O GLOBO - 04/11
Quando o governo da doutora Dilma parece ter esgotado seu arsenal de encrencas, ele inventa uma nova. A última chama-se "Cadastro de Empregados Domésticos" e atende pelo apelido de "Simples Doméstico". Os çábios de burocracia da Receita Federal e do Ministério da Previdência puseram no ar um sistema de cadastramento que obriga as vítimas a padecer num processo com pelos menos 15 etapas, lidando com siglas como CPF, CEP, NIT, GRF, DIRF, DAE, PIS e FGTS.
Se o CPF de um empregado estiver suspenso, ele deverá ir a uma agência do Banco do Brasil, da Caixa ou dos Correios, e a audiência custará R$ 7. As agências do Poupatempo não fazem esse serviço. Claro, o cidadão não tem o que fazer e, portanto, não há por que lhe poupar o tempo.
O empregador deve ter à mão suas declarações de Imposto de Renda de 2014 e 2015. O empregado que já estiver registrado no FGTS deve informar a data em que se inscreveu. Para os çábios, essa é uma data inesquecível, como o 7 de setembro.
Mesmo que o infeliz tenha a sua vida organizada, ao preencher os formulários pode receber a seguinte mensagem:
"Ocorreu um erro, informe o ticket do erro aos administradores."
Afora o mau português, o tal ticket podia ser o seguinte:
"2015110113714DU1WTPZGE4"
Noutra travada, a mensagem disse: "Não foi possível efetuar a operação. Por favor, tente de novo mais tarde. Anote o número do ticket, ele será solicitado pela Central de Atendimento."
Em muitas ocasiões a Central simplesmente não atendia.
O sistema encrencou desde o primeiro dia. O sujeito fazia tudo direito, recebia uma senha, e ela era imprestável.
Toda essa burocracia derivou da inépcia, da megalomania e do autoritarismo. Da inépcia porque trava. Da megalomania porque embutiram um censo socioeconômico dos trabalhadores domésticos no que deveria ter sido um simples cadastro. Do autoritarismo porque os çábios tiveram 18 meses para organizar o site e deram seis dias aos cidadãos para cadastrar os empregados. (Se alguém estiver de férias, dançam todos.) A doutora já deixou 28 embaixadores estrangeiros na fila para a cerimônia de entrega de credenciais. Alguns esperaram por mais de um ano, mas na hora de botar os outros para trabalhar, os prazos do seu governo são curtos, com direito a multa.
Encrencas com sistemas fazem parte da vida. Em 2013, o presidente Barack Obama passou pelo vexame de ter colocado no ar um site bichado. Humildemente, pediu desculpas.
O governo não pode dizer que a lambança é coisa da elite ou de Eduardo Cunha. Não se deve esperar que a doutora peça desculpas, mas seria razoável que já na segunda-feira (2) tivesse estendido o prazo para preenchimento do cadastro. Só um doido poderia pensar que os çábios trabalham num feriado.
Dilma Rousseff deve reler o que diz. Em junho de 2014 (ano eleitoral), ela informou:
"A burocracia distorceu as necessidades do Estado Brasileiro por mais de 50 anos. Para avançarmos, é necessário tornar o Estado brasileiro não um Estado mínimo, como querem alguns, mas um Estado eficiente, transparente e moderno".
Eleita, retomou o tema em janeiro passado. Prometia ação:
"Lançaremos um Programa de Desburocratização e Simplificação das Ações do Governo. Menos burocracia representa menos tempo e menos recursos gastos em tarefas acessória e secundárias".
quarta-feira, novembro 04, 2015
Fim da miragem - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 04/11
RIO DE JANEIRO - De janeiro a agosto deste ano, quase 2 milhões de famílias brasileiras deixaram de comprar maionese, condicionador de cabelo, TV de LED, passagem aérea para Aracaju e carro zero, em comparação com de janeiro a agosto do ano passado. Deixaram também de ir ao shopping aos domingos, fazer compras em dez vezes no cartão e jantar fora. E abandonaram os projetos do plano de saúde, da ida à Disney com as crianças e da casa própria com churrasqueira no quintal. Eram sonhos de 2014 para 2015. Infelizmente, esqueceram de combinar com 2015.
Com essa defecção em massa, imagine o rombo nas contas do varejo, dos serviços, da indústria, do sistema financeiro, das companhias aéreas, da construção civil e de todos os setores da economia. Diante da crise, a primeira medida das empresas é demitir, com os consequentes desemprego, fechamento de vagas, queda no salário real e estrangulamento do crédito. Não admira que as firmas de consultoria especializadas em avaliar para onde vai o Brasil, responsáveis por tais informações, estejam apontando o caminho do brejo.
Segundo as mesmas firmas, tudo indica que boa parte dos 3 milhões de famílias graduadas das classes D e E para a classe C no boom de consumo promovido pelo governo de 2006 a 2012 fará celeremente o caminho de volta para as ditas classes. É cruel porque, para aquelas famílias, a ascensão social terá sido uma ilusão. No que sentiram o prazer de subir um degrau na escada, esta lhes está sendo tirada, sem apelação.
Em compensação, não se notarão quedas expressivas nos números da indústria pesada, da educação, da saúde, do aprimoramento dos serviços ou dos índices de produtividade -porque, enquanto o país consumia feito um novo-rico, a base econômica não era muito levada em conta.
Nunca na história desse país se vendeu tanto uma miragem.
RIO DE JANEIRO - De janeiro a agosto deste ano, quase 2 milhões de famílias brasileiras deixaram de comprar maionese, condicionador de cabelo, TV de LED, passagem aérea para Aracaju e carro zero, em comparação com de janeiro a agosto do ano passado. Deixaram também de ir ao shopping aos domingos, fazer compras em dez vezes no cartão e jantar fora. E abandonaram os projetos do plano de saúde, da ida à Disney com as crianças e da casa própria com churrasqueira no quintal. Eram sonhos de 2014 para 2015. Infelizmente, esqueceram de combinar com 2015.
Com essa defecção em massa, imagine o rombo nas contas do varejo, dos serviços, da indústria, do sistema financeiro, das companhias aéreas, da construção civil e de todos os setores da economia. Diante da crise, a primeira medida das empresas é demitir, com os consequentes desemprego, fechamento de vagas, queda no salário real e estrangulamento do crédito. Não admira que as firmas de consultoria especializadas em avaliar para onde vai o Brasil, responsáveis por tais informações, estejam apontando o caminho do brejo.
Segundo as mesmas firmas, tudo indica que boa parte dos 3 milhões de famílias graduadas das classes D e E para a classe C no boom de consumo promovido pelo governo de 2006 a 2012 fará celeremente o caminho de volta para as ditas classes. É cruel porque, para aquelas famílias, a ascensão social terá sido uma ilusão. No que sentiram o prazer de subir um degrau na escada, esta lhes está sendo tirada, sem apelação.
Em compensação, não se notarão quedas expressivas nos números da indústria pesada, da educação, da saúde, do aprimoramento dos serviços ou dos índices de produtividade -porque, enquanto o país consumia feito um novo-rico, a base econômica não era muito levada em conta.
Nunca na história desse país se vendeu tanto uma miragem.
No cavalo de Agamenon,às portas de Troia - JOSÉ NÊUMANNE
ESTADÃO - 04/11
Na quinta-feira 29 de outubro, em Brasília, onde assumiu a Presidência de fato no segundo mandato de sua substituta conveniente e conivente, Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva divertiu sua claque no Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) com as metáforas de hábito e a grosseria de praxe. Nesse discurso, confessou que a afilhada praticara estelionato eleitoral na campanha vitoriosa da reeleição em 2014. “Tivemos um problema político sério, porque ganhamos a eleição com um discurso e depois das eleições tivemos que mudar o nosso discurso e fazer aquilo que a gente dizia que não ia fazer”, disse.
Na ocasião, proibiu investidas do PT contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tido como o maior desafeto de Dilma e do partido. “Tudo o que interessa à oposição é que a gente arrume quinhentos pretextos para discutir qualquer assunto e depois não discutir o que interessa, que é aprovar o que a Dilma mandou para o Congresso Nacional. A não ser que tenha alguém aqui que ache que isso não é importante. Primeiro, vamos tentar derrubar o Eduardo Cunha, depois derrubar o impeachment e, depois, se der certo, a gente vota nas coisas que a Dilma quer”, ironizou. E recuou das rudes críticas que antes fazia ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Nunca antes em sua vida pública, desde que assumiu a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, em 1975, Lula foi tão claro, estratégico e cuidadoso em qualquer discurso. Fez-se muito barulho em relação ao reconhecimento do estelionato, crime definido no Código Penal. Com a agravante de ter sido um estelionato que vitimou a Nação, em especial o eleitorado que não anulou voto, votou em branco ou se absteve de votar e, em particular, os brasileiros mais pobres e menos esclarecidos que acreditaram em sua candidata. E daí? Qualquer advogadinho do PT sabe e, na certa, lhe informou que estelionato não basta para abrir processo de impeachment contra a presidente.
Além disso, Lula recebe de novo inestimável apoio de quem se apresenta à cidadania como adversário. Há um vácuo jurídico na Constituição de 1988: inexiste lei que regulamente o impedimento de presidente. O texto legal de 1950, aos 65 anos de vigência, serviu de base para levar Collor a renunciar. Mas não é suficiente para depor Dilma de forma democrática. E é nesse argumento incontestável que os dependentes da miríade de boquinhas do governo lulodilmopetista se apoiam para chamar de “golpista” quem não suporta mais a presidente (7 em 10 brasileiros). A Constituição vige há 27 anos, o oitavo mandato presidencial está começando e nunca parlamentar algum cuidou desse detalhe.
Este não é, definitivamente, um pormenor para a oposição, que não encontrou até agora base jurídica séria para fazer o que a Nação quase inteira exige: retirar a estelionatária de palanque do cargo poderoso do qual comanda esta nossa marcha da insensatez para monumentais crises moral, econômica, política e quase à beira de outra, a institucional. Lula sabia disso quando confessou o delito da preposta. Os adversários, tudo indica, não.
Em relação à reeleição, recorde-se ainda que o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), requereu recontagem dos votos para verificar se não houve fraude na vitória da presidente sobre o senador Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno do pleito de 2014. Qualquer usuário de computador em jardim de infância sabe que, no sistema de coleta e contagem de votos no Brasil, recontar votos é simplesmente impossível. Um ano depois, com a vencedora enredada em outras suspeitas, Sua Excelência disse o que todos já sabiam: não dá para recontar. Não contou, porém, por que, do alto de sua sapiência legislativa, não empreendeu alguma lei que ao menos dificultasse as fraudes que qualquer hacker iniciante pode praticar no Brasil.
O pior é que, mesmo sem o haver dito explicitamente, o ex no poder avalizou o mais asqueroso pacto de conivência criminosa de nossa História. Nele, a primeira mandatária da República e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, dois degraus abaixo dela na escada sucessória, achincalham as instituições garantindo um a impunidade da outra, e vice-versa. Em sua frase aqui citada, Lula não precisou de nenhum argumento para mandar seus asseclas evitarem incômodos a Cunha, fazendo ouvidos de mercador às evidências que brotam no seu prontuário policial como capim em pasto farto. A aceitação muda e mansa dos petistas à ordem do chefe, que, tal qual um Ulysses Guimarães do século 21, passou a comandar o governo federal, o partido e a oposição, é a maior prova de que apenas emudeceu o óbvio que, apud Nelson Rodrigues, ulula.
E se havia alguma dúvida de que o ex resolveu assumir, mantendo a preposta como rainha da Inglaterra de plantão, esta foi dirimida por sua guinada de 180 graus ao apoiar os ajustes e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O padimaceitou outro óbvio – de que a cabeça de Dilma está sob a espada de Dâmocles, suspensa pelo fio do rabo de um cavalo. O fio é dos bancos, que com a crise têm lucrado como nunca ninguém lucrou. Nisso ele é craque: há 40 anos o clã Lula da Silva morava numa vila operária e hoje se espalha em apartamentos de luxo, até na praia, mercê de sua carreira de palestrante para empresas acusadas de delinquir – o que lhe permitiu movimentar R$ 52,3 milhões em quatro anos, conforme o Coaf.
O descalabro de quatro desgovernos do PT, delatado nas Operações Lava Jato e Zelotes e com 3 mil brasileiros perdendo o emprego todo dia, mostra que o cavalo de cujo rabo pende a espada, e que Lula monta, após destruir tudo ao redor – empresas, empregos, crédito de agências de risco, honra e pudor –, não é de Átila, mas de Agamenon. Pois, às portas de Troia, abertas com a conivência de adversários néscios, ele planeja invadir-lhe as ruínas.
