora, após 12 anos na Presidência, o PT parece considerar que nenhuma forma de oposição é aceitável e que qualquer movimento que lhe soe como ameaça à sua permanência no poder só pode ser qualificado como "golpista". A resolução, não por coincidência, usa esse termo e, ato contínuo, propõe um movimento que forme "em torno da reforma política democrática uma vontade majoritária na sociedade".
Que a reforma política é necessária, não há dúvida. Quando proposta pelo PT, no entanto, a tal "reforma" deve ser entendida como uma manobra para facilitar a perpetuação do partido no poder - contra as "elites que não conseguem vencer e nem convencer pelas ideias", conforme diz a resolução.
O cardápio da reforma petista é conhecido. Em primeiro lugar, o partido quer o fim das doações de empresas para campanhas eleitorais. A proposta, em si, é correta, mas, na boca dos dirigentes petistas, ela se presta à mistificação segundo a qual foi esse tipo de financiamento que resultou nos escândalos do mensalão e do petrolão. Nessa lógica de botequim, os políticos (especialmente os do PT) seriam vítimas de um sistema que os corrompe. É uma forma de dizer que o malandro não delinquiu porque é desonesto, mas porque a isso foi levado pelas circunstâncias.
Embora desdenhe do mundo político, a resolução petista "conclama a militância" a articular "partidos, organizações e entidades" para criar "uma força política capaz de ampliar nossa governabilidade para além do Parlamento". Ou seja, como está enfrentando enormes dificuldades no Congresso, o PT quer apelar às ruas para garantir a "governabilidade" - eufemismo para o completo controle petista sobre o processo político e social.
Para conseguir esse objetivo, nada melhor do que inventar um complô da oposição contra a principal estatal e maior empresa do País. A resolução do PT denuncia "as tentativas daqueles que investem contra a Petrobrás" e diz que as seguidas acusações de corrupção envolvendo o partido são fruto da "instrumentalização" das investigações, feitas "de forma fraudulenta", com "objetivos partidários". As denúncias, afirmam os petistas, "pretendem, na verdade, revogar o regime de partilha no pré-sal, destruir a política de conteúdo nacional e, inclusive, privatizar a empresa". Botar em pratos limpos a roubalheira que dilapidou a Petrobrás equivale, portanto, a um crime de lesa-pátria.
Como se vê, é difícil de escolher, na resolução do PT, que parte simboliza melhor as imposturas do partido. Talvez a melhor passagem seja a que diz que o PT "reafirma a disposição firme e inabalável de apoiar o combate à corrupção" e que "qualquer filiado que tiver, de forma comprovada, participado de corrupção deve ser expulso". Os mensaleiros, ovacionados como "guerreiros do povo brasileiro" pela militância petista, que o digam.
Mais do que nunca, a direção do Partido dos Trabalhadores (PT), acuada por sucessivos escândalos de corrupção, resolveu que o ataque é a melhor defesa - mesmo que isso signifique distribuir caneladas toscas. O partido decidiu atribuir suas agruras, agora oficialmente, a uma trama liderada por seus adversários da "direita". A teoria da conspiração consta da última resolução publicada pelo Diretório Nacional do PT.
Confundindo-se com o próprio Estado, o PT considera que todas as acusações contra o partido visam, na verdade, a desestabilizar o País - e os petistas então convocam a militância a "defender a democracia e as conquistas do povo". Para isso, conforme se lê na mesma frase da resolução, é preciso "denunciar as tentativas de desqualificar a atividade política e de criminalizar o PT".
Não é a primeira vez que o partido se diz vítima de uma campanha que, segundo seu discurso, tem como verdadeiro alvo a classe política em geral. Nem parece o mesmo partido cujo principal líder, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já se referiu ao Congresso, nos idos de 1993, como o abrigo de "300 picaretas". Mas aqueles eram tempos em que o PT era oposição - orgulhosamente raivosa e sem nenhuma dificuldade para boicotar as verdadeiras conquistas dos brasileiros, como o controle da inflação proporcionado pelo Plano Real.
Agora, após 12 anos na Presidência, o PT parece considerar que nenhuma forma de oposição é aceitável e que qualquer movimento que lhe soe como ameaça à sua permanência no poder só pode ser qualificado como "golpista". A resolução, não por coincidência, usa esse termo e, ato contínuo, propõe um movimento que forme "em torno da reforma política democrática uma vontade majoritária na sociedade".