Na quinta-feira 29 de outubro, em Brasília, onde assumiu a Presidência de fato no segundo mandato de sua substituta conveniente e conivente, Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva divertiu sua claque no Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) com as metáforas de hábito e a grosseria de praxe. Nesse discurso, confessou que a afilhada praticara estelionato eleitoral na campanha vitoriosa da reeleição em 2014. “Tivemos um problema político sério, porque ganhamos a eleição com um discurso e depois das eleições tivemos que mudar o nosso discurso e fazer aquilo que a gente dizia que não ia fazer”, disse.
Na ocasião, proibiu investidas do PT contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tido como o maior desafeto de Dilma e do partido. “Tudo o que interessa à oposição é que a gente arrume quinhentos pretextos para discutir qualquer assunto e depois não discutir o que interessa, que é aprovar o que a Dilma mandou para o Congresso Nacional. A não ser que tenha alguém aqui que ache que isso não é importante. Primeiro, vamos tentar derrubar o Eduardo Cunha, depois derrubar o impeachment e, depois, se der certo, a gente vota nas coisas que a Dilma quer”, ironizou. E recuou das rudes críticas que antes fazia ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Nunca antes em sua vida pública, desde que assumiu a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, em 1975, Lula foi tão claro, estratégico e cuidadoso em qualquer discurso. Fez-se muito barulho em relação ao reconhecimento do estelionato, crime definido no Código Penal. Com a agravante de ter sido um estelionato que vitimou a Nação, em especial o eleitorado que não anulou voto, votou em branco ou se absteve de votar e, em particular, os brasileiros mais pobres e menos esclarecidos que acreditaram em sua candidata. E daí? Qualquer advogadinho do PT sabe e, na certa, lhe informou que estelionato não basta para abrir processo de impeachment contra a presidente.
Além disso, Lula recebe de novo inestimável apoio de quem se apresenta à cidadania como adversário. Há um vácuo jurídico na Constituição de 1988: inexiste lei que regulamente o impedimento de presidente. O texto legal de 1950, aos 65 anos de vigência, serviu de base para levar Collor a renunciar. Mas não é suficiente para depor Dilma de forma democrática. E é nesse argumento incontestável que os dependentes da miríade de boquinhas do governo lulodilmopetista se apoiam para chamar de “golpista” quem não suporta mais a presidente (7 em 10 brasileiros). A Constituição vige há 27 anos, o oitavo mandato presidencial está começando e nunca parlamentar algum cuidou desse detalhe.
Este não é, definitivamente, um pormenor para a oposição, que não encontrou até agora base jurídica séria para fazer o que a Nação quase inteira exige: retirar a estelionatária de palanque do cargo poderoso do qual comanda esta nossa marcha da insensatez para monumentais crises moral, econômica, política e quase à beira de outra, a institucional. Lula sabia disso quando confessou o delito da preposta. Os adversários, tudo indica, não.
Em relação à reeleição, recorde-se ainda que o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), requereu recontagem dos votos para verificar se não houve fraude na vitória da presidente sobre o senador Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno do pleito de 2014. Qualquer usuário de computador em jardim de infância sabe que, no sistema de coleta e contagem de votos no Brasil, recontar votos é simplesmente impossível. Um ano depois, com a vencedora enredada em outras suspeitas, Sua Excelência disse o que todos já sabiam: não dá para recontar. Não contou, porém, por que, do alto de sua sapiência legislativa, não empreendeu alguma lei que ao menos dificultasse as fraudes que qualquer hacker iniciante pode praticar no Brasil.
O pior é que, mesmo sem o haver dito explicitamente, o ex no poder avalizou o mais asqueroso pacto de conivência criminosa de nossa História. Nele, a primeira mandatária da República e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, dois degraus abaixo dela na escada sucessória, achincalham as instituições garantindo um a impunidade da outra, e vice-versa. Em sua frase aqui citada, Lula não precisou de nenhum argumento para mandar seus asseclas evitarem incômodos a Cunha, fazendo ouvidos de mercador às evidências que brotam no seu prontuário policial como capim em pasto farto. A aceitação muda e mansa dos petistas à ordem do chefe, que, tal qual um Ulysses Guimarães do século 21, passou a comandar o governo federal, o partido e a oposição, é a maior prova de que apenas emudeceu o óbvio que, apud Nelson Rodrigues, ulula.
E se havia alguma dúvida de que o ex resolveu assumir, mantendo a preposta como rainha da Inglaterra de plantão, esta foi dirimida por sua guinada de 180 graus ao apoiar os ajustes e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O padimaceitou outro óbvio – de que a cabeça de Dilma está sob a espada de Dâmocles, suspensa pelo fio do rabo de um cavalo. O fio é dos bancos, que com a crise têm lucrado como nunca ninguém lucrou. Nisso ele é craque: há 40 anos o clã Lula da Silva morava numa vila operária e hoje se espalha em apartamentos de luxo, até na praia, mercê de sua carreira de palestrante para empresas acusadas de delinquir – o que lhe permitiu movimentar R$ 52,3 milhões em quatro anos, conforme o Coaf.
O descalabro de quatro desgovernos do PT, delatado nas Operações Lava Jato e Zelotes e com 3 mil brasileiros perdendo o emprego todo dia, mostra que o cavalo de cujo rabo pende a espada, e que Lula monta, após destruir tudo ao redor – empresas, empregos, crédito de agências de risco, honra e pudor –, não é de Átila, mas de Agamenon. Pois, às portas de Troia, abertas com a conivência de adversários néscios, ele planeja invadir-lhe as ruínas.
Circo armado - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 04/11
"Vou provar que não faltei com a verdade na CPI"," afirmou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, diante da abertura do processo de cassação de seu mandato por quebra de decoro parlamentar. Como as contas na Suíça que ele nega serem suas, mas têm sua assinatura e até foto do passaporte para não deixar dúvidas, têm data muito anterior ao depoimento de Cunha na CPI da Petrobras, meses atrás, é difícil imaginar um truque que permita a ele provar que à época da declaração as contas não existiam e que, portanto, não mentiu.
O ex-presidente Clinton, dos Estados Unidos, alegou que não mantivera relações sexuais com a estagiária da Casa Branca porque não considerava nessa categoria o sexo oral. O deputado Paulo Maluf ficou indignado por ter sido comparado a Cunha, alegando que nunca encontraram uma assinatura sua, muito menos registros de seu passaporte, nas contas no exterior que ele continua dizendo que não são suas.
As provas já vazadas das investigações da Procuradoria-Geral da República, com base nas informações vindas da Suíça, são tão avassaladoras que, a princípio, parecia questão de tempo para a clássica saída dos políticos enrascados apanhados com a boca na botija: renúncia à presidência da Câmara e negociação para não perder o mandato no Conselho de Ética.
Mas Eduardo Cunha é mais ousado do que o senador Renan Calheiros, que abriu mão da presidência do Senado numa negociação em que preservou seu mandato e ganhou tempo para voltar à presidência do Senado anos mais tarde. O processo de que era acusado ainda está em curso.
Cunha é mais ousado que Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho, que também renunciaram à presidência do Senado a seus tempos. Quer repetir a façanha do ex-senador José Sarney, que se manteve firme na presidência do Senado mesmo sendo julgado pelo Conselho de Ética pela edição de decretos secretos.
Mas aquela era uma questão que poderia ser tratada como administrativa, e Sarney era um ex-presidente da República que tinha todo o apoio do então popular presidente Lula, que considerava que ele não podia ser tratado como "uma pessoa comum".
Eduardo Cunha tem o apoio disfarçado do PT e de áreas da oposição, e até mesmo apoios declarados, como o de Paulinho da Força Sindical, que vai assumir a vaga do Solidariedade no Conselho de Ética com a disposição declarada de ajudar Cunha a se livrar das acusações.
Arma-se um circo no Conselho de Ética que pode levar até mesmo ao arquivamento do processo antes do que a opinião pública imagina, a começar pela escolha do relator, que pode nem mesmo iniciar o processo com a sugestão de arquivamento dentro dos próximos 10 dias.
Entre os três sorteados para a função, todos são ligados de uma maneira ou outra a Cunha, que já fez uma declaração que tem cheiro de ameaça. Segundo ele, cerca de 150 deputados respondem a processo neste momento, e todos deveriam ser submetidos ao Conselho de Ética se prevalecesse a tese que vingou para ele.
É uma versão reduzida dos "300 picaretas" que Lula identificou no Congresso quando lá esteve como deputado constituinte. É o caso de dois deles: Vinícius Gurgel, do PR, é investigado por crimes eleitorais e contra a ordem tributária. Fausto Pinato, do PRB, é acusado de falso testemunho. Já Zé Geraldo, do PT, tem proximidades ideológicas com Cunha, pelo menos em relação ao juiz Sérgio Moro, a quem acusa de "trabalhar fortemente para desestabilizar nossa democracia".
O petista acha que a Lava-Jato "vem causando prejuízos enormes ao país, quebrando empresas, produzindo um exército de desempregados e desfalcando dia a dia um dos nossos maiores patrimônios, a Petrobras".
Como o ex-deputado André Vargas conseguiu levar por oito meses seu processo na Comissão de Ética até ser condenado, o mais provável é que Eduardo Cunha, antes de ser cassado por seus companheiros, terá que prestar contas mesmo é à Justiça.
"Vou provar que não faltei com a verdade na CPI"," afirmou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, diante da abertura do processo de cassação de seu mandato por quebra de decoro parlamentar. Como as contas na Suíça que ele nega serem suas, mas têm sua assinatura e até foto do passaporte para não deixar dúvidas, têm data muito anterior ao depoimento de Cunha na CPI da Petrobras, meses atrás, é difícil imaginar um truque que permita a ele provar que à época da declaração as contas não existiam e que, portanto, não mentiu.
O ex-presidente Clinton, dos Estados Unidos, alegou que não mantivera relações sexuais com a estagiária da Casa Branca porque não considerava nessa categoria o sexo oral. O deputado Paulo Maluf ficou indignado por ter sido comparado a Cunha, alegando que nunca encontraram uma assinatura sua, muito menos registros de seu passaporte, nas contas no exterior que ele continua dizendo que não são suas.
As provas já vazadas das investigações da Procuradoria-Geral da República, com base nas informações vindas da Suíça, são tão avassaladoras que, a princípio, parecia questão de tempo para a clássica saída dos políticos enrascados apanhados com a boca na botija: renúncia à presidência da Câmara e negociação para não perder o mandato no Conselho de Ética.
Mas Eduardo Cunha é mais ousado do que o senador Renan Calheiros, que abriu mão da presidência do Senado numa negociação em que preservou seu mandato e ganhou tempo para voltar à presidência do Senado anos mais tarde. O processo de que era acusado ainda está em curso.
Cunha é mais ousado que Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho, que também renunciaram à presidência do Senado a seus tempos. Quer repetir a façanha do ex-senador José Sarney, que se manteve firme na presidência do Senado mesmo sendo julgado pelo Conselho de Ética pela edição de decretos secretos.
Mas aquela era uma questão que poderia ser tratada como administrativa, e Sarney era um ex-presidente da República que tinha todo o apoio do então popular presidente Lula, que considerava que ele não podia ser tratado como "uma pessoa comum".
Eduardo Cunha tem o apoio disfarçado do PT e de áreas da oposição, e até mesmo apoios declarados, como o de Paulinho da Força Sindical, que vai assumir a vaga do Solidariedade no Conselho de Ética com a disposição declarada de ajudar Cunha a se livrar das acusações.
Arma-se um circo no Conselho de Ética que pode levar até mesmo ao arquivamento do processo antes do que a opinião pública imagina, a começar pela escolha do relator, que pode nem mesmo iniciar o processo com a sugestão de arquivamento dentro dos próximos 10 dias.
Entre os três sorteados para a função, todos são ligados de uma maneira ou outra a Cunha, que já fez uma declaração que tem cheiro de ameaça. Segundo ele, cerca de 150 deputados respondem a processo neste momento, e todos deveriam ser submetidos ao Conselho de Ética se prevalecesse a tese que vingou para ele.
É uma versão reduzida dos "300 picaretas" que Lula identificou no Congresso quando lá esteve como deputado constituinte. É o caso de dois deles: Vinícius Gurgel, do PR, é investigado por crimes eleitorais e contra a ordem tributária. Fausto Pinato, do PRB, é acusado de falso testemunho. Já Zé Geraldo, do PT, tem proximidades ideológicas com Cunha, pelo menos em relação ao juiz Sérgio Moro, a quem acusa de "trabalhar fortemente para desestabilizar nossa democracia".
O petista acha que a Lava-Jato "vem causando prejuízos enormes ao país, quebrando empresas, produzindo um exército de desempregados e desfalcando dia a dia um dos nossos maiores patrimônios, a Petrobras".
Como o ex-deputado André Vargas conseguiu levar por oito meses seu processo na Comissão de Ética até ser condenado, o mais provável é que Eduardo Cunha, antes de ser cassado por seus companheiros, terá que prestar contas mesmo é à Justiça.
Uma proposta para desinterditar o debate - CRISTIANO ROMERO
VALOR ECONÔMICO - 04/11
O aspecto mais relevante do documento "Uma Ponte para o Futuro", lançado na semana passada pelo PMDB, é que ele trata, de maneira lúcida, de temas interditados no debate econômico brasileiro. A interdição foi promovida pelo discurso e a prática dos governos do PT desde a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, em 2003. O documento é, por isso mesmo, um manifesto contra a forma como a presidente Dilma Rousseff governa o país. É, claramente, um aceno do vice-presidente Michel Temer, que se apresenta como alternativa diante de um possível impeachment da presidente.
Nos piores momentos da atual crise política, Temer conversou com empresários em São Paulo. Seu perfil é o de um político conservador, mas, ainda assim, os interlocutores tinham dúvidas sobre o que ele faria se assumisse a presidência. Ademais, um de seus aliados no meio empresarial - Paulo Skaf, presidente da Fiesp - faz campanha aberta pela demissão do solitário integrante do governo Dilma - o ministro da Fazenda, Joaquim Levy - interessado em realizar o ajuste fiscal, único caminho possível para tirar a economia brasileira da crise em que se encontra.
"Uma ponte para o Futuro" cumpre o papel de dar uma agenda não só a Temer, mas também ao país. É uma agenda esquecida, ou melhor, abandonada. Nos primeiros três anos de poder, Lula, pragmático, aceitou a herança de Fernando Henrique Cardoso e fortaleceu o arcabouço econômico encontrado. Paralelamente, realizou reformas que nem seu antecessor ousou fazer - a da previdência do setor público, por exemplo, igualou as regras de aposentadoria do funcionalismo às do trabalhadores do setor privado e obrigou os inativos a contribuírem para a previdência.
Lula abraçou uma agenda na área econômica que pouco diferia da de FHC. Com a eclosão do mensalão em 2005, fragilizou-se politicamente e começou a promover uma inflexão no ideário econômico. O marco do início daquele processo foi a derrubada, pela então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, da proposta de déficit zero feita pelos ministros da área econômica - Antonio Palocci (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento). Contrária a tudo o que Dilma pensa, a proposta foi tachada por ela de "rudimentar".
Dois dos formuladores do documento do PMDB participaram daqueles momentos. Marcos Lisboa, hoje presidente do Insper, foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda entre 2003 e 2006 e o principal formulador das reformas microeconômicas da gestão Palocci. O ex-ministro Delfim Netto, juntamente com o economista Fábio Giambiagi, do BNDES, foi um dos idealizadores do projeto "déficit zero" - a lógica da ideia era que, tendo superado a severa crise de confiança de 2002/2003, o país reunia as condições para dar o passo seguinte e, assim, eliminar o déficit público, problema que está na origem de muitos males da economia (juros altos, dívida elevada, inflação renitente, baixo nível de poupança doméstica etc).
O fracasso retumbante da política econômica do governo Dilma e a resistência da presidente a mudá-la criaram espaço para o retorno de agendas como a preconizada em "Uma Ponte para o Futuro". Embora não responsabilize Dilma pelos desequilíbrios existentes na economia, o documento do PMDB, que contou também com a contribuição de especialistas como Paulo Rabello de Castro e José Márcio Camargo, deixa claro que o atual governo vai na direção contrária do seu enfrentamento.
Alguns exemplos são notáveis:
1) o documento recomenda o fim de todas as vinculações e indexações que engessam o Orçamento. No governo, Dilma superindexou o salário mínimo ao atrelar sua correção à variação da inflação e do PIB. Ela também rejeita qualquer proposta para desvincular o mínimo do piso da previdência. Além disso, jamais aceitou estabelecer um limite legal para as despesas de custeio. Dilma é contra, também, acabar com as vinculações para gastos com saúde e educação, uma regra da Constituição que, na prática, estimula a ineficiência e não ajuda a resolver os problemas dos dois setores;
2) o PMDB propõe a volta do regime de concessão na exploração do petróleo da camada pré-sal. Dilma é a mentora do regime de partilha, que está na origem da ruína da Petrobras e é uma das sementes, com o forçado gigantismo da estatal, do ruidoso esquema de corrupção a cujo desbaratamento a sociedade brasileira assiste perplexa. A exigência de conteúdo nacional, que está na raiz da ineficiência do setor, é cara à presidente;
3) o texto recomenda a inserção plena do Brasil no comércio internacional, com maior abertura e fechamento de acordos regionais (uma vez que os multilaterais estão bloqueados na OMC). Desde que chegou ao poder, Dilma elevou as tarifas de importação de vários setores e deixou o país fora de todas as negociações relevantes, criando um perigoso isolamento que nos custará caro (o desvio de comércio está fazendo o Brasil perder espaço em mercados tradicionais). O governo petista é contrário também à negociação de acordos sem a presença da Argentina e, agora, também da Venezuela;
4) o documento sugere que as agências reguladoras tenham independência e sejam despolitizadas. Dilma, assim como seu antecessor, acha que as agências devem ser instrumento de políticas públicas, portanto, não podem ser autônomas. Em seu governo, a maioria das agências funciona de forma precária, sem que sequer as diretorias sejam preenchidas;
5) a proposta fala em redução da relação dívida/PIB e cumprimento da meta de inflação. Na gestão Dilma, isso nunca foi prioritário. O IPCA esteve sempre acima da meta de 4,5% e, neste ano, deve chegar a 10%. Já a dívida pública se deteriora rapidamente, o que já fez o país perder o grau de investimento.
"É dever do governo e da sociedade manter baixa a inflação porque não apenas servidores públicos e beneficiários da previdência e da assistência social merecem a preservação do seu poder aquisitivo, mas todos os brasileiros em geral", diz o documento, referindo-se à indexação da despesa previdenciária e assistencial. "Se para manter o poder de compra dos que recebem rendas do Estado deixamos a inflação fora de controle ou muito alta, estamos penalizando a grande maioria da população, que não tem a seu favor mecanismos automáticos de indexação."
O aspecto mais relevante do documento "Uma Ponte para o Futuro", lançado na semana passada pelo PMDB, é que ele trata, de maneira lúcida, de temas interditados no debate econômico brasileiro. A interdição foi promovida pelo discurso e a prática dos governos do PT desde a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, em 2003. O documento é, por isso mesmo, um manifesto contra a forma como a presidente Dilma Rousseff governa o país. É, claramente, um aceno do vice-presidente Michel Temer, que se apresenta como alternativa diante de um possível impeachment da presidente.
Nos piores momentos da atual crise política, Temer conversou com empresários em São Paulo. Seu perfil é o de um político conservador, mas, ainda assim, os interlocutores tinham dúvidas sobre o que ele faria se assumisse a presidência. Ademais, um de seus aliados no meio empresarial - Paulo Skaf, presidente da Fiesp - faz campanha aberta pela demissão do solitário integrante do governo Dilma - o ministro da Fazenda, Joaquim Levy - interessado em realizar o ajuste fiscal, único caminho possível para tirar a economia brasileira da crise em que se encontra.
"Uma ponte para o Futuro" cumpre o papel de dar uma agenda não só a Temer, mas também ao país. É uma agenda esquecida, ou melhor, abandonada. Nos primeiros três anos de poder, Lula, pragmático, aceitou a herança de Fernando Henrique Cardoso e fortaleceu o arcabouço econômico encontrado. Paralelamente, realizou reformas que nem seu antecessor ousou fazer - a da previdência do setor público, por exemplo, igualou as regras de aposentadoria do funcionalismo às do trabalhadores do setor privado e obrigou os inativos a contribuírem para a previdência.
Lula abraçou uma agenda na área econômica que pouco diferia da de FHC. Com a eclosão do mensalão em 2005, fragilizou-se politicamente e começou a promover uma inflexão no ideário econômico. O marco do início daquele processo foi a derrubada, pela então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, da proposta de déficit zero feita pelos ministros da área econômica - Antonio Palocci (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento). Contrária a tudo o que Dilma pensa, a proposta foi tachada por ela de "rudimentar".
Dois dos formuladores do documento do PMDB participaram daqueles momentos. Marcos Lisboa, hoje presidente do Insper, foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda entre 2003 e 2006 e o principal formulador das reformas microeconômicas da gestão Palocci. O ex-ministro Delfim Netto, juntamente com o economista Fábio Giambiagi, do BNDES, foi um dos idealizadores do projeto "déficit zero" - a lógica da ideia era que, tendo superado a severa crise de confiança de 2002/2003, o país reunia as condições para dar o passo seguinte e, assim, eliminar o déficit público, problema que está na origem de muitos males da economia (juros altos, dívida elevada, inflação renitente, baixo nível de poupança doméstica etc).
O fracasso retumbante da política econômica do governo Dilma e a resistência da presidente a mudá-la criaram espaço para o retorno de agendas como a preconizada em "Uma Ponte para o Futuro". Embora não responsabilize Dilma pelos desequilíbrios existentes na economia, o documento do PMDB, que contou também com a contribuição de especialistas como Paulo Rabello de Castro e José Márcio Camargo, deixa claro que o atual governo vai na direção contrária do seu enfrentamento.
Alguns exemplos são notáveis:
1) o documento recomenda o fim de todas as vinculações e indexações que engessam o Orçamento. No governo, Dilma superindexou o salário mínimo ao atrelar sua correção à variação da inflação e do PIB. Ela também rejeita qualquer proposta para desvincular o mínimo do piso da previdência. Além disso, jamais aceitou estabelecer um limite legal para as despesas de custeio. Dilma é contra, também, acabar com as vinculações para gastos com saúde e educação, uma regra da Constituição que, na prática, estimula a ineficiência e não ajuda a resolver os problemas dos dois setores;
2) o PMDB propõe a volta do regime de concessão na exploração do petróleo da camada pré-sal. Dilma é a mentora do regime de partilha, que está na origem da ruína da Petrobras e é uma das sementes, com o forçado gigantismo da estatal, do ruidoso esquema de corrupção a cujo desbaratamento a sociedade brasileira assiste perplexa. A exigência de conteúdo nacional, que está na raiz da ineficiência do setor, é cara à presidente;
3) o texto recomenda a inserção plena do Brasil no comércio internacional, com maior abertura e fechamento de acordos regionais (uma vez que os multilaterais estão bloqueados na OMC). Desde que chegou ao poder, Dilma elevou as tarifas de importação de vários setores e deixou o país fora de todas as negociações relevantes, criando um perigoso isolamento que nos custará caro (o desvio de comércio está fazendo o Brasil perder espaço em mercados tradicionais). O governo petista é contrário também à negociação de acordos sem a presença da Argentina e, agora, também da Venezuela;
4) o documento sugere que as agências reguladoras tenham independência e sejam despolitizadas. Dilma, assim como seu antecessor, acha que as agências devem ser instrumento de políticas públicas, portanto, não podem ser autônomas. Em seu governo, a maioria das agências funciona de forma precária, sem que sequer as diretorias sejam preenchidas;
5) a proposta fala em redução da relação dívida/PIB e cumprimento da meta de inflação. Na gestão Dilma, isso nunca foi prioritário. O IPCA esteve sempre acima da meta de 4,5% e, neste ano, deve chegar a 10%. Já a dívida pública se deteriora rapidamente, o que já fez o país perder o grau de investimento.
"É dever do governo e da sociedade manter baixa a inflação porque não apenas servidores públicos e beneficiários da previdência e da assistência social merecem a preservação do seu poder aquisitivo, mas todos os brasileiros em geral", diz o documento, referindo-se à indexação da despesa previdenciária e assistencial. "Se para manter o poder de compra dos que recebem rendas do Estado deixamos a inflação fora de controle ou muito alta, estamos penalizando a grande maioria da população, que não tem a seu favor mecanismos automáticos de indexação."
Respiro em dólares - CELSO MING
ESTADÃO - 04/11
O setor externo é dos poucos setores da economia brasileira que mostram sinais de ajuste
Enquanto o resto da economia afunda ou continua no marasmo, o setor externo (entrada e saída de moeda estrangeira no e do País) vai apresentando excelentes resultados. É dos poucos setores da economia que mostram sinais de ajuste.