Que a reforma política é necessária, não há dúvida. Quando proposta pelo PT, no entanto, a tal "reforma" deve ser entendida como uma manobra para facilitar a perpetuação do partido no poder - contra as "elites que não conseguem vencer e nem convencer pelas ideias", conforme diz a resolução.
O cardápio da reforma petista é conhecido. Em primeiro lugar, o partido quer o fim das doações de empresas para campanhas eleitorais. A proposta, em si, é correta, mas, na boca dos dirigentes petistas, ela se presta à mistificação segundo a qual foi esse tipo de financiamento que resultou nos escândalos do mensalão e do petrolão. Nessa lógica de botequim, os políticos (especialmente os do PT) seriam vítimas de um sistema que os corrompe. É uma forma de dizer que o malandro não delinquiu porque é desonesto, mas porque a isso foi levado pelas circunstâncias.
Embora desdenhe do mundo político, a resolução petista "conclama a militância" a articular "partidos, organizações e entidades" para criar "uma força política capaz de ampliar nossa governabilidade para além do Parlamento". Ou seja, como está enfrentando enormes dificuldades no Congresso, o PT quer apelar às ruas para garantir a "governabilidade" - eufemismo para o completo controle petista sobre o processo político e social.
Para conseguir esse objetivo, nada melhor do que inventar um complô da oposição contra a principal estatal e maior empresa do País. A resolução do PT denuncia "as tentativas daqueles que investem contra a Petrobrás" e diz que as seguidas acusações de corrupção envolvendo o partido são fruto da "instrumentalização" das investigações, feitas "de forma fraudulenta", com "objetivos partidários". As denúncias, afirmam os petistas, "pretendem, na verdade, revogar o regime de partilha no pré-sal, destruir a política de conteúdo nacional e, inclusive, privatizar a empresa". Botar em pratos limpos a roubalheira que dilapidou a Petrobrás equivale, portanto, a um crime de lesa-pátria.
Como se vê, é difícil de escolher, na resolução do PT, que parte simboliza melhor as imposturas do partido. Talvez a melhor passagem seja a que diz que o PT "reafirma a disposição firme e inabalável de apoiar o combate à corrupção" e que "qualquer filiado que tiver, de forma comprovada, participado de corrupção deve ser expulso". Os mensaleiros, ovacionados como "guerreiros do povo brasileiro" pela militância petista, que o digam.
Frágil Mercosul - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 17/02
Acordo comercial entre Argentina e China mostra que o bloco latino-americano representa uma trava apenas para os interesses do Brasil
O acordo comercial entre Argentina e China, assinado na semana passada em Pequim, é a mais recente demonstração de que o Mercosul agoniza, não só na esfera econômica mas também na política.
Os dois países fecharam convênios que envolvem mais de US$ 20 bilhões. São previstos US$ 5 bilhões em financiamentos para duas usinas hidrelétricas, a serem construídas por empreiteiras chinesas, e US$ 2,5 bilhões em ferrovias, entre outros projetos de infraestrutura, indústria e pesquisa.
Em troca do dinheiro, a China poderá fornecer materiais e até mão de obra, condição que só fora aceita por nações africanas. Aponta-se ainda para a possibilidade de isenção tarifária para equipamentos, o que pode tornar produtos chineses mais competitivos do que os oriundos de países do Mercosul.
Com uma decisão unilateral, a Argentina expõe o bloco ao avanço da concorrência asiática, sem contrapartidas. Trata-se de ameaça que não pode ser desprezada, sobretudo pelo Brasil, que tem no Mercosul o principal mercado para manufaturados; cerca de 90% das exportações para a Argentina em 2014 foram de bens industriais.
Sinais de perda de espaço dos produtos brasileiros se acumulam. No ano passado, as vendas para o vizinho caíram 27%, ao passo que as chinesas recuaram apenas 5%.
Para preservar divisas, o governo argentino exige licenças prévias de importação, mecanismo cada vez mais restritivo --ao menos para empresas brasileiras, pois existe a suspeita de que as chinesas venham obtendo facilidades.