A balança comercial (que registra exportações e importações) teve em outubro um saldo positivo de US$ 2,0 bilhões que, embora não surpreendente, foi superior à média das estimativas dos analistas do mercado. Os dez primeiros meses do ano acumularam um excelente superávit de US$ 12,2 bilhões.
Não dá para negar que esse resultado positivo é fruto de um quadro ruim. Foi a recessão que derrubou o consumo e as importações e, assim, virou o jogo perdedor do último ano. Isso fica mais claro quando se confere que, nos dez primeiros meses de 2015, a importação de bens de consumo caiu 16,5% sobre igual período de 2014.
Também as exportações enfrentam retração do mercado global e forte queda dos preços das commodities. No período janeiro-outubro, caíram as exportações para todos os blocos econômicos (veja tabela no Confira). Os produtos básicos, que em 2014 pesaram quase 50% no faturamento total das vendas do Brasil, acusaram, nos dez primeiros meses deste ano, redução de 20,1%, o que dá boa ideia do impacto sobre a economia provocado pela baixa das commodities.
Outro jeito de avaliar como o comércio exterior passou a ser uma das respostas ao aperto é examinar o que produziu o saldo positivo. Ele é o resultado da queda muito maior das importações, de nada menos que 22,4% em relação a mesmo período do ano anterior. As exportações caíram menos, 15,2%.
Com o recuo tanto das importações quanto das exportações, a corrente de comércio (que soma ambas) teve uma queda de 18,8%. Esse número sugere que o Brasil também perdeu participação no comércio global. Um fluxo comercial mais baixo é fator de aumento de custos. Mostram, por exemplo, transportes e instalações portuárias menos utilizados.
O dado negativo das importações de maior impacto na economia é a forte retração das entradas de bens de capital (máquinas e equipamentos). Queda de 18,2% no período, o que demonstra a fraqueza dos investimentos. E investimento fraquejante é produção também fraquejante no futuro.
Ainda não ficou visível o impacto sobre as exportações produzido pela alta do dólar em reais (desvalorização cambial) de mais de 50% no período de 12 meses. (O real mais desvalorizado barateia em dólares o produto exportado e, por isso, a longo prazo, tende a estimular as encomendas.)
As projeções do mercado para todo o ano de 2015, tal como medidas pela Pesquisa Focus do Banco Central, apontam para um saldo comercial positivo de R$ 14 bilhões. O Banco Central não espera mais do que R$ 12 bilhões. Ambas as projeções parecem excessivamente conservadoras. Mais provável é que fiquem entre US$ 15 bilhões e US$ 16 bilhões, o que seria um grande resultado para um ano econômico ruim, que apresentará queda do PIB de pelo menos 3% e inflação perto dos 10%.
Esta foi a queda das exportações e importações brasileiras por bloco econômico.
Setembro melhor
O desempenho da indústria vem sendo tão decepcionante que dados positivos merecem comemoração. É o que se pode dizer dos indicadores sobre faturamento divulgados nesta terça-feira pela Confederação Nacional da Indústria. Em setembro, acusaram avanço real de 1,2% sobre agosto.
O setor externo é dos poucos setores da economia brasileira que mostram sinais de ajuste
Enquanto o resto da economia afunda ou continua no marasmo, o setor externo (entrada e saída de moeda estrangeira no e do País) vai apresentando excelentes resultados. É dos poucos setores da economia que mostram sinais de ajuste.
A balança comercial (que registra exportações e importações) teve em outubro um saldo positivo de US$ 2,0 bilhões que, embora não surpreendente, foi superior à média das estimativas dos analistas do mercado. Os dez primeiros meses do ano acumularam um excelente superávit de US$ 12,2 bilhões.
Não dá para negar que esse resultado positivo é fruto de um quadro ruim. Foi a recessão que derrubou o consumo e as importações e, assim, virou o jogo perdedor do último ano. Isso fica mais claro quando se confere que, nos dez primeiros meses de 2015, a importação de bens de consumo caiu 16,5% sobre igual período de 2014.
Também as exportações enfrentam retração do mercado global e forte queda dos preços das commodities. No período janeiro-outubro, caíram as exportações para todos os blocos econômicos (veja tabela no Confira). Os produtos básicos, que em 2014 pesaram quase 50% no faturamento total das vendas do Brasil, acusaram, nos dez primeiros meses deste ano, redução de 20,1%, o que dá boa ideia do impacto sobre a economia provocado pela baixa das commodities.
Outro jeito de avaliar como o comércio exterior passou a ser uma das respostas ao aperto é examinar o que produziu o saldo positivo. Ele é o resultado da queda muito maior das importações, de nada menos que 22,4% em relação a mesmo período do ano anterior. As exportações caíram menos, 15,2%.
Com o recuo tanto das importações quanto das exportações, a corrente de comércio (que soma ambas) teve uma queda de 18,8%. Esse número sugere que o Brasil também perdeu participação no comércio global. Um fluxo comercial mais baixo é fator de aumento de custos. Mostram, por exemplo, transportes e instalações portuárias menos utilizados.
O dado negativo das importações de maior impacto na economia é a forte retração das entradas de bens de capital (máquinas e equipamentos). Queda de 18,2% no período, o que demonstra a fraqueza dos investimentos. E investimento fraquejante é produção também fraquejante no futuro.
Ainda não ficou visível o impacto sobre as exportações produzido pela alta do dólar em reais (desvalorização cambial) de mais de 50% no período de 12 meses. (O real mais desvalorizado barateia em dólares o produto exportado e, por isso, a longo prazo, tende a estimular as encomendas.)
As projeções do mercado para todo o ano de 2015, tal como medidas pela Pesquisa Focus do Banco Central, apontam para um saldo comercial positivo de R$ 14 bilhões. O Banco Central não espera mais do que R$ 12 bilhões. Ambas as projeções parecem excessivamente conservadoras. Mais provável é que fiquem entre US$ 15 bilhões e US$ 16 bilhões, o que seria um grande resultado para um ano econômico ruim, que apresentará queda do PIB de pelo menos 3% e inflação perto dos 10%.
Esta foi a queda das exportações e importações brasileiras por bloco econômico.
Setembro melhor
O desempenho da indústria vem sendo tão decepcionante que dados positivos merecem comemoração. É o que se pode dizer dos indicadores sobre faturamento divulgados nesta terça-feira pela Confederação Nacional da Indústria. Em setembro, acusaram avanço real de 1,2% sobre agosto.
Não foi bom para ninguém - ROSÂNGELA BITTAR
VALOR ECONÔMICO - 04/11
Intrigante como já se passou quase um ano de exercício do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, num governo claudicante, ameaçado de impeachment sem ter tido, na verdade, a oportunidade sequer de começar, e ainda não apareceu um sucessor bem situado e com perspectiva de se colocar na disputa de uma forma segura. Os três anos que faltam para a campanha formal são um tempo longo demais para deixar candidatos na rua, expostos às intempéries, mas se o governo continuar neste funcionamento vazio, uma engrenagem que só faz ratear, será inevitável que a escolha do próximo presidente da República tome conta do espaço político do país e nem a crise econômica mobilizará eleitos e eleitores.
Isso só não aconteceu, ainda, porque não há um nome em nenhum partido com o seu destino ligado a esta cadeira. As legendas, também, como o governo, soluçam, e não conseguem informações precisas sobre quem e o quê quer o eleitorado.
As pesquisas de opinião mais recentes mostraram o cenário oco do momento, em que todos os possíveis candidatos, do governo ou da oposição, estão mais ou menos situados no mesmo patamar de intenção de voto e de rejeição.
O cientista político e sociólogo Antonio Lavareda desestimula, nos seus estudos, que se considere, nas vastas listas submetidas ao eleitorado nesses levantamentos, os nomes que não participaram da última eleição. "Os que não foram candidatos, independentemente de a pesquisa dizer que o eleitor o conhece bem, não são conhecidos", afirma. Na maioria das vezes, submetem-se ao eleitor os nomes em lista estimulada, e em seguida pergunta-se se conhece aquelas figuras. Ora, quem respondeu à intenção de voto estimulada acabou de conhecer, não fazem nem três minutos, aquele candidato, portanto é uma resposta inócua para referência.
No caso das pesquisas deste fim de ano, seria necessário então, por esse princípio, separar o senador José Serra e o governador Geraldo Alckmin, ambos do PSDB. Foram citados pelo nível de conhecimento mas já vai longe o ano em que foram candidatos a presidente.
Restaria considerar, no grupo do governo, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, e no da oposição, Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (Rede). A única constatação, óbvia, que as pesquisas permitem fazer, é que os dados apurados mostram que a candidatura do ex-presidente Lula é inviável, hoje, e o PT bem faria se começasse a testar outros nomes, de preferência escolhendo-os entre os seus filiados que não participaram da cúpula partidária, nos últimos anos, por razões evidentes por si.
Por que a candidatura Lula se mostra inviável? O ex-presidente está com uma rejeição inédita, até mesmo no Nordeste, seu reduto mais fiel. Hoje, 55% do eleitorado diz que não votaria em Lula de jeito nenhum. Esse percentual era de 33% em maio do ano passado, uma queda vertiginosa para alguém carismático que cultiva a fama de pai dos pobres, que se vitimiza ainda com sucesso a qualquer obstáculo com que se depara na sua carreira política.
Só a rejeição, porém, não é tudo. Lula aparece nas respostas de 67% dos eleitores como tendo responsabilidade nos fatos criminosos em investigação na operação Lava-Jato.
São, então, 55% de rejeição, 67% que o responsabilizam pelo maior escândalo que sangrou a maior estatal brasileira. Um veredicto que torna inviável sua candidatura, hoje. A Lava-Jato, bem como agora a Operação Zelotes, no caso do Lula, constituem o fato político, jurídico, policial mais importante dessa conjuntura que vai empurrar o país até a sucessão e sobre ela exercer uma influência decisiva. As duas taxas combinadas são mortais para Lula, mas não o tirarão da campanha que se desenvolve hoje até que possa trabalhar por alguém. Vai ficar reservando lugar até o fim. Quem sabe não fica? Tudo depende.
Há, na cúpula do PT, com todas as ressalvas de que esse quadro pode mudar a partir do ano que vem, se houver recuperação econômica do país, quem defenda que, se o PT quiser ter a chance de manter o poder federal, melhor faria se encontrasse um nome, ou alguns nomes para serem testados desde já. Alguém, inclusive, a ser adotado pelo ex-presidente num grupo de petistas insuspeitos, fora da máquina partidária e do governo.
Da oposição são dois os candidatos que participaram da eleição do ano passado, e as pesquisas têm respostas diferentes para Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (Rede).
Aécio teve 33,55% dos votos válidos no primeiro turno e 48,36% dos votos válidos, no segundo turno. Houve um crescimento substantivo do primeiro para o segundo turno. As pesquisas deste mês, contudo, mostram o senador Aécio Neves reduzido à votação do primeiro turno que, de resto, é a votação padrão do PSDB em eleições presidenciais, seja quem for o candidato.
Na pesquisa MDA/CNT, Aécio aparece com 32% das intenções de voto, provando que tudo o que agregou em outubro de 2014, cerca de 15 pontos percentuais, ele não conseguiu reter.
É fato que na disputa do segundo turno o candidato recebe parte da votação do terceiro lugar e a adesão de quem não vota no seu adversário de jeito nenhum. Mas não conseguir agregar um votinho desses, conquistados fora do eleitorado do PSDB, é um fenômeno altamente negativo, cujas causas é preciso procurar. O senador Aécio Neves, que quase venceu a eleição presidencial, teve mais de 51 milhões de votos, e num espaço de um ano não conseguiu construir uma relação com esse eleitorado.
Marina Silva, outra candidata de 2014 no campo da oposição, terceiro lugar no primeiro turno, não está bem, mas em melhor situação que seus adversários, por enquanto na pesquisa, não se sabe se na eleição. Talvez até pelo silêncio que se impôs (ganhou com isso), só quebrado para revelar posições inaceitáveis para os eleitores, como condenar o impeachment (perdeu com isso), tornou-se incompreensível e no lusco fusco manteve-se em equilíbrio. No primeiro turno de 2014 teve 21,32% dos votos, e na pesquisa de agora 21,3% das intenções de voto.
Intrigante como já se passou quase um ano de exercício do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, num governo claudicante, ameaçado de impeachment sem ter tido, na verdade, a oportunidade sequer de começar, e ainda não apareceu um sucessor bem situado e com perspectiva de se colocar na disputa de uma forma segura. Os três anos que faltam para a campanha formal são um tempo longo demais para deixar candidatos na rua, expostos às intempéries, mas se o governo continuar neste funcionamento vazio, uma engrenagem que só faz ratear, será inevitável que a escolha do próximo presidente da República tome conta do espaço político do país e nem a crise econômica mobilizará eleitos e eleitores.