Enquanto o Brasil continua a respeitar as regras do bloco, mesmo quando estas impedem avanços importantes, como o tão arrastado acordo comercial com a União Europeia, a Argentina não demonstra o mesmo apreço.
A presidente Cristina Kirchner, pressionada por fatores como recessão interna, fuga de capitais, alta inflação e isolamento dos mercados externos, não hesitou em apostar no dinheiro chinês para reforçar suas reservas internacionais e conseguir chegar às eleições de outubro deste ano sem maiores sobressaltos na economia.
Está mais do que na hora de o Brasil buscar seus próprios interesses. A indústria nacional tem muito mais diversificação e musculatura que a argentina para se integrar nas cadeias globais de valor e enfrentar mercados mais abertos.
Não se defende que o país deixe de considerar a integração latino-americana como pilar da política externa. Ao contrário, no campo econômico, é preciso usar a vantagem natural do Brasil na região --incluindo o bloco andino-- como plataforma para aprofundar suas relações com o restante do mundo.
Acordo comercial entre Argentina e China mostra que o bloco latino-americano representa uma trava apenas para os interesses do Brasil
O acordo comercial entre Argentina e China, assinado na semana passada em Pequim, é a mais recente demonstração de que o Mercosul agoniza, não só na esfera econômica mas também na política.
Os dois países fecharam convênios que envolvem mais de US$ 20 bilhões. São previstos US$ 5 bilhões em financiamentos para duas usinas hidrelétricas, a serem construídas por empreiteiras chinesas, e US$ 2,5 bilhões em ferrovias, entre outros projetos de infraestrutura, indústria e pesquisa.
Em troca do dinheiro, a China poderá fornecer materiais e até mão de obra, condição que só fora aceita por nações africanas. Aponta-se ainda para a possibilidade de isenção tarifária para equipamentos, o que pode tornar produtos chineses mais competitivos do que os oriundos de países do Mercosul.
Com uma decisão unilateral, a Argentina expõe o bloco ao avanço da concorrência asiática, sem contrapartidas. Trata-se de ameaça que não pode ser desprezada, sobretudo pelo Brasil, que tem no Mercosul o principal mercado para manufaturados; cerca de 90% das exportações para a Argentina em 2014 foram de bens industriais.
Sinais de perda de espaço dos produtos brasileiros se acumulam. No ano passado, as vendas para o vizinho caíram 27%, ao passo que as chinesas recuaram apenas 5%.
Para preservar divisas, o governo argentino exige licenças prévias de importação, mecanismo cada vez mais restritivo --ao menos para empresas brasileiras, pois existe a suspeita de que as chinesas venham obtendo facilidades.
Enquanto o Brasil continua a respeitar as regras do bloco, mesmo quando estas impedem avanços importantes, como o tão arrastado acordo comercial com a União Europeia, a Argentina não demonstra o mesmo apreço.
A presidente Cristina Kirchner, pressionada por fatores como recessão interna, fuga de capitais, alta inflação e isolamento dos mercados externos, não hesitou em apostar no dinheiro chinês para reforçar suas reservas internacionais e conseguir chegar às eleições de outubro deste ano sem maiores sobressaltos na economia.
Está mais do que na hora de o Brasil buscar seus próprios interesses. A indústria nacional tem muito mais diversificação e musculatura que a argentina para se integrar nas cadeias globais de valor e enfrentar mercados mais abertos.
Não se defende que o país deixe de considerar a integração latino-americana como pilar da política externa. Ao contrário, no campo econômico, é preciso usar a vantagem natural do Brasil na região --incluindo o bloco andino-- como plataforma para aprofundar suas relações com o restante do mundo.
A Ferj confunde arbitral com arbitrário - MARCIO BRAGA
O GLOBO - 17/02
Há muito tempo que a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) não passa de uma entidade parasita autoritária. Retém um pedaço do dinheiro da televisão e confisca quase todos os recursos das placas de publicidade estática do Campeonato Carioca.
E ainda extorque dos clubes 10% da receita bruta de todos os jogos, ao arrepio do seu próprio estatuto, que prevê no máximo 10% da renda líquida. É a Federação que mais morde os clubes no Brasil. Ao menos se promovesse um bom campeonato...