Isso só não aconteceu, ainda, porque não há um nome em nenhum partido com o seu destino ligado a esta cadeira. As legendas, também, como o governo, soluçam, e não conseguem informações precisas sobre quem e o quê quer o eleitorado.
As pesquisas de opinião mais recentes mostraram o cenário oco do momento, em que todos os possíveis candidatos, do governo ou da oposição, estão mais ou menos situados no mesmo patamar de intenção de voto e de rejeição.
O cientista político e sociólogo Antonio Lavareda desestimula, nos seus estudos, que se considere, nas vastas listas submetidas ao eleitorado nesses levantamentos, os nomes que não participaram da última eleição. "Os que não foram candidatos, independentemente de a pesquisa dizer que o eleitor o conhece bem, não são conhecidos", afirma. Na maioria das vezes, submetem-se ao eleitor os nomes em lista estimulada, e em seguida pergunta-se se conhece aquelas figuras. Ora, quem respondeu à intenção de voto estimulada acabou de conhecer, não fazem nem três minutos, aquele candidato, portanto é uma resposta inócua para referência.
No caso das pesquisas deste fim de ano, seria necessário então, por esse princípio, separar o senador José Serra e o governador Geraldo Alckmin, ambos do PSDB. Foram citados pelo nível de conhecimento mas já vai longe o ano em que foram candidatos a presidente.
Restaria considerar, no grupo do governo, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, e no da oposição, Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (Rede). A única constatação, óbvia, que as pesquisas permitem fazer, é que os dados apurados mostram que a candidatura do ex-presidente Lula é inviável, hoje, e o PT bem faria se começasse a testar outros nomes, de preferência escolhendo-os entre os seus filiados que não participaram da cúpula partidária, nos últimos anos, por razões evidentes por si.
Por que a candidatura Lula se mostra inviável? O ex-presidente está com uma rejeição inédita, até mesmo no Nordeste, seu reduto mais fiel. Hoje, 55% do eleitorado diz que não votaria em Lula de jeito nenhum. Esse percentual era de 33% em maio do ano passado, uma queda vertiginosa para alguém carismático que cultiva a fama de pai dos pobres, que se vitimiza ainda com sucesso a qualquer obstáculo com que se depara na sua carreira política.
Só a rejeição, porém, não é tudo. Lula aparece nas respostas de 67% dos eleitores como tendo responsabilidade nos fatos criminosos em investigação na operação Lava-Jato.
São, então, 55% de rejeição, 67% que o responsabilizam pelo maior escândalo que sangrou a maior estatal brasileira. Um veredicto que torna inviável sua candidatura, hoje. A Lava-Jato, bem como agora a Operação Zelotes, no caso do Lula, constituem o fato político, jurídico, policial mais importante dessa conjuntura que vai empurrar o país até a sucessão e sobre ela exercer uma influência decisiva. As duas taxas combinadas são mortais para Lula, mas não o tirarão da campanha que se desenvolve hoje até que possa trabalhar por alguém. Vai ficar reservando lugar até o fim. Quem sabe não fica? Tudo depende.
Há, na cúpula do PT, com todas as ressalvas de que esse quadro pode mudar a partir do ano que vem, se houver recuperação econômica do país, quem defenda que, se o PT quiser ter a chance de manter o poder federal, melhor faria se encontrasse um nome, ou alguns nomes para serem testados desde já. Alguém, inclusive, a ser adotado pelo ex-presidente num grupo de petistas insuspeitos, fora da máquina partidária e do governo.
Da oposição são dois os candidatos que participaram da eleição do ano passado, e as pesquisas têm respostas diferentes para Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (Rede).
Aécio teve 33,55% dos votos válidos no primeiro turno e 48,36% dos votos válidos, no segundo turno. Houve um crescimento substantivo do primeiro para o segundo turno. As pesquisas deste mês, contudo, mostram o senador Aécio Neves reduzido à votação do primeiro turno que, de resto, é a votação padrão do PSDB em eleições presidenciais, seja quem for o candidato.
Na pesquisa MDA/CNT, Aécio aparece com 32% das intenções de voto, provando que tudo o que agregou em outubro de 2014, cerca de 15 pontos percentuais, ele não conseguiu reter.
É fato que na disputa do segundo turno o candidato recebe parte da votação do terceiro lugar e a adesão de quem não vota no seu adversário de jeito nenhum. Mas não conseguir agregar um votinho desses, conquistados fora do eleitorado do PSDB, é um fenômeno altamente negativo, cujas causas é preciso procurar. O senador Aécio Neves, que quase venceu a eleição presidencial, teve mais de 51 milhões de votos, e num espaço de um ano não conseguiu construir uma relação com esse eleitorado.
Marina Silva, outra candidata de 2014 no campo da oposição, terceiro lugar no primeiro turno, não está bem, mas em melhor situação que seus adversários, por enquanto na pesquisa, não se sabe se na eleição. Talvez até pelo silêncio que se impôs (ganhou com isso), só quebrado para revelar posições inaceitáveis para os eleitores, como condenar o impeachment (perdeu com isso), tornou-se incompreensível e no lusco fusco manteve-se em equilíbrio. No primeiro turno de 2014 teve 21,32% dos votos, e na pesquisa de agora 21,3% das intenções de voto.
Os sinais da balança - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 04/11
O Brasil vai bater recorde na exportação de milho. Nunca produziu tanto. Todo o agronegócio tem conseguido compensar em parte a queda dos preços com o crescimento da quantidade exportada. O excelente saldo de outubro, de quase US$ 2 bilhões, foi influenciado por este aumento do volume de vendas, mas foi resultado principalmente da forte queda das importações.
O superávit é muito dependente da queda nas importações, é isso que explica em grande parte o saldo positivo de 2015, que está em US$ 12,2 bilhões. O economista José Roberto Mendonça de Barros acredita que no ano que vem o superávit deve dobrar, indo dos US$ 14 bilhões a US$ 15 bilhões de 2015 para cerca de US$ 30 bilhões em 2016.
- O Brasil vai exportar este ano 27 milhões de toneladas de milho, uma montanha nunca vista. O clima esteve no ponto certo. Agora é que o excesso de chuva começou a afetar o plantio no Rio Grande do Sul, o que afetará a safra do ano que vem de soja, milho, arroz. Nas exportações agrícolas está havendo aumento da quantidade, e queda nos preços -, diz José Roberto.
É a soja, e não o milho, o nosso principal produto agrícola. Mas na maioria das culturas tem havido aumento de volume, explica o economista.
- Numa escala bem menor aconteceu com o arroz, que nós nunca exportamos e estamos vendendo este ano. A maior explicação para o resultado de outubro foi que a média diária de importação despencou 21,1%, frente a outubro de 2014. O saldo é positivo porque as exportações caíram menos, 4,1%. O dólar alto explica parte do cenário. Mas a diminuição na demanda por importados está acontecendo num ritmo forte.
Até quem acompanha de perto o movimento da balança comercial se assustou. Nas primeiras quatro semanas de outubro, o superávit acumulado no mês estava em US$ 880 milhões. Na última semana, saltou para US$ 1,996 bi. José Augusto de Castro, presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB) explicou que a média diária das importações encolheu para US$ 500,3 milhões.
- Em janeiro e fevereiro, o país importava mais de US$ 800 milhões ao dia. Em março, a média caiu para US$ 700 milhões. Recuou para US$ 600 milhões ao dia em agosto e agora diminuiu mais, para US$ 500 milhões. A média na última semana é similar ao que o país registrava em 2007. É muito pouco -, diz Castro.
José Roberto Mendonça de Barros explica que há anos a importação não cai de forma tão acentuada. E a queda é provocada por dois fatos: a alta do dólar e a diminuição da demanda interna pela recessão.
- Há um efeito de substituição de importações por causa do dólar alto que tem ajudado alguns setores, como o de têxtil e confecção, que além de vender para o mercado interno projeta um aumento da exportação de 10% no ano que vem - diz Mendonça de Barros.
O presidente da AEB, José Augusto de Castro, lembra que parte dos produtos consumidos no Natal é importada, mas nem as festas de fim de ano estão influenciando a balança em 2015.
No ano, as importações caíram 22,4%; as exportações recuaram 15,2%. Nesses 10 meses, o país comprou US$ 148,3 bilhões do restante do mundo, e vendeu US$ 160,5 bi. A soma desses valores é a corrente de comércio. Ela encolheu 18,8% na comparação com 2014.
- Estamos formando superávit, mas o que vale é a corrente de comércio. Ela indica como está a atividade da economia. A corrente está recuando. É bom ter superávit da balança comercial. Mas este resultado foi conquistado porque as exportações caíram menos que as importações. É o que chamo de "superávit negativo" -, lamenta Castro.
A participação do país no comércio global, que era de 1,19%, deve terminar o ano abaixo de 1%. Com a queda forte das importações, a AEB vai revisar novamente sua projeção para o superávit do ano. Em julho, a expectativa era de resultado positivo de US$ 8 bi. Agora deve chegar a US$ 13,5 bi.
José Roberto Mendonça de Barros continua achando que a recessão será profunda, porém curta. Ele não aposta num encolhimento do PIB do ano que vem na mesma intensidade de 2015. E acredita que, com o dólar alto, pode haver um grande movimento de consolidação na economia, repetindo eventos como o do Hypermarcas e Coty, que animou a bolsa ontem.
O Brasil vai bater recorde na exportação de milho. Nunca produziu tanto. Todo o agronegócio tem conseguido compensar em parte a queda dos preços com o crescimento da quantidade exportada. O excelente saldo de outubro, de quase US$ 2 bilhões, foi influenciado por este aumento do volume de vendas, mas foi resultado principalmente da forte queda das importações.
O superávit é muito dependente da queda nas importações, é isso que explica em grande parte o saldo positivo de 2015, que está em US$ 12,2 bilhões. O economista José Roberto Mendonça de Barros acredita que no ano que vem o superávit deve dobrar, indo dos US$ 14 bilhões a US$ 15 bilhões de 2015 para cerca de US$ 30 bilhões em 2016.
- O Brasil vai exportar este ano 27 milhões de toneladas de milho, uma montanha nunca vista. O clima esteve no ponto certo. Agora é que o excesso de chuva começou a afetar o plantio no Rio Grande do Sul, o que afetará a safra do ano que vem de soja, milho, arroz. Nas exportações agrícolas está havendo aumento da quantidade, e queda nos preços -, diz José Roberto.
É a soja, e não o milho, o nosso principal produto agrícola. Mas na maioria das culturas tem havido aumento de volume, explica o economista.
- Numa escala bem menor aconteceu com o arroz, que nós nunca exportamos e estamos vendendo este ano. A maior explicação para o resultado de outubro foi que a média diária de importação despencou 21,1%, frente a outubro de 2014. O saldo é positivo porque as exportações caíram menos, 4,1%. O dólar alto explica parte do cenário. Mas a diminuição na demanda por importados está acontecendo num ritmo forte.
Até quem acompanha de perto o movimento da balança comercial se assustou. Nas primeiras quatro semanas de outubro, o superávit acumulado no mês estava em US$ 880 milhões. Na última semana, saltou para US$ 1,996 bi. José Augusto de Castro, presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB) explicou que a média diária das importações encolheu para US$ 500,3 milhões.
- Em janeiro e fevereiro, o país importava mais de US$ 800 milhões ao dia. Em março, a média caiu para US$ 700 milhões. Recuou para US$ 600 milhões ao dia em agosto e agora diminuiu mais, para US$ 500 milhões. A média na última semana é similar ao que o país registrava em 2007. É muito pouco -, diz Castro.
José Roberto Mendonça de Barros explica que há anos a importação não cai de forma tão acentuada. E a queda é provocada por dois fatos: a alta do dólar e a diminuição da demanda interna pela recessão.
- Há um efeito de substituição de importações por causa do dólar alto que tem ajudado alguns setores, como o de têxtil e confecção, que além de vender para o mercado interno projeta um aumento da exportação de 10% no ano que vem - diz Mendonça de Barros.
O presidente da AEB, José Augusto de Castro, lembra que parte dos produtos consumidos no Natal é importada, mas nem as festas de fim de ano estão influenciando a balança em 2015.
No ano, as importações caíram 22,4%; as exportações recuaram 15,2%. Nesses 10 meses, o país comprou US$ 148,3 bilhões do restante do mundo, e vendeu US$ 160,5 bi. A soma desses valores é a corrente de comércio. Ela encolheu 18,8% na comparação com 2014.
- Estamos formando superávit, mas o que vale é a corrente de comércio. Ela indica como está a atividade da economia. A corrente está recuando. É bom ter superávit da balança comercial. Mas este resultado foi conquistado porque as exportações caíram menos que as importações. É o que chamo de "superávit negativo" -, lamenta Castro.
A participação do país no comércio global, que era de 1,19%, deve terminar o ano abaixo de 1%. Com a queda forte das importações, a AEB vai revisar novamente sua projeção para o superávit do ano. Em julho, a expectativa era de resultado positivo de US$ 8 bi. Agora deve chegar a US$ 13,5 bi.
José Roberto Mendonça de Barros continua achando que a recessão será profunda, porém curta. Ele não aposta num encolhimento do PIB do ano que vem na mesma intensidade de 2015. E acredita que, com o dólar alto, pode haver um grande movimento de consolidação na economia, repetindo eventos como o do Hypermarcas e Coty, que animou a bolsa ontem.
Bumlai joga suspeitas sobre o BNDES - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 04/11
O banco, instrumento essencial na industrialização do país, passou também a aparecer em histórias nada edificantes de favorecimentos a empresas próximas ao Planalto
Fundado em 1952, no segundo governo Vargas, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), ainda sem o “S”, de Social, se mistura à história da industrialização brasileira e da expansão da infraestrutura do país. Já há algum tempo um dos maiores bancos de fomento do mundo, a instituição é ator de primeira grandeza em bons ou maus momentos da economia.
Mas, nestes últimos tempos, sob controle petista, tem aparecido também em crônicas de relações “não republicanas" entre o Planalto, o partido e o mundo dos negócios.
Instrumento usual de intervenção do Estado na economia — foi assim no regime militar, no governo Geisel, na fracassada substituição de importações de máquinas, equipamentos e insumos básicos —, o banco também seria usado pelo PT com objetivos semelhantes. Um desses programas de pedigree “Brasil Grande”, típico da ditadura militar, foi a tentativa de criação de “campeões nacionais”, com apoio maciço, por meio de dinheiro público, a empresários escolhidos para serem grandes e fortes também no exterior. Alguns se tornaram generosos financiadores de campanhas políticas de petistas e oposicionistas. Mais de petistas.
O banco aparece também no meio de relacionamentos perigosamente próximos de Lula, na Presidência e fora dela, com empreiteiras, a Odebrecht a mais destacada delas.
O Ministério Público Federal de Brasília investiga o assunto. Há o entendimento de que Lula teria feito gestões impróprias junto ao banco para que ele financiasse obras da empreiteira em Cuba e outros países.
Estourou no fim de semana outro caso, de grande poder corrosivo — da imagem de Lula e do banco —, revelado pela “Folha de S.Paulo”, em que está envolvido o amigo do ex-presidente, o pecuarista José Carlos Bumlai.
A história é simples, mas bombástica: o empresário amigo, em dificuldades, já com pedido de falência na praça, conseguiu em 2012 do BNDES R$ 101,5 milhões para a São Fernando Energia 1, geradora a partir de bagaço de cana. Nove meses depois, a empresa entrou em concordata, e mais tarde o próprio BNDES requereu sua falência.
É razoável imaginar-se que uma análise cuidadosa do banco evitaria o problema. Ele, por sua vez, explica que quem responde pela avaliação do pedido de crédito é o banco intermediário (BB e BTG). Ora, e esses, principalmente o Banco do Brasil, não seriam permeáveis a pressões de gente ilustre na hierarquia petista?
O caso é típico da privatização maligna do Estado por meio do aparelhamento de estatais e da administração direta. Há uma CPI do BNDES instalada. Deveria investigar este escândalo e outras ocorrências suspeitas.
Mas como ela está paralisada pela luta político-partidária, resta confiar no MP, Justiça e Polícia Federal para mais uma empreitada moralizadora.
O banco, instrumento essencial na industrialização do país, passou também a aparecer em histórias nada edificantes de favorecimentos a empresas próximas ao Planalto
Fundado em 1952, no segundo governo Vargas, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), ainda sem o “S”, de Social, se mistura à história da industrialização brasileira e da expansão da infraestrutura do país. Já há algum tempo um dos maiores bancos de fomento do mundo, a instituição é ator de primeira grandeza em bons ou maus momentos da economia.
Mas, nestes últimos tempos, sob controle petista, tem aparecido também em crônicas de relações “não republicanas" entre o Planalto, o partido e o mundo dos negócios.
Instrumento usual de intervenção do Estado na economia — foi assim no regime militar, no governo Geisel, na fracassada substituição de importações de máquinas, equipamentos e insumos básicos —, o banco também seria usado pelo PT com objetivos semelhantes. Um desses programas de pedigree “Brasil Grande”, típico da ditadura militar, foi a tentativa de criação de “campeões nacionais”, com apoio maciço, por meio de dinheiro público, a empresários escolhidos para serem grandes e fortes também no exterior. Alguns se tornaram generosos financiadores de campanhas políticas de petistas e oposicionistas. Mais de petistas.
O banco aparece também no meio de relacionamentos perigosamente próximos de Lula, na Presidência e fora dela, com empreiteiras, a Odebrecht a mais destacada delas.
O Ministério Público Federal de Brasília investiga o assunto. Há o entendimento de que Lula teria feito gestões impróprias junto ao banco para que ele financiasse obras da empreiteira em Cuba e outros países.
Estourou no fim de semana outro caso, de grande poder corrosivo — da imagem de Lula e do banco —, revelado pela “Folha de S.Paulo”, em que está envolvido o amigo do ex-presidente, o pecuarista José Carlos Bumlai.
A história é simples, mas bombástica: o empresário amigo, em dificuldades, já com pedido de falência na praça, conseguiu em 2012 do BNDES R$ 101,5 milhões para a São Fernando Energia 1, geradora a partir de bagaço de cana. Nove meses depois, a empresa entrou em concordata, e mais tarde o próprio BNDES requereu sua falência.
É razoável imaginar-se que uma análise cuidadosa do banco evitaria o problema. Ele, por sua vez, explica que quem responde pela avaliação do pedido de crédito é o banco intermediário (BB e BTG). Ora, e esses, principalmente o Banco do Brasil, não seriam permeáveis a pressões de gente ilustre na hierarquia petista?
O caso é típico da privatização maligna do Estado por meio do aparelhamento de estatais e da administração direta. Há uma CPI do BNDES instalada. Deveria investigar este escândalo e outras ocorrências suspeitas.
Mas como ela está paralisada pela luta político-partidária, resta confiar no MP, Justiça e Polícia Federal para mais uma empreitada moralizadora.
Um legado do lulopetismo - EDITORIAL O ESTADÃO
ESTADÃO - 04/11
Não deveria espantar a projeção, publicada pelo Estado, de que 3,3 milhões de famílias que haviam chegado à classe C entre 2006 e 2012 farão o caminho de volta para a base da pirâmide até 2017. Também não deveria causar surpresa a previsão segundo a qual o PIB per capita brasileiro terá em 2020 o mesmo nível de 2010, afetando drasticamente o padrão de vida da festejada “classe média emergente”. Trata-se da confirmação das advertências que há tempos vêm sendo feitas a respeito da fragilidade dessa ascensão social, tratada na última década pelo governo petista como a prova do acerto de sua política econômica.
Em meio a uma recessão que promete ser longa e dolorosa, ficaram claros os erros grosseiros dessa política, em especial aqueles que arrebentaram as contas públicas em nome do assistencialismo travestido de redistribuição de renda e que construíram a tal “nova classe média” com base exclusivamente no aumento do poder de consumo, garantido pelo crédito farto que só existia em razão da conjuntura externa favorável. Na época de ouro do lulopetismo, no entanto, quem quer que ousasse apontar a vulnerabilidade dessa nova classe média era logo classificado de “pessimista” – ou, pior, inimigo do povo.
No décimo aniversário do Bolsa Família, em outubro de 2013, quando a tempestade que se aproximava ainda era confundida com chuva de verão, o ex-presidente Lula caprichou na retórica divisiva, atribuindo as críticas à política petista a uma certa “elite” incomodada pela “ascensão do pobre”. “O cidadão vai para o aeroporto, chega lá e vê a empregada dele com a família no avião, pegando o lugar dele. Eu sei que é duro”, discursou Lula. No mesmo embalo, durante a campanha de 2014, a presidente Dilma Rousseff disse que “33 milhões viajaram de avião em 2002, hoje são 113 milhões e, em 2020, serão 200 milhões” – algo que, segundo ela, “incomoda muita gente”.
Ao final de 2015, o sonho da classe C que viaja de avião se transformou no pesadelo dos pobres que mal conseguem pagar a passagem de ônibus para ir atrás de um emprego. “Estamos vivendo, infelizmente, o advento da ex-nova classe C”, resumiu o economista Adriano Pitoli, responsável pelo estudo da Tendências Consultoria Integrada que mediu o impacto da crise nessa faixa socioeconômica.
A pesquisa levou em conta uma projeção segundo a qual a economia deverá recuar 0,7% ao ano entre 2015 e 2017 e a massa real de rendimentos cairá 1,2% ao ano, ao mesmo tempo que o desemprego deverá chegar a quase 10%. Nesse cenário de dificuldades, emergem os problemas estruturais que tornam difícil para os que chegaram à classe C lá permanecer: baixa escolaridade, que limita a possibilidade de obter empregos de melhor remuneração; acesso a trabalho apenas no mercado informal, com escassa proteção social; e nenhuma poupança, já que, graças ao estímulo oficial ao consumo, a pouca renda acabou sendo comprometida integralmente na aquisição de bens, geralmente por meio de forte endividamento.
A situação calamitosa da economia afeta especialmente a base da pirâmide, mas será sentida em quase todas as outras faixas de renda. “É uma década perdida em termos de padrão de vida”, disse ao jornal Valor o pesquisador Armando Castelar, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV).
E a perspectiva é sombria para os próximos anos: segundo o economista Antonio Corrêa de Lacerda, também ouvido na reportagem, o PIB per capita em dólares deve cair de US$ 11.566 em 2014 para US$ 8.490 neste ano e para US$ 7.900 em 2018. Isso significa que a renda dos brasileiros estará cada vez mais distante do padrão de países desenvolvidos – mesmo aqueles que enfrentam brutais dificuldades, como a Grécia, cujo PIB per capita é de US$ 21.682.
Esse é, pois, em resumo, um dos grandes legados do lulopetismo, que será sentido por gerações, e que só poderá ser superado por meio de uma grande mobilização nacional em torno de um projeto de país radicalmente distinto das fantasias irresponsáveis criadas por Lula e companhia bela.
Duplo desgaste - EDITORIAL FOLHA DE SP
Folha de SP - 04/11
Não surpreendem os baixos índices de popularidade do prefeito Fernando Haddad (PT), registrados na última pesquisa do Datafolha. Praticamente a metade (49%) dos paulistanos considera ruim ou péssimo o seu desempenho.
A avaliação negativa, que recuara para 28% em setembro de 2014, alcançou 44% em fevereiro deste ano, subindo cinco pontos desde então. O movimento reflete os humores gerais que se seguiram à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), cobrada pelas promessas descumpridas e encurralada por crises na política e na economia.
Como consequência de sua rejeição, Haddad patina em levantamento sobre intenções de voto para o pleito municipal, no ano que vem. Se a disputa fosse hoje, o alcaide teria 12% das preferências, mesmo patamar de Marta Suplicy (PMDB) e José Luiz Datena (PP) –e muito atrás do apresentador e deputado federal Celso Russomanno (PRB), que lidera com 34%.
Ademais do claro estigma que hoje representa sua associação com o PT, e com o ex-presidente Lula em particular, Haddad experimenta os efeitos de suas iniciativas na administração municipal.
Tendem a ser, contudo, mais polêmicas do que propriamente impopulares. A implantação de ciclovias, por exemplo, ainda conta com 56% de paulistanos a seu favor.
O apoio, que chegara a 80% em setembro de 2014, terá caído devido aos exageros de Haddad, afinal com poucas bandeiras a exibir?
Pode-se conduzir o raciocínio em outra direção. Talvez parte dos entrevistados tenha preferido rejeitar em bloco o prefeito petista, mesmo se concordando com o acerto em linhas gerais das ciclovias.
Outro tema que poderia despertar grande inconformismo é a redução da velocidade máxima dos carros nas principais ruas e avenidas.
A população se mostra dividida com relação a essa iniciativa (47% a favor, 47% contra) –mas, num paradoxo, chega a 74% a proporção dos que a consideram eficiente, em maior ou menor medida, na redução de acidentes na cidade.
A rejeição de Haddad se mostra maior, portanto, do que a capacidade para apoiar as decisões mais controversas que ele tomou.