Em 2014, 90% dos jogos organizados pela Ferj causaram prejuízos aos times e apenas quatro partidas levaram mais de 15 mil pessoas aos estádios. Mais da metade dos jogos teve menos de 500 torcedores.
Para os que achavam que 2015 não poderia ser pior, a Ferj se superou. Impôs aos clubes a Lei da Mordaça e tabelou os ingressos. A ameaça de multar quem criticar o campeonato é um vício de origem ditatorial do sistema clubes-federações, criado pelo Estado Novo em 1941.
O Brasil já se libertou dos grilhões da ditadura há mais de duas décadas. O esporte ainda continua preso a essa estrutura engessada, arcaica e autoritária. A Constituição de 1988, que tive a honra de subscrever como constituinte, garante a liberdade de expressão.
A Ferj presta um desserviço à democracia com essa postura. Deveria se preocupar em resolver os problemas que dão origem às críticas, ao invés de tentar coibi-las desta forma.
Outra violência da Ferj é o tabelamento do preço dos ingressos. Além de afrontar o princípio constitucional da livre iniciativa e o próprio Estatuto do Torcedor, ameaça o programa de sócio-torcedor dos clubes, que vem sendo construído a duras penas com AmBev, Unilever, TIM e outras grandes empresas, junto com as maiores redes de supermercados do Brasil.
Até agora os clubes já arrecadaram mais de R$ 200 milhões e a perspectiva é de crescimento exponencial: em dois anos o Brasil saiu de 150 mil sócios-torcedores para quase 1 milhão.
Talvez a Ferj não se importe com o programa de sócio-torcedor dos clubes porque desse dinheiro ainda não consegue tungar nada, ao contrário do que acontece com a renda dos jogos, a receita das placas e o dinheiro da TV.
Para completar a novela, o presidente da Ferj reagiu aos protestos do Flamengo agredindo com violência o presidente do clube no último Conselho Arbitral. Isso é inaceitável. Denota desequilíbrio emocional incompatível com a função. Mas, para quem confunde arbitral com arbitrário, vale tudo.
A propósito, o presidente da Ferj entendeu que a nota oficial dos clubes o chamava de ladrão. Como se deve chamar alguém que nos rouba o sonho de um futebol melhor com uma gestão desastrosa dessas?
Clubes, atletas, torcedores precisam se unir contra essa opressão. A Constituição garante autonomia de organização e funcionamento para as entidades esportivas. Até agora, esse dispositivo só valeu para o autoritarismo da CBF e Federações.
Desde a redemocratização o governo vem sendo omisso. A ditadura criou o sistema. Não se pode esperar que clubes e atletas consigam se libertar sozinhos. É hora de um choque de democracia, que pode começar com a criação das ligas, como ocorreu na Europa há muitos anos.
Abaixo a ditadura !
Há muito tempo que a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) não passa de uma entidade parasita autoritária. Retém um pedaço do dinheiro da televisão e confisca quase todos os recursos das placas de publicidade estática do Campeonato Carioca.
E ainda extorque dos clubes 10% da receita bruta de todos os jogos, ao arrepio do seu próprio estatuto, que prevê no máximo 10% da renda líquida. É a Federação que mais morde os clubes no Brasil. Ao menos se promovesse um bom campeonato...
Em 2014, 90% dos jogos organizados pela Ferj causaram prejuízos aos times e apenas quatro partidas levaram mais de 15 mil pessoas aos estádios. Mais da metade dos jogos teve menos de 500 torcedores.
Para os que achavam que 2015 não poderia ser pior, a Ferj se superou. Impôs aos clubes a Lei da Mordaça e tabelou os ingressos. A ameaça de multar quem criticar o campeonato é um vício de origem ditatorial do sistema clubes-federações, criado pelo Estado Novo em 1941.
O Brasil já se libertou dos grilhões da ditadura há mais de duas décadas. O esporte ainda continua preso a essa estrutura engessada, arcaica e autoritária. A Constituição de 1988, que tive a honra de subscrever como constituinte, garante a liberdade de expressão.
A Ferj presta um desserviço à democracia com essa postura. Deveria se preocupar em resolver os problemas que dão origem às críticas, ao invés de tentar coibi-las desta forma.