É que, na verdade, o prefeito pouco fez de tudo o que prometeu na campanha eleitoral, e sobretudo os moradores da periferia sentem cada vez mais o peso desse abandono. A adoção de medidas polêmicas na área do urbanismo não resolve carências bem mais prementes na educação e na saúde.
Soa pouco mais que uma desculpa, assim, a vinculação das parcas realizações às dificuldades orçamentárias da cidade –que o governo federal não pôde resolver.
O prefeito sofre de dois lados, portanto, com o PT: conhece o desgaste do lulismo, sem as vantagens que este poderia ter-lhe oferecido. Mas não se trata de vítima; à sombra de Lula, e petista desde sempre, Fernando Haddad colhe sua parte no repúdio que se volta contra um apodrecido sistema de poder.
Não surpreendem os baixos índices de popularidade do prefeito Fernando Haddad (PT), registrados na última pesquisa do Datafolha. Praticamente a metade (49%) dos paulistanos considera ruim ou péssimo o seu desempenho.
A avaliação negativa, que recuara para 28% em setembro de 2014, alcançou 44% em fevereiro deste ano, subindo cinco pontos desde então. O movimento reflete os humores gerais que se seguiram à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), cobrada pelas promessas descumpridas e encurralada por crises na política e na economia.
Como consequência de sua rejeição, Haddad patina em levantamento sobre intenções de voto para o pleito municipal, no ano que vem. Se a disputa fosse hoje, o alcaide teria 12% das preferências, mesmo patamar de Marta Suplicy (PMDB) e José Luiz Datena (PP) –e muito atrás do apresentador e deputado federal Celso Russomanno (PRB), que lidera com 34%.
Ademais do claro estigma que hoje representa sua associação com o PT, e com o ex-presidente Lula em particular, Haddad experimenta os efeitos de suas iniciativas na administração municipal.
Tendem a ser, contudo, mais polêmicas do que propriamente impopulares. A implantação de ciclovias, por exemplo, ainda conta com 56% de paulistanos a seu favor.
O apoio, que chegara a 80% em setembro de 2014, terá caído devido aos exageros de Haddad, afinal com poucas bandeiras a exibir?
Pode-se conduzir o raciocínio em outra direção. Talvez parte dos entrevistados tenha preferido rejeitar em bloco o prefeito petista, mesmo se concordando com o acerto em linhas gerais das ciclovias.
Outro tema que poderia despertar grande inconformismo é a redução da velocidade máxima dos carros nas principais ruas e avenidas.
A população se mostra dividida com relação a essa iniciativa (47% a favor, 47% contra) –mas, num paradoxo, chega a 74% a proporção dos que a consideram eficiente, em maior ou menor medida, na redução de acidentes na cidade.
A rejeição de Haddad se mostra maior, portanto, do que a capacidade para apoiar as decisões mais controversas que ele tomou.
É que, na verdade, o prefeito pouco fez de tudo o que prometeu na campanha eleitoral, e sobretudo os moradores da periferia sentem cada vez mais o peso desse abandono. A adoção de medidas polêmicas na área do urbanismo não resolve carências bem mais prementes na educação e na saúde.
Soa pouco mais que uma desculpa, assim, a vinculação das parcas realizações às dificuldades orçamentárias da cidade –que o governo federal não pôde resolver.
O prefeito sofre de dois lados, portanto, com o PT: conhece o desgaste do lulismo, sem as vantagens que este poderia ter-lhe oferecido. Mas não se trata de vítima; à sombra de Lula, e petista desde sempre, Fernando Haddad colhe sua parte no repúdio que se volta contra um apodrecido sistema de poder.
Sem ambiente para negócios - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 04/11
Não estivesse o Brasil mergulhado em complexa crise, que mistura recessão econômica (recuo de 3% do Produto Interno Bruto - PIB) com imbróglio político de difícil solução, estaríamos vivendo ambiente favorável à realização e à expansão dos negócios? A resposta é não. Pior: nesse campo, além de não termos feito nada para avançar, regredimos.
É o que revela o último levantamento do Banco Mundial Doing business 2016, que compara as facilidades e os entraves para abertura e funcionamento de uma empresa em 183 países. O Brasil nunca esteve bem nesse ranking. Pelo contrário, tradicionalmente, sai perdendo até mesmo para economias menos desenvolvidas. Mas, desta vez, ao cair cinco posições no ranking dos mais eficientes, o país teve a maior queda do Brics (grupo de emergentes que inclui Rússia, Índia, China e África do Sul).
No relatório de 2015, o Brasil ocupava a nada elogiável 111ª posição. Este ano, caiu para a 116ª. Ainda não é o pior dos emergentes, pois a Índia está na 130ª, embora demonstre avanço, pois subiu quatro posições de 2015 para cá. A Rússia ficou na 51ª; a África do Sul, na 73ª; e a China, na 84ª.
Um dos pontos destacados para medir a qualidade do ambiente de negócios nos diversos países é o que relaciona as dificuldades para abrir uma empresa. No Brasil, o empreendedor enfrenta 11 procedimentos, enquanto seu concorrente de Cingapura - primeiro colocado no ranking geral -, apenas três. Aqui, são necessários em média 83 dias contra apenas 2,5 do primeiro lugar. Em quatro dias, é possível fazer registro de propriedade intelectual em Cingapura, bem menos que os 13,6 no Brasil.
O funcionamento de uma empresa também enfrenta obstáculos burocráticos e tributários. Para uma operação de venda ao exterior, o exportador brasileiro leva em média 49 horas e gasta US$ 226 só com a documentação. Em Cingapura, o mesmo exportador levaria apenas 12 horas para cumprir a burocracia e pagaria não mais que US$ 37, ou quatro vezes mais rápido e seis vezes mais barato.
Famoso pela carga tributária de cerca de 36% do PIB, o Brasil sobrecarrega as empresas com cipoal de obrigações tributárias que, dependendo do tamanho e do ramo de negócio, obriga a manutenção de equipe especializada apenas para atender ao fisco. Na pesquisa do Banco Mundial, a desvantagem brasileira no item tributário em relação ao país líder em ambiente de negócios é evidente e sinaliza a urgência de a sociedade rever o tamanho e o custo do Estado. Enquanto o total dos impostos cobrados em Cingapura corresponde a 18,4% do lucro da empresa, no Brasil, a proporção é de impressionantes 69,2%.
Se é difícil para os nacionais, chega a ser desencorajador para os empresários estrangeiros que pretendam trazer para cá o projeto de expansão de negócios. Aqui dariam empregos, pagariam impostos e, mais importante, em muitos casos, agregariam tecnologia aos nossos produtos e serviços. Além da agenda de superação dos problemas fiscais, o Brasil terá que contar com os empreendedores se quiser retomar o crescimento e buscar a competitividade. O estudo do Banco Mundial revela que o trabalho será enorme. Melhor começar logo.
Não estivesse o Brasil mergulhado em complexa crise, que mistura recessão econômica (recuo de 3% do Produto Interno Bruto - PIB) com imbróglio político de difícil solução, estaríamos vivendo ambiente favorável à realização e à expansão dos negócios? A resposta é não. Pior: nesse campo, além de não termos feito nada para avançar, regredimos.
É o que revela o último levantamento do Banco Mundial Doing business 2016, que compara as facilidades e os entraves para abertura e funcionamento de uma empresa em 183 países. O Brasil nunca esteve bem nesse ranking. Pelo contrário, tradicionalmente, sai perdendo até mesmo para economias menos desenvolvidas. Mas, desta vez, ao cair cinco posições no ranking dos mais eficientes, o país teve a maior queda do Brics (grupo de emergentes que inclui Rússia, Índia, China e África do Sul).
No relatório de 2015, o Brasil ocupava a nada elogiável 111ª posição. Este ano, caiu para a 116ª. Ainda não é o pior dos emergentes, pois a Índia está na 130ª, embora demonstre avanço, pois subiu quatro posições de 2015 para cá. A Rússia ficou na 51ª; a África do Sul, na 73ª; e a China, na 84ª.
Um dos pontos destacados para medir a qualidade do ambiente de negócios nos diversos países é o que relaciona as dificuldades para abrir uma empresa. No Brasil, o empreendedor enfrenta 11 procedimentos, enquanto seu concorrente de Cingapura - primeiro colocado no ranking geral -, apenas três. Aqui, são necessários em média 83 dias contra apenas 2,5 do primeiro lugar. Em quatro dias, é possível fazer registro de propriedade intelectual em Cingapura, bem menos que os 13,6 no Brasil.
O funcionamento de uma empresa também enfrenta obstáculos burocráticos e tributários. Para uma operação de venda ao exterior, o exportador brasileiro leva em média 49 horas e gasta US$ 226 só com a documentação. Em Cingapura, o mesmo exportador levaria apenas 12 horas para cumprir a burocracia e pagaria não mais que US$ 37, ou quatro vezes mais rápido e seis vezes mais barato.
Famoso pela carga tributária de cerca de 36% do PIB, o Brasil sobrecarrega as empresas com cipoal de obrigações tributárias que, dependendo do tamanho e do ramo de negócio, obriga a manutenção de equipe especializada apenas para atender ao fisco. Na pesquisa do Banco Mundial, a desvantagem brasileira no item tributário em relação ao país líder em ambiente de negócios é evidente e sinaliza a urgência de a sociedade rever o tamanho e o custo do Estado. Enquanto o total dos impostos cobrados em Cingapura corresponde a 18,4% do lucro da empresa, no Brasil, a proporção é de impressionantes 69,2%.
Se é difícil para os nacionais, chega a ser desencorajador para os empresários estrangeiros que pretendam trazer para cá o projeto de expansão de negócios. Aqui dariam empregos, pagariam impostos e, mais importante, em muitos casos, agregariam tecnologia aos nossos produtos e serviços. Além da agenda de superação dos problemas fiscais, o Brasil terá que contar com os empreendedores se quiser retomar o crescimento e buscar a competitividade. O estudo do Banco Mundial revela que o trabalho será enorme. Melhor começar logo.
Sem fundo - NATUZA NERY - COLUNA PAINEL
FOLHA DE SP - 04/11
A CPI dos Fundos de Pensão promete alterar a forma de distribuição de lucros e prejuízos dos fundos. A ideia é preservar o pensionista de eventuais derrapadas na gestão financeira dessas entidades. Hoje, beneficiários e empregadores precisam arcar com os prejuízos caso a instituição fique deficitária por três anos consecutivos. Na proposta que será apresentada pela comissão ao governo federal, apenas os empregadores arcariam com sua parte para recompor o caixa.
Em chamas
A CPI dos Fundos de Pensão promete alterar a forma de distribuição de lucros e prejuízos dos fundos. A ideia é preservar o pensionista de eventuais derrapadas na gestão financeira dessas entidades. Hoje, beneficiários e empregadores precisam arcar com os prejuízos caso a instituição fique deficitária por três anos consecutivos. Na proposta que será apresentada pela comissão ao governo federal, apenas os empregadores arcariam com sua parte para recompor o caixa.
Em chamas
O TCU está em clima de rebelião contra uma PEC elaborada pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) para acabar com o reajuste salarial automático de diversas carreiras, entre elas a de ministros do tribunal. Acusam a congressista de retaliar a corte em nome do governo.
Cortina de fumaça
Cortina de fumaça
“O TCU está com mania de perseguição. A PEC é de maio, portanto antes do debate sobre as contas do governo. Se alguém de lá está alegando isso, é para fugir da transparência. Casa de ferreiro, espeto de pau”, rebate Gleisi.
Crediário
Crediário
O ministro Vital do Rêgo (TCU) estuda dar 60 meses para o pagamento das pedaladas. Na equipe econômica, a ideia é incluir a dívida como restos a pagar, de forma que, apesar de o deficit ser contabilizado neste ano, o passivo só seria quitado no ano que vem.
Culpa do câmbio
Culpa do câmbio
O Planalto não abre mão de usar no projeto de repatriação a taxa de 31 de dezembro de 2014, com o dólar R$ 2,66. A acha que, com o valor atual, de R$ 3,75, poucas pessoas se animariam a trazer o dinheiro de volta.
Ops
Ops
Integrantes do governo brincavam ontem com o tombo levado por Joaquim Levy (Fazenda): “Ele teve o downgrade antes do Brasil”.
Recordação
Recordação
Vinicius Gurgel (PR-AP), um dos possíveis relatores do processo contra Eduardo Cunha no Conselho de Ética, aparece do lado dele na foto histórica da vitória do peemedebista à presidência da Câmara.
Em campanha
Em campanha
Valeska Teixeira Zanin Martins, dona da Mito Participações Ltda, empresa proprietária do apartamento em que Luis Cláudio Lula da Silva mora, sem pagar aluguel, foi inscrita como candidata a vice-presidente da OAB-SP na chapa de Ricardo Sayeg.
QI
QI
Valeska é uma das filhas de Roberto Teixeira, amigo do ex-presidente e padrinho de batismo de Luis Claudio.
Exportação
Exportação
Com as restrições ao financiamento privado, marqueteiros políticos estão prospectando fora do Brasil. Paulo Vasconcelos, que fez a campanha presidencial de Aécio Neves em 2014, também foi sondado para atuar no segundo turno das eleições argentinas.
Periferia
Periferia
A Executiva municipal do PT vai se reunir, quinta-feira, com sua bancada de vereadores para discutir o cenário eleitoral. A pauta principal é tentar encontrar o melhor caminho para recuperar o eleitorado tradicional do partido em São Paulo.
Chance
Chance
O governador Geraldo Alckmin tem encorajado tucanos a disputar pesado no ano que vem redutos eleitorais simbolicamente vinculados ao ex-presidente Lula, como São Bernardo do Campo, Santo André e Guarulhos.
Padrinho
Padrinho
Na avaliação do PSDB, essas cidades estarão politicamente vulneráveis com a aparente fragilização do petista.
Visitas à Folha
Visitas à Folha
Raimundo Colombo (PSD), governador de Santa Catarina, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Walter Bier Hoechner, secretário de comunicação, e Claudio Thomas, diretor de imprensa.
Marisa Moreira Salles, sócia da BEĨ editora, visitou ontem a Folha. Estava acompanhada do também sócio Tomas Alvim.
TIROTEIO
Com a votação do projeto da repatriação, só cabe reconhecer que o Brasil é o país da piada pronta: estamos prestes a criar a Lavabras.
DO DEPUTADO MARCUS PESTANA (PSDB-MG), acusando a proposta que tramita na Câmara de perdoar crimes para autorizar a entrada de dinheiro do exterior.
CONTRAPONTO
Na reunião da Comissão Especial de Desenvolvimento Nacional do Senado, semana passada, Blairo Maggi (PR-MT) defendia seu parecer favorável ao projeto da senadora Ana Amélia (PP-RS), que impede o contingenciamento dos recursos do Fundo Penitenciário Nacional, quando o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) atravessou:
—O senhor me concede um aparte, senador Blairo?
—Pois não, mas só se for para concordar comigo…
O presidente da comissão encarregada de discutir a Agenda Brasil, senador Otto Alencar (PSD-BA), arrematou, para risada geral:
—Essa é a democracia mato-grossense.
Marisa Moreira Salles, sócia da BEĨ editora, visitou ontem a Folha. Estava acompanhada do também sócio Tomas Alvim.
TIROTEIO
Com a votação do projeto da repatriação, só cabe reconhecer que o Brasil é o país da piada pronta: estamos prestes a criar a Lavabras.
DO DEPUTADO MARCUS PESTANA (PSDB-MG), acusando a proposta que tramita na Câmara de perdoar crimes para autorizar a entrada de dinheiro do exterior.
CONTRAPONTO
Na reunião da Comissão Especial de Desenvolvimento Nacional do Senado, semana passada, Blairo Maggi (PR-MT) defendia seu parecer favorável ao projeto da senadora Ana Amélia (PP-RS), que impede o contingenciamento dos recursos do Fundo Penitenciário Nacional, quando o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) atravessou:
—O senhor me concede um aparte, senador Blairo?
—Pois não, mas só se for para concordar comigo…
O presidente da comissão encarregada de discutir a Agenda Brasil, senador Otto Alencar (PSD-BA), arrematou, para risada geral:
—Essa é a democracia mato-grossense.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
SONEGAÇÃO NAS FRONTEIRAS ‘SUGAM’ R$ 100 BILHÕES
Relatório preliminar do Tribunal de Contas da União (TCU), sobre a auditoria que realizou nas fronteiras brasileiras, aponta uma fuga de R$ 100 bilhões dos cofres públicos, devido à sonegação decorrente do contrabando. O valor é mais do que o dobro do déficit já previsto pelo governo federal para o Orçamento de 2016. Em resumo, isso ocorre porque faltam planejamento e coordenação, e sobra incompetência.
DESARTICULAÇÃO
De acordo com o TCU, o Brasil é vítima da desarticulação das políticas públicas e a pulverização de recursos em investimentos mal pensados.
SANGRIA DESATADA
O TCU avalia que as diferenças legais e socioeconômicas entre o Brasil e os países vizinhos contribuem para a “sangria” nas fronteiras.
CALOTE NAS FRONTEIRAS
Outro fator apontado pela auditoria do TCU é o valor destinado às políticas de fronteira, muito abaixo do que prevê o próprio Orçamento.
GOVERNO ABANDONOU
Em 2012, foram aplicados 80% do Orçamento; em 2013, 25%; em 2014, menos de 40%. O governo abandonou as fronteiras do Brasil.
GABAS AFASTA CORREGEDOR QUE ACUSOU PROTEGIDO
O ex-ministro e atual secretário especial da Previdência Carlos Gabas – personagem da fase “Pixuleco” da Operação Lava Jato – afastou o corregedor que denunciou seu “cumpanhero” Carlos de Paula, que ele tornou chefe da Previc, a Superintendência Nacional de Previdência Complementar. O corregedor Nilo Silva Thé Pontes, admirado auditor da Receita Federal do Brasil, acabou devolvido ao órgão de origem.
ESTRANHA TRANSFERÊNCIA
O atrito do corregedor com o superintendente da Previc foi ocasionado pela estranha transferência de uma servidora do Rio para Brasília.
PAGAMENTOS IRREGULARES
A apuração do caso indicou que a servidora ligada ao chefe da Previc teria recebido pagamento irregular de diárias e passagens aéreas.
DENÚNCIA À CGU
O corregedor afastado denunciou as irregularidades de Carlos de Paula, protegido de Gabas, à Controladoria Geral da União (CGU).
XEQUE MATE
Os tucanos deram prazo de quinze dias para que Eduardo Cunha decida sobre o impeachment de Dilma. Caso não indefira a pretensão, o peemedebista perderá apoio no Conselho de Ética.
QUINZE MINUTOS DE FAMA
Relator do caso do mensalão, Júlio Delgado (PSB-MG) diz que o relator do processo contra Eduardo Cunha no Conselho de Ética pode fazer história. Todos os indicados são ilustres desconhecidos.
NOVA FASE
O presidente da CPI dos Fundos de Pensão, Efraim Filho (DEM-PB), acredita que a comissão entrará em nova fase, de aprofundamento das investigações. Porque chegou nova remessa de quebras de sigilos.
GOLPE NO ‘DÉBITO EM CONTA’
Estatal de energia de Alagoas absorvida pela Eletrobrás, a Ceal aplicou golpe em um cliente que, tolo, autorizou débito em conta: surrupiou-lhe R$ 9.988,00 a pretexto de consumo “excedente” por 1 ano em casa de praia usada eventualmente, de conta mensal nunca superior de R$ 300
UBER É LEGAL
O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), preferiu não ouvir seus munícipes e criminalizou o Uber para fazer demagogia com taxistas. Mas a Justiça fluminense confirmou a legalidade do aplicativo.
TURMA DO HOLOFOTE
O crime de racismo contra a atriz Tais Araújo já é demasiado doloroso para que ela, a vítima, ainda seja submetida ao constrangimento de “prestar esclarecimentos” à polícia do Rio de Janeiro. Até parece que o objetivo da oitiva é outro: garantir holofotes à turma da delegacia.
MAIOR SUJEIRA
Sindicalistas ligados a partidos radicais tentam asfixiar, com greves, o governo quebrado do DF. Após a do Metrô, iniciada ontem, juntando-se a outras 30 categorias, a próxima será a do pessoal de limpeza pública.
BATE E REBATE
Líder do PSOL, Chico Alencar (RJ) reagiu às ameaças de Paulinho da Força (Solidariedade-SP) de apresentar suas “notas frias”: “Delicada mesmo é a situação dele, como réu no Supremo Tribunal Federal”.
PENSANDO BEM...
... a vaia que Dilma recebeu nos Jogos Mundiais Indígenas repercutiu mal no mundo todo, mas não no Brasil. É que no Brasil é praxe.
Relatório preliminar do Tribunal de Contas da União (TCU), sobre a auditoria que realizou nas fronteiras brasileiras, aponta uma fuga de R$ 100 bilhões dos cofres públicos, devido à sonegação decorrente do contrabando. O valor é mais do que o dobro do déficit já previsto pelo governo federal para o Orçamento de 2016. Em resumo, isso ocorre porque faltam planejamento e coordenação, e sobra incompetência.
DESARTICULAÇÃO
De acordo com o TCU, o Brasil é vítima da desarticulação das políticas públicas e a pulverização de recursos em investimentos mal pensados.
SANGRIA DESATADA
O TCU avalia que as diferenças legais e socioeconômicas entre o Brasil e os países vizinhos contribuem para a “sangria” nas fronteiras.
CALOTE NAS FRONTEIRAS
Outro fator apontado pela auditoria do TCU é o valor destinado às políticas de fronteira, muito abaixo do que prevê o próprio Orçamento.
GOVERNO ABANDONOU
Em 2012, foram aplicados 80% do Orçamento; em 2013, 25%; em 2014, menos de 40%. O governo abandonou as fronteiras do Brasil.
GABAS AFASTA CORREGEDOR QUE ACUSOU PROTEGIDO
O ex-ministro e atual secretário especial da Previdência Carlos Gabas – personagem da fase “Pixuleco” da Operação Lava Jato – afastou o corregedor que denunciou seu “cumpanhero” Carlos de Paula, que ele tornou chefe da Previc, a Superintendência Nacional de Previdência Complementar. O corregedor Nilo Silva Thé Pontes, admirado auditor da Receita Federal do Brasil, acabou devolvido ao órgão de origem.
ESTRANHA TRANSFERÊNCIA
O atrito do corregedor com o superintendente da Previc foi ocasionado pela estranha transferência de uma servidora do Rio para Brasília.
PAGAMENTOS IRREGULARES
A apuração do caso indicou que a servidora ligada ao chefe da Previc teria recebido pagamento irregular de diárias e passagens aéreas.
DENÚNCIA À CGU
O corregedor afastado denunciou as irregularidades de Carlos de Paula, protegido de Gabas, à Controladoria Geral da União (CGU).
XEQUE MATE
Os tucanos deram prazo de quinze dias para que Eduardo Cunha decida sobre o impeachment de Dilma. Caso não indefira a pretensão, o peemedebista perderá apoio no Conselho de Ética.
QUINZE MINUTOS DE FAMA
Relator do caso do mensalão, Júlio Delgado (PSB-MG) diz que o relator do processo contra Eduardo Cunha no Conselho de Ética pode fazer história. Todos os indicados são ilustres desconhecidos.
NOVA FASE
O presidente da CPI dos Fundos de Pensão, Efraim Filho (DEM-PB), acredita que a comissão entrará em nova fase, de aprofundamento das investigações. Porque chegou nova remessa de quebras de sigilos.
GOLPE NO ‘DÉBITO EM CONTA’
Estatal de energia de Alagoas absorvida pela Eletrobrás, a Ceal aplicou golpe em um cliente que, tolo, autorizou débito em conta: surrupiou-lhe R$ 9.988,00 a pretexto de consumo “excedente” por 1 ano em casa de praia usada eventualmente, de conta mensal nunca superior de R$ 300
UBER É LEGAL
O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), preferiu não ouvir seus munícipes e criminalizou o Uber para fazer demagogia com taxistas. Mas a Justiça fluminense confirmou a legalidade do aplicativo.
TURMA DO HOLOFOTE
O crime de racismo contra a atriz Tais Araújo já é demasiado doloroso para que ela, a vítima, ainda seja submetida ao constrangimento de “prestar esclarecimentos” à polícia do Rio de Janeiro. Até parece que o objetivo da oitiva é outro: garantir holofotes à turma da delegacia.
MAIOR SUJEIRA
Sindicalistas ligados a partidos radicais tentam asfixiar, com greves, o governo quebrado do DF. Após a do Metrô, iniciada ontem, juntando-se a outras 30 categorias, a próxima será a do pessoal de limpeza pública.
BATE E REBATE
Líder do PSOL, Chico Alencar (RJ) reagiu às ameaças de Paulinho da Força (Solidariedade-SP) de apresentar suas “notas frias”: “Delicada mesmo é a situação dele, como réu no Supremo Tribunal Federal”.
PENSANDO BEM...
... a vaia que Dilma recebeu nos Jogos Mundiais Indígenas repercutiu mal no mundo todo, mas não no Brasil. É que no Brasil é praxe.
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