Outra violência da Ferj é o tabelamento do preço dos ingressos. Além de afrontar o princípio constitucional da livre iniciativa e o próprio Estatuto do Torcedor, ameaça o programa de sócio-torcedor dos clubes, que vem sendo construído a duras penas com AmBev, Unilever, TIM e outras grandes empresas, junto com as maiores redes de supermercados do Brasil.
Até agora os clubes já arrecadaram mais de R$ 200 milhões e a perspectiva é de crescimento exponencial: em dois anos o Brasil saiu de 150 mil sócios-torcedores para quase 1 milhão.
Talvez a Ferj não se importe com o programa de sócio-torcedor dos clubes porque desse dinheiro ainda não consegue tungar nada, ao contrário do que acontece com a renda dos jogos, a receita das placas e o dinheiro da TV.
Para completar a novela, o presidente da Ferj reagiu aos protestos do Flamengo agredindo com violência o presidente do clube no último Conselho Arbitral. Isso é inaceitável. Denota desequilíbrio emocional incompatível com a função. Mas, para quem confunde arbitral com arbitrário, vale tudo.
A propósito, o presidente da Ferj entendeu que a nota oficial dos clubes o chamava de ladrão. Como se deve chamar alguém que nos rouba o sonho de um futebol melhor com uma gestão desastrosa dessas?
Clubes, atletas, torcedores precisam se unir contra essa opressão. A Constituição garante autonomia de organização e funcionamento para as entidades esportivas. Até agora, esse dispositivo só valeu para o autoritarismo da CBF e Federações.
Desde a redemocratização o governo vem sendo omisso. A ditadura criou o sistema. Não se pode esperar que clubes e atletas consigam se libertar sozinhos. É hora de um choque de democracia, que pode começar com a criação das ligas, como ocorreu na Europa há muitos anos.
Abaixo a ditadura !
Tem luz no fim do bagaço - CELSO MING
O Estado de S. Paulo - 17/02
Um potencial gerador de energia elétrica, equivalente a uma Itaipu e meia, a maior hidrelétrica do Brasil, está aí à mão, mas, por falta de planejamento e problemas de gestão, segue subaproveitado.
Trata-se do bagaço de cana-de-açúcar que sobra nas usinas produtoras. A queima dessa biomassa pode aquecer caldeiras que produzem vapor e acionam as turbinas geradoras de energia elétrica.
Em 2014, essa fonte renovável produziu 21 mil gigawatts/hora (GWh), volume capaz de abastecer 11 milhões de residências ou 24% do que produz Itaipu. Mas, com visão estratégica e decisão política, poderia ser multiplicada por seis.
Hoje, cerca de 25% da energia elétrica consumida no Brasil provém de termoelétricas movidas a queima de derivados de petróleo. É a fonte de energia mais cara que se produz no País. Seu único mérito está em que, pelo menos, ainda não deixou o País na escuridão.
Cálculos da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) mostram que a biomassa da cana foi responsável por poupar 14% do volume de água dos reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, que hoje está em apenas 17,8% de sua capacidade. No mesmo período de 2014, estava em 34,6%, quase o dobro do nível atual. Uma das vantagens que poderiam vir com o maior uso da biomassa é a de que o pico da oferta coincide com o período mais seco do ano, quando os reservatórios estão no nível mais baixo.
Esse potencial está subaproveitado por falta de investimentos. Uma das causas foram os baixos preços definidos nos leilões para a energia produzida por essa fonte, o que desestimulou o setor. "O governo derrubou o preço do Kw da biomassa. Ficou inferior ao da energia gerada por hidrelétrica. Não foi por falta de aviso. Foram inúmeras as advertências de que essa decisão produziria estragos. Agora, o governo quer correr atrás do rabo", desabafa o professor do Departamento de Produção Vegetal da USP de Piracicaba Edgar de Beauclair.
Dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) mostram que, nos últimos cinco anos, a participação da biomassa foi de apenas 6,2% da energia negociada nos leilões.
As novas incertezas no suprimento de energia parecem ter acordado o governo federal para a importância que a biomassa pode ter no equacionamento da crise do setor. Ainda no primeiro semestre deste ano, foi admitida no leilão de fontes alternativas a ser realizado dia 27 de abril. Os analistas apostam em que, dessa vez, os preços serão mais atraentes.
A curto prazo, o gerente de Bioeletricidade da Unica, Zilmar de Souza, acredita em que, ainda em 2015, é possível aumentar a geração de bioeletricidade entre 10% e 15%, ou seja, em até 3,2 mil Gw/h, energia suficiente para atender a 8% do consumo residencial do Estado de São Paulo ao longo de um ano. "Temos potencial para crescer no curto, no médio e no longo prazo. O que falta é decisão. Não se sabe o que o governo espera da biomassa e do etanol."
Para Souza, uma das saídas é a elevação do teto do preço de energia de curto prazo (PLD), o que poderia incentivar mais usinas a investir na produção de bioeletricidade não só a partir do bagaço da cana, mas também de palha e cavaco de madeira. Outra vez, falta apenas decisão política./ Colaborou Laura Maia
Um potencial gerador de energia elétrica, equivalente a uma Itaipu e meia, a maior hidrelétrica do Brasil, está aí à mão, mas, por falta de planejamento e problemas de gestão, segue subaproveitado.
Trata-se do bagaço de cana-de-açúcar que sobra nas usinas produtoras. A queima dessa biomassa pode aquecer caldeiras que produzem vapor e acionam as turbinas geradoras de energia elétrica.
Em 2014, essa fonte renovável produziu 21 mil gigawatts/hora (GWh), volume capaz de abastecer 11 milhões de residências ou 24% do que produz Itaipu. Mas, com visão estratégica e decisão política, poderia ser multiplicada por seis.
Hoje, cerca de 25% da energia elétrica consumida no Brasil provém de termoelétricas movidas a queima de derivados de petróleo. É a fonte de energia mais cara que se produz no País. Seu único mérito está em que, pelo menos, ainda não deixou o País na escuridão.
Cálculos da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) mostram que a biomassa da cana foi responsável por poupar 14% do volume de água dos reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, que hoje está em apenas 17,8% de sua capacidade. No mesmo período de 2014, estava em 34,6%, quase o dobro do nível atual. Uma das vantagens que poderiam vir com o maior uso da biomassa é a de que o pico da oferta coincide com o período mais seco do ano, quando os reservatórios estão no nível mais baixo.
Esse potencial está subaproveitado por falta de investimentos. Uma das causas foram os baixos preços definidos nos leilões para a energia produzida por essa fonte, o que desestimulou o setor. "O governo derrubou o preço do Kw da biomassa. Ficou inferior ao da energia gerada por hidrelétrica. Não foi por falta de aviso. Foram inúmeras as advertências de que essa decisão produziria estragos. Agora, o governo quer correr atrás do rabo", desabafa o professor do Departamento de Produção Vegetal da USP de Piracicaba Edgar de Beauclair.
Dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) mostram que, nos últimos cinco anos, a participação da biomassa foi de apenas 6,2% da energia negociada nos leilões.
As novas incertezas no suprimento de energia parecem ter acordado o governo federal para a importância que a biomassa pode ter no equacionamento da crise do setor. Ainda no primeiro semestre deste ano, foi admitida no leilão de fontes alternativas a ser realizado dia 27 de abril. Os analistas apostam em que, dessa vez, os preços serão mais atraentes.
A curto prazo, o gerente de Bioeletricidade da Unica, Zilmar de Souza, acredita em que, ainda em 2015, é possível aumentar a geração de bioeletricidade entre 10% e 15%, ou seja, em até 3,2 mil Gw/h, energia suficiente para atender a 8% do consumo residencial do Estado de São Paulo ao longo de um ano. "Temos potencial para crescer no curto, no médio e no longo prazo. O que falta é decisão. Não se sabe o que o governo espera da biomassa e do etanol."
Para Souza, uma das saídas é a elevação do teto do preço de energia de curto prazo (PLD), o que poderia incentivar mais usinas a investir na produção de bioeletricidade não só a partir do bagaço da cana, mas também de palha e cavaco de madeira. Outra vez, falta apenas decisão política./ Colaborou Laura Maia
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
DILMA ESTÁ INDECISA HÁ 7 MESES SOBRE VAGA NO STF
Apesar da reputação de “gestora” ou “gerentona”, que a propaganda política difunde, Dilma Rousseff já pode ser inscrita no anedotário de presidentes indecisos: até hoje, sete meses depois da aposentadoria de Joaquim Barbosa, não consegue escolher o ocupante da vaga no Supremo Tribunal Federal. A corte funciona com dez ministros desde julho de 2014. Será o quinto ministro indicado por Dilma, em onze.
PRESSÕES
A ideia era escolher quem ajudasse o governo e mensaleiros presos. Mas aí surgiu outro escândalo ainda mais repugnante, o “petrolão”.
PROPOSTA INDECENTE
A oposição acha que a “indecisão” de Dilma tem a ver com a recusa de indicados de assumir compromissos com a impunidade, no “petróleo”.
ELEITORES
Lula, Renan, Sarney, Eduardo Cunha, a cúpula do PT, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), enfim, todos têm candidatos ao STF.
OS QUATRO PRIMEIROS
A primeira escolha de Dilma, em 2011, início do governo, foi Luiz Fux. Seguiram-se Rosa Weber, Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso.
PRESIDENTE RECEBE APEX INEFICIENTE E COM MEDO
O ex-presidente da TAM David Barioni assume a presidência da Apex Brasil, agência de promoção das exportações e investimentos, em meio a fortes sintomas de ineficiência. A gestão de Maurício Borges, que Barioni substitui, além de não favorecer as exportações – como atesta o déficit comercial de US$ 4 bilhões em 2014 – ainda implantou um ambiente de medo: é acusado de perseguir e demitir não aliados.
TCU INVESTIGA
O Tribunal de Contas da União (TCU) apura supostas irregularidades que totalizariam R$ 40 milhões nos últimos dois anos na Apex.
TERRA ARRASADA
Borges fez dupla com o diretor de Negócios, Ricardo Santana, no enfraquecimento da Apex e na perda de confiança dos exportadores.
GESTOR
Em seu blog, Ricardo Santana confessa que faliu como empresário, mas se deu “muito bem na vida” após conseguir a boquinha na Apex. Clique aqui para ler.
MUY AMIGO
Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Lula, ex-vice-presidente da Caixa no governo Dilma e filiado ao PMDB, confirmou que no dia 15 de março vai para rua. Engrossará o coro que pede o impeachment de Dilma.
RISCO BAIXO
O ministro Eduardo Braga (Minas e Energia), que ao menos já aprendeu a trocar lâmpadas, desabafou com senadores acusando “consultores que propagam apagão” de prestar serviço ao PSDB e a banqueiros. Diz que o risco de racionamento hoje é de 1,2%.
NO PÁREO
Eleito suplente da Mesa Diretora, Ricardo Izar (PSD-SP) decidiu brigar para se manter no comando do Conselho de Ética. Estão no páreo Sérgio Brito (BA), José Araújo (BA) e Marcos Rogério (PDT-RO).
CABRAL COM MICHEL
Sérgio Cabral garante que não pretende disputar a presidência do PMDB. Acha que está bem entregue a Michel Temer e a Valdir Raupp, presidente interino. O ex-governador diz que o PMDB do Rio os apoia.
JUNTANDO OS CACOS
Leonardo Picciani (RJ) vai procurar Lúcio Vieira Lima (BA) para uma conversa. Após vencê-lo por um voto na briga para pela Liderança do PMDB na Câmara, Picciani quer juntar os cacos da bancada rachada.
BENGALA EM ALTA
Tem apoio da maioria do PMDB na Câmara a PEC da Bengala, que eleva de 70 a 75 anos a idade para aposentadoria de magistrados. A medida impede que Dilma indique quatro ministros para o Supremo Tribunal Federal, nas vagas que seriam abertas durante seu governo.
LADOS DA MOEDA
Enquanto PMDB tenta minar a criação do Partido Liberal, governadores ajudam, na baixa, o projeto de Gilberto Kassab na empreitada. É que o novo partido aumentaria a base aliada de governos estaduais.
JUNTOS NA CAUSA
O vice Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), aparecerão juntos nas inserções de TV do PMDB, que vão ao ar a partir desta terça (17). O conceito é “PMDB, o Brasil é a nossa escolha”
DESMORALIZOU GERAL
O esquema de propina na Petrobras, implantado no governo Lula, desmoralizou até os padrões de corrupção da britânica Rolls-Royce.
Apesar da reputação de “gestora” ou “gerentona”, que a propaganda política difunde, Dilma Rousseff já pode ser inscrita no anedotário de presidentes indecisos: até hoje, sete meses depois da aposentadoria de Joaquim Barbosa, não consegue escolher o ocupante da vaga no Supremo Tribunal Federal. A corte funciona com dez ministros desde julho de 2014. Será o quinto ministro indicado por Dilma, em onze.
PRESSÕES
A ideia era escolher quem ajudasse o governo e mensaleiros presos. Mas aí surgiu outro escândalo ainda mais repugnante, o “petrolão”.
PROPOSTA INDECENTE
A oposição acha que a “indecisão” de Dilma tem a ver com a recusa de indicados de assumir compromissos com a impunidade, no “petróleo”.
ELEITORES
Lula, Renan, Sarney, Eduardo Cunha, a cúpula do PT, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), enfim, todos têm candidatos ao STF.
OS QUATRO PRIMEIROS
A primeira escolha de Dilma, em 2011, início do governo, foi Luiz Fux. Seguiram-se Rosa Weber, Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso.
PRESIDENTE RECEBE APEX INEFICIENTE E COM MEDO
O ex-presidente da TAM David Barioni assume a presidência da Apex Brasil, agência de promoção das exportações e investimentos, em meio a fortes sintomas de ineficiência. A gestão de Maurício Borges, que Barioni substitui, além de não favorecer as exportações – como atesta o déficit comercial de US$ 4 bilhões em 2014 – ainda implantou um ambiente de medo: é acusado de perseguir e demitir não aliados.
TCU INVESTIGA
O Tribunal de Contas da União (TCU) apura supostas irregularidades que totalizariam R$ 40 milhões nos últimos dois anos na Apex.
TERRA ARRASADA
Borges fez dupla com o diretor de Negócios, Ricardo Santana, no enfraquecimento da Apex e na perda de confiança dos exportadores.
GESTOR
Em seu blog, Ricardo Santana confessa que faliu como empresário, mas se deu “muito bem na vida” após conseguir a boquinha na Apex. Clique aqui para ler.
MUY AMIGO
Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Lula, ex-vice-presidente da Caixa no governo Dilma e filiado ao PMDB, confirmou que no dia 15 de março vai para rua. Engrossará o coro que pede o impeachment de Dilma.
RISCO BAIXO
O ministro Eduardo Braga (Minas e Energia), que ao menos já aprendeu a trocar lâmpadas, desabafou com senadores acusando “consultores que propagam apagão” de prestar serviço ao PSDB e a banqueiros. Diz que o risco de racionamento hoje é de 1,2%.
NO PÁREO
Eleito suplente da Mesa Diretora, Ricardo Izar (PSD-SP) decidiu brigar para se manter no comando do Conselho de Ética. Estão no páreo Sérgio Brito (BA), José Araújo (BA) e Marcos Rogério (PDT-RO).
CABRAL COM MICHEL
Sérgio Cabral garante que não pretende disputar a presidência do PMDB. Acha que está bem entregue a Michel Temer e a Valdir Raupp, presidente interino. O ex-governador diz que o PMDB do Rio os apoia.
JUNTANDO OS CACOS
Leonardo Picciani (RJ) vai procurar Lúcio Vieira Lima (BA) para uma conversa. Após vencê-lo por um voto na briga para pela Liderança do PMDB na Câmara, Picciani quer juntar os cacos da bancada rachada.
BENGALA EM ALTA
Tem apoio da maioria do PMDB na Câmara a PEC da Bengala, que eleva de 70 a 75 anos a idade para aposentadoria de magistrados. A medida impede que Dilma indique quatro ministros para o Supremo Tribunal Federal, nas vagas que seriam abertas durante seu governo.
LADOS DA MOEDA
Enquanto PMDB tenta minar a criação do Partido Liberal, governadores ajudam, na baixa, o projeto de Gilberto Kassab na empreitada. É que o novo partido aumentaria a base aliada de governos estaduais.
JUNTOS NA CAUSA
O vice Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), aparecerão juntos nas inserções de TV do PMDB, que vão ao ar a partir desta terça (17). O conceito é “PMDB, o Brasil é a nossa escolha”
DESMORALIZOU GERAL
O esquema de propina na Petrobras, implantado no governo Lula, desmoralizou até os padrões de corrupção da britânica Rolls-Royce.
